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Cristiane ● Introdução: As indigestões se classificam em desordens motoras e desordens bioquímicas. ● Fisiologia Digestiva: A produção de saliva alcaliniza o pH do rúmen. A motilidade reticuloru- minal macera e mistura o alimento. Os microrga- nismos são responsáveis pela produção de ácidos graxos voláteis (nutrientes) pela digestão da fibra. O conteúdo do alimento mantem a flora ruminal e seleciona os microrganismos. A preensão dos ali- mentos são com a língua e menos seletivas em bo- vinos, e com os lábios e mais seletivas em peque- nos ruminantes. ➤ Dietas Ricas em Fibras: Produz ácidos gra- xos voláteis em menor quantidade por não serem altamente fermentáveis, dessa forma o pH rumi- nal se aproxima do neutro e mantém a flora de mi- crorganismos celulolíticos para produção princi- palmente de acetato. O animal apresenta menos enfermidades digestivas e metabólicas. ☞ Motilidade: As fibras longas estimulam os re- ceptores epiteliais; o aumento do conteúdo rumi- nal estimula os receptores de tensão; pela nature- za do substrato alimentar, a mastigação e os re- ceptores bucais são estimulados. Essas três carac- terísticas aumentam a motilidade ruminal, a ru- minação, salivação e alcalinizam o pH. ➤ Dietas Ricas em Concentrados: Produz á- cidos graxos voláteis em alta quantidade por se- rem altamente fermentáveis, dessa forma o pH ru- minal se acidifica e mantém a flora de micror- ganismos amilolíticas para produção principal- mente de propionato e lactato. O animal apresen- ta mais enfermidades digestivas e metabólicas. ☞ Motilidade: Os grãos não são suficientes para estimular os receptores epiteliais; o conteúdo ru- minal é denso e compacto, não estimulando os receptores de tensão; pela natureza do substrato alimentar, a mastigação e os receptores bucais são inibidos. Essas três características diminuem a motilidade ruminal, a ruminação, salivação e aci- dificam o pH. ● Ácidos Graxos Voláteis: Quando o rúmen está em pH fisiológico de 7 a 6, há maior produção de acetato por seleção de microrganismos celulo- líticos. Quando está em acidose subclínica de 5,5 a 5, há maior produção de butírico. Quando em acidose ruminal aguda de 5 a 4,5, há maior produ- ção de lactato. O ácido propiônico aumenta a par- tir da faixa de 6 para acidose, porém não supera os demais. ● Indigestões Motoras: A anamnese deve verificar a alimentação, tipo de raça e objetivo do animal, e o ambiente em que vive. ➤ Indigestão Gasosa (Timpanismo): Não o- corre por aumento da fermentação ruminal se houver parede íntegra. O animal deve ser capaz de eliminar os gases produzidos por demanda, inde- pendente da quantidade. As principais causas são: ☞ Obstrução Esofágica Intraluminal Aguda: Determinado pela ingestão de alimentos impró- prios e grandes, ou glutonidade do animal. Aco- mete principalmente animais jovens e de raças pe- quenas em época de safra; mas comportamentos de alotriofagia por deficiências nutricionais tam- bém pode influenciar. Principais Locais: Entrada do esôfago, entra- da do tórax, e região de curvatura sobre o coração. Cristiane Sinais Clínicos: Ansiedade, movimentos com a cabeça e pescoço, sialorreia intensa, tosse, taquipneia, taquicardia, corpo estranho palpável se no esôfago cervical. Tratamento: Sonda esofágica para tração de empurrar ou puxar o conteúdo obstrutivo. Em casos de emergência pode ser feito punção ruminal com trocarte, um aparelho de cânula e mandril. Pode ocorrer sequelas de perfuração esofágica, estenose por cicatrização e rupturas. ☞ Obstrução Esofágica Intramural: É causado pela presença de tumores presentes na parede interna esofágica. ☞ Obstrução Esofágica Extramural: É causado pelo aumento crônico dos linfonodos mediastíni- cos, neoplasias do timo (timona), tuberculose, e pneumonia em bezerros; sendo condições que promovem compressão esofágica. ☞ Compactação do Rúmen: Afeta a região da cárdia, onde um animal que esteve em posição anormal (iatrogênica ou hipocalcemia pós-parto) comprime o flanco esquerdo e impede a eructação gasosa. ☞ Papilomatose em Cárdia: Situações crônicas provocadas por tumores. ☞ Corpos Estranhos na Cárdia: Ingestão de pla- centa e outros objetos como sacolas e corda, e presença de tricofitobezoários. ☞ Atonia da Parede Ruminal: Situação de inati- vidade muscular causada por endotoxemias (xila- zina, infecções), fadiga, estresse e hipocalcemia pós-parto. É uma disfunção da motilidade reticulo- ruminal. ☞ Aderências: Situações como mesoteliomas, reticuloperitonites traumáticas, úlceras aboma- sais e peritonites podem causas aderências e dis- função da motilidade reticuloruminal. ☞ Disfunção do Nervo Vago: Causam atonia e pode se desenvolver por compactação do omaso/ abomaso, abcessos hepáticos. ☞ Alterações do Ambiente Ruminal: Situações como indigestão simples, acidose ruminal, alcalo- se ruminal e inatividade da flora por anorexia crô- nica. Timpanismo Gasoso Apresenta o contorno abdominal abaulado no flanco esquerdo quando ainda no início, se as- semelhando a uma maçã. Em casos intensos o flanco direito também pode ser afetado. Sonda Esofágica Pode indicar certos diagnósticos a partir das suas condições de aplicação Entra sem resistência e há saída dos gases: Indica gás livre. Pode ser causado por atonia da parede ou tumor pedunculado do cárdia. Entra sem resistência e não há saída dos gases: Indica espuma. Se ocorrer em muitos a- nimais aponta para as leguminosas; se em al- guns, grãos; se um, estenose anterior por hi- permotilidade ruminal. Entra com dificuldade e libera os gases: Com- pressão por linfonodos mediastínicos Não entra: Obstrução geralmente agudo. Entra com resistência: Alterações do esôfago ou cárdia, geralmente crônico. Motilidade ruminal após a retirada dos gases pela sonda Hiperativo: Indigestão vagal ou estenose ante- rior. Ativo: Alteração esofágica ou do orifício retícu- lo omasal. Hipotonia ou Atonia: Disfunção da parede. Cristiane ➤ Indigestão Espumosa (Timpanismo): Se subdivide de acordo com o alimento. ☞ Por Leguminosa: Geralmente por Trevo e Al- fafa, já que possuem alto potencial. Azevém e A- veia são de baixo potencial. Gramíneas e centeio são consideradas seguras. Fisiopatologia: A ingestão rápida de legumi- nosas aumenta rapidamente os níveis de sapo- ninas, compostos que possuem a capacidade da formar espuma quando agitadas e misturadas em água. Além disso, leguminosas possuem pouca fibra, potencializando o aprisionamento de gás como espuma dentro da ingesta. A vaca desenvol- ve um quadro de hipertensão ruminal leve, estimulando a motilidade e misturando ainda mais o gás com a ingesta. A espuma impede a eructa- ção e consequentemente a hipertensão ruminal se torna severa, induzindo atonia e óbito por com- pressão do sistema cardiorrespiratório. Tratamento: Derivados do silicone ou cirurgia de emergência. Profilaxia: Adaptação do animal ao pasto, u- so preventivo de silicone, pastoreio por curtos pe- ríodos. ☞ Por Grãos: Possui fatores relativos ao animal, como anatomia ruminal, hipomotilidade, taxa de alimentação e salivação; ou alimentares, como ex- cesso de grãos e pouca forragem ou grãos muito triturados; e microbiológicos, como bactérias pro- dutoras de muco. Diagnóstico: Anamnese, sinais clínicos, pas- sagem de sonda e exame do suco de rúmen (espu- ma e aumento da viscosidade). Tratamento: Derivados do silicone, óleo mi- neral e cirurgia de emergência. Profilaxia: 10-15% da alimentação com forra- gem longa, não triturar demais. ➤ Reticuloperitonite Traumática: Causado pela ingestão de corpos estranhos como arame e pregos de maneira a penetrarem a parede do retí- culo. ☞ Sequelas: Comumente se vê perfuração e peritonite local aguda, que pode se desenvolver para recuperação, cronificação com indigestão vagal ou hérnia diafragmática, difusão, e peri- cardite agudaque leva a óbito ou cronificação. Em casos raros a perfuração pode romper a artéria gastroepiplóica esquerda; e a peritonite local, de- senvolver abcessos (esplênico, hepático, diafrag- mático, mediastínico), pleurite, pneumonia, endo- cardite, artrite e nefrite; e a pericardite aguda, uma ruptura da artéria coronária ou ventricular com tamponamento cardíaco. ☞ Sinais Clínicos: Intensa: anorexia, queda na produção, tensão abdominal e dor. Pode haver le- ve timpanismo e moderada febre. Há hipomotili- dade e compactação, com fezes ressecadas. ☞ Diagnóstico: Provas de dor como a prova da cernelha e da percussão dolorosa, onde o profis- sional aplica pequenos golpes nas regiões ruminais e aguarda a resposta do animal. O hemograma a- presenta leucocitose neutrofílica, hiperfibrinoge- nia e hiperglobulinemia. Timpanismo Espumoso A sonda esofágica passa facilmente, mas não há liberação de gases. Percussão Dolorosa Cristiane Laparotomia Exploratória: Procedimento que consiste na abertura da cavidade abdominal para visualização das estruturas a partir de uma câmera acoplada. ☞ Tratamento: Pode ser conservativo com en- rofloxacina, oxitetraciclina ou penicilina. O uso de ímã pode ser útil. A cirurgia é opção e consiste na retirada do objeto traumático. ➤ Indigestão Vagal: Também conhecida como estenose funcional, a indigestão ocorre por altera- ção na fisiologia do nervo vago, que inerva o esôfa- go e trato gastrintestinal. ☞ Classificação: Tipo I: Há falha na eructação por obstrução esofágica ou compressão por linfonodos que com- primem ou lesiona o trajeto do nervo. Tipo II: Há falha no transporte omasal por meio do orifício retículo-omaso, com lesão do nervo na mesma região. Ocorre um abaulamento em forma de maçã no lado es- querdo pelo represamento do ali- mento, e pêra do lado direito. Tipo III: Há estenose funcional posterior de esvaziamento do abomaso. Pode ser causado por úlceras, obstruções intestinais ou des- locamento de abomaso (re- puxa e comprime o nervo). Ocorre abaulamento não tão significante no lado esquer- do, porém é pêra no direito. Tipo IV: Há obstrução parcial por gestação a- vançada. Normalmente é temporária. ☞ Sinais Clínicos Gerais: Anorexia, diminuição da produção, emaciação, distensão ruminal, hipo ou hipermotilidade, fezes escassas e pastosas. O diagnóstico é a partir da exclusão de outros possí- veis casos. ☞ Tratamento: Possibilidade de realizar uma fístula permanente com traqueotubo pelo período de 15 dias. ● Indigestões Bioquímicas: ➤ Indigestão Simples: Causada por alterações bruscas de conteúdo e ambiente ruminal, como excesso de silagem, cevada, grãos ou alimentos mofados e deteriorados. ☞ Sinais Clínicos: Intensas: anorexia ou hip- orexia, queda produtiva, menor força da motili- dade e estratificação do rúmen alterada. Relativa queda na motilidade ruminal, e pode haver diar- reia e cólica. ☞ Diagnóstico: Anamnese com bom histórico e sinais clínicos. ☞ Tratamento: Pode ser utilizado uma sonda com a retirada do conteúdo ruminal causador. ➤ Inatividade da Flora Ruminal: Ocorre quando a microbiota ruminal morre e há conse- quente ausência de digestão. Pode ser causada por períodos extensos de anorexia, deficiências nutricionais, uso excessivo de antibióticos, e inges- tão de alimentos pouco digeríveis e baixa umidade (compactação). ☞ Sinais Clínicos: Queda na motilidade ruminal com anorexia crônica caracterizada pelo rúmen vazio com estase ruminal e atonia. Há diminuição da passagem de alimentos, produzindo fezes es- cassas, secas e com muco. Um timpanismo gasoso leve pode existir, com putrefação de con- teúdo. Suco do Rúmen: Diminuição de protozoários, predominância de grams positivos (maioria Strep- tococcus bovis), aparência aquosa e inodora, redu- ção do azul de metileno com tempo aumentado (indica baixa atuação da microbiota). ☞ Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos e exa- me do suco do rúmen. ☞ Tratamento: Estabelecer equilíbrio hidroele- trolítico, tratar doença primária, e transfaunação. ➤ Compactação Ruminal: Ocorre quando há permanência do conteúdo ruminal no rúmen, sen- Cristiane do uma condição que pode estar associada à inati- vidade da flora. É causada principalmente pela in- gestão de alimentos ricos em lignina que são de baixa digestibilidade. ☞ Sinais Clínicos: Abaula- mento abdominal em forma de pêra no lado esquerdo de ma- neira e ficar uma depressão de impressão à palpação, com con- teúdo ruminal compactado e pe- sado. ☞ Tratamento: Uso de água morna com emoli- ente, alimentação adequada e verde, transfauna- ção, sal mineral e ruminotomia em caso extremo. ➤ Putrefação do Conteúdo Ruminal: Ocorre o apodrecimento do conteúdo, geralmente sendo um problema associado com a ingestão de alimen- tos impróprios (ossos, pregos, lixo). ☞ Sinais Clínicos: cólica, timpanismo, odor pú- trido na eructação e suco do rúmen. ☞ Tratamento: Antibióticos, transfaunação, a- limentação com forragem verde, ruminotomia em casos de alterações sistêmicas, lavagem ruminal. ➤ Alcalose Ruminal: É o aumento do pH rumi- nal em torno dos 6,9 causado pelo aumento na formação de amônia no rúmen, geralmente de etiologia alimentar com excesso de ureia ou mi- crobiota mal adaptada. ☞ Fisiopatogenia: A ureia é quebrada em a- mônia no rúmen, e quando em excesso ultrapassa a capacidade de desintoxicação pelo fígado, se acumulando e aumentando o pH, matando a flora. ☞ Sinais Clínicos: É de início súbito, agudo e rá- pido, cerca de 15-30 minutos após a ingestão da ureia. Ocorre alterações de comportamento como excitação ou agressividade, acompanhados de incoordenação e tremores. O rúmen entra em atonia e timpanismo. O animal em estado grave pode permanecer em decúbito e ter convulsões. Suco do Rúmen: Odor de amônia e pH > 7. ☞ Tratamento: Ingestão de água fria em cerca de 10-30 litros misturada com 4 litros de vinagre para acidificação. O animal deve ser hidratado com 20mL de soro fisiológico/kg. ☞ Profilaxia: Oferecer uma fonte de energia junto com a ureia, usar enxofre para formar ami- noácidos essenciais, promover adaptação paulati- na à ureia por 3 semanas. ➤ Acidose Ruminal: Ocorre quando a faixa de pH se encontra menor que 5,5, onde há diminui- ção da produção de acetato e butirato, e aumento de lactato e propionato resultante da fermentação do lactato. ☞ Crônica: O acúmulo progressivo de ácidos promovem queda produtiva, rúmen vazio e fezes mais líquidas e com grãos. Algumas doenças po- dem se desenvolver como: laminite, esteatose hepática, acetonemia, deslocamento do abomaso, metrite e mastite. Laminite: Ocorre porque o aumento do con- centrado na dieta estimula o crescimento bacte- riano, especialmente do S. bovis. que potencializa a produção de ácido lático e morte de demais bactérias, gerando endotoxemia. Abscesso Hepático: Desenvolvido por meio da ruminite decorrente da acidose, onde um abcesso que se forma na parede ruminal produz um êmbolo bacteriano migra pelo sistema porta. A po- pulação responsável é de Fusobacterium necro- phorum. Síndrome Veia Cava Caudal: Um abscesso hepá- tico pode promover a formação de trombos da veia cava caudal. O animal pode apresentar morte súbita por embolia cardíaca ou trombose da ar- téria pulmonar; uma síndrome de insuficiência respiratória aguda com edema pulmonar; ou um aneurisma pulmonar com hemorragia e óbito. Achados Clínicos Lática: Queda produtiva, a- norexia e sequelas acima. ☞ Aguda: A ingestão de carboidratos altamen- te fermentáveis aumenta a produção de ácidos graxos voláteis e diminuem o pH. A formação de Cristiane ácido lático por S. bovis, diminui a fermentação de diversas outras bactérias, potencializando o au- mento da população de Lactobaccillus que retro- alimenta a produção de ácido lático. Com o pH ácido, há parada da fermentação eabsorção do ácido lático, seguido por acidose metabólica. Achados Clínicos Lática: Evolução super aguda em menos de 8 horas com decúbito e morte. As primeiras 36h apresentam rúmen como hipo- motilidade e atonia, disten- dido e com fluido. As fezes são pastosas a diarreicas, as fre- quências cardíacas e respira- tórias estão aumentadas. O a- nimal apresenta febra acima de 40°C. Diagnóstico: Exame do suco de rúmen com odor ácido, aspecto leitoso e pH menor que 6. Tratamento: Lavagem ruminal com água morna ou ruminotomia; bicarbonato de sódio a 200-300g. Fluido e eletrólitos. Transfaunação. Tia- mina, cálcio e antibióticos. ● Objetivos Terapêuticos das Indiges- tões: Oferecer substrato apropriado para a fer- mentação bacteriana, com uso de forragem fresca e ração. Remoção dos produtos finais, seja gases por meio de sonda ou punção; espumas por meio de ruminotomia ou silicones; sólidos por rumino- tomia ou emolientes; líquidos por ruminotomia ou sonda; e purgante salino com sulfato de Mg ou Na. Deve haver manutenção da cultura com trans- faunação se necessário e do pH ótimo, onde a- cidose se usa bicarbonato, e alcalose, vinagre.