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Extinção dos atos administrativos APRESENTAÇÃO Os atos administrativos são manifestações ou declarações lavradas pela Administração Pública, no exercício de atribuições públicas, e por isso estão sujeitos ao regime de Direito Público. Depois de emitido, o ato administrativo permanecerá no mundo jurídico até que outro ato ou fato altere a sua vigência. Assim, uma vez publicado, embora esteja contaminado de vícios, terá pleno vigor e deverá ser cumprido, em respeito ao Princípio da Presunção de Legitimidade ou Veracidade, até que ocorra formalmente o seu desfazimento. Assim, o desfazimento do ato administrativo poderá ser resultado do reconhecimento de sua ilegitimidade, ou ainda, de eventuais vícios na sua formação, podendo ser classificado nas seguintes espécies principais: a renúncia, a retirada (anulação e revogação), a cassação, a caducidade e a contraposição. Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as formas de extinção dos atos administrativos e em quais circunstâncias se aplicam cada uma delas. Na sequência, você irá aprofundar o estudo, adentrando nas circunstâncias que permeiam a aplicação das formas de extinção pela anulação e pela revogação dos atos administrativos, destacando suas principais características, em quais circunstâncias serão aplicáveis, assim como as consequências no que se refere à manutenção de seus efeitos pretéritos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as hipóteses e formas de extinção dos atos administrativos. • Descrever a anulação dos atos administrativos e as suas consequências jurídicas.• Definir revogação dos atos administrativos e os seus desdobramentos legais.• INFOGRÁFICO As hipóteses de extinção se tratam de situações nas quais o ato exarado pelo Poder Público deixa de produzir efeitos, sendo retirado do mundo jurídico. Algumas doutrinas do Direito Administrativo tratam-nas como formas de desfazimento do ato administrativo. A extinção, no entanto, pode ocorrer por diversas formas. Veja neste Infográfico, as principais formas de extinção do ato administrativo e sua definição. CONTEÚDO DO LIVRO Os atos administrativos podem ser extintos a qualquer tempo, a partir da edição de outros atos decorrentes da manifestação de vontade do administrador. No entanto, a extinção de um ato administrativo requer o reconhecimento de sua ilegitimidade, eventual existência de vícios na sua formação, ou ainda, o resultado da desnecessidade de sua existência. No Capitulo Extinção dos atos administrativos, da obra Direito Administrativo, você conhecerá como ocorre a extinção dos atos administrativos por manifestação de vontade da Administração Pública, tendo em vista razões de legalidade ou de mérito administrativo, na forma de anulação, revogação e convalidação. Por fim, você analisará a revogação dos atos administrativos e os limites da repercussão dos efeitos jurídicos da extinção do ato por essa forma. Boa leitura. Direito Administrativo Gabriele Valgoi Extinção dos atos administrativos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as hipóteses e formas de extinção dos atos administrativos. Descrever a anulação dos atos administrativos e as suas consequências jurídicas. Definir a revogação dos atos administrativos e os seus desdobramentos legais. Introdução Os atos administrativos podem ser extintos a qualquer tempo, a partir da edição de outros atos, decorrentes da manifestação de vontade do administrador. No entanto, a extinção de um ato administrativo requer o reconhecimento de sua ilegitimidade, a eventual existência de vícios na sua formação ou, ainda, o resultado da desnecessidade de sua existência. Neste capítulo, você vai ler sobre a extinção dos atos administrati- vos, que pode ocorrer por manifestação de vontade da Administração Pública, tendo em vista razões de legalidade ou de mérito adminis- trativo, na forma de anulação, revogação e convalidação. No que se refere à anulação, você vai ler sobre as condições e circunstâncias que a acarretam, assim como as consequências jurídicas a partir de sua declaração. Por fim, você estudará a revogação dos atos administra- tivos e os limites da repercussão dos efeitos jurídicos da extinção do ato por essa forma. Modalidades de extinção dos atos administrativos Os atos administrativos podem ser extintos de forma natural, mediante cum- primento de efeitos ou, ainda, diante do advento de termo fi nal (prazo) ou da ocorrência de uma condição resolutiva. Também são formas de extinção dos atos administrativos: a renúncia, nos casos de desaparecimento da pessoa ou coisa que recai; a retirada, que poderá ocorrer mediante a anulação do ato administrativo e revogação; a cassação, caducidade e contraposição (também conhecida por derrubada). Extinção natural A extinção de forma natural do ato administrativo decorre do efetivo cum- primento de todos os efeitos nele intentados e pelo advento do termo fi nal ou prazo atribuído, naqueles atos sujeitos a termo e nos casos de esgotamento, puro e simples, do conteúdo jurídico da conduta prevista. Assim, a extinção objetiva ocorre após o desaparecimento do objeto do ato administrativo. Já a extinção subjetiva ocorre após o desaparecimento do sujeito destinatário do ato administrativo. Renúncia A renúncia decorre da manifestação de vontade do destinatário do ato admi- nistrativo. Assim, quando o benefi ciário de um ato administrativo não tem mais interesse em gozar dos seus benefícios, ele pode renunciar a ele, o que gerará automaticamente a extinção do respectivo ato. Retirada Quando um ato administrativo é anulado (por motivo de ilegalidade), revogado (por motivo de conveniência e oportunidade) ou cassado (por descumprimento de uma condição essencial, pelo benefi ciário), estamos diante da retirada, que se trata de uma forma de extinção precoce do ato administrativo. Extinção dos atos administrativos2 Na retirada, há extinção do ato a partir de uma determinada conduta estatal, a partir da edição de um ato concreto que a desfaça. A partir disso, dadas as peculiaridades, a retirada se apresenta em diferentes situações, que, em linhas gerais, são a anulação e a revogação. A anulação é a retirada do ato administrativo em decorrência da invalidade (ilegalidade) e poderá ser constatada tanto pela Administração Pública (princípio da autotutela) quanto pelo Poder Judiciário. Ocorre quando há um vício no ato relativo à legalidade ou legitimidade; nunca por questões de mérito administrativo. Ou melhor, esse mérito não é passível de controle de legalidade; isso é o mesmo que dizer que um ato nunca será anulado por ser considerado inconveniente. A revogação é a retirada, do mundo jurídico, de um ato válido, mas que, se- gundo critério discricionário da Administração Pública, tornou-se inoportuno ou inconveniente. Nesse caso, diferentemente da anulação, somente a própria Administração Pública que exarou o respectivo ato poderá realizar sua extinção, não existindo espaço para a atuação jurisdicional. Diante da conveniência e da oportunidade, que são da competência exclusiva da Administração Pública, não cabe ao Poder Judiciário interferir, sob pena de caracterização de interferência indevida entre os poderes. Cassação A cassação do ato ocorre nas hipóteses em que este é extinto por ilegalidade superveniente em razão do descumprimento de requisitos impostos por lei para sua expedição por aquele que é seu benefi ciário. Portanto, quando o benefi ciário do ato deixar de cumprir as condições anteriormente requeridas para expedição do ato, caberá à Administração Pública cassá-lo. Trata-se de uma hipótese e de ilegalidade superveniente por culpa ex- clusiva do beneficiário. Na doutrina administrativista, a cassação também é considerada uma forma de sanção, haja vista que é consequência diretada não manutenção pelo beneficiário das exigências atinentes ao ato expedido. 3Extinção dos atos administrativos Caducidade A caducidade do ato administrativo decorre do surgimento de uma nova norma jurídica que venha contrariar aquela que lhe deu origem. Assim, restando a edição de uma nova lei, que traga disposições que contrariem aquele que deu fundamento para a edição do ato administrativo, sua extinção será obrigatória. Nesse caso, também estamos diante de uma hipótese de ilegalidade, mas que não decorre de qualquer culpa do beneficiário do ato, mas de uma alteração da legislação que modifica os critérios intrínsecos do próprio ato. A caducidade, como forma de extinção dos atos administrativos, não pode ser con- fundida com a caducidade atinente aos contratos administrativos de concessão de serviços públicos, regulamentados na forma da Lei Federal nº. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Isso porque a caducidade do contrato de concessão é uma forma de rescisão unilateral de contrato, por motivo de inadimplemento da empresa concessionária. Contraposição A contraposição ocorre quando um ato é derrubado em decorrência da edição de um novo ato que impede a manutenção daquele até então vigente. Nesse caso, os motivos que levam à contraposição de um e outro ato não decorrem de qualquer ilegalidade, mas tão somente da impossibilidade de manutenção do ato anterior, porque este colide diretamente com o novo ato, uma vez que tratam da mesma matéria. Convalidação dos atos administrativos A convalidação ou o saneamento é o ato pelo qual é suprido o vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos à data em que foi praticado. Por exemplo, em caso de ato vinculado praticado por autoridade incompe- tente, a autoridade competente não poderá deixar de convalidá-lo se estiverem presentes os requisitos para a prática do ato; a convalidação é obrigatória para dar validade aos efeitos já produzidos. Se os requisitos legais não estiverem presentes, ela deverá necessariamente anular o ato. Extinção dos atos administrativos4 No entanto, se o ato praticado por autoridade incompetente é discricionário e, portanto, admite apreciação subjetiva quanto aos aspectos de mérito, não pode a autoridade competente ser obrigada a convalidá-lo, porque é obrigada a aceitar a mesma avaliação subjetiva feita pela autoridade incompetente. Nesse caso, poderá convalidar ou não, dependendo de sua própria apreciação discricionária. Há três formas de convalidação: ratificação — consiste em a autoridade ratificar o ato, atestando ser a mesma que praticou o ato anterior ou um superior hierárquico, sendo imprescindível que a lei lhe haja conferido essa competência específica; reforma — o aproveitamento se admite mediante um novo ato, que suprima a parte inválida do ato anterior, mantendo sua parte válida; conversão — assemelha-se à reforma. Nesse caso, a Administração Pública, após retirar a parte inválida do ato anterior, processará sua substituição por uma nova parte, de modo que o novo ato passa a conter a parte válida anterior e uma nova parte, nascida com o ato de aproveitamento. Não obstante, mesmo sendo possível a convalidação em razão de alguns ví- cios, nem todos permitem que assim seja corrigido. Assim, os vícios insanáveis impedem o aproveitamento do ato, ao passo que os vícios sanáveis possibilitam a convalidação. São convalidáveis os atos que tenham vício de competência e de forma. Também é possível convalidar atos com vício no objeto ou conteúdo, mas apenas quando se tratar de conteúdo múltiplo, ou seja, quando a vontade administrativa se preordenar a mais de uma providência administrativa no mesmo ato. Os vícios insanáveis tornam os atos inconvalidáveis. Anulação dos atos administrativos e seus efeitos A anulação ou a invalidação é o desfazimento do ato administrativo, com base no seu poder de autotutela, sobre os próprios atos. Também pode ser feita pelo Poder Judiciário, mediante provocação dos interessados, que poderão utilizar, para esse fi m, as ações ordinárias e especiais previstas na legislação processual ou os remédios constitucionais de controle judicial da Administração Pública. A anulação, em tese, é ato vinculado. Assim, a Administração Pública tem, em regra, o dever de anular os atos ilegais para que seja cumprido o princípio da legalidade. No entanto, poderá deixar de fazê-lo, em circunstâncias deter- 5Extinção dos atos administrativos minadas, quando o prejuízo resultante da anulação puder ser maior do que o decorrente da manutenção do ato ilegal; nesse caso, é o interesse público que norteará a decisão. As nulidades no Direito Privado obedecem a um sistema dicotômico, composto da nulidade e da anulabilidade, a primeira figurando no art. 166 e a segunda no art. 171 do Código Civil. No Direito Civil, constam as diferenças entre a nulidade absoluta e relativa. A principal diferença é que, na nulidade absoluta, o vício não pode ser sanado, enquanto que, na nulidade relativa, pode ser sanado. Assim, a nulidade absoluta pode ser decretada pelo juiz de ofício ou mediante provocação do interessado ou do Ministério Público (art. 168 do Código Civil), já a nulidade relativa só pode ser decretada se provocada pela parte interessada. No Direito Administrativo, são duas as diferenças básicas entre a nulidade e a anu- labilidade: a nulidade não admite convalidação, ao passo que, na anulabilidade, ela é possível. As nulidades e as anulabilidades se referem aos cinco elementos do ato jurídico, definidos no art. 2º da Lei de Ação Popular, listados a seguir. Vício no elemento da competência decorrente da inequação entre a conduta e as atribuições do agente — é o caso em que o agente pratica o ato que não se inclua no círculo de suas atribuições; decorre diretamente do exercício da função com excesso de poder. Vício no elemento finalidade — compete à prática de ato direcionado a interesses privados, em que o agente confere autorização apenas para aquele a quem pretende beneficiar. Vício de forma — provém de ato que não observe ou omita o meio de exteriorização exigido para o ato ou que não atenda ao procedimento previsto em lei como necessário à decisão que a Administração Pública deseja tomar. Vício do elemento motivo — ocorre de três modos: inexistência de fundamento para o ato; fundamento falso, vale dizer, incompatível com a verdade real; e fundamento desconexo com o objetivo pretendido pela Administração Pública. Extinção dos atos administrativos6 Vício no elemento objeto — consiste na prática de ato dotado de con- teúdo diverso daquele que a lei autoriza ou determina; há vício se o objeto é ilícito, impossível ou indeterminável. A anulação produz, em regra, efeitos ex tunc, ou seja, retroativos à data em que foi emitido o ato. Ela é efetível pela Administração Pública ou pelo Poder Judiciário. O primeiro caso compreende o poder de autotutela da Administração Pública, consagrado nas Súmulas nº. 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal (STF), nos seguintes termos: Súmula 346 A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. [...] (BRASIL, 1963, documento on-line). Súmula 473 A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque dêles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. [Sic] (BRASIL, 1969, documento on-line). Caso a anulação do ato administrativo afete interesses ou direitos de ter- ceiros, ela deve ser precedida do contraditório (art. 5º, LV, da Constituição Federal) (BRASIL, 1988, documento on-line). Ocorre quando há um vício no ato relativo à legalidade ou legitimidade; nunca por questões de mérito administrativo. Ou melhor, esse mérito não é passível de controle de legalidade; isso é o mesmo que dizer que um ato nunca será anulado por ser considerado inconveniente.Um vício derivado de legalidade ou legitimidade pode ser sanável ou não. O correto é dizer que a Administração Pública deve anular os seus atos que contenham vícios insanáveis, mas pode anular, ou convalidar, os atos com vícios sanáveis que não acarretem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiro. Nesse sentido, a Lei nº. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, nos termos do art. 53, estabelece que a anulação seria obrigatória, mesmo diante de qualquer vício. Vejamos: Art. 53 A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportuni- dade, respeitados os direitos adquiridos. (BRASIL, 1999, documento on-line). 7Extinção dos atos administrativos Com a anulação, retiram-se do mundo jurídico os atos com defeitos, re- troagindo seus efeitos ao momento da prática do ato (ex tunc), desse modo, os efeitos produzidos serão desconstituídos. Esses efeitos devem ser resguardados ao terceiro de boa-fé, ou seja, os eventuais efeitos já produzidos antes da anulação do ato não serão desfeitos; o que não significa que o ato nulo venha gerar direito adquirido. O desfazimento do ato pode ser feito tanto pela Administração Pública (autotutela), de ofício ou provocação, quanto pelo Poder Judiciário. Embora a anulação seja um poder-dever da Administração Pública, a doutrina traz a hipótese de que a anulação de um ato venha a afetar o interesse do administrador, modificando sua situação jurídica. Contudo, nessa situação, deve ser instaurado um procedimento em que se dê a oportunidade de apresen- tar suas alegações do motivo de não ser feita a anulação de determinado ato. O STF tem por entendimento consolidado que “[...] a partir de então, qualquer ato da Administração Pública capaz de repercutir sobre a esfera de interesses do cidadão deveria ser precedido de procedimento em que se assegurasse, ao interessado, o efeito exercício dessas garantias” — o direito ao contraditório e à ampla defesa — (Informativo nº. 641 do STF) (BRASIL, 2011, documento on-line). Esse entendimento é aplicável a todas as formas de desfazimento de atos administrativos pela Administração Pública. Na esfera federal, o art. 54 da Lei nº. 9.784/1999 estabelece que o prazo para anulação de atos ilegais (vícios sanável ou insanável) decai em 5 anos, quando os efeitos forem favoráveis ao administrado, salvo comprovada má-fé: Art. 54 O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar- -se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato. (BRASIL, 1999, documento on-line). O STF tem entendimento de que o art. 54 da Lei nº. 9.784/1999 deva ser afastado quando se trate de anular atos que contrariem flagrantemente a Constituição Federal. A decisão foi prolatada pelo rel. Min. Teori Zavascki (Informativos nº. 613 e 624 do STF). Vejamos: Extinção dos atos administrativos8 CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO, MEDIANTE REMOÇÃO, SEM CONCURSO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. ART. 236, E PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999. PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais. As normas estaduais editadas anteriormente, que admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas. 2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é essen- cialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem. 3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei 9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias ex- trajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das exigências prescritas no seu art. 236. 4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público, decorrente de remoção, com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Juris- prudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário de 19/6/2013. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, AG. REG. EM MS N. 29.537-DF, RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI). (BRASIL, 2016, docu- mento on-line). Sobre os efeitos da anulação de desapropriação, em razão de penhora em bem imóvel, segundo decisão do Tribunal Superior do Trabalho, acesse o link a seguir: https://qrgo.page.link/qE1Aj 9Extinção dos atos administrativos Revogação dos atos administrativos e sua repercussão jurídica A revogação é o ato administrativo discricionário pelo qual a Administração Pública extingue um ato válido, por razões de oportunidade e conveniência. A revogação dos atos produz efeitos ex nunc, ou seja, dali para frente, não abarca tempo pretérito da existência do ato, preservando todos os direitos adquiridos antes da sua extinção. Trata-se, portanto, de um ato discricionário e tem como critérios a con- veniência e oportunidade; ou seja, há o controle de mérito, que restará a ser analisado pela Administração Pública. Essa forma de retirada do ato admi- nistrativo somente poderá incidir sobre os atos válidos. O ato revogado compete privativamente à Administração Pública, podendo outros Poderes (Poder Legislativo e Judiciário) também efetuá-lo, desde que sejam atos seus, editados por eles mesmos, no exercício de funções adminis- trativas atípicas ou acessórias. Existem determinadas situações que, pelos efeitos produzidos ou pela própria natureza do ato administrativo, não são suscetíveis de modificação. São os chamados atos irrevogáveis, decorrentes das limitações ao poder de revogar. Assim, são insuscetíveis de revogação os atos administrativos, nas seguintes hipóteses: atos consumados, que já produziram seus efeitos; atos vinculados, porque nestes não há os aspectos concernentes à opor- tunidade e conveniência. Da mesma forma, a revogação não poderá atingir os meros atos administrativos, segundo a doutrina de Maria Sylvia Di Pietro (2013), como certidões, atestados, vetos e pareceres, porque seus efeitos decorrem dos termos estabelecidos pela lei; atos que já geraram direitos adquiridos, de acordo com a Constituição Federal (art. 5º, XXXVI) — ver Súmula nº. 473 do STF; atos que integram um procedimento administrativo — porque esse procedimento se constitui uma sucessão ordenada de atos, e, a cada prática do ato, passa-se a uma nova etapa, ocorrendo assim a preclusão em relação à etapa anterior. Extinção dos atos administrativos10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm. Acesso em: 12 out. 2019. BRASIL. Lei nº. 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1 fev. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9784.htm. Acesso em: 12 out. 2019. BRASIL. SupremoTribunal Federal. Ag. Reg. em MS n. 29.537-DF, rel. Min. Teori Zavascki. Informativo STF, n. 820. Brasília, 4 a 8 abr. 2016. Disponível em: http://www.stf.jus.br/ arquivo/informativo/documento/informativo820.htm. Acesso em: 12 out. 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 594296/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 21.9.2011. In- formativo STF, n. 641. Brasília, 19 a 23 set. 2011. Disponível em: http://www.stf.jus.br/ arquivo/informativo/documento/informativo641.htm. Acesso em: 12 out. 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmulas nº. 346. Sessão Plenária, 13 dez. 1963. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas. asp?sumula=1576. Acesso em: 12 out. 2019. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmulas nº. 473. Sessão Plenária, 03 dez. 1969. Dispo- nível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=473. NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas. Acesso em: 12 out. 2019. DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2013. Leituras recomendadas CARVALHO, M. Manual de Direito Administrativo. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2015. CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2014. MARINELA, F. Direito Administrativo. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2007. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2014. 11Extinção dos atos administrativos DICA DO PROFESSOR A improbidade administrativa é instituída e disciplinada pela Lei de Improbidade Administrativa (LIA) – Lei Federal n.° 8.429/1992, cujos artigos enumeram e tipificam os atos ímprobos. Dessa forma, na hipótese de uma autoridade administrativa realizar um ato viciado no elemento finalidade, está por agir em desvio de poder e, portanto, realizando um ato de improbidade administrativa, segundo o art. 12 da Lei de Improbidade, porque atenta contra os princípios da Administração. Veja na Dica do Professor, aspectos gerais da improbidade e sua regulação no âmbito jurídico. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A influência da Lei 13.655/2018 na revogação de licitações Leia sobre a revogação de licitações pública, a partir da leitura do texto a seguir, de autoria de Cristiana Fortini, publicado no site Consultor Jurídico, em 15 de agosto de 2019. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! AGU Explica - Autotutela Neste vídeo você saberá a respeito do princípio da autotutela e seu exercício pela Administração. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Efeito ex tunc X Efeito ex nunc - DIDÁTICA TOTAL Veja neste vídeo, produzido pela AGU, o que se entende por efeitos ex tunc e ex nunc. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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