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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Farmacologia da Insuficiência Cardíaca O início e progressão de ICC clinicamente evidente a partir de disfunção sistólica ventricular esquerda (VE) segue uma sequência fisiopatológica em resposta a um ataque inicial à disfunção miocárdica. Uma redução do débito cardíaco anterógrado leva a uma ativação expandida do sistema nervoso simpático e eixo renina-angiotensina-aldosterona que, juntos, mantêm a perfusão dos órgãos vitais aumentando a pré-carga VE, estimulando a contratilidade miocárdica e aumentando o tônus arterial. Num primeiro momento, esses mecanismos sustentam o débito cardíaco possibilitando que o coração funcione com volumes diastólicas finais elevados, enquanto a vasoconstrição periférica promove redistribuição regional do débito cardíaco para o sistema nervoso central, coronário e de leitos vasculares renais. Infelizmente, contudo, esses mecanismos compensatórios com o tempo propagam a progressão da doença. A expansão do volume intravascular aumenta o estresse diastólico e sistólico na parede que interrompe a energia miocárdica e provoca hipertrofia patológica de VE. Ao aumentar a pós-carga, a vasoconstrição arterial periférica também afeta de maneira adversa o estresse diastólico da parede ventricular, aumentando assim a demanda de oxigênio para o miocárdico. Finalmente, os efetores neurohumorais como a norepinefrina (NE) e angiotensina II (Angll) estão associados a apoptose do miócito, expressão gênica do miócito anormal e alterações patológicas na MEC que aumentam a rigidez do VE. Dessa forma, as principais estratégias farmacológicas utilizadas para o tratamento da ICC é: Aumentar a contratilidade; Diminuir a pré-carga; Diminuir a pós-carga. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Esses fármacos atuam na ICC reduzindo a resistência vascular sistêmica, ou seja, diminuindo a pós-carga e também a tensão da parede sistólica. Além disso, os inibidores do SRAA provocam: Vasodilatação arteriolar renal; Aumento do fluxo sanguíneo renal; Natriurese; Redução da secreção da aldosterona; Contração do volume de líquido corporal. Essas ações fazem com que a pré-carga seja reduzida, assim com a tensão da parede diastólica. Ademais, a angiotensina II promove crescimento de miócitos e induz a fibrose cardíaca, ou seja, contribui para o remodelamento ventricular. Dessa forma, bloquear a via da angiotensina II impede ou retarda a progressão da ICC, além de reduzir a incidência de morte súbita e IAM, reduzir hospitalizações e melhorar a qualidade de vida. OBS: esses fármacos são contraindicados em pacientes com estenose bilateral das artérias renais. Embora o uso de antagonistas β possa parecer intuitivamente paradoxal, ensaios clínicos estabeleceram que esses fármacos aumentam a sobrevida de pacientes com insuficiência cardíaca. Seus benefícios em pacientes com a doença foram variavelmente atribuídos à inibição da liberação de renina, atenuação dos efeitos citotóxicos e de sinalização das catecolaminas circulantes elevadas e, de modo mais geral, prevenção da isquemia do miocárdio. Os beta-bloqueadores mais comumente utilizados na ICC são: Metaprolol; Carvedilol; Bisoprolol. Efeitos colaterais: broncoespasmo, piora inicial da IC, bradicardia e hipotensão. OBS: esses fármacos não são utilizados na insuficiência cardíaca descompensada. Inclusive, nessa situação, os agonistas beta-adrenérgicos são recomendados. A hidralazina + nitrato são utilizados por reduzir a pós-carga e a pré-carga, respectivamente. A hidralazina é um vasodilatador arteriolar direto, reduzindo a resistência vascular periférica. Já o nitrato, é um venodilatador que aumenta a capacitância venosa, reduz o retorno venoso e, consequentemente, o volume de sangue que chega ao coração. Além disso, a hidralazina impede a tolerância aos nitratos. Efeitos colaterais: hipotensão, tontura e cefaleia. A digoxina é um glicosídios digitálicos inibem a Na+-K+ATPase do sarcolema nos miócitos cardíacos. Essa ação aumenta o Na+ intracelular, ativa o trocador de Na+- Ca2+ e aumenta o Ca2+ intracelular, incluindo as reservas de Ca2+ no retículo sarcoplasmático. Isso, por sua vez, provoca a liberação aumentada de cálcio com a estimulação dos miócitos, resultando em aumento da contratilidade do miocárdio, ou seja, efeito inotrópico positivo. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Em concentrações séricas ou plasmáticas terapêuticas, a digoxina reduz a automaticidade e aumenta o potencial de membrana em repouso diastólico máximo nos tecidos atriais e no nodo atrioventricular (AV). Isso ocorre através de aumentos do tônus vagai e de inibição da atividade do sistema nervoso simpático. Além disso, a digoxina prolonga o período refratário efetivo e reduz a velocidade de condução no tecido do nodo AV. Coletivamente, estes podem contribuir para bradicardia sinusal, parada sinusal, prolongamento da condução AV ou bloqueio AV de alto grau. Além da digoxina, simpaticomiméticos também são utilizados como agentes inotrópicos positivos. A dobutamina é amina simpaticomimética parenteral geralmente utilizada no tratamento de IC sistólica descompensada. É um sintético da epinefrina, que estimula os receptores β1 e, em menor grau, os os β2 e os α1. A estimulação dos receptores β1 predomina com taxas de infusão terapêuticas, ocasionando, por fim, aumento da contratilidade dos miócitos cardíacos. A estimulação dos receptores β2 vasculares provoca vasodilatação arterial e redução da pós-carga. Os efeitos combinados de aumento da contratilidade e diminuição da pós-carga produzem melhora no desempenho cardíaco global. Tipicamente, a dobutamina é usada em situações agudas. A ivabradina atua bloqueando os canais If (funny), levando a diminuição da frequência cardíaca. O levosimendano é fármaco que sensibiliza o sistema troponina ao cálcio, também parece inibir a fosfodiesterase e causar alguma vasodilatação além de ter efeitos inotrópicos. Por fim, os IRAN (inibidores dos receptores de angiotensina e neprilisina), como sacubitril + valsartana, atuam inibindo o SRAA e também aumentando as concentrações de peptídeos natriuréticos. A neprilisina (NEP) é uma endopeptidase que degrada uma variedade de peptídeos bioativos. Ao ser inibida, aumenta-se as concentrações de peptídeos natriuréticos, que por sua vez, atuam nos rins aumentando a eliminação de sódio e água. Consequentemente, tem-se a redução da volemia e também da pré-carga.
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