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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO TRIBUNAL DO JÚRI DA X VARA CRIMINAL DA COMARCA DE MARICÁ/RJ Processo n° XXXX.X.XX.X.X.XXX-XX RÔMULO, já qualificado nos autos, por intermédio de sua advogada, que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (RESE) nos termos do artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal, em face da decisão de pronúncia proferida nos autos do processo em epígrafe, pelas razões a seguir expostas: Neste sentido, requer-se a retratação por parte do Juízo de Retratação, nos termos do artigo 589, do Código de Processo Penal. Caso Vossa Excelência entenda por manter a decisão de pronúncia, requer o recebimento e processamento do presente recurso a ser remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com as inclusas razões. Nestes termos, pede e espera deferimento. Maricá – RJ, 16 de março de 2020 EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Recorrente: Rômulo Recorrido: Ministério Público RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO COLENDA CÂMARA CRIMINAL DOUTOS DESEMBARGADORES Em que pese o ilibado saber jurídico do Juízo “a quo”, não merece prosperar a referida decisão, sendo imperiosa a reforma por este Tribunal “ad quem”, pelas razões a seguir expostas: I –DOS FATOS Rômulo foi denunciado pelo Ministério Público, através da peça acusatória recebida em 24 de janeiro de 2020, imputando-lhe a prática do crime de feminicídio, previsto no Art. 121, § 2º, inciso VI, c/c Art. 14, inciso II, todos do Código Penal. Após a apresentação da denúncia, o processo seguiu regularmente, culminando na designação de audiência na primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri. Diante desses fatos, no dia 10 de março de 2020 o acusado e a defesa foram intimados para a apresentar a decisão da pronúncia proferida, mantendo Rômulo como réu nos termos da denúncia. III – DOS DIREITOS A) DA NULIDADE DA PRIMEIRA AUDIÊNCIA Conforme retratado, a primeira audiência ocorreu sem a presença do réu, por ausência de sua devida intimação, não obtendo o conhecimento sobre as provas testemunhais. Tal fato configura uma flagrante nulidade processual, violando o direito fundamental do princípio do contraditório e ampla defesa do acusado de estar presente em todos os atos processuais, logo, a defesa ao manifestar seu inconformismo naquela ocasião, buscou preservar o direito do réu e requereu a marcação de nova data para o interrogatório garantido pelo artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Porém, tendo em vista, que as declarações colhidas naquela oportunidade foram utilizadas como elementos de convicção para a decisão de pronúncia e tendo a violação do contraditório e ampla defesa, requer seja declarado nula a decisão da pronúncia nos termos do artigo 589 do Código de Processo Penal, a fim de que seja revista a decisão proferida e anulada a primeira audiência realizada sem a presença do réu, assegurando-se o respeito aos direitos fundamentais do acusado e garantindo a realização de um processo justo e equitativo. B) DA EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE PELA PRESCRIÇÃO Conforme relatado nos autos, os fatos narrados ocorreram em 02 de janeiro de 2010, data em que o recorrente, desferiu golpes de faca nas mãos de sua esposa, Paola. No entanto, a denúncia foi tramitada pelo Juízo no dia 24 de janeiro de 2020, observa-se que já transcorreram mais de 10 anos desde a sua ocorrência. Sendo assim, tendo em vista que o crime em questão possui pena máxima superior a 12 anos de privativa de liberdade a prescrição da pretensão punitiva estatal estará extinta em 20 anos corridos, de acordo com o artigo 109, inciso I, do Código Penal. Contudo, cumpre salientar que quando ocorreram os fatos, Rômulo tinha aproximadamente 19 anos de idade, levando em consideração que o recorrente era menor de 21 anos é reduzido pela metade, resultando em um prazo prescricional de 10 anos, nos termos do artigo 115 do Código Penal. Assim, com base no exposto, é possível afirmar que a pretensão punitiva estatal encontra-se atingida pela prescrição, uma vez que ultrapassou o prazo previsto em lei para a persecução penal. Desta forma, requer-se a extinção da punibilidade de Rômulo, nos termos do artigo 107, inciso IV, do Código Penal. C) DA DESISTENCIA VOLUNTÁRIA Conforme relatos constantes nos autos, o réu Rômulo, em um momento de intenso descontrole emocional, desferiu golpes de faca nas mãos de sua esposa. No entanto, após desferir os golpes iniciais, se sensibilizou com o sofrimento da vítima e decidiu de forma voluntaria abandonar o local, a fim de se acalmar. Nesse sentido, de acordo com o artigo 15 do Código Penal, a desistência voluntária se configura quando o agente, de forma espontânea e consciente, desiste de prosseguir na execução do crime ou impede que este se consuma. No caso em tela, Rômulo abandonou a ideia de provocar a morte de Paola, deixando o local dos fatos e se acalmando, mesmo sabendo que os atos praticados inicialmente seriam insuficientes para alcançar seu objetivo inicial. Sendo assim, diante dos fatos narrados, fica evidente que Rômulo desistiu voluntariamente de prosseguir na execução do crime, afastando a tipicidade da conduta imputada a ele e também não há que se falar no o crime de feminicídio não pode ser imputado a Rômulo, uma vez que a lei que estabelece essa qualificadora (Art. 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal) foi inserida por meio da Lei no 13.104/15, enquanto os fatos ocorreram em 2010. Desta forma, o réu, irá responder somente pelos atos já praticados, como a o delito de lesão corporal grave, uma vez que o exame de corpo de delito realizado constatou a existência de lesões de natureza grave. Portanto, requer nos termos do Art. 419, do Código de Processo Penal, em vista da desclassificação do crime da tentativa de homicídio para o crime de lesões corporais graves. IV – DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: a) O reconhecimento e provimento o recurso em sentido estrito, com a reforma da decisão da pronúncia; b) A declaração da nulidade processual, em razão da violação ao princípio constitucional da ampla defesa, previsto no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal c) Seja declarada a extinção da punibilidade, da prescrição da conduta atribuída ao recorrente, nos termos do artigo 107, inciso IV do Código Penal; d) Requer a aplicação a diminuição máxima de pena prevista no artigo 14, inciso II, do Código Penal, em caso de eventual condenação. e) Requer-se o afastamento da qualificadora de feminicídio imputada ao recorrente, pois foi inserida por meio da Lei nº 13.104/15, posterior aos fatos ocorridos em 2010. f) Os autos remetidos ao Juízo competente de acordo com o artigo 419, do código de Processo Penal. Nestes termos, pede e espera deferimento. Maricá/RJ, 16 de março de 2020