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Intervenção do Estado no domínio econômico APRESENTAÇÃO Embora o nosso ordenamento jurídico preveja a livre iniciativa como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, isso não significa que o Estado seja completamente alheio ou indiferente à ordem econômica. Muito pelo contrário, o Estado atua no domínio econômico de diversos modos, dentre os quais é possível citar a atividade fiscalizatória da inciativa privada, bem como o desenvolvimento de empresas estatais, cujo objetivo é atuar diretamente na economia de certo setor. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre as formas de atuação do Estado no domínio econômico. Conhecerá o que são as agências reguladoras e suas respectivas áreas de atuação. Além disso, reconhecerá mais detalhadamente o papel e a estrutura do CADE. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as formas de atuação do Estado no domínio econômico.• Relacionar as agências reguladoras e suas respectivas áreas de atuação.• Analisar o papel e a estrutura do CADE.• INFOGRÁFICO De um ponto de vista funcional, com relação às agências reguladoras, destaca-se que, embora integrem a administração pública indireta, pertencendo ao Poder Executivo, elas também desempenham atividades assemelhadas às dos Poderes Legislativo e Judiciário. Confira no Infográfico mais noções sobre as agências reguladoras. CONTEÚDO DO LIVRO Entre as modalidades de atuação do Estado no domínio econômico, encontra-se a possibilidade de que este venha a tabelar preços de produtos ou serviços. Com isso, garante-se que abusos não sejam cometidos e que alguns setores da economia permaneçam estáveis. No capítulo Intervenção do Estado no domínio econômico, da obra Direito administrativo, você identificará as formas de atuação do Estado no domínio econômico. Além disso, terá noções sobre as agências reguladoras. Por fim, conhecerá também o papel e a estrutura do CADE. Boa leitura. DIREITO ADMINISTRATIVO Cássio Vinícius Steiner de Sousa Intervenção do Estado no domínio econômico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as formas de atuação do Estado no domínio econômico. Relacionar as agências reguladoras e suas respectivas áreas de atuação. Analisar o papel e a estrutura do Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Introdução A possibilidade de que o Poder Público atue na ordem econômica tem pre- visão constitucional e consiste em uma certa relativização do fundamento constitucional da livre-iniciativa. Nesse contexto, entre outras funções, o Estado possui um papel fiscalizatório da atuação privada no domínio econômico, bem como pode punir aqueles que cometem infrações contra a ordem econômica. Além disso, o Estado também pode atuar em regime de monopólio em alguns setores estratégicos para a nação. Neste capítulo, você vai ler sobre as formas de atuação do Estado no domínio econômico e as agências reguladoras, além de saber mais sobre o papel e a estrutura do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Atuação do Estado no domínio econômico A Constituição Federal prevê, no art. 1º, IV, a livre-iniciativa como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Isso signifi ca que, em essên- cia, a atuação no domínio econômico é eminentemente privada e livre. Sobre isso, ao dispor dos objetivos da República no art. 3º, a Constituição Federal prevê, entre outros, a garantia do desenvolvimento nacional (art. 3º, II) e a erradicação da pobreza e marginalização, com a redução das desigualdades sociais e regionais (art. 3º, III). Embora a livre-iniciativa seja um valor a ser observado, isso não pode ocorrer a qualquer custo, em especial nos casos em que a livre-iniciativa puder acarretar retrocessos nacionais ou o aumento de pobreza ou de desigualdades sociais e regionais. Por esses e outros motivos, ao dispor sobre a ordem econômica e financeira entre os arts. 170 a 181, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Es- tado atuar no domínio econômico. É possível tal atuação em duas categorias, a saber: a atuação direta e a atuação indireta. Enquanto a atuação direta consiste em um Estado que atua de modo horizontal ou exclusivo em um certo setor da economia, a atuação indireta consiste em atuação estatal vertical, regulando um domínio econômico. Com relação à atuação direta, conforme o art. 173 da Carta Magna, ressalvadas as estipulações constitucionais, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definido em lei. Assim, além de a atuação estatal direta estar limitada a certos contextos específicos, também é subsidiária em relação ao fundamento constitucional da livre-iniciativa, pois, ressalvados os casos de segurança nacional ou relevante interesse público, apenas a iniciativa privada atua diretamente na grande maioria dos setores do domínio econômico. Com relação à atuação indireta do Estado no domínio econômico, o art. 174, § 4º, da Constituição Federal dispõe que a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. Assim, o Estado tem o poder de punir certas práticas econômicas indesejadas. Além disso, o art. 174 dispõe sobre o Estado enquanto agente normativo da atividade econômica. Nesse contexto, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Conforme Hely Lopes Meirelles (2016), entre os meios de atuação do Estado no domínio econômico, cinco deles são fundamentais, os quais serão abordados a seguir. Intervenção do Estado no domínio econômico2 Monopólio Conforme Hely Lopes Meirelles (2016), o monopólio é a exclusividade de domínio, exploração ou utilização de determinado bem, serviço ou atividade. Em outras palavras, por meio do regime de monopólio, o Estado atua de modo privativo em um certo setor da economia. Nesse contexto, se um Estado atua de modo exclusivo em toda a economia, recusando, assim, a livre-iniciativa, ele se assemelhará ao que ocorre em regimes socialistas. Caso contrário, se ele monopoliza apenas alguns setores estratégicos, como o nosso, o Estado tem feições capitalistas. A Constituição Federal, no art. 177, estabelece os setores da economia em que o Estado atuará em regime de monopólio (BRASIL, 1988). Entre eles, citamos: pesquisa; refinação; importação; exportação; transporte de tudo ligado a petróleo, gás natural, hidrocarbonetos flui- dos, minérios, minerais nucleares e seus derivados. Repressão ao abuso do poder econômico Se o domínio econômico é um poder e vivemos em uma sociedade de orien- tação capitalista, é inegável que o poder econômico de um dado setor da economia costuma se concentrar nas mãos de poucos. Isso, por si só, não necessariamente requer que haja uma violação da justiça social ou importe em algo essencialmente indigno. Porém, se o poder excede os limites e se torna abuso e se aqueles que dominam um certo setor atuam de modo nocivo na economia, o Estado possui mecanismos para reprimi-los. Conforme o art. 174, § 4º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), com- pete ao Estado reprimir abusos que tenham por objetivos a dominação dos mercados, a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário dos lucros. Para instrumentalizar o combate a tais abusos, promulgou-se a Lei nº. 12.529, de 30 de novembro de 2011, cujo teor tem como objetivo estruturar o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência e dispor sobre os meios de prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. O art. 36 da referida lei estabelece algumas das condutas que constituem infrações na ordem econômica. São elas: 3Intervençãodo Estado no domínio econômico limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre-iniciativa; dominar mercado relevante de bens ou serviços; aumentar arbitrariamente os lucros; exercer de forma abusiva posição dominante. Além disso, a mesma lei também prevê sanções em caso da ocorrência de algum abuso, como, por exemplo, multas, proibição de contratar com institui- ções financeiras ou de participar de licitações (arts. 37 e 38) (BRASIL, 2011). Controle do abastecimento Sobre o controle do abastecimento, Hely Lopes Meirelles ensina que se trata do “[...] conjunto de medidas destinadas a manter no mercado consumidor matéria- -prima, produtos ou serviços em quantidade necessária às exigências de seu consumo” (MEIRELLES, 2016, p. 774). Nesse contexto, cumpre ao Estado atuar na ordem econômica para garantir o abastecimento de matéria-prima, produtos e serviços dos quais depende o mercado consumidor. Assim, por exemplo, caso a iniciativa privada não tenha condições de disponibilizar um certo serviço de modo satisfatório, o Estado deverá atuar para garantir que a demanda seja satisfeita. É possível distinguir as possibilidades de controle do abastecimento do Estado com base em dois critérios: duração e abrangência. Com relação à duração, a atuação do Estado poderá ser permanente ou transitória. Já com relação à abrangência, a atuação do Estado pode ser total ou parcial. No pri- meiro caso, o Estado detém o monopólio sobre um certo domínio da economia. No segundo caso, o Estado apenas participa de um domínio da economia, sem qualquer regime de exclusividade. Tabelamento de preços Em nossa sociedade, os bens, produtos e serviços costumam possuir algum preço. Isto é, os bens ou serviços utilizados possuem um valor pecuniário. Com relação à sua origem, conforme a lição de Hely Lopes Meirelles (2016, p. 776), é possível distinguir o preço em três categorias, a saber: privado; semiprivado; público. Intervenção do Estado no domínio econômico4 O preço privado refere-se aos valores de produtos ou serviços determinados pela atuação do mercado em regime de livre concorrência. Já o preço semiprivado é aquele cuja determinação do valor é mista, cabendo tanto à atuação do Poder Público quanto à atuação da iniciativa privada. Por fim, o preço público é aquele estabelecido direta e exclusivamente pelo Estado, a despeito de questões ligadas à oferta e à procura. O tabelamento de preços, cuja atribuição para a prática é privativa da União, incide apenas sobre o domínio do preço privado. Nesse contexto, o Estado atua apenas como ente regulador das práticas da iniciativa privada e da oferta e procura, de modo a garantir que não existam abusos ou assimetrias no mercado. Criação de empresas estatais Além dos modos mencionados, o Estado também pode atuar na ordem eco- nômica mediante a criação de empresas estatais: as sociedades de economia mista e as empresas públicas. Nesse contexto, o art. 37, XIX, da Constituição Federal dispõe que elas poderão ser instituídas mediante autorização legal específi ca. Ademais, as empresas estatais não serão instituídas por qualquer razão, mas, conforme o art. 173 da Constituição Federal, apenas quando fundamentais aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme defi nido em lei. As empresas públicas e as sociedades de economia mista assemelham-se pelo fato de que ambas são empresas estatais. Além disso, ambas são consideradas pessoas jurídicas de Direito Privado que atuam no setor econômico. Distinguem-se, porém, no que diz respeito à formação de seu capital. Enquanto as empresas públicas têm capital exclusivamente público, as sociedades de economia mista também possuem capital privado. Embora possua capital privado, o controle acionário da sociedade de economia mista sempre será público. 5Intervenção do Estado no domínio econômico Agências reguladoras Após apresentar os principais modos de atuação estatal no domínio econô- mico, o próximo passo da apresentação consiste em abordar um importante mecanismo introduzido em 1996 em nosso ordenamento jurídico para regular os setores da economia: as agências reguladoras. Sobre sua origem, as agências reguladoras são relativamente recentes em nosso ordenamento jurídico, tendo surgido apenas após 1996, com o advento da implantação do sistema gerencial da Administração Pública. Com relação a tal sistema, Marcelo Alexandrino (2017, p. 201) afirma que: [...] a tese central dessa orientação é a de que o Estado é muito menos eficiente do que o setor privado quando exerce diretamente atividades econômicas em sentido amplo — prestação de serviços públicos passíveis de serem explorados economicamente, prestação de serviços de natureza privada e exploração de atividades industriais e comerciais. Tomando a ideia do sistema gerencial por referência e com vistas à eficiência, o objetivo era diminuir a atuação direta do Estado em diversos setores da economia, sobretudo em áreas cuja atuação não era necessária. Embora tenha havido uma retirada da atuação estatal em diversos setores da economia, isso não significou que o Estado simplesmente as abandonou aos interesses da iniciativa privada. Ocorre que, com a retirada da atuação direta do Estado em diversos setores, intensificaram-se os modos como Estado atua de forma indireta na economia, em especial mediante a realização de atividades regulatórias e fiscalizatórias. Assim, a adoção do sistema gerencial trouxe uma mudança tanto no enfoque quanto no modo de atuação do Estado em diversos setores da economia. Para acompanhar tais mudanças, além dos mecanismos anteriormente previstos para a regulação e a fiscalização dos setores da economia (em especial, o Poder Legislativo e os órgãos específicos da administração direta), foram desenvolvidas as chamadas agências reguladoras. Como não existe uma definição legal de agência reguladora, a doutrina costuma defini-la com base em suas características mais salientes. Nesse contexto, Marcelo Alexandrino (2017) conceitua as agências reguladoras como “[...] entidades administrativas com alto grau de especialização técnica, integrantes da estrutura formal da administração pública, instituídas como autarquias sob regime especial”. Além disso, valendo-se de uma definição finalística, o mesmo autor afirma que elas têm como função “[...] regular um setor específico de atividade econômica ou um determinado serviço Intervenção do Estado no domínio econômico6 público” (ALEXANDRINO, 2017, p. 204). Assim, tratam-se de entidades administrativas, instituídas como autarquias sob regime especial para regular setores da economia. Com relação à forma jurídica das agências reguladoras, embora até hoje todas tenham sido criadas como autarquias sob regime especial, não há qualquer imposição legal nesse sentido. Apesar disso, é consenso na doutrina que — independentemente do que for — as agências reguladoras devem ser instituídas como personalidade jurídica de direito público. Com efeito, é perfeitamente possível que uma dada agência reguladora venha a ser criada como uma fundação pública com personalidade jurídica de direito público. Com relação às características comuns às agências reguladoras, conforme Marcelo Alexandrino (2017), podemos elencar pelo menos quatro. A primeira diz respeito à sua capacidade regulatória. Nesse contexto, as agências reguladoras desempenham atividades regulatórias de serviços públicos ou atividades de ordem econômica. A segunda característica diz que as agências reguladoras possuem instrumentos ou meios que garantam sua autonomia funcional ante o Poder Execu- tivo. Já a terceira diz respeito ao fato de que elas possuem poder normativo relativo ao seu âmbito de atuação. Por fim, a última afirma que a atuação das agências reguladoras está sujeita ao controle judicial e legislativo (ALEXANDRINO, 2017). Conforme Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2018), podemosclassificar as agências reguladoras em duas espécies: 1. as que possuem poder de polícia específico para fiscalizar e reprimir a atuação econômica da iniciativa privada; 2. as que regulam e fiscalizam atividades de concessionários ou permis- sionários de serviços públicos. No primeiro caso, citamos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde (ANS). No segundo caso, citamos as agências reguladoras destinadas a fiscalizar os serviços de telecomunicações ou transporte público. Com relação às funções desempenhadas, embora as agências reguladoras integrem a Administração Pública indireta, pertencendo ao Poder Executivo, elas também desempenham atividades semelhantes às dos Poderes Legislativo e Judiciário. Nesse contexto, conforme Marcelo Alexandrino (2017), podemos elencar três funções exercidas pelas agências reguladoras: 1. aplicam de ofício a lei aos casos concretos não litigiosos ligados à sua área de atuação; 7Intervenção do Estado no domínio econômico 2. editam as normas — dentro de sua esfera de atuação — com vistas à implementação das políticas previamente elaboradas pelos Poderes Legislativo e Executivo; 3. solucionam conflitos ligados à sua área de atuação, de modo extrajudicial (sem eliminar a possibilidade de ingresso judicial posterior). Com relação às agências reguladoras existentes, abordaremos aquelas mais salientes. Nesse contexto, a primeira delas é a Agência Nacional de Energia Elétrica, criada pela Lei nº. 9.427, de 26 de dezembro de 1996, cujas principais funções são a fiscalização e a regulação do setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Outra agência reguladora importante é a Agência Nacional de Telecomunicações, criada pela Lei nº. 9.472, de 16 de julho de 1997, cujos objetivos são a fiscalização e a regulação do setor de telecomunicações. Também existe a Agência Nacional do Petróleo, criada pela Lei nº. 9.478, de 6 de agosto de 1997, cujo objetivo é regular e fiscalizar as atividades ligadas ao petróleo. No contexto da saúde, a Lei nº. 9.782, de 26 de janeiro de 1999, criou a Anvisa, cuja função é exercer o controle sanitário de todos os produtos e serviços ligados a áreas como medicamentos, alimentos, cosméticos, entre outros, com a finalidade de proteger a saúde do povo. Ainda no contexto da saúde, a Lei nº. 9.961, de 28 de janeiro de 2000, criou a ANS, cuja função é regulamentar e garantir o cumprimento dos contratos de plano de saúde. No contexto do meio ambiente, a Lei nº. 9.984, de 17 de julho de 2000, criou Agência Nacional de Águas, cuja atribuição é controlar e fiscalizar tudo que diga respeito às atividades ligadas ao aproveitamento de recursos hídricos. No contexto dos transportes, a Lei nº. 10.233, de 5 de junho de 2001, criou a Agên- cia Nacional de Transportes Terrestres e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, cujas funções estão relacionadas à regulação e fiscalização da prestação de serviços de transporte terrestre e aquaviário, respectivamente. Papel do Conselho Administrativo de Defesa Econômica O Cade é uma autarquia federal, com atuação vinculada ao Ministério da Justiça e com jurisdição em todo o território nacional, cuja função é prevenir e apurar abusos no domínio econômico. Nesse contexto, o Cade fi scaliza a atuação da iniciativa privada no domínio econômico e, se necessário, julga infrações de ordem econômica. Intervenção do Estado no domínio econômico8 A estrutura e o funcionamento do Cade foram originalmente regulados na Lei nº. 4.137, de 10 de setembro de 1962, e posteriormente reformulados com a Lei nº. 12.529/2011. Com relação à sua estrutura, conforme o art. 5º da Lei nº. 12.529/2011, o Cade é composto por três órgãos, abordados a seguir. Tribunal Administrativo de Defesa Econômica Conforme o art. 6º da Lei nº. 12.529/2011, o tribunal administrativo é ór- gão judicante, composto por um presidente e seis conselheiros escolhidos entre cidadãos com mais de 30 anos de idade, de notório saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado Federal. Com relação ao seu mandato, o § 1º do mesmo artigo estabelece que será de 4 anos, não coincidentes, vedada a recondução. Com relação às atribuições do plenário do tribunal, o art. 9º estabelece um rol exemplificativo. Entre elas, citamos as atribuições de: decidir sobre a existência de infração à ordem econômica e aplicar as penalidades previstas em lei (art. 9º, II); decidir os processos administrativos para imposição de sanções administrativas por infrações à ordem econômica instaurados pela Superintendência-Geral (art. 9º, III); ordenar providências que conduzam à cessação de infrações à ordem econômica (art. 9º, IV); requisitar dos órgãos e das entidades da Administração Pública federal e requerer às autoridades de Estados, municípios, Distrito Federal e territórios as medidas necessárias ao cumprimento da lei. Superintendência-Geral Conforme o art. 12 da Lei nº. 12.529/2011, a Superintendência-Geral será composta por um superintendente-geral e dois superintendentes-adjuntos. O superintendente-geral será escolhido entre cidadãos com mais de 30 anos, notório saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeado pelo Pre- sidente da República, depois de aprovado pelo Senado Federal (art. 12, § 1º). Seu mandato será de 2 anos, permitida a recondução para um único período subsequente (art. 12, § 1º). No mais, os superintendentes-adjuntos serão in- dicados pelo superintendente-geral (art. 12, § 7º). 9Intervenção do Estado no domínio econômico O art. 13 estabelece uma série de atribuições da Superintendência-Geral. Entre elas, compete a ela o acompanhamento, permanente, das atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição dominante em mercado relevante de bens ou serviços para prevenir infrações da ordem econômica. Para tanto, também compete-lhe requisitar as infor- mações e os documentos necessários, mantendo o sigilo legal, quando for o caso (art. 13, II). Além disso, cabe a ela promover, em face de indícios de infração da ordem econômica, procedimento preparatório de inquérito administrativo e inquérito administrativo para apuração de infrações à ordem econômica (art. 13, III). Ademais, poderá a Superintendência-Geral decidir pela insubsistência dos indícios, promovendo o arquivamento dos autos do inquérito administrativo ou de seu procedimento administrativo (art. 13, IV). Outra competência importante da Superintendência-Geral consiste na instauração e instrução de processo administrativo para imposição de san- ções administrativas por infrações à ordem econômica, bem como ato de concentração, processo administrativo para análise de ato de concentração econômica e processo administrativo para imposição de sanções processuais incidentais instaurados para prevenção, apuração, prevenção ou repressão de infrações à ordem econômica. Departamento de Estudos Econômicos O art. 17 da Lei nº. 12.529/2011 estabelece que o Cade terá um Depar- tamento de Estudos Econômicos, dirigido por um economista-chefe, a quem incumbirá elaborar estudos e pareceres econômicos, de ofício ou por solicitação do plenário, do presidente, do conselheiro-relator ou do superintendente-geral, zelando pelo rigor e pela atuação técnica e científi ca das decisões e dos órgãos. Intervenção do Estado no domínio econômico10 ALEXANDRINO, M. Direito administrativo descomplicado. São Paulo: Método, 2017. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm. Acesso em: 11 out. 2019. BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm.Acesso em: 11 out. 2019. BRASIL. Lei nº. 12.529, de 30 de novembro de 2011. Diário Oficial [da] República Fede- rativa do Brasil, Brasília, DF, 2 dez. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm. Acesso em: 12 jun. 2018. DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2018. MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2016 Leituras recomendadas CARVALHO FILHO, J. S. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2014. PESTANA, M. Direito administrativo brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SANTANNA, G. Direito administrativo. 4. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015. (Série Objetiva). ZIMMER JUNIOR, A. Curso de direito administrativo. Rio de Janeiro: Método, 2009. 11Intervenção do Estado no domínio econômico DICA DO PROFESSOR A atuação do Estado na ordem econômica está disposta entre os artigos 170 e 180 da Constituição Federal. Neles, verificam-se dois modos distintos de atuação estatal na economia: o direto e o indireto. Enquanto o direto trata da atuação horizontal do Estado, o indireto trata da atuação vertical. Na Dica do Professor, veja mais detalhes sobre a atuação do Estado na economia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: AGU Explica: agências reguladoras As agências reguladoras são um importante instrumento criado a partir de meados da década de 90 para regular certos setores do domínio econômico. Para saber mais sobre as agências reguladoras, assista a este vídeo. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O que é o CADE? Com relação à sua estrutura, conforme o art. 5.º da Lei 12.529/11, o CADE é composto por três órgãos, a saber: o Tribunal Administrativo de Defesa Econômica, a Superintendência-Geral e o Departamento de Estados Econômicos. Para saber mais, assista ao vídeo a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!