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Hipercolesterolemia familiar Definição A Hipercolesterolemia Familiar (HF) é uma doença genética do metabolismo das lipoproteínas cujo modo de herança é autossômico dominante e que se caracteriza por níveis muito elevados do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), e pela presença de sinais clínicos característicos, como xantomas tendíneos e risco aumentado de doença arterial coronariana prematura. Mutações A HF é uma doença genética cujo modo de herança é autossômico dominante, sendo o seu fenótipo decorrente, em grande parte dos casos, de defeitos no gene LDLR, que codifica o receptor de LDL (LDL-R), sede de mais de 1.600 mutações descritas até o momento; pode também ser secundário a defeitos no gene APOB, que codifica a apolipoproteína B-100 (Apo B-100), onde a Apo B-100 defeituosa possui menor afinidade pelo LDL-R; ou ainda, quando existe catabolismo acelerado do LDL-R, devido a mutações com ganho de função no gene PCSK-9, que codifica a proteína NARC-1, que participa do catabolismo do LDL-R. Frequência na população A frequência da HF na sua forma heterozigótica é de cerca de 1:500 indivíduos, sendo muito rara na forma homozigótica, onde se estima uma frequência de 1:1.000.000 de indivíduos afetados. A HF é um problema de saúde mundial reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que menos de 10% dos portadores de HF no mundo têm diagnóstico conhecido de HF, e menos de 25% recebem tratamento hipolipemiante. Metabolismo lipídico na hipercolesterolemia familiar A homeostase do colesterol no organismo depende do equilíbrio entre a síntese hepática e absorção intestinal desse composto, de um lado, e a sua excreção, especialmente pelas vias biliares, de outro. Quando há desequilíbrio dessa equação, como acontece na hipercolesterolemia familiar, o colesterol acumulado forma depósitos como os xantomas e placas de ateroma. No homem, a maior parte do colesterol presente no plasma compõe a fração lipoproteína de baixa densidade (LDL). As LDL são removidas da circulação para o interior das células por receptores da membrana celular que reconhecem a apolipoproteína (apo) B100, a única proteína existente nas LDL. Na hipercolesterolemia familiar ocorrem defeitos genéticos afetando o receptor da LDL e que resultam em diminuição da endocitose da lipoproteína. As várias centenas de polimorfismos no gene do receptor podem afetar tanto a estrutura do receptor que liga a apo B100 da LDL. Defeitos na apo B100, bem mais raros do que os do receptor da LDL (LDL-R), também são causa de hipercolesterolemia grave. Há também casos de hipercolesterolemia familiar em razão de mutações com ganho de função no gene PCSK-9, que codifica a proteína NARC-14, que participa do catabolismo do LDL-R. Assim descrita, a hipercolesterolemia familiar é um defeito de remoção das LDL da circulação. A HF é mais comumente atribuível a no gene LDLR, resultando em receptores de LDL com reduções funcionais (parcial a completa) em sua capacidade de remover LDL-c da circulação. Os pacientes podem ser receptor negativos, expressando pouca ou nenhuma atividade do receptor de LDL, ou receptor defeituoso, levando à expressão de isotipos de LDLR com afinidade reduzida para LDL na superfície dos hepatócitos Na forma heterozigótica, metade dos receptores está comprometida e a outra metade é normal, enquanto na forma homozigótica todos os receptores estão afetados. Sintomas e manifestações clínicas Os principais sinais clínicos apresentado por portadores de HF são: a presença de algum grau de arco corneano, xantomas teníneos, além do desenvolvimento de doença aterosclerótica prematura. ● Xantomas são lesões não neoplásicas, que se caracterizam pela concentração local de macrófagos repletos de lipídios, células gigantes e outras células inflamatórias em resposta à deposição de colesterol nos tecidos. Sem tratamento 50% dos homens heterozigotos desenvolverão doença arterial coronariana antes dos 50 anos e 100% antes dos 70 anos; entre as mulheres heterozigóticas, 12% terão alguma manifestação de doença arterial coronariana aos 50 anos e 74%, antes dos 70 anos. Entretanto, a expressão clínica da doença arterial coronariana em portadores de HF é heterogênea quanto à idade de aparecimento e sua gravidade. Homozigotos para HF apresentam, na primeira década de vida, xantomas no tendão e arcos na córnea, além de aterosclerose prematura em vasos sanguíneos coronarianos, cerebrais e periféricos. Sem um tratamento agressivo, a HF homozigótica geralmente é letal já aos 30 anos de idade. Não tratada, a concentração de colesterol fica entre 600 e 1000 mg/dL Diagnóstico Os critérios clínicos e laboratoriais para o diagnóstico da Hipercolesterolemia Familiar (HF) são arbitrários e baseiam-se nos seguintes dados: • Sinais clínicos de depósitos de colesterol (xantomas e aterosclerose); • Taxas elevadas de LDL-c no plasma; • História familiar de hipercolesterolemia e/ou doença aterosclerótica prematura; • Identificação de mutações e polimorfismos genéticos que favoreçam o desenvolvimento da HF. Tratamento Independente de possuírem HF, todos os pacientes com o colesterol LDL elevado necessitam de normalização dessas concentrações, a fim de reduzir o risco de doença arterial coronariana responsável pelo maior número de mortes entre os portadores da condição de hipercolesterolemia. Em razão da influência alimentar no agravamento da HF, recomenda-se adotar a restrição de gorduras totais (principalmente gorduras saturadas e trans) e do colesterol da dieta, objetivando a redução e o controle do colesterol e de LDL-c plasmáticos. Além disso, o consumo de fibras solúveis diminui a absorção de colesterol, contribuindo no controle dos níveis de colesterol plasmático. A HF heterozigótica se manifesta com somente 50% dos receptores de LDL em funcionamento, apresentando em geral boa resposta ao uso de estatinas que aumentam significativamente a expressão desses receptores ao determinarem o bloqueio da síntese intracelular do colesterol. As estatinas utilizadas devem ser de alta potência como a atorvastatina (10-80 mg) e a rosuvastatina (10-40 mg). A maior parte dos portadores de HF tolera doses máximas das estatinas mais potentes (atorvastatina e rosuvastatina), com segurança e boa tolerância. O fato é que, em razão das concentrações muito elevadas de LDL-c na HF, frequentemente é necessária a adição de um ou mais hipolipemiantes que não a estatina para alcançar as metas desejadas. Dentre esses fármacos pode-se citar a colestiramina - forma complexos insolúveis com os ácidos biliares no intestino que são eliminados pelas fezes, sendo que a partir dessa perda, o organismo converte o colesterol do sangue em ácidos biliares, abaixando o colesterol - e a azetimiba - tem um mecanismo específico de inibir a absorção do colesterol ao nível do enterócito. Hipertrigliceridemia Definição: Distúrbio do metabolismo dos lipídeos, congênito ou decorrente de hábitos alimentares equivocados/sedentarismo. Representa um dos fatores de risco mais importantes para aumentar a prevalência da Doença Arterial Coronariana (DAC), Doença Aterosclerótica (D.A.) e cérebro-vasculares (cérebro, carótidas, aorta e seus ramos principais). A hipertrigliceridemia é transmitida de maneira autossômica dominante mas os genes que a transmitem ainda não estão muito bem definidos. As hipertrigliceridemias primárias advêm de distúrbios metabólicos de etiologia genética e as secundárias constituem "estados metabólicos”. Frequentemente, as hipertrigliceridemias expressam a associação entre predisposição genética e efeitos fenotípicos decorrentes da idade, sexo, obesidade, atividade física sedentária e hábitos alimentares ricos em hidratos de carbono e gordura saturada. Entre os distúrbios metabólicos a hipertrigliceridemia familiar é a principal causa de hipertrigliceridemia primária. A prevalência desse distúrbio metabólico acomete 1% da população cujos níveis séricos de triglicérides,após 12 horas de jejum, variam entre 200 mg/dL e 500 mg/dL e a trigliceridemia pós-prandial pode ultrapassar 1.000 mg/dL. A transmissão genética acomete descendentes de primeiro grau e as variáveis fenotípicas como sexo, idade, uso de hormônios (principalmente estrógenos), consumo excessivo de álcool e dietas hipercalóricas corroboram para o aumento da hipertrigliceridemia. Até o presente momento, não foram devidamente esclarecidos os genes envolvidos na hipertrigliceridemia familiar e a intervenção nos "possíveis genes culpados" não reduziram os níveis séricos de triglicérides. As hipertrigliceridemias associam-se aos níveis séricos baixos de HDL-c, normais de LDL-c e níveis séricos de colesterol total dependentes dos níveis séricos de VLDL-c. O tratamento da hipertrigliceridemia familiar inclui a correção das variáveis fenotípicas e o uso de medicamentos redutores de triglicérides. Na hiperlipidemia tipo V a hipertrigliceridemia primária está associada a dietas ricas em gorduras, obesidade e diabetes mellitus não controlado. A patogênese é multifatorial e resulta da superprodução de VLDL-c e quilomícrons. Na hiperquilomicronemia os níveis séricos de triglicérides após 12 horas de jejum podem ultrapassar 1.000 mg/dL. Todavia, os aumentos exagerados de triglicérides não se associam ao maior risco de doença cardiocirculatória e, freqüentemente, induzem pancreatites recorrentes e xantomas eruptivos. Na hiperlipidemia familiar combinada às anormalidades bioquímicas incluem elevações séricas de LDL-c e/ou triglicérides, redução de HDL-c e aumento dos níveis séricos de apoproteína B. A prevalência desse distúrbio metabólico de etiologia genética é de 0,6% na população em geral e de 10% a 20% nos pacientes com doença arterial coronária prematura. As hipertrigliceridemias secundárias podem resultar de distúrbios hormonais, metabólicos, renais e uso de medicamentos. O hipotireoidismo frequentemente aumenta os níveis séricos de colesterol, triglicérides ou ambos. Os estrógenos aumentam os níveis séricos de triglicérides e HDL-c devido ao aumento da secreção de VLDL-c hepática e apoproteína AI. A deficiência da produção de lipase lipoprotéica aumenta os níveis séricos de triglicérides durante a gravidez. Os esteróides anabolizantes aumentam a atividade da lipase hepática, reduzindo os níveis séricos de triglicérides. No diabetes insulino-resistente a ocorrência de múltiplas anormalidades metabólicas mostra que esta doença é a causa mais freqüente de dislipidemias secundárias. O "Diabetes Atherosclerosis Intervention Study" - DAIS(7) mostrou que o fenofibrato reduziu os níveis séricos de triglicérides, aumentou o HDL-c e reduziu a progressão da aterosclerose coronária em pacientes diabéticos submetidos a cinecoronariografias de controle. Nos diabéticos do tipo 1 e 2 não controlados a hiperglicemia propicia elevações nos níveis séricos de triglicérides, VLDL-c e quilomícrons. As nefropatias freqüentemente são responsáveis por distúrbios do "estado metabólico". As glomerulonefrites e as nefropasecreção de LDL-c hepática. Ao contrário, as insuficiências renais crônicas aumentam os níveis de triglicérides e reduzem os níveis séricos de HDL-c. Nos pacientes submetidos a transplante renal, os medicamentos imunossupressores e os glicocorticóides aumentam os níveis séricos de triglicérides e reduzem os níveis de HDL-c. As recomendações mais recentes da ADA (American Diabetes Association) mencionam os fibratos como tratamento para vários tipos de dislipidemia em pacientes diabéticos. O fenofibrato é a escolha preferida para o tratamento da hipertrigliceridemia e o mais indicado em associação com estatinas nas dislipidemias mistas nestes pacientes, por causa da sua maior potência e tolerabilidade(9). Os quadros a seguir resumem as recomendações de tratamento para pacientes com risco de DAC, como indicado nas diretrizes da ADA e NCEP e pela prática clínica atual. Uma causa comum de hipertrigliceridemia é naquela condição com resistência à insulina, como a síndrome metabólica e o diabetes mellitus tipo2. Também pode surgir secundariamente devido a utilização de vários fármacos ( corticosteroides, inibidores da protease para HIV, agentes bloqueadores beta-adrenérgicos e estrogênios), ingestão elevada de carboidratos, fumo, sedentarismo, ingestão de álcool em excesso. Tratamento: Mudança dos hábitos alimentares, atividade física, parar de fumar, restrições ao uso do álcool; medicamentos: uso de fibratos e estantinas. Hipobetalipoproteinemia A abetalipoproteinemia/ hipobetalipoproteinemia é uma forma grave de dislipidemia caracterizada por níveis permanentemente baixos quilomícrons, VLDL e LDL. É muito rara, com uma prevalência estimada de menos de 1/1,000,000. A abetalipoproteinemia é herdada de forma recessiva e é o resultado de mutações dos dois alelos do gene MTTP (4q22-q24), que produz a proteína microssomal transferidora de triglicerídeos. Essa proteína transfere os triglicerídeos produzidos no reticulo endoplasmático para se ligar à apoproteina no citoplasma da célula e é essencial na produção de quilomicrons, VLDL e LDL. Sem essas lipoproteínas, que tem grande importância para o transporte de lipídeos para suas determinadas vias, diversos problemas ocorrem. Manifesta-se durante o primeiro ano de vida ou infância precoce. Está frequentemente associada aos sintomas: ● Atraso de crescimento; ● Hepatomegalia com esteatose; ● Diarreia com esteatorreia; ● Má absorção de lipídeos e proteínas lipossolúveis; ● Pode ocorrer ataxia Hepática; ● Retinite pigmentosa atípica; ● Acantocitose, um baixo nível de vitaminas lipossolúveis, e citólise significativa e até mesmo cirrose; ● Neuropatia periférica; ● Sensibilidade tática; ● Prejuízo das habilidades intelectuais; ● Cansaço extremo; ● Alterações da pigmentação e textura da pele, gengiva, língua e pelos; ● Atraso no crescimento e desenvolvimento. O diagnóstico é fundamental na infância para evitar problemas irreversíveis, principalmente no sistema nervoso e é baseado na análise lipídica, após 12 horas de jejum, realizada nos doentes e nos seus pais para a determinação de LDL (<0.10g/L), triglicerídeos (<0.20 g/L), e apolipoproteina B (<0.10g/L). Podem também ser realizadas identificação de esteatorreia e apolipoproteina B truncada após ingestão oral de lípidos, medição das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), teste para acantocitose (em esfregaços sanguíneos), exame neurológico completo, ecografia hepática e exame oftalmológico. A identificação de mutações no gene MTTP confirma o diagnóstico. Os diagnósticos diferenciais incluem doenças metabólicas com sobrecarga hepática, com esteatose e/ou hepatomegalia, doenças atípicas do sistema nervoso central ou periférico, e causas secundárias de hipocolesterolemia. O diagnóstico pré-natal é possível quando as mutações causais em ambos os pais são conhecidas. O prognóstico é grave, com uma esperança de vida significativamente reduzida. Tratamento: Basicamente reduzir a ingestão de ácidos graxos e promover suplementação de vitaminas lipossolúveis e ácido linoleico.
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