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59 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Unidade II 5 AFECÇÕES INESTÉTICAS CORPORAIS Iniciaremos esta unidade discutindo sobre as afecções inestéticas corporais, ou seja, alterações que projetam uma imagem desagradável ao paciente e que o faz querer resolver esse problema buscando tratamentos específicos. 5.1 Fibroedemageloide Com certeza você já ouviu falar muito sobre essa condição, mas provavelmente a conhece por outro nome. O fibroedemageloide (FEG) também é chamado de celulite, entretanto, esse não é o termo mais adequado para descrever essa afecção, apesar desse erro existir há muitos anos e ainda gerar discussões. Celulite é uma palavra de origem latina, cellulite, que designa uma inflamação do tecido celular e há uma patologia que apresenta um quadro histológico condizente com o termo, que, geralmente, está associada a uma infecção bacteriana. Portanto, devemos ter cuidado ao usar esse termo quando falamos da alteração estética do relevo cutâneo. A denominação fibroedemageloide deve ser utilizada, pois retrata de forma mais abrangente os achados histopatológicos da afecção inestética. O FEG afeta os tecidos adiposo e cutâneo em diversos graus, ocorrendo alterações estruturais na derme, na microcirculação e nos adipócitos. Essas alterações são também histoquímicas, bioquímicas e ultraestruturais, além de morfológicas. Segundo Guirro (2002), FEG pode ser definido como uma desordem localizada que afeta o tecido dérmico e subcutâneo, apresentando alterações vasculares e lipodistrofia com resposta esclerosante, que resulta no inestético aspecto macroscópico. Além de ser esteticamente desagradável, o FEG também pode gerar problemas álgicos nas regiões acometidas e diminuição das atividades funcionais, acarretando as seguintes complicações: imobilidade dos membros inferiores, dores intensas e problemas emocionais. Histologicamente, o FEG não apresenta característica inflamatória, e, sim, uma infiltração edematosa do tecido conjuntivo, acarretando na polimerização da substância fundamental do tecido conjuntivo, retendo, assim, mais fluidos e aumentando a viscosidade. Além disso, ocorre uma menor capacidade de trocas capilares, interferindo na mobilização do excesso do tecido adiposo. Clinicamente, o FEG é caracterizado por um espessamento não inflamatório das capas subepidérmicas, que pode geram dor. Ele se manifesta em forma de nódulos ou placas de variada extensão e localização, que geram alterações circulatórias, apresentando, dessa forma, um edema, devido à maior taxa de concentração proteica no líquido intersticial e alterações microcirculatórias, 60 Unidade II devido à insuficiência dos esfíncteres pré-coletores. Por fim, os pacientes apresentam aumento das células adiposas, que não necessariamente estão ligadas à obesidade. Na figura a seguir, pode-se observar as diferenças de um tecido saudável para o tecido com FEG. Entre os aspectos clínicos do FEG, podemos destacar o aumento da espessura da pele, com maior consistência tecidual, maior sensibilidade à dor e pele com aspecto acolchoado, irregular com saliências e depressões, tipo “casca de laranja” ou “saco de noz”. Como sintomas, nossos pacientes podem apresentar parestesias, câimbras, sensação de peso, dor à palpação e diminuição da temperatura tecidual. Portanto, resumindo, o FEG é um tecido mal-oxigenado, subnutrido, desorganizado e sem elasticidade, resultante do mau funcionamento do sistema circulatório e das transformações do tecido conjuntivo. A formação da celulite Ponto de ancoragem A) B) Epiderme Derme Tecido conjuntivo Redução no tecido de conexão vertical Lóbulos de gordura Músculos Camada de gordura de reserva Fáscia superficial Células de gordura Cinco razões pelas quais a celulite se forma 1. Acumulação tóxica 2. Células de gordura aumentadas 3. Circulação pobre 4. Fibrose do tecido de conexão 5. Retenção de água Saudável Enfermo Figura 37 – Tecido saudável × tecido com FEG: a figura A apresenta um tecido saudável, e a B, um tecido com FEG, com a pele com aspecto de casca de laranja, devido ao aumento dos adipócitos, da circulação prejudicada, da perda de elasticidade das fibras colágeno e do estancamento de líquidos com alta taxa de proteínas Adaptada de: https://bit.ly/3rOfGLh. Acesso em: 7 dez. 2021. 61 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL 5.1.1 Fases do FEG As alterações que ocorrem no tecido podem ser divididas em quatro fases histológicas: • Primeira fase: caracteriza-se por hipertrofia das células adiposas. Ocorre a dificuldade em drenar o líquido intersticial, gerando, assim, uma inundação no tecido. É uma fase congestiva simples, que pode ser temporária. A persistência dessa congestão implica na compressão dos vasos, que não conseguem desempenhar seu papel e precisam dilatar frente a obstáculos, dessa forma, aumentando a permeabilidade e o escape de líquido. • Segunda fase: ocorre proliferação das fibras colágenas e o tecido passa a apresentar uma consistência gelatinosa que vai se tornando cada vez mais densa. • Terceira fase: formação de tecido fibroso, devido ao aumento da densidade do tecido conjuntivo. Esse tecido passa, então, a envolver e comprimir todos os elementos de tecido conjuntivo, artérias, veias e nervos; o FEG se torna irreversível. • Quarta fase: o processo é contínuo e ocorre o espessamento do tecido conjuntivo, ele endurece com o tempo e se torna esclerosado. Caracterizado por um tecido muito firme e duro, sendo que esse endurecimento tecidual produz uma irritação contínua nas terminações nervosas, gerando dores a palpação, pressão ou mesmo sem motivo externo. Existem alguns fatores que podem predispor o FEG e que, quando somados, podem gerar uma maior probabilidade para instalação dessa afecção. Entre eles estão os fatores genéticos, a idade, o gênero e os desequilíbrios hormonais. Além desses, existem alguns fatores determinantes, ou seja, que quando apresentados, tornam-se alvo de fácil acesso para o FEG, como estresse, tabagismo, sedentarismo, desequilíbrios glandulares, diabetes, maus hábitos alimentares e disfunções hepáticas. 5.1.2 Avaliação do FEG Inicialmente, devemos realizar uma inspeção da pele em posição ortostática a fim de verificar a coloração, o tônus da musculatura e se há presença de varizes, equimoses e estrias. Então passamos para a palpação do tecido, verificando se o paciente tem ou não dor. Nessa etapa, podemos realizar dois testes, o da casca de laranja e o da preensão. No teste da casca de laranja, deve-se pressionar o tecido adiposo entre o polegar e o indicador ou entre as palmas das mãos e observar se o local pressionado apresenta uma pele com aparência rugosa ou casca de laranja, que indica a presença de FEG. Já no teste da preensão, como demonstrado na figura a seguir, deve-se realizar a preensão entre os dedos da pele e da tela subcutânea, seguida da tração dos tecidos. Se o paciente, nesse caso, apresentar sensação de dor e incômodo, é caracterizado um FEG com alteração de sensibilidade. 62 Unidade II Figura 38 – Teste de preensão Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 360). Seguindo na palpação tecidual, deve-se realizar um rolar dos dedos nos tecidos que apresentam FEG e perceber se há a presença de nódulos duros, que caracterizam o infiltrado tecidual. Por último, deve-se localizar a região que apresenta FEG. Normalmente, essa afecção está localizada na porção superior das coxas, porção interna dos joelhos, glúteos, abdome e porção superior dos braços. 5.1.3 Classificação do FEG O FEG pode ser classificado em três diferentes graus de acordo com o aspecto clínico: • Grau I: FEG brando, que só é percebido pela compressão do tecido, não ocorrendo alteração sensorial. • Grau II: FEG moderado, ocorrem depressões visíveis mesmo sem a compressão dos tecidos e pode haver alterações de sensibilidade. • Grau III: FEG grave, que pode ser observado em qualquer posição (ortostática ou decúbito). A pele apresenta uma característica flácida eenrugada, com relevos e nódulos. Nessa fase, as fibras do tecido conjuntivo estão danificadas e o paciente apresenta uma maior sensibilidade à dor. Além da classificação de acordo com o aspecto clínico, o FEG pode ser classificado de acordo com suas formas clínicas, ou seja, o aspecto aparente e as manifestações visíveis: • FEG consistente (duro): apresenta grande espessamento da pele com zonas atingidas com uma conformação regular e uniforme, não havendo grandes deformações. Apresenta um acolchoamento sem mobilidade e, muitas vezes, varicosidades, equimoses e extremidades frias. Encontrado em obesos e pessoas com sobrepeso que nunca emagreceram, mas também em indivíduos com baixo peso e praticantes de atividade física. Também podem ser encontradas estrias na mesma região. 63 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL • FEG brando ou difuso (flácido): é a forma mais importante. Pode apresentar-se em grandes ou pequenas proporções em pacientes com hipotonia muscular. As regiões atingidas manifestam uma total deformidade, com dificuldade em encontrar contornos na área afetada. Com o movimento, nota-se oscilação dos tecidos superficiais, sendo comum a presença de varicosidades e sensação de peso nos membros acometidos. Normalmente estão associados a déficits circulatórios e edemas e presentes em indivíduos que tiveram grande perda de peso sem realizar atividade física ou sedentários que apresentam pouca massa muscular. • FEG edematoso: apresenta um aspecto de edema tecidual puro e simples, sendo exclusivo de membros inferiores. Tem consistência variável, às vezes muito firme e, em outras vezes, flácida. Pode ser encontrado em pessoas de qualquer faixa etária e qualquer peso, tendo como característica a pele do tipo “casca de laranja”. • FEG misto: quando o paciente apresenta, por exemplo, tipo firme nas coxas associado ao tipo flácido no abdome; é frequente encontrar formas mistas. 5.2 Obesidade e sobrepeso A obesidade é definida como um aumento exagerado e generalizado da gordura corporal, que ocorre devido ao balanço energético positivo, ou seja, a ingestão calórica supera o gasto. É considerada uma alta porcentagem de gordura acima de 25% para homens e 32% para mulheres. Vários fatores podem levar à obesidade, e um sistema de vida inadequado está entre eles, bem como sedentarismo, alimentação insatisfatória, hábitos familiares inadequados, excesso de carboidrato na dieta, velocidade na refeição, lanches desequilibrados e consumo de guloseimas e doces em excesso. Mais do que um problema estético, a obesidade pode trazer muitas outras patologias, como diabetes, arteriosclerose, distúrbios cardiovasculares, entre outros. Antigamente, acreditava-se que a causa da obesidade estava exclusivamente ligada ao excesso de alimentação. Contudo, se realmente fosse só essa a causa, facilmente seria eliminada com uma dieta alimentar. Atualmente, a obesidade é considerada uma etiologia multifatorial, na qual, além do não balanceamento energético, existem outros fatores associados, os fatores metabólicos, como o hipotireoidismo, os fatores genéticos e os fatores emocionais, como situações de estresse ou depressão, além da inatividade física, considerada um fator mais grave que a superalimentação e que está associada à obesidade infantil. 5.2.1 Tipos de obesidade A obesidade pode ser classificada como exógena ou nutricional, que normalmente está relacionada com a alta ingestão de alimentos e o pequeno gasto energético, ocorrendo em 95% dos casos, ou endógena, que está relacionada a causas hormonais e algumas síndromes genéticas. 64 Unidade II A obesidade ainda pode ser classificada de acordo com a mudança do tecido adiposo, podendo ser hiperplásica ou hipertrófica. Na obesidade do tipo hipertrófica, ocorre a hipertrofia do tecido adiposo, ou seja, os adipócitos aumentam de tamanho, sendo mais comum ocorrer em adultos. Já na obesidade hiperplásica, ocorre o aumento no número de células adiposas e está mais associada à obesidade infantil ou à que ocorre na adolescência, pois os adipócitos aumentam da 30ª semana gestacional até o primeiro ano de vida e depois esse aumento se repete na puberdade. Portanto, quando um indivíduo obeso passa por uma redução ponderal, os adipócitos apenas diminuem de tamanho, como demonstrado na figura a seguir. 149 kg 0,9 µg/célula 75 bilhões 103 kg 0,6 µg/célula 75 bilhões 75 kg 0,2 µg/célula 75 bilhões Figura 39 – Mudança dos adipócitos (representados pelas bolas pretas) na redução de peso corporal Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 310). 5.3 Adiposidade localizada A adiposidade localizada é a deposição de gordura em locais específicos do corpo, dando origem ao aumento na espessura e consistência do tecido adiposo. Isso ocorre devido a alguns fatores, como gênero, hormônios e genética. Nas mulheres, por exemplo, a gordura tende a se acumular nas regiões de coxas, glúteos e quadris. Já nos homens, na região abdominal. Existem dois tipos de obesidade caracterizados pelo acúmulo de gordura em regiões localizadas. O primeiro tipo é a obesidade central ou androide, na qual o acúmulo de gordura ocorre mais na região 65 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL abdominal, e por isso é considerada de maior risco para doenças cardiovasculares. Já o segundo tipo é chamado obesidade periférica ou ginoide, na qual a deposição de gorduras se dá mais na região de glúteos, quadris e coxas, não gerando, portanto, tantos riscos em promover as doenças cardiovasculares. 5.4 Métodos de avaliação da composição corporal Existem vários métodos para avaliar a composição corporal, como relação peso-altura, medição das pregas cutâneas, pesagem subaquática, bioimpedância e absortimetria de raios x em duas energias (DEXA). A relação peso-altura é calculada através do índice de massa corpórea (IMC), no qual é realizada uma relação entre peso dividido pela altura ao quadrado. Apesar de ser um método de fácil aplicação, é o menos utilizado, pois não diferencia gordura de músculo, então não temos como identificar se o indivíduo apresenta uma grande quantidade de massa muscular ou se simplesmente é obeso. Os resultados do IMC podem ser observados na tabela a seguir. Tabela 1 – IMC IMC Classificação <18,5 Baixo peso 18,5-24,9 Peso normal 25-29,9 Sobrepeso 30-34,9 Obesidade 35-39,9 Obesidade severa ≥40 Obesidade mórbida A avaliação das dobras ou pregas cutâneas é um método bastante utilizado para determinar a composição corporal. São mensuradas dobras de gordura específicas do corpo e esses valores são relacionados com idade, peso e altura para determinar o percentual de gordura. As medidas devem sempre ser realizadas no hemicorpo direito, com o paciente em pé. Deve-se, então, pinçar a dobra de pele e gordura com o indicador e o polegar, destacando-a do tecido muscular e posicionar o adipômetro, esperando cerca de 2 a 3 segundos para realização da leitura, que será feita em milímetros. Para maior confiabilidade dos dados, devem ser realizadas três medidas em cada dobra e realizada a média. Normalmente, as dobras utilizadas são: tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca, abdominal, coxa, panturrilha e peitoral. As figuras a seguir demonstram a mensuração de algumas pregas cutâneas com o adipômetro. 66 Unidade II A) B) Figura 40 – Mensuração das dobras cutâneas: A) tricipital; B) subescapular Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 316). A) B) Figura 41 – Mensuração das dobras cutâneas: A) suprailíaca; B) abdominal Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 316). Figura 42 – Mensuração da dobra cutânea da coxa Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 317). 67 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL A perimetria também é apropriada, pois prediz o percentual de gordura e determina os padrões de distribuição da gordura. Para a mensuração é utilizada a fita métrica sobre a pele, tendo como pontos de referência: • pescoço: logo abaixo da proeminência laríngea; • ombros: na saliência dos músculos deltoide, abaixo do acrômio,após a expiração; • peito: na quarta articulação esternocostal; • cintura: ponto médio entre a margem da costela inferior e crista ilíaca, ponto mais estreito do tronco; • abdome: 2,5 cm acima do umbigo, após expiração; • quadril: linha dos trocânteres maiores; • coxa proximal: abaixo da prega glútea; • coxa medial: ponto médio; • coxa distal: próximo aos epicôndilos femorais; • joelho: nível médio da patela; • panturrilha: maior protrusão muscular; • tornozelo: sobre os maléolos; • braço: ponto médio entre o ombro e o cotovelo; • antebraço: circunferência máxima da porção proximal; • punho: sobre os processos estiloides do rádio e da ulna. Outra técnica de avaliação é a pesagem subaquática, na qual é realizada uma estimativa da densidade corporal total, analisando o peso corporal medido no ar com o peso durante a submersão na água. Para a mensuração, o indivíduo deve realizar uma expiração forçada e bloqueá-la de 5 a 10 segundos, quando será realizada a medida. O procedimento é repetido de 8 a 12 vezes e o valor médio é utilizado. Mulheres devem realizar a medição sempre no mesmo período do ciclo menstrual para minimizar erros de medida. A bioimpedância elétrica também é um método bastante utilizado para avaliar a composição corporal, por ser rápido, não invasivo e relativamente barato. A técnica é aplicada através de um aparelho com 68 Unidade II intensidade de corrente de 500 a 800 microamperes e frequência de 50 Hz, que quantifica a resistência do tecido, sendo que os tecidos com maior resistência são os que não apresentam gordura. Além disso, também é mensurada a quantidade de água corporal. São utilizados quatro eletrodos do lado direito do corpo, sendo dois no dorso da mão e dois no dorso dos pés; para tal, o paciente deve estar relaxado e deitado em decúbito dorsal. A fim de que os resultados sejam mais fidedignos, as mensurações devem ser padronizadas, controlando temperatura ambiente, nível de hidratação, ciclo menstrual, período de repouso, jejum alimentar, presença de metais no corpo, atividade física e ingestão de bebidas alcóolicas. Por último, um recurso que ainda é pouco utilizado devido ao alto custo é o DEXA (absortimetria de raios x em duas energias), sendo este considerado o mais preciso e padrão ouro para avaliação da composição corporal. O DEXA é uma técnica amplamente utilizada para mensuração de massa e densidade mineral óssea, pois é o mesmo aparelho com que se realiza a densitometria óssea, mas por ser um método caro e que expõe o indivíduo à radiação, acaba sendo mais utilizado em pesquisas. 5.5 Recursos terapêuticos O tratamento da obesidade é realizado basicamente com dieta, exercício físico e terapia medicamentosa. Já para o tratamento da adiposidade localizada e do FEG, além de dieta e atividade física, existem alguns recursos terapêuticos que podem ser utilizados, os quais serão discutidos a seguir. 5.5.1 Massagem As massagens para o tratamento das afecções inestéticas, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não devem ser vigorosas ou fortes, pois não podemos encarar que os nódulos do FEG devem ser desfeitos sob pressão. A massagem vigorosa pode romper trabéculas conjuntivas que já estão frágeis e criar espaços que acumularão líquido intersticial. As lesões produzidas pela pressão também geram equimoses, devido à ruptura de vênulas e arteríolas da hipoderme, gerando assim um quadro doloroso. Além disso, as massagens não devem ser utilizadas como forma isolada de tratamento, sendo mais eficazes quando utilizadas em conjunto com outras técnicas. Como técnicas de massagem, podemos utilizar a drenagem linfática manual, devido ao quadro de estase sanguínea e linfática presente no FEG, a massagem modeladora e a massagem clássica. Todas as massagens serão realizadas com objetivo de proporcionar analgesia, incrementar a circulação sanguínea, promover relaxamento muscular, auxiliar na penetração de produtos, diminuir a resistência da pele às correntes e aumentar a maleabilidade tecidual. 5.5.2 Corrente diadinâmica Podem ser utilizadas as correntes difásicas (DF), monofásica (MF), curto período (CP) e ritmo sincopado (RS) para o tratamento das afecções inestéticas, sendo que cada uma possui objetivos diferentes. 69 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL A DF é utilizada para analgesia, pois eleva o limiar de excitabilidade das fibras nervosas sensitivas. Além disso, proporciona melhora circulatória. Nessa corrente, selecionamos uma frequência de 100 Hz com largura de pulso de 10 ms, utilizando pulsos alternados com retificação completa da onda. A CP proporciona aumento da circulação local ou segmentar, utilizando correntes difásicas e monofásicas alternadas a cada um segundo. Já na MF, utilizamos uma frequência de 50 Hz e largura de pulso de 10 ms, com retificação em semionda, o que proporciona um estímulo ao metabolismo do tecido conjuntivo. Por último, a RS é uma corrente monofásica com trens de pulso de 1 segundo intercalado com período de repouso do mesmo tempo, portanto, produz contrações rítmicas das fibras musculares, podendo ser utilizadas com o exercício. Uma desvantagem dessa corrente é que ela é bastante desagradável. 5.5.3 Correntes excitomotoras São utilizadas através da estimulação elétrica neuromuscular (EENM) com o objetivo de facilitar a contração muscular, reeducar a ação muscular, aumentar potência muscular, aumentar a irrigação sanguínea e aumentar o retorno linfático e venoso. Opta-se nesse tipo de corrente por frequências entre 10-50 Hz, com largura de pulso entre 250-300 ms e a proporção de tempo de contração para relaxamento de 1:3. Em muitos casos, na obesidade, uma grande camada de gordura pode isolar o ponto motor que deve ser atingido pelo eletrodo de superfície, o que resultará em um alto limiar à estimulação, necessitando de uma alta intensidade para conseguir a contração da musculatura. 5.5.4 Endermologia A endermologia é uma técnica baseada na aspiração (sucção) e na mobilização tecidual, na qual o aparelho produz uma mobilização profunda da pele, permitindo, assim, uma maior circulação sanguínea. O vácuo produz uma pressão negativa no tecido e devido a isso não melhora a circulação linfática, mas produz uma melhor maleabilidade tecidual. As manobras devem sempre ser executadas no sentido das fibras musculares e linhas de tensão para evitar flacidez. O aparelho para aplicação da endermologia está demonstrado na figura a seguir. 70 Unidade II Figura 43 – Aparelho de endermologia da Ibramed Adaptada de: https://bityli.com/BqfXzs. Acesso em: 13 dez. 2021. 5.5.5 Ultrassom O uso do ultrassom (US) no tratamento das afecções inestéticas corporais está associado aos seus efeitos fisiológicos e a sua capacidade de penetrar substâncias através da pele (fonoforese). Entre esses efeitos podemos destacar: • Efeitos mecânicos: produz uma micromassagem tecidual, aumentando o metabolismo celular, o fluxo sanguíneo e o suprimento de oxigênio. • Efeitos térmicos: produz vasodilatação, aumento da permeabilidade da membrana, aumento na reabsorção tecidual e aumento na extensibilidade do colágeno. • Efeitos químicos: aumento da permeabilidade das membranas celulares. • Efeitos cavitários: ocorre a formação de bolhas ou cavidades no meio líquido, decorrentes de ondas estacionárias, produzindo microbolhas de vácuo que vão se tornando maiores e implodem. Essas microbolhas possuem elevado nível de energia se chocando entre os adipócitos, que possuem membranas muito finas, as quais não resistem a esses choques, rompendo-se. • Efeito fonoforese: princípios ativos comumente utilizados são hyalozima, cafeína, ginkgo biloba, entre outros. 71 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL O tempo de aplicação e a intensidade do US devem sempre ser mensurados. Como regra geral, em áreas de até 10 cm² é realizado por cerca de 2 minutos. No FEG utilizamos frequência de 3 MHz e intensidade de até 2 W/cm². 5.5.6 Radiofrequência A radiofrequência é caracterizadapela utilização de ondas de rádio de alta frequência nos tecidos, gerando calor, sendo a onda eletromagnética que gera calor por conversão compreendida entre 30 KHz e 300 MHz, mas com frequência mais utilizada entre 0,5 MHz e 1,5 MHz. A partir do calor profundo no local, cria-se retração, remodelação e produção de novo colágeno na pele. Portanto, produz uma melhora do aspecto da pele de maneira progressiva, sendo muito utilizada para flacidez e FEG. Tem como vantagens ser um procedimento não agressivo, não invasivo e sem efeitos colaterais. Na figura a seguir, pode-se observar uma aplicação de radiofrequência na região do abdome. Figura 44 – Aplicação de radiofrequência 5.5.7 Carboxiterapia A carboxiterapia é utilizada com o objetivo de melhorar a circulação sanguínea e promover uma regeneração tecidual. A técnica é realizada através da infusão de gás carbônico (CO2) medicinal. Utilizando um aparelho acoplado a um cilindro de CO2, o terapeuta regula a vazão do gás (até 80 mL/min) para uma agulha de calibre mínimo, que é inserida entre a pele e a gordura. O CO2 atua dilatando vasos sanguíneos, estimulando a formação de novos vasos e promovendo uma melhor irrigação tecidual e maior oxigenação na área tratada. Além disso, o CO2 também rompe fibroses no tecido subcutâneo, favorecendo a formação de colágeno e elastina. 72 Unidade II A carboxiterapia é considerada uma técnica dolorida devido à distensão que gera nos tecidos e é contraindicada em pacientes com doenças pulmonares com retenção de CO2, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), e em pacientes que apresentem infecção ativa na região de aplicação. 5.5.8 Criolipólise A criolipólise é o método não invasivo mais atual que vem sendo amplamente utilizado para o tratamento de adiposidade localizada, pois reduz significativamente a adiposidade subcutânea, sem prejuízo para os tecidos adjacentes. É um procedimento aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) que provoca a morte celular por apoptose do adipócito. Ela utiliza baixas temperaturas para acabar com a gordura localizada. O aparelho é colocado na superfície da pele, como pode ser observado na figura a seguir, fazendo as células de gordura serem congeladas a temperaturas negativas para serem destruídas. A ponteira do aparelho realiza um poderoso vácuo que promove a sucção da pele e da porção de gordura localizada, então, o resfriamento intenso e controlado destrói as células de gordura, danificando seletivamente as células adiposas, que são mais sensíveis ao frio, sem causar qualquer dano a nervos, músculos e outras estruturas próximas. Então as células de gordura se rompem totalmente e, em consequência, o corpo entende que elas não fazem mais parte do organismo e as expele naturalmente. Os cabeçotes e o aparelho de criolipólise estão demonstrados na figura 46. Figura 45 – Aplicação de criolipólise 73 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Figura 46 – Aparelho de criolipólise da Medical San Adaptada de: https://bityli.com/Ndq6qZ. Acesso em: 13 dez. 2021. 5.6 Estrias As estrias são cicatrizes que se formam quando há destruição de fibras elásticas e colágenas na pele, normalmente causadas por um estiramento da pele. As linhas são formadas devido à diminuição da espessura de derme e epiderme, ocorrendo modificações nas fibras colágenas, na substância fundamental amorfa e nos fibroblastos. Inicialmente, elas podem coçar, arder, apresentar prurido e até dor, mas com o passar do tempo se tornam assintomáticas. São classificadas como uma atrofia tegumentar adquirida com aspecto linear de 1 milímetro ou mais de largura, que se apresentam perpendiculares às linhas de fenda. É considerada uma patologia de etiologia multifatorial, influenciada por fatores endocrinológicos e predisposição genética e familiar. Normalmente, elas se formam quando ocorre o estiramento da pele, em casos como gravidez, aumento exagerado de peso, colocação de prótese mamária, fase de crescimento e uso de anabolizantes dispõem o aparecimento das estrias. Além disso, outros fatores, como os hormonais, com uso de estrógeno e hormônios adrenocorticais, e o uso prolongado de tratamentos com corticoides também predispõem o aparecimento. 74 Unidade II Os locais mais comuns para o aparecimento de estrias são coxas, glúteos, abdome, seios e região lombossacral. Como sintomas iniciais ao seu surgimento podemos destacar o aparecimento de um sinal inflamatório local, portanto, prurido, dor, calor e discreta coceira. As estrias podem ser classificadas de duas maneiras: de acordo com o tempo de existência e quanto à posição. A classificação quanto ao tempo de existência é a mais utilizada, subdividindo as estrias em recentes ou vermelhas e antigas ou brancas. As estrias vermelhas são mais novas, apresentando uma coloração rósea ou púrpura, e devido ao pouco tempo de aparecimento conseguem ser tratadas ou amenizadas com a utilização de cremes. A coloração dessas estrias é caracterizada pela irrigação sanguínea ainda presente. Após essa fase, as estrias são classificadas como antigas ou albas, quando já se tornaram cicatrizes, não sendo mais irrigadas por sangue, e por isso apresentam essa coloração esbranquiçada. Nessa fase, as estrias precisam de tratamentos mais específicos com algumas intervenções que discutiremos mais adiante. A outra classificação das estrias se dá quanto ao posicionamento, podendo ser horizontais ou verticais. As estrias horizontais são as do crescimento, que aparecem sobretudo na região peitoral e quadril. Já as verticais surgem devido ao esticar exagerado da pele. Aparecem muito durante a gestação, quando engordamos rapidamente ou quando ocorrem muitas alterações hormonais. 5.6.1 Teorias da etiologia A etiologia das estrias já é considerada multifatorial, mas ainda é bastante controversa, existindo, portanto, três teorias para justificá-la: teoria mecânica, teoria endocrinológica e teoria infecciosa. A teoria mecânica tem sido a mais aceita e acredita-se que a deposição excessiva de gordura no tecido adiposo, principalmente quando ocorre rapidamente, gere danos às fibras elásticas e colágenas da pele, e com isso surgem as estrias. As estrias também são consideradas sequelas de períodos rápidos de crescimento e estiramento da pele, com consequente ruptura ou perda de fibras elásticas dérmicas, que é tido como fator básico para o seu aparecimento. A teoria endocrinológica demonstra que a teoria mecânica é muito simplista, e que além do estiramento da pele, há uma relação causal hormonal entre esteroides tópicos ou sistêmicos. Nessa teoria, a etiologia parece estar muito associada às alterações hormonais, especificamente com hormônios corticoides. Por último, a teoria infecciosa sugere que processos infecciosos geram danos às fibras elásticas, provocando estrias. 5.6.2 Recursos terapêuticos Ainda é um desafio tratar estrias, principalmente as albas, sendo que nenhum recurso terapêutico nesse período é totalmente eficaz, devido à não regeneração das fibras elásticas. Por isso, quanto mais cedo o paciente procura o tratamento, melhores os resultados. 75 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Atualmente, muitos estudos estão sendo desenvolvidos utilizando a eletroterapia, que parece ser um dos recursos mais promissores, pois aumenta significativamente o número de fibroblastos jovens e promove uma neovascularização, melhorando o aspecto da pele e deixando ela mais próxima do que era antes. Como recursos mais utilizados e com resultados mais expressivos podemos destacar a radiofrequência fracionada, o peeling de cristal, o eletrolifting, o laser fracionado de CO2 e o laser fracionado não ablativo, além da utilização de cremes. Discutiremos a seguir cada um desses recursos. Iniciamos pela radiofrequência fracionada, que pode ser utilizada tantos nas estrias vermelhas quanto nas albas. Na estria vermelha, ela provoca um fechamento dos vasos sanguíneos de pequeno tamanho e estimula a produção de colágenona área, dando aspecto mais natural à pele e diminuindo o tamanho das estrias. Já na estria alba, ela também atua na formação de colágeno, mas agora aproximando as bordas da estria e preenchendo-as, sendo que a energia e o calor conseguem penetrar na pele de forma profunda e homogênea, promovendo uma renovação da derme. No peeling de cristal, a pele será esfoliada através dos cristais de óxido de alumínio com o intuito de eliminar a camada superficial da pele, de forma suave, gerando uma regeneração das células da região. O eletrolifting é o mesmo utilizado nas afecções inestéticas faciais. Também chamado de Striat (figura a seguir), que utiliza uma corrente galvânica contínua de baixa frequência, duração e intensidade que atuam no nível celular para restaurar a camada colágena e estimular a produção de elastina. São utilizados dois eletrodos, um passivo tipo placa e um ativo tipo agulha, para aplicação do método invasivo, mas superficial. O estímulo da agulha desencadeará um processo de reparação tecidual e uma inflamação aguda local, portanto, após a aplicação, a área apresentará uma hiperemia e o tecido reagirá a essa inflamação controlada. Lembrando que essa é uma técnica contraindicada para pacientes que apresentam queloide. Na figura 48 podemos observar o aspecto da pele antes e logo após a utilização do Striat, sendo notável a hiperemia e o edema locais. Figura 47 – Aparelho Striat Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 405). 76 Unidade II A) B) Figura 48 – Antes e após aplicação do Striat: A) aspecto antes; B) aspecto após a aplicação com edema e hiperemia Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 406). Para aplicação do eletrolifting, a pele deve estar higienizada, esfoliada e tonificada, podendo ser utilizado anestésico após esses procedimentos. Então é colocado o dispositivo para fechar a corrente entre os polos e aplicado álcool 70% na região do tratamento. No caso das estrias, elas deverão ser estimuladas individualmente até que seja obtida a hiperemia, podendo a caneta ser deslizada sobre a estria, ou realizando a técnica de escarificação. A caneta com agulha, nesse caso, é o eletrodo ativo. A intensidade da corrente deve ser baixa, variando de 180 a 200 microamperes, no máximo. Outra técnica de tratamento que vem sendo bastante estudada e ganhando mercado são os lasers. O de baixa intensidade pode ser utilizado em processos cicatriciais, incluindo pós-cirúrgico e feridas, como úlceras de pressão. No caso das estrias, o laser fracionado de CO2 e o laser fracionado não ablativo, mas em ambos o terapeuta necessita de bastante conhecimento sobre o aparelho e atenção durante a aplicação. O laser fracionado de CO2 provoca uma queimadura controlada da pele que irá gerar um processo de cicatrização e consequentemente a produção de novo colágeno. O alvo desse tipo de laser é a água, e o feixe de luz é atraído por suas moléculas. Ele é do tipo fracionado, pois um feixe de luz é dividido em microrraios que atingem a pele em pequenas regiões, provocando, assim, pequenas lesões controladas. Além do tratamento de estrias, essa técnica também é indicada para cicatrizes e rejuvenescimento da pele. Já o laser fracionado não ablativo é uma técnica menos dolorosa que a anterior e provoca menos manchas na pele, pois promove uma cicatrização mais rápida. Os raios atravessam a epiderme sem machucá-la e chegam à derme, onde atuam na estimulação da produção de colágeno. Talvez o tratamento mais utilizado para estrias sejam os cremes à base de ácidos que promovem a renovação da pele, estimulando a produção de novo colágeno. Entretanto, esse é um tratamento mais eficaz quando utilizado em estrias vermelhas, e mesmo nesses casos os resultados são demorados e podem ser percebidos apenas após um ano de uso. É um tratamento que pode ser associado a outros recursos terapêuticos. 77 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Lembrete Para aplicação do eletrolifting a pele deve estar higienizada, esfoliada e tonificada, podendo ser utilizado um anestésico após esses procedimentos. 6 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO CUTÂNEA A cicatrização é um processo que se dá fundamentalmente no tecido conjuntivo, sendo que a cicatriz nada mais é do que a substituição do tecido lesado por tecido conjuntivo, chamado tecido cicatricial. Mas essa formação não ocorre rapidamente e esse tecido passa por três fases antes de estar totalmente formado, que são as chamadas fases de cicatrização: fase inflamatória, fase proliferativa e fase de maturação. A fase inflamatória é a fase inicial do processo, sendo fundamental e com duração de cerca de 72 horas, em média. Ela se inicia imediatamente após o surgimento da ferida e é totalmente dependente da atividade plaquetária, da cascata de coagulação e da liberação de substâncias vasoativas, fatores de crescimento e proteases. Esse período é chamado de fase inflamatória devido ao surgimento de uma reação inflamatória local com a presença de macrófagos, linfócitos, neutrófilos, mastócitos, plaquetas, entre outros. Portanto, após a ruptura do tecido, inicia-se um processo de vasoconstrição local para estancar o sangue, fluindo plaquetas para a ferida para auxiliar na hemostasia. Então, após o estancamento do sangue, ocorre uma vasodilatação local, com aumento do fluxo sanguíneo no local da lesão, promovendo rubor e aumento da temperatura local, caracterizando, assim, uma inflamação. Após 2 ou 3 dias da ferida, inicia-se a fase proliferativa, que pode durar de 3 a 24 dias, dependendo da lesão. Nesse momento ocorre a formação do tecido de granulação, os miofibroblastos, juntamente aos fibroblastos, que agem promovendo a contração da ferida. Então as células epiteliais nas margens da ferida se proliferam e migram para a superfície, repondo a perda celular e formando as camadas de epiderme. Também pode-se subdividir as etapas da fase proliferativa em três, sendo elas: • Reepitelização: quando ocorre a migração dos queratinócitos das margens da ferida. • Fibroplasia: quando há a formação da matriz, que é uma coleção de elementos celulares como fibroblastos, fibronectina, colágeno, entre outros. Essa matriz é a base para a formação do tecido de granulação. • Angiogênese: aumento circulatório local que se dá pela formação de novos vasos sanguíneos, ou seja, a neoangiogênese. Então ocorre a fase de maturação, iniciando com a diminuição da vascularização local. Nessa fase ocorrem dois importantes processos de forma simultânea, a síntese de tecido, realizada pelos fibroblastos, e a lise do colágeno, coordenada pela colagenase. Portanto, nessa fase, o tecido é remodelado, diminuindo 78 Unidade II a quantidade de fibroblastos e orientando as fibras colágenas para aumentar a força tênsil do tecido. Além disso, ocorre a mudança de coloração do tecido de granulação, de avermelhado para branco pálido, pois a cicatriz passa a ser um tecido avascular. Na figura a seguir, pode-se acompanhar as três fases do processo cicatricial. A coagulação ocorre por causa de proteínas de coagulação e proteínas plasmáticas, e uma crosta é formada As células epiteliais se multiplicam e preenchem sobre o tecido de granulação O epitélio restaurado engrossa; a área amadurece e contrai Epiderme A) B) C) Fibroblasto Derme Macrófago Artéria Produtos químicos inflamatórios são liberados a partir de lesões Enquanto as células sanguíneas infiltram-se na área lesada O tecido de granulação restaura o suprimento vascular Área subjacente do tecido cicatricial Figura 49 – Fases do processo cicatricial: A) fase inflamatória; B) fase proliferativa; C) fase de maturação Adaptada de: https://bit.ly/3y589Zu. Acesso em: 7 dez. 2021. O processo de cicatrização também é classificado segundo o tipo e a quantidade de tecido formados, que estão relacionados com a quantidade de tecido lesado ou danificado e se houve ou não a presença de infecção, sendo, portanto, classificado como primeira, segunda ou terceira intenção. A cicatrização do tipo primeiraintenção ou primária ocorre quando não há presença de infecção, e as bordas da ferida estão próximas ou foram aproximadas para ocorrer a cicatrização, havendo no máximo uma mínima perda tecidual com edema muito pequeno. Portanto, ocorre a união imediata das bordas feridas com uma evolução asséptica de uma cicatriz linear, e a formação de tecido de granulação é imperceptível. São cicatrizes que evoluem entre 4 a 10 dias. Podemos citar como exemplo de cicatrização do tipo primeira intenção as cicatrizes cirúrgicas realizadas nas linhas de fenda. Na cicatrização de segunda intenção, pode ou não ter infecção, mas as bordas da ferida nunca podem ser aproximadas e não contatam entre si, devido à perda tecidual excessiva. Portanto, elas ficam abertas para que ocorra a contração e a epitelização, sendo que o espaço será preenchido por tecido de granulação, podendo isso durar de dias a meses. Essa formação de O tecido de granulação é extremamente importante, pois é um tecido resistente a infecção que terá um epitélio migrado para a superfície, promovendo suprimento aos fibroblastos que produzirão colágeno. 79 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Por último, na cicatrização do tipo terceira intenção sempre haverá presença de infecção na ferida e, por isso, essa ferida deve ser mantida aberta, para somente depois do tratamento adequado da infecção ser realizada a aproximação das margens da ferida. É um processo que envolve limpeza, desbridamento da ferida e só depois a formação de tecido de granulação saudável para posterior coaptação das bordas da lesão. Exemplos desse tipo de cicatrização são as úlceras de pressão. 6.1 Distúrbios cicatriciais Existem alguns fatores sistêmicos que influenciam na formação cicatricial, como: o uso de corticosteroides, radioterapia, quimioterapia, idade, diabetes melito descompensada, neuropatias, hipoproteinemia, hepatopatia com deficiência de fatores de coagulação, choque hipovolêmico, presença de toxinas bacterianas e uso de anti-inflamatórios não esteroidais. Além desses, alguns fatores externos também podem interferir no processo cicatricial, como a presença de infecção, corpos estranhos, tecidos necrosados ou isquêmicos, seroma, tensão grande na área e movimentação do local. Como vimos anteriormente, a cicatriz final é secundária ao processo de reparação, que é variável e muitas vezes imprevisível, e em alguns casos, a cicatriz pode apresentar-se normotrófica, atrófica, hipertrófica ou queloide. As cicatrizes normotróficas são o sonho da cicatrização, pois a pele ganha aspecto e consistência bem parecidos com o da pele antes do ferimento, sendo comuns após ferimentos mais simples, que não agridam tanto, ou cicatrizes cirúrgicas. As cicatrizes atróficas são mais comuns e independem de fatores genéticos. Elas normalmente aparecem por conta da perda de estruturas que dão apoio e firmeza à pele, como músculo e gordura, e deixam uma espécie de buraco (relevo) na pele. Muito comum em casos de acne, cirurgias mais extensas e acidentes. Já as cicatrizes hipertróficas acontecem quando nosso corpo produz colágeno em quantidades anormais e de forma desorganizada, fazendo com que a cicatriz fique com uma textura mais elevada em relação à pele que está ao redor. Esse tipo de cicatrização é mais raro, mas apresenta um componente hereditário. As pessoas, normalmente, confundem essas cicatrizes com os queloides, que também são distúrbios cicatriciais, mas diferentemente da cicatriz hipertrófica, a queloide apresenta um crescimento mais desregulado, no qual o corpo não para de produzir colágeno novo e a cicatriz formada acaba ultrapassando os limites da lesão, caracterizando uma cicatrização excessiva que está muitas vezes relacionada a fatores étnicos, sendo mais comuns em orientais, e genética. As cicatrizes hipertróficas e os queloides constituem um problema estético significativo e apresentam um tratamento problemático. Na figura a seguir pode-se observar esses dois distúrbios cicatriciais. 80 Unidade II A) B) Figura 50 – Distúrbios cicatriciais: A) cicatriz hipertrófica; B) queloide Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 416-418). 6.2 Abordagens terapêuticas no reparo tecidual Desde a Antiguidade a cicatrização de feridas desperta um grande interesse dos estudiosos, e até os dias atuais os recursos terapêuticos vêm sendo amplamente estudados. Entretanto, como em outras patologias, o tratamento dos distúrbios cicatriciais se faz pela associação de recursos disponíveis para, assim, obter resultados mais promissores. A seguir, discutiremos alguns desses recursos. 6.2.1 Tratamento cirúrgico e terapia medicamentosa O queloide pode ser removido cirurgicamente, para que depois seja realizado o acompanhamento da nova cicatriz, sendo que este muitas vezes é realizado com a utilização da radioterapia local, para que controle a formação do colágeno. Essa radioterapia algumas vezes também apresenta bons resultados em queloides recentes. A terapia medicamentosa consiste, basicamente, na aplicação de corticoide na cicatriz, que mostrou ter uma ação inibidora sobre os fibroblastos ativos, conseguindo nivelar a cicatriz. Observação Esses métodos devem ser realizados apenas por médicos dermatologistas ou cirurgiões plásticos, pois ambos podem gerar riscos ao paciente. 6.2.2 Laser de baixa intensidade O laser de baixa intensidade produz o reparo tecidual, agindo nos linfócitos aumentando sua proliferação e ativação e nos macrófagos aumentando a fagocitose. Além disso, eleva a secreção de fatores de crescimento dos fibroblastos e intensifica a reabsorção de fibrina e colágeno. O laser é realizado através de técnica pontual em toda a cicatriz ou ferida, removendo as camadas mais afetadas e expondo novas camadas de pele, promovendo, assim, uma remodelação total das fibras colágenas. 81 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Entretanto, ainda não há um consenso em relação à intensidade de aplicação. Nas duas figuras a seguir, pode-se observar uma aplicação de laser para cicatrização de feridas. Lembrete O laser de baixa intensidade pode ser utilizado em processos cicatriciais, incluindo pós-cirúrgico e feridas, como úlceras de pressão. Figura 51 – Aplicação de laser em ferida Figura 52 – Aplicação de laser em ferida (laser desligado) 82 Unidade II Saiba mais O artigo indicado aqui é uma revisão sistemática sobre o tratamento de úlceras de pressão com informações importantes, demonstrando qual tipo de laser apresenta maior evidência e melhores resultados para o tratamento de pacientes. Para entender melhor sobre o assunto, leia o artigo a seguir: MACHADO, R. S.; VIANA, S.; SBRUZZI, G. Low-level laser therapy in the treatment of pressure ulcers: systematic review. Laser Med Sci., n. 32, v. 4, p. 937-944, 2017. 6.2.3 Ultrassom O uso do US apresenta bons resultados na fase inflamatória inicial e na reparação tecidual, mediando a inflamação através de alteração de migração e função leucocitária, aumentando a angiogênese, a síntese e a maturação do colágeno e, assim, formando tecido cicatricial. Além disso, ele auxilia na orientação das fibras colágenas, melhorando, então, a elasticidade e a funcionalidade do tecido. Por último, aumenta a tensão e a média de contração das bordas da ferida, acelerando a cicatrização. As intensidades recomendadas variam entre 0,5-1,5 W/cm2, sendo que nas primeiras 24 horas após o ferimento, devido à intensa cascata inflamatória, é recomendada a utilização do US pulsado, pois aumentos de temperatura nessa fase não são desejados. O US contínuo pode ser utilizado após essa fase inicial, desde que seja necessário um maior aporte energético. 6.2.4 Massagem A massagem é indicada na prevenção de queloides, mas também pode agir em queloides já instaladas. Podemos utilizar diferentes técnicas manuais e vacuoterapia. A manobra de fricção é realizada com uma pressão suficiente que seja capaz de mobilizar o tecido superficial em relação ao profundo, com o objetivo deliberar as aderências. Pode ser realizada através de movimentos transversais, circulares ou associando movimentos de tração e rolamento, como demonstrado na figura a seguir. 83 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL A) B) Figura 53 – Manobras de fricção: A) movimentos circulares; B) movimentos associados de tração e rolamento Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 421). Outra técnica de massagem bastante utilizada no tratamento das cicatrizes é a manobra de Wetterwald, na qual são realizados movimentos de pinçamento e rotação de uma prega, como podemos observar na figura a seguir. As manobras são realizadas no intuito de prevenir e tratar as aderências cicatriciais, através da melhora da maleabilidade tecidual, com consequente melhora de função e aparência do tecido afetado. A) B) Figura 54 – Manobra de Wetterwald: A) início do movimento; B) mobilização da cicatriz Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 421). Por último, podemos utilizar a endermologia, com o intuito de minimizar as aderências cicatriciais. 6.2.5 Outras técnicas Existem outros recursos que também podem ser utilizados com intuito de melhorar as desordens cicatriciais. O microagulhamento pode ser utilizado para produzir uma nova cicatrização, promovendo a síntese de um novo colágeno de forma organizada. Entretanto, é uma técnica mais utilizada em cicatrizes superficiais e recentes, sendo contraindicada em pacientes com queloide. 84 Unidade II Os peelings também podem ser utilizados para melhorar a estética da cicatriz. O de diamante é utilizado sempre em cicatrizes mais superficiais, elevadas e atróficas, como as cicatrizes de acne, e o peeling químico pode ser utilizado em todas as concentrações, dependendo da necessidade do paciente. Observação Nos casos de pacientes com cicatrizes de acne, podemos associar as técnicas de peeling, utilizando o físico em conjunto com o químico. 7 FISIOTERAPIA EM QUEIMADOS Queimaduras são lesões dos tecidos orgânicos superficiais em decorrência de traumas de origem térmica, química, elétrica ou radioativa, que podem variar desde um pequeno eritema na pele até agressões mais graves, que desencadeiam um grande número de respostas sistêmicas. Recentemente, com o avanço da medicina, o número de mortes decorrentes de queimaduras tem reduzido significativamente, melhorando inclusive o prognóstico e a qualidade de vida dos sobreviventes, e juntamente à equipe multidisciplinar, fisioterapeutas têm um importante papel nessa melhora, através da reabilitação no âmbito hospitalar e ambulatorial. Nos primeiros 3 a 4 dias após o acidente, as mortes acontecem mais por hipovolemia relacionada à desidratação pela área atingida. Já nos dias subsequentes, a principal causa de morte são as infecções oportunistas, sendo que cerca de 70% das infecções em queimados estão relacionadas com procedimentos comuns de uma internação, como intubação orotraqueal, traqueostomia e introdução de cateteres. Embora a morbimortalidade desses pacientes tenha diminuído, a epidemiologia continua sendo basicamente a mesma e os números de casos se mantêm. A Associação Americana de Queimaduras estabeleceu alguns critérios para admissão de pacientes em hospitais especializados: • Queimaduras de espessura parcial com mais de 10% da superfície corporal queimada. • Queimaduras de espessura completa em qualquer faixa etária. • Queimaduras que envolvem mãos, pés, face, períneo, genitália ou pele sobre as grandes articulações. • Queimaduras elétricas, incluindo lesão por raio. • Queimaduras químicas. • Lesões por inalação. 85 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL • Queimaduras em pacientes com doenças preexistentes que poderiam complicar o tratamento. • Pacientes com uma queimadura e um trauma coexistente (por exemplo, fraturas). • Pacientes que requerem reabilitação especial social, emocional ou de longo prazo, incluindo casos de suspeita de abuso em crianças. As queimaduras podem ocorrer devido a agentes térmicos, como frio, escaldadura, chamas, sólido aquecido, gasoso, mas também por agentes químicos, radioativos ou elétricos. Algumas características da queimadura devem ser sempre notadas, para que possamos classificá-la e considerar sua gravidade. São elas: • Extensão da queimadura: é determinada pela percentagem da superfície corporal atingida; quanto maior for a parte atingida, maior é a gravidade da queimadura. • Profundidade da queimadura: é relativa às camadas de pele queimada e afere-se pelo grau. • Localização da queimadura: zonas do corpo como a face, os olhos, o pescoço, as vias respiratórias, o tórax, os órgãos genitais e as articulações são sempre graves, independentemente do seu grau. • Idade da vítima: em crianças e idosos a situação é mais grave. 7.1 Classificação das queimaduras Como dito anteriormente, as queimaduras podem ser classificadas segundo o grau de profundidade de camadas de pele que foram atingidas, sendo consideradas de 1º, 2º, 3º e 4º graus, como demonstrado na figura a seguir. Figura 55 – Na última fileira da ilustração, queimaduras de 1º, 2º e 3º graus, respectivamente Adaptada de: https://bit.ly/3oyYtDM. Acesso em: 7 dez. 2021. 86 Unidade II As queimaduras de 1º grau são mais superficiais, em que somente a epiderme é atingida. Manifestam-se por uma vermelhidão da pele, com uma sensação de ardência, e costumam ser curadas sem deixar cicatriz ou lesões permanentes após 2 a 7 dias. É possível observar uma queimadura dessa profundidade na figura a seguir. Figura 56 – Queimadura de 1º grau Disponível em: https://bit.ly/3lIHAoc. Acesso em: 7 dez. 2021. As queimaduras de 2º grau abrangem uma maior profundidade da pele, atingindo epiderme e parte da derme. São muito doloridas e em geral formam bolhas, comumente, se curam após 10 dias e até 3 semanas. Na figura a seguir, pode-se observar uma queimadura de 2º grau. Figura 57 – Queimadura de 2º grau Disponível em: https://bit.ly/3GoI8r6. Acesso em: 7 dez. 2021. 87 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL As queimaduras de 3º grau afetam tecidos mais profundos, tendo a pele totalmente destruída (epiderme e derme), com danos profundos, podendo levar a alterações hemodinâmicas dependendo da área total da queimadura. Em geral, podem deixar sequelas permanentes, tanto estéticas quanto funcionais, sendo que em casos mais graves podem produzir amputação de uma estrutura ou até levar o paciente à morte. A área da lesão pode apresentar-se escura (carbonizada) ou esbranquiçada, e o paciente, na maioria das vezes, necessita de intervenção cirúrgica para aproximação das bordas da ferida ou de enxertia de pele. Na figura a seguir, pode-se observar uma queimadura de 3º grau com pequena extensão. Figura 58 – Queimadura de 3º grau Disponível em: https://bit.ly/3lJSg5Y. Acesso em: 7 dez. 2021. Por último, as queimaduras de 4º grau, que, além da epiderme e da derme, atingem fáscia, músculos, tendões, articulações, ossos, cavidades e, por isso, são consideradas gravíssimas e raramente as vítimas sobrevivem. Ainda pensando na profundidade das queimaduras, podemos observar três zonas de dano tecidual na ferida: zona de coagulação, zona de estase e zona de hiperemia, observadas na figura a seguir. Na zona de coagulação, as células são lesadas irreversivelmente e a pele está morta, e por isso, normalmente, requer enxertia de pele para a cicatrização. São mais suscetíveis a infecção, devido à falta de tecido. A zona de estase contém células lesionadas que podem morrer dentro de 24 a 48 horas, se não obtiverem tratamento adequado, e então resultarão na conversão para a zona de coagulação. Por último, a zona de hiperemia é o local de mínimo dano celular, em que o tecido se recupera dentro de alguns dias. 88 Unidade II Zona de hiperemia Epiderme Zona de estase Derme Zona de coagulação Tecido subcutâneo Figura 59 – Zonas de dano tecidual por queimadura Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.196). Além da profundidade, também classificamos a queimadura pela extensão da áreaqueimada, sendo esse um fator importante para determinar a gravidade da lesão. Essa extensão é calculada através da porcentagem da área corporal queimada (ATSQ), utilizando a regra dos nove, que divide o corpo em áreas correspondentes a 9% ou múltiplos de 9%, da superfície corporal total, como pode ser observado na figura a seguir. Esse é o método mais acurado e universal para determinar a extensão de uma lesão por queimadura. 4,5%4,5% 8,5% 8,5% 4,5%4,5% 4,5% 4,5% 4,5%4,5% 4,5% 4,5% 18%18% 18% B) A) 18% 9%9% 6,5% 6,5% 1% 1% 9%9% 6,5% 6,5% Figura 60 – Regra dos nove para determinar a superfície corporal queimada em adultos (A) e crianças (B) Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.197). 89 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Então, a partir da classificação por profundidade e extensão, realizamos uma nova classificação, dividindo os pacientes em pequeno, médio ou grande queimado. O pequeno queimado apresenta queimaduras de 1º e/ou 2º graus, atingindo até 10% de ATSQ. O médio queimado abrange indivíduos com queimaduras de 1º e/ou 2º graus em 10%-26% de ATSQ ou queimaduras de 3º grau independentemente da extensão, queimaduras de extremidades e queimaduras de córneas. Por último, o grande queimado apresenta queimaduras de 1º e/ou 2º graus em mais de 26% do corpo, queimaduras de 3º grau em mais de 10% do corpo e queimaduras de períneo, sendo considerados os mais graves e com maior risco de mortalidade. 7.2 Períodos da queimadura Após a lesão, nosso corpo responde iniciando um processo cicatricial, como vimos anteriormente, e no caso das queimaduras, podemos dividir esse processo inicial de cicatrização em três períodos: • 1º período: tem duração de até 12 horas após a lesão e resulta na formação de edema local com vasodilatação local, aumento da pressão osmótica intersticial e aumento da permeabilidade vascular, o que resulta na tentativa de hidratação da região queimada e consequentemente na desidratação corporal progressiva. • 2º período: tem duração de 12 a 24 horas e é caracterizado pela redução da perfusão tecidual, com isquemia tecidual e necrose, déficit circulatório local e possivelmente orgânico e redução da diurese. Um quadro de desidratação corporal é estabelecido. • 3º período: após 24 horas, ocorre a adesão plaquetária e de leucócitos à superfície das células endoteliais lesadas; além disso, caracteriza-se um quadro de homeostasia e de indícios de um início de cicatrização. 7.3 Complicações Dependendo da extensão da lesão, da profundidade e do tipo de queimadura, pode haver complicações secundárias. Além disso, existem alguns indicativos da gravidade da lesão com o aparecimento de complicações, e a estreita relação com a mortalidade, como gênero, idade e inalação de fumaça ou produtos tóxicos. Outros fatores, como a saúde prévia e o estado psicológico do paciente, também afetarão essas complicações. 7.3.1 Infecções As infecções são uma das causas líderes de mortalidade decorrente de queimaduras. Antibióticos sistêmicos são utilizados para tratar tanto as queimaduras quanto as infecções sistêmicas gerais. 7.3.2 Complicações pulmonares As complicações respiratórias, incluindo infecções respiratórias, em pacientes queimados são muito comuns, e geralmente são causas de índices elevados de óbitos. Sempre que um paciente apresentar 90 Unidade II queimadura grave de face e pescoço devemos suspeitar de lesões de vias aéreas, e quando isso ocorre, o paciente perde o mecanismo de depuração ciliar, diminuindo a função imunológica e facilitando o aparecimento das infecções. Grande parte dos óbitos no local do incêndio são por envenenamento por monóxido de carbono, que tem uma afinidade para a hemoglobina vinte vezes maior que o oxigênio, gerando, assim, hipóxia tissular, acidose e redução na oferta de oxigênio ao cérebro. Em grandes inalações de material de combustão há queda na relação PaO2/FiO2. Pacientes queimados que inalaram monóxido de carbono podem cursar três estágios diferentes: • 1º estágio: ocorre nas primeiras 36 horas após a inalação e o paciente apresenta um quadro de insuficiência respiratória aguda, cursando com asfixia, envenenamento por monóxido de carbono, broncoespasmo, obstrução de vias aéreas e lesão de parênquima pulmonar. • 2º estágio: ocorre após 48 a 96 horas em cerca de 5% a 30% dos pacientes, e apresentam edema pulmonar. • 3º estágio: caracterizado por um quadro de broncopneumonia que ocorre de 3 a 10 dias após a lesão em 15% a 60% dos pacientes, cursando em mortalidade de 50% a 86%. 7.3.3 Complicações metabólicas A queimadura impõe um desafio metabólico e catabólico ao corpo, sendo que a resposta ao estresse no paciente queimado é similar a qualquer doente crítico ou com trauma severo, diferenciando-se pela severidade e pela duração. Um paciente grande queimado chega a apresentar taxas metabólicas elevadas em 200%. Após o trauma por queimaduras, são liberados mediadores da inflamação nos locais da ferida, o que promove um grande edema, sendo que em queimaduras com mais de 10% de ATSQ, essa liberação de mediadores resulta em respostas sistêmicas, caracterizadas por um aumento significativo na concentração de cortisol e citocinas na mediação do processo inflamatório. Portanto, a resposta hipermetabólica após grandes queimaduras é caracterizada por uma resposta hiperdinâmica, aumentando a temperatura corporal em 1 °C a 2 °C, o consumo de glicose e oxigênio, a formação de CO2, a glicogenólise, a lipólise e a proteólise, que resultam na rápida diminuição do peso corporal e diminuição nas reservas de energia, que são vitais para o processo de cicatrização. Devido a isso, recomenda-se que a temperatura ambiente seja mantida em torno de 30 °C, o que reduzirá a taxa metabólica de modo significativo. Como parte do estado hipermetabólico do paciente, as proteínas do tecido muscular são usadas preferencialmente como fonte de energia, e essa situação, combinada com a restrição ao leito, faz com que os músculos se atrofiem rapidamente, tornando o paciente mais fraco. 91 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Lembrete O estado hipermetabólico do paciente grande queimado gera um catabolismo proteico severo, que diminui sua imunidade e gera, consequentemente, um retardo na cicatrização da ferida. 7.3.4 Complicações cardiovasculares As alterações hemodinâmicas geram um desvio de líquido para o interstício, o que consequentemente reduz o volume do líquido plasmático intravascular, e com isso ocorre a diminuição do débito cardíaco, que pode alcançar até 15% na primeira hora após a lesão. Em pacientes grandes queimados podem ocorrer alterações hematológicas e circulatórias, como mudanças na concentração e função das plaquetas, nos fatores de coagulação e leucócitos, disfunção dos eritrócitos e diminuição na hemoglobina. Essas alterações, combinadas com alterações cardíacas, impactarão inicialmente nos esforços de ressuscitação do paciente, e se ele sobreviver, em quão rapidamente ele irá se recuperar. 7.3.5 Ossificação heterotópica Os pacientes queimados são suscetíveis ao desenvolvimento de ossificação heterotópica, entretanto, a maioria dos casos acaba não trazendo problemas aos pacientes, do ponto de vista clínico. Ainda não se sabe ao certo por que pacientes queimados desenvolvem ossificação heterotópica; entre as suspeitas etiológicas estão a imobilização, os microtraumas, a alta ingestão de proteína e a sepse. As áreas mais afetadas são os cotovelos, seguidos por quadris e ombros. Em geral, a ossificação, nesses pacientes, ocorre em áreas de lesão com espessura completa ou locais que demoram muito para cicatrizar. Os sintomas aparecem tardiamente e incluem diminuição de ADM e dor local. 7.3.6 Neuropatia A neuropatia periférica em pacientes com queimaduras pode se caracterizar como polineuropatia ou neuropatia local. Como na ossificação heterotópica, ainda não se sabe por que esses pacientes desenvolvem neuropatias, sendo bastante comum em pacientesque apresentaram sepse. A maioria das neuropatias se resolvem com tempo e fisioterapia. Algumas neuropatias locais podem ser causadas por fatores externos do tratamento, como a aplicação de bandagens compressivas muito apertadas, órteses mal colocadas, posicionamentos 92 Unidade II prolongados ou inapropriados do paciente. Os locais mais comuns de envolvimento são plexo braquial, nervo ulnar e nervo fibular comum. 7.3.7 Cicatrizes patológicas As cicatrizes se tornam patológicas quando assumem a forma de hipertrofia, contratura ou atrofia, sendo que essas condições podem interferir na ADM do paciente. Saiba mais Para ler um pouco mais sobre queimaduras e entender o tratamento emergencial nas queimaduras, leia a cartilha do Ministério da Saúde: BRASIL. Cartilha para tratamento de emergência das queimaduras. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: https://bityli.com/CyoSBqK. Acesso em: 14 dez. 2021. 7.4 Abordagem fisioterapêutica O fisioterapeuta tem um papel essencial com os pacientes queimados, tanto na fase hospitalar quanto ambulatorial, prestando uma assistência tanto preventiva quanto curativa. A fisioterapia deve ser realizada diariamente, e se possível, no período de internação, duas vezes ao dia. Na fase hospitalar, como a cicatrização da ferida é um processo dinâmico que pode alterar diariamente, nós, fisioterapeutas, devemos avaliar e monitorar o paciente como um processo de rotina observando sempre a integridade da pele, a ADM e a mobilidade, para verificar problemas potenciais e conseguir evitá-los. 7.4.1 Metas e objetivos As metas e os resultados da fisioterapia devem ser sempre individualizados e dependem muito do prognóstico do paciente e do seu estado médico atual, sendo que o resultado ideal da reabilitação é o retorno do paciente à função e ao estilo de vida anteriores à lesão. Portanto, em geral, nossos objetivos são: • obter uma ferida limpa para favorecer a cicatrização das feridas e tecidos moles; • reduzir o risco de infecção e complicações; • prevenir úlceras de pressão; • reduzir risco de comprometimentos secundários, contraturas cicatriciais, complicações pulmonares e cardiovasculares; 93 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL • obter/manter ADM máxima; • restaurar nível pré-lesão de resistência cardiovascular; • melhorar elasticidade musculotendínea e nutrição dos tecidos articulares e funcionais; • obter força muscular boa a normal; • promover independência nas posturas sentado e em ortostatismo e na deambulação; • promover independência nas atividades da vida diária (AVD); • minimizar formação de cicatrizes; • aumentar capacidade aeróbia; • viabilizar o retorno do paciente ao funcionamento normal e à vida preexistente à lesão por queimadura. 7.4.2 Intervenção hospitalar e ambulatorial Pacientes queimados, em geral, começarão a fisioterapia no dia da admissão. Entretanto, graças à exigência nutricional muito grande apresentada pelo organismo devido ao estado hipermetabólico, dependendo do caso, o fisioterapeuta não poderá manipular o paciente. Portanto, a avaliação inicial determinará quais áreas serão abordadas primeiro. Devemos demandar uma atenção especial à hidratação da pele do paciente, para isso, podem ser utilizados recursos como hidratantes de pH neutro e óleos. O edema após as queimaduras é um fator favorável à colonização bacteriana, que causa as infecções. Portanto, o controle e a redução do edema em conjunto com a preservação da ADM, são, em geral, as maiores prioridades do fisioterapeuta na fase inicial do tratamento. A elevação dos membros e o movimento ativo, principalmente de mãos e tornozelos, auxiliam a minimizar a formação do edema. O posicionamento correto no leito, o uso de órteses e exercícios previnem a formação das contraturas cicatriciais. A deambulação deve ser estimulada assim que possível e de forma progressiva. Técnicas de massagem e compressão também minimizam a formação das contraturas. Recursos de eletrotermofototerapia, como laser, US e TENS, também podem ser utilizados para auxiliar no tratamento, com o objetivo de minimizar a inflamação, a dor e as contraturas. A fisioterapia na fase hospitalar deve ser realizada no mínimo duas vezes ao dia, e após a alta, na fase ambulatorial, inicialmente todos os dias, e ir progredindo para a diminuição das sessões. 94 Unidade II Fisioterapia respiratória Como vimos anteriormente, as complicações respiratórias são bastante comuns, principalmente em pacientes que inalaram monóxido de carbono. Portanto, o objetivo da fisioterapia respiratória é manter a permeabilidade das vias aéreas, podendo administrar oxigênio com cateter ou máscara e, em casos mais graves, a intubação orotraqueal. O fisioterapeuta conduzirá a ventilação do paciente em mecânica invasiva ou mecânica não invasiva e depois realizará o desmame dessa ventilação. Além disso, devem ser orientadas e realizadas manobras de higiene brônquica e manobras de reexpansão pulmonar e exercícios respiratórios. Observação Durante a ventilação por pressão positiva, deve-se monitorar a pressão arterial devido ao aumento da pressão intratorácica. Posicionamentos e órteses O posicionamento correto do paciente no leito deve ser iniciado no dia da internação, com o objetivo de minimizar o edema, prevenir a destruição dos tecidos e manter o alongamento dos tecidos. As áreas queimadas devem ser posicionadas em um estado alongado ou de posição neutra. No quadro a seguir, podemos observar estratégias de posicionamento para deformidades comuns. Nas figuras 61 e 62 também estão demonstrados alguns posicionamentos com pacientes queimados. Além disso, quando possível, devemos utilizar posições de drenagem postural, também demonstradas a seguir. Quadro 3 – Estratégias de posicionamento Anterior do pescoço Flexão Hiperextensão Usar um colchão duplo; posicionar o pescoço em extensão; depois de cicatrizado, usar órtese cervical rígida Ombro e axila Adução e rotação medial Abdução, flexão e rotação lateral Posicionar com ombro flexionado e abduzido (órtese tipo aeroplano) Cotovelo Flexão e pronação Extensão e supinação Órtese de extensão Mão Mão em garra (também chamada de posição intrínseca negativa) Extensão de punho; flexão metacarpofalângica. extensão interfalângica proximal e distal; abdução de polegar Dedos enfaixados separadamente; elevar para reduzir o edema; colocar na posição intrínseca positiva: punho em extensão; metacarpofalângica em flexão, interfalângica proximal e distal em extensão, polegar em abdução com espaço membranoso largo Quadril e virilha Flexão e adução Todos os movimentos, especialmente extensão e abdução de quadril Ouadril neutro com leve abdução Joelho Flexão Extensão Órtese posterior de joelho Tornozelo Flexão plantar Todos os movimentos, especialmente dorsiflexão Órtese plástica tornozelo-pé com recorte no tendão do calcâneo e tornozelo na posição neutra Adaptado de: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.207). 95 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Figura 61 – Posicionamento no leito de um paciente com queimadura em região anterior do pescoço Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.207). Figura 62 – Posicionamento no leito de um paciente com queimadura na região axilar Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.207). 96 Unidade II Figura 63 – Posicionamento com drenagem postural de um paciente queimado Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.208). O uso de órteses em pacientes queimados é bastante comum, principalmente após enxertia de pele. Nessa fase, que dura de 4 a 5 dias, o membro que recebeu o enxerto deve ficar imobilizado. Portanto, o fisioterapeuta atua dentro do centro cirúrgico na confecção de órteses gessadas para imobilizar o paciente na postura adequada, que têm como objetivo estabilizar o membro, reduzir a dor, proteger a área, melhorar a função, prevenindo sequelas edeformidades. Outras órteses devem ser utilizadas quando o paciente apresenta um risco de diminuição significativa de ADM ou perda de função, sendo que as indicações gerais incluem: prevenção de contraturas, manutenção da ADM, correção de contraturas, ganho de ADM e proteção do local. Todas as órteses devem ser confeccionadas sob medida e devem ser verificadas rotineiramente quanto ao ajuste correto. As órteses de posicionamento devem ser utilizadas durante a noite ou em curtos períodos durante o dia, para que o paciente não fique sem se movimentar ativamente e não atrapalhem no ganho de função. As órteses dinâmicas permitem o movimento articular e são ajustadas de acordo com a tolerância do paciente, sendo um bom recurso para correção das contraturas e auxílio no retorno à função. Exercícios passivos, ativos e resistidos Os exercícios são utilizados com o intuito de prevenir a integridade articular, impedir a rigidez, o encurtamento de tecidos moles, aderências cicatriciais e manter ADM e padrões de movimento. Todo paciente internado que esteja consciente e capaz de obedecer a comandos deve ser encorajado a realizar exercícios ativos em todo o corpo, incluindo tronco e áreas não queimadas, tomando o devido 97 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL cuidado com o estado de hipermetabolismo. Portanto, durante a sua realização, deve-se monitorar os sinais vitais do paciente para examinar as respostas cardiovascular e respiratória ao tratamento, para que não ocorra o esforço excessivo. Exercícios passivos e ativos assistidos devem ser realizados caso o paciente não consiga atingir a ADM ativa completa, que para muitos pacientes pode ser extremamente doloroso, e por isso eles se recusam a realizar o exercício, mas devemos ser persistentes e explicar as necessidades em manter uma ADM completa. Para uma melhor adesão do paciente, podemos utilizar recursos analgésicos antes da realização dos exercícios, como TENS. À medida que o paciente vai se recuperando, podemos incluir exercícios de fortalecimento, pois pacientes queimados perdem muito peso corporal e, consequentemente, massa muscular. Lembrete Durante a realização dos exercícios, deve-se monitorar os sinais vitais do paciente para examinar as respostas cardiovascular e respiratória ao tratamento, para que não ocorra o esforço excessivo. Deambulação A deambulação deve ser estimulada e iniciada assim que possível de forma progressiva. Iniciamos pelo ortostatismo e depois pela marcha estacionária. Entretanto, se o paciente não tolera a posição, por hipotensão postural ou dor, podemos utilizar a prancha ortostática. No início, talvez o paciente necessite de um dispositivo auxiliar de marcha, mas a deambulação independente deve ser incentivada e iniciada o mais cedo possível. Além da marcha, exercícios com ergômetros também devem ser incentivados, como bicicleta ergométrica e caminhada em esteira, pois além de aumentar resistência cardiovascular, melhoram força e ADM dos membros. Massagem A massagem deve ser realizada durante e após o período de cicatrização, para melhorar a sensibilidade da pele, melhorar a estrutura da cicatriz, prevenir e corrigir aderências simples, estimular a circulação sanguínea da nova pele e reduzir o edema. Entretanto, precisamos estar atentos à intensidade empregada na massagem. Entre as massagens indicadas, podemos citar: • massagem clássica: melhora a circulação e facilita a penetração de agentes lubrificantes; • drenagem linfática: melhora edemas; 98 Unidade II • massagem cicatricial: rompe aderências, possibilitando um aumento na maleabilidade tecidual, ela deve ser realizada de maneira lenta e firme, mas sem muita pressão, durante 5 a 10 minutos de duas a três vezes por dia. A endermologia também pode ser utilizada como uma técnica complementar, pois apresenta ação desfibrosante, promovendo o remodelamento da cicatriz. Enfaixamento e malhas de compressão Podem ser utilizadas faixas elásticas para promover o suporte vascular aos enxertos de pele e controlar o edema e a formação de cicatrizes, sendo que as faixas devem ser utilizadas até que a pele do paciente ou as cicatrizes possam tolerar as forças de cisalhamento impostas pelas malhas compressivas e não existam muitas áreas abertas. Nos membros inferiores, as faixas elásticas são aplicadas em padrão “8”, em membros superiores em espiral e em tronco faixa circular. As malhas de compressão, preferencialmente, devem ser feitas sob medida e em geral são bem apertadas. Contudo, essa pressão é necessária para prevenir a formação de cicatrizes hipertróficas. Existem malhas de compressão para todas as partes do corpo, incluindo face e pescoço, podendo ser vestidas quando a pele ou a cicatriz puderem tolerar as forças de cisalhamento. Elas devem ser utilizadas por até 23 horas por dia, sendo retiradas apenas para a higiene pessoal (banho), por até 18 meses do acidente, sendo que as peças devem ser lavadas diariamente e, por isso, o paciente necessita de pelo menos duas malhas. Na figura a seguir está demonstrado um exemplo de malha de compressão. Figura 64 – Malhas de compressão, luvas, colete e meia-calça Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 1.212). 99 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Fase ambulatorial A fase ambulatorial nos pacientes queimados irá se basear em suas necessidades individuais, mas tem como objetivo principal promover independência funcional ao paciente, tornando possível a volta dele às atividades preexistes à lesão. Exercícios com ADM completa devem ser incentivados e os pacientes devem ser encorajados a fazer suas AVDs de modo mais independente possível. O uso de órtese é continuado, sendo que muitas vezes nessa fase o paciente já faz uso de órtese dinâmica para ganho de ADM. Os cuidados com a pele devem ser mantidos, com uso de sabonete suave, sem perfume, e hidratante de pH neutro, bem como os cuidados com a cicatriz, na qual podemos utilizar laser, US e massagem. O programa de reabilitação será alterado de acordo com as habilidades físicas do paciente e a extensão da maturação cicatricial. Depois que a independência funcional, a maturação cicatricial e a ADM completa forem atingidas, poderemos dar alta ao paciente. 8 CIRURGIAS PLÁSTICAS FACIAIS E CORPORAIS A procura da sociedade pelas cirurgias plásticas vem aumentando consideravelmente nos últimos anos, o que tem ocorrido devido à procura por um padrão de beleza estruturalmente bem formado. Com isso, as cirurgias apresentaram larga divulgação e importante aprimoramento de suas técnicas com ampla área de atuação. Dentro desse segmento, a fisioterapia dermatofuncional tem uma grande contribuição, tanto no pré quanto no pós-operatório, para que o paciente obtenha os resultados esperados, realizando um preparatório para a intervenção cirúrgica, acelerando o processo de recuperação pós-operatória, bem como prevenindo e controlando complicações. Nos dias atuais, praticamente todos os cirurgiões plásticos trabalham com uma equipe multidisciplinar que contenha um fisioterapeuta, devido aos melhores resultados pós-cirúrgicos. Deve-se lembrar que toda intervenção cirúrgica traz riscos ao paciente, pois gera lesão tecidual, hematomas, edema, alterações de sensibilidade e pigmentação, e nas cirurgias plásticas isso não é diferente, podendo implicar em complicações como alterações de relevo cutâneo (ondulações), cicatrizes aderentes, cicatrizes atróficas, hipertróficas ou queloideanas, fibrose tecidual, infecções, lesões nervosas que causam parestesias, necrose tecidual e seroma. Nosso papel, como fisioterapeutas, tem início no pré-operatório, visando uma recuperação mais rápida, eficiente e funcional. No pós-operatório imediato, os objetivos são manter a função respiratória e evitar complicações e trombose venosa profunda. Já no pós-operatório tardio, trabalhamos para que o paciente tenha uma recuperação mais rápida e volte as suas atividades diárias, além de evitar complicações que podem ocorrer
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