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Direito Civil - Aula 3 - A escada Ponteana parte 2

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Prof. Gustavo trento
Direito Civil – A escada Ponteana parte 2
O Termo
O Termo é outro elemento acidental do negócio jurídico, que faz com que a eficácia desse negócio fique subordinada à ocorrência de evento futuro e certo
O termo se subdivide em termo inicial (início dos efeitos negociais) e termo final (eficácia resolutiva e põe fim às consequências do NJ)
Termo
Segundo Paulo Lôbo: todo negócio jurídico tem termos inicial e final, até mesmo quando aparenta ser instantâneo (compra e venda)
Relações entre Condição e Termo: 
Quando se realiza o evento de uma condição suspensiva, ela se extingue – eis o seu termo final. Mas ao mesmo tempo temos o termo inicial da eficácia do negócio jurídico
Exemplo: pai fala para filho que somente lhe dará um carro se ele passar no vestibular
Ou seja, o direito do filho de ganhar um carro já existia, mas estava suspenso enquanto não passasse no vestibular
Termo
Quando a condição resolutiva se realiza, fixa o termo final do negócio jurídico
Exemplo: um pai fala para o filho que pagará pensão alimentícia até que ele complete 25 anos
Ao completar tal idade, incide a condição resolutiva, que fixa o termo final do NJ
Daí o art. 135 do CC
Termo
Em relação ao art. 131 do CC, temos o seguinte exemplo
Termo inicial (inicia a eficácia do NJ):
Fulano assina, na data de hoje, contrato de aluguel de espaço para comemorar seu aniversário no dia 19 de dezembro. Trata-se de evento futuro e certo. 
Data da aquisição do direito: hoje
Data do exercício do direito (termo): 19 de dezembro
Termo final (extingue a eficácia do NJ):
Contrato de locação que terá fim daqui a 2 anos e 6 meses.
Encargo (ou modo)
O encargo é um ônus que recai sobre uma das partes do NJ, que deve suportá-lo, como requisito, para aquisição e exercício do direito
O campo preferencial de aplicação do encargo é nos NJ´s de liberalidade, principalmente a doação, mas também testamento
Pode consistir em obrigação de fazer, de não fazer ou de dar
Não necessariamente estará vinculada com o objeto do negócio jurídico
O encargo precisa ser aceito pelo destinatário
Caso estabelecido em contrato, o encargo o integra, podendo ser judicialmente exigido (como qualquer obrigação)
Recorde-se que toda doação precisa ser aceita, expressa ou tacitamente (art. 539 do CC)
Encargo (ou modo)
O encargo em regra não suspende a aquisição e nem o exercício do direito
Por exemplo, uma vez realizado o NJ, a cláusula do encargo não impõe nenhuma limitação à imediata aquisição ou ao pleno e imediato exercício do direito
Mas o encargo pode virar uma condição suspensiva, caso assim imposto pelo doador (art. 136 do CC)
Por fim, para encargos impossíveis, ver o art. 137
Vícios e Defeitos do Negócio Jurídico
Existem situações que maculam um ato jurídico celebrado; tais vícios atingem a vontade ou geram uma repercussão social, tornando o NJ passível de ação anulatória pelo prejudicado ou interessado
Temos os seguintes vícios da vontade:
Erro 
Dolo
Coação
Estado de perigo
Lesão
São vícios que afetam a validade do NJ, segundo degrau da Escada Ponteana
Vícios e Defeitos do Negócio Jurídico
Por outro lado, temos dois vícios sociais:
Simulação
Fraude contra credores
Possuem repercussão social, e são atentatórios à boa-fé
Atentar-se para o fato de que não se pode confundir os vícios do negócio jurídico com os vícios redibitórios (ou vícios do produto)
Os vícios do NJ afetam todos os NJ´s; já os redibitórios afetam os contratos, particularmente aqueles com disposição patrimonial (em caso de relação civil, artigos 441 a 446 do CC; já em caso de relação consumerista, artigos 18 e 26 do CDC)
Por fim, os vícios redibitórios estão no plano da eficácia do NJ
Erro e Ignorância
O Erro está tratado no art. 138 do CC
O Erro é sempre uma falsa noção, um engano acerca dos fatos (assim como no Direito Penal)
Pode ser um erro em relação a uma pessoa, ao objeto do NJ, ou a um direito
Tais negócios cometidos com erro são anuláveis, desde que o erro seja substancial 
A pergunta chave sobre um erro substancial é: “sabendo do erro, eu teria feito o negócio mesmo assim?”
Erro e Ignorância
Não mais interessa se o erro é escusável ou não, pois foi adotado o princípio da confiança
Exemplo: vendedor escuta a cliente comentar que gostaria de um relógio de ouro, mas se interessa por um que claramente é imitação, e não a avisa
(muito embora ainda haja discussão na doutrina acerca da necessidade de ser erro escusável ou não)
Erro e Ignorância
A ignorância já é uma ausência de conhecimento sobre algo, enquanto o erro seria um conhecimento incorreto
Por exemplo, se uma pessoa desconhece que uma característica do bem lhe diminui muito o valor (recorrência de problemas no câmbio de um veículo, que lhe causam má-fama e portanto dificuldade para revenda)
Em ambos os casos a pessoa se engana sozinha, parcial ou totalmente, sendo anulável o negócio sempre que tal erro ou ignorância for essencial ou substancial
O erro pode ser i) quanto à natureza/qualidade do negócio (o pessoa pensa que é de ouro), ii) quanto à identidade ou qualidade da pessoa (anulação de casamento por erro, 1.557 do CC), iii) erro de direito, ou error ir juris, “a” adquire de “b” o lote “x” ignorando que lei municipal proibia loteamento naquela localidade.
Erro e Ignorância
A regra do 139, III, do CC é exceção ao princípio da obrigatoriedade da lei, contido no art. 3º da LINDB
Já se o erro ou a ignorância forem acidentais (e não essenciais), não gerarão anulabilidade do negócio
O art. 140 trata do chamado erro quanto ao fim colimado: sempre fazemos um negócio jurídico com algum objetivo
Se esse objetivo estiver expresso como sendo sua razão determinante, e estiver informado por erro ou ignorância, o negócio pode ser anulado 
Erro e Ignorância
Já o art. 141 trata da hipótese em que, por meios indiretos (por exemplo, tecnologia) alguém manifesta erroneamente sua vontade – aplica-se aos contratos eletrônicos
O art. 142 trata de meros erros materiais, facilmente identificáveis como sendo erros
O art. 143 traz uma hipótese de erro de cálculo retificável
E o art. 144 busca preservar a relação jurídica quando o erro puder ser reparado
É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contados do dia em que se realizou o negócio jurídico, conforme art. 178, II do CC
Dolo
Segundo Flávio Tartuce, dolo é “o artifício ardiloso empregado para enganar alguém, com intuito de benefício próprio. O dolo é a arma do estelionatário”
O dolo faz com que a parte faça um negócio que normalmente não faria. Se o erro é um engano autoinflingido, o dolo é induzido por outrem
Mas o dolo tem que ser a causa do negócio jurídico, ou seja, tem que ser essencial, e não acidental (lateral). Pode também ser dolo por omissão.
Se for acidental, gera somente perdas e danos, cf. art. 146. O dolo acidental não altera o que a parte iria fazer, ou seja, ainda iria contratar, mas de outra maneira (parcelado; com uma permuta; de outra marca, etc.)
Dolo
O art. 148 trata do chamado “dolo de terceiro”; é alguém que não faz parte da relação jurídica
Um exemplo comum é a de um comprador e vendedor de imóvel, intermediada por corretor de imóveis que falsifica alguma informação sobre o bem
Tal negócio pode tanto ser anulado, quanto mantido com indenização
Dolo
Segundo Renan Lotufo, temos dolo de terceiro em três hipóteses:
1ª) o dolo é de terceiro, praticado com cumplicidade com a parte beneficiária; 
2ª) o dolo é de terceiro, a parte não cooperou na sua ocorrência mas tinha conhecimento, ou devia ter conhecimento pelas circunstâncias, do dolo do terceiro; 
3ª) o dolo é de terceiro, e é completamente ignorado pela parte beneficiada
À luz do art. 148 do CC, somente nos dois primeiros casos o contrato pode ser anulado.
Dolo
O art. 149 trata do dolo do representante; mas temos dois tipos de representantes: legais e convencionais (por convenção)No primeiro caso, o representado só responde pela vantagem auferida (se auferiu), uma vez que, sendo incapaz e não tendo escolhido o representante, não se pode atribuir-lhe ônus maior
Mas se a hipótese é de representação convencional, a responsabilidade do representado é solidária, pois ele terá culpa in eligendo ou in vigilando, tendo em vista que ou não escolheu adequadamente, ou não fiscalizou sua atuação, como deveria
Há de se conferir se o representante agiu conforme seu mandato, conforme art. 116 do CC
Dolo
Classificação dos tipos de dolo:
Dolus bonus: é aquele dolo tolerável, praticado nos meios comerciais; dolo legítimo do vendedor, que não tem a finalidade de prejudicar o comprador. É aceito desde que não configure publicidade abusiva (art. 37, §1° do CDC)
Dolus malus: tem o objetivo de enganar; causa anulabilidade
Da Coação
A coação é uma pressão, física ou moral, que visa a obrigá-lo a assumir uma obrigação
Art. 151 do CC
Temos uma divisão entre coação física e moral parecida com a do Direito Penal
Sempre caberá uma análise in concreto por parte do juiz, cf. art. 152
Não constituirá coação o exercício regular de um direito (como por exemplo, a busca do Poder Judiciário, ou o protesto de dívida em cartório, ou o receio de desagradar alguém a quem se respeita – art. 153 do CC
Os seguintes artigos tratam da coação por parte de terceiro: se o beneficiado sabe ou deveria saber, é anulável; se não sabe, subsiste
Do Estado de Perigo
O art. 156 do CC nos traz a definição do Estado de Perigo
Caracteriza-se por: situação de perigo conhecida da outra parte (elemento subjetivo) + onerosidade excessiva (elemento objetivo)
Tal ato pode ser anulado, segundo o art. 171, II
Exemplo recorrente é a exigência de cheque-caução para atendimento em hospital, em caso de emergência 
Para alguns doutrinadores, seria possível realizar somente uma revisão de tal negócio jurídico, mantendo a remuneração praticada no mercado
Para outros, deveria haver algum tipo de punição para o médico/hospital que agiu de má-fé
Desde 2012, tal prática é considerada criminosa, pelo art. 135-A do Código Penal

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