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1 FISIOPATOLOGIA Há complexidade na fisiopatologia das doenças inflamatórias intestinais, e envolve uma interação ambiental, genética e uma resposta imunológica. Pessoas geneticamente predispostas que entram em contato com algum gatilho, desenvolvem uma resposta imune desregulada que leva a inflamação. PONTOS IMPORTANTES A retocolite ulcerativa é uma doença de caráter ascendente e contínua, acometendo reto e cólon, já a doença de crohn pode acometer partes descontínuas do intestino e pode ir da boca até a região perianal. Na doença de crohn o íleo distal é o local mais comumente acometido. A retocolite é uma doença mais superficial e a doença de crohn é mais profunda (mucosa, submucosa, muscular). A retocolite é mais comum que a doença de crohn, já a doença de crohn causa mais complicações por ser uma doença que não se restringe a mucosa. Acomete a faixa etária de 15-30 anos, tendo seu segundo pico em 60-80 anos. O quadro clínico típico é do jovem com dor abdominal, diarreia, sangue e muco nas fezes → o paciente tem uma diarreia inflamatória. Pensar em DII. Mais comum em pessoas de nível socioeconômico mais elevado. Além disso, há maior predisposição a desenvolver DC com o tabagismo e o aleitamento materno é um fator de proteção às DII. ETIOPATOGENIA “Doença autoimune” O risco de desenvolver por história familiar é de 10- 20%. Geneticamente falando: • RCUI → HLD-DR2 e HLA-DRB1*15 • DC → DLA-DR1/ DQw5, HLA-DRB*30301 • O lócus de suscetibilidade está no cromossomo 16 (IBD1). COMO O PACIENTE TEM INICIO DA DII Há um desequilíbrio nos fatores protetores luminais e da barreira intestinal. Um aumento de bactérias anaeróbias gram + e gram -. Ademais, há uma diminuição nos mecanismos de proteção (IgA secretora, camada de mucina tipo IV). Esse mecanismo de proteção diminuído pode se dar por: • Ação de antibióticos • Ação de probióticos Em suma, uma pessoa já predisposta geneticamente tem uma redução dos fatores de proteção, como IgA secretora e mucina IV, além disso há aumento de bactérias anaeróbias, gram + e – e por fim, o uso errôneo de antibióticos e probióticos contribui com o desenvolvimento ou o desencadear da doença preestabelecidas, mas até então “dormente”. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA RCUI Como a retocolite ulcerativa está mais distal, o paciente pode ter a hematoquezia (sangue vivo nas fezes), enterorragia (perca de sangue relacionado à evacuação). Dor em fossa ilíaca esquerda também está relacionada. • Diarreia com sangue e/ou muco • Cólicas • Febre • Perda de peso • Hipoalbuminemia • Anemia • Megacólon tóxico – uma das principais complicações da RCUI. DIAGNÓSTICO DE RCUI A retocolite está limitada a mucosa e submucosa, irá causar lesões contínuas e acomete o reto (proctite) em quase totalidade dos casos. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS 2 Acometimento só do reto → proctite. Acometimento de reto e sigmóide → proctosigmoidite. Cólon esquerdo → colite esquerda. A partir de cólon transverso → Pancolite. Envolvimento exclusivo do cólon: • 30% Pancolite • 40-50% proctosigmoidite • 20-30% colite esquerda MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO MEGACÓLON TÓXICO Evidências radiográficas de distensão colônica. • Pelo menos 3 dos critérios: - Febre > 38 - Frequência cardíaca > 120bpm - Leucocitose com neutrofilia > 10.500/mm3 - Anemia • Além dos critérios acima, pelo menos 1 desses: - Desidratação - Alterações no nível de consciência - Distúrbios eletrolíticos - Hipotensão arterial Pensar em Megacólon tóxico no paciente séptico com infecção/inflamação do cólon e reto. Pode acontecer na doença de crohn também, porém mais frequente na retocolite. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS – DOENÇA DE CROHN • Diarreia com sangue/muco, esteatorreia aquosa. • Cólicas • Perda de peso • Febre • Hipoalbuminemia • Deficiência de B12/ absorção de sais biliares • Massa na fossa ilíaca direita – íleo distal é o mais acometido. • Dor abdominal • Massas palpáveis • Febre e perda de peso • Fissuras, fístulas e abcessos perianais • Síndrome disabsortiva • Maior formação de cálculos biliares e renais • 3 tipos de manifestação: Inflamatória - Estenosante - Fistulizante. A estenose pode levar a uma obstrução intestinal, as vezes seguindo com uma quadro de abdome agudo obstrutivo. As fístulas são uma comunicação do intestino com outros órgãos. DIAGNÓSTICO DE CROHN É uma doença Transmural que cursa com lesões salteadas, acometendo todo o TGI. • 5% lesões gastro-duodenais. • 70% íleo (30% somente íleo). • 50% íleo-colite. • 20% apenas cólon. • 30% comprometimento perianal. RCUI X CROHN NO DIAGNÓSTICO A doença de crohn é mais comumente associada ao acometimento ileal, podendo ter a ileíte de marola na RCUI. A dilatação tóxica é mais comum na retocolite ulcerativa, por ser uma dilatação de cólon. As úlceras são mais presentes na doença de crohn. Quem poupa o reto? Doença de crohn. 3 NA COLONOSCOPIA • Na doença de crohn tem-se úlceras aftosas, não presentes na RCUI. • O aspecto pavimentoso ou em mosaico é característico de DC, sendo raro na RCUI. • Pseudopólipos são comuns na RCUI e incomuns na doença de crohn. ACHADOS MICROSCÓPICOS • Na RCUI é visto em microscópio o abcesso de criptas. • Na doença de crohn, são vistos granulomas não caseosos (epitelióides e/ou células gigantes de langhans). Os principais diagnósticos para uma patologia que acometa o íleo-distal: 1. Doença de crohn 2. Linfoma 3. Tuberculose Como diferencio tuberculose da doença de crohn? Pela microscopia, o granuloma da DC é não caseoso, enquanto que o caseoso é da tuberculose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EXTRAINTESTINAIS O paciente que tem a doença, pode estar com ela controlada ou ativa, eu sei se há uma doença ativa ou controlada, principalmente a partir de características das manifestações extraintestinais. ARTICULARES As principais manifestações extraintestinais são as articulares. Periférico: • Grandes articulações (cotovelo, ombro, joelho, tornozelo...) → atividade da doença, isso quer dizer que o intestino está inflamado e as artrites também. • Pequenas articulações (quirodáctilos, pododáctilos...)→ sem relação com a atividade da doença, ou seja, não necessariamente vou ter inflamação intestinal. Ex. paciente portador de RCUI toma as medicações corretamente, defeca de maneira normal, mas está com as mãos inflamadas → manifestação intestinal sem atividade da doença. Central (axial): • Espondilite anquilosante • HLA B27 + • Sem relação com a atividade da doença Não deformante e migratório. Líquido sinovial inflamatório em punção. OUTROS LOCAIS DE ACOMETIMENTO • Dermatológicas - Eritema nodoso Está mais relacionado com a DC. São nodulações avermelhadas na parte anterior da tíbia, podendo estar presente nos braços. - Pioderma gangrenoso Está mais relacionado com a RCUI. Forma ulcerações na pele, geralmente relacionadas a atividade da doença. Facilmente confundido com leishmaniose visceral. • Hepatobiliares 4 - Colangite esclerosante primária → é uma inflamação irregular com fibrose e estreitamento do ducto biliar, e pode estar relacionada principalmente com a RCUI. • Oculares Uveíte que está relacionada as duas doenças. • Hematológicas Maior predisposição a trombofilia. • Ósseas Maior predisposição a osteoporose. • Biliares • Tromboembólicas DIAGNÓSTICO Quadro clínico + Exame físico + • Exames laboratoriais o VHS e PCR elevados o Anemia e leucocitose o Hipoalbuminemia o Deficiência de vitaminas o Anticorpos p-ANCA e c-ANCA o Calprotectina fecal Em laboratório, nada é específico, o que eu sei: Provas de função inflamatória (PCR/VHS) vão estar elevadas, pode ter anemia e leucocitose, hipoalbuminemia,deficiência de vitaminas. O anticorpo p-ANCA está mais relacionado a RCUI, porém, não é específico e não descarta caso venha negativo, ele pode ajudar. Ele não diagnostica. A calprotectina fecal é uma proteína dos leucócitos fecais, é um exame de fezes que avalia a inflamação do intestino pelas fezes. Pode fazer diagnóstico diferencial com uma doença funcional (caso venha baixo). Não serve para diagnóstico, mas serve para acompanhar (evita as colonoscopias de 3 em 3 meses). • Avaliação endoscópica o Colonoscopia com biópsias o Retosigmoidoscopia o Esofagogastroduodenoscopia o Enteroscopia com duplo balão o Cápsula endoscópica A colonoscopia com biópsias é o primeiro exame de imagem a ser feito. Vê o íleo distal até o reto. Em casos de paciente descompensado, pode ser que o médico não consiga fazer a colonoscopia, as vezes só consegue a retosigmoidoscopia. O ideal é que todo paciente com DC faça endoscopia, para avaliar os acometimentos salteados. Enteroscopia com duplo balão é um tipo de endoscopia que vai até o intestino delgado, já que a endoscopia comum vai até a 2ª porção duodenal. A cápsula endoscópica o paciente engole e há uma câmera, porém não serve para biopsiar, só para ver imagens. Pacientes com suspeita de estenose ou obstrução não podem. Diagnóstico de RCUI: Diagnóstico de crohn: • Exames de imagem o Radiografia de abdome 5 É feito em pacientes com perfuração, Megacólon tóxico. Só em urgências. o Trânsito intestinal Em desuso. o Tomografia de abdome Enterotomografia. o Ressonância de abdome Enterorressonância. o Ultrassom endorretal Suspeita de fístula anal. Ex. paciente para diagnóstico de DC → faz-se endoscopia para visualização até intestino delgado e uma enterorressonância ou enterotomografia + colonoscopia para ver até o íleo e biopsiar. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA RCUI Gravidade do surto agudo (índice de Truelove): Gravidade de acordo com a extensão anatômica da inflamação: O paciente em Pancolite é mais grave em relação ao paciente só com proctite, por exemplo. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DA DOENÇA DE CROHN CDAI: • Soma total: o <150 = remissão o 150-250 = leve o 250-350 = moderada o > 350 = grave • Peso esperado ou ideal: o Altura x 25,5 – homens o Altura x 22,5 – mulheres Classificação de Montreal: Quanto mais jovem é mais grave a classificação. TRATAMENTO RCUI CORTICOIDES O tratamento com corticoides é utilizado quando a doença está ativa, paciente em surto agudo. O uso crônico não é recomendado devido as suas complicações, como HAS, diabetes, obesidade, dificuldade de cicatrização, osteoporose, entre outros. AMINOSSALICILATOS RCUI → Mesalazina e Sulfassalazina. Doença de crohn → Mesalazina e Sulfassalazina (somente se pegar íleo e cólon, se pega só íleo, não se usa, pois elas só desinflamam cólon e reto). A mesalazina por supositório tem efeito local e boa resposta tópica. Exemplo, só reto inflamado. Mesalazina enema → quando vai até colite esquerda RCUI distal → mesalazina ou esteroide tópico e/ou oral. Colite esquerda ou extensa → • Aminossalicilato oral • Corticoide oral por 8 semanas • Imunossupressor e imunomodulador 6 Uso a azatioprina para o paciente que tirei o corticoide e quero seguir controlando. AZATIOPRINA “Poupador de corticoide”, é um imunossupressor com menores efeitos colaterais e maior supressão. Pode causar pancreatite aguda. IMUNOMODULADORES • Fluximab Para maior gravidade. MANUTENÇÃO • Aminossalicilato • Recidiva → imunossupressores • Refratários ou dependentes de corticoides → imunomoduladores (fluximab). MEGACÓLON TÓXICO • Exame clínico seriado • Laboratório diário • Radiografia de abdome diária • Hidratação venosa e transfusão sanguínea • ATB sistêmico • Suporte nutricional • Corticoide endovenoso • Aminossalicilatos • Avaliação cirúrgica o CT 5,5cm e ceco > 9cm • Reavaliação terapêutica com 3-5 dias o Ciclosporina EV ou infliximab o Colectomia total TRATAMENTO DOENÇA DE CROHN • Grau de atividade • Localização da doença • Comportamento • Histórico da doença Forma ativa ileocecal Leve: • Budesonida 9mg/ prednisona 20-40mg Moderada: • Budesonida/ prednisona • ATB Grave: azatioprina e se não der, infliximab • Corticoides sistêmicos • Imunossupressores • Imunomoduladores Forma ativa – doença colônica Leve: • Sulfassalazina e mesalazina oral Recidivas: • Imunossupressores Refratários ou intolerantes: • Imunomoduladores Falência: • Cirurgia Forma ativa – esôfago, estômago e delgado Sintomáticos: • IBP Moderada a grave: • Corticoides sistêmicos Recidivas: • Imunossupressores Refratários ou intolerantes: • Imunomoduladores Obstrução intestinal: • Cirurgia Doença Fistulizante • Localização e anatomia • Identificação de sinais de infecção • Avaliação do estado nutricional 7 • RNM de pelve e US endorretal Simples: • Fistulotomia ou colocação de seton • ATB 14-28 dias Complexas: • Azatioprina e ATB • Biológicos • Cirurgia Manifestações extraintestinais Articulares • Sulfassalazina e AINE • Corticoide oral ou local • Controle da doença Osteoporose • Atividade física • Cálcio 1g/dia • Bifosfonatos Pele • Corticoide oral ou imunossupressores Hepatobiliares • Ácido ursodesoxicólico e transplante hepático TRATAMENTO CIRÚRGICO CROHN 80% se submeterão a cirurgia • Estenoses, obstruções, sangramento maciço, abcessos, perfurações, fístulas e neoplasias • Ressecção do segmento afetado e estricturoplastia • Recorrência endoscópica e clínica o 60 e 40% em 1 ano respectivamente RCUI 25-35% se submetem a cirurgia • Hemorragia, perfuração, carcinoma, colite fulminante. • Protocolectomia total com anastomose íleo- anal → cura. • Anastomose íleo-anal com bolsa ileal. • Bolsite 40-50% o ATB o Ileostomia definitiva
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