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UNIDADE 2 - Pensamento criativo e oportunidade para a resolucao de problemas

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Introdução
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Você já reparou em algum artista realizando uma performance, como um dançarino ou um pintor? Já se envolveu em uma atividade e não viu o tempo passar? Essas situações podem indicar o estado de flow, um estado de espírito em que ficamos totalmente imersos no que fazemos e podemos criar o novo em atividades que já temos amplo domínio. 
Vamos falar nesta aula sobre isso e sobre a formação de indivíduos criativos, compreendendo o papel do ambiente e de nossas relações afetivas, inclusive com a própria tarefa. Por último, vamos conhecer uma técnica para facilitação de nossas emoções de forma a promover a criatividade.
Ao final da aula espera-se que você perceba mais atentamente seus processos criativos e facilite humores positivos para que novas soluções possam chegar a seu campo cognitivo.
O processo de flow
É encantador observar os movimentos de uma bailarina em uma apresentação de alto desempenho. A fluidez na pista faz parecer fácil a condução dos passos e por mais força que ela coloque em seus músculos, o que conseguimos perceber é leveza. Se perguntarmos para a bailarina como ela se sente no momento da performance, ela dirá que é como se o tempo parasse ou como se não tivesse percepção alguma de tempo. Outra característica é que ela não perceberia seus pensamentos, como se nesse momento o eu se fundisse com a tarefa, ou seja, ela se tornasse a dança. Esse estado de espírito em que estamos totalmente imersos em uma atividade é chamado de flow, ou fluxo.
Para chegar ao desempenho em flow em processos criativos são necessárias muitas horas de treinamento. De acordo com o psicólogo positivo Mihaly Csikszentmihaliy (2020), que estuda o processo de flow nos últimos 30 anos, são necessários 10 anos de dedicação a um determinado tema ou atividade para que se possa criar algo totalmente novo a respeito. E aqui o autor faz uma conexão entre o flow e a criatividade: é preciso muito envolvimento com uma atividade para que se possa ser criativo em relação a ela. É como se a mente precisasse de muitos registros de uma determinada ação para que pudesse automatizar totalmente o processo e então fluir de forma mais independente, sem programar os pensamentos. 
Ao realizar uma tarefa em estado flow, a pessoa sente-se “livre” de ter de pensar e simplesmente flui. Csikszentmihaliy explica que mesmo atividades consideradas repetitivas, burocráticas ou cansativas, pode oportunizar momentos de criatividade, gerando satisfação posterior. Para isso acontecer, é necessário que os indivíduos dessas atividades tenham o chamado perfil autotélico, que consegue reconhecer oportunidades onde outros não reconhecem e tirar bem-estar psicológico a partir de atividades consideradas difíceis para outras pessoas. A pessoa autotélica cria condições para o flow acontecer. Outros exemplos são as atividades de “abrir a massa” feita em algumas pizzarias artesanais ou de “soprar o vidro” feita em vidraçarias tradicionais. Essas são tarefas aparentemente banais que são transformadas criativamente por pessoas autotélicas, que retiram satisfação e promovem um toque artístico no que fazem.
Algumas outras definições ajudam a compreender melhor o flow. É necessário que a pessoa se sinta desafiada pela tarefa e, ao mesmo tempo, tenha condições de executá-la. Daí a importância do amplo tempo de dedicação para que se chegue ao flow. Se temos muito domínio sobre uma atividade e não somos desafiados por ela, é fácil cair em um estado de tédio. Já se temos pouca habilidade e o desafio da tarefa é muito grande, entramos em estado de preocupação ou ansiedade, uma vez que não vemos saída fácil. Essas diferentes relações entre o desafio e a habilidade são explicadas pela Figura 1.
Figura 1 | Estado de flow. Fonte: adaptada de Csikszentmihalyi (2020).
O que se pode resumir é que duas condições são necessárias para que o flow possa acontecer: a pessoa sentir-se altamente motivada para a atividade e com capacidade ou competência para realizá-la a contento. Nesse caso, há um grande investimento de energia e concentração, até que se perca a noção do tempo ou do pensar. Passa-se a tão somente executar, com espaço para criar. Daí a satisfação decorrente.
O indivíduo criativo em formação
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Inspirado na teoria de Csikszentmihalyi, Howard Gardner explorou as condições necessárias para as pessoas serem criativas. Ele analisou a vida de sete personalidades criativas: Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi e chegou à conclusão de que a criatividade não é um fato isolado e restrito a indivíduos geniais, ao contrário, depende das condições de formação do indivíduo criativo, do ambiente em que cresceu, do afeto que recebeu e das oportunidades que encontrou.
Para explicar essas condições, Gardner (1996) propôs o triângulo da formação (Figura 2), que traz três elementos centrais:
1. Da criança ao mestre – compreensão de como o indivíduo passa de criança a mestre, como os talentos foram identificados e que meios encontraram para florescer.
2. Campo de domínio – a relação entre o indivíduo e o trabalho em que se envolveu.
3. Ambiente-comunidade – a relação entre o indivíduo e outras pessoas que fazem parte do seu mundo, tais como familiares e professores.
A interconexão desses três elementos faz com que se compreenda as bases do processo de criatividade no decorrer de uma vida, inclusive todos os afetos envolvidos.
Figura 2 | Triângulo da formação. Fonte: Gonzaga e Rodrigues (2018, p. 22).
Dessa forma, o triângulo da formação engloba aspectos individuais (herança genética, temperamento, constituição básica); aspectos do ambiente (influência de pais, professores e demais pessoas que julgam ou emitem opiniões sobre o comportamento do indivíduo); e o domínio (o estágio de desenvolvimento de uma dada disciplina em uma determinada época). O mesmo triângulo já havia sido utilizado por Gardner para explicar o conceito de Inteligências Múltiplas.
Alguns achados na formação do indivíduo criativo
De acordo com Gardner, todos os mestres criativos estudados mostraram dons formidáveis na infância, havendo especial destaque para o nível de habilidade do jovem Picasso. Um desenhista talentoso na primeira década de sua vida, ele estava no final da adolescência pintando com tanta sutileza quanto qualquer outro artista de sua época – e lançando as bases para mais 75 anos de produtividade. Picasso oferece a oportunidade de considerar as contribuições da prodigiosidade para as primeiras realizações deslumbrantes e sua transmutação em uma forma que permite a realização de contribuições mais duradouras.
Outra característica compartilhada pelos mestres criativos é que vivenciaram diferentes culturas e contextos, não ficando restritos aos códigos sociais de uma determinada região ou cidade e havendo inclusive participado de movimentos criativos de seu tempo. O autor cita o exemplo do escritor T.S. Eliot, que se tornou de certa forma “marginal” em sua própria era, mesclando estilos diversos em sua obra. 
Por último, todos os criadores tinham algum tipo de sistema de suporte significativo. Isso incluiu apoio afetivo de alguém de quem colhia suporte emocional e cognitivo. Em algumas situações, a mesma pessoa supria ambas as necessidades, em outras ocasiões, foi necessária mais de uma pessoa para os diferentes suportes. A relação entre o indivíduo criativo e esse “outro significativo” se compara em utilidade a outros dois tipos de relacionamento: a relação entre o cuidador e a criança no início da vida, e a relação entre um jovem e seu ou seus amigos no decorrer do crescimento. Em alguns aspectos, essa relação passa por algum tipo de embate, em que o mestre tenta introduzir um novo jeito de ver as coisas e seu amigo-confidente é o zelador da língua e cultura existente. O que se reforça é que a criatividade passa pela ação de forças sociais e afetivas, que agem no desenvolvimento do indivíduo criativo.
Facilitação emocional para criar
Será que existe um jeito de pensar que facilita a criatividade? A resposta é sim e essejeito envolve determinados humores e suas formas análogas de pensar. Antes de mais nada é preciso deixar de encarar as emoções como visitas inoportunas que atrapalham nosso pensamento e começar a considerá-las como componentes-chave para despertar nossa cognição. Uma das mensagens mais importantes para nosso melhor desempenho em tarefas cognitivas de criação é de que as emoções podem melhorar nosso raciocínio.
Isso acontece porque nossos humores têm impacto direto sobre o pensamento. Conforme nosso humor se altera, o mesmo ocorre com o pensamento. Assim, se somos capazes de perceber como estamos nos sentindo e em seguida conseguirmos alterar esse sentimento, facilitamos o espaço para pensarmos criativamente. Porque a cada mudança de humor muda também a forma como analisamos a realidade. E esse é exatamente o “pulo do gato” que favorece o novo chegar. E melhor ainda se estivermos sob efeito de emoções positivas.
Os humores positivos ajudam nossa mente a “abrir janelas” e pensar em novas possibilidades. Por exemplo, se estamos de “bom humor” de repente nos vemos elaborando com facilidade um determinado plano de marketing, já que esse bem-estar fornece segurança psicológica e favorece que pensemos sobre coisas que “não estão ali”. Quando nos sentimos alegres e confiantes olhamos para fora da caixa, arriscamos dar uma opinião em uma apresentação coletiva, topamos um passeio diferente, acreditamos que as coisas “podem dar certo” e diminuímos a percepção de risco.
O contrário acontece com os humores negativos. Eles nos abrem os olhos para tudo que pode dar errado e nesse sentido podem ser um empecilho a novas ideias. Mas se houver uma leve mudança de um estado negativo pode-se abrir espaço para a criatividade, especialmente para questões de organização e ordenamento. E eis que numa tarde um tanto melancólica olhamos para as gavetas e, no meio de uma motivação momentânea, nos vemos descobrindo uma forma criativa de disposição das peças. Foi nosso humor que teve uma leve alteração, suficiente para que o “pop up” mental da criação pudesse acontecer.
A pausa também pode ser um facilitador emocional para a criatividade. Muitas vezes simplesmente pausar e ficar sem “fazer nada” é suficiente para construir as bases para que uma nova ideia possa surgir. Eis aqui uma prática revelada por muitos criativos: não é só buscando a solução que a encontramos. Vale a pena se “abastecer de informações” a respeito do que queremos resolver, mas também deixar um tempo de folga para que a mente intuitiva possa trabalhar subliminarmente e, sem que possamos antecipar, a solução simplesmente “aparece” no campo mental.
Eis então uma proposta de atividade para promover sua troca de humor e consequente abertura à criatividade. De acordo com Caruso e Salovey (2007), uma das estratégias mais eficazes para alterar o humor é simplesmente repetir declarações positivas. O efeito é sutil, mas bastante eficaz. O ideal é que você leia essas declarações em voz alta ou silenciosamente para si mesmo:
· Me sinto muito bem hoje.
· Estou muito feliz.
· As coisas estão melhorando.
· É fácil fazer essa tarefa, eu consigo.
· Este é um grande dia.
· Estou muito alegre hoje.
Desejamos uma boa prática das estratégias que estudamos e ótimas criações!
Videoaula: Facilitação emocional do pensamento criativo
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Na primeira parte de nossa aula vamos falar sobre flow, um estado de espírito em que estamos totalmente imersos em uma atividade e não percebemos o tempo passar. Em seguida, conheceremos o processo de desenvolvimento de uma pessoa criativa e o triângulo da formação. Encerraremos a aula compreendendo o papel das emoções na facilitação do pensamento, de como nossos humores afetam nossa criatividade.
ntrodução
Será que a criatividade é algo que já trazemos de nascença ou pode ser desenvolvida? Embora existam talentos que já trazemos conosco, todos nós podemos ser criativos porque criatividade diz respeito a um processo, não a uma determinada forma de perceber a realidade. Nesta aula, vamos aprender sobre os obstáculos à criatividade e como o diálogo é a porta de entrada para a criação compartilhada em grupos humanos. 
Em seguida, vamos conhecer os elementos que fazem parte do processo criativo, entendendo o papel da razão e da emoção em nossas inovações e propostas de solução de problemas. Por último, teremos a sugestão de duas práticas que prometem acelerar os processos criativos.
Obstáculos à criatividade e o valor do diálogo
Todos podemos ser criativos, mas o que separa os grandes autores e artistas dos que não criam é a crença na própria criatividade. É verdade, no entanto, que existem alguns obstáculos à criatividade, desde bloqueios simples de atenção até mais complexos. Eis aqui alguns deles:
1. Obstáculos da percepção – são aqueles provocados pelo próprio ego, embates do raciocínio. A análise crítica, o julgamento e as percepções negativas podem atrofiar o processo de criação.
2. Obstáculos emocionais – a emoção que mais bloqueia a criatividade é o medo, em suas mais diversas formas: medo de errar, medo do desconhecido e principalmente medo da rejeição. Algumas pessoas dizem “tenho medo de falhar” e isso as paralisa.
3. Obstáculos intelectuais – nesse caso não há apenas a barreira do ego, mas sim dificuldades de construção do raciocínio. Um exemplo é algum tipo de bloqueio da linguagem e conotações específicas. Por isso é tão difícil criar um texto em uma língua que não dominamos.
4. Obstáculos culturais – muitas vezes ficamos presos à nossa própria cultura. Barreiras culturais podem impedir o acesso a novas possibilidades de ação e de pensamento.
5. Obstáculos ambientais – restrições de acesso, ação ou presença de outras pessoas e dificuldades tecnológicas são exemplos de barreiras à criação que independem da ação do criativo.
Muitos dos obstáculos são atitudes de autodefesa em que o indivíduo procura evitar sentimentos ansiosos e interrompe a criação. Às vezes, a remoção ou o afastamento dos obstáculos requer criatividade.
Mas como podemos então gerar novas ideias? De onde elas vêm? Um bom lugar para se começar é nossa memória. Por isso, quanto mais experientes somos também maior é nosso arquivo de base criativa (SEAWARD, 2009). As ideias podem vir de diferentes recursos: livros, filmes, conversas com os amigos, posts de redes sociais e até mesmo aquele episódio preferido da Netflix. Para sermos criativos é necessária uma postura de abertura à experiência, um certo espírito explorador, em que deixamos de lado a censura mental e nos tornamos curiosos à novidade.
E os grupos humanos, podem cocriar juntos?
William Isaacs, pesquisador há mais de 30 anos de grupos humanos entende que é possível promover a arte de pensar juntos, a partir do diálogo. Segundo ele, problemas entre gerentes e funcionários, cidadãos e autoridades eleitas e nação e nação muitas vezes derivam de incapacidade de conduzir um diálogo bem-sucedido. O diálogo envolve aprender a abandonar as reações iniciais diante da posição de outras pessoas e tomar consciência de um fluxo de novas possibilidades (ISAACS, 1999). 
Alguns empecilhos para o bom diálogo são o excesso de preparação – chegamos prontos para falar, não para ouvir – e o pensamento rígido a respeito dos temas a serem tratados. Pessoas que pensam e conversam com eficácia, favorecendo o processo criativo de um grupo, possuem as seguintes qualidades:
· Escuta – Devemos ouvir não apenas os outros, mas a nós mesmos, abandonando nossas suposições, resistências e reações.
· Respeito – Devemos permitir ideias diferentes das nossas serem expressas, ao invés de tentar mudar as pessoas com um ponto de vista diferente.
· Observação – Devemos suspender nossas opiniões, recuar, mudar de direção e ver com novos olhos.
· Autonomia – Devemos falar nossa própria voz, sem termos agendas predeterminadas com alguém ou alguma instituição. Encontrar a própria autoridade é também desistir da necessidade de dominar.
A concretude da criatividade
Há um certo consenso de que os indivíduos criativos, sejam eles artistas,líderes ou cientistas, têm em comum uma ampla capacidade de observação, uma motivação e energia ímpar e às vezes uma forma particular de viver e tomar decisões. Entende-se que seu pensamento é mais livre e menos dependente da lógica, mais inclinado ao sonho e à fantasia.
Contrapondo em parte essa visão, o sociólogo Domenico De Masi (2003) desenhou um modelo para explicar grupos criativos que equilibram razão e emoção, fantasia e realidade. De acordo com o autor, existem quatro forças entre as quais a criatividade atua: a) o pensamento primário, b) o pensamento secundário, c) a esfera emotiva e d) a esfera racional. 
O pensamento primário tem a ver com o funcionamento inconsciente da psique, em que prevalece o sonho e algumas psicoses. Já o pensamento secundário diz respeito ao funcionamento da mente desperta e serve-se da lógica comum. A esfera emotiva é composta de emoções, sentimentos e atitudes e a esfera racional de conhecimentos e habilidades. 
Das intersecções entre esses quatro fatores surgem as condições para a criatividade acontecer, conforme apresentado na Figura 1. Da intersecção entre a esfera emotiva e o pensamento secundário surge a (1) área das emoções administradas. Um exemplo dessa primeira intersecção são os diálogos em torno de nossos sentimentos ou a dramatização em forma de arte. Da união entre a racionalidade e a mente consciente surge a (2) área da concretude, em que as soluções e inovações tornam-se materiais e reais. Na intersecção entre emotividade e a mente inconsciente está a (3) área da fantasia, em que os primeiros movimentos involuntários do processo criativo podem surgir e entre a esfera racional, e no pensamento primário está a (4) área das técnicas introjetadas, como aqueles sonhos que não servem para o campo da realidade.
Assim, entende-se que a criatividade não se caracteriza apenas pela imaginação e fantasia, mas também pelo movimento para sua realização (concretude), ainda que na síntese do entroncamento entre fantasia e concretude, entre emoções administradas e técnicas introjetadas instala-se a criatividade, conforme resumido na figura a seguir.
Figura 1 | Processo criativo para De Masi (2003). Fonte: De Masi (2003, p. 571).
Por último, vale reforçar que o movimento da inspiração e realização não é necessariamente linear. Espera-se que toda grande criação parta de um arroubo de intuição fantasiosa para depois se planificar. Nem sempre esse é o caso, também o inverso pode acontecer. Um exemplo de obra que partiu da concretude para a fantasia é do auditório de Oscar Niemeyer na cidade de Ravello, na Itália. Conforme resgata De Masi (2003), segundo o arquiteto, na proposta de projeto já se sabia que a inclinação do terreno era irregular e estreita. Percebendo a dificuldade da obra e o custo de aplainar o espaço, o artista aproveitou a inclinação para definir a localização da plateia, fazendo com que essa característica servisse de ponto de partida para o desenho do restante do projeto.
O encontro com o artista
A arte é uma atividade do cérebro artista e sua linguagem é a imagem e o símbolo. Por isso a linguagem do artista é sensual, alimentada pela experiência e os cinco sentidos. Para Seaward (2009), as atividades criativas envolvem uma combinação das funções dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano. Maslow (1987) concluiu que o processo criativo e o caminho para a autorrealização eram o mesmo. Antecedendo o pensamento de De Masi, ele dividiu o processo criativo em duas partes: primária e secundária. A criatividade primária é a origem das ideias: uma espécie de playground da mente em que as imagens são geradas, ainda incipientes e não necessariamente úteis. Já a criatividade secundária é o momento do processo criativo em que é traçado um plano estratégico para que a ideia selecionada funcione na realidade, quando ela é posta em ação. 
Considerado pelo diretor Martin Scorsese como uma ferramenta valiosa para se conectar com a própria criatividade, o livro O Caminho do Artista, de Julia Cameron, propõe uma jornada de atividades para recuperação de nosso eu criativo. Na base de todas as reflexões, Cameron (2019) propõe duas ferramentas para o despertar criativo: as páginas matinais e o encontro com o artista. 
As páginas matinais são três páginas escritas à mão com livre associação. Simplesmente isso, sem um plano prévio e sem necessidade de editar o texto. A intenção é liberar as preocupações cotidianas ou as histórias que passam em nossa cabeça, de forma que sobre o espaço para a criatividade acontecer. As páginas permitem que nos afastemos de nossos censores ou críticos internos e vão aos poucos permitindo que nos livremos de medos, dúvidas, negatividade e outros humores que impeçam nossa ação criativa.
Todas essas coisas que lhe provocam raiva, irritação e implicância, escritas pela manhã, são um obstáculo entre você e sua criatividade. Preocupações com o emprego, a lavanderia, o barulho esquisito que o carro está fazendo, o olhar diferente do seu namorado – isso tudo fica se revolvendo em seu subconsciente e enlameando seus dias. Deixe tudo no papel. (CAMERON, 2019, p. 35)
A ferramenta de encontro com o artista é um tempo, talvez duas horas por semana, reservado para alimentar a consciência criativa e o artista interior. É uma hora “para brincar”, só que planejada com antecedência. No momento do encontro é importante não ser interrompido.
Alguns exemplos de atividades de encontro com o artista são: uma visita a uma loja de artigos de segunda mão, um passeio na praia, assistir a um filme antigo, um passeio no parque. São coisas que custam tempo, e não dinheiro. Conforme aponta Cameron (2019, p. 44): “passar um tempo a sós com sua criança artista é essencial para nutri-la”.
Achou isso tudo interessante? Então agora é sua vez: separe um caderno específico para a sua prática criativa e nele passe a produzir suas páginas matinais. Também uma vez ao menos por semana, por pelo menos uma hora, garanta seu encontro com o artista, consigo mesmo. 
Bons estudos e boa prática criativa!
Grupos criativos e solução de problemas
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Em nossa aula falamos sobre os obstáculos à criatividade e de que forma os processos criativos podem ser incentivados quando a tarefa é de um grupo de pessoas. Vamos também desmistificar algumas ideias do que compõe a criatividade em si e compreender como a razão e a emoção podem colaborar para produzir novas ideias. Por último, nosso convite é à prática de estratégias de resgate do artista que mora em cada um de nós.
Introdução
O conceito de Homo Economicus foi introduzido por John Stuart Mill no século XIX. Ele se baseia no pressuposto de racionalidade perfeita do indivíduo, isto é, assume que somos capazes de decidir sobre questões complexas de forma ótima. Para isso, parte-se do princípio de que seremos sempre capazes de analisar e julgar todos os caminhos ou opções possíveis e escolher o curso de ação que trará o melhor resultado.
Embora hoje saibamos que esse indivíduo não existe, isso não quer dizer que estudar a forma como realizamos julgamentos e tomamos decisões não seja importante. Segundo Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, compreender os processos de decisão e estudar se os mesmos processos levam a boas decisões, estão entre os tópicos de pesquisa mais relevantes na área de gestão.
Das formas de pensar aos processos de tomada de decisão, serão objetos de estudo nesta aula.
Desejamos uma excelente imersão na temática heurísticas e vieses.
Os processos de tomada de decisão
Métodos racionais de tomada de decisão
Para muitos de nós, existe a percepção – e podemos dizer que, às vezes, a esperança – de que o processo de tomada de decisão eficaz possa ter como base uma escolha racional, que envolve identificação, escolha e aplicação da melhor alternativa possível. Os métodos racionais são estruturados geralmente no seguinte conjunto de etapas, conforme Figura 1:
1. Identificar um problema ou uma oportunidade de maneira clara: por vezes, agimos sem ter um entendimento completo do problema, o que nosleva a resolvê-lo de maneira errada.
2. Definir o método a ser utilizado: identificação e priorização de todos os objetivos por meio de critérios de avaliação para selecionar a melhor opção considerando todos os aspectos envolvidos.
3. Desenvolver possíveis escolhas ponderadas pela utilização dos critérios: é recomendado envolver as equipes na tarefa de atribuir peso relativo a cada problema para classificá-lo e priorizá-lo.
4. Identificar a solução otimizante: realizadas as primeiras etapas, esta resultaria teoricamente do julgamento natural fundamentado nas anteriores, facilitando o consenso. Recomenda-se fazer previsões sobre eventos futuros, tentando avaliar as consequências potenciais das escolhas.
5. Implementar a solução selecionada: deve-se avaliar, sempre que possível, tanto a aderência aos planos quanto aos resultados obtidos em relação aos esperados, propondo ajustes quando necessário.
6. Avaliar a escolha selecionada: é recomendado que haja um aprendizado sobre todo o processo, incluindo fatores não previstos durante a implantação e diferenças de resultados entre planejado e realizado, buscando-se aprimorar métodos e critérios para processos futuros.
Figura 1 | Estrutura de métodos racionais de tomada de decisão. Fonte: adaptada de McShane e Von Glinow (2014).
McShane e Von Glinow (2014) explicam que um dos problemas com essa abordagem é que, na verdade, as pessoas não conseguem adotar métodos racionais por terem dificuldades (ou, às vezes, falta de vontade) de reconhecer problemas, falta de capacidade para processarem simultaneamente informações associadas a problemas complexos e dificuldade para reconhecerem seus limites ou situações em que suas decisões e premissas anteriores fracassaram. 
Métodos naturalistas
Os métodos naturalistas são, às vezes, a melhor opção recomendada, dada a impossibilidade de utilização de métodos racionais em função de fatores como:
· Problemas não estruturados que dificultam abordagens racionais.
· Presença de incertezas em ambientes dinâmicos, com ciclos que realimentam o modelo a partir das primeiras escolhas realizadas. 
· Objetivos mal definidos e mutáveis. 
· Pressão do tempo para tomada de decisão.
· Múltiplos participantes com conflitos de interesse e dificuldade de chegar a um consenso.
· O fato de que esses modelos não consideram de forma adequada as consequências graves para o decisor, que talvez esteja inclinado a posturas mais conservadoras ou menos arriscadas em relação às indicadas pelos processos racionais.
A estrutura dos métodos naturalistas é apresentada na Figura 2. Determinada situação ou problema gera estímulos que permitem o reconhecimento de padrões adotados em situações ou casos semelhantes que já vivenciamos. Esses padrões determinam a escolha de roteiros para ação. A resposta pode ser mais rápida ou intuitiva ou ainda passar por ciclos de refinamento com base nos padrões mentais que utilizamos para análise e tomada de decisão.
Figura 2 | Estrutura de métodos naturalistas de tomada de decisão. Fonte: adaptada de Yu et al. (2011).
Compreendendo melhor os Sistemas 1 e 2
Faz sentido afirmarmos que uma decisão pode ser considerada “racional” se ela produz um resultado ótimo? Como definirmos “resultado ótimo”? Como o “comportamento” influencia a obtenção desse resultado?
Essas eram questões que Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, fazia sobre o processo de tomada de decisão. Segundo suas conclusões, era necessário reconhecer as fronteiras da racionalidade e reconhecer que havia limitações da capacidade de análise e solução de problemas vinculadas à capacidade de acesso à memória de longo prazo e ao aprendizado individual e coletivo.
As decisões eram influenciadas por sistemas de análise “laterais” que colocam limites na abordagem do que se pode considerar um resultado ótimo. Essa é a origem do Sistema 1 (rápido e intuitivo) e Sistema 2 (devagar e racional) de tomada de decisão. A evidência primária por trás dessa dicotomia veio a partir do aprofundamento dos estudos do cérebro. Nossos dois hemisférios cerebrais exibem uma divisão de trabalho: em pessoas destras, o hemisfério direito desempenha um papel especial no reconhecimento de padrões visuais e o hemisfério esquerdo nos processos analíticos e no uso da linguagem, que é fundamental para processos racionais de tomada de decisão.
Figura 3 | A lateralidade dos hemisférios cerebrais. Fonte: Shutterstock.
Daniel Kahneman (2012), matemático e psicólogo também ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 2002, nos apresenta com mais detalhes esses dois personagens que animam a mente:
· O Sistema 1 opera de forma automática e rápida, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação de controle voluntário.
· O Sistema 2 atribui atenção às atividades mentais que a exigem, incluindo cálculos complexos. As operações do Sistema 2 são frequentemente associadas à filtros subjetivos. 
Para Kahneman (2012), essas são as principais características do Sistema 1:
· Gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados ​​pelo Sistema 2, tornam-se crenças, atitudes e intenções.
· Opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação de controle voluntário.
· Cria um padrão coerente de ideias ativadas na memória associativa.
· Liga uma sensação de facilidade cognitiva a ilusões da verdade, sentimentos agradáveis ​​e vigilância reduzida.
· Infere e inventa causas e intenções.
· Negligencia a ambiguidade e suprime a dúvida.
· É tendencioso para acreditar e confirmar.
· Concentra-se nas evidências existentes e ignora as evidências ausentes.
· Gera um conjunto limitado de avaliações básicas.
· Responde mais fortemente às perdas do que aos ganhos.
Simon (1987) destaca a importância desse sistema de tomada de decisão a partir de seu estudo com grandes mestres enxadristas, que resolvem problemas "criativamente" – de novas maneiras interessantes ou socialmente valiosas – com base na experiência que acumularam em seu campo ao longo dos anos e fazendo apostas calculadas com base em conhecimento superior.
Já o Sistema 2 é sujeito a heurísticas e vieses, que são atalhos de pensamento que adotamos frente a análises de situaçaões por demasiado complexas, em função de nossa racionalidade limitada.
Heurísticas e vieses – quando os Sistemas 1 e 2 se encontram
Em questões realmente complexas, o Sistema 2 não é suficiente para nos ajudar a concluir por quais caminhos seguiremos em um determinado processo de julgamento e tomada de decisão. Ou seja, os modelos racionais utilizados não são suficientes por si só: eles são no mais das vezes utilizados como instrumentos de apoio e análise para a tomada da decisão em paralelo com o julgamento subjetivo do Sistema 1, estando sujeitos ao que chamamos de heurísticas, vieses e falácias, que podem ser definidos como atalhos de pensamento que tomamos ao fazermos julgamentos e que possuem impacto na qualidade das decisões.
Destacamos aqui, como exemplo, alguns desses atalhos:
· Raciocínio por analogia – julgar uma situação com base em evento anterior similar prevendo que os resultados serão os mesmos como consequência do mesmo conjunto de ações. 
· Âncora e ajuste – somos influenciados por um ponto de âncora inicial e não nos afastamos suficientemente dele à medida que novas informações são fornecidas. Um exemplo são as empresas, preocupadas em impedir a entrada de novos concorrentes a seu modelo de negócio atual, deixando de considerar o impacto das inovações.
· Heurística de disponibilidade – estimar a facilidade de que algum evento de impacto ocorra com base na facilidade de lembrar-se de eventos de natureza semelhante. Temos mais facilidade em dar crédito e aumentar a probabilidade de ocorrência de eventos associados a fortes emoções ou eventos mais recentes.
· Falácia da satisfação – escolhemos as melhores opções dentro de limites de tempo, orçamento, facilidade de acesso, etc., sem necessariamente observarmos todas as alternativas. Por exemplo, uma empresa que busca determinada solução tecnológica solicita cotações e continua o processo deseleção até avaliar ter encontrado uma solução satisfatória; no entanto, isso não significa que tenha optado pela solução ótima.
· Falácia da eliminação por aspectos – por exemplo, há uma quantidade muito grande de candidatos a uma vaga de emprego, pela facilidade, eliminamos a maior parte dos candidatos pelos critérios de proximidade da empresa e pretensão salarial para verificarmos menos currículos, que já é uma análise mais trabalhosa. Fazendo assim, corremos o risco de deixar de lado os candidatos potenciais.
Daniel Kahneman et al. (2021), em seu mais recente livro, exploram outros atalhos comuns no meio corporativo:
· Ilusão de compreensão: construímos narrativas para ajudar na compreensão e dar sentido ao mundo. Procuramos causalidade onde não existe.
· Ilusão de validade: analistas e especialistas tendem a sobrevalorizar suas capacidades de análise e tomada de decisão.
· Falsa Intuição de especialista: algoritmos, mesmo os aparentemente primitivos, aplicados com disciplina muitas vezes superam os especialistas.
· Falácia de planejamento: essa falácia aflige muitas profissões e se origina de planos e previsões que estão irrealisticamente próximos do melhor caso e não levam em consideração os resultados reais de projetos semelhantes.
· Otimismo e a ilusão empreendedora: a maioria das pessoas é excessivamente confiante, tende a negligenciar os concorrentes e acredita que eles terão um desempenho melhor do que a média.
Para Daniel Kahneman et al. (2021), nos casos de decisões complexas em organizações, é essencial que se desenvolvam formas estruturadas de análise da qualidade das decisões tomadas, as quais sejam conduzidas por times de pessoas que trabalhem de forma independente e sem conflito de interesse com as decisões tomadas e seus resultados e, preferencialmente, apoiadas por métricas quantitativas da qualidade ou do riscos associados às decisões.
Heurísticas e vieses
Meu vídeo não funciona
Em nosso vídeo resumo, vamos explorar os processos de julgamento e tomada de decisão, incluindo as principais características do Sistema 1 ou Intuitivo e do Sistema 2 ou Racional de tomada de decisão, bem como as principais heurísticas, vieses e falácias as quais incorremos quando estamos apoiados no Sistema 2, mas sob a influência permanente do Sistema 1.
Introdução
Será que existe um jeito certo de aprender? Nesta aula vamos conhecer o Ciclo de Kolb, que nos aponta as diferentes formas como razão e emoção se envolvem na absorção de conhecimentos e como lidamos com o conhecimento adquirido, se observando ou se agindo.
Em seguida, falaremos sobre as diferentes formas de aprender, a partir da Pirâmide de Aprendizagem, considerando as metodologias ativas de aprendizagem. Por último, falaremos de algumas qualidades para se aprender melhor. 
A intenção é que ao final da aula você possa praticar métodos ativos de aprendizagem e sinta-se conectado com os conteúdos desta aula e de outros em que esteja envolvido.
Um café no ciclo de Kolb
A teoria do estilo de aprendizagem experiencial de Kolb foi criada nos anos 1980 e revolucionou a forma como pedagogos e professores do mundo todo elaboram seus planos de ensino. Ela é representada por um ciclo de aprendizagem de quatro estágios. Para que a aprendizagem seja facilitada, a ideia é que o aluno possa acessar o conhecimento em cada uma das bases. Os estilos de aprendizagem de Kolb são: 
1. Experiência concreta – uma nova experiência ou situação é encontrada, ou uma reinterpretação da experiência existente.
2. Observação reflexiva da nova experiência – permite fazer a compreensão da experiência e verificar possíveis inconsistências.
3. Conceitualização abstrata – reflexão sobre o que foi aprendido, que dá origem a uma nova ideia ou modificação de um conceito abstrato existente.
4. Experimentação ativa – o aluno aplica suas ideias no mundo ao seu redor para ver o que acontece.
A aprendizagem efetiva acontece quando a pessoa progride pelo ciclo de quatro estágios: (1) há uma experiência concreta seguida por (2) observação e reflexão sobre essa experiência, que leva à (3) formação de conceitos abstratos (análise) e generalizações (conclusões) que são então (4) usados para testar uma hipótese em situações futuras, resultando em novas experiências.
Se em uma situação hipotética fôssemos ensinar alguém a fazer uma café percorrendo todo o ciclo de Kolb, poderíamos: (1) começar com uma sessão de degustação de diferentes cafés, (2) refletir sobre como absorvemos a experiência e qual café nos agradou mais, podendo inclusive escrever a respeito e depois (3) compreender os processos de maturação dos grãos, formas de processamento e técnicas de produção para (4) testar possibilidades alternando técnicas de moagem inovadoras, que não havíamos experimentado antes.
Mas o que pode influenciar o nosso estilo de aprendizagem?
Vários fatores influenciam o estilo de aprendizado de cada pessoa: o ambiente em que ela cresce, suas experiências no campo educacional e mais especificamente, conforme a teoria de Kolb, sua forma individual de pensar. 
Existem dois pares de variáveis que influenciam nossa forma de aprender, duas dimensões com pares opostos: o par pensar/sentir e o par observar/agir. Quando estamos experimentando determinada atividade (experiência concreta) estamos pensando a respeito e quando paramos para compreender o que essa experiência causou em nós (conceitualização abstrata), estamos no campo das emoções e dos sentimentos. 
Da mesma forma, quando nos afastamos da experiência, podemos observá-la e quando já conceitualizamos o que vivemos, podemos nos preparar para a ação. São movimentos de um pêndulo e em todas as atividades da vida trabalhamos nesses dois continuums: um da percepção (pensar ou sentir/experiência concreta ou abstrata) e outro do processamento da tarefa (observar ou agir/refletir ou atuar).
Figura 1 | Ciclo de Kolb. Fonte: elaborada pela autora.
Conhecer o próprio estilo de aprendizagem permite que possamos selecionar diferentes métodos de ensino. Se, por exemplo, somos mais sensíveis do que racionais, temos a tendência de nos afastarmos da experiência para melhor compreendê-la. Nesse caso, atividades coletivas podem não ser as preferidas. Já se somos mais concretos, gostamos de atuar nas atividades, não tanto de refletir a respeito delas.  
Dito isso, todos respondem e precisam do estímulo de todos os tipos de estilos de aprendizagem de uma forma ou de outra.
O melhor jeito de aprender
Da base do sistema de liderança das empresas até o nível de desenvolvimento gerencial, as organizações investem todos os anos milhões de reais em capacitação in company ou vinculada a instituições de ensino superior, com o objetivo de preparar sua força de trabalho para os diversos desafios do mercado. Assim, seja qual for a área de trabalho em que se atua, há uma necessidade de contínuo aprendizado, conhecido como “forever learning”.
Nos últimos anos, o grande desafio tem sido capturar a atenção das pessoas, uma vez que o uso de imagem e vídeos em alta escala transformou a figura do professor em um facilitador de diferentes conhecimentos, encriptados em diversas “mídias”. Se antes o único meio de ensino era da fala de um professor para um aluno, atualmente as metodologias ativas de aprendizagem provocam o aluno para um maior envolvimento em seu processo de aprendizagem.
Existe uma nova geração de alunos que é nativa digital, ou seja, foi apresentada a telas e à ampla opção de formas de entretenimento desde seus primeiros anos de vida. Nesse sentido, embora continue sendo um mediador da informação para torná-la conhecimento, o professor precisa incentivar o aluno a uma participação ativa, ainda que seja sob a forma de reflexão em torno dos temas abordados, ou até, se possível, incentivando-o a produzir e disseminar em classe o conteúdo abordado e, portanto, ensinar. 
Idealizada pelo psiquiatra americano William Glasser (1998), a pirâmide de aprendizagem dá ampla ênfase às formas de aprendizagem ativa (ver Figura 2), que dizem respeito a: discutir o que foi estudado (conversar,perguntar, repetir, recordar, debater, nomear), praticar (escrever, interpretar, traduzir, comunicar, catalogar) e ensinar (explicar, resumir, estruturar, ilustrar). Essas três formas ativas de aprendizagem envolvem a percepção subjetiva do aluno, ou seja, convidam às emoções, tanto pelo entusiasmo que geram como pela interpretação que suscitam.
Figura 2 | Pirâmide de aprendizagem de William Glasser. Fonte: adaptada de Franco, Trennenphol e Oliveira (2021).
O efeito Netflix na tomada de decisão
Você já ficou perdido na busca pelo filme ou série ideal para assistir? Já chegou ao ponto de esgotar as opções disponíveis de entretenimento? Na Netflix existe a opção “me surpreenda”, disponível para aqueles expectadores realmente indecisos, que procura “zerar” o perfil existente e trazer novas possibilidades. Mas ainda assim há aqueles que desligam a tela depois de muito tempo “zapeando”, havendo desistido de escolher. Em seu discurso de formatura em Harvard, o orador Pete Davis (2018) chamou esse fenômeno de dificuldade de tomar decisões e se comprometer com uma única alternativa de “mantenha minhas opções em aberto” e disse que é o típico estado mental que caracteriza toda uma nova geração de trabalhadores.
A dificuldade de tomar decisões afeta diretamente na capacidade de aprender. Isso porque seja qual for o tema que desperte nosso interesse, é preciso comprometimento com o que estamos lendo, ouvindo ou escrevendo de forma a produzir aquele sentimento de “a-há” que caracteriza a produção de sentido e, por consequência, a aprendizagem. É preciso também paciência para passar por trechos não tão interessantes, não tão envolventes, para que em algum momento o conteúdo possa ser todo absorvido por nossos canais cognitivos.
Como aprender melhor
Com a mudança nos modelos de carreira, já a partir dos anos 1990, tornou-se crucial que tenhamos compromisso com nossa aprendizagem, buscando cursos e qualificações que possam fornecer novas competências ou aperfeiçoamento das habilidades que já possuímos.
Mas o que pode facilitar nosso processo de aprendizagem? Como podemos aprender melhor?
Algumas variáveis importantes para considerarmos são o tipo de curso certo, o currículo dos professores, a solidez da instituição de ensino, a abordagem metodológica. Mas talvez a variável mais importante não seja o curso em si e sim a postura de quem busca, ou seja, a qualidade do aluno.
Diretor de Recursos Humanos de uma instituição financeira, Kehoe (2018) estudou o comportamento de alunos de cursos on-line. Quatro hábitos que contribuem para aprendermos novas habilidades:
1. Concentre-se em habilidades emergentes – no lugar de se inscrever no curso mais famoso e badalado, é preciso ficar atento àqueles requisitos de trabalho que estão evoluindo rapidamente.
Nos anos da pandemia, por exemplo, as habilidades ligadas à produção e edição de vídeo passaram a ser extremamente valorizadas, não apenas por profissionais liberais, mas também por organizações que precisaram gravar suas reuniões e treinamentos e disponibilizar em rede. 
A dica de Kehoe é ficar atento a ofertas de emprego recentes e mapear que tipo de qualificação está surgindo ou conversar com líderes e perguntar que tipo de habilidade eles consideram importante para tornar um candidato viável.
2. Conecte-se com seu curso – vivemos uma época de amplo crescimento da aprendizagem on-line. A vantagem de assistir às aulas quando e onde for conveniente, com um custo reduzido, torna essa opção muito atraente. O problema é que as experiências assíncronas costumam ser solitárias, causando perda de motivação e queda na aprendizagem. Nesse sentido, prefira formações que permitem algum momento de troca síncrona. Caso isso não seja possível, defina atividades de rotina para repassar os conteúdos ou estudar com olhar renovado o que foi abordado.
3. Implemente o aprendizado imediatamente – aplicar os conhecimentos aprendidos de forma imediata permite completar o ciclo de aprendizagem, facilitando a memória e melhorando a absorção dos conhecimentos. O contrário também ocorre: se deixamos por muito tempo um conteúdo sem uso, é altamente provável que venhamos a esquecê-lo.
4. Defina objetivos claros – para manter o foco na aprendizagem, é necessário te objetivos de médio e longo prazo – um novo emprego, uma promoção na carreira, uma chance de fazer parte de uma grande equipe. Saber que o que aprendemos pode contribuir com nossa carreira, melhora nosso envolvimento com o que é ensinado.
Isso tudo dito, vamos aproveitar para favorecer o aprendizado de nossas aulas. Responda as seguintes perguntas e reflita sobre sua forma de aprender:
· A que competências de mercado os temas abordados em nossas aulas atendem?
· Que assunto abordado merece um segundo olhar em seus estudos pós-aulas?
· Como é possível aplicar os conhecimentos adquiridos em sua rotina?
· A que objetivos de médio prazo ou de carreira essa disciplina corresponde?
Videoaula: Aprendendo a aprender
Meu vídeo não funciona
Em nossa aula falamos sobre o ciclo de Kolb e como nossa razão e emoção atuam enquanto absorvemos novos conhecimentos e praticamos novas habilidades. Em seguida, vamos falar sobre as melhores formas de aprender, conhecendo atividades que fazem parte de metodologias ativas de aprendizagem. Por último, vamos compreender como o aluno pode ser parte do processo, envolvendo-se com o que é ensinado e aplicando seus novos saberes em sua carreira.