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FARMÁCIA PRÁTICAS INTEGRADAS DE FARMÁCIA (PIF) POSTAGEM 1 ATIVIDADE 1 – RELATÓRIO Hélida Renata Tavares RA: 0614617 Goiânia – Polo Bueno 2023 2 RESUMO O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), é caracterizado pela preocupação excessiva crônica acompanhada de sintomas como inquietação, irritabilidade, fadiga, perturbação do sono, tensão muscular e/ou dificuldade de concentração. Os benzodiazepínicos, são ansiolíticos que atuam há muitos anos nos sintomas somáticos da ansiedade, e por serem mais efetivos continuam presentes nos tratamentos atuais da doença. A grande preocupação quanto ao uso dessa classe farmacológica é o potencial de causar dependência e tolerância, principalmente quando utilizados de forma incorreta. Diante disso, faz-se necessário o desenvolvimento de opções terapêuticas adicionais para pacientes não ajudados por tratamentos já existentes. A Cannabis sativa é composta por mais de 400 substâncias, dentre elas destacam-se a tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), onde estudos comprovam seu grande potencial ansiolítico para o tratamento do TAG. Este trabalho propõe o estudo e desenvolvimento de um novo fármaco utilizando o CBD e THC como princípios ativos para o tratamento do TAG. A presente pesquisa mostra- se pertinente e oportuna devido ao elevado potencial terapêutico da CBD e THC para pacientes acometidos pelo TAG, sem apresentar grandes efeitos adversos e de dependência como ocorrem nos ansiolíticos sintéticos já existentes no mercado. Palavras-chave: Ansiolíticos. Canabinóides. Desenvolvimento. Fármacos. 3 INTRODUÇÃO A ansiedade e o medo são condições essenciais e naturais à vida humana, responsáveis por preparar o indivíduo para situações de ameaça e perigo. Essas condições envolvem fatores cognitivos, comportamentais, afetivos, fisiológicos e neurológicos que, em conjunto, modulam a percepção do indivíduo ao ambiente, provocando respostas específicas e direcionando a algum tipo de ação (DESOUSA et al, 2013). Ainda de acordo com De Sousa et al (2013), em alguns casos, no entanto, um indivíduo pode apresentar ansiedade e/ou medo elevados de forma desproporcional à situação que os elicia ou em situações nas quais eles não são adaptativos, muitas vezes se mantendo de modo persistente e levando a prejuízos no seu funcionamento, caracterizando os transtornos de ansiedade. Os transtornos de ansiedade interferem significativamente na vida do indivíduo diagnosticado e daqueles com quem ele convive, comprometendo suas atividades cotidianas, seus relacionamentos sociais e outras esferas da vida. Além disso, transtornos de ansiedade apresentam baixos índices de remissão espontânea e tendem a se cronificar ou mesmo se desdobrar em outros transtornos psiquiátricos quando não tratados. Assim, quanto mais cedo diagnosticados, avaliados e devidamente tratados, melhores os prognósticos e menores os prejuízos para o indivíduo com transtorno de ansiedade (DESOUSA, 2013). A ansiedade clínica é muito mais grave do que estar sujeito às preocupações do cotidiano. As pessoas com transtornos de ansiedade frequentemente se descobrem incapazes de trabalhar de modo eficaz, de ter uma vida social, de viajar ou de ter relações estáveis. Em geral, não conseguem dormir bem. Algumas delas se tornam totalmente reclusas ou caseiras. Em casos extremos, um transtorno de ansiedade precisará de hospitalização. Trata-se de uma doença real e duradoura, que tem consequências impactantes sobre a vida. (LEAHY, 2011). Entre os transtornos de ansiedade, encontra-se o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), caracterizado pela preocupação excessiva crônica acompanhada de sintomas de inquietação, irritabilidade, fadiga, perturbação do sono, tensão muscular e/ou dificuldade de concentração. Além disso, é um transtorno com altas taxas de comorbidade com outros transtornos de ansiedade e humor (VASCONCELOS et al, 2015). 4 Os medicamentos mais prescritos para o tratamento de TAG, são os antidepressivos, ansiolíticos e os benzodiazepínicos. Os efeitos adversos são bem comuns, sendo que muitos dos indivíduos que possuem o Transtorno de Ansiedade informam que é muito difícil o tratamento por conta das reações adversas. Pacientes sem a orientação do especialista acabam optando pelo abandono do tratamento por achar que está piorando os sintomas (LOPES e SANTOS, 2023). Os benzodiazepínicos (BZD), em comparação com outros ansiolíticos, parecem atuar mais nos sintomas somáticos da ansiedade. Existem inúmeros estudos corroborando a eficácia dos BZD no TAG, com aproximadamente 35% dos pacientes tratados retornando a níveis normais de ansiedade e outros 40% apresentando melhora moderada (ANDREATINI et al, 2002). Figura 1. Estrutura química da Benzodiazepina. Fonte: Wikipédia. Ainda de acordo com Andretini et al (2002), o efeito ansiolítico dos BZD pode ser visto nas primeiras seis semanas, sendo esse período de tratamento suficiente para até 50% dos pacientes. Entretanto, uma importante parcela dos pacientes recaem quando a medicação é suspensa após seis semanas, necessitando, assim, de um tratamento em longo prazo. Muitas vezes uma resposta insatisfatória ao tratamento farmacológico é consequência de uma terapêutica inadequada (dose e/ou tempo de tratamento insuficiente). Uma terapêutica adequada com BZD corresponde ao emprego de até 40mg de Diazepam (ou dose equivalente de outro BZD) por pelo menos quatro semanas. Uma grande preocupação quando do uso de BZD é o seu potencial de levar ao abuso ou à dependência. Apesar de os estudos não terem confirmado a extensão geralmente associada a esse tema, há uma grande resistência de pacientes, clínicos e mesmo pesquisadores quanto ao uso dos BZD devido a essa possibilidade. 5 Diante do elevado e crescente número de pessoas que sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade no mundo, faz-se necessário o desenvolvimento de opções terapêuticas adicionais para pacientes não ajudados por tratamentos já existentes e também para abordar necessidades médico/farmacológicas não satisfeitas. As plantas medicinais são frequentemente apresentadas como um grande potencial para a origem de novos fármacos. A utilização de espécies vegetais com fins de tratamento e cura de doenças, constitui uma prática que remonta ao início da civilização (SARMENTO et al, 2018). Os compostos naturais possuem componentes que podem ser facilmente modificados, tornando-os menos tóxicos, ou seja, com maior eficiência (SILVEIRA et al, 2018). A Cannabis sativa (planta conhecida mundialmente por maconha), é uma espécie de erva utilizada a séculos dentro da medicina milenar, devido aos seus efeitos analgésicos, tranquilizantes, sedativos, entre outros (SAITO et al, 2010). A Cannabis sativa é composta por mais de 400 substâncias, contendo em sua estrutura molecular cerca de 60 canabinóides, onde duas se destacam em relação às demais, pela finalidade terapêutica que lhe são atribuídas. São elas, o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) (MATOS et al, 2017). O THC age em receptores pré-sinápticos CB1 inibindo a liberação contínua de neurotransmissores. O CBD é modulador alostérico negativo capaz de regular o efeito do THC, alternado a potência e eficácia do ligante sem ativar o receptor. O CBD pode neutralizar ou potencializar efeitos positivos do THC (ZANELLATI, 2021). Com base na localização dos receptores canabinóides em áreas de atuação da ansiedade, surgiu a possibilidade do desenvolvimento de medicamentos à base de canabinóides. Figura 2. Estrutura química do canabidiol Fonte: Wikipédia. 6 Figura 3. Estrutura química do tetrahidrocanabinol Fonte: Wikipédia. A partir das revisões feitas por Schier et al (2012), foi possível concluir queos estudos apresentados provaram que o CBD é uma droga com grande potencial ansiolítico, e, por não apresentar efeitos psicoativos e não alterar a cognição, possui um perfil de segurança adequado, boa tolerabilidade, resultados positivos em testes com humanos e um amplo espectro de ações farmacológicas sendo possível ser utilizada na prática clínica. E por possuir efeitos ansiolíticos e ser de origem natural, o seu uso não causa dependência e principalmente, apresentam menores efeitos colaterais e ações adversas quando comparado à terapia convencional dos psicofármacos. É muito importante também destacar que os efeitos do CBD não possuem nenhuma semelhança com os efeitos produzidos pelo uso da maconha de forma recreativa. Em 2019 a ANVISA regulamentou produto à base de Cannabis no Brasil, através da RDC 327/2019, liberando a venda de produtos do gênero em farmácias e drogarias. Entretanto, a liberação para plantio para fins medicinais e pesquisas não foi aprovada. Em 2020, foi implementada a RDC 335/2020, simplificando e agilizando a importação do canabidiol para o Brasil, para uso próprio com fins terapêuticos, a partir de prescrições por profissionais habilitados. Diante deste panorama, este trabalho propõe o estudo e desenvolvimento de um novo fármaco utilizando o CBD e THC como princípios ativos, com atividades farmacológicas tipo ansiolítica como tratamento alternativo para o Transtorno de Ansiedade Generalizada, a fim de ser uma opção terapêutica adicional que visa minimizar os efeitos colaterais e reações adversas para pacientes não ajudados por tratamentos já existentes. 7 A presente pesquisa mostra-se pertinente e oportuna devido ao elevado potencial terapêutico da CBD e THC para pacientes acometidos pelo Transtorno de Ansiedade Generaliza, sem apresentar grandes efeitos adversos e de dependência como ocorrem nos ansiolíticos sintéticos já existentes no mercado. Neste contexto, a literatura científica fortalece a necessidade de avanços e investimentos em pesquisa nesta área, e a busca pelo desenvolvimento de novos fármacos inovadores, mais seguros e eficazes no tratamento de pacientes não-responsivos à clínica convencional, com melhora significativa na qualidade de vida. 8 REFERÊNCIAS DESOUSA, Diogo Araújo et al. Revisão sistemática de instrumentos para avaliação de ansiedade na população brasileira. Avaliação psicológica, v. 12, n. 3, p. 397-410, 2013. LEAHY, Robert L. Livre de ansiedade. Tradução: Vinicius Duarte Figueira; revisão técnica: Edwiges Ferreira de Mattos Silvares, Rodrigo Fernando Pereira. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre, Artmed, 2011. LOPES, K. C. da S. P.; SANTOS, W. L. Transtornos de ansiedade. Revista de Iniciação Científica e Extensão, [S. I.], v. 1, n. 1, p. 45-50, 2018. Disponível em: https://revistafacesa.senaaires.com.br/index.php/iniciacao-cientifica/article/view/47 Acesso em: 10 abr. 2023. ANDREATINI, R.; BOERNGEN-LACERDA, R.; ZORZETTO-FILHO, D. Tratamento farmacológico do transtorno de ansiedade generalizada: perspectivas futuras. São Paulo, 2002. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-44462001000400011 Acesso em: 10 abr. 2023. VASCONCELOS, J. R. O.; LÔBO, A. P. S.; MELO, V. L. Risco de suicídio e comorbidades psiquiátricas no transtorno de ansiedade generalizada. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000087 Acesso em: 11 abr. 2023. SARMENTO, C. G. et al. Estudo bibliográfico sobre o uso das plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 8, n. 5, p. 208-212, 2018. SILVEIRA, P. F.; BANDEIRA, M. A. M.; ARRAIS, P. S. D. Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 18, n. 4, p. 618-626, 2018. 9 SAITO, V. M.; WOTJAK, C. T.; MOREIRA, F. A. Exploracao farmacológica do sistema endocanabinóide: novas perspectivas para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 32, p. 57-514, 2010. MATOS, R. L. et al. O uso do canabidiol no tratamento de epilepsia. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 2, p. 786-814, 2017. ZANELLATI, Daniel et al. O uso de canabinóides no tratamento da ansiedade. 2021. SCHIER et al. Canabidiol, um componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico. RBP Psychiatric. 2012. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 327, de 9 de dezembro de 2019. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou Acesso em: 11 abr. 2023. ANVISA. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 335, de 24 de janeiro de 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou Acesso em: 11 abr. 2023.
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