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Outros títulos de interesse ACERTO – Acelerando a Recuperação Total Pós-Operatória José Eduardo Aguilar-Nascimento (ed.) / Cervantes Caporossi (coed.) / Alberto Bicudo Salomão (coed.) Bases da Nutrição Clínica (ESPEN) Lubos Sobotka Componentes e Cálculo da Nutrição Parenteral: Manual de Bolso Larissa Calixto-Lima / Valéria Abrahão / Gisele Resque Vieira Auad / Simone Côrtes Coelho / Maria Cristina Gonzalez / Rodrigo Luiz da S. Silva Manual de Nutrição Parenteral Larissa Calixto-Lima / Valéria Abrahão / Gisele Resque Vieira Auad / Simone Côrtes Coelho / Maria Cristina Gonzalez / Rodrigo Luiz da Silveira Silva Nutrição – da Gestação ao Envelhecimento Márcia Regina Vitolo Nutrição em Cirurgia Bariátrica Maria Goretti Burgos Nutrição Clínica – Alcoolismo Nelzir Trindade Reis / Cláudia dos Santos Cople Rodrigues Nutrição Clínica – Interações Nelzir Trindade Reis Nutrição Clínica – Sistema Digestório Nelzir Trindade Reis Tratado de Metabolismo Humano Francisco Juarez Karkow Saiba mais sobre estes e outros títulos em nosso site: www.rubio.com.br A prática da nutrição clínica exige minuciosa avaliação do estado nutricional, incluindo as corretas solicitação e interpretação de exames laboratoriais, para que todo o tratamento nutricional seja concluído por meio de adequado diagnóstico, intervenção e acompanhamento nutricional. Em 20 capítulos, a obra Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica contempla desde aspectos básicos relevantes, como a avaliação hematológica e bioquímica do sangue, exames de urina e de fezes, até a avaliação e interpretação dos exames para fins diagnósticos e de acompanhamento de diversas enfermidades relacionadas à nutrição (desnutrição, déficit de vitaminas e minerais, alterações da função intestinal, alergias alimentares, anemias carenciais, diabetes melito e outras disfunções endócrinas, dislipidemias, bem como doenças pancreáticas, hepáticas e renais). A solicitação e a interpretação dos exames estão embasadas na fisiopatologia, na classificação e nas diretrizes das especialidades médicas. O livro também destaca aspectos relacionados aos exames de rotina em atendimento ambulatorial nos diferentes grupos populacionais. Outra estratégia interessante foi a inclusão dos requerimentos necessários para a coleta dos exames (tempo de jejum, dieta prévia, higienização etc.). Dessa forma, o profissional aprende a orientar o paciente sobre como se preparar para a coleta, evitando erros de coleta e de interpretação dos resultados. Decerto, é um livro de abrangência prática, leitura agradável e sistematizada, destinado a estudantes, nutricionistas e demais profissionais da saúde, que servirá de suporte em diversos ambientes, como unidades hospitalares, clínicas de especialidades, ambulatórios e consultórios, instituições de longa permanência para idosos, centrais de terapia nutricional, em atendimento domiciliar e tantas outras situações em que a nutrição clínica esteja presente. Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica O r g a n i z a d o ra s L a r i s s a C a l i x t o - L i m a N e l z i r Tr i n d a d e R e i s Sobre as Organizadoras Larissa Calixto-Lima Nutricionista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Especialista em Nutrição Clínica − Cirurgia Geral e Transplante Hepático – pelo progra- ma de Residência do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), PE. Especialista em Nutrição Clínica pelo Insti- tuto Brasileiro de Pós-graduação e Exten- são (IBPEX). Especialista em Nutrição Clínica pela Asso- ciação Brasileira de Alimentação e Nutri- ção (ASBRAN). Nutricionista do Ambulatório 20 − Clínica Médica, Endocrinologia e Nutrição − da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Ja- neiro. Nutricionista da Unidade de Cuidados Pa- liativos do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA/HC-IV). Nelzir Trindade Reis Nutricionista e Médica. Livre-Docente em Nutrição Clínica pela Uni- versidade Gama Filho (UGF), RJ. Professora Titular de Nutrição Clínica (apo- sentada) da Universidade Federal Flumi- nense (UFF), RJ. Professora Adjunta IV de Patologia da Nu- trição e Dietoterapia (aposentada) da Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenadora de Nutrição Clínica do Am- bulatório 20 – Clínica Médica, Endocrinolo- gia e Nutrição – da Santa Casa da Miseri- córdia do Rio de Janeiro. Professora Adjunta de Nutrição Clínica da Universidade Veiga de Almeida (UVA), RJ. Acadêmica Titular da Academia Brasileira de Administração Hospitalar. Interpretação de Interpretação de Exam es Lab o rato riais Aplicados à N utrição C línica O rgan izad o ras Larissa C alixto -Lim a N elzir Trin d ad e R eis Capa – Exames Laboratoriais.indd 1Capa – Exames Laboratoriais.indd 1 11/11/2011 17:25:3111/11/2011 17:25:31 c-ANCA autoanticorpo citoplasmático antineutrofi lo CaSI cálcio sérico ionizado CaST cálcio sérico total CaU cálcio urinário CBP cirrose biliar primária CDC Centers for Disease Control and Prevention CHC carcinoma hepatocelular CHCM concentração de hemoglobina corpuscular média CI cálcio ionizado CLLF capacidade latente de ligação ao ferro CO2 dióxido de carbono CPER colangiopancreatografi a endoscópica retrógrada CRD diagnósticos resolvidos por componentes CrP ceruloplasmina CT colesterol total CTL contagem total de linfócitos CTLF capacidade total de ligação do ferro DA desnutrição aguda DAC doença arterial coronariana DC desnutrição crônica DCV doenças cardiovasculares DHC doença hepática crônica DHGNA doença hepática gordurosa não alcoólica DHL desidrogenase láctica DII doenças infl amatórias intestinais DM diabetes melito DMG diabetes melito gestacional DMO densitometria óssea DNA ácido desoxiribonucleico DP desnutrição primária ou desvio-padrão DRC doença renal crônica DS desnutrição secundária Dx D-xilose EAB equilíbrio acidobásico EAS elementos anormais do sedimento EDTA etilenodiaminotetra-acetato EHNA esteato-hepatite não alcoólica EnP endopeptidases 00-Exames Laboratoriais.indd 2200-Exames Laboratoriais.indd 22 11/11/2011 13:18:1011/11/2011 13:18:10 EPF exame parasitológico de fezes ETA efeito termogênico dos alimentos ETFAD European Task Force on Atopic Dermatitis ExP exopeptitases FA fosfatase alcalina FAD fl avina-adenina dinucleotídeo FAN fator antinuclear FAOE fosfatase alcalina ósseoespecífi ca FEOOH oxi-hidróxido férrico FeS ferro sérico FI fator intrínseco FIGLU ácido formiminoglutâmico fl fentolitros FMN fl avina mononucleotídeo GABA ácido gama-aminobutírico GEB gasto energético basal GErR glutationa eritrocitária redutase GET gasto energético total GGT gama glutamiltransferase GH hormônio do crescimento GJ glicemia de jejum GLA glutamatos GLU ácido glutâmico GnRH hormônio liberador de gonadotropina HAS hipertensão arterial sistêmica Hb hemoglobina HbA hemoglobina A HCl ácido clorídrico HCM hemoglobina corpuscular média HCY homocisteína HDL lipoproteínas de alta densidade HDL-C colesterol ligado à HDL hHb hemoglobina humana HLA antígeno leucocitário humano HM hemácias HMG-CoA redutase hidróxi-metil-glutaril CoA redutase HMWK cininogênio de alto peso molecular holo-TC holotranscobalamina 00-Exames Laboratoriais.indd 2300-Exames Laboratoriais.indd 23 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 HOMA modelo de avaliação da homeostase HT hematócrito IAM infarto agudo do miocárdio IBRANUTRI Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional ICA índice de creatinina-altura IDL lipoproteínas de densidade intermediária IECA inibidores da enzima conversora de angiotensina IFN-gama interferon gama IL interleucina IL-1 interleucina 1 IL-6 interleucina 6 IL-10 interleucina 10 INH índice prognóstico hospitalar IPGH índice prognóstico Glasgow hepático IPIN índice prognóstico infl amatório nutricional IPN índice de prognóstico nutricional IRN índice de risco nutricional ISI Índice de SensibilidadeInternacional ITM insufi ciência tireóidea mínima LCAT lecitina-colesterolaciltransferase LD contagem diferencial de leucócitos LDL lipoproteínas de baixa densidade LDL-C colesterol ligado à LDL LG contagem global de leucócitos LP lipase pancreática Lp(a) lipoproteína (a) LPL lipase lipoproteica LPS lipopolissacarídios LT leucotrieno MAP músculo adultor do polegar MELD model for end-stage liver disease mEq miliequivalentes MgS magnésio sérico N1MN N1-metil-nicotinamida NAD nicotinamida-adenosina-dinucleotídeo NADP nicotinamida-adenosina-dinucleotídeo-fosfato NE niacina equivalente NIH Nacional Institutes of Health 00-Exames Laboratoriais.indd 2400-Exames Laboratoriais.indd 24 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 NK natural killer NMA ácido metilmalônico OB osteoblastos OC osteoclastos OH osteodistrofi a hepática PA pancreatite aguda PAF fator de ativação plaquetária p-ANCA autoanticorpo perinuclear antineutrofi lo PC-R proteína C-reativa pg picogramas PG prostaglandina pHF pH fecal PLP piridoxal fosfato PLR proteína ligadora de retinol PNA equivalente proteico do aparecimento de nitrogênio POF Pesquisa de Orçamentos Familiares PPO piridoxamina fosfato oxidase PROASA Programa de Atenção à Saúde do Adolescente PSO pesquisa de sangue oculto nas fezes PSR pesquisa de substância redutoras nas fezes PTA patch test atópico PTH paratormônio QM quilomícrons RAA reação adversa a alimentos RBP proteína transrretinol RCUI retocolite ulcerativa inespecífica RDW distribuição do tamanho das hemácias RMJ resposta metabólica ao jejum RNAm RNA mensageiro RNAt RNA transportador RNI relação normatizada internacional SeP selenoproteína P SG solução glicosada SIRS síndrome da resposta infl amatória sistêmica SNC sistema nervoso central SOD superóxido dismutase T3 tri-iodotironina T3L T3 livre 00-Exames Laboratoriais.indd 2500-Exames Laboratoriais.indd 25 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 T4 tiroxina T4L T4 livre TAP tempo de atividade da protrombina TBG globulina de ligação da tiroxina TBPA pré-albumina ligadora de tiroxina TC tomografi a computadorizada TCI transcobalamina I TCL triglicerídeo de cadeia longa TCM triglicerídeo de cadeia média TDP difosfato de tiamina TF-FVIIa fator tecidual-fator VII ativado TFG taxa de fi ltração glomerular TG triglicerídeos TGB globulina ligadora de tiroxina TMB taxa metabólica basal TNF fator de necrose tumoral TP tempo de protrombina TPO testes de provocação oral TPP tiamina pirofosfato TRF transferrina TRH hormônio de liberação da tireotropina TSA teste de sensibilidade aos antimicrobianos TSH hormônio estimulador da tireoide TSH-R receptor de TSH TTL teste de tolerância à lactose TTOG teste de tolerância oral à glicose TTP tempo de tromboplastina parcial TTR transtirretina VCM volume corpuscular médio VHA vírus da hepatite A VHB vírus da hepatite B VHC vírus da hepatite C VHC-RNA RNA do vírus da hepatite C VHS velocidade de hemossedimentação VLDL lipoproteínas de muito baixa densidade VSH velocidade de hemossedimentação ZnE zinco nos eritrócitos ZnS zinco sérico 00-Exames Laboratoriais.indd 2600-Exames Laboratoriais.indd 26 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 Sumário 1 Avaliação Hematológica do Sangue, 1 Luciana Moreira Lima • Marcos Rodrigo de Oliveira • Andréia Patrícia Gomes • Rodrigo Siqueira-Batista • Gleide Gatti Fontes 2 Avaliação Bioquímica do Sangue, 17 Marcos Rodrigo de Oliveira • Gleide Gatti Fontes • Luciana Moreira Lima • Andréia Patrícia Gomes • Patrícia Aparecida Fontes Vieira • Rodrigo Siqueira-Batista 3 Avaliação Laboratorial da Urina, 39 Andréia Patrícia Gomes • Rodrigo Roger Vitorino • Patrícia Aparecida Fontes Vieira • Gleide Gatti Fontes • Marcos Rodrigo de Oliveira • Luciana Moreira Lima • Rodrigo Siqueira-Batista 4 Avaliação Laboratorial das Fezes, 51 Rodrigo Siqueira-Batista • Patrícia Aparecida Fontes Vieira • Gleide Gatti Fontes • Marcos Rodrigo de Oliveira • Luciana Moreira Lima • Andréia Patrícia Gomes 5 Desordens do Equilíbrio Acidobásico, 71 Francisco J. Karkow • Joel Faintuch • Larissa Calixto-Lima 6 Desnutrição Energético-Proteica, 91 Larissa Calixto-Lima • Diana Borges Dock-Nascimento • Nelzir Trindade Reis 7 Vitaminas, 113 Emanuelly Varea Maria Wiegert • Larissa Calixto-Lima • Neuza Maria Brunoro Costa 8 Minerais, 135 Emanuelly Varea Maria Wiegert • Larissa Calixto-Lima • Neuza Maria Brunoro Costa 00-Exames Laboratoriais.indd 2700-Exames Laboratoriais.indd 27 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 9 Diabetes Melito, 153 Larissa Calixto-Lima • Letícia Fuganti Campos • Rita de Cássia Gonçalves Alfenas • Nelzir Trindade Reis 10 Doenças da Tireoide: Hiper- e Hipotireoidismo, 175 Alessandra da S. Pereira • Simone Côrtes Coelho • Larissa Calixto-Lima • Rodrigo de Azeredo Siqueira 11 Metabolismo do Cálcio e Vitamina D, Hormônio Paratireoidiano e a Osteoporose, 189 Larissa Calixto-Lima • Nelzir Trindade Reis • Fabiana Viegas Raimundo 12 Dislipidemia, 213 Larissa Calixto-Lima • Erika Paniago Guedes • Nelzir Trindade Reis 13 Pancreatite Aguda, 227 Larissa Calixto-Lima • Nelzir Trindade Reis • José Galvão-Alves • Valéria Abrahão 14 Doença Hepática Crônica, 237 Rosângela Passos de Jesus • Lucivalda Pereira Magalhães de Oliveira • Rosana Maria Cardoso • Cecília Santos Rios • Matheus Lopes Cortes • Nivea Almeida Casé 15 Função Intestinal, 271 Flávia de Alvarenga Netto • Larissa Calixto-Lima 16 Alergia Alimentar, 287 Glauce Hiromi Yonamine • Ana Paula Beltran Moschione Castro 17 Anemias Carenciais, 303 Larissa Calixto-Lima • Nelzir Trindade Reis • Cláudia dos Santos Cople Rodrigues 18 Doença Renal Crônica, 327 Ana Paula Bazanelli • Flavia Baria • Miriam Ghedini Garcia Lopes 19 Marcadores Laboratoriais da Inflamação, 345 Mauro Geller • Mendel Suchmacher Neto • Stela Besso • Carlos Pereira Nunes • Lisa Oliveira • Karin Soares Gonçalves Cunha • Rodrigo Siqueira-Batista 00-Exames Laboratoriais.indd 2800-Exames Laboratoriais.indd 28 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 20 Exames de Rotina em Atendimento Ambulatorial nos Diferentes Grupos Populacionais, 361 Sylvia do Carmo Castro Franceschini • Eliane Rodrigues de Faria • Fabiana de Cássia Carvalho Oliveira • Clarissa de Matos Nascimento • Silvia Eloiza Priore Anexo 1 Principais Exames Laboratoriais Utilizados na Prática Clínica: Indicações, Contraindicações, Orientação para Coleta e Fatores Interferentes, 383 Anexo 2 Principais Exames Laboratoriais Utilizados na Prática Clínica: Valores de Referência e Interpretação, 423 Anexo 3 Tabela de Conversão de Unidades para Alguns Exames Laboratoriais, 465 Anexo 4 Lei no 8.234/91, de 17 de setembro de 1991, 469 Anexo 5 Resolução CFN no 236/2000, 473 Anexo 6 Resolução CFN no 306/2003, 477 Índice Remissivo, 481 00-Exames Laboratoriais.indd 2900-Exames Laboratoriais.indd 29 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 00-Exames Laboratoriais.indd 3000-Exames Laboratoriais.indd 30 11/11/2011 13:18:1111/11/2011 13:18:11 Introdução .................................................................................................. 3 Hemograma ................................................................................................ 3 Coagulograma ............................................................................................ 10 Considerações Finais ................................................................................... 15 Referências.................................................................................................. 15 Capítulo 1 Avaliação Hematológica do Sangue Luciana Moreira Lima • Marcos Rodrigo de Oliveira • Andréia Patrícia Gomes • Rodrigo Siqueira-Batista • Gleide Gatti Fontes 01-Exames Laboratoriais.indd 101-Exames Laboratoriais.indd 1 11/11/2011 13:18:3811/11/2011 13:18:38 Introdução O sangue periférico é constituído por três diferentes linhagens celulares: glóbu- losvermelhos, eritrócitos ou hemácias; glóbulos brancos ou leucócitos; e pla- quetas ou trombócitos. Os principais exames hematológicos compreendem o hemograma e o coagulograma, conjunto de exames capazes de avaliar as três linhagens de células sanguíneas, em número e funcionalidade.1 Fazem parte do hemograma os parâmetros de contagem de hemácias, dosagem de hemoglobi- na, determinação do hematócrito, índices hematimétricos, leucometria global e específica e exame microscópico do esfregaço de sangue corado. Apesar de não fazer parte do hemograma, a contagem de reticulócitos também pode auxiliar em sua avaliação e interpretação. O coagulograma compreende os exames de tempo de sangramento, tempo de coagulação, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e contagem de plaquetas. O escopo do presente ca- pítulo é apresentar esses exames – hemograma, reticulócitos e coagulograma – destacando a sua relevância para a prática do profissional de saúde, em especial o profissional de nutrição clínica. Hemograma O hemograma é considerado a principal ferramenta diagnóstica em hematolo- gia, sendo constituído pelos seguintes exames: � Contagem total de hemácias. � Dosagem de hemoglobina. � Determinação do hematócrito. � Índices hematimétricos: • Volume corpuscular médio. • Hemoglobina corpuscular média. • Concentração de hemoglobina corpuscular média. • Distribuição do tamanho das hemácias. � Contagem global de leucócitos. � Contagem diferencial de leucócitos. � Exame microscópico do esfregaço corado. � Contagem de plaquetas (opcional). 01-Exames Laboratoriais.indd 301-Exames Laboratoriais.indd 3 11/11/2011 13:18:3911/11/2011 13:18:39 11 Avaliação Hematológica do Sangue Figura 1.5 Representação esquemática simplifi cada da cascata da coagulação. A divi- são da cascata em via intrínseca, via extrínseca e via comum é puramente didática; in vivo as mesmas estão inter-relacionadas Contagem de Plaquetas A contagem de plaquetas utiliza a mesma diluição obtida para a contagem de hemácias. Como o tamanho das duas células apresenta uma diferença conside- rável, as duas linhagens celulares podem ser mensuradas utilizando-se a mesma diluição. O líquido diluidor apresenta substâncias líticas para os leucócitos, e 01-Exames Laboratoriais.indd 1101-Exames Laboratoriais.indd 11 11/11/2011 13:18:4011/11/2011 13:18:40 Introdução .................................................................................................. 53 Coleta do Material Fecal .............................................................................. 53 Investigação de Processos Infecciosos .......................................................... 54 Coprologia Funcional .................................................................................. 60 Pesquisa de Gordura Fecal ........................................................................... 64 Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes .......................................................... 66 Considerações Finais ................................................................................... 68 Referências.................................................................................................. 68 *Os autores são gratos aos técnicos Adriana Lopes Gouveia e Pedro Simão Teixeira – ambos da Divisão de Saúde da Universidade Federal de Viçosa –, pela cooperação na preparação das lâminas que possibilitaram a documentação fotográfica do presente capítulo. Todas as imagens foram fotografadas por Gleide Gatti Fontes e Marcos Rodrigo de Oliveira. Capítulo 4 Avaliação Laboratorial das Fezes Rodrigo Siqueira-Batista • Patrícia Aparecida Fontes Vieira • Gleide Gatti Fontes • Marcos Rodrigo de Oliveira • Luciana Moreira Lima • Andréia Patrícia Gomes * 04-Exames Laboratoriais.indd 5104-Exames Laboratoriais.indd 51 11/11/2011 13:20:0911/11/2011 13:20:09 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 56 Figura 4.4 Ovo de Schistosoma mansoni. Observar a espícula lateral, típica do ovo desse helminto. Microscopia óptica, 40× de aumento Fonte: documentação fotográfica da disciplina Laboratório Aplicado à Clínica, Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa. Figura 4.3 Ovo de Ascaris lumbricoides. Microscopia óptica, 40× de aumento Fonte: documentação fotográfica da disciplina Laboratório Aplicado à Clínica, Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa. 04-Exames Laboratoriais.indd 5604-Exames Laboratoriais.indd 56 11/11/2011 13:20:1211/11/2011 13:20:12 57 Avaliação Laboratorial das Fezes Figura 4.6 Ovo de Enterobius vermicularis. Microscopia óptica, 40× de aumento Fonte: documentação fotográfica da disciplina Laboratório Aplicado à Clínica, Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa. Figura 4.5 Ovo de Trichuris trichiura. Microscopia óptica, 40× de aumento Fonte: documentação fotográfica da disciplina Laboratório Aplicado à Clínica, Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa. 04-Exames Laboratoriais.indd 5704-Exames Laboratoriais.indd 57 11/11/2011 13:20:1311/11/2011 13:20:13 59 Avaliação Laboratorial das Fezes tem apresentado resultados satisfatórios, podendo ser útil para a investigação daqueles enfermos que apresentam sinais e sintomas de doença e que tenham exames parasitológicos de fezes persistentemente negativos.2, 3 Nesse caso, o material fecal deve ser acondicionado – e completamente imerso – em líquido conservante (SAF – ácido acético, acetato de sódio e formol). Coprocultura A coprocultura é o exame bacteriológico do material fecal, sendo empregável para a investigação de processos infecciosos com envolvimento intestinal. Os micro-organismos envolvidos nas diarreias infecciosas – condições mórbidas que, ainda hoje, representam frequente causa de morte nos países menos desen- volvidos – incluem díspares espécies de bactérias, vírus e protozoários, todos com grande número de sorogrupos e biotipos. Na Tabela 4.1, é apresentado um resu- mo das principais características dos agentes envolvidos em doenças diarreicas. Na coprocultura, as fezes devem ser examinadas o mais brevemente possível, pois quanto mais depressa forem semeadas em meios seletivos e de enriqueci- mentos, mais fidedignos serão os resultados. O material deve ser coletado em Tabela 4.1 Micro-organismos envolvidos em diarreias, fonte provável de infecção e período de incubação Micro-organismos Fonte de infecção ou condição predisponente Período de incubação Aeromonas spp. Água Desconhecido Bacillus cereus Carnes, vegetais 6 a 24 horas Campylobacter jejuni Água, leite, carnes 3 a 11 dias Clostridium diffi cile Terapia antimicrobiana 4 a 9 dias Clostridium perfringens Carnes 8 a 16 horas Escherichia coli enterotioxinogênica Alimentos em geral, água 4 a 24 horas Escherichia coli enteroinvasiva Alimentos em geral 8 a 24 horas Escherichia coli entero-hemorrágica Carnes, leite 3 a 5 dias Plesiomonas shigelloides Água, pescados 1 a 2 dias Salmonella spp. Alimentos em geral 8 a 72 horas Shigella dysenteriae Água 3 a 5 dias Outras Shigella Água, alimentos em geral 8 a 72 horas Staphylococcus aureus Carnes, laticínios 1 a 6 horas Vibrio cholerae Água, pescados 1 a 5 dias Vibrio parahaemolyticus Pescados 15 a 24 horas Yersinia enterocolitica Água, alimentos em geral 16 a 48 horas Fonte: Menezes e Silva & Neufeld, 2006;4 Gomes & Siqueira-Batista, 2012.5 04-Exames Laboratoriais.indd 5904-Exames Laboratoriais.indd 59 11/11/2011 13:20:1611/11/2011 13:20:16 Introdução ................................................................................................ 115 Vitaminas Lipossolúveis ............................................................................. 115 Vitaminas Hidrossolúveis ........................................................................... 120 Referências................................................................................................131 Capítulo 7 Vitaminas Emanuelly Varea Maria Wiegert • Larissa Calixto-Lima • Neuza Maria Brunoro Costa 07-Exames Laboratoriais.indd 11307-Exames Laboratoriais.indd 113 11/11/2011 13:23:0911/11/2011 13:23:09 Introdução Vitaminas são compostos orgânicos indispensáveis para o crescimento e de- senvolvimento normais do organismo. Conforme sua solubilidade, podem ser classificadas em lipossolúveis e hidrossolúveis. Como as células não dispõem de sistemas enzimáticos para sua síntese nas taxas necessárias, o organismo depende de dietas balanceadas para a sua obtenção. A detecção de deficiências limiares em geral é difícil, porém importante, visto que os estados carenciais comprometem a eficiência de várias vias metabólicas vitamina-dependentes. Vitaminas Lipossolúveis As vitaminas lipossolúveis − A, D, E e K − são moléculas relativamente apolares e dependem de solubilização micelar para sua absorção a partir do ambiente aquoso do lúmen intestinal. A absorção, portanto, é dependente de todos os componentes lipídicos envolvidos na formação da micela e, ainda, do estímu- lo das funções pancreáticas e biliares promovidas pela ingestão do alimento. Quando misturadas às micelas gordurosas, tornam-se facilmente absorvidas, sendo transportadas no sangue pelos quilomícrons (QM). As vitaminas A, D e K são armazenadas no fígado, e a vitamina E no tecido adiposo. Embora apre- sentem semelhança quanto à solubilidade, elas têm papéis muito diferentes.1 Nesse contexto, as doenças que prejudicam a absorção de gorduras, como coles- tase hepática, pancreatite crônica, enterites e colites, alcoolismo e deficiência con- gênita de lipoproteínas podem provocar a deficiência das vitaminas lipossolúveis.1 Em geral, a avaliação do estado vitamínico é feita de duas maneiras: pelos seus níveis plasmáticos e/ou pela medida da atividade enzimática que tem a vitamina como cofator.1,2 Vitamina A Vitamina A é um nutriente essencial, necessário em pequenas quantidades para que haja funcionamento normal do sistema visual, crescimento e desenvolvi- mento, maturação da integridade celular epitelial, função imunológica e repro- dução. As necessidades dietéticas de vitamina A são normalmente fornecidas como retinol pré-formado (principalmente como éster de retinil) ou como provi- 07-Exames Laboratoriais.indd 11507-Exames Laboratoriais.indd 115 11/11/2011 13:23:0911/11/2011 13:23:09 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 116 tamina A.3 Apenas 10% dos 600 carotenoides conhecidos apresentam atividade provitamínica A, sendo que, dentre eles, o betacaroteno é o que tem maior representatividade nessa função.4 O fígado contém 90% da vitamina A do organismo. A proteína transretinol (RBP – retinol binding protein) é uma proteína necessária para transporte de retinol do fígado para os tecidos-alvo. A síntese dessa proteína é fortemente regulada pela disponibilidade de retinol e, portanto, é sensível para identificar o estado nutricional de indivíduos. A RBP está vinculada a outra proteína chamada trans- tirretina (TTR). Como o retinol circula ligado ao complexo RBP-TTR, a presença de desnutrição pode comprometer os níveis séricos circulantes de vitamina A.5-7 Avaliação laboratorial da vitamina A A concentração de retinol sérico é o teste bioquímico usado na prática clínica para avaliar os níveis de vitamina A. A medida de retinol no sangue fornece um índice das reservas corporais, pois quando os depósitos no fígado são baixos, o retinol do plasma diminui.5,8 Níveis de retinol sérico maiores do que 30μg/dL indicam adequada reserva he- pática de vitamina A; níveis de retinol sérico inferiores ou iguais a 10μg/dL po- dem indicar reservas hepáticas esgotadas ou próximas do esgotamento com sinais clínicos frequentemente presentes.9 Assim como a vitamina A, o betacaroteno também pode ser medido no san- gue. Esse exame geralmente é indicado para o diagnóstico de hipercarotenemia por ingestão excessiva de precursores da vitamina A, sendo útil no diagnóstico diferencial de indivíduos que apresentem impregnação de pele por pigmento amarelo. Nesses casos, as escleróticas permanecem normais, e pode ocorrer prurido cutâneo e perda de peso.10,11 Uma pesquisa com atletas profissionais alemães encontrou concentrações plas- máticas de retinol dentro da faixa de normalidade, com considerável variabi- lidade das concentrações de betacaroteno, indicando que, embora haja uma aparente ingestão adequada de vitamina A, pode haver uma variada ingestão de betacaroteno. Assim, a circulação de vitamina A reflete as reservas do orga- nismo que são mais estáveis e mantidas por causa dos depósitos, enquanto as concentrações de betacaroteno são mais variáveis, provavelmente por causa das flutuações na ingestão de carotenoides.11 Não foi identificado um único metabólito urinário que reflitisse com precisão os níveis teciduais de vitamina A ou a sua taxa de utilização.1 Ver vitamina A sérica (Anexos I e II). Vitamina D A vitamina D é necessária ao organismo humano para manter níveis normais de cálcio e fósforo que, por sua vez, são necessários para a mineralização normal dos ossos, contração dos músculos, condução nervosa e função celular geral do 07-Exames Laboratoriais.indd 11607-Exames Laboratoriais.indd 116 11/11/2011 13:23:0911/11/2011 13:23:09 Introdução ............................................................................................... 191 Metabolismo do Cálcio............................................................................. 191 Metabolismo Ósseo.................................................................................. 193 Homeostasia do Cálcio, Vitamina D e Paratormônio .................................. 197 Osteoporose ............................................................................................ 200 Diagnóstico Laboratorial........................................................................... 206 Referências............................................................................................... 209 Capítulo 11 Metabolismo do Cálcio e Vitamina D, Hormônio Paratireoidiano e a Osteoporose Larissa Calixto-Lima • Nelzir Trindade Reis • Fabiana Viegas Raimundo 11-Exames Laboratoriais.indd 18911-Exames Laboratoriais.indd 189 11/11/2011 13:28:1311/11/2011 13:28:13 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 194 cesso de reabsorção para depositar, remodelar ou formar o osso, por meio de duas etapas distintas:18-20 � Sintetizando, depositando e orientando a matriz proteica, composta em sua maior parte por colágeno tipo I (90%) e em menor proporção (10%) por osteocalcina e outras proteínas. � Inicializando mudanças que tornam a matriz suscetível de mineralização. Osteócitos são osteoblastos maduros e inativos envolvidos pela matriz calcifi- cada. São as células responsáveis por monitorar as propriedades mecânicas do osso. Quando lesões microscópicas são detectadas, os osteócitos transmitem essa informação para as células de revestimento presentes nas superfícies ana- tômicas ósseas para, a partir de então, o processo de remodelação local ser iniciado.17,19,21,22 A remodelação óssea ocorre em quatro etapas distintas: ativação, reabsorção, reversão e formação. Ativação Na etapa de ativação, células de revestimento (osteoblastos inativos) presentes na superfície do osso se retraem, expondo a superfície óssea diretamente ao Tabela 11.1 Fatores determinantes no pico de massa óssea Fatores Descrição Gênero Mulheres possuem em média menos de 10% a 15% de massa óssea (MO) do que homens Etnia Negros possuem maior MO do que hispânicos, que por sua vez possuem maior MO do que asiáticos Fatores genéticos Associados ao gene receptor da vitamina D, gene do fator de crescimento insulina-símile ou IGF-I e gene do colágeno tipo I Atividade física Praticantes de atividade física possuem maior MO, visto que quando a ossatura está sendo submetidaa cargas mecânicas, os osteoblastos fi cam mais ativos Peso corporal Pelo mesmo princípio da atividade física, quanto maior o peso, maior MO Antecedentes familiares A probabilidade de possuir reduzida MO é maior em indivíduos que possuem familiares de primeiro e segundo grau diagnosticados com osteopenia/ osteoporose Determinantes nutricionais Ingestão adequada de cálcio MO: massa óssea. Fonte: adaptado de Guyton, 2006.2 11-Exames Laboratoriais.indd 19411-Exames Laboratoriais.indd 194 11/11/2011 13:28:1511/11/2011 13:28:15 199 Metabolismo do Cálcio e Vitamina D, Hormônio Paratireoidiano e a ... Figura 11.1 Etapas do metabolismo da vitamina D PTH: paratormônio; Ca: cálcio; PO4: fósforo; 25(OH)D3: 25-hidroxivitaminas D; 1,25(OH2)D3: 1,25 hidroxivitaminas D. 11-Exames Laboratoriais.indd 19911-Exames Laboratoriais.indd 199 11/11/2011 13:28:1511/11/2011 13:28:15 Capítulo 16 Alergia Alimentar Glauce Hiromi Yonamine • Ana Paula Beltran Moschione Castro Introdução ................................................................................................ 289 Diagnóstico da Alergia Alimentar .............................................................. 291 Referências................................................................................................ 301 16-Exames Laboratoriais.indd 28716-Exames Laboratoriais.indd 287 11/11/2011 13:32:4911/11/2011 13:32:49 RUBIO - Exames Laboratoriais (12 x 21) - EDEL - Cap. 16 - 2a Prova - 01-11-2011 Introdução Reação adversa aos alimentos (RAA) é a denominação empregada para qual- quer reação anormal à ingestão de alimentos ou aditivos alimentares, indepen- dentemente de sua causa. Estas podem ser classificadas em tóxicas e não tóxicas (Figura 16.1). As reações tóxicas são aquelas que independem de sensibilidade individual e ocorrem quando uma pessoa ingere quantidades suficientes de ali- mento para desencadear reações adversas, por exemplo, ingestão de toxinas bacterianas presentes em alimentos. As reações não tóxicas são aquelas que dependem de uma suscetibilidade individual e podem ser classificadas em não imunomediadas (intolerância alimentar) e imunomediadas (hipersensibilidade alimentar).1 A intolerância alimentar é, portanto, o termo utilizado para designar uma rea- ção anormal à ingestão de alimentos ou aditivos alimentares que não envolve mecanismos imunológicos.1 Hipersensibilidade alimentar ou alergia alimentar (AlAl) é a denominação utiliza- da para as RAA que envolvem mecanismos imunológicos, resultando em grande variabilidade de manifestações clínicas. A alergia alimentar é resultante de uma desregulação do sistema imunológico, ocasionada por características genéticas que necessitam ser mais bem estudadas em associação com fatores ambientais Figura 16.1 Reações adversas aos alimentos IgE: imunoglobulina E. 16-Exames Laboratoriais.indd 28916-Exames Laboratoriais.indd 289 11/11/2011 13:32:5011/11/2011 13:32:50 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 290 variados como: tipo de parto, tempo de aleitamento materno ou características da flora intestinal.1 Existem três importantes mecanismos imunológicos relacionados à gênese da AlAl: � Manifestações mediadas pela Imunoglobulina E (IgE), proteína relacionada com a degranulação de mastócitos e liberação de uma série de mediadores que, em geral, ocasionam sintomas imediatos, ou seja, até duas horas após a ingestão do alimento. As manifestações mais comuns são os quadros cutâ- neos como urticária, broncospasmo, além da possibilidade de desencadea- mento de anafilaxia (Tabela 16.1). � Manifestações não mediadas por IgE envolvem, em geral, células do sistema imunológico como linfócitos. Nesse caso, as manifestações mais frequentes ocorrem no sistema digestório e podem levar algumas horas ou dias para se estabelecer.1 � Mecanismos mistos, em que a IgE está envolvida, mas a fisiopatologia da doença também depende de infiltrado celular que pode ocorrer. Nesse caso, muitas vezes a participação dos eosinófilos é bastante relevante. Os sintomas podem ser imediatos, mas podem se agravar com o passar dos dias. Os qua- dros mistos são compostos pelas manifestações gastrintestinais e cutâneas como a esofagite eosinofílica e a dermatite atópica. Tabela 16.1 Principais manifestações clínicas de alergia alimentar de acordo com o mecanismo imunológico envolvido Localização da manifestação clínica IgE mediado Misto Não IgE mediado Gastrintestinal Hipersensibilidade gastrintestinal, síndrome da alergia oral Doenças eosinofí licas intestinais Enterocolite, proctite, enteropatia Cutânea Urticária aguda, angioedema Dermatite atópica Dermatite herpetiforme Respiratórias Broncospasmo agudo, risco de anafi laxia Asma, risco de anafi laxia Hemossiderose Fonte: adaptado de Solé et al., 2007.2 De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), estima-se um aumento de 18% na prevalência de AlAl nos EUA, de 1997 para 2007,3 e a população pediatra parece especialmente mais suscetível ao desenvolvimento de alergia alimentar. De fato, esse estudo do CDC revelou que, em indivíduos com até 5 anos de idade, esse aumento foi ainda mais relevante. Contudo, por tal estudo, não foi possível determinar o quanto dessa estimativa pode ser atribuída ao aumento da doença clínica ou ao maior reconhecimento da 16-Exames Laboratoriais.indd 29016-Exames Laboratoriais.indd 290 11/11/2011 13:32:5011/11/2011 13:32:50 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 294 A técnica geralmente utilizada é a de Pepys, na qual se pinga uma gota dos ex- tratos de alimentos suspeitos, uma gota de controle positivo (histamina) e uma gota de controle negativo (solução salina), em geral na região volar do antebra- ço ou no dorso dos lactentes. É realizada uma pequena puntura com dispositivo adequado e é preciso aguardar cerca de 15 minutos para a leitura. A resposta é baseada na reação de hipersensibilidade do tipo I, em que, pela presença de IgE específica contra o alimento testado, ocorre a degranulação de mastócitos e liberação de histamina que, após 15 minutos, leva a vasodilatação, hiperemia e prurido, formando uma pápula, permitindo a leitura de resultados. A pápula formada é comparada à pápula produzida pela histamina e pelo controle nega- tivo. Consideram-se positivos, por convenção, resultados de pápula superior a 3mm de diâmetro em relação ao controle negativo, sendo necessária a presença de pápula de histamina igual ou maior do que 3mm.10,11 Existe uma variação desse teste denominada prick to prick, em que, em vez da utilização de extratos, o alérgeno testado é oferecido na forma in natura aplicado sobre a pele do paciente. Essa modalidade de teste pode ser realizada na ausência de extratos industrializados, especialmente para frutas ou vegetais, cuja proteína é extremamente lábil, ou quando a história clínica é convincente, mas o SPT é negativo.9-11 A avaliação do tamanho da pápula no teste de puntura pode fornecer informa- ções mais úteis do que apenas classificá-lo como positivo ou negativo. Diversos Figura 16.2 Algoritmo para o diagnóstico de alergia alimentar RAST: radioactive allergosorbent test; TPODCAC: testes de provocação oral duplo-cego pla- cebo controlado. 16-Exames Laboratoriais.indd 29416-Exames Laboratoriais.indd 294 11/11/2011 13:32:5011/11/2011 13:32:50 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 296 O radioactive allergosorbent test (RAST) tem a finalidade de detectar, in vitro, a IgE específica ao alimento no soro do paciente. Trata-se de um teste semiquan- titativo, tendo seu resultado expresso em classes, que variam de 0 a 6, conside- rando-se positivos resultados acima de classe 3, sempre se correlacionando os achados clínicos. Mais recentemente, com a evolução das técnicas laboratoriais empregadas, foi desenvolvido o método ImmunoCAP®, que representa uma evoluçãodo RAST, pois é um método quantitativo e permite estabelecer valores de corte de IgE específica acima dos quais há 95% de risco de o paciente ser alérgico a determinado alimento. Esses pontos de corte podem variar de acordo com a faixa etária do paciente e mesmo com a sintomatologia apresentada.9,10 A Tabela 16.3 apresenta os valores obtidos para os principais alimentos avaliados. Tabela 16.3 Níveis de IgE específi ca que proporcionam 95% de probabilidade de uma reação Alérgeno (idade de introdução do alimento) Nível de IgE (kUI/L) Leite de vaca (<2 anos) ≥5 Leite de vaca (>2 anos) ≥15 Ovo (<1 ano) ≥10,9 Ovo (>1 ano) ≥13,2 Amendoim ≥14 Frutas oleaginosas ≥15 IgE: imunoglobulina E. Fonte: Lieberman & Sicherer 2010.10 É importante ter cautela na interpretação dos resultados, tanto pelo teste de puntura como pelos níveis de IgE específica, em decorrência da reatividade cru- zada entre alimentos, bem como entre pólen e alimentos. Por exemplo, pa- cientes com alergia a amendoim podem apresentar testes positivos para outras leguminosas, apesar de não apresentarem alergia a esses alimentos, e pacientes com alergia a pólens podem apresentar testes positivos para alguns alimentos (como cenoura e maçã), mas sem reatividade clínica.10 Quando há recursos disponíveis, a combinação dos resultados do teste de pun- tura com o nível de IgE específica pode aumentar a exatidão do diagnóstico.15 Ver IgE específica (Anexos I e II). Diagnóstico resolvido por componentes em alergia alimentar Embora não se trate exatamente de um exame, é importante que o profissional da área de saúde habituado a cuidar de pacientes com alergia alimentar tenha conhecimento desse avanço diagnóstico. 16-Exames Laboratoriais.indd 29616-Exames Laboratoriais.indd 296 11/11/2011 13:32:5011/11/2011 13:32:50 Introdução ............................................................................................... 363 Exames Bioquímicos Usados na Rotina Ambulatorial nos Grupos Específicos ............................................................................................... 363 Referências............................................................................................... 378 Capítulo 20 Exames de Rotina em Atendimento Ambulatorial nos Diferentes Grupos Populacionais Sylvia do Carmo Castro Franceschini • Eliane Rodrigues de Faria • Fabiana de Cássia Carvalho Oliveira • Clarissa de Matos Nascimento • Silvia Eloiza Priore 20-Exames Laboratoriais.indd 36120-Exames Laboratoriais.indd 361 11/11/2011 13:35:3011/11/2011 13:35:30 Introdução Um dos maiores desafios do nutricionista e demais profissionais da área da saúde é estabelecer, precocemente e com maior precisão, o diagnóstico das alterações do estado nutricional, pois a maior parte dessas alterações apresenta- se sob a forma subclínica. Para tanto, é importante utilizar vários indicadores, principalmente antropométricos, dietéticos, clínicos e bioquímicos. Alterações na ingestão, absorção, transporte, utilização, excreção e reserva dos nutrientes, dependendo de sua intensidade, podem comprometer de forma grave o equilí- brio nutricional do organismo.1 A utilização de exames laboratoriais na rotina clínica possibilita confirmar o diagnóstico mais precocemente após sua leitura e correta interpretação, cor- relacionando os resultados com o estado clínico informado, repetindo testes quando necessário.2 Segundo Waitzberg (1990),3 as avaliações laboratoriais permitem detectar de- ficiências nutricionais antes que estas tenham sinais clínicos específicos, forne- cendo o diagnóstico de má nutrição específica. Vale ressaltar que os exames sugeridos neste capítulo para os diferentes grupos devem ser solicitados como rotina para indivíduos saudáveis, sendo que para pacientes enfermos e/ou hospitalizados deve-se considerar a doença de base e realizar a solicitação de exames específicos de acordo com os sintomas clínicos apresentados (ver Anexos I e II). Exames Bioquímicos Usados na Rotina Ambulatorial nos Grupos Específicos Crianças O grupo infantil compreende as crianças menores de 10 anos, sendo que aque- las de 0 a 23 meses e 29 dias são denominadas lactentes. Nesse grupo, é objeti- vo essencial prover uma alimentação e nutrição adequadas visando à promoção de um intenso crescimento e desenvolvimento. Avaliar parâmetros envolvidos no estado nutricional de ferro e em infestações parasitárias é fundamental na avaliação de rotina das crianças, uma vez que esse grupo é suscetível à anemia ferropriva e a parasitoses. No entanto, outros parâmetros também devem ser investigados rotineiramente (Tabela 20.1). Além 20-Exames Laboratoriais.indd 36320-Exames Laboratoriais.indd 363 11/11/2011 13:35:3111/11/2011 13:35:31 365 Exames de Rotina em Atendimento Ambulatorial nos Diferentes Grupos... Ta be la 2 0. 1 Pr in ci pa is e xa m es b io qu ím ic os d e ro tin a pa ra a te nd im en to d e cr ia nç as Fa ix a et ár ia (a no s) Pr ob le m a nu tr ic io na l Ex am es b io qu ím ic os Ju st ifi ca tiv a Ev id ên ci as e pi de m io ló gi ca s 0 a 2 A ne m ia fe rr op riv a � H em og ra m a � Fe rr iti na � Pr ot eí na C -r ea tiv a � Fa ix a et ár ia d e m ai or ri sc o pa ra a a ne m ia fe rr op riv a, d ev id o à el ev ad a de m an da d e fe rr o de co rr en te d o rá pi do e in te ns o cr es ci m en to , al ia da a p rá tic as d e al ei ta m en to m at er no e al im en ta çã o co m pl em en ta r f re qu en te m en te in ad eq ua da s no s pa ís es e m d es en vo lv im en to � Co m o na a ne m ia fe rr op riv a, a s re se rv as d e fe rr o es tã o es go ta da s. A fe rr iti na é o p rin ci pa l pa râ m et ro p ar a di ag nó st ic o di fe re nc ia l e nt re os ti po s de a ne m ia . D ev e se r c om pl em en ta da pe lo e xa m e de p ro te ín a C -r ea tiv a, p oi s é fa ci lm en te a lte ra da n a pr es en ça d e pr oc es so s in fl a m at ór io s e in fe cc io so s � O rg an iz aç ão M un di al d a Sa úd e: 5 5% d as cr ia nç as b ra si le ira s m en or es d e 5 an os po ss ue m a ne m ia 5 � Pe sq ui sa N ac io na l d e D em og ra fi a e S aú de : 20 ,9 % d e cr ia nç as m en or es d e 5 an os po ss ue m a ne m ia 6 � A p re va lê nc ia d e an em ia e m la ct en te s de Vi ço sa -M G , n o se gu nd o se m es tr e de v id a fo i de 5 7, 5% 7 � Em R ib ei rã o Pr et o- SP , e st ud o re ve lo u qu e 32 ,2 % d as c ria nç as d e 3 a 12 m es es e st av am an êm ic as , s en do q ue n o se gu nd o se m es tr e de vi da e ss e pe rc en tu al fo i d e 48 % 8 2 a 10 Ex ce ss o de pe so � G lic em ia d e je ju m � In su lin em ia d e je ju m � Co le st er ol to ta l e fra çõ es – H D L (li po pr ot eí na d e al ta de ns id ad e) , L D L (li po pr ot eí na d e ba ix a de ns id ad e) , V LD L (li po pr ot eí na d e m ui to ba ix a de ns id ad e) � Es se s pa râ m et ro s po de m e st ar a lte ra do s pr in ci pa lm en t e e m c ria nç as c om e xc es so d e pe so , c on st itu in do -s e em fa to re s de ri sc o pa ra do en ça s ca rd io va sc ul ar es n a vi da a du lta � A O rg an iz aç ão M un di al d a Sa úd e es tim a qu e o ex ce ss o de p es o at in ja 4 3 m ilh õe s de cr ia nç as e m to do o m un do , e o p ro bl em a é cr es ce nt e na s ár ea s ur ba na s de p aí se s deb ai xa e m éd ia re nd a. A pr ox im ad am en te 3 5 m ilh õe s de c ria nç as c om s ob re pe so v iv em e m p aí se s em d es en vo lv im en to , e 8 m ilh õe s em p aí se s de se nv ol vi do s9 (c on tin ua ) 20-Exames Laboratoriais.indd 36520-Exames Laboratoriais.indd 365 11/11/2011 13:35:3111/11/2011 13:35:31 Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica 378 diminuição da concentração sérica dos micronutrientes ferro, ácido ascórbico e ácido fólico.63 Portanto, no atendimento nutricional da gestante, devem ser solicitados, como rotina, hemograma completo, ferritina, folato e vitamina B12 séricos, buscando identificar a ocorrência de anemia e de glicemia, a fim de averiguar se há o diabetes gestacional.64 A Tabela 20.5 apresenta os principais exames de rotina usados no atendimento de gestantes e a justificativa para o seu uso. Referências 1. Vannucchi H, Unamuno MRDL, Marchini JS. Avaliação do estado nutricional. Medicina, Ribeirão Preto. 1996; 29(3):5-18. 2. 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