Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / 2018 1 Distúrbios do Equilíbrio Hidroeletrolítico Sódio Íon mais importante do espaço extracelular e a manutenção do volume do líquido extracelular depende do seu balanço. Na = 136 a 145mEq/l Mecanismos que fazem seu controle: a) Osmorreceptores b) Barorreceptores c) Mecanismos extra-renais d) Sistema justaglomerular 1. Hiponatremia Hiponatremia = EXCESSO DE ÁGUA Mais comum em pacientes hospitalizados e idosos Concentração de Na no soro inferior a 136mEq/l Quase sempre é resultado de retenção hídrica (hiponatremia dilucional). Na maioria das vezes acontece devido à secreção excessiva de ADH (hormônio anti-diurético ou vasopressina). Pode estar relacionada a tonicidade baixa, normal ou aumentada (concentração de solutos). Se a capacidade renal de excretar água é menor do que a ingestão, ocorre diluição dos solutos no organismo, provocando hiposmolalidade e hipotonicidade. Hiposmolalidade cria um gradiente que favorece a entrada de água para dentro das células, levando ao edema cerebral. Hipo e hipernatremia possuem sintomas primariamente neurológicos. Maioria das vezes assintomática (até 125mEq/l) SINTOMAS SINAIS Letargia, apatia, desorientação, câimbras musculares, anorexia, náuseas e agitação Sensório anormal, reflexos profundos deprimidos, respiração de Cheyne-Stokes, hipotermia, reflexos patológicos, paralisia pseudobulbar e convulsões CLASSIFICAÇÃO Pseudohiponatremia a causa é a elevada concentração de grandes moléculas de lipídios (colesterol e triglicerídeos) e as paraproteinemias (mieloma múltiplo) que, ao deslocarem parte da água extracelular, reduzem a fração plasmática de Na. Hiponatremia Hipertônica (Osmolaridade alta) >295mOsm/l presença de solutos osmotivamente ativos no soro (glicose e manitol). Comum na cetoacidose diabética, na desobstrução do trato urinário, quando há diurese osmótica pela ureia. Hiponatremia Hipotônica (Osmolaridade baixa) < 280mOsm/l Na ausência de pseudohiponatremia ou da presença de solutos osmoticamente ativos, a hiponatremia evolui com hipotonicidade Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / 2018 2 OBS: Hiponatremia Hipotônica - Volume extracelular normal: hipotireoidismo, deficiência de corticosteroide, estresse emocional/dor/drogas, síndrome da excreção inapropriada de ADH (carcinomas de pulmão, duodeno e pâncreas; distúrbios pulmonares como pneumonia, abscesso, tuberculose e aspergilose; distúrbios do SNC como encefalites, meningites, psicose aguda, AVE, tumores, abscessi, hematoma ou hemorragia, TCE, pós-operatório, dor, náusea intensa e AIDS) e ingestão diminuída de solutos - Volume extracelular aumentado: resulta da diminuição de excreção renal de água, com aumento da água e sódio corporal total e diminuição do sódio sérico insuficiência cardíaca, cirrose hepática, síndrome nefrótica e insuficiência renal - Volume extracelular diminuído: redução do volume extracelular, podendo ocorrer perda de sódio através da pele, TGI ou rim causas: perdas gastrointestinais (vômitos e/ou diarreia) ou para o 3º espaço (peritonite, pancreatite, íleo ou colite pseudomembranosa, queimaduras, traumatismos musculares), perdas renais (diuréticos, nefrite perdedora de sal, doença de Addison, diurese osmótica e excreção de amônia) Ex: Trauma = Hipovolemia = ↑ ADH = retenção de água = ↓ sódio sérico = concentra a urina e ↓ seu volume - Excesso de ingesta de água: há supressão de ADH (insuficiência renal avançada e polidipsia primária) TRATAMENTO Hiponatremia sintomática: Reposição salina, independente da causa, especialmente se a hiponatremia ocorreu de maneira muito rápida Pseudohiponatremia: tratamento da causa básica Hiponatremia hipertônica: tratamento da causa básica Hiponatremia hipotônica: o Volume normal: restrição hídrica e uso eventual de diuréticos de alça, com reposição de sódio e de potássio perdidos na urina. o Volume aumentado: correção do distúrbio adjacente e restrição hídrica, frequentemente associada a diuréticos o Volume reduzido: hidratação com salina isotônica CORREÇÃO DO SÓDIO O aumento da concentração de sódio não deve exceder de 8 a 10 mEq/l nas primeiras 24h até atingir os níveis entre 125mEq/l a 130mEq/l. Esta correção não pode ocorrer de forma muito rápida devido ao risco de ocorrência da desmielinização osmótica. CASO CLÍNICO Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / 2018 3 2. Hipernatremia Quando o sódio plasmático > 145mEq/l Este é controlado pela homeostase da água (sede, ADH e rins). Menos frequente que a hiponatremia. Mais comum em pacientes muito jovens, muito velhos e doentes que não têm condições de ingerir líquido em resposta ao aumento da osmolaridade, o que provoca sede, devido a sua incapacidade física. Evolui com hiperosmolalidade hipertônica e sempre provoca desidratação celular. QUADRO CLÍNICO Disfunção do SNC: consequente da desidratação celular, com contração das células cerebrais, o que pode levar à laceração, hemorragia subaracnoide e subcortical, e trombose dos seios venosos. 1ªs manifestações: agitação, letargia e irritação Podem ser seguidos de espasmos musculares, hiperreflexia, tremores e ataxia. CLASSIFICAÇÃO a) Perda de água Perdas insensíveis: pele e respiração Perdas insipidus: após trauma, provocada por tumores, aneurismas, meningite, tuberculose, sarcoidiose, encefalites, sd. De Guillain-Barré, idiopático e transitório (ingestão de etanol) Diabetes insipidus nefrogênico: doença renal, hipercalcemia ou hipocalemia, drogas (lítio...) b) Perda de líquidos hipotônicos Causas renais: diuréticos de alça, diurese osmótica (glicose, ureia, manitol), diurese pós- obstrução, fase diurética da NTA Causas gastrointestinais: vômitos, drenagem nasogástrica, fístulas enterocutâneas, diarreia, lactulose Causas cutâneas: queimaduras, sudorese excessiva c) Ganho de sódio hipertônico Infusão de bicarbonato de sódio, ingesta de cloreto de sódio, ingesta de água do mar, enemas de salina hipertônica, infusão de soluções hipertônicas de sódio, diálise hipertônica, hiperaldosteronismo primário e sd. de Cushing (reabsorção intensa de sódio pelos túbulos) TRATAMENTO Diagnosticar a causa e tratar (ex; controlar a perda de líquidos gastrointestinais, controlar o aumento da temperatura, hiperglicemia, corrigir a poliúria pelo lítio etc Correção do sódio: a redução não pode exceder 10mEq/l nas 24h A via preferencial para correção, quando possível, é a ORAL através de sondas nasogástricas ou enterais. Se não for possível, administrar, por via EV, soluções hipotônicas como glicose a 5%, salina a 0,2% e salina a 0,45%. Quanto mais hipotônico o líquido de infusão, mais lenta deve ser a administração. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / 2018 4 Potássio Íon predominantemente intracelular (90%) 10% - extracelular (músculo é o maior depósito) Conteúdo corporal do K 50mEq/l ou 3.500mEq para um adulto de 70kg K sérico 140 a 150mEq/l Fatores que regulam o K: pH: a acidose provoca a saída de potássio do intra para o extracelular, aumentando a sua concentração sérica, podendo levar a hipercalemia Insulina: aumenta a captação depotássio pelas células hepática e musculares, protegendo contra a hipercalemia (diminui o K sérico e aumenta o intracelular). Em DM1, os pacientes apresentam baixa secreção basal de insulina e menor tolerância à infusão de potássio Aldosterona: sua ação ocorre no ducto coletor, abrindo canais de sódio, o que aumenta a reabsorção de Na, com consequente secreção de K. Também promove a captação celular de K. Agentes B2-adrenérgicos: Estimulam diretamente a bomba NaKATPase, com consequente entrada de K e saída de Na (diminui K sérico pois ele entra na célula). 1. Hiperpotassemia Concentração plasmática de K acima de 5mEq/l OBS: excluir a pseudohiperpotassemia que ocorre nas seguintes situações: Leucocitose: acima de 100.000/mm3 Plaquetose: acima de 1.00.000/mm3 Hemólise CAUSAS: Por redistribuição (acidose metabólica ou respiratória, B-bloqueadores, hipoinsulinemia como na DM1, succinilcolina...) Por retenção de K (insuficiência renal, carga de K exógena, carga de K endógena por esmagamento/hemólise/hipercatabolismo, diuréticos poupadores de K, hipoaldosteronismo, hipocortisolismo...) DIAGNÓSTICO/QUADRO CLÍNICO Concentração sérica acima de 5mEq/l As células excitáveis são as mais sensíveis aos altos valores de K (miocárdicas e neuromusculares), o que se traduz em fraqueza, arreflexia, paralisia muscular (inclusive respiratória), parestesias e alterações cardíacas Renata Valadão Bittar – Medicina Unit / 2018 5 Hipocalcemia, hiponatremia e acidose metabólica intensificam a hipercalemia Acidose metabólica produz uma hiperpotassemia “menos tolerável e mais grave” do que a acidose respiratória Sempre indagar o uso de medicamentos, especialmente digitálicos (intoxicação) TRATAMENTO 1. Antagonismo direto sobre os efeitos do K na membrana celular Infusão endovenosa em bolus de gluconato de cálcio 10% (10mL EV em infusão lenta em 2 a 3 min, que pode ser repetida após 5min se as alterações do ECG persistirem). A ação é imediata (1 a 3min) e a duração do efeito é de até 1h. Cálcio é a droga de escolha quando existem alterações do ECG ou na parada cardíaca por hipercalemia. O cálcio não diminui a concentração sérica de potássio, apenas antagoniza a sua ação “tóxica” sobre o miocárdio. o cálcio participa da contração miocárdica, assim como o K. Em condições normais, há maior concentração dos íons K no meio intracelular do que no meio extracelular. É criado um gradiente químico do K, e sua tendência é sair da célula. 2. Redistribuição do potássio Bicarbonato de sódio: Solução polarizante (insulina + glicose) Agentes B2-adrenérgicos
Compartilhar