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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Sociais e Educação Curso de Licenciatura em Matemática Márcio Patrick Paiva Amóras Educação Financeira Crítica – Uma proposta de ensino para alunos dos anos finais da educação básica. Belém 2014 Centro de Ciências Sociais e Educação Curso de Licenciatura em Matemática Centro de Ciências Sociais e Educação - CCSE Endereço: Rua Djalma Dutra, s/n. 66113-010 Belém – PA www.uepa.br http://www.uepa.br/ Márcio Patrick Paiva Amóras Educação Fincanceira Crítica – Uma proposta de ensino para alunos dos anos finais da educação básica. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Matemática, Universidade do Estado do Pará. Orientador: Professor Mestre Carlos Alberto de Miranda Pinheiro. Belém 2014 Dados Internacionais de Catalogação na publicação Biblioteca do Centro de Ciências Sociais e Educação da UEPA Amóras, Márcio Patrick Paiva Educação financeira cr´tica: uma porposta de ensino para alunos dos anos finais da educação básica. / Márcio Patrick Paiva Amóras. Belém, 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Matemática) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2014. Orientação de: Carlos Alberto de Miranda Pinheiro 1. Matemática – Estudo e ensino. 2. Matemática financeira. 3. Método do ensino. I. Pinheiro, Carlos Alberto de Miranda (Orientador). III. Título. CDD: 21 ed. 510.7 Márcio Patrick Paiva Amóras Educação Financeira Crítica – Uma proposta de ensino para alunos dos anos finais da educação básica. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em Matemática, Universidade do Estado do Pará. Data da aprovação: __/__/____ Banca Examinadora _____________________________________- Orientador Prof. Msc. Carlos Alberto de Miranda Pinheiro Universidade do Estado do Pará _________________________________________ Prof. Msc. Gilberto Emanoel Reis Vogado Universidade do Estado do Pará _________________________________________ Prof. Msc. Rubens Vilhena Universidade do Estado do Pará Para Maria Otávia, Tales Amóras, Leida Paiva, Dário Paiva e Irlane de Paula. Inspirações da minha vida. AGRADECIMENTOS Inicialmente agradeço a Deus por estar vivo e me dar condições para realização de mais um sonho da minha existência, que é me formar como professor de Matemática. Devo tudo a Deus. Dedico essa vitória à mulher da minha vida, a minha segunda mãe, a mulher que sempre acreditou em mim, fez também todos os esforços para eu estar aqui e me ensinou a ser um ser humano do bem. Ela foi a grande responsável pela minha educação familar e hoje se encontra ao lado de Deus e vendo o neto dela chegar onde ela queria. Lamento por você não estar presente nesse momento. Agredeço à minha mãe, que sempre me ajudou e desempenhou um papel ímpar na minha vida. Nos momentos de dificuldade sempre arronjou um jeito para as coisas e me falando palavras que me ajudaram a seguir. Não posso esquecer do meu avô, um homem que me ajudou demais, desde que eu nasci, fez o papel de um pai. Um homem puro, que vive ajudando as pessoas, nunca poupou esforços pra me ajudar, inclusive durante minha graduação. Eu te amo, Pai. Faço um agradecimento ao meu filho que, hoje em dia, é minha inspiração para tudo. Cada evolução demonstrada por ele me dá estímulo pra ir em frente e conseguir algo bom. À minha família Paiva: Minha irmã Maria Emanuele, Meu irmão Eduardo, meu Tio Walmir. À meu pai e minha família Amóras: Avô Wilmo, minha irmã Inara, Minha irmã Beatriz, Tia Wanda, Tio Jorge, minha prima Camila. À uma pessoa que não é da minha família, mas ganhou uma importância enorme em minha vida, a ponto de ser considerada como parte dela. Irlane de Paula, obrigado por tudo que você fez por mim, eu te amo demais. Por último deixo para agradecer a meu orientador professor mestre Carlos Miranda que me ajudou muito na conclusão desse trabalho, sempre muito atencioso e prestativo. RESUMO AMÓRAS, Patrick. Educação Financeira Crítica – Uma proposta de ensino para alunos dos anos finais da educação básica. Universidade do Estado do Pará, Belém, 2013. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de ensino para alguns temas de matemática financeira seguindo uma tendência atual do que vem se consolidando Educação Financeira Crítica. Para isso, realizamos um estudo de caráter bibliográfico em artigos acadêmicos, dissertações de mestrado e teses de doutorados que trataram do tema Educação Financeira e com o resultado do referido estudo elaboramos a proposta por meio da metodologia de Ensino por Atividades. Palavras-chave: Educação, Educação Financeira, Ensino por Atividades. ABSTRACT AMÓRAS, Patrick. Critical Financial Education – A proposal of teaching to final years students of basic education. Universidade do Estado do Pará, Belém, 2013. This work aims to present a proposal of financial math education following an actual trend than has been consolidating Critical Financial Education. For this, a bibliographical study was conducted in papers, dissertations and doctoral theses that approach the issue Financial Education and with the result of this study was developed a proposed through the methodology of Teaching by Activities. Key-words: Education, Financial Education, Teaching by Activities. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 7 2. ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES 10 3. DOCUMENTOS OFICIAIS 12 4. ENSINO POR ATIVIDADES 16 5. RESUMOS DE ALGUNS ESTUDOS JÁ EXISTENTES 18 5.1 EDUCAÇÃO FINANCEIRA CRÍTICA 18 5.2 PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 48 6. PROPOSTA DE ENSINO 68 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 74 7 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como tema a Educação Financeira voltada a necessidade de se promover uma visão crítica nos alunos perante a situações de consumo, provocando reflexões na tomada de decisões ao se deparar com procedimentos financeiros. Na vida temos contato frequente com circunstâncias que envolvem compra, venda, empréstimos, financiamentos etc, por isso entendemos ser de grande importância aprendermos a lidar de forma prudente, pois acreditamos que dessa forma poderemos levar uma vida mais saudável, sem estresses e preocupações advindas de dívidas e falta de dinheiro. A abstração com que a Matemática Financeira é trabalhada, observada em nossas experiências em sala de aula, e a forma que a mesma foi discutida em nossas graduações foram nossas motivações para levantarmos esse estudo. Diante disso, revisamos alguns textos que tratam da Educação Financeira e baseado nos resultados e nas dificuldades encontradas na aplicação dos trabalhos, elaboramos uma proposta de ensino, usando a metodologia de Ensino por Atividades, fazendo uso de alguns conhecimentos da Matemática Financeira, destinada a séries finais do Educação Básica. Ao analisarmos os trabalhos sobre de Nascimento (2004), Oliveira (2007),Vieira et al. (2013), Castro (2013) e Teixeira & Silva (2013) ficaram evidentes que as dificuldades em aprender porcentagem e juros foram muito grandes dentre os alunos pesquisados. Sendo que, em Nascimento (2004) os alunos confundiam até mesmo o simbolo “%” com “R$” e não conseguiam efetuar operações com números racionais na forma decimal, fato também encontra por Costa (2012) e Castro (2013). Nascimento (2004), Ferreira (2008) e Costa (2012) fizeram uso da calculadora e observaram que os alunos participantes se sentiram muito satisfeitos com os resultados, onde os alunos tiveram mais facilidade e compreenssão nos cálculos das finanças. Stephani (2005), Ferreira (2008), Theodoro (2008), Reis (2013) e Lopes, Paiva & Sá (2013) concordam quando concluem ser muito importante o estudo da Matemática Financeira envolvida em situações cotidianas do aluno, onde o assunto faz parte de sua vida profissional e pessoal, e pode lhe oferecer conhecimentos 8 necessários para agir de forma reflexiva perante a promoções, propagandas e procedimentos financeiros. Nessa perspectiva de reflexões sobre tomada de decisões Macedo & Jesus (2013) inseriram em seu trabalho em Educação Financeira voltado ao dia-a- dia a questão da elaboração de uma planilha, para que os alunos realizassem um controle mensal do seu orçamento e assim pudessem conter ou repensar seus gastos. Esse controle nas finanças também foi mencionado por Castro (2013) como algo muito importante para uma pessoa pode ser considerada educada fincanceiramente. Perante os resultados dos trabalhos consultados objetivamos realizar uma proposta de ensino em Matemática Financeira para as séries finais da Educação Básica, com a intenção de despertar uma visão crítica diante das situações financeiras do cotidiano e auxiliar os alunos na tomada de decisões. Ao nos referirmos ao termo crítico fazemos alusão a um cidadão conhecedor dos conceitos e, ao mesmo tempo, saiba identificar onde a sociedade utiliza esses conhecimentos, sabendo como usá-los da melhor forma. Vale ressaltar que a intenção desse trabalho não é entrar em questões mais voltadas à Economia, apesar de acharmos importante que o aluno da Educação Básica tenha acesso a esse tipo de conhecimento, além de considerarmos que deveria haver visitações a centros financeiros e acesso à palestras de pessoas do segmento. Sendo assim, entendemos que se torna necessário que o ensino da Matemática colabore na constituição de sujeitos críticos, éticos, preparados para o mercado de trabalho, para o consumo e para outras exigências no exercício da cidadania. A disciplina de Matemática no Ensino Básico, por lidar com adolescentes, jovens e adultos, evidencia uma grande responsabilidade do professor quanto a preparação do aluno para a sociedade. Acreditamos que os professores de Matemática ao incluírem em suas aulas conteúdos de Matemática Financeira, como operações financeiras, fazendo um elo com um planejamento familiar ou individual e uso da calculadora poderão contribuir para a discussão de temas do cotidiano nas salas de aula, que muito contribuirão para dar significado e sentido à aprendizagem de Matemática. Os alunos poderão relacionar o que aprendem na escola com o que vivem em casa e na sociedade, com o que, e como a mídia escrita (jornais) e televisão divulgam, 9 estimulando ao consumo e muitas vezes, gerando endividamentos e comprometimento de orçamento familiar. Nesse trabalho optou-se pela pesquisa bibliográfica de trabalhos com enfoque semelhante e dos documentos oficiais da educação para o Ensino Médio. O estudo é desenvolvido em sete capítulos: O Capítulo 1 é a “Introdução”, em que apresentamos os objetivos, relevância do tema e procedimentos metodológicos. O Capítulo 2 intitulado “Alguns conceitos importantes”, “Alguns conceitos importantes”, tem o objetivo de conceituar, com base nos estudos, termos importantes para o desenvolvimento da pesquisa. O Capítulo 3, intitulado “Documentos Oficiais”, terá o objetivo de mostrar o que os documentos oficiais da educação para o ensino médio dizem acerca do que será defendido. O Capítulo 4, intitulado “Ensino por Atividades”, onde explicaremos a metodologia em que a poposta de ensino será embasada. O Capítulo 5, intitulado “Resumo de alguns estudos já existentes” tem o objetivo de, de forma resumida, mostrar estudos que fomentam nossa linha de pesquisa. O Capítulo 6, intitulado “Proposta de ensino” apresenta a proposta de ensino confeccionada através de adaptações de estudos e baseada nas constatações feitas, utilizando Ensino por Atividades. O Capítulo 7, intitulado “Considerações finais” fará comentários que findam esse trabalho. Agora trataremos de conceitos que consideramos importantes para o andamento do trabalho. 10 2. ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES Consideramos importante que alguns conceitos que serão expostos no texto sejam esclarecidos. Tomamos como base as ideias de Campos (2013), que realizou uma pesquisa com o intuito de oferecer acesso a informações e instrumentalizando indivíduos para a tomada de decisões, provocar reflexões e promover uma educação crítica frente a situações de consumo. Para se falar em uma Educação Financeira Crítica temos que primeiramento nos apropriar de alguns conceitos. Ao nosso entendimento para se ter uma Educação financeira precisa-se também ter conhecimento da Matemática Financeira. Segundo Campos (2013) entende-se por Matemática Financeira como sendo um corpo de conhecimento que estuda a variação do dinheiro ao longo do tempo. Baseia-se em técnicas matemáticas para resolver problemas de fluxo de caixa e de equivalência de capitais, tanto em regime de juros simples como de juros capitalizados, isto é, preocupa-se em criar modelos que permitem avaliar e comparar o valor do dinheiro em diversos pontos do tempo. Para isso, é estabelecido um conjunto de fórmulas, exigindo uma definição precisa de vários termos como: capital, juros, montante, valor presente, valor futuro, valor nominal, fluxo de caixa, sistema de amortização etc. Podemos citar os empresários, contadores e administradores como profissionais que trabalham diretamente com a Matemática Financeira. Dessa forma, concordamos com a definicão de Campos (2013) ao se falar em Matematica Financeira. Além disso, um dos objetivos desse trabalho é o despertar para a Educação Financeira Crítica, mas para isso precisamos definir o que entendemos como Educação Financeira. Entendemos que Campos (2013) nos forneceu a ideia mais abrangente, onde o mesmo entende a Educação Financeira como uma prática social, de modo que possa estar enraizada em um espírito de crítica e em um projeto de possibilidades que proporcionem aos indivíduos- consumidores participarem, ativamente, no entendimento e na transformação dos contextos que estão inseridos. Compreendida dessa forma a Educação Financeira viria a ser um item adjunto propiciador da emancipação socioeconômica desses indivíduos. Dessa forma, ao analisar os estudos de Campos (2013) e os outros pertencentes a essa pesquisa concluímos que a Educação Financeira Crítica se é feita quando o cidadão não seria visto como um mero consumidor, dotado de uma 11 condição servil, à mercê de um mercado que tem se estruturado sob um crescente número de informações financeiro-econômicas cada vez mais complexas, mas como cidadão que se posiciona criticamente em relação ao panorama que tem se estabelecido na atualidade, que busca compreender como funciona a sociedade em que se encontra inserido, evitando uma postura passiva diante dessas questões e usa o conhecimento adquirido em sala de aula ao lidar com Matemática Financeira em seu dia-a-dia. Logo, tendo acesso a informações, compreendendo a linguagem financeiro-econômica, acreditamos que esta Educação Financeira poderá auxiliar osindivíduosconsumidores em suas ações e tomadas de decisão de consumo. Logo, acreditamos que para se alcançar uma Educação Financeira Crítica o aluno do Ensino Médio deva: Conhecer e saber aplicar os assuntos da Matemática Financeira; ser incentivado a fazer o seu próprio orçamento familiar e pessoal; Ter contato com propagandas e promoções enganosas, para não cair em armadilhas; Ser instigado a lidar com contas de água, luz, telefone, faturas de contas, cartão de crédito etc., para aprender a identificar os dados nelas contidos, como juros, taxa de juros etc.; Assistir palestras ou experiências de instituições financeiras, além de visitá-las. Mostraremos agora o que os documentos oficiais em educação dizem dobre o ensino da matemática financeira. 12 3. DOCUMENTOS OFICIAIS Os Parâmetros curriculares nacionais (PCN) são propostas para o currículo que se referem a um aprendizado mais útil à vida e ao trabalho, dedicados a especificar a descrição de competências a serem desenvolvidas pelas disciplinas, que estão separadas por áreas e são referência nacional para o ensino básico e apresentam a proposta de contextualização e interdicisplinaridade e deixa claro que o aluno também deve ter um conhecimento financeiro. Ao se estabelecer um primeiro conjunto de parâmetros para a organização do ensino de Matemática no Ensino Médio pretende-se contemplar a necessidade da sua adequação para o desenvolvimento e promoção de alunos, com diferentes motivações, interesses e capacidades, criando condições para a sua inserção num mundo em mudança e contribuindo para desenvolver as capacidades que deles serão exigidas em sua vida social e profissional. Em um mundo onde as necessidades sociais, culturais e profissionais ganham novos contornos, todas as áreas requerem alguma competência em Matemática e a possibilidade de compreender conceitos e procedimentos matemáticos é necessária tanto para tirar conclusões e fazer argumentações, quanto para o cidadão agir como consumidor prudente ou tomar decisões em sua vida pessoal e profissional. (BRASIL, 2000. p.40) Os PCN também deixa claro que devemos ter uma visão crítica sobre problemas da Matemática. Analisar e valorizar informações provenientes de diferentes fontes, utilizando ferramentas matemáticas para formar uma opinião própria que lhe permita expressar-se criticamente sobre problemas da Matemática, das outras áreas do conhecimento e da atualidade. (BRASIL, 2000. p.42) Nessas partes do do texto do PCN fica clara a necessidade de se trabalhar a matemática financeira de uma forma de preparar o aluno para a vida, seja como consumidor ou como qualquer área no âmbito do trabalho, pois na nossa existência nos depararemos com várias situações onde, se tivermos uma educação financeira crítica, poderemos nos comportar de maneira mais prudente. É preciso ainda uma rápida reflexão sobre a relação entre Matemática e tecnologia. Embora seja comum, quando nos referimos às tecnologias ligadas à Matemática, tomarmos por base a informática e o uso de calculadoras, estes instrumentos, não obstante sua importância, de maneira alguma constituem o centro da questão. (BRASIL, 2000. p.41) Fica evidente que o uso da calculadora é citado nos PCN como um instrumeto a ser utilizado com os alunos do ensino médio. Como diz o documento o uso da calculadora não vem a ser o fato mais importante, mas deve estar presente no processo de ensino e aprendiagem da matemática. 13 Outro documento importante é o PCN+, criado em 2002, para complentar o PCN em relação à organização e ao trabalho na escola. O texto diz: Reconhecer e utilizar símbolos, códigos e nomenclaturas da linguagem matemática; por exemplo, ao ler embalagens de produtos, manuais técnicos, textos de jornais ou outras comunicações, compreender o significado de dados apresentados por meio de porcentagens, escritas numéricas, potências de dez, variáveis em fórmulas. (BRASIL, 2002. p. 114) A necessidade de utilização correta dos símbolos, nomenclaturas e de códigos. Nesse caso se faz referência a simbologia da porcentagem que tem muita importância dentro da matemática financeira. Além disso, o documento PCN+ ainda relata: Ler e interpretar diferentes tipos de textos com informações apresentadas em linguagem matemática, desde livros didáticos até artigos de conteúdo econômico, social ou cultural, manuais técnicos, contratos comerciais, folhetos com propostas de vendas ou com plantas de imóveis, indicações em bulas de medicamentos, artigos de jornais e revistas. (BRASIL, 2002. p. 114) Além disso, de acordo com Brasil (2002) o aluno do Ensino Médio deve ser capaz de analisar e julgar cálculos realizados sobre dados econômicos ou sociais e propagandas de vendas a prazo. Se torna bem explícito no documento que é importante saber ler textos com informações na linguagem matemática. Levando para a matemática financeira, se torna importante trabalhar esse conteúdo utilizando-se de folhetos e propagandas com propostas de compra e venda, onde se obtenha dados para o cálculo de juros em compras feitas a prazo e de porcentagem de desconto (quando à vista), que estão muito evidentes no dia-a-dia do aluno e da sociedade como um todo, além de outros ítens comercias que se possam trabalhar o conhecimento financeiro. Já as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), como diz o próprio documento, é responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras. Tendo em vista que a função precípua da educação, de um modo geral, e do Ensino Médio – última etapa da Educação Básica – em particular, vai além da formação profissional, e atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá-los de autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, sem perder de vista que a educação também é, em grande medida, uma chave para o exercício dos demais direitos sociais. (BRASIL, 2013. p.147) 14 Ao analisar o DCNEM, avalio que o documento acredita ser importante que se ensine não somente a matemática propriamente dita, mas também uma matemática ligada diretamente com a formação do cidadão, que o mesmo possa assegurar os seus direitos sociais e saber onde suas obrigações são investidas, fazendo parte assim da cidadania, ou olhando críticamente para o sistema. Fazendo um ele com a matemática financeira, é direito do cidadão saber como funciona, por exemplo, o sistema de crédito, ou seja, ser conhecedor do sistema financeira, para que o mesmo possa ser crítico e que não seja enganado por propagandas enganosas e juros abusivos. Outro documento importante é a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) regido pela lei de nº 9.394/96 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pela presidência da república. A lei diz, no seu artigo primeiro, quando se refere à educação que “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Ainda no mesmo artigo, em seu parágrafo segundo, o documento deixa claro que a educação da escola deve se vincular ao mundo do trabalho e da cidadania. Já o artigo segundo diz: Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996. p.25) Direcionando mais ao ensino médio a LDB pontua em seu artigo trinta e cincocomo uma das finalidades da educação nesse período: “A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores” que define como finalidades do ensino médio a preparação para continuar nos caminhos dos estudos, a preparação essencial para o trabalho e exercício da cidadania, além de um pensamento crítico. Ao analisar a LDB e DCN entendo que não fica explícito a importância da educação financeira para o ensino médio, porém se fala em formação profissional e construção da cidadania. Porém ao se pensar em formação de um profissional,seja ele de qualquer área do conhecimento, o mesmo precisa ser educado financeiramente para gerir da melhor forma sua vida no trabalho. Já na formação do 15 cidadão, como cita o texto, é um direito do cidadão saber de que formas são cobrados as tarifas e taxas de juros, como se dão os procedientos financeiros, o que ampara o cidação, que também é um consumidor, por isso é necessário ter uma educação financeira. Analisando as Orientações Currículares para o Ensino Médio (OCEM) foram elaboradas a partir de ampla discussão com as equipes técnicas dos Sistemas Estaduais de Educação, professores e alunos da rede pública e representantes da comunidade acadêmica. O objetivo deste documento é contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente. Ao ler as OCEM pode-se observar que no trabalho com números e operações, destacam-se: Operar com frações, em especial com porcentagens; usar calculadora e números com notação científica; ler faturas de contas de consumo de água, luz e telefone. No final do ensino médio, segundo o documento, o aluno deve estar apto a decidir sobre as vantagens/desvantagens de uma compra à vista ou a prazo; calcular impostos e contribuições previdenciárias e avaliar modalidades de juros bancários. Tendo feito as observações sobre o que dizem os documentos oficiais da educação sobre o nosso temo, agora falaremos do método de Ensino por Atividades, que usaremos para realizarmos a nossa proposta. 16 4. ENSINO POR ATIVIDADES Utilizaremos nessa parte do trabalho as ideias de Mendes & Sá (2006), que são dois estudiosos com muita experiência na área da educação, pelo simples fato de terem elaborado esse livro onde usaremos um modelo bem semelhante, com o uso do método de Ensino por Atividades. Segundo Mendes & Sá (2006) para que o aluno alcance um nível de conhecimento para a formação de um homem consciente de sua capacidade intelectual junto ao seu mundo e o mesmo saber o forneça habilidades e conhecimentos úteis e que o prepare para resolver problemas diários, é necessário a utilização de uma metodologia que valorize a ação docente do professor, através de uma ensino partindo da realidade para a abstração. Dessa forma, os estudantes saíram da postura apenas passiva e passaria a participar da construção do conhecimento, questionando, compreendendo o que por ele é vivido em sua vida. É importante, portanto, que comecemos a repensar a maneira de como ensinar a Matemática, concretamente, visando quebrar os esquemas tradicionais e oferecer aos estudantes, informações que possam suprir suas necessidades, que envolvam suas habilidades psicomotoras, onde eles possam manusear materiais e posteriormente passar ao domínio cognitivo. (Mendes & Sá, 2006, p. 10) Para a aplicação de nossas atividades escolhemos a tendência metodológica de ensino por atividades. Ainda nos referindo ao estudo de Mendes & Sá (2006), o mesmo diz que essa metodologia de ensino baseado em atividades estruturadas pressupõe a possibilidade de levar o aluno a construir de forma constante as noções matemáticas presentes nos objetivos da atividade. Além disso, o mesmo estudo explica que cabe ao professor preocupar-se com a forma de elaboração dessas atividades e com orientações dadas aos estudantes durante a realização destas. De acordo com Mendes & Sá (2006) as sugestões de elementos indispensáveis para a elaboração são: • As atividades devem apresentar-se de maneira auto orientadas. • Toda atividade deve procurar conduzir o aluno a construção das noções matemáticas através de três fases: a experiência, a comunicação oral das ideias apreendidas e a representação simbólica das noções construídas. 17 • As atividades devem prever um momento de socialização das informações entre os alunos. • As atividades devem ter características de continuidade. • De acordo com o modelo proposto por Dockweiller (1996) Apud Mendes & Sá (2006), as atividades propostas pelo professor podem sem apresentar de três maneiras: desenvolvimento, conexão e abstração. 18 5. RESUMOS DE ALGUNS ESTUDOS JÁ EXISTENTES Este capítulo é dedicado à revisão de literatura, de modo a situar o trabalho no processo de produção do conhecimento da comunidade científica. Diante disso, explicitamos que o tópico de Matemática Financeira tem sido objeto de algumas pesquisas na área de Educação Matemática. Contudo, reforçamos que a quantidade ainda é escassa de trabalhos nessa área. Nossa atenção está centrada em estratégias de ensino e aprendizagem de conceitos e situações financeiras tendo como propósito uma Educação Financeira. Assim, a Matemática Financeira nada mais é que uma ferramenta que possibilitará um impulso inicial às discussões que quero trazer à tona. Os trabalhos foram resumidos neste capítulo e organizados um por um em relação ao seu objetivo, questão norteadora, metodologia, referencial teórico, resultados e considerações finais. Foram analisados textos voltados a Educação de Jovens e Adultos (EJA), do ensino fundamental e médio. Divididimos os estudos de nossas análises em dois tópicos: Educação Financeira Crítica e Processo de Ensino e Aprendizagem. O primeiro tem um foco maior no aspecto de uma visão crítica a cerca das situações financeiras. Já o segundo trata mais precisamente da abordagem em sala de aula no assunto Matemática Financeira. Sendo assim, agora serão apresentamos os nossos resumos dos trabalhos que por nós foram consultados e os mesmos estão divididos de acordo com os tópicos que definimos: 5.1 EDUCAÇÃO FINANCEIRA CRÍTICA Encontramos nessa categoria o trabalho de Costa (2012) que se embasou nas características da Educação Matemática Crítica, de Ole Skovsmose, em que consequentemente acarretam reflexões de cunho social, perante questões relacionadas à Cidadania, descritas nas obras de Nilson José Machado, teve como objetivo aglutinar aos aspectos de criticidade e cidadania, incorporar ferramentas tecnológicas – calculadora e computador – como meio de intencionar a inclusão digital, e paralelamente, como instrumento auxiliador diante de tomadas de decisão. 19 Além disso, responder indagações como: Como seria a aceitação por parte do nosso alunado, mediante atividade de cunho matemático-financeiro, em que os mesmos seriam encorajados a relatar suas vivências de mundo? Como planejar aulas que integrem diferentes conteúdos matemáticos perpassando pela Matemática Financeira? A inserção de recursos tecnológicos (calculadora e computador) nas aulas de Matemática traria alguma resistência por parte dos estudantes da EJA? Como um estudante da EJA se posiciona frente às situações financeiras e globalizadas, expressando-se de forma crítica? A pesquisa foi desenvolvida num colégio público estadual da cidade de Miguel Pereira/RJ, cujo um pré-teste ocorrera em uma turma de 9° ano do Ensino Fundamental, sendo um pós-teste, aplicado no 3° ano do Ensino Médio, ambos na modalidade da Educação de Jovens e Adultos – EJA. A oferta de aulas, nas quais envolviam conteúdos relacionados àparte financeira, vem encontrar subsídios, pois os indivíduos que integram a EJA são sujeitos que exercem que transitam pelos meios financeiros, no qual, em diversos momentos da vida, são defrontados às situações que necessitam de certos conhecimentos, e como não os dominam, acabam por acreditar em outrem. De acordo com relatos no texto, os alunos se sentiram muito mais satisfeitos com os resultados com a utilização da calculadora, na aula de matemática financeira, pois tinham dificuldade em operar com números com vírgula. Costa (2012) trabalha com as tecnologias ao usar um software com uma planilha eletrônica para o ensino da matemática financeira. Os alunos apesar de terem conseguido manipular a planilha eletrônica de cálculos, cuja finalidade era o cálculo das respectivas taxas, esqueceram de lançar no software dados necessários para que este pudesse apresentar o resultado correto. Ao tratar da educação financeira, o autor compreendeu que seria necessário retornar a alguns pontos, considerados frágeis. Independentemente dos cálculos, a criatividade diante dos anúncios, a consciência sobre venda parcelada e venda à vista, cujo valor não se constitui o mesmo no transcurso do tempo, e na demonstração da consciência frente ao que vivenciam cotidianamente. Quanto ao planejamento das aulas, apontou-se no texto que não foram fáceis, principalmente sem material de apoio, quando se propõe algo como fora apontada pela pesquisa, o que gerou certo ar de incerteza, essencialmente, em momentos que antecederam os trabalhos. Outro fato que foi destacado foi à 20 necessidade de se despir de certos pré-conceitos cristalizados durante a trajetória de estudante, os quais foram reproduzidos até o atual momento, no ser professor. Ao término do semestre letivo, o que importava não era saber se o aluno dominava a técnica ou se havia decorado as fórmulas do juro simples ou do juro composto. O interesse do trabalho era despertar a vontade, a “fome” do ser cidadão, mas para isso seria necessário sair do lugar comum, em que o professor fala e o aluno responde, em que o professor irá prover seus alunos de conhecimentos, como uma tábula rasa. Diante da evidente estranheza, os estudantes acabaram por acostumar, também devido ao receio de que as propostas acarretassem algum valor relacionado a pontos diante de futura avaliação. Segundo o autor a geração de certa ansiedade dos alunos pode parecer natural, pois os mesmos trazem consigo a ideologia de que irão receber atividades prontas, com a percepção de que aulas serão ministradas da mesma forma que aprenderam quando crianças. Quando se deparam com algo ao qual terão que construir, em que a interação entre o ser humano- com-mídia torna-se presente, em que o professor não necessita ser o provedor do saber, para dizer se está correto ou não. Nesse âmbito, o esforço, o interesse, nos quais as trocas entre professor/aluno e aluno/professor são necessárias a fim de que o processo seja avaliado de forma mútua e contínua. Em Costa (2012), houve momentos em que o professor obteve a necessidade de efetuar revisão de conceitos, principalmente aos relacionados à avaliação, pois acostumado a trabalhar tendo como interesse a avaliação classificatória, na qual o objetivo principal contempla as maiores pontuações, sem observar o processo diário e em formato contínuo. Avaliar por meio de instrumentos, mediante processo constante, atrelado ao fato de que não foram encontrados referenciais para fins de consulta, tanto diante da proposição dos conteúdos quanto no âmbito da avaliação, portanto, é natural a geração de medo e insegurança ao docente que se dispuser a trabalhar nessa perspectiva. No trabalho de Vieira et al. (2013) foi verificado o objetivo principal de despertar a consciência crítica nos alunos que cursam a EJA, utilizando exemplos do seu dia-a-dia, a fim de que os mesmos compreendam o que acontece com valores monetários com o passar do tempo. 21 O estudo foi desenvolvido com base nos estudos de Fonseca (2007), Nasser (2009) e Sá (2009). A atividade foi realizada por meio do ProExt (Programa de Extensão Universitária) - 2012, um programa financiado pelo MEC - Ministério da Educação, do qual participavam quatro bolsistas. No campus Rio Pomba, ele ocorreu pela terceira vez e teve como uma de suas propostas, oferecer aos alunos da Licenciatura em Matemática o contato com a realidade escolar através da interação com os docentes e discentes da rede pública local, e de aplicações de atividades matemáticas, assim propiciando aos alunos uma visão mais ampla a respeito do conteúdo que estava sendo ministrado, além disso, oferecer uma formação continuada a professores da Educação Básica. A atividade foi aplicada em uma turma de vinte e três alunos do primeiro ano do ensino médio, na modalidade de ensino EJA, em uma escola pública de ensino fundamental e médio. A faixa etária dos alunos era entre vinte a cinquenta e cinco anos. Além disso, eram bastante receptivos e demonstravam interesse pelas atividades. Para realização da atividade foram utilizados um data show, um notebook, folhetos de propaganda e calculadoras científicas fornecidas pelo ProExt. Para sua execução, os alunos foram separados em grupos de aproximadamente cinco alunos cada, e após isso foi fornecido o material composto pelos folhetos e as calculadoras, por fim foi explicado o objetivo da atividade intitulada “À vista ou a prazo”. Vieira et al. (2013) deixou claro no processo de desenvolvimento do trabalho aos alunos que a meta era discutir sobre a variabilidade das compras à vista ou a prazo segundo as regras da matemática financeira e assim despertar neles uma reflexão crítica a respeito da visão que os alunos têm sobre o conteúdo que será abordado, fazendo com que os mesmos percebessem que nem sempre o que está exposto nos folhetos de propaganda utilizados pela maioria das empresas de venda de eletrodomésticos é verdade. No início da atividade os pesquisadores indagaram os alunos se eles teriam facilidade para cálculo de juros e se os mesmos faziam com frequência esses cálculos. Ao observar os comentários o texto diz que foi possível perceber que a minoria da turma sabia realizar os cálculos de juros. 22 Posteriormente, foi solicitado pelos pesquisadores que os alunos calculassem quanto valia 15% de 450 e foi estabelecido um tempo aos alunos para que respondessem à questão. Apenas os grupos um, três e cinco conseguiram realizar os cálculos e os mesmos foram indagados a respeito do processo adotado por eles para realização do problema. Diante dessa observação, fez-se necessário explicar a eles a função e o significado do botão porcentagem para que os mesmos pudessem realizar os cálculos na calculadora científica e assim possibilitar aos alunos a compreensão do conhecimento matemático relativo ao símbolo e às operações de porcentagem. Dando continuidade, buscou-se apresentar aos alunos uma atividade mais significativa do que a anterior, por meio de um problema real. Sendo assim, foi proposto aos alunos que realizassem uma atividade desenvolvida por Nasser (2009 Apud Vieira et al. 2013) em uma de suas oficinas ministradas durante o Projeto Fundão (IM-UFRJ), cuja situação problema foi a seguinte: “Bia pegou um empréstimo de R$ 300,00 a juros mensais de 10%. Dois meses depois, Bia pagou R$150,00 e, um mês após esse pagamento, liquidou seu débito. Qual o valor desse último pagamento?”. Segundo o texto um aluno do grupo três respondeu que se tratava de juros sobre juros. Já um aluno do grupo um, disse que na data um daria R$ 330,00. E, por fim, um aluno do grupo cinco constatou que na data dois teria que fazer juros sobre juros. Após ouvir esses comentários o pesquisador percebeu que os alunos compreenderam que nesse caso há juros compostos. Dando continuidade à atividade foi proposto pelopesquisador um exercício baseado em uma propaganda do folheto com a seguinte situação problema: “Se vocês decidissem comprar um DVD que custa exatamente 400 reais, cujo preço não pode mais ser negociado, Supondo que vocês têm 400 reais na poupança, vocês prefeririam comprá-lo à vista por 400 reais ou em 10 vezes de 40 reais?”. Em seguida foi estabelecido tempo aos alunos para que pudessem pensar a respeito, porém de imediato um dos alunos disse: “se eu tenho dinheiro eu compro é à vista”, com o término do tempo estabelecido, os alunos foram indagados a respeito de qual a melhor opção de pagamento. A maioria dos alunos pensou de maneira crítica, e um aluno do grupo um respondeu o seguinte: “Aluno do grupo um: Nesse caso eu prefiro pagar a prazo, pois meu dinheiro vai render e, no final quando 23 eu pagar tudo, ainda terei dinheiro ao contrário do que se eu tirar tudo da poupança e pagar o DVD!” Conforme verificado pelos pesquisadores muitos alunos também se expressaram de maneira reflexiva tendo a mesma ideia. Após os comentários o pesquisador mostrou no eixo das setas o que realmente acontecia e foi unânime a escolha da turma pela compra a prazo como melhor opção. Posteriormente à situação problema descrita acima relacionada a comprar à vista ou a prazo, foi possível perceber pelos estudiosos que os alunos compreenderam a situação problema e conseguiram resolvê-la por meio do eixo de setas. Um fato interessante foi que o professor que cedeu as aulas para os pesquisadores acompanhou grande parte da atividade e afirmou que apoia a iniciativa dos licenciandos em Matemática, pois atualmente os alunos da educação para jovens e adultos necessitam de uma educação financeira mais sólida para a compreensão e atuação no mundo que os cerca. Vale salientar que a turma era bastante heterogênea, por esse motivo uma minoria não conseguiu acompanhar de maneira efetiva a atividade. Os resultados obtidos foram bastante satisfatórios, pois grande parte dos alunos conseguiu entender e utilizar o “eixo das setas”, além disso, o que chamou mais atenção nos pesquisadores foi o raciocínio crítico que os mesmos desenvolveram ao longo da investigação e o interesse dos mesmos, pois fizeram até sugestões de novas atividades para serem realizadas. Foi observado pelos pesquisadores que o uso da calculadora científica, aparentemente auxiliou na aprendizagem dos alunos, porém os mesmos tiveram dificuldade de utilizá-la no início da atividade, pois eles não a conheciam e estavam acostumados com um modelo simples. Com o decorrer da atividade a maioria dos alunos conseguiu utilizar a calculadora de uma forma dinâmica. Através do uso do eixo das setas, os estudiosos perceberam que a maioria dos alunos pode compreender a variação do dinheiro no tempo, possibilitando assim que eles interpretassem as situações problemas e realizassem os cálculos com mais facilidade. Vieira et al. (2013) perceberam que, apesar do costume de comprar à vista os alunos têm a capacidade de refletir e rever suas escolhas de compras à vista ou a prazo, sendo assim o papel da matemática crítica é essencial para a 24 formação integral do jovem e adulto, permitindo-lhe modificar seu pensar, agir e viver no mundo contemporâneo. Portanto os pesquisadores concluíram que, após as respostas obtidas pelo trabalho realizado, o aluno pode construir conhecimento a partir de suas experiências, uma boa indicação para isso é a proposta deles próprios escreverem situações problemas, onde a matemática estaria relacionada com seus interesses e vivências. Já no estudo de Castro (2013) o mesmo relata a experiência vivenciada no campo da educação matemática na Educação de Jovens e Adultos (EJA). O Desenvolvimento do trabalho se deu com alunos de um Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA – da cidade de Cuiabá-MT, a partir da necessidade identificada pela professora de matemática das turmas do 2º ano do 2º segmento1 e 1º e 2º ano do Ensino Médio do período matutino. Segundo o texto, na primeira semana de aula do 3º trimestre de 2012, a professora realizou algumas atividades diagnósticas para apontar os assuntos de interesse e/ou dificuldades dos alunos. Nestas atividades, foi identificado que a maioria dos educandos possuía algumas dificuldades referentes aos conteúdos de juros e planejamento orçamentário familiar, e que gostariam de saber mais sobre o assunto, pois estes fazem parte do cotidiano dos mesmos. Enquanto coordenação de área, o autor realizou junto à professora a elaboração, planejamento e aplicação das oficinas, bem como preparação das aulas, construção do material didático, preparação e execução das aulas de campo. As oficinas ocorreram durante o último trimestre do ano letivo de 2012, na qual estudavam a área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias – CNM. As oficinas ocorreram uma vez por semana, nas quintas-feiras, durante duas aulas. A metodologia utilizada na proposta se sustentou em ações que envolvessem o aluno ativamente no processo de aprender, desafiando-o a formular e reformular hipóteses e a verbalizar suas concepções acerca do que está sendo proposto, ações importantes na construção do conhecimento matemático. Os dados coletados durante as atividades foram realizados através de diário de campo, registro fotográfico e observação. As ações realizadas foram: aulas expositivas, pesquisas no laboratório de informática, palestras, trabalhos em grupos e aulas de campo. 25 As oficinas foram desenvolvidas para as turmas do 2º ano do 2º segmento, que continham 18 alunos, 1º ano do Ensino Médio, com 20 alunos e o 2º ano do Ensino Médio, com 33 alunos. Estas oficinas ocorriam uma vez por semana com duração de 2 horas/aulas. A temática das oficinas foi escolhida mediante algumas indagações das turmas sobre o cálculo de juros, visto que não sabiam calcular os juros cobrados em lojas e bancos e sobre como realizar um planejamento orçamentário familiar. Esta solicitação dos alunos fez com a professora repensa-se os conteúdos a serem trabalhos com essas turmas. Para o desenvolvimento das oficinas foi solicitado que os alunos trabalhassem em grupos de quatro alunos, para que pudessem discutir as atividades propostas. O estudo teve o embasamento teórico de Freire (1996), Fiorentini (2001) e Galvis (1988). Para o desenvolvimento das oficinas foi solicitado que os alunos trabalhassem em grupos de quatro alunos, para que pudessem discutir as atividades propostas. De acordo com Castro (2013), para início questionou-se se os alunos sabiam qual o conceito de juros. A grande maioria sabia identificar em seu cotidiano situações onde cobravam juros, mas não sabiam o conceito. Depois de alguns questionamentos da professora, um aluno fez a colocação de que “juros era um acréscimo sobre um determinado valor”. A partir desta situação foi explicado o conceito de juros simples e suas aplicações. Mas ao desenvolver algumas atividades simples com cálculo de porcentagem, foi identificada a dificuldade de transformação da forma porcentual para a fracionária e a decimal. Sendo assim, foi realizada uma revisão, durante três aulas, sobre os conteúdos necessários. Uma das atividades em que a classe ficou bastante motivada, segundo o texto, foi onde cada grupo trouxe para aula folhetos de lojas com propagandas de vendas de diversos produtos. Cada grupo escolheu dois produtos para realizar à análise de seus valores, verificar o valor pago à vista e o valor pago a prazo e posteriormente discutir qual a melhor forma de pagamento. Após a conclusão desta atividade a professora trabalhou durante duas aulas com problemas e exercícios para reforçar o conceito e a técnica do cálculo de juros simples. No laboratório de informática da escola, foi solicitado que cada grupo realiza-se algumas pesquisas na internet, através do Google, sobre a diferençade juros simples e compostos. Cada grupo organizou uma apresentação para explicar a 26 diferença entre os dois tipos de juros, apresentando os conceitos e situações do dia- a-dia. Durante as apresentações a professora, realizou as intervenções adequadas, reforçando e ajudando na argumentação, quando necessário. Para a realização das pesquisas foram utilizadas duas aulas e para as apresentações, quatro. Em oficinas posteriores, desenvolvidas em quatro aulas em sala de aula, foram realizados exercícios que envolvessem os dois tipos de juros. Cada grupo teve a liberdade de discutir entre os integrantes a maneira de realização destas atividades, explicando a maneira como foi resolvida cada questão. Estando os alunos apropriados do conceito, o pesquisador deu início às atividades sobre orçamento familiar e pesquisa de mercado. Para começar realizou- se uma palestra sobre orçamento familiar, incluindo o planejamento orçamentário e economia doméstica. Durante as atividades, ainda em grupo, os alunos participaram de duas aulas de campo. Na primeira aula de campo, visitaram o Mercado Municipal do Porto, Cuiabá-MT, onde cada grupo ficou responsável por um tipo de alimentação (frutas, legumes, verduras, peixes e carnes). O propósito era realizar uma pesquisa de mercado, com o objetivo de comparar preços, entre o Mercado Municipal e a propaganda de um supermercado local. Na segunda aula de campo, os alunos foram ao Centro de Cuiabá, para visitar algumas lojas de eletrodomésticos e também fazer uma pesquisa de preços. Cada grupo ficou responsável por alguns materiais específicos. Após cada aula de campo, os grupos apresentaram seus resultados e principalmente falaram da experiência em realizar o trabalho. Realizar uma pesquisa antes de realizar uma compra, ou seja, se planejar. Com a realização de oficinas, Castro (2013) percebeu a importância de se trabalhar conteúdos e/ou atividades que façam parte do cotidiano dos educandos, pois o envolvimento dos mesmos é bem maior. Apesar de inicialmente ter ocorrido uma resistência de alguns alunos em realizar as atividades em grupo, aos poucos, fomos mostrando a importância das trocas de experiência e conhecimentos. Ao final das oficinas os alunos preferiam realizar as atividades propostas em grupos ao invés de a fazerem individualmente. O pesquisador considerou que o resultado obtido ao final das oficinas foi positivo, O trabalho desenvolvido por Macedo & Jesus (2013) apresenta reflexões sobre uma atividade desenvolvida pelo subprojeto de Matemática do Programa 27 Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID, realizada no Colégio Estadual Santa Bernadete – CESB com turmas da Educação de Jovens e Adultos – EJA. O Objetivo principal desse trabalho foi contribuir para a formação dos alunos enquanto cidadãos reflexivos no momento de realizar as compras, pensando em sua renda mensal e a real necessidade em adquirir os produtos, além de ampliar a formação dos futuros docentes. O presente trabalho apresenta reflexões a respeito de uma experiência adquirida com uma atividade desenvolvida por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência – PIBID, no subprojeto de Matemática. Um dos principais objetivos do PIBID é realizar uma parceria colaborativa entre escolas públicas estaduais e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB no Centro de Formação de Professores – CFP, ambas situadas na cidade de Amargosa-BA. Essa parceria busca contribuições para a formação dos alunos e professores das instituições de Educação Básica, além de promover o desenvolvimento profissional dos bolsistas de Iniciação a Docência – ID (graduandos do curso de Licenciatura em Matemática da supracitada universidade), a partir de reuniões com a professora de matemática do Colégio Estadual Santa Bernadete – CESB, que relatou a necessidade dos alunos da Educação de Jovens e Adultos – EJA refletirem e discutir temas para além da Matemática Financeira, uma vez que, era um público de alunos (muitos são mães e pais de famílias), que, em geral, não administravam bem suas rendas mensais. Os estudos foram conduzidos com base em Ribeiro & Santos (2009), Souza & Torralvo (2004), entre outros. A palestra foi realizada com a participação de quatro turmas da EJA durante duas noites consecutivas com duração de 2 horas/aula cada. Contou-se também, com a participação da professora de Química que colaborou para que no horário da palestra sua turma também participasse da proposta. O estudo contou com slides para direcionar as discussões e ao final da palestra foi entregue a cada aluno um modelo impresso de tabela que poderia auxiliar na realização do seu orçamento doméstico. A palestra teve um caráter dialógico, pois a todo o momento os alunos foram questionados pedindo que relatassem como eles organizavam os gastos mensais. Por meio dos relatos, os estudiosos perceberam que alguns alunos se 28 organizavam financeiramente fazendo algum tipo de anotação sobre seus gastos e ao final do mês somavam o valor total para saber quanto gastou e quanto sobraria. Outros relataram que não anotavam suas despesas, apenas confiam na memória lembrando-se dos gastos. Uma aluna revelou que durante um período de sua vida não se organizava financeiramente e não fazia anotações, relatando que a sua renda ficou insuficiente para as despesas mensais, e, a partir desse momento começou anotar todo dinheiro que gastava. Além disso, questões sobre o que eles entendiam por juros foram discutidas e o momento foi aproveitado para apresentar a formalização matemática desse conteúdo para os alunos, sempre partindo dos seus entendimentos adquiridos durante as experiências do cotidiano, sem formalizações Matemática. Depois de discutir o conceito de juros, foram apresentados mais alguns dados do IBGE, com isso, os alunos ficaram assustados com as informações, essa oportunidade contribuiu para notarem que essa realidade ultrapassa os cidadãos de Amargosa. Dando continuidade ao trabalho, foi apresentado um anúncio de um produto de uma loja de Amargosa, situação hipotética: Uma câmera digital à vendo nas condições: dezesseis vezes de R$39,90 ou R$399,00 à vista. Após apresentar o anúncio, os alunos foram questionados, ou seja, apresentaram-se as informações que seguem e pediu-se para que eles as analisassem: Você acha mais vantajoso efetuar a compra à vista ou a prazo? É cobrada alguma taxa de juros na compra a prazo? Qual o valor dessa taxa? Os autores levaram outra situação hipotética para mostrar que, para as pessoas que moram de aluguel é viável e vantajoso usar o dinheiro do aluguel e fazer um financiamento em que ao final das parcelas elas poderiam ter adquirido a sua casa própria. Com isso, os alunos puderam ser críticos e perceberem que em algumas situações realizar uma compra a prazo pode ser produtivo. Eles perceberam a importância de refletir antes de fazer uma compra e ver a real necessidade em adquirir os produtos de consumo em geral. Apresentou-se uma ideia do orçamento doméstico e objetivo, mostrando que a realização de um planejamento pode contribuir no controle dos gastos mensais, desde que, selecione as necessidades prioritárias. Por fim, foi mostrado um modelo hipotético de uma planilha feita com lápis e papel para que os alunos observassem que não é algo difícil e inalcançável. A intenção, segundo o texto, era que os alunos pudessem, realmente, repensar sobre 29 o seu orçamento financeiro. Foi elaborada uma planilha, para que os alunos realizassem um controle mensal do seu orçamento. Os pesquisadores colocaram as informações que julgaram necessárias e que acreditaram estarem mais próximas da realidade local dos alunos. Macedo & Jesus (2013) acreditam que a palestra realizada foi um momento importante para a formação dos alunos, pois puderam pensar sobre assuntosque, geralmente, não tinham oportunidade de ver na escola básica, assuntos esses que fazem parte de sua vida pessoal e profissional. Alunos e bolsistas puderam discutir sobre compras à vista e a prazo, orçamento doméstico como um instrumento importante para um bom controle financeiro, ganhos e despesas, e pensando em possibilidades para realizar compras futuras. Entendendo que o conhecimento matemático pode contribuir para a formação de alunos ativos na sociedade, Macedo & Jesus (2013) concluiram com o estudo que a palestra promoveu um ambiente de reflexão sobre decisões conscientes, principalmente no momento de realizar as compras, saber discernir a melhor opção para as propostas lançadas nas vendas de mercadorias e em outras situações da vida social. Além disso, a palestra proporcionou inúmeras contribuições enquanto futuros professores aos estudiosos, segundo os mesmos, pois, tiveram oportunidade de planejar e produzir uma atividade para turmas da EJA, com particularidades distintas das turmas regulares de ensino, reconhecendo a importância de se aproximar a realidade desses alunos para que eles atribuam significado para as discussões realizadas na sala. Macedo & Jesus (2013) concluem que essa atividade pode dar um suporte aos professores de Matemática quando apresentar para os alunos o conteúdo de Matemática Financeira, a qual pode trazer elementos das vivências dos alunos, utilizando conhecimentos desse conteúdo para ajudar na tomada de decisões e promovendo discussões para que os alunos associem elementos apresentados na sala de aula com acontecimentos exteriores ao ambiente escolar. Nessa categoria encontramos também o trabalho de Teixeira & Coutinho (2013) que teve como objetivo discutir a presença de conteúdos de matemática financeira nos livros didáticos do Ensino Médio aprovados no Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD 2012), de forma a diagnosticar condições didáticas para o desenvolvimento da educação financeira nesse nível de ensino. Também pretendeu- 30 se ressaltar a importância da Educação Matemática Crítica e de seu papel como filosofia e “pano de fundo” nesse processo, destacando a relevância da matemática financeira como poderosa ferramenta de trabalho nas decisões implícitas à natureza da educação financeira. O trabalho inicia-se com a contextualização e a importância da educação financeira. Prossegue com as definições e as premissas da matemática financeira e a relação que se estabelece entre elas. Discorre sobre a Educação Matemática Critica e seu papel na construção da cidadania. Finalmente apresenta parcialmente os resultados de pesquisa relativa a análise da presença ou não de conteúdos da matemática financeira aprovados pelo PNLD de 2012 – Ensino Médio. A análise buscou identificar a temática Matemática Financeira a partir da leitura dos sumários das coleções aprovadas no PNLD 2012, tentando exprimir quantitativamente quanto a obra destinou à abordagem do tema. Em um segundo momento, buscamos caracterizar os conteúdos matemáticos necessários ao estudo da matemática financeira (álgebra, razões e proporções, progressões e logaritmos). As porcentagens foram calculadas em relação ao total de páginas do volume que contém os conteúdos de matemática financeira. Segundo os autores, as informações pesquisadas, que confirmam a hipótese de que a abordagem dos conteúdos relativos à matemática financeira nos parece insuficiente: a proporção na qual sua presença é constatada nas coleções nos permite inferir que a discussão conceitual que permitiria desenvolver a educação financeira e a criticidade preconizada pela Matemática Crítica é pouco favorecida. Macedo & Jesus (2013) relatam que ainda não há possiblidade ainda de afirmar a ausência de tais condições pois tal afirmação demanda uma análise aprofundada de cada uma das coleções, e não apenas do Guia do PNLD 2012. Teixeira & Coutinho (2013, pag. 10) afirmam: Um dos elementos norteadores contemplados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) explicita que o ensino da matemática deve capacitar os estudantes para interpretar matematicamente situações do dia-a-dia ou do mundo tecnológico e científico e saber utilizá-la para resolver situações- problema nesses contextos. Nesse sentido, os autores acreditam que há espaço para uma contextualização mais próxima do cotidiano do aluno no que se refere às situações envolvendo finanças pessoais. Os mesmos dizem ainda que a linguagem comercial, a legislação econômica e aplicações financeiras são assuntos que podem ser 31 abordados no Ensino Médio, uma vez que os conhecimentos matemáticos necessários à atribuição dos significados para o tema são desenvolvidos nesse nível de escolaridade. Além disso, outros temas como poupança, produtos bancários (seguros, cartões, cheque especial etc.), orçamento familiar, aposentadoria, funcionamento de instituições financeiras, inflação, planos de previdência e outros assuntos interessantes aos alunos podem ser contemplados nos exemplos e exercícios propostos nos livros didáticos que abordam o tema matemática comercial e financeira por escolhas didáticas que potencializem o desenvolvimento autônomo e crítico do aluno. Os autores se respaudaram usando, principalmente, as ideias de Sá (2004, 2008), Silva (2004), Souza & Clemente (2009), Skovsmose (2004, 2006), D’Ambrósio (2002) e Araujo & Souza (2012). Outro trabalho encontrado foi o de Neto & Santos (2013) apresentado no XI ENEM. O estudo teve como objetivos discutir, juntamente com profissionais que atuam na educação básica, a relevância e alguns modos de inserção de questões relativas à Matemática Financeira sob a perspectiva da Educação Matemática Crítica e e mais especificamente no Ensino Médio. O texto tem como referencial teórico os estudos de Freire (1996), Silva (2009), Sá (2012) e Skovsmose (2007, 2008). Foi proposta uma atividade que, por meio de um tema bastante recorrente à sociedade, possa discutir viabilidades de aquisição deste tipo de financiamento e a influência dos juros na vida cotidiana dos alunos, bem como, de que forma o conhecimento de Matemática poderá auxiliar em suas decisões. Por meio desta e de outras atividades busca apresentar situações correntes no comércio como alguns “truques” praticados por vendedores não idôneos para ludibriar a população. Outro exemplo de atividades que foram propostas nessa discussão, foram as que visaram proporcionar o conhecimento e o trabalho com sistemas de cálculo financeiro que poderão ser recorrentes em seu cotidiano, e também proporcionar aos alunos uma análise crítica das implicações de aquisição de determinados empréstimos. Por meio de uma breve revisão de literatura, os autores conseguiram observar que a abordagem da temática da Matemática Financeira se constitui de maneira, por vezes inexistente, por vezes insuficiente, e isso já na formação inicial 32 de professores de Matemática. Certamente essa carência tem significativo impacto na educação básica. A proposta visou lançar luz a relevância da abordagem da temática aqui discutida. A iniciativa procura apresentar questões presentes no dia-a-dia do cidadão economicamente ativo, e suscitar discussões amparadas por conclusões técnicas que possibilitem ao indivíduo estabelecimento de critérios, intencionando que estas possam amparar sobriamente suas escolhas pessoais e suas interpretações gerais acerca da realidade cotidiana. Em outro trabalho analisado Campos (2013) fez um estudo em que objetivou oferecer acesso a informações e instrumentalizando indivíduos para a tomada de decisões, provocar reflexões e promover uma educação crítica frente a situações de consumo. O estudo se fundamentou nas ideias da Educação Matemática Crítica de Ole Skovsmose e do Modelo dos Campos Semânticos de Romulo Campos Lins. Para tal, optou-se trabalhar com alunos da 3ª sériedo Ensino Médio de uma escola estadual de Teófilo Otoni. As aulas aconteceram aos sábados pela manhã (9:00 h às 11:00 h) na UFVJM, totalizando 7 encontros. Por meio de situaçõesproblemas provocamos os alunos, deixando que expressassem suas posições. Assim, foram geradas discussões entre os próprios alunos e entre professor e alunos. Ao fim, entrava-se com uma teorização para embasar os tópicos discutidos, dos quais podemos citar alguns: Consumo X Consumismo; Liberdade X Manipulação; Juros simples e juros compostos; Cartão de crédito (faturas) e cartão de débito; Cheque-especial; Financiamentos; Código de Defesa do Consumidor (CDC). Ao propor esta metodologia algumas surpresas iam aparecendo, segundo o autor. Em um dos encontros quando foram solicitados que explicassem o que entendiam por cheque-especial encontrou-se a seguinte definição: “(...) eu entendo que cheque-especial é um talão de cheque mesmo, igual aqueles normais mesmo. Mas, ele dá mais possibilidades, pois é especial. Tipo aquele negócio de cliente vip.” Nesse trecho a aluna parecia querer dizer que cheque-especial era um talão de cheques físico, folhas de papel que saem dos caixas eletrônicos. O “especial” da expressão poderia estar fazendo referência aos clientes que supostamente estariam no topo de uma lista hierárquica da clientela deste banco. 33 Assim, segundo o estudioso, ouvir o aluno torna-se fundamental. Dar voz aos seus sentidos, anseios e desconfortos se torna uma chance de realmente se entender de onde, cognitivamente, este aluno está falando. Em todas as atividades propostas foi pedido para que os alunos fizessem suas considerações numa folha de papel, sendo esta recolhida ao final da aula. Contudo, o autor não sentiu necessidade de eleger sujeitos específicos nas considerações sobre o projeto piloto, permitindo ficar mais à vontade para escolher e mesclar as falas que julgou mais interessantes, considerando todos os participantes do curso de extensão. Dessa forma, foi entendida a necessidade de se trabalhar a Educação Financeira com mais propriedade nas escolas, pois a partir dos relatos, embora tenham demonstrado certa destreza, em maior ou menor grau, para julgarem as situaçõesproblemas, o estudioso percebeu que os jovens-indivíduos-consumidores ainda têm suas falas e ações norteada prioritariamente por conhecimentos não- matemáticos, o que também é legítimo. Nesse sentido, em algumas situações-problemas, quando se propuseram a fazer uso dos cálculos matemáticos para efetuarem as análises ou para embasar suas justificativas para a tomada de decisão, diante do obstáculo para a produção de significados, abandonavam os cálculos e passavam a apresentar argumentos para explicarem suas crenças-afirmações influenciadas em grande parte pelo discurso do senso comum. Além disso, diante da revisão de literatura que se fez, Campos (2013) concluiu que a maioria das propostas educacionais se divide na prática dos exercícios (Matemática Financeira), ou na educação para o consumo ou, ainda, voltadas a finanças pessoais. Por outro lado, já existem algumas propostas e iniciativas, embora ainda escassas, no sentido de priorizarem situações nas quais os alunos tenham a oportunidade de desenvolverem aspectos reflexivos quando diante de situações de consumo. Logo, o autor reforçou o convite a uma Educação Financeira Crítica, que passa fundamentalmente pela reflexão sobre o tipo de educação que intencionamos ofertar aos nossos alunos. Nessa perspectiva, Campos (2013) elegeu a resolução de problemas como estratégia inicial, de modo que possa caminhar rumo ao cenário para investigação que, por sua vez, pode contribuir significativamente para a formação de 34 jovens-indivíduos-consumidores conscientes, no sentido de terem a prática de estabelecerem avaliações acerca da repercussão de suas escolhas e ações. Assim, auxiliados ainda com a oferta de novos recursos financeiro-econômicos, poderão se apoderar de mais elementos matemáticos e não-matemáticos, refletindo, portanto, na tomada de decisão de consumo. O estudo também concluiu que existe, por parte dos alunos, uma visão muito limitada no que se refere a uma cultura de poupança/investimento, principalmente quando associada ao longo prazo, embora saibam da sua importância. O que foi observado no estudo é que as preocupações que cercam os jovens-indivíduos-consumidores giram muito em torno do momento que estão vivendo como, por exemplo, os processos seletivos para ingresso no ensino superior. Mas, quando suas atenções estão voltadas a coisas (celulares, roupas etc), esta preocupação se transforma numa adequação dos recursos que têm para que a aquisição se dê da forma mais rápida possível, sem muita preocupação em estabelecerem conexões com outras despesas que já tenham assumido, inclusive, despesas familiares, uma vez que a maioria deles é dependente dos pais. Logo, o autor crê que a criação de cenários para investigação que propicie simulações de poupança e investimentos, que aborde o planejamento financeiro, que trate de estudar possibilidades para aquisição de bens, pensando no curto, médio e longo prazo, pode ser um poderoso instrumento pelo qual poderemos desenvolver uma Educação Financeira Crítica. Segundo o texto é importante trabalhar a Educação Financeira a partir de anúncios pode ser um excelente ponto de partida, especialmente quando instigados a olharem para as propagandas não como potenciais consumidores, mas como os idealizadores daquela propaganda. Quanto ao direito do consumidor, observou-se que a maioria dos jovens- indivíduos-consumidores não conhecia, no sentido de fazer uso, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e, portanto, enquanto consumidores desconheciam seus direitos. Logo, o autor acredita que apresentar situações-problemas que ofereçam a oportunidade do jovem-indivíduo-consumidor refletir e discutir sobre o CDC poderá trazer grandes contribuições para que possa ser absoluto em suas decisões de consumo, deixando de ser iludido por toda e qualquer espécie de sujeitos que se 35 coloquem na posição de negociante. Para tal, as propagandas podem ser uma ótima ferramenta para desencadear tais discussões. A investigação também revelou que todos os jovens-indivíduos- consumidores não conheciam o mecanismo de funcionamento do cartão de crédito, indiferentemente se faziam uso ou não desta modalidade financeira. Assim, Campos (2013) defende a ideia do uso de situações-problemas em salas de aula que façam menção do uso do cartão de crédito, simulando pagamentos mínimos, financiamentos da fatura, analisando alternativas para quitação de uma dívida que não o crédito rotativo dos cartões de crédito, propiciando discussões acerca de todo o contexto social e econômico atrelado ao cartão de crédito, entre outros. Para que isso se consolide de modo mais prático, pode-se inserir o computador, fazendo uso de programas, por exemplo. Para finalizar as considerações, o autor destacou dois pontos importantes. Em primeiro lugar, imaginou-se que uma possibilidade para inserção da Educação Financeira no contexto escolar seria tratá-la como uma disciplina modular, sendo vista a partir de uma transversalidade interna ao currículo de Matemática. Logo, discutida e fundamentada na Aritmética, Álgebra e Tratamento de Informação. Depois, o pesquisador não acredita que, ministrado um curso modular, seja ele de 2 semanas ou de 2 meses, uma imediata avaliação possa revelar impactos e mudanças de hábitos e comportamentos dos indivíduos-consumidores. Já o trabalho de Stephani (2005) focou na ideia de que no processo de ensino-aprendizagem ouvir o aluno, dialogar com ele, saber dele quais são suas expectativas em relação à escola e em que aspectos a formação escolar o ajudarão na tomada de decisões em sua vida adulta. A pesquisa se fundamentou em Freire (2003), Moraes(2003), Adorno (2000), Streck (2005), Lück (2002), Fazenda (2002), Kleiman (2003) e Skovsmose (2001). O trabalho foi preponderantemente qualitativo, efetivado sobre análise de conteúdos de entrevistas realizadas com os alunos, a partir de perguntas construídas em instrumento de coleta elaborado especificamente para esse fim. Os participantes do Projeto de Educação Financeira contam suas experiências e quais mudanças o projeto motiva em suas vidas. Os depoimentos foram gravados em áudio e transcritos para análise. A abordagem foi narrativa, no sentido de entender as mudanças. A investigação é qualitativa. Proceder-se-á a análise de conteúdos. 36 As entrevistas foram realizadas com alunos do Projeto de Educação Financeira da turma de 2004, alunos da 2ª série do curso médio, no início de dezembro de 2004, no ambiente escolar. A turma de 2004 era composta de 35 alunos. As entrevistas foram individuais, feitas com cinco alunos, dois meninos e três meninas, voluntários que se ofereceram para participar da investigação. Optou-se por voluntários na expectativa de depoimentos livres de quaisquer coações ou coerções. Segundo o autor as questões de pesquisa visam a conhecer a realidade dos alunos envolvidos e entender suas individualidades e também o contexto de suas famílias. No momento inicial da entrevista, foi explicado aos alunos que o objetivo era conhecer suas idéias e suas condutas a respeito de finanças. As perguntas foram lançadas todas de uma vez e sugerido que o aluno falasse do que achasse importante. Nos casos em que o aluno não conseguia evoluir muito na sua argumentação, eu intervinha com novas perguntas para que ele pudesse expressar sua reflexão e expor suas idéias. Foi feita no estudo uma análise textual qualitativa. Este processo está constituído por um ciclo envolvendo três elementos: unitarização, categorização e comunicação. Conforme Moraes (2003) Apud Stephani (2005). O primeiro foco do ciclo é a unitarização. O texto é desmontado e os materiais são analisados em detalhes. Os fragmentos evidenciam as unidades constituintes, que enunciarão os fenômenos estudados. O segundo passo nesse processo é a categorização, que implica em construir relações entre as unidades de base, combinando-as e classificando-as no sentido de compreender como esses elementos unitários podem ser reunidos na formação de conjuntos mais complexos, as categorias. A comunicação, terceiro elemento, é o resultado de uma compreensão renovada do todo. Este é o último ciclo do processo, resultante da intensa impregnação dos materiais da análise desencadeada pelos dois estágios anteriores. Aqui, lançarei mão, além das falas dos alunos entrevistados, da argumentação fundamentada nos pressupostos teóricos desta pesquisa, que pretendem corroborar os relatos dos alunos. Segundo Stephani (2005) as respostas dadas pelos alunos entrevistados foram muito ricas. Suas falas mostram que há uma capacidade de reflexão consideravelmente desenvolvida. A argumentação dialógica, com os professores, 37 entre os colegas e com as suas famílias está claramente registrada nas transcrições das entrevistas. O Projeto de Educação Financeira chegou com grande aproveitamento ao propósito a que veio: ajudar na construção da autonomia do aluno. Concluindo, o autor vê que só se pode tratar dos problemas particulares se forem pensados em seu contexto e, para entender o contexto, há que se compreender o conjunto de parcelas que o constituem. Trabalhando na integração de partes entre si, o Projeto de Educação Financeira está instrumentalizando o aluno para tratar seus problemas futuros do cotidiano, de maneira que estará mais apto para juntar as partes e melhor entender o todo e tomar decisões com mais rapidez e mais segurança. Outro trabalho encontrado foi o de Reis (2013) que objetivou informar os estudantes sobre a relevância de uma boa administração das finanças pessoais e mostrar a importância da matemática em assuntos do cotidiano. Os estudantes pesquisariam sobre as principais modalidades de investimento no Brasil: Caderneta de Poupança, os CDB (Certificados de Depósito Bancário), os Fundos de Investimento, os Títulos Públicos, a Bolsa de Valores e a Previdência Privada (este último não é considerado um investimento, porém é mais um componente auxiliador na administração das finanças pessoais). O trabalho foi feito em três situações diferentes. Primeiro, com turmas de Ensino Médio/Técnico, depois com turmas de Licenciatura em Física e Licenciatura em Matemática e, por último, como um projeto na Semana de Tecnologia, Educação, Ciência e Cultura (evento do IFRJ onde grupos discentes expõem trabalhos orientados por professores), porém trataremos apenas da experiência feita com o nível médio, pois o meu estudo está voltado para a Educação Básica. A proposta para este trabalho foi pensada enquanto o pesquisador lecionava sobre função exponencial, função logarítmica e progressão geométrica para estudantes do Ensino Médio/Técnico. Depois de ter ministrado aulas expositivas sobre os conteúdos acima citados e ter resolvidos alguns exercícios que envolviam aplicações financeiras teóricas, propos o trabalho de pesquisa. A fundamentação teórica da pesquisa de Reis (2013) foi de um estudo de Novaes (2009). No ensino médio/técnico os estudantes foram divididos em seis grupos. Cada grupo, contendo quatro ou cinco membros, ficou responsável por pesquisar 38 um tema diferente. Os seis temas foram: Caderneta de Poupança, CDB, Títulos Públicos, Bolsa de Valores, Fundos de Investimento e Previdência Privada. Os estudantes deveriam elaborar um texto sobre seu tema e fazer uma apresentação oral para toda a turma. Num segundo momento, haveria um debate entre dois grupos. Sobre sua modalidade de investimento, o trabalho de cada grupo deveria descrever: - Qual era o princípio de funcionamento. - Que tipo de instituição oferecia. - Como era feita a adesão. Se de forma direta ou se era necessário um intermediário. - Quais as taxas de rendimento praticadas. - Qual a periodicidade da remuneração. - Se existia alguma penalidade caso o dinheiro investido fosse retirado antes da data prevista. - Se havia incidência de imposto de renda ou IOF (imposto sobre operações financeiras). Se sim, de que forma e a que taxa. - Se existia taxa de administração. - Se era necessário um valor mínimo para investir. - Se era necessário um tempo mínimo para manter o dinheiro aplicado. - Se existia alguma proteção para o valor investido. Se sim, qual o valor máximo protegido. - Se era recomendado para grandes ou pequenas quantias. - Se era recomendado para investimento a longo, médio ou curto prazo. - Quais eram as vantagens e desvantagens. - Exemplos de aplicações, fazendo simulações com as taxas reais de rendimento. Além da exigência destes conteúdos, foram apresentadas as características de seis personagens hipotéticos e cada grupo deveria escolher a modalidade de investimento que melhor se adequasse ao perfil de cada personagem. Cada grupo apresentou seu trabalho durante aproximadamente vinte minutos. Todos optaram por utilizar apresentações em slides. 39 No segundo momento, os seis grupos foram separados em três pares: Caderneta de Poupança e CDB, Títulos Públicos e Previdência Privada e, Bolsa de Valores e Fundos de Investimento. Os dois grupos de cada par debateram, um contra o outro, pleiteando a adesão de um cliente fictício à sua modalidade de investimento. Cada grupo tentou convencer este cliente de que sua modalidade era melhor. Depois do debate, opesquisador relatou aos grupos os pontos fracos e os pontos fortes de suas argumentações. Na aplicação deste trabalho às turmas de Ensino Médio/Técnico, estudantes entre quatorze e dezessete anos de idade, Reis (2013) constatou que a maioria não tinha conhecimento das modalidades