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1 Camila Carminate - MEDCEL Síndrome Nefrótica CASO CLÍNICO Carlos Eduardo, 4 anos Encaminhado para consulta nefrológica por urina espumosa e inchaço generalizado há 3 semanas Criança em ótimo estado geral, afebril PA = 90x50 mmHg, FC = 80 bpm Sem sinais de atraso no desenvolvimento psicomotor Edema de membros inferiores, de parede abdominal e palpebral bilateralmente Sem demais alterações relevantes ao exame físico Mãe trouxe exames da UBS Urina tipo I com PTU ++++ Sem hematúria Leucócitos normais Creatinina 0,5 mg/dL Hemograma sem alterações dignas de nota Com base no quadro clínico e apenas com os exames que você possui em mãos, responda: 1. Quais os diagnósticos síndrômico e etiológico mais prováveis? 2. Há necessidade de realização de biópsia renal? 3. Se você pudesse solicitar apenas um exame complementar, qual seria? 4. Qual o tratamento proposto? HISTOLOGIA E FISIOLOGIA GLOMERULAR Glomerulopatias – fatores inflamatórios mediados ou não por imunocomplexos (IC) Depósitos podem ocorrer nas quatro estruturas glomerulares vistas: Mesângio Endotélio capilar Podócitos Membrana basal glomerular Apresentação clínica e gravidade vai depender da localização e da intensidade da resposta inflamatória QUANDO SUSPEITAR DE DOENÇA GLOMERULAR Proteinúria – marcador das glomerulopatias, sendo a albumina o principal componente Hematúria – caracteristicamente presente em doenças ditas “proliferativas”, isto é, com intensa atividade inflamatória, classicamente encontrada nas patologias que compõem o grupo da síndrome nefrítica Urina espumosa – indicativo de proteinúria Urina escurecida – indicativo de hematúria APRESENTAÇÕES CLÍNICAS CLÁSSICAS CARACTERÍSTICAS GERAIS Proteinúria > 3,5 g/24 horas (adultos) e > 40 mg/hora/m² em crianças Hipoalbuminemia (< 3,5 g/dL) Edema Hipercolesterolemia + lipidúria Início geralmente subagudo Tendência a hipercoagulabilidade, aterogênese e eventos tromboembólicos Aumento do risco de infecções Mecanismo imunológico – depósito de imunocomplexos em estruturas glomerulares 2 Camila Carminate - MEDCEL Ausência de hematúria na síndrome nefrótica (30% das GESFs podem cursar com hematúria) Quadro clínico e complicações são comuns a todas as doenças que fazem parte do espectro da síndrome APRESENTAÇÃO CLÍNICA Risco infeccioso Deficiência de minerais e vitaminas Dislipidemia Desnutrição proteica Risco tromboembólico e aterosclerótico Edema e anasarca PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES INFECÇÕES Aumento da permeabilidade glomerular a proteínas plasmáticas (especialmente albumina) Albuminúria intensa Perda de imunoglobulinas (IG) Aumento no risco de infecções DEFICIÊNCIA DE MINERAIS E VITAMINAS Aumento da permeabilidade glomerular a proteínas plasmáticas (especialmente albumina) Albuminúria intensa Perda de proteínas carreadoras de hormônios, vitaminas e minerais DISLIPIDEMIA Aumento da permeabilidade glomerular a proteínas plasmáticas (especialmente albumina) Albuminúria intensa Hipoalbuminemia severa (< 2,5 g/dL) Aumento da síntese hepática de lipoproteínas Dislipidemia e lipidúria DESNUTRIÇÃO Aumento da permeabilidade glomerular a proteínas plasmáticas (especialmente albumina) Albuminúria intensa Hipoalbuminemia severa (< 2,5 g/dL) Aumento do catabolismo muscular (perda de massa muscular) Desnutrição proteica RISCO TROMBOEMBÓLICO Aumento da permeabilidade glomerular a proteínas plasmáticas (especialmente albumina) Perda de fatores anticoagulantes (antitrombina III) Aumento da produção hepática de fatores prócoagulantes (desbalanço pró versus anticoagulante) Aumento do risco tromboembólico (fatores associados: anasarca, redução de mobilidade, depleção volêmica) ATENÇÃO: Síndrome nefrótica Lombalgia aguda Hematúria macroscópica PENSAR EM TROMBOSE DE VEIA RENAL CUIDADO para não confundir com crise de cólica renal – examinador vai dar pistas EDEMA E ANASARCA Albuminúria intensa + hipoalbuminemia severa Redução da pressão oncótica intravascular Redução do volume intravascular efetivo Aumento do ADH – retenção hídrica Ativação do SRAA – retenção hidrossalina MANEJO DO EDEMA NEFRÓTICO Restrição de sódio na dieta < 2,4 g/24 horas Suspensão de medicações que possam contribuir com edema – anlodipina, betabloqueadores etc. Diuréticos de alça – furosemida VO/EV Diuréticos tiazídicos – HCTz, clortalidona Se tendência de hipocalemia, associar diuréticos poupadores de potássio – amilorida espironolactona Ultrafiltração PREVENÇÃO DE EVENTOS TROMBOEMBÓLICOS MAIOR RISCO DE EVENTOS TROMBOEMBÓLICOS: 3 Camila Carminate - MEDCEL PTU > 8,0 g/24 horas Albumina sérica < 2,5 g/dL Obesidade Insuficiência cardíaca Imobilidade Cirurgia abdominal ou ortopédica recente Risco familiar Evitar imobilização prolongada Antiagregantes plaquetários – AAS, clopidogrel Anticoagulação profilática – em especial em internações com paciente acamado Tratar a dislipidemia – estatinas, ezetimiba, fibratos MANEJO DA PROTEINÚRIA Geralmente doenças do espectro da síndrome nefrótica cursam com proteinúrias muito elevadas iECA/BRA (antiproteinúricos) – manter a maior dose tolerada Alvo de proteinúria < 130x80 mmHg Alguns autores recomendam PAs < 120 mmHg Controle de ingesta proteica e de sódio – 0,6 a 0,8g/kg/dia de ingesta proteica Tratamento da doença de base – imunossupressão em casos selecionados DOENÇAS ASSOCIADAS DOENÇA DE LESÕES MÍNIMAS Principal causa de síndrome nefrótica em crianças menores de 10 anos (90%) Causa de síndrome nefrótica em adultos (10 a 15%) Proteinúria maciça Ausência de hematúria SEM consumo de complemento Em geral, hipertensão ausente e função renal preservada RESPOSTA DRAMÁTICA A CORTICOIDES, em especial em crianças FATORES ASSOCIADOS A DLM Drogas AINHs Interferon Sais de ouro/ lítio Alérgenos Pólen/ pó/ imunizações Malignidades Doença de Hodgkin Micose fungoide LLC (incomum) FISIOPATOLOGIA Idiopática Fatores associados podem ser o gatilho para o início da doença Fusão dos processos podocitários Ausência de infiltrado celular – doença de caráter não proliferativo BIÓPSIA Microscopia óptica – glomérulo normal Microscopia eletrônica – fusão dos processos podocitários TRATAMENTO Crianças com síndrome nefrótica clássica – NÃO BIOPSIAR!! Iniciar tratamento para doença de lesões mínimas – avaliar resposta periodicamente Dieta hipossódica, diuréticos para o edema Corticoides – 1 a 2 mg/kg (máximo 80 mg/dia) Duração de 8 a 12 semanas Remissão completa (PTU <0,5g/24 horas) em 95% dos casos Associação de outro imunossupressor se não houver remissão: ciclosporina, tacrolimo micofenolato 4 Camila Carminate - MEDCEL rituximabe Necessidade de associação de outro IS – mal prognostico 1. Quais os diagnósticos sindrômico e etiológico mais prováveis? 2. Há necessidade de realização de biópsia renal? 3. Se você pudesse solicitor apenas um exame complementar, qual seria? 4. Qual o tratamento proposto? GLOMERULOESCLEROSE SEGMENTAR E FOCAL (GESF) 20 a 30% das biópsias renais no Brasil Faixa etária – 20 aos 40 anos Classificada como uma podocitopatia Proteinúria variável – menor proteinúria, melhor prognóstico renal Em geral sem hematúria (ocorre am 30%) SEM consumo de complemento 50% dos pacientes vão evoluir para DRCt em 5 a 10 anos GESF associada ao HIV – forma colapsante envolvido Primária – fatores imunológicos circulantes GESF familiar Secundárias – diversos fatores envolvidos Sobrecarga glomerular ao longo de anos 1. baixo peso ao nascer 2. agenesia renal unilateral 3. nefropatia de refluxo vesicoureteral 4. obesidade 5. anemia falciforme6. doenças virais crônicas – HIV 7. drogas – heroína, interferon, lítio, pamidronato BIÓPSIA Microscopia óptica – esclerose segmentar e focal; aumento da matriz extracelular IF – depósitos de imunocomplexos de IgM e C3, segmentar e focal TRATAMENTO Pacientes com PTU elevada (> 3 a 4 g/24 horas) Sintomáticos Risco elevado de complicações Otimizar PA-alvo < 130x80 mmHg (PAs < 120 mmHg) iECAs ou BRAs – dose máxima tolerada Tratamento das complicações – estatinas, dieta hipossódica, anticoagulação profilática Prednisona 1 mg/kg/dia por 12 a 16 semanas Desmame gradual em até 6 meses Pacientes corticodependentes ou corticorresistentes Associação de imunossupressão não corticoterápica Ciclosporina Ciclofosfamida Micofenolato Tacrolimo NEFROPATIA MEMBRANOSA 20 a 40% das causas de síndrome nefrótica em adultos (em especial acima de 40 anos) Rara em crianças Mais comum em homens Sempre procurar causas secundárias potencialmente associadas 1. tumores sólidos - mama, pulmão, cólon, estômago, esôfago, melanoma, próstata 2. associação com hepatite B 3. AINHs 4. sais de ouro/penicilamina 5. LES – nefrite lúpica classe 5 Causas primárias Anticorpo anti-receptor da fosfolipase A2 nos podócitos (anti- PLA2R) APRESENTAÇÃO CLÍNICA Sem hematúria SEM consumo de complemento Proteinúrias importantes – maior risco de complicações relacionadas à síndrome nefrótica Doença dos terços – sem imunossupressão: 1/3 dos pacientes vai evoluir com remissão espontânea 5 Camila Carminate - MEDCEL 1/3 dos pacientes vai evoluir com PTU e função renal estáveis 1/3 dos pacientes vai evoluir com DRC em estágio avançado BIÓPSIA Microscopia óptica – depósitos subepiteliais, com espessamento da membrana basal e padrão em espículas IF – depósitos subgranular de IgM ao longo da alça capilar glomerular TRATAMENTO Risco para progressão – sempre avaliar potencial para evolução desfavorável Afinal: quem deve receber imunossupressão? Paciente assintomático Proteinúria < 4 g/24h Função renal preservada anti-PLA2R < 50 UR/mL SEM imunossupressão PA inferior ou igual a 130x80 mmHg IECA ou BRA, na maior dose tolerada Monitorizar função renal e proteinúria a cada 3 meses Usar diuréticos conforme sintomas Paciente assintomático Proteinúria entre 4 a 8 g/24h Função renal preservada ou pouco alterada anti-PLA2R > 150 UR/mL Iniciar IECA ou BRA – PA inferior ou igual a 130x80 mmHg Observar entre 3 e 6 meses Sem remissão (declínio de > 50% na proteinúria ou nos títulos de anti-PLA2R) – iniciar droga imunossupressora Ciclofosfamida ou rituximabe, associada à prednisona por 6 meses Paciente sintomático Proteinúria entre >8 g/24h Função renal preservada ou pouco alterada anti-PLA2R > 150 UR/mL IECA ou BRA, mantendo PA inferior ou igual a 130x80 mmHg Iniciar imediatamente imunossupressores – ciclofosfamida ou rituximabe, associada à prednisona por 6 meses Regime imunossupressor alternativo pode incluir ciclosporina ou tacrolimo
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