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Intolerância e Alergias Mecanismos Alérgicos (hipersensibilidade do tipo I). Doenças por hipersensibilidade por síntese aumentada de IgE são conhecidas como alergias ou doenças anafiláticas, podendo ser localizada (anafilaxia localizada) ou sistêmica (choque anafilático). Asma, rinite alérgica, dermatite atópica (urticária) e alergia alimentar são os exemplos mais conhecidos de anafilaxias localizadas. O componente genético que interfere na suscetibilidade às alergias é multigênico. Existem pessoas que produzem IL-4 em excesso diante de qualquer estímulo antigênico e, portanto, sintetizam grande quantidade de IgE em resposta a muitos antígenos. Esses são os chamados indivíduos atópicos ou geneticamente alérgicos, os quais desenvolvem com grande facilidade alergia a uma gama variada de alérgenos e não se beneficiam do tratamento com vacinas dessensibilizantes. Há ainda um grupo de indivíduos que respondem de modo exacerbado a qualquer antígeno, ou seja, apresentam um defeito no controle da resposta imunitária. Essas pessoas não só desenvolvem doenças alérgicas com facilidade como também são mais propensas a doenças por autoagressão. Fatores ambientais ou ligados ao antígeno também influenciam a produção de IgE, a qual depende da qualidade e da quantidade do antígeno. Antígenos solúveis e em baixas doses podem comportar-se como alérgenos. É o que acontece com poeiras domésticas, que são alérgenos para muitas pessoas. O acesso do alérgeno pela via respiratória parece importante na indução de alergia respiratória (rinite alérgica ou asma brônquica), mas pouco se sabe sobre a via de acesso de alérgenos que induzem dermatite atópica. Indivíduos com alergia alimentar possuem LT CLA+ (linfócitos com antígeno de localização cutânea) e, com frequência, apresentam dermatite atópica. Reação anafilática localizada Reação anafilática localizada surge em certos locais do organismo (pele, mucosas, intestinos, brônquios etc.) e se manifesta no indivíduo sensibilizado ao alérgeno em duas fases. A fase imediata, que aparece poucos minutos após o contato com o alérgeno, caracteriza-se por vasodilatação e edema; na fase tardia (inflamatória) tem-se exsudação de leucócitos, mas com poucos fenômenos degenerativos e necróticos. Na fase imediata, o alérgeno ativa linfócitos Th2, que liberam citocinas: (a) IL-4 induz LBs a se diferenciar em plasmócitos, que secretam IgE; (b) IL-5 ativa eosinófilos; (c) IL-13 aumenta a síntese de muco. IgE liga-se a receptores para Fcε na superfície de mastócitos ou basófilos (fase de sensibilização). Quando o indivíduo entra em contato novamente com o alérgeno, este liga-se a duas moléculas de IgE em mastócitos, o que resulta na desgranulação destes e na liberação de: (1) histamina, que atua em receptores: (a) H1 de vasos sanguíneos (músculo liso e endotélio), induzindo vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, responsáveis por hiperemia e edema nos locais de penetração do antígeno; (b) H1 da musculatura lisa não vascular, causando contração (broncoconstrição, aumento da motilidade intestinal) ou relaxamento (musculatura lisa de esfíncteres); (c) H2 de glândulas exócrinas, aumentando a secreção de muco; (2) leucotrienos, que têm ação sinérgica com a histamina em vasos e musculatura lisa não vascular; (3) citocinas e quimiocinas, como Il-4, IL-5, eotaxinas e TNF; (4) prostaglandinas e PAF (fator ativador de plaquetas), que aumentam a permeabilidade vascular e produzem contração da musculatura lisa de brônquios e intestino. Terminações nervosas aferentes ativadas por histamina, PGE2 e PAF liberam substância P e CGRP, que causam vasodilatação e aumentam a permeabilidade vascular. A fase tardia envolve citocinas e quimiocinas que promovem exsudação de leucócitos, completando a resposta inflamatória local: (1) IL-1, liberada por mastócitos e células do órgão afetado (epitélios da epiderme, dos brônquios ou do intestino) ativa o endotélio, que expõe moléculas de adesão para eosinófilos, neutrófilos e LT CD4+ (Th2); (2) eotaxinas (CCL 11, CCL 24, CCL 26) liberadas por mastócitos, que atraem os primeiros eosinófilos; (3) fator quimiotático de alto peso molecular produzido por mastócitos, que atrai neutrófilos, os quais, juntamente com eosinófilos, formam o exsudato inflamatório inicial; (4) mais tarde, mastócitos, basófilos e células residentes liberam IL-4, IL- 5, CSF e quimiocinas, o que atrai grande número de LT CD4+ (Th2), monócitos e novos eosinófilos, mastócitos e basófilos. A participação de basófilos no local de uma reação anafilática é bem evidente na rinite alérgica. IL-4 aumenta a expressão de receptores para Fcε em macrófagos e células dendríticas, fazendo com que elas sejam ativadas na presença do alérgeno, liberando citocinas inflamatórias (IL-1 e TNF). Tal inflamação amplifica e sustenta as manifestações da doença alérgica. Fatores exógenos podem modificar o exsudato inflamatório em reações anafiláticas, como infecções bacterianas ou virais (pele, brônquios e intestino) ou poluentes do ar (brônquios). Tais fatores aumentam a produção de IL-33 e IL- 21 nas células epiteliais que atraem linfócitos da imunidade inata (ILC), os quais produzem IL-4 e IL-5 e IL- 17, aumentando a resposta Th-2 e induzindo resposta Th-17 responsável pelo recrutamento e ativação de neutrófilos. Indivíduos que não produzem grande quantidade de IgE podem apresentar reação alérgica intensa. Tais casos se explicam porque: (1) os receptores para os mediadores liberados são mais numerosos; (2) ocorre inibição parcial de seus antagonistas; (3) há exaltação de receptores agonistas. Isso é bem exemplificado na asma: existem casos não alérgicos e não acompanhados de hiperprodução de IgE em pessoas com distúrbio primário em receptores da musculatura brônquica (asma intrínseca ou não alérgica). Reação anafilática sistêmica Choque anafilático ocorre quando o alérgeno induz sensibilização de mastócitos de forma sistêmica, como acontece após picada de abelhas ou administração de certos medicamentos (penicilina); o contato subsequente com dose desencadeante do alérgeno, mesmo em pequenas quantidades, causa ativação e desgranulação sistêmica dessas células e liberação de grande quantidade de mediadores, o que resulta em queda da pressão arterial, broncoconstrição, relaxamento de esfíncteres, prurido generalizado e edema de glote, orelhas e lábios; se não tratado rapidamente, o paciente morre por insuficiência circulatória. Alergias Alimentares As reações de hipersensibilidade aos alimentos podem ser classificadas de acordo com o mecanismo imunológico envolvido em: Mediadas por IgE Decorrem de sensibilização a alérgenos alimentares com formação de anticorpos específicos da classe IgE, que se fixam a receptores de mastócitos e basófilos. Contatos subsequentes com este mesmo alimento e sua ligação a duas moléculas de IgE próximas determinam a liberação de mediadores vasoativos e citocinas Th2, que induzem às manifestações clínicas de hipersensibilidade imediata. São exemplos de manifestações mais comuns que surgem logo após a exposição ao alimento: reações cutâneas (urticária, angioedema), gastrintestinais (edema e prurido de lábios, língua ou palato, vômitos e diarreia), respiratórias (broncoespasmo, coriza) e reações sistêmicas (anafilaxia e choque anafilático). Reações mistas (mediadas por IgE e hipersensibilidade celular) Neste grupo estão incluídas as manifestações decorrentes de mecanismos mediados por IgE associados à participação de linfócitos T e de citocinas pró- inflamatórias. São exemplos clínicos deste grupo aesofagite eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite eosinofílica, a dermatite atópica e a asma. Reações não mediadas por IgE As manifestações não mediadas por IgE não são de apresentação imediata e caracterizam-se basicamente pela hipersensibilidade mediada por células. Embora pareçam ser mediadas por linfócitos T, há muitos pontos que necessitam ser mais estudados nesse tipo de reações. Aqui estão representados os quadros de proctite, enteropatia induzida por proteína alimentar e enterocolite induzida por proteína alimentar. Diagnóstico laboratorial Hemograma Embora não seja exame diagnóstico para alergia alimentar, auxilia na detecção de complicações a ela associadas, como a anemia. As reservas corporais de ferro (ferritina sérica) devem ser avaliadas. Teoricamente, na alergia alimentar pode ocorrer deficiência de ferro em função de perdas fecais ou de má absorção secundária à lesão do intestino delgado, ou da inflamação sistêmica. Investigação de sensibilização IgE específica A determinação da IgE específica auxilia apenas na identificação das alergias alimentares mediadas por IgE e nas reações mistas, e este é um dado fundamental. A pesquisa de IgE específica ao alimento suspeito pode ser realizada tanto in vivo, por meio dos testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (TC), como in vitro, pela dosagem da IgE específica no sangue. A detecção de IgE específica tem sido considerada como indicativo de sensibilização ao alimento, na maioria das vezes apenas orientando o alimento a ser utilizado no teste de provocação duplocego placebo controlado (DCPC). In vivo: testes cutâneos de hipersensibilidade imediata Os testes cutâneos (TC) avaliam a sensibilização aos alérgenos. São testes simples, rápidos, podem ser realizados no próprio consultório de médico capacitado e requerem cuidados em sua execução e interpretação. Teste de contato atópico com alimentos (atopypatch test - APT) O APT para alimentos (leite, ovo, trigo e soja) está em investigação para aumentar a especificidade do diagnóstico das reações tardias em pacientes com dermatite atópica ou esofagite eosinofílica e com sensibilização IgE específica a alimentos. Estes testes permanecem não recomendados para o uso na prática clínica, devido à ausência de padronização e à baixa sensibilidade. Teste de provocação oral O teste de provocação oral (TPO), a despeito de todo avanço científico, continua sendo ainda o método mais confiável no diagnóstico da alergia alimentar. Consiste na oferta progressiva do alimento suspeito e/ou placebo, em intervalos regulares, sob supervisão médica para monitoramento de possíveis reações clínicas, após um período de exclusão dietética necessário para resolução dos sintomas clínicos. Alimentos que comumente causam alergias Intolerância Alimentar A intolerância alimentar é uma reação adversa ao alimento em que o sistema imunitário não se encontra envolvido. Este tipo de reação deve-se a alterações ou distúrbios do metabolismo de algum ou alguns componentes do alimento. Não apresenta sintomas tão graves como a alergia alimentar e cada tipo de intolerância tem as suas características individuais, tanto no mecanismo de ação, como nos sintomas, diagnóstico e tratamento. Intolerância a lactose A lactose é composta por galactose e glicose e a enzima lactase é responsável pela sua hidrólise, para haver posterior absorção dos respetivos monossacáridos. Esta enzima, a lactase-florizina, é uma β- galactosidase que é codificada pelo gene LCT que está localizado no cromossoma 2 (2q21). A hidrólise da lactose ocorre no jejuno, no intestino delgado, onde se encontra uma baixa concentração de bactérias, apenas uma pequena porção de lactose é fermentada. A lactase encontra-se na membrana da mucosa intestinal e, portanto, os monossacáridos são absorvidos através dos enterócitos para a corrente sanguínea. A deficiência em lactase pode classificar-se em congénita, primária ou secundária: - Congénita caracteriza-se por uma alteração genética muito rara em que as crianças nascem sem a capacidade de produzir a enzima lactase. As diarreias aquosas, um dos sintomas característicos, ocorrem logo após a ingestão do leite materno. É uma condição persistente ao longo de toda a sua vida, sendo que a única opção de tratamento é a eliminação de lactose na sua alimentação diária. - Primária (lactase não-persistente) afeta dois terços da população mundial, sendo que ocorre devido a modificações genéticas. - Secundária (lactase persistente), a mucosa intestinal encontra-se danificada devido a doenças gastrointestinais. Sendo uma situação reversível, apenas se deve eliminar a lactose enquanto a mucosa não estiver recuperada. O genótipo determina a persistência ou não-persistência da lactase através de polimorfismo do alelo C/T 13910. O genótipo CC está associado à não-persistência da lactase, ou seja, à deficiência primária da lactase, enquanto que o genótipo TT está associado à persistência da lactase. O genótipo CT indica uma expressão intermédia dos níveis de lactase. Independentemente da causa da deficiência de lactase, esta intolerância resulta de uma má absorção da lactose. Este composto, passando para o intestino grosso, aumenta a pressão osmótica o que leva a um amento de água e eletrólitos, resultando em diarreias aquosas. No intestino grosso, a lactose é hidrolisada em galactose e glicose pela β- galactosidase presente nas bactérias do ácido láctico (BAL). As BAL são bactérias gramnegativas e alguns exemplos são Lactobacillus, Bifidobacterium, Staphylococcus, Enterococcus, Streptococcus, Leuconostoc e Pediococcus. Os monossacáridos são, então, fermentados pela flora bacteriana intestinal levando à produção de ácidos graxos de cadeia curta e gases, como o hidrogênio (H2), o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), causando distensão abdominal, cólicas e flatulência e até obstipação. Após a absorção intestinal, os gases são expelidos pela respiração, servindo assim como uma das ferramentas para diagnóstico. Os sintomas característicos da intolerância à lactose, geralmente, não ocorrem se houver, pelo menos, 50% da atividade da lactase. Estes sintomas afetam, sobretudo, o sistema gastrointestinal, no entanto, podem surgir manifestações cutâneas ou sistêmicas. Muitas vezes, a eliminação da lactose na alimentação diária não é suficiente para eliminar estes sintomas. Esta situação ocorre devido a outro problema, por exemplo, a síndrome do colón irritável. Doentes com esta patologia apresentam uma maior sensibilidade à lactose em comparação com pessoas com o intestino saudável. Para diagnosticar esta intolerância, muitas vezes é suficiente um período de teste com uma dieta isenta de lactose, verificando assim, se os sintomas desaparecem ou não. No entanto, há situações em que é necessário fazer exames para confirmar o diagnóstico. O teste de tolerância à lactose (LTT), teste respiratório de hidrogénio, deteção da atividade da lactase através da biopsia do jejuno e teste genético, são alguns exemplos destes exames. Intolerância ao glúten não-celíaca O glúten é um conjunto de proteínas que são constituídas por gliadinas (proteínas monoméricas, solúveis em soluções aquosas alcoólicas) e gluteninas. O glúten faz parte da constituição do endosperma do grão de alguns cereais, por exemplo, o trigo. A IGNC é caracteriza-se por sintomas intestinais, tais como dores abdominais, diarreia, náuseas, flatulência, e extraintestinais, como dores de cabeça, dores nos músculos e articulações, fadiga crónica, foggy mind, anemia, dificuldadesde concentração e depressão. Os sintomas intestinais e extraintestinais, geralmente, ocorrem após a ingestão do glúten e desaparecem com a restrição completa deste na alimentação. Atualmente, não há testes laboratoriais específicos para detetar esta patologia. Assim, o diagnóstico da IGNC é bastante complexo, acabando por ser confirmado a partir de resultados negativos no diagnóstico da doença celíaca ou da alergia alimentar. Normalmente, os sintomas relacionados com a IGNC surgem algumas horas ou dias após a ingestão de glúten, enquanto que, por exemplo, na alergia ao trigo os sintomas surgem até 2 horas depois. Cerca de metade dos doentes com IGNC, possuem o gene HLA (human leucocyte antigen)-DQ2 e DQ8, no entanto, na doença celíaca, 95% dos doentes também possuem este gene, sendo assim a nível genético este não é um bom marcador da IGNC. A nível histológico, não há alterações a nível do duodeno, sendo que o resultado da biopsia desta zona do sistema gastrointestinal, neste tipo de patologia, é normal, eliminando assim a possibilidade de ser doença celíaca. A nível serológico, poderão ser detetados anticorpos anti-gliadina (IgG-AGA). Os doentes celíacos também produzem IgGAGA, no entanto, o doente com IGNC quando elimina o glúten da sua dieta, estes anticorpos deixam de ser produzidos. A confirmação do diagnóstico da IGNC ocorre quando os testes serológicos são negativos para a alergia ao trigo e para a doença celíaca, quando a nível histopatológico o intestino não apresenta lesões significativas e quando os sintomas desaparecem com uma dieta isenta glúten. Leite materno – IgA (anticorpos) – bebês amamentados tem menos propensão a ter alergias.
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