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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Estudar a importância do aleitamento materno. 2- Compreender a importância do acompanhamento nutricional nas crianças. 3- Debater sobre o crescimento e desenvolvimento (linguagem, cognitivo, motor, adaptativo, sensorial e emocional). Aleitamento materno ↠ Amamentar é muito mais que alimentar a criança, pois tem impacto positivo na saúde, economia, meio ambiente e qualidade de vida. Na medida em que a amamentação é cada vez mais valorizada, aumenta a responsabilidade do pediatra de promover, proteger e apoiar essa prática (JÚNIOR et al., 2021). ↠ A amamentação é importante à saúde do lactente sob o aspecto nutricional, imunológico, gastrintestinal, psicológico, do desenvolvimento e da interação entre mãe e filho (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2003). Com o intuito de prevenir a desnutrição precoce e reduzir a morbimortalidade infantil, a OMS recomenda o aleitamento materno exclusivo (AME) até o 6º mês de vida e a sua complementação até os 2 anos de idade ou mais (OMS, 2008) (MONTENEGRO; FILHO, 2017). No entanto, pelo menos 85% das mães em todo o mundo não seguem essas recomendações, e apenas 35% das crianças com menos de 4 meses são exclusivamente amamentadas (OMS, 2003). Estudos demonstram que o AME até o 6º mês de vida pode evitar mais de 1,3 milhão de mortes ao ano de crianças com menos de 5 anos de idade nos países em desenvolvimento (MONTENEGRO; FILHO, 2017). A amamentação traz inúmeros benefícios, integrados com a minimização de risco para desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes melito, câncer antes dos 15 anos de idade e sobrepeso/obesidade. O efeito protetor do leite materno contra o sobrepeso/obesidade é de crescente importância em virtude do problema da obesidade infantil em todas as regiões do mundo, em particular nos países desenvolvidos (MONTENEGRO; FILHO, 2017). COMO O LEITE É PRODUZIDO Para entender como a mama sintetiza o leite, é necessário ter conhecimentos básicos sobre anatomia e fisiologia da mama (JÚNIOR et al., 2021). ↠ As mulheres adultas possuem de 15 a 25 lobos mamários (glândulas túbulo-alveolares), constituídos, cada um, por 20 a 40 lóbulos. Esses, por sua vez, são formados por 10 a 100 alvéolos. Envolvendo os alvéolos, encontram- se as células mioepiteliais e, entre os lobos mamários, os tecidos adiposo, conjuntivo, linfático, nervoso e vascular (JÚNIOR et al., 2021). ↠ O leite é secretado nos alvéolos por uma camada única de células epiteliais altamente diferenciadas (lactócitos) e conduzido até o exterior por uma rede de ductos. Durante as mamadas, enquanto o reflexo de ejeção do leite está ativo, os ductos sob a aréola se enchem de leite e se dilatam, formando o que antes se chamava, equivocadamente, de seios lactíferos (JÚNIOR et al., 2021). Na gravidez, a mama é preparada para a lactação sob a ação de diferentes hormônios. Os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também estão envolvidos na aceleração do crescimento mamário, como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica. A secreção láctea ocorre a partir da 16ª semana de gravidez. Calcula-se que aproximadamente 30 mL de colostro podem ser secretados diariamente durante a gestação, que são reabsorvidos pelo organismo (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Após a fase de iniciação secretora (lactogênese I), que se inicia na 2ª metade da gravidez e se estende até 2 a 3 dias após o parto, inicia-se a ativação secretora (lactogênese II), cujo início corresponde à “descida do leite” ou apojadura. A síntese do leite após o nascimento da criança é controlada basicamente pela ação hormonal, e a “descida do leite”, que costuma ocorrer entre o 2º e 3º dia após o parto, ocorre mesmo sem a sucção da criança ao seio (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Em seguida, em torno do 7º ao 10º dia pós-parto, inicia- se a fase de manutenção da lactação, também denominada galactopoiese. Essa fase, que persiste por toda a lactação, é de controle autócrino e depende primordialmente do esvaziamento da mama, de preferência pela sução da criança. Qualquer fator materno ou da criança que limite a retirada do leite das mamas pode causar diminuição na síntese do leite, por inibição mecânica e química. A remoção contínua de peptídios supressores da lactação (feedback inibitor of lactation – – 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck FIL) do leite contribui para a reposição do leite removido. Outro mecanismo local que regula a produção do leite, ainda não bem elucidado, envolve os receptores de prolactina na membrana basal do alvéolo. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando, assim, um efeito inibidor da síntese de leite (JÚNIOR et al., 2021). Grande parte do leite de uma mamada é produzida enquanto a criança mama, sob o estímulo da prolactina, que é liberada graças à inibição da liberação de dopamina, que é um fator inibidor da prolactina. A liberação de prolactina e ocitocina é regulada pelos reflexos de produção e ejeção do leite, respectivamente, ativados pela estimulação dos mamilos, sobretudo pela sucção da criança. A liberação da ocitocina também ocorre em resposta a estímulos condicionados, como visão, cheiro e choro da criança, e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. Por outro lado, dor, desconforto, estresse, ansiedade, medo, insegurança e falta de autoconfiança podem inibir o reflexo de ejeção do leite, prejudicando a lactação (JÚNIOR et al., 2021). A secreção de leite é pequena nos primeiros dias, aumentando gradativamente: em média, de 0 a 5 mL de colostro na 1ª mamada, 40 a 50 mL no primeiro dia, 395 a 868 mL do 2º ao 6º dia. Com 1 mês, a ingestão média diária de um bebê em AME é de 750 a 800 mL. Entre 1 e 6 meses de idade, o volume de leite ingerido pela criança em AME é relativamente constante (entre 710 e 803 mL/dia), com uma grande variação entre as crianças com crescimento adequado, de 440 a 1.220 mL (JÚNIOR et al., 2021). O volume que uma criança mama em cada mamada em um período de 24 horas também varia bastante, de 30 a 135 mL, em média. Habitualmente, a capacidade de produção de leite pela mãe é maior que a demanda de seu filho. Uma mama nunca é esvaziada completamente, permanecendo, em média, 30 mL de leite após as mamadas (JÚNIOR et al., 2021). COMPOSIÇÃO E ASPECTO DO LEITE MATERNO ↠ Apesar de a alimentação variar enormemente entre as pessoas, o leite materno, surpreendentemente, apresenta composição semelhante para todas as mulheres que amamentam do mundo. Apenas as com desnutrição grave podem ter o seu leite afetado na sua qualidade e quantidade (BRASIL, 2015). ↠ O leite maduro só é secretado por volta do 10º dia pós- parto. Nos primeiros dias, a secreção láctea é chamada de colostro, que contém mais proteínas e menos lipídios do que o leite maduro, e é rico em imunoglobulinas, em especial a IgA (JÚNIOR et al., 2021). O leite de mães de recém-nascidos pré-termo difere do de mães de bebês a termo (JÚNIOR et al., 2021). ↠ A tabela abaixo apresenta os principais componentes do leite materno maduro e do colostro, em mães de bebês nascidos a termo e pré-termo (JÚNIOR et al., 2021). ↠ A água contribui com quase 90% da composição do leite materno, o que garante o suprimento das necessidades hídricas de uma criança em AME, mesmo em climas quentes e áridos (JÚNIOR et al., 2021). ↠ O principal carboidrato do leite materno é a lactose, e a principal proteína é a lactoalbumina. As gorduras são o componente mais variável do leite materno, e são responsáveis por suprir até 50% das necessidades energéticas da criança pequena.Os ácidos graxos poli- insaturados de cadeia longa são essenciais no desenvolvimento cognitivo e visual, e na mielinização dos neurônios (JÚNIOR et al., 2021). ↠ A concentração de gordura no leite (e consequentemente o teor energético) costuma aumentar no decorrer de uma mamada, havendo mais gordura no leite do final da mamada (leite posterior), saciando melhor a criança quando ela ingere esse leite; daí a importância de a criança retirar bastante leite de uma mama antes de passar para outra. O maior teor de gordura no leite posterior se deve à liberação de glóbulos de gordura adsorvidos nos lactócitos com o esvaziamento da mama e às forças geradas pela expusão do leite dos alvéolos. O esvaziamento dos alvéolas altera a forma dos lactócitos, que passa de escamosa para colunar, diminuindo, assim, a área para adsorção dos glóbulos de gordura. Assim, quando a mama está cheia, parte da gordura fica 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck depositada nas células alveolares e vai sendo liberada com o progredir da mamada; porém, se a mama não estiver tão cheia, como ocorre por exemplo em intervalos muito curtos entre as mamadas, a diferença entre os leites anterior e posterior quanto ao teor de gordura é menor (JÚNIOR et al., 2021). ↠ O leite humano tem vários fatores imunológicos específicos e não específicos que conferem proteção ativa e passiva contra infecções às crianças amamentadas. A IgA secretória é a principal imunoglobulina, que atua contra microrganismos que colonizam ou invadem superfícies mucosas. A especificidade dos anticorpos IgA no leite humano é um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, o que proporciona proteção à criança contra os agentes infecciosos prevalentes no meio em que ela está inserida. A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do 1º mês, permanecendo relativamente constante a partir de então (JÚNIOR et al., 2021). Os anticorpos IgA no leite humano são um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, ou seja, ela produz anticorpos contra agentes infecciosos com os quais já teve contato, proporcionando, dessa maneira, proteção à criança contra os germens prevalentes no meio em que a mãe vive (BRASIL, 2015). ↠ Outros fatores de proteção que se encontram no leite materno são: leucócitos, que matam microrganismos; lisozima e lactoferrina, que atuam sobre bactérias, vírus e fungos; fator bífido, que favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria saprófita que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, como Shigella, Salmonella e Escherichia coli; oligossacarídeos (mais de 200 compostos), que previnem ligação da bactéria na superfície mucosa e protegem contra enterotoxinas no intestino, ligando-se à bactéria, e estimulam as células intestinais a produzir proteínas que “selam” o intestino e anti-inflamatórios que modulam o sistema imunológico (JÚNIOR et al., 2021). Os oligossacarídeos não são absorvidos pelo intestino da criança, mas, ao serem degradados no intestino, liberam metabólicos que nutrem a célula intestinal e alimentam a microbiota intestinal saudável, promovendo o desenvolvimento cerebral. Os oligossacarídeos do leite materno variam dependendo da genética da mulher, paridade, dieta, estilo de vida, exposição ao tabaco/drogas, saúde em geral (JÚNIOR et al., 2021). Há outros componentes biotivos no leite materno além dos fatores de proteção, como a lipase, que facilita a digestão da gordura, e o fator de crescimento epidérmico, que estimula a maturação das células intestinais, melhorando a digestão e a absorção de nutrientes (JÚNIOR et al., 2021). ↠ A cor e o aspecto do leite humano variam ao longo da mamada em decorrência das variações na sua composição e também de acordo com a dieta da mãe. Por exemplo, o leite é mais amarelado quando a mulher tem uma dieta rica em betacaroteno, e esverdeado em dietas ricas em riboflavinas (JÚNIOR et al., 2021). ↠ No início da mamada, o teor de água e a presença de constituintes hidrossolúveis confere ao leite coloração de água de coco; no meio da mamada, com o aumento da concentração de caseína, o leite tende a ter uma coloração branca opaca; e, no final da mamada, em virtude da concentração dos pigmentos lipossolúveis, o leite costuma ser mais amarelado (JÚNIOR et al., 2021). DEFINIÇÕES/TIPOS ↠ É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconhecidas no mundo inteiro. Assim, o aleitamento materno costuma ser classificado em: (BRASIL, 2015). • Aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos. • Aleitamento materno predominante: quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais. • Aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. • Aleitamento materno complementado: quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. • Aleitamento materno misto ou parcial: quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. Com relação à duração do AME, existem evidências de que não há vantagens em oferecer alimentos complementares a crianças menores de 6 meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança, como maior chance de adoecer por infecção intestinal e hospitalização por doença respiratória. Além disso, a introdução precoce dos alimentos complementares diminui a duração do AM, interfere na absorção de nutrientes importantes nele existentes, como o ferro e o zinco, e reduz a eficácia da lactação na prevenção de novas gestações (JÚNIOR et al., 2021). RECOMENDAÇÕES A amamentação deve ser iniciada tão logo quanto possível após o parto. A OMS e o MS recomendam contato pele a pele ininterrupto na 1ª hora de vida, sempre que as condições de saúde 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck da mãe e do recém-nascido permitirem. A maioria dos bebês suga na 1ª hora de vida, se lhe for dada oportunidade. O início da amamentação na 1ª hora de vida reduz o risco de hemorragia pós-parto, ao liberar ocitocina, e de icterícia no recém-nascido, por aumentar a motilidade gastrintestinal (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Recomenda-se que a criança seja amamentada sem restrições de horários e de tempo de permanência na mama. É o que se chama de amamentação em livre demanda. Nos primeiros meses, é normal que a criança mame com frequência e sem horários regulares. Em geral, um bebê em aleitamento materno exclusivo mama de oito a 12 vezes ao dia. Muitas mães, principalmente as que estão inseguras e as com baixa autoestima, costumam interpretar esse comportamento normal como sinal de fome do bebê, leite fraco ou pouco leite, o que pode resultar na introdução precoce e desnecessária de suplementos (BRASIL, 2015). ↠ O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve ser fixado, haja vista que o tempo necessário para esvaziar uma mama varia para cada dupla mãe/bebê e, numa mesma dupla, pode variar dependendo da fome da criança, do intervalo transcorrido desde a última mamada e do volume de leite armazenado na mama, entre outros (BRASIL, 2015). ↠ O mais importante é que a mãe dê tempo suficiente à criança para ela esvaziar adequadamente a mama. Dessa maneira, a criança recebe o leite do final da mamada, que é mais calórico, promovendo a sua saciedade e, consequentemente, maior espaçamento entre asmamadas. O esvaziamento das mamas é importante também para o ganho adequado de peso do bebê e para a manutenção da produção de leite suficiente para atender às demandas do bebê (BRASIL, 2015). Como regra geral, as mulheres que amamentam não necessitam evitar determinados alimentos. Entretanto, se elas perceberem algum efeito na criança de algum componente de sua dieta, pode-se indicar a prova terapêutica: retirar o alimento da dieta por algum tempo e reintroduzi-lo, observando atentamente a reação da criança. Caso os sinais e/ou sintomas da criança melhorem substancialmente com a retirada do alimento e piorem com a sua reintrodução, ele deve ser evitado. O leite de vaca é um dos principais alimentos implicados no desenvolvimento de alergias alimentares (BRASIL, 2015). TÉCNICA DA AMAMENTAÇÃO ↠ A técnica de amamentação, em especial o posicionamento da dupla mãe-bebê e a pega/sucção do lactente, é importante para a retirada efetiva do leite pela criança e proteção dos mamilos (JÚNIOR et al., 2021). ↠ O melhor posicionamento é aquele em que a mulher e a criança se sentem confortáveis, sem nenhum obstáculo para o bebê abocanhar tecido mamário suficiente (p. ex., dedos em forma de tesoura), retirar o leite efetivamente e deglutir e respirar livremente. A mãe deve estar relaxada e segurar com firmeza a criança completamente voltada para si. É importante enfatizar que quando a criança é amamentada de forma adequada, a mãe não deve sentir dor (JÚNIOR et al., 2021). Os seguintes sinais são indicativos de técnica inadequada de amamentação: bochechas da criança encovadas a cada sucção, ruídos da língua, mama aparentando estar esticada ou deformada durante a mamada, mamilos com estrias vermelhas ou áreas esbranquiçadas ou achatadas quando a criança solta a mama e dor durante a amamentação (JÚNIOR et al., 2021). ↠ A OMS destaca 4 pontos-chave para posicionamento e 4 para pega, que caracterizam uma técnica adequada (JÚNIOR et al., 2021). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO ↠ É consenso que a amamentação é a melhor forma de alimentar a criança no início da vida e é inigualável. As evidências da superioridade da amamentação sobre outras formas de alimentar a criança são abundantes. Estima-se que aproximadamente 823.000 mortes anuais de crianças menores de 5 anos, correspondendo a 13,8% das mortes de crianças menores de 2 anos de idade, seriam evitadas em 75 países de renda baixa e média em 2015 se a amamentação fosse praticada em níveis quase universais (JÚNIOR et al., 2021). EVITA MORTES INFANTIS ↠ Graças aos inúmeros fatores existentes no leite materno que protegem contra infecções, ocorrem menos mortes entre as crianças amamentadas. Estima-se que o aleitamento materno poderia evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo, por causas preveníveis (BRASIL, 2015). ↠ A proteção do leite materno contra mortes infantis é maior quanto menor é a criança. Assim, a mortalidade por doenças infecciosas é seis vezes maior em crianças menores de 2 meses não amamentadas, diminuindo à medida que a criança cresce, porém ainda é o dobro no segundo ano de vida (BRASIL, 2015). EVITA DIARREIA ↠ Há fortes evidências de que o leite materno protege contra diarreia, principalmente em crianças mais pobres. É importante destacar que essa proteção pode diminuir quando o aleitamento materno deixa de ser exclusivo. Oferecer à criança amamentada água ou chás, prática considerada inofensiva até pouco tempo atrás, pode dobrar o risco de diarreia nos primeiros seis meses (BRASIL, 2015). ↠ Além de evitar a diarreia, a amamentação também exerce influência na gravidade dessa doença. Crianças não amamentadas têm um risco três vezes maior de desidratarem e de morrerem por diarreia quando comparadas com as amamentadas (BRASIL, 2015). DIMINUI O RISCO DE ALERGIAS ↠ Estudos mostram que a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, de dermatite atópica e de outros tipos de alergias, incluindo asma e sibilos recorrentes (BRASIL, 2015). DIMINUI O RISCO DE HIPERTENSÃO, COLESTEROL ALTO E DIABETES ↠ Há evidências sugerindo que o aleitamento materno apresenta benefícios em longo prazo. A OMS publicou importante revisão sobre evidências desse efeito (BRASIL, 2015). ↠ Não só o indivíduo que é amamentado adquire proteção contra diabetes, mas também a mulher que amamenta. Foi descrita uma redução de 15% na incidência de diabetes tipo 2 para cada ano de lactação. Atribui-se essa proteção a uma melhor homeostase da glicose em mulheres que amamentam (BRASIL, 2015). REDUZ A CHANCE DE OBESIDADE ↠ A maioria dos estudos que avaliaram a relação entre obesidade em crianças maiores de 3 anos e tipo de alimentação no início da vida constatou menor frequência de sobrepeso/obesidade em crianças que haviam sido amamentadas. Na revisão da OMS sobre evidências do efeito do aleitamento materno em longo prazo, os indivíduos amamentados tiveram uma chance 22% menor de vir a apresentar sobrepeso/obesidade (BRASIL, 2015). ↠ É possível também que haja uma relação dose/resposta com a duração do aleitamento materno, ou seja, quanto maior o tempo em que o indivíduo foi amamentado, menor será a chance de ele vir a apresentar sobrepeso/ obesidade. Entre os possíveis mecanismos implicados a essa proteção, encontram-se um melhor desenvolvimento da auto-regelação de ingestão de alimentos das crianças amamentadas e a composição única do leite materno participando no processo de “programação metabólica”, alterando, por exemplo, o número e/ou tamanho das células gordurosas ou induzindo o fenômeno de diferenciação metabólica (BRASIL, 2015). EFEITO POSITIVO NA INTELIGÊNCIA ↠ Há evidências de que o aleitamento materno contribui para um melhor desenvolvimento cognitivo. A maioria dos estudos conclui que as crianças amamentadas apresentam vantagem nesse aspecto quando comparadas com as não amamentadas, principalmente as com baixo peso de nascimento. Essa vantagem foi observada em diferentes idades, inclusive em adultos. Os mecanismos envolvidos na possível associação entre aleitamento materno e melhor desenvolvimento cognitivo 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ainda não são totalmente conhecidos. Alguns defendem a presença de substâncias no leite materno que otimizam o desenvolvimento cerebral; outros acreditam que fatores comportamentais ligados ao ato de amamentar e à escolha do modo como alimentar a criança são os responsáveis (BRASIL, 2015). MELHOR DESENVOLVIMENTO DA CAVIDADE BUCAL ↠ O exercício que a criança faz para retirar o leite da mama é muito importante para o desenvolvimento adequado de sua cavidade oral, propiciando uma melhor conformação do palato duro, o que é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e uma boa oclusão dentária (BRASIL, 2015). EVITA NOVA GRAVIDEZ ↠ A amamentação é um excelente método anticoncepcional nos primeiros seis meses após o parto (98% de eficácia), desde que a mãe esteja amamentando exclusiva ou predominantemente e ainda não tenha menstruado. Estudos comprovam que a ovulação nos primeiros seis meses após o parto está relacionada com o número de mamadas; assim, as mulheres que ovulam antes do sexto mês após o parto em geral amamentam menos vezes por dia que as demais (BRASIL, 2015). PROMOÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO ENTRE MÃE E FILHO ↠ Acredita-se que a amamentação traga benefícios psicológicos para a criança e para a mãe. Uma amamentação prazerosa, os olhos nos olhos e o contato contínuo entre mãe e filho certamente fortalecem os laços afetivos entre eles, oportunizando intimidade, troca de afeto e sentimentos de segurança e de proteção na criança e de autoconfiança e de realização na mulher. Amamentação é uma formamuito especial de comunicação entre a mãe e o bebê e uma oportunidade de a criança aprender muito cedo a se comunicar com afeto e confiança (BRASIL, 2015). Um aspecto pouco conhecido é a proteção do AM ao meio ambiente. O leite materno é um alimento natural, sustentável, produzido e levado ao consumidor sem poluição e desperdícios, não causando nenhuma ameaça aos recursos naturais e à biodiversidade do planeta. A fabricação dos substitutos do leite materno causa degradação ao meio ambiente por causa dos processos de produção, embalagem, distribuição e preparação, prejudicando a sustentabilidade do planeta (JÚNIOR et al., 2021). ACONSELHAMENTO EM AMAMENTAÇÃO ↠ Além de conhecimentos básicos atualizados e habilidades técnicas em AM, o profissional de saúde precisa ter competência para se comunicar com eficiência, o que se consegue mais facilmente usando a técnica do aconselhamento em amamentação. Aconselhamento, neste caso, não significa dar conselhos. Em vez disso, essa técnica usa recursos que ajudam a mulher/família a tomar decisões, após informações e discussão dos prós e contras das opções. É importante que as mulheres/famílias sintam o interesse do profissional para adquirirem confiança e se sentirem apoiadas e acolhidas (JÚNIOR et al., 2021). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck PRINCIPAIS DETERMINANTES DE MENOR DURAÇÃO DO AM ↠ A prática do AM é influenciada por diversos fatores de ordem socioeconômica, étnica, cultural e psicológica. Podem ser individuais ou contextuais. Os fatores listados abaixo devem ser pesquisados em todas as mães/famílias em AM, pois podem aumentar a chance de menor duração do AM e/ou AME (JÚNIOR et al., 2021). Crescimento e desenvolvimento ↠ A criança apresenta-se em constante crescimento e desenvolvimento. Diante disso, avaliar a evolução (física e mental) em toda consulta é parte obrigatória da semiologia infantil (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). Crescimento e avaliação nutricional ↠ O crescimento é definido pelo aumento linear contínuo, mas não constante, das estruturas que o compõem e é resultante da interação de fatores intrínsecos ou orgânicos (genéticos, neuroendócrinos) e extrínsecos ou ambientais (nutricionais, condições geofísicas, atividades físicas, vínculo mãe-filho) (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). ↠ O crescimento é um processo dinâmico e contínuo, expresso pelo aumento do tamanho corporal. Constitui um dos indicadores de saúde da criança. O processo de crescimento é influenciado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais), entre os quais se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança, que atuam acelerando ou restringindo tal processo (BRASIL, 2012). Embora a informação genética defina as características físicas de cada indivíduo, incluindo altura, peso e outras características fenotípicas, os fatores extrínsecos e intrínsecos já citados interferem na tradução da mensagem genética, podendo comprometer sua expressão (potencial de crescimento). Essa interferência é maior ou menor conforme o tempo e a intensidade do agravo e da fase de desenvolvimento do indivíduo. Evidências científicas mostram que até 20% dos genes são influenciados pela herança genética; os outros 80% são influenciados pelo estilo de vida, principalmente a nutrição (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). O acompanhamento sistemático do crescimento e do ganho de peso permite a identificação de crianças com maior risco de morbimortalidade por meio da sinalização precoce da subnutrição e da obesidade (BRASIL, 2012). FATORES EXTRÍNSECOS ↠ A alimentação é, sem dúvida, o fator que está mais diretamente relacionado com o processo de crescimento. A privação ou o excesso de alimentos pode levar a dezenas de distúrbios, de maior ou menor gravidade, devendo haver um equilíbrio entre demanda e ingestão para a nutrição adequada (eutrofia). Quando ocorre predomínio de um dos fatores, aparece a subnutrição (proteico-calórica, anemias ferropriva e megaloblástica, deficiência de vitamina A, raquitismo, entre outras) ou a hipernutrição (obesidade, diabetes, hipervitaminoses) (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). FATORES INTRÍNSECOS ↠ Podem ser: (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • pré-concepcionais ou genéticos: fisiológicos ou patológicos, com ou sem alteração cromossômica; • pós-concepcionais (hormônios). ↠ Os fatores genéticos são as características herdadas dos pais (genes herdados). Em certas famílias, o crescimento acelerado e a maturação precoce são a regra, ao passo que, em outras, esse processo é lento. A herança genética também é responsável pela transmissão de genes anormais capazes de alterar os ritmos de crescimento e de desenvolvimento (cromossomopatias, erros inatos do metabolismo) (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). ↠ Alguns hormônios devem ser lembrados como influentes nas 4 fases do crescimento: (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • Crescimento intrauterino: insulina, lactogênio placentário (ação semelhante à do hormônio de 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck crescimento hipofisário [GH]), somatotrofina coriônica e somatomedinas). • Fase de lactente: os hormônios tireoidianos são os mais importantes, associados à insulina e ao GH. • Fase pré-puberal: a ação fisiológica mais importante é a do GH. • Fase puberal: dependente do aumento dos esteroides sexuais, GH e somatomedinas. Os agravos decorrentes das alterações nutricionais (desnutrição e obesidade) justificam a avaliação da condição nutricional em crianças e adolescentes em toda consulta médica, independentemente de seu motivo, para identificar, o mais cedo possível, pacientes com risco ou distúrbio alimentar e planejar o suporte nutricional mais adequado. Nos casos de pacientes hospitalizados, a avaliação deve ser realizada nas primeiras 24 horas da internação (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO ↠ A média da velocidade de crescimento (VC) do feto é de 1,2 a 1,5 cm/semana, mas apresenta grandes variações. A VC no meio da gestação é de 2,5 cm/semana e diminui para quase 0,5 cm/semana logo antes do nascimento. O final da gestação é caracterizado, portanto, por baixa VC e intenso ganho ponderal. Nas Tabelas abaixo, são apresentados alguns aspectos do crescimento fetal (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). O melhor método de acompanhamento do crescimento infantil é o registro periódico do peso, da estatura e do IMC da criança na Caderneta de Saúde da Criança. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam a utilização dos valores de referência para o acompanhamento do crescimento e do ganho de peso das curvas da OMS de 2006 (para crianças menores de 5 anos) e 2007 (para a faixa etária dos 5 aos 19 anos) (BRASIL, 2012). ↠ A Caderneta de Saúde da Criança utiliza como parâmetros para avaliação do crescimento de crianças (menores de 10 anos) os seguintes gráficos: perímetro cefálico (de zero a 2 anos), peso para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), comprimento/estatura para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), índice de massa corporal (IMC) para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos) (BRASIL, 2012). ANTROPOMETRIA ↠ Para a avaliação do crescimento físico, utiliza-se a antropometria com as seguintes medidas: (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). fundamentais: peso e estatura/altura; acessórias: • circunferências (braço, perna, cintura, abdominal); • comprimento superior do braço (CSB), da tíbia (CT) e do membro inferior a partir do joelho (CJ); • diâmetros (bicrista, biacrômio); • envergadura; • fontanelas; • perímetros cefálico (PC), torácico (PT) e abdominal (PA); • pregas cutâneas (tricipital, subescapular, suprailíaca, abdominal); • segmento superior (SS) e inferior (SI). Peso ↠ É umamedida de relevância em pediatria em razão da fácil obtenção e da alta sensibilidade durante os agravos nutricionais agudos e crônicos. Uma observação isolada tem valor relativo, por isso deve-se valorizar a curva ponderal. A pesagem precisa ser feita com a criança despida, quando até 24 meses, e com roupas leves, nas crianças maiores, sendo posicionadas de modo que o peso seja igualmente distribuído pela superfície da balança, que deve ser previamente calibrada (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). Peso de nascimento de um recém-nascido a termo – 3.300 g (3.000 a 3.500 g): (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • dobra o peso: 5 meses; • triplica o peso: 1 ano; • quadruplica o peso: 2 anos. Aumento ponderal médio do peso em trimestre, no 1º ano: (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • 1º trimestre: 700 g/mês – 25 a 30 g/dia; • 2º trimestre: 600 g/mês – 20 g/dia; 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck • 3º trimestre: 500 g/mês – 15 g/dia; • 4º trimestre: 300 g/mês – 10 g/d. Nos primeiros dias, o recém-nascido pode perder até 10% do peso de nascimento, que deverá ser recuperado até o 10º dia de vida (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). Estatura ↠ Essa medida reflete o estado nutricional atual e pregresso e sofre alteração e recuperação mais lentas. O comprimento ao nascimento é, em média, de 50 cm (de 49 a 55 cm) (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). ↠ O termo estatura compreende o comprimento (medido com o indivíduo deitado) e a altura (medida com o indivíduo em pé). O comprimento é utilizado para crianças até 2 a 3 anos de idade, medido com régua antropométrica horizontal, graduada em centímetros e milímetros, com haste fixa junto à graduação zero e, na parte oposta, um cursor que desliza sobre a escala milimetrada (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). Em crianças de 2 a 12 anos com limitações físicas, pode-se estimar a estatura por meio das medidas de comprimento superior do braço (CSB), comprimento tibial (CT) ou comprimento do membro inferior a partir do joelho (CJ); as medidas desses segmentos possibilitam estimar a estatura com a utilização de equações propostas por Stevenson: (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • CSB: distância do acrômio até a cabeça do rádio medida com o membro superior fletido a 90°; • CT: medida da borda superomedial da tíbia até a borda do maléolo medial inferior; • CJ: comprimento do joelho ao tornozelo. Perímetro cefálico ↠ A medida do PC deve ser realizada prioritariamente durante os primeiros 3 anos de vida, pois reflete o crescimento cerebral e é a última medida a ser comprometida na desnutrição. A medida deve ser realizada por meio de fita métrica inextensível, que deve passar pela glabela e pelo ponto mais saliente do osso occipital (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • PC do recém-nascido: 34 a 35 cm; • 6 meses: 42 a 44 cm; • 1 ano: 45 a 47 cm. Crescimento do perímetro cefálico no primeiro ano de idade: (WEFFORT; LAMOUNIER, 2017). • 1º trimestre: 2 cm/mês; • 2º trimestre: 1 cm/mês; • 3º trimestre: 0,5 cm/mês; • ao final do 1o ano, o PC do lactente deverá ter aumentado cerca de 12 cm; • do 1º ao 3º ano de vida, esperam-se aumentos da ordem de 0,25 cm/mês. Após esse período e até o 6º ano de vida, espera-se aumento de 1 cm/ano. Índice de Massa Corporal (IMC) ↠ O cálculo do IMC deverá ser realizado a partir da aplicação da fórmula a seguir, após realizada a mensuração de peso e altura ou de comprimento da 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck criança. As crianças menores de 2 anos deverão ser mensuradas deitadas em superfície lisa (comprimento) e as crianças maiores de 2 anos deverão ser mensuradas em pé (altura). A Caderneta de Saúde da Criança apresenta as tabelas de IMC calculadas e orienta as pessoas sobre o seu uso (BRASIL, 2012). A inclusão do IMC como parâmetro de avaliação permite que a criança seja mais bem avaliada na sua relação peso vs. comprimento (para menores de 2 anos) ou peso vs. altura (para maiores de 2 anos). Tal parâmetro auxilia na classificação de crianças que em um determinado período estiveram desnutridas e tiveram o comprometimento de sua estatura, possibilitando uma melhor identificação de crianças com excesso de peso e baixa estatura. Já o peso por idade limita-se a mostrar se a criança está com peso abaixo do recomendado para a sua idade, mas não mostra se a sua estatura já foi comprometida. O IMC já foi validado em crianças como bom marcador de adiposidade e sobrepeso, apresentando estreita correlação com outros parâmetros que avaliam a porcentagem de gordura corpórea, como as pregas cutâneas, a densitometria e a bioimpedância eletromagnética. Além da validação do IMC como bom marcador de adiposidade em crianças, o interesse pelo seu uso cresceu à medida que se notou que o IMC mensurado na infância pode ser preditivo em relação ao IMC na idade adulta (BRASIL, 2012). Condutas recomendadas para algumas situações de desvio no crescimento ↠ A seguir, serão apresentadas algumas considerações sobre o manejo de situações de desvio no crescimento da criança com até 5 anos de idade: (BRASIL, 2012). Sobrepeso ou obesidade • Verifique a existência de erros alimentares, identifique a dieta da família e oriente a mãe ou o cuidador a administrar à criança uma alimentação mais adequada, de acordo com as recomendações para uma alimentação saudável para a criança. • Verifique as atividades de lazer das crianças, como o tempo em frente à televisão e ao videogame, estimulando-as a realizar passeios, caminhadas, andar de bicicleta, praticar jogos com bola e outras brincadeiras que aumentem a atividade física. • Encaminhe a criança para o Nasf, se tal possibilidade estiver disponível. • Realize a avaliação clínica da criança. Magreza ou peso baixo para a idade Para crianças menores de 2 anos: • Investigue possíveis causas, com atenção especial para o desmame. • Oriente a mãe sobre a alimentação complementar adequada para a idade. • Se a criança não ganhar peso, solicite seu acompanhamento no Nasf, se tal possibilidade estiver disponível. • Oriente o retorno da criança no intervalo máximo de 15 dias. Para crianças maiores de 2 anos: • Investigue possíveis causas, com atenção especial para a alimentação, para as intercorrências infecciosas, os cuidados com a criança, o afeto e a higiene. • Trate as intercorrências clínicas, se houver. • Solicite o acompanhamento da criança no Nasf, se tal possibilidade estiver disponível. • Encaminhe a criança para o serviço social, se isso for necessário. • Oriente a família para que a criança realize nova consulta com intervalo máximo de 15 dias Magreza acentuada ou peso muito baixo para a idade • Investigue possíveis causas, com atenção especial para o desmame (especialmente para os menores de 2 anos), a alimentação, as intercorrências infecciosas, os cuidados com a criança, o afeto e a higiene. • Trate as intercorrências clínicas, se houver. • Encaminhe a criança para atendimento no Nasf. • Encaminhe a criança para o serviço social, se este estiver disponível. • Oriente a família para que a criança realize nova consulta com intervalo máximo de 15 dias. Desenvolvimento ↠ O conceito de desenvolvimento é amplo e refere-se a uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, maturação, aprendizagem e aspectos psíquicos e sociais (BRASIL, 2012). ↠ Na estrutura fisiológica humana, o que é inato não é suficiente para produzir um indivíduo sem a participação 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck do meio ambiente. Tudo em um ser humano (suas características, seus modos de agir, pensar, sentir, seus valores, etc.) depende da sua interação com o meio social em que vive. Portanto, o desenvolvimento da criança será sempre mediado por outras pessoas, pelas famílias,pelos profissionais de saúde, da educação, entre outros, que delimitam e atribuem significados à sua realidade (BRASIL, 2012). Já não há mais dúvidas quanto à necessidade de identificar precocemente os desvios do desenvolvimento infantil e de buscar a intervenção adequada no início da vida, aproveitando a neuroplasticidade e uma melhor janela de oportunidades. Esses conceitos mais atuais promovem uma mudança do sistema de saúde e do ensino na pediatria, passando de cuidados em doença para um modelo de cuidados em saúde/bem-estar, com a prevenção e a intervenção precoce como diretrizes mais concretas (JÚNIOR et al., 2021). Durante os dois primeiros anos, um aspecto importantíssimo do seu desenvolvimento é o desenvolvimento afetivo, caracterizado no apego, que é o vínculo afetivo básico (BRASIL, 2012). ↠ A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada ou motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Afinal, o desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo com os meios onde vive e os estímulos deles recebido (BRASIL, 2012). DESENVOLVIMENTO DE 0 A 10 ANOS ↠ A avaliação deve ser feita de acordo com cada marco do desenvolvimento e com a faixa etária. Caso aconteça falha em alcançar algum marco, deve-se antecipar a consulta seguinte e iniciar investigação quanto à situação ambiental e à relação da criança com os pais ou cuidadores. A persistência de atrasos do desenvolvimento por mais de 2 consultas ou a ausência do marco esperado para aquela fase indicam a necessidade de avaliação mais aprofundada e do encaminhamento para um serviço de maior complexidade ou para uma avaliação profissional mais específica, para que se inicie uma estimulação precoce (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Didaticamente houve a divisão em períodos, que vai do nascimento aos 10 anos de vida, mas lembramos que o desenvolvimento não segue um padrão linear e as fases se fundem umas com as outras (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 0 a 2 meses Desenvolvimento motor ↠ Ao nascimento o padrão motor da criança é imaturo, e observa-se predominância do tônus flexor dos membros associado a uma hipotonia axial, uma preensão palmar reflexa e o reflexo de sucção (JÚNIOR et al., 2021). A avaliação do desenvolvimento dos reflexos permite ao pediatra determinar a integridade do sistema nervoso central de acordo com a expectativa relacionada à idade cronológica da criança. Esses reflexos estão presentes em todos os recém-nascidos a termo, sendo considerados fisiológicos nos primeiros meses de vida. Sua ausência inicial ou permanência tardia sugere alterações patológicas que merecem ser investigadas. É importante lembrar que os prematuros devem ter seu acompanhamento feito de acordo com a idade gestacional corrigida até os 2 anos (JÚNIOR et al., 2021). Os principais reflexos a serem analisados são: preensão palmar, preensão plantar, reflexo cutâneo-plantar, reflexo de Moro, reflexo tônico-cervical, também conhecido como reflexo do esgrimista ou reação de Magnus-Kleijn, reflexo da marcha reflexa e reflexo da procura ou voracidade (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ No primeiro mês de vida a única forma de comunicação é o choro alto e repetido, associado às necessidades primárias do bebê. No segundo mês, a criança começa a emitir alguns sons que não o choro (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ A criança interage com o outro desde os primeiros momentos de vida. É um ser social e depende do outro para sobreviver. Seu objetivo principal é atingir o controle homeostático com o ambiente, e aos poucos ele vai se tornando alerta e consciente sobre o responsável pelos seus cuidados. O sorriso social inicia-se entre o primeiro e segundo mês de vida (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Começa a prestar atenção aos rostos, a seguir as coisas com os olhos e a reconhecer as pessoas a distância (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 2 a 4 meses Desenvolvimento motor ↠ Após os 2 meses de vida observa-se grande avanço no aperfeiçoamento das habilidades motoras dos bebês. Os reflexos primitivos vão desaparecendo para dar lugar a um movimento mais intencional. Nesse momento o bebê deve ser capaz de manter a cabeça firme ao ser segurado pelo tronco, além de manter suas mãos abertas com mais frequência, e começa a estender a mão em direção ao que lhe interessa, embora ainda não seja capaz de agarrar o objeto, o que fará somente aos 4 meses (JÚNIOR et al., 2021). 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ A produção verbal aos 2 meses já esboça um som de vogal, e pode-se perceber o bebê brincando com os próprios sons produzidos. Aos 4 meses o lactente já reconhece os diversos padrões sonoros, como repreensão ou elogios por parte do cuidador, respondendo com mudança da fisionomia para alegria ou tristeza (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Nessa fase o bebê já apresenta reciprocidade afetiva, vista pelo sorriso social, ao ser estimulado afetuosamente. Ele olha direta e demoradamente para a mãe ao ser amamentado, reage positivamente ao ser estimulado, sorrindo e emitindo grunhidos, demonstra satisfação nas atividades prazerosas, como aninhar-se ao corpo do cuidador (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Nessa fase, o bebê repete comportamentos que lhe pareçam agradáveis, ainda está focado em descobertas do seu próprio corpo, como chupar o dedo, colocar objetos na boca, ouvir os próprios sons, apertar as próprias mãos, permitindo saber se ele está feliz ou triste, responde ao afeto, pega o brinquedo com uma mão, usa as mãos e os olhos juntos, como ver um brinquedo e estender a mão para pegá-lo, segue coisas em movimento com os olhos de um lado para o outro, observa rostos de perto e reconhece pessoas familiares e coisas a distância (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 4 a 6 meses Nesse momento do desenvolvimento são mais serenos, pacíficos, sem cólicas, sorrindo com mais frequência, iniciando um interesse maior pelo rosto humano, com os membros superiores, inferiores e a cabeça mais em linha média, fixando mais o olhar, melhor controle do tônus cervical, explorando os movimentos e objetos, ou seja, já vendo e percebendo um mundo a sua volta (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento motor ↠ Aos 4 meses a criança já consegue segurar objetos e quando está em decúbito ventral levanta a cabeça de forma firme, apoiando-se nos antebraços. Apresenta postura simétrica, mãos abertas, reflexo palmar já praticamente ausente e brinca com as duas mãos (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Aos 6 meses apresenta mudança de posição de forma ativa (o bebê já rola com facilidade) e consegue levar objetos sozinha à boca. Consegue sentar, apoiando-se para a frente com as mãos ou um apoio, sustenta o peso com membros inferiores, agarra o cubo com as mãos, tenta pegar objetos pequenos e brinca com os pés (JÚNIOR et al., 2021). Em relação aos reflexos primitivos: os reflexos da procura ou voracidade e de preensão palmar a partir dos 4 meses desaparecem, e os movimentos vão se tornando voluntários. O reflexo de Moro começa a desaparecer e persiste até no máximo os 6 meses de vida. O tônico-cervical persistente nessa idade já representa uma possível lesão cerebral grave (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ Aos 4 meses a criança emite alguns sons (“gugu”, “eee”), vocaliza socialmente, grita e sorri. Aos 6 meses, consegue emitir sílabas isoladas, com combinação de consoante e vogal (“ba”, “ga”), e consegue obter a localização da fonte sonora (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimentosocioemocional ↠ Nessa etapa do desenvolvimento infantil há um aumento da reciprocidade social entre a criança e o cuidador. Os bebês são agora capazes de antecipar a intenção do cuidador e acompanham seus movimentos. Com 6 meses manifestam expectativa do horário de comer, sentem o afastamento dos cuidadores, sorriem quando estimulados de forma ativa e intencional, bem como se decepcionam ao ser frustrados, fazendo caretas ou chorando (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Demonstra estar feliz ou triste, responde ao afeto de forma mais adequada, usa as mãos e os olhos juntos, como ver um brinquedo e estender a mão para pegá-lo, observa rostos de perto e reconhece coisas a distância (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 6 a 9 meses A segunda fase do primeiro ano de vida da criança é marcada por mudanças muito rápidas. As relações de troca com o adulto surgem mais frequentemente e seguem modificando a arquitetura cerebral (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento motor ↠ Após os 6 meses, o bebê consegue sentar-se sozinho, sem ajuda ou com mínimo suporte de um adulto, e ficar um bom tempo sem cair para os lados ou para a frente. Percebe a forma e a textura das coisas, sendo capaz de levar pedaços de alimentos à boca. A criança tenta se locomover, às vezes apenas balançando o corpo para a frente e para trás com os quatro membros no solo, com o tronco e a cabeça elevados ou até mesmo rastejando com o abdome rente ao solo (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Alguns lactentes, com 9 meses, conseguem engatinhar ou ficar de pé com apoio e se deslocam de um lado para o outro, por exemplo, apoiando-se no sofá. Nessa fase, a criança rola em todas as direções, inclusive durante o sono, o que requer muita atenção por parte de seus cuidadores (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ Após os 6 meses, a criança passa a reconhecer seu nome e se vira para tentar encontrar a origem de algum som mais chamativo. Alguns sons específicos, como o do telefone, assim 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck como o som que representa o nome de objetos ou ações (cachorro, gato, bola, tchau), também são aprendidos. O lactente imita muitos sons, como “da-da-da”, e sons específicos mais parecidos com palavras que balbucios (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ As pessoas ainda são mais interessantes que objetos. Os bebês são agora capazes de compreender-se como um ser separado da mãe e do mundo, passam a perceber a intenção do cuidador, reconhecem alguns objetos de sua convivência, brincam com as mãos, pés, roupas e brinquedos (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Aos 6 meses, já iniciam o entendimento de seus próprios sentimentos, como a diferença entre sentir sede e a necessidade de afeto, com indícios de dicas se querem água ou carinho, por exemplo. Sentem o afastamento dos cuidadores, sorriem quando estimulados de forma ativa e intencional (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Aos 6 meses olha as coisas por perto, demonstra curiosidade e tenta obter coisas e objetos que estão fora de alcance. Começa a passar os objetos de uma mão para a outra. Aos 9 meses observa o caminho de algo que cai, procura coisas que vê alguém esconder, entende a brincadeira de esconde- esconde, coloca os objetos com facilidade na boca e pega pequenas coisas como cereais entre o polegar e o indicador (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 9 a 12 meses Desenvolvimento motor ↠ Aos 9 meses os bebês começam a desenvolver as habilidades de se arrastar e engatinhar na direção daquilo em que voluntariamente têm interesse. Aos 10 meses caminham com o apoio de um adulto, sustentando o corpo nas próprias pernas. Aos 11 meses conseguem ficar em pé por seus próprios meios, e aos 12 meses deambulam se conduzidos pela mão (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento de linguagem e da comunicação ↠ Nessa faixa etária os bebês começam a silenciar quando existe um interlocutor e esperam para responder com vocalizações quando seus parceiros param de conversar. Aos 9 meses mostram objetos e respondem de forma efetiva com o movimento de cabeça quando não querem algo; aos 10 meses buscam objetos e levantam os braços para serem colhidos; aos 11 meses mostram, compartilham e começam a responder de forma motora a situações sociais como abanar com a mão. Aos 12 meses apontam com a mão aberta na direção do objeto e o tocam com intenção de exploração (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Tipicamente nessa faixa etária, os bebês preocupam-se muito com o cuidador principal, podendo ter medo de outras pessoas que não fazem parte de seu cotidiano e mostrar-se muito reservados em situações novas. Já com 12 meses comunicam melhor suas emoções, mostrando claramente seu estado anímico e também um gradiente de resposta emocional diante de diversas situações, respondendo com intensidade positiva ou negativa em face de determinados estímulos (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Aos 12 meses o bebê explora as coisas de maneiras diferentes, como sacudir, bater e jogar. Olha para a imagem ou objeto certo quando é nomeado, imita gestos, começa a usar as coisas corretamente, por exemplo, bebidas de um copo, escova de cabelo, bate duas coisas juntas, coloca e tira as coisas de uma caixa, deixa as coisas correrem sem ajuda, cutuca com o dedo indicador e segue instruções simples como “pegue o brinquedo” (JÚNIOR et al., 2021). Estágio dos 12 aos 18 meses Podemos considerar que 12 meses é uma idade formativa e transicional. Alguns comportamentos apresentados nessa fase só vão adquirir maior organização aos 15 meses e se consolidar aos 18, quando outros marcos se manifestam em sua forma inicial (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento motor ↠ No campo motor, a principal aquisição é a marcha. Aos 12 meses a criança assume a posição ereta e se sustenta sobre seus pés. Aos 15 meses, já prefere caminhar ereta, interagindo mais com o ambiente que a cerca (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Consegue segurar objetos pequenos com precisão e facilidade. Nessa idade, sob estímulo, já consegue soltar um bloco dentro de uma caneca, articulando a coordenação visomotora com a habilidade de preensão e soltura voluntária. Contudo, aos 18 meses já terá a capacidade de colocar até 10 blocos dentro de uma caneca de forma ordenada, demonstrando um aprimoramento que é associado à maturidade (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ Aos 12 meses, a criança já compreende e reconhece boa parte das situações e objetos que fazem parte de seu cotidiano. Embora sua fala inclua apenas duas ou três palavras com significado, além de “papá” e “mamá”, ela já compreende ordens ou solicitações simples (“me dê a bola”), além de olhar corretamente para os objetos indicados pelos pais ou mesmo apontá-los para especificar o que deseja (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Aos 15 meses a criança fala 4-6 palavras incluindo nomes, usando um jargão mais rico e elaborado. Aos 18 meses a linguagem da criança se aprimora, seu jargão se mostra 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck correlato à maior percepção das pessoas e de eventos de sua rotina diária e seu vocabulário se amplia (em torno de 50 palavras) (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Nesse período do desenvolvimento a criança gosta de entregar coisas aos outros como brincadeira, pode ter acessos de raiva quando frustrada, tem medo de estranhos, demonstra afeto por pessoas conhecidas, pode se apegar aos cuidadores em novas situações, mostra aos outros algo interessante e explora sozinha com os pais em vigilância (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Mostra interesse em uma boneca ou bicho de pelúcia fingindo alimentá-los, aponta para uma parte do corpo, rabisca sozinho, pode seguir comandos verbais de 1 passo semquaisquer gestos; por exemplo, se senta quando alguém diz “sente-se” (JÚNIOR et al., 2021). Estágio dos 18 aos 24 meses O período que se inicia a partir dos 18 meses de vida deve ser visto com especial atenção, pois possíveis atrasos na comunicação e desenvolvimento da linguagem, assim como atrasos leves no desenvolvimento motor, podem ser melhor observados nessa fase (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento motor ↠ Com 18 meses, as crianças já conseguem andar com segurança e até dar pequenas corridas, além de conseguirem subir e descer degraus baixos e se sentarem em cadeiras pequenas. A partir dos 2 anos, evoluções motoras importantes costumam ser observadas: a criança já é capaz de ficar na ponta dos pés, chutar e lançar bolas sem ajuda, aprende a correr, subir escadas, escalar, pular e abrir maçanetas e começa a tirar sozinha algumas peças de roupa. Em relação à coordenação, consegue copiar grosseiramente desenhos de círculos e linhas horizontais, manifesta preferência pelo uso de uma das mãos e segue ordens com dois comandos diferentes (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ Ao se aproximarem dos 2 anos já estão usando entre 50- 200 palavras e formando frases com 1 substantivo e 1 verbo. Aos 18 meses a criança começa a obedecer a ordens simples e, quando solicitada, reconhece e aponta fotos, pessoas e partes do corpo, assim como o nome de objetos familiares. Aos 2 anos se chama pelo nome, completa frases e começa a diferenciar cores, formas e animais (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Um marco importante da criança entre 1-24 meses é o aprendizado do sentimento de posse, quando passa a entender o conceito de “meu” e “não” e a repetir frequentemente essas palavras no dia a dia. Nesse contexto, costuma brincar sozinha (com bonecos, p. ex.) e com mais de um brinquedo ao mesmo tempo, embora aceite a companhia de outras crianças para brincar. Ao mesmo tempo que podem demonstrar um comportamento desafiador, iniciando comportamentos de birra, crianças nessa faixa etária começam a demonstrar vergonha, culpa ou tristeza após a transgressão de uma regra (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Ao final desse período as crianças já encontram as coisas mesmo quando escondidas sob duas ou três tampas, começam a classificar formas e cores, completam frases e rimas em livros já familiares, brinca de jogos simples de faz de conta, segue instruções de 2 etapas, como “pegue seus sapatos e coloque- os no armário”, e nomeia itens em um livro de imagens, como um gato, pássaro ou cachorro (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 2 a 3 anos Desenvolvimento motor ↠ Nesse momento a criança corre e bate numa bola sem perder o equilíbrio, tenta se equilibrar num só pé, sobe escadas alternando movimentos de membros inferiores, colocando um pé de cada vez no degrau, consegue se manter em pé sobre uma única perna, salta no mesmo local com ambos os pés e consegue andar de triciclo (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ A criança estabelece relações entre objetos e palavras, amplia o tempo de atenção e concentração, aprimora a percepção auditiva e visual, segue as instruções com 2 ou 3 etapas, pode citar coisas mais familiares, fala o primeiro nome, idade e sexo, nomeia um amigo, diz palavras como “eu”, “nós” e “você”, alguns plurais (carros, cães, gatos), fala bem o suficiente para que estranhos o entendam na maior parte do tempo e mantém uma conversa usando 2-3 frases (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Imita adultos e amigos, demonstra afeto pelos amigos sem precisar ser estimulado, demonstra preocupação por um amigo chorando, compreende a ideia de “meu”, “dele” ou “dela”, mostra uma ampla gama de emoções, separa-se facilmente da mãe e do pai e pode ficar chateado com grandes mudanças na rotina (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Consegue usar brinquedos com botões, alavancas e peças móveis, brinca de faz de conta com bonecos, animais e pessoas, monta quebra-cabeças com 3 ou 4 peças, entende o que “dois” significa, copia um círculo com lápis ou giz de cera, vira as páginas do livro uma de cada vez, constrói torres de mais de 6 blocos, parafusa e desparafusa as tampas do frasco ou gira a maçaneta da porta (JÚNIOR et al., 2021). 15 Júlia Morbeck – @med.morbeck Estágio de 3 a 6 anos Nesse momento do desenvolvimento a formação de novas sinapses reduz o ritmo nas áreas de broca (responsável pela linguagem), giro angular (expressão verbal), córtex visual (visão) e córtex auditivo (audição) e torna-se mais intensa no córtex pré-frontal, responsável por funções cognitivas mais elevadas. É o estágio do pensamento representativo, quando a criança começa a gerar representações da realidade no próprio pensamento, possibilitando a aprendizagem da fala e as brincadeiras de “faz de conta” (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento motor ↠ Aos 4 anos sobe e desce escadas alternando os pés, salta sobre um pé e consegue lançar uma bola, tendo maior controle dos movimentos. Desenha uma figura humana simples (garatuja nomeada), o controle vesical diurno e o anal estão consolidados e o vesical noturno em consolidação (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Aos 5 anos, pula e pega uma bola arremessada e salta alternadamente sobre cada pé. Copia um triângulo, desenha uma pessoa em 6 partes (etapa pré-esquemática) e usa a tesoura. Aos 6 anos anda em linha reta usando toda a superfície do pé. A lateralidade está definida e consegue escrever o próprio nome e está apta a comer sozinha com uma colher (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ Nessa fase lembra, conta historinhas e responde perguntas simples. Entre 4-5 anos, a criança adquiriu um vocabulário alargado, constituído de 1.500-2.000 palavras, manifestando um grande interesse pela linguagem. Apresenta grande curiosidade e faz muitas perguntas, gostando de contar e inventar histórias, usando conjunções e compreendendo preposições. Entre 5-6 anos aprecia conversar durante as refeições, realizando muitos questionamentos (fase dos “porquês?”) e utiliza corretamente o plural, os pronomes e tempos verbais (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Procura constantemente testar o poder e o limite dos outros e pode ter amigos imaginários com grande capacidade de fantasiar. A criança entre 5-6 anos consegue seguir bem as instruções e aceita supervisão. Está mais calma, não é tão exigente nas relações, gosta de copiar os adultos e tem maior sensibilidade às necessidades e sentimentos dos outros. A mãe ainda é o centro do mundo, e a criança receia perdê-la, podendo apresentar medos e certa ansiedade de separação (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Reconhece bem todas as cores, números, entende conceitos de antes e depois, em cima e embaixo e conceitos de tempo, como ontem, hoje e amanhã. Conhece as diferenças de sexo e começa a interessar-se por saber de onde vêm os bebês. Consegue assegurar sua higiene com autonomia. Pode escrever algumas letras ou números, copia um triângulo e outras formas geométricas e entende sobre coisas usadas no dia a dia, como dinheiro e comida (JÚNIOR et al., 2021). Estágio de 6 a 10 anos Desenvolvimento motor ↠ Conseguem pular e arremessar, equilibram-se em um pé sem olhar, andam em uma barra de 5 cm de largura, pulam sobre um pé só e saltam com precisão dentro de um quadrado, têm força de preensão de aproximadamente 5 kg, executam saltos rítmicos e alternados, correm a uma velocidade de 4 m por segundo, arremessam bola a 12 m de distância e saltam a uma distância de 1,2 m (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento da linguagem e da comunicação ↠ As crianças são capazes de compreender, interpretar e se fazerem entendidas com muito mais habilidades,inclusive na linguagem escrita. O vocabulário aumenta substancialmente, e as crianças atribuem vários significados a uma mesma palavra. Por exemplo, manga pode significar a fruta ou a parte da camisa (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento socioemocional ↠ Nessa época as crianças aprendem valores próprios da sua cultura, crescendo em competência, aprimorando a capacidade de dominar certas habilidades e realizar tarefas. Nesse momento percebe-se, de forma mais clara, a autoestima das crianças que tiveram adequadas relações com seus pares ao longo do tempo, amparadas pela atitude positiva dos pais e cuidadores, diante dos desafios diários ao longo de seu desenvolvimento (JÚNIOR et al., 2021). Desenvolvimento cognitivo ↠ Passa a ser capaz de realizar operações mentalmente e não mais depender apenas de ações físicas da inteligência sensório motora, por exemplo: qual é a vareta maior entre várias; a criança será capaz de responder acertadamente, comparando- as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a ação física (JÚNIOR et al., 2021). ↠ Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as ações executadas mentalmente se referem, nessa fase, a objetos ou situações passíveis de serem manipulados ou imaginados de forma concreta, dependendo ainda de suas experiências objetivas para deduzir os resultados possíveis (JÚNIOR et al., 2021). Proporcionar à criança oportunidades para que tenha um desenvolvimento adequado é, talvez, o que de mais importante se pode oferecer. Um desenvolvimento infantil satisfatório, principalmente nos primeiros anos de vida, contribui para a formação de um indivíduo com suas potencialidades desenvolvidas, com maior probabilidade de se tornar um cidadão mais apto a enfrentar as adversidades que a vida oferece (resiliência), reduzindo-se assim as disparidades sociais e econômicas da sociedade (JÚNIOR et al., 2021). 16 Júlia Morbeck – @med.morbeck Referências JÚNIOR, Dioclécio C.; BURNS, Dennis Alexander R.; LOPEZ, Fábio A. Tratado de pediatria. v.1. Editora Manole, 2021. MONTENEGRO, Carlos Antonio B.; FILHO, Jorge de R. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição. Grupo GEN, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar, 2ª edição – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. WEFFORT, Virgínia Resende S.; LAMOUNIER, Joel A. Nutrição em pediatria: da neonatologia à adolescência 2ª edição. Editora Manole, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento/ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
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