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Aulas 6 e 7 - O problema e Primeiro contato do paciente

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O PROBLEMA NO 
PSICODIAGNÓSTICO
Profa. Ma. Geovanna Turri
O psicodiagnóstico e o problema
◦ O psicodiagnóstico é um processo, desencadeado quase sempre em vista de um
encaminhamento, que tem início numa consulta, a partir da qual se delineiam os passos do
exame, que constitui uma das rotinas do psicólogo clínico. Entretanto, tal tipo de avaliação
decorre da existência de um problema prévio, que o psicólogo deve identificar e avaliar,
para poder chegar a um diagnóstico.
◦ Entre a emergência de sinais ou sintomas precoces e incipientes, nem sempre os problemas
são fáceis de detectar ou de identificar, e a chegada à primeira consulta, podem surgir
muitas dúvidas, fantasias e busca de explicações, que retardam a ajuda, podem agravar o
problema e, eventualmente, interferem na objetividade do relato do caso.
◦ “Os sintomas estão presentes quando os limites da variabilidade normal são ultrapassados”
(Yager & Gitlin, 1999, p. 694).
◦ O problema pode ser sentido ou identificado pelo próprio sujeito ou por agentes da saúde
mental (professores, orientadores, médicos, etc.).
◦ Esperança de que o “problema” desapareça com o tempo.
O problema
◦ Quando o problema ocorre com um adulto, pode-se verificar uma tendência a enfrentá-lo
sem ajuda, ou uma tentativa de explica-lo em termos de fatores circunstanciais e, assim,
talvez resolvê-lo através de mudanças externas.
◦ “A natureza e a expressão dos sinais e sintomas psiquiátricos são profundamente alteradas
pelos recursos pessoais, capacidades de enfrentamento [coping] e defesas psicológicas
do paciente” (Yager & Gitlin, 1999, p.692).
◦ Verificar a gravidade do problema.
◦ Analisar as influências de percepção sobre o problema, principalmente numa fase
tumultuada e crítica, com forte sobrecarga emocional, onde há percepções distorcidas.
◦ Cabe ao psicólogo examinar as circunstâncias que precederam a consulta, avaliar as
maneiras de perceber o problema e delimitá-lo, atribuindo a sinais e sintomas sua
significação adequada. Esta não é uma tarefa fácil, principalmente para o psicólogo
iniciante.
Critérios usuais de definição de um 
problema
◦ Um problema é identificado quando são reconhecidas alterações ou mudanças nos padrões de
comportamento comum, que podem ser percebidas como sendo de natureza quantitativa ou
qualitativa.
◦ A maioria das manifestações de transtornos psiquiátricos representa variações de diferente graus de um
continuum entre saúde mental e psicopatologia, então, na maior parte das vezes, as mudanças
percebidas são de natureza quantitativa.
◦ Pode-se falar em alterações autolimitadas, que se verificariam pela presença de um exagero ou
diminuição de um padrão de comportamento usual, dito normal. Tais mudanças quantitativas podem
ser observadas em várias dimensões, como na atividade (motora, da fala, do pensamento), no humor
(depressão vs. euforia), em outros afetos (embotamento, excitação), etc.
◦ Em geral os critérios são associados à intensidade e/ou persistência.
◦ Peso da expectativa social sobre o problema: na prática, as famílias podem diferir na determinação de
quais são os limites da variabilidade normal. Isso faz com que determinado comportamento pareça
sintomático num determinado ambiente familiar, mas não em outro.
Problemas psicossociais e ambientais:
acontecimentos da vida
◦ Problemas que surgem na relação indivíduo-ambiente, por ex. o estresse.
◦ Conceito de crise: se refere mais a uma reação, associada à especificidade de uma
situação ou fase, e envolve uma perturbação, relacionada com a dificuldade de
manejá-la pelos meios usuais.
◦ Pode-se afirmar que o conceito de crise é extremamente útil em termos de
diagnóstico, especialmente para o entendimento do funcionamento psicológico do
indivíduo.
◦ Não há como garantir que fatores socioeconômicos causem um transtorno mental por
exemplo, mas não há como negar seu efeito sobre o curso de um transtorno ou
problema.
A avaliação da psicopatologia
◦ Psicodiagnóstico consiste, sobretudo, na identificação de forças e fraquezas no funcionamento
psicológico e se distingue de outros tipos de avaliação psicológica de diferenças individuais por seu
foco na existência ou não de psicopatologia.
◦ Na psicopatologia tem se destacado 2 modelos utilizados: modelo categórico e modelo dimensional.
◦ O modelo categórico, de enfoque qualitativo, exemplifica-se pelo julgamento clínico sobre a
presença ou não de uma configuração de sintomas significativos.
◦ Já o modelo dimensional, de enfoque quantitativo, exemplifica-se pela medida da intensidade
sintomática.
◦ Tradicionalmente, o psiquiatra tem dado mais ênfase ao modelo categórico, embora cada vez mais
não ignore a importância do modelo dimensional.
◦ Já o psicólogo, na prática, costuma dar ênfase ao modelo dimensional, mas o psicólogo utiliza,
também, o modelo categórico. Na maioria das vezes, porém, associa o enfoque quantitativo e o
qualitativo, no desenvolvimento do processo psicodiagnóstico, utilizando estratégias diagnósticas
(entrevistas, instrumentos psicométricos, técnicas projetivas e julgamento clínico) para chegar ao
diagnóstico.
O CONTATO COM O 
PACIENTE
Profa. Ma. Geovanna Turri
O primeiro contato
◦ A pessoa em sofrimento chega para o primeiro contato com o psicólogo premida pela
necessidade de ajuda e pela necessidade de rendição e de entrega.
◦ A atitude de respeito do psicólogo, ou seja, o “olhar de novo”, com o coração, em conjunto com
o paciente para a sua conflitiva, livre de críticas, menosprezo e desvalia, é basilar no exercício de
tocar a psique, para uma ligação de confiança.
◦ Estabelecer a proximidade necessária para a consecução do processo significa mostrar ao
paciente que as dificuldades parecem não ir embora enquanto não forem primeiro bem
acolhidas. A solução só ganhará espaço e lugar se houver contato.
◦ As atitudes de esperança e da aceitação por parte do psicólogo, da angústia e “da luta entre os
opostos”, são fundamentais para a pessoa que vem para o primeiro contato, dentro do processo
psicodiagnóstico.
Motivos conscientes e inconscientes
◦ A marcação da consulta formaliza um processo de trabalho psicológico já iniciado precedido de intensa
angústia e ambivalência: corresponde à admissão da existência de algum grau de perturbação e de
dificuldades que justificam a necessidade de ajuda.
◦ A emergência de fortes defesas nesse período pode, por vezes, mascarar as motivações inconscientes da busca
pelo processo psicodiagnóstico.
◦ Nos casos em que o paciente é encaminhado por outrem ao psicólogo, o motivo aparente pode ser a própria
solicitação do exame ou fato de ter sido mobilizado por colegas, amigos, parentes. Nessas circunstâncias, o
paciente pode ter uma percepção vaga de sua problemática,
◦ Pode haver algum nível de consciência do problema e lhe ser muito dolorosa a situação de enfrentamento de
sua dificuldade. Assim, por suas resistências, o paciente pode negar a realidade e depositar num terceiro a
responsabilidade pela procura.
◦ As motivações inconscientes estão no nível mais profundo e obscuro da psique. Constituem-se nos aspectos mais
verdadeiramente responsáveis pelas aflições do paciente.
◦ Cabe ao psicólogo observar, perceber, escutar com tranquilidade, aproximar-se sem ser coercitivo, inquiridor,
todo-poderoso. Somente assim se criam o silêncio necessário e o espaço para que o paciente revele sua
intimidade.
A identificação do paciente
◦ A discriminação entre os motivos explícitos e implícitos para a busca de ajuda colabora para que o
psicólogo identifique quem é o seu verdadeiro paciente: a pessoa que é trazida ou assume a procura, o
grupo familiar ou ambos.
◦ Em face do encaminhamento e do primeiro contato do psicólogo com o paciente e/ou com seu grupo
familiar, a tarefa fundamental que se lhe apresenta é definir quem é o paciente, em realidade, levantando
todas as indagações possíveis em torno dele e da totalidade da situação envolvida na busca de ajuda,
passando pelo grau de consciência das dificuldades.◦ Com frequência, dentre um grupo familiar, o elemento trazido ao psicólogo e apresentado como doente é,
realmente, o menos comprometido da família. Cabe ao psicólogo estar alerta e identificar se o sintoma
apresentado é coerente ou não para o paciente e sua família.
◦ De forma abrangente, a identificação do verdadeiro paciente verifica-se desde o momento em que ele
procura o psicólogo até o momento final da entrevista devolutiva.
◦ O psicólogo começa a conhecer “quem é” o seu paciente, por meio de perguntas iniciais quando do
primeiro contato.
Dinâmica da interação clínica
1. Aspectos conscientes e inconscientes
◦ A interação clínica psicólogo-paciente verifica-se ao longo de todo o processo psicodiagnóstico.
Deve-se lembrar que ambos têm suas funções e papéis e estão na relação diagnóstica não só
como psicólogo e paciente, mas, antes de tudo, como pessoas.
◦ Transferência é diferente de vínculo. A contratransferência também pode surgir.
2. Definição de problemas e necessidades do psicólogo
◦ Na tarefa de psicodiagnóstico, o psicólogo sofre pressões do paciente, do grupo familiar, do
ambiente, de quem encaminhou o paciente e dele próprio.
◦ A percepção do ambiente sobre o seu trabalho é uma das pressões exercidas sobre ele.
◦ Por outro lado, a sua própria percepção de como exerce e maneja sua tarefa também é um fator
de pressão sobre a sua autoimagem e pode gerar frustração.
◦ O psicólogo precisa identificar aspectos em si ou no ambiente que possam comprometer o
processo avaliativo.
Dinâmica da interação clínica
3. Variáveis psicológicas do psicólogo e do paciente
◦ A situação psicodiagnóstica envolve uma dinâmica específica, num vínculo relativamente curto,
em que se entrelaçam dois mundos, o do psicólogo e o do paciente, passando a interagirem duas
identidades.
◦ É uma situação ímpar, à qual o psicólogo deve dedicar merecida atenção e valorização.
4. Importância para o psicodiagnóstico
◦ A tarefa do psicólogo, num psicodiagnóstico, não se restringe à de um psicometrista, assim como
também é um erro crasso vê-lo tão-somente como um aplicador de técnicas projetivas.
◦ Mesmo quando o objetivo do psicodiagnóstico parece bastante simples, o psicólogo não pode
perder de vista a dimensão global da situação de avaliação.
◦ Portanto, é essencial enfatizar a necessidade de o psicólogo estar consciente, tento e alerta tanto
para as suas próprias condições psicológicas, para o uso que faz de seus recursos criativos e
expressivos, como para as reações e manifestações do paciente.
Atividade
◦ Divididos em 6 grupos, os alunos devem fazer um mapa mental de um dos temas 
vistos em sala ao longo do semestre. O mapa mental deve ser construído com 
palavras-chaves e termos/conceitos centrais. Cada grupo ficará com tema a ser 
sorteado ou escolhido em sala.
◦ Temas que podem ser escolhidos:
13/04/2023
Tema 1 – Introdução ao psicodiagnóstico
Tema 2 - Psicologia Clínica: as diferentes abordagens do psicodiagnóstico
Tema 3 - A prática do psicodiagnóstico e seus objetivos de atuação
Tema 4 - Questões básicas em diagnóstico: normal versus patológico.
Tema 5 - Questões básicas em diagnóstico: o problema 
Tema 6 - Questões básicas em diagnóstico: o contato com o paciente 
	Slide 1: O problema no psicodiagnóstico
	Slide 2: O psicodiagnóstico e o problema
	Slide 3: O problema
	Slide 4: Critérios usuais de definição de um problema
	Slide 5: Problemas psicossociais e ambientais: acontecimentos da vida
	Slide 6: A avaliação da psicopatologia
	Slide 7: O CONTATO COM O PACIENTE
	Slide 8: O primeiro contato
	Slide 9: Motivos conscientes e inconscientes
	Slide 10: A identificação do paciente
	Slide 11: Dinâmica da interação clínica
	Slide 12: Dinâmica da interação clínica
	Slide 13: Atividade