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Assistência de Enfermagem na Emergência em Trauma Ficha Técnica Este material foi elaborado pela equipe do Programa Pós-Tec Enfermagem, executado em parceria entre o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Presidente do Cofen Profa.Dra. Betânia Maria Pereira dos Santos Autoria Prof. Ms. Sérgio Dias Martuchi Profa. Dra. Angela Amorim de Araújo Profa. Dra. Verbena Santos Araújo Profa. Dra. Anne Karoline Candido Araújo Profa. Dra. Aurilene Josefa Cartaxo de Arruda Cavalcanti Profa. Dra. Fabíola Fialho Furtado Gouvêa Profa. Dra. Maria Soraya Pereira Franco Adriano Colaboração Profa. Dra. Andréa Mendes Araújo Profa. Dra. Anna Cláudia Freire de Araújo Patrício Profa. Dra. Fernanda Maria Chianca da Silva Profa. Dra. Ivanilda Lacerda Pedrosa Profa. Dra. Marcella Costa Souto Duarte Profa. Dra. Márcia Rique Carício Profa. Dra. Rebeka Maria de Oliveira Belo Coordenação do Programa Pós Tec Profa. Dra. Anne Karoline Candido Araújo Profa. Dra. Fabíola Fialho Furtado Gouvêa Profa. Dra. Maria Soraya Pereira Franco Adriano Profa. Dra. Aurilene Josefa Cartaxo de Arruda Cavalcanti Coordenação do Curso Urgência e Emergência/APH Profa. Dra. Angela Amorim de Araújo Profa. Dra. Verbena Santos Araújo Diagramação e Projeto Gráfico Luis Henrique Augusto de Lima Assessoria Pedagógica Emília Cristina Ferreira de Barros Revisão Textual Isaac Newton Cesarino da Nóbrega Alves Imagens freepik.com | pexels.com | pixabay.com | unsplash.com APRESENTAÇÃO 1. CINEMÁTICA DO TRAUMA 2. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA - XABCDE 3. MANEJO DA VIA AÉREA SUPERIOR 4. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO 5. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRAUMA DE EXTREMIDADES (MUSCULO ESQUELÉTICO) 5. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRAUMA DE EXTREMIDADES (MUSCULO ESQUELÉTICO) 6. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRAUMA DE TÓRAX E PELVE 7. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO FERIMENTO POR ARMA DE FOGO E ARMA BRANCA 8. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRAUMA EM GESTANTE 9. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO TRAUMA PEDIÁTRICO REFERÊNCIAS CONTATOS 2.1. X - HEMORRAGIA EXTERNA EXSANGUINANTE 2.2. A - VIA AÉREA E PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL 2.3. B - VENTILAÇÃO E RESPIRAÇÃO 2.4. C - CIRCULAÇÃO E CONTROLE DA HEMORRAGIA 2.5. D - DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA 2.6. E - EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBIENTE 6.1. TRAUMA DE TÓRAX 6.2. TRAUMA DE PELVE SUMÁRIO 4 5 14 15 19 20 22 25 26 29 36 39 44 44 47 49 53 54 57 58 Identificar lesões existentes e garantir estabilização dos sinais de agravo durante o atendimento ao trauma na sala de emergência. Conhecimento de anatomia da via aérea e técnica para manuseio nas vítimas de trauma; Executar ações de contenção de sangramentos pertinentes ao Técnico em Enfermagem; Colaborar com a equipe para a execução das manobras avançadas de manutenção da vida dos pacientes de trauma; Objetivo: Competências: Apresentação ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM4 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Para uma melhor compreensão sobre a problemática do atendimento ao paciente traumatizado multissistêmico, faz-se necessário algumas definições e conceitos que permitirão entender todos os elementos que cercam o indivíduo vítima dessa condição, seja ela de origem intencional ou não. Em qualquer tipo de trauma há três fases distintas de abordagem, mas sempre interligadas, que tem como objetivo salvar uma vida: a fase do atendimento pré- hospitalar, a fase do atendimento hospitalar e a fase de reabilitação. Neste capítulo abordaremos a fase hospitalar, que engloba a avaliação inicial, a reanimação e o tratamento definitivo, com ênfase em alguns aspectos da avaliação inicial e reanimação Independente da assistência ser prestada no Atendimento Pré-hospitalar (APH) ou na Sala de Emergência (SE), as definições e conceitos não mudam, e sim, auxiliam no melhor preparo da equipe em prestar um atendimento com qualidade, objetivando a rápida identificação das lesões que ameaçam a vida, o tratamento e a reabilitação, num contexto seguro ao paciente, família e equipe. O trauma é conceituado como uma doença e consta na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no Capítulo XX – Causas externas de morbidade e mortalidade, podendo estar associado ao Capítulo XIX – Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas. 1. Cinemática do trauma ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA As doenças são entendidas dentro de um conceito chamado de tríade epidemiológica, onde são caracterizados um agente causador, um hospedeiro que pode desenvolver a doença ou não e um ambiente,onde os dois elementos anteriores se interagem. Como exemplo, podemos citar a dengue, tendo como agente causador um arbovírus do gênero Flavivirus (o mosquito Aedes aegyptié o vetor que carrega o vírus), o homem como o hospedeiro (que desenvolve a doença) e um ambiente favorável (locais de proliferação dos mosquitos). Fazendo uma analogia com o trauma, por exemplo, numa colisão de uma motocicleta contra um poste, podemos inferir que o agente é transferência de energia física, o hospedeiro é o homem e o ambiente é o local da ocorrência (podendo ter fatores contribuintes, como uso de álcool, excesso de velocidade, entre ouros). Portanto, se entendemos a tríade epidemiológica da dengue, podemos agir para preveni-la, pois trata-se de uma doença previsível, assim como no trauma, ou seja, a prevenção ainda é e sempre será a melhor forma de evita-lo, através de políticas públicas que intervenham nos fatores contribuintes para sua ocorrência, como por exemplo as leis de limite de velocidade, de consumo “zero” de álcool e drogas antes de dirigir, sinalização de vias, entre outras, constantes na Lei 9.503/97 do Código de Trânsito Brasileiro e suas resoluções. No trauma, há uma transferência externa de energia entre dois corpos, podendo ser um deles o homem e outro um objeto qualquer (um muro, um poste, um cabo de energia, uma chama, o sol, entre muitos outros). Ou dois corpos humanos podem se chocar, por exemplo, num acidente entre duas motocicletas, onde há transferência de energia cinética entre eles na forma de velocidade. A energia física (agente causador do trauma) se apresenta de cinco formas, a saber: cinética (colisões), térmica (calor e frio), química (ácidos e bases), elétrica (eletricidade) e radiativa (ondas eletromagnéticas ou partículas, emitidas por fontes naturais ou por fontes produzidas pelo homem). ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA No trauma produzido por energia elétrica há transferência de energia em forma de eletricidade, cujas lesões podem ser apenas externas e também internas. O que difere é quantidade e o tempo que o corpo humano fica exposto a esta agressão, ou seja, quanto maior a corrente elétrica e maior o tempo de contato, maiores e mais graves serão as lesões, sejam elas externas ou internas. Os raios também fazem parte desse mecanismo de trauma, cujas cargas elétricas envolvidas são de milhares de volts e a incidência de morte pode chegar a 10% das pessoas atingidas. Os traumas causados por energia química estão associados ao contato do corpo humano com elementos químicos, sejam eles, sólidos (soda caustica), líquidos (ácido sulfúrico) ou gasosos (amônia), cujos danos são muito sérios, podendo levar à morte em minutos após exposição. As lesões por energia térmica, principalmente aquelas causadas pela transferência em forma de calor, geralmente são causadas em incêndios nos mais diferentes ambientes. Podem estar associados outros mecanismos de trauma, como por exemplo, intoxicação por monóxido de carbono (a fumaça dos incêndios), lesões perfurantes ou contusas (queda de estruturas sobre a pessoa), fraturas (casos de incêndio de veículo seguido de colisão). Quando avaliadas isoladamente, a gravidade do paciente está associada à extensão e à profundidadedas queimaduras. Contudo, um paciente com queimadura em vias aéreas, mesmo que de grau e extensão pequenos, pode evoluir rapidamente para um edema das estruturas da anatômicas da faringe e laringe e, se não identificadas e atendidas rapidamente podem levar o paciente a procedimentos desnecessários (traqueostomia), ou mesmo à morte. A energia radiativa, do tipo artificial, raramente ocorre, principalmente no Brasil, apesar de ter havido um sério acidente ocorrido na cidade de Goiânia em 1987, pelo descarte indevido de uma capsula de RX, manipulada por dois catadores de lixo, liberando o elemento radioativo Césio-137. Nesse caso, fica claro o quanto um ambiente pode colaborar na ocorrência de um grave evento. Uma outra forma de trauma com energia radiativa são as queimaduras por raios solares, comuns em nosso país, por sua característica tropical, cujos efeitos, na maioria das vezes, são leves e raramente moderados. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM7 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Em todos os mecanismos de trauma acima mencionados, o tempo de exposição e a quantidade do agente físico que entrou em contato com o corpo, são fatores determinantes para a gravidade das lesões e consequente prognóstico de vida. Todas causam queimaduras de vários níveis de profundidade e de extensão; contudo, saber a o agente que as causou é fundamental para o melhor tratamento e sobrevida dos pacientes. No que tange os traumas relacionados à transferência de energia cinética (estudo dos movimentos), se encontram a grande maioria das causas de morte no Brasil e no mundo. O principal elemento envolvido na gravidade das lesões associadas à transferência de energia cinética é a velocidade. E um fator comum em todas as circunstâncias é a colisão entre dois corpos, sendo um deles o corpo humano. Há a premente necessidade em definir como a colisão entre dois corpos, tanto na situação de um corpo colidir-se com um objeto fixo ou em movimento (colisão de automóvel contra um poste ou entre dois automóveis em movimento) ou um objeto em movimento colidir-se contra um corpo parado ou em movimento (projétil de arma de fogo). O termo colisão, portanto, se aplica a qualquer situação em que haja o choque entre dois corpos, independente do sentido em que ocorre. Obviamente quando se trata da questão do trauma, um desses corpos é o do homem. Os mecanismos de trauma envolvidos nessa abordagem podem ser divididos em dois grupos: mecanismo de trauma fechado e mecanismo de trauma penetrante. No primeiro encontraremos as colisões automobilísticas (incluindo as motocicletas), as quedas de altura e os atropelamentos. As lesões penetrantes podem ser dividias conforme o mecanismo causador, a saber, armas brancas e armas de fogo. Obviamente, podem ocorrer dois mecanismos de trauma simultaneamente, como por exemplo, um indivíduo que ao trafegar com sua motocicleta sofreu um impacto de um projétil de uma arma de fogo e veio a chocar-se contra um poste. Para estas circunstâncias, onde estão envolvidos dois mecanismos de trauma distintos, conceitua-se como politraumatismo. Na tabela 01 pode-se verificar a relação entre mecanismo de trauma e potenciais lesões associadas, não se limitando a elas, porém são frequentemente encontradas. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM8 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Mecanismo de trauma ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM9 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Tipo de colisão Lesões potenciais FECHADO Colisão de auto frontal Fratura de coluna cervical Trauma de tórax Contusão cardíaca Lesões na artéria aorta Lesões em baço e/ou fígado Fratura de pelve Fratura de fêmur Trauma craniencefálico Trauma de face Lesões no pescoço Trauma craniencefálico Fratura de coluna cervical Trauma de tórax Lesões na artéria aorta Rotura do diafragma Lesão de baço, fígado e/ou rins Fratura de pelve *As lesões dependem do lado que o veículo sofreu o impacto e se há outro ocupante no veículo Tabela 01 - Mecanismo de trauma e lesões associadas Colisão de auto lateral* Colisão de auto traseira Ejeção do veículo Lesões na coluna cervical Trauma craniencefálico Lesões nas partes moles do pescoço Não há uma região anatomia determinada de lesão Tem potencial de apresentar as mais diversas lesões Lesões de padrão grave ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM10 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Colisão de moto frontal* Colisão de moto lateral* Atropelamento Atropelamento Queda de altura Fratura bilateral de fêmur Fratura de membros superiores Fratura de pelve *Demais lesões quando o paciente cai ao solo ou sob o veículo ou ainda sob o veículo Fraturas de membros inferiores Amputações traumáticas *As lesões estão relacionadas ao lado e que ocorreu o impacto, somadas as demais quandocai ao solo ou sob o veículo ou ainda sob o veículo Trauma craniencefálico Lesões na artéria aorta Lesões de vísceras abdominais Fratura de membros inferiores e pelve *O padrão de lesão está associado ao tipo de veículo e se adulto ou criança Trauma craniencefálico Lesões na artéria aorta Lesões de vísceras abdominais Fratura de membros inferiores e pelve *O padrão de lesão está associado ao tipo de veículo e se adulto ou criança Trauma craniencefálico Lesão alta da coluna cervical Lesões de vísceras abdominais Fratura pélvica Fratura bilateral de membros inferiores *O padrão de lesão está associado ao tipo de estrutura onde ocorreu a queda e a forma como o corpo colidiu com essa estrutura Penetrante Arma branca Arma de fogo Região torácica anterior Lesões cardíacas Hemotórax/pneumotórax Hemopneumotórax Região Tóracoabdominal esquerda Lesões no diafragma e baço Hemopneumotórax Abdome Todas as vísceras abdominais, rins, fígado, grandes vasos; dependendo da região da penetração e direção da arma *São armas de baixa energia Os órgãos lesados estão diretamente relacionados com o local da entrada do projétil, do trajeto e do tipo de arma *São armas de média ou alta energia ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM11 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Autor: Ms. Sérgio Dias Martuchi, 2023 Para todos os mecanismos descritos na tabela 01, a velocidade é o maior fator de gravidade das lesões dos órgãos, incluindo aquelas relacionadas aos traumas penetrantes, que serão abordadas em capítulos posteriores. Da mesma forma, seja em velocidade maior ou menor, aqui tratamos sempre de um impacto entre um objeto e o corpo de um paciente, onde a energia mecânica, em forma de velocidade, é transferida para os órgãos internos. Imaginemos um veículo a 100 km/h que colidiu com um poste, sem que tenha havido a desaceleração antes, ou seja, a frenagem; e o ocupante motorista sem cinto de segurança. Na mesma proporção, o corpo humano também está a 100 km/h, assim como os seus órgãos internos. Quando ocorre a colisão do veículo contra o poste, o corpo do motorista vai colidir contra as estruturas do veículo (volante, painel, para- brisas) e os órgãos internos contra as estruturas que os protegem (caixa torácica, calota craniana) causando as lesões. Nesse mesmo cenário, porém com uma velocidade de 40 km/h, a força de impacto transferida para o corpo humano é muito mais baixa, causando lesões de menor gravidade. Os dispositivos de proteção do veículo, como airbags, cinto de segurança, protetor posterior de cabeça, não evitam a colisão, mas diminuem consideravelmente a gravidade das lesões, evitando que o corpo colida contra as estruturas do veículo e que um passageiro, por exemplo, seja ejetado do veículo. Pode o leitor estar questionando o porquê em saber desses conceitos, tendo em pauta que o atendimento se dará na SE (sala de emergência). Mesmo que o paciente tenha sido trazido por um Serviço de APH, como por exemplo o SAMU 192 ou o Corpo de Bombeiros, saber o que ocorreu na cena é fundamentalpara direcionar nosso pensamento para as potenciais lesões, que já vimos estão associadas ao mecanismo do trauma. As informações da equipe de APH são fundamentais nesse sentido. Porém, muitos pacientes podem adentrar uma SE por demanda espontânea, trazidas por populares, em veículos de passeio, ou mesmo pelo policiamento local. Novamente as informações do mecanismo de trauma serão, nesse caso, ainda mais importantes na busca de lesões que ameaçam a vida, cuja avaliação direcionada e organizada, o que chamamos de avaliação primária e avaliação secundária no trauma, devem ser de conhecimento de toda a equipe. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM12 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Uma SE é um ambiente de alto estresse, por conta da linha tênue entre a vida e a morte dos pacientes, cuja equipe deve se manter em constante atenção e em condições de atuar nas mais variadas situações de emergência. Em grandes hospitais as SE podem estar separadas em locais distintos de atendimento,sendo uma delas exclusiva para o paciente em emergência clínica e outra para os pacientes vítimas de trauma.Contudo, na grande maioria das instituições de saúde, sejam elas hospitalares ou de pré-hospitalar fixo, independentemente do tipo da emergência, os pacientes são atendidos em um mesmo ambiente. Portanto, todos os materiais, medicamentos e equipamentos devem ser checados continuamente, para que não se tenha a necessidade de sair da sala para buscar qualquer que seja o recurso. Cabe ao Enfermeiro escalonar a equipe de enfermagem para esta organização, ficando os Técnicos de Enfermagem responsáveis pela checagem de materiais e medicamentos, enquanto o Enfermeiro com os equipamentos. No que tange às questões éticas e legais, na Lei do Exercício Profissional da Enfermagem (Lei 7.498 de 25 de junho de 1986), cabe ao Técnico de Enfermagem: ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM13 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA “Art. 12 – O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da assistência de Enfermagem, cabendo-lhe especialmente: § 1º Participar da programação da assistência de Enfermagem; § 2º Executar ações assistenciais de Enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro, observado o disposto no Parágrafo único do Art. 11 desta Lei; § 3º Participar da orientação e supervisão do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar; § 4º Participar da equipe de saúde....” Mesmo estando o Técnico de Enfermagem inabilitado ética e legalmente a procedimentos e avaliações de pacientes graves, o conhecimento do passo-a-passo da avalição e atendimento ao paciente gravemente traumatizado lhe trará melhor entendimento das orientações do Enfermeiro na SE, colaborando com toda a equipe para qualidade da assistência prestada. A constante vigilância dos sinais vitais e do estado da resposta neurológica (alteração do nível de consciência) são elementos fundamentais para mudanças de conduta frente ao deterioramento do paciente, cuja prescrição de enfermagem direcionada a esses achados são a chave para um atendimento seguro e livre de danos aos pacientes. A avaliação primária no trauma é a chave para o sucesso de um bom atendimento e melhor prognóstico para o paciente. A regra mnemônica XABCDE está associada aos agravos que levam o indivíduo à morte rapidamente, e suas respectivas funções do organismo. X– Hemorragia Externa Exsanguinante (sangramento grave) A – Via Aérea e Proteção da Coluna Cervical B – Ventilação e Respiração C – Circulação e Controle de hemorragia D – Disfunção Neurológica E – Exposição e Controle do Ambiente O papel do Técnico de Enfermagem durante esta etapa do atendimento ao paciente traumatizado multissistêmico, sob orientação do Enfermeiro, é de auxiliá-lo no exame físico, na contenção de hemorragias, na verificação dos sinais vitais (frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial), na manipulação do paciente, na instalação de um acesso venoso, na coleta de exames laboratoriais, nas imobilizações de extremidade, na reanimação cardiopulmonar, no transporte, entre outros. Quando toda a equipe conhece os passos da avaliação primária, os procedimentos cabíveis ao Técnico de Enfermagem, ocorrem de forma a seguir uma sequência lógica, priorizando o que de fato é mais importante para o paciente sob a ótica da reanimação no trauma, ou seja, identificar e tratar as lesões que ameaçam a vida. Veremos a seguir cada componente da avaliação primária. 2. Avaliação primária - XABCDE ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM14 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA A principal causa de morte no trauma é o sangramento, seja ele por uma lesão externa ou interna, até que se prove o contrário. Nesse item trataremos das hemorragias externas, como identificá-las e tratá-las imediatamente, até que se tenha o diagnóstico da área anatômica lesada e conduta cirúrgica definida. Um sangramento externo pode ocorrer em três estruturas distintas, porém podem estar associadas; a saber: em capilares sanguíneos, em veias e em artérias. 2.1. X – Hemorragia Externa Exsanguinante ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM15 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA O sangramento de capilares sanguíneos é superficiais e está associado a escoriações e abrasões, como por exemplo, em pacientes vítimas de queda de moto ou bicicleta. Não há risco iminente de morte. O sangramento venoso pode ser superficial ou mais profundo, mas não tem a capacidade de causar um choque hemorrágico grave, pois a musculatura das veias não tem a capacidade de pulsação e, consequentemente, não sofrem ação das pressões originárias dos ventrículos. Sua principal característica é de uma coloração vermelho (bastante) escuro e o sangramento não ocorre em jato, sendo facilmente controlado com uma compressa de gaze e um curativo compressivo. A1 B1 A - Compressão direta B - Curativo compressivo Comprimir o local do ferimento com as próprias mãos, utilizando um chumaço de compressas cirúrgicas, pontualmente no local do extravasamento. Não se deve afrouxar a compressão em hipótese alguma. Caso não cesse ou não tenha membros suficientes na equipe, considerar um curativo compressivo. Colocar mais compressas sobre as primeiras já colocadas (jamais retirar as compressas já colocadas) e fazer a instalação de uma faixa de crepe firmemente sobre o local, não devendo ser afrouxada ou retirada em hipótese alguma. Caso não haja a cessação do sangramento, deve-se utilizar o torniquete. O sangramento arterial é o que causa a morte do paciente rapidamente e, quanto mais calibrosa a artéria, maior a quantidade de sangue perdido e em menor tempo. As artérias possuem mais camadas em sua estrutura, com uma musculatura capaz de se contrair para que o sangue ejetado do ventrículo esquerdo (rico em oxigênio) chegue em todos os órgãos e tecidos do corpo humano. Dessa forma, quando lesionadas por um trauma penetrante ou fechado, mantém a sua contração, fazendo com que o sangue seja jorradodo local do ferimento em forma de jatos intermitentes, reproduzindo a pulsação de sua musculatura. A característica desse sangue é de um vermelho vivo (claro), pois é rico em oxigênio. Para os sangramentos arteriais podemos utilizar três técnicas de contenção: ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM16 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA C1 C - Torniquete Deve ser usado somente em sangramentos de extremidades, sempre acima da lesão exsanguinante, cuja altura máxima são as axilas nos membros superiores e virilha nos membros inferiores. Não deve ser colocado em articulações. A pressão aplicada no dispositivo é aquela suficiente para cessar o sangramento. Só deve ser retirado no Centro Cirúrgico. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM17 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEMNA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Como estamos nos referindo a uma SE, cuja estrutura comporta todos os recursos materiais, medicamentos, equipamentos e recursos humanos, direcionados ao atendimento ao paciente gravemente enfermo, a equipe deve trabalhar sincronicamente, onde cada membro tem seu papel definido dentro de um fluxo de previamente definido, com base nos guidelines internacionais e nos limites ético- legais de cada profissional, estando o Técnico de Enfermagem atuando sob a orientação do Enfermeiro. Existem vários materiais pré-fabricados para utilização nestas circunstâncias, principalmente no campo do APH, o que não impede de também estarem disponíveis no ambiente hospitalar ou em Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Contudo, caso não estejam disponíveis, outros materiais podem substituí-los, talvez com uma menor efetividade, mas nunca se deve deixar de executar um protocolo de contenção de hemorragia externa grave com a justificativa de não possuir uma versão comercial desses dispositivos. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM18 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Após atendida a situação que mais mata no trauma, um sangramento exsanguinante, o próximo passo é verificar a via aérea do paciente e imediatamente imobilizar a coluna cervical, ainda com as mãos, até a colocação do colar cervical e um imobilizador lateral de cabeça. O objetivo dessa fase da avaliação é verificar se existe a permeabilidade da via aérea, buscando por sinais de obstrução, reconhecimento de trauma de face e de mandíbula e lesões diretas no pescoço. Pode haver a necessidade de aspiração imediata da via aérea superior, a qual deve ser realizada pelo Enfermeiro, utilizando aspirador de ponta rígida. A obstrução da via aérea pode ser causada por corpos estranhos ao organismo ou mesmo por um dente quebrado ou conteúdo gástrico oriundo de regurgitação. Nunca tentar retirar um objeto da boca do paciente com suas mãos, pois o doente pode estar com reflexos e morder o profissional, causando sérios danos e comprometendo o atendimento, em razão da não continuidade na equipe. Para a realização da abertura da via aérea deve utilizar a manobra da Jaw Trust, mantendo a imobilidade da coluna cervical. Caso o paciente não consiga manter uma via aérea aberta espontaneamente, deve-se utilizar de um dispositivo conhecido como Cânula Orofaríngea (cânula de Guedel). Contudo, ela só pode ser utilizada se o paciente estiver completamente sem resposta a qualquer, pois pode causar estímulo de vômito. Doentes com queimadura de via aérea necessitam de IOT imediata, pois se postergada pode ocorrer o fechamento da glote por edema das estruturas da via aérea superior. Da mesma forma, pacientes com escore de Glasgow igual ou menor que 8 pontos, também devem ser intubados rapidamente. 2.2. A – Via Aérea e Proteção da Coluna Cervical ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM19 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Procedimentos como a intubação orotraqueal e/ou a cricotireoidostomia (cirúrgica) não são de competência dos profissionais de enfermagem, porémtodo material de intubação deve estar plenamente disponível para uso imediato, e a equipe empenhada em auxiliar o profissional competente a resolver o problema. Tão logo a avaliação e o tratamento da via aérea estejam encerrados, deve-se colocar o colar cervical no paciente, podendo abri-lo quando necessário, desde que seja mantida a imobilização cervical. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM20 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA 2.3. B – Ventilação e Respiração O próximo passo é verificar se o paciente respira e, se sim, a qualidade dessa respiração. O primeiro passo é descobrir o tórax do paciente, para avaliar se há expansibilidade torácica e se ocorre nos hemisférios tórax, direito e esquerdo. Após essa etapa, o Enfermeiro continuará com a avaliação através da ausculta pulmonar, palpação e percussão da caixa torácica. Também deve ser realizada a ausculta cardíaca. Toda essa propedêutica tem por finalidade procurar por sinais e sintomas consequentes de lesões de órgãos que se encontram sob a caixa torácica, como os pulmões, coração, grandes vasos sanguíneos, entre outras estruturasfundamentais para a mecânica respiratória e cardíaca. Elementos importantes nessa avaliação é reconhecer alterações anatômicas consequentes a um trauma pulmonar ou cardíaco, como a dilatação das veias do pescoço e desvio da traqueia. Também pode ser observado um edema na face, pescoço e tórax, de característica muito perceptível, causando deformações nessas áreas, denominado enfisema subcutâneo. Caso seja confirmado uma lesão pulmonar, mais frequentemente um pneumotórax, todo material deve estar disponível para uma punção de alívio e posterior drenagem torácica convencional, assim como material para uma punção cardíaca (de Marfan) para aliviar um possível tamponamento cardíaco. Faixa etária Bebês Crianças Adultos Idosos Frequência cardíaca (pulsação) 100 a 160 bpm 80 a 120 bpm 60 a 100 bpm 45 a 90 bpm Frequência respiratória Tabela 2 - Sinais vitais nos diversos ciclos de vida 30 a 60 mm 20 a 30 mm 12 a 20 mm 16 a 25 mm Pressão arterial (valor máximo aceitável) 110/75 mmHg 120/80 mmHg 139/89 mmHg Mulher: 134/84 mmHg Homem: 135/88 mmHg Temperatura Entre 36,1ºC e 37,2ºC Entre 36,1ºC e 37,2ºC Entre 36,1ºC e 37,2ºC Entre 36,1ºC e 37,2ºC Contudo, uma alteração respiratória pode não estar diretamente relacionada a um trauma torácico, mas sim a um trauma craniencefálico que, por lesão direta ou compressão do centro nervoso respiratório, levará a alterações da frequência e ritmo respiratório, assim como da profundidade da caixa torácica nos esforços respiratórios. Uma referência ao padrão respiratório normal e alterações estão relacionadas na tabela abaixo. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM21 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Dependendo das alterações obtidas durante a avaliação, o paciente pode necessitar, no mínimo, de um aporte de oxigênio, o qual sempre deve ser oferecido com MNR a um fluxo de 12 a 15 l/min. Dado o fato que o paciente respire, porém necessite de uma via aérea avançada, deve-se proceder a obtenção de um acesso venoso periférico para a medicalização antes do procedimento, mediante prescrição médica. Medicamentos comumente usados incluem Propofol, Etomidato, Dormonid, Fentanil, Succinilcolina, entre outros. Nessa parte da avaliação, toda a equipe deve estar empenhada em encontrar sinais e sintomas de uma hemorragia interna, pois o risco de morte por uma hemorragia externa já foi avaliado e tratado anteriormente. E, obviamente, como o próprio nome diz, não podemos visualizar o sangramento por estar dentro do corpo humano, mas podemos identificar vários sinais e sintomas que o corpo emite em razão da perda sanguínea. Quando há um sangramento importante o organismo lança mão de algumas estratégias para salvaguardar o fornecimento de sangue para órgãos nobres: coração, pulmão e cérebro. Quando isso acontece há uma mudança considerável em toda a circulação sanguínea das extremidades e outros órgãos, como intestinos, músculos e pele. Entendendo que no sangue existem glóbulos brancos (proteção do organismo) e glóbulos vermelhos (rico em hemácias) e que esse último é o responsável em carregar o oxigênio para todo o organismo, quando há falta dele, e mesmo que se ofereça uma FIO² 100% por máscara não reinalante (MNR) ou intubação oro traqueal (IOT), não estará atingindo todos os órgãos, tecidos e células do corpo. Portanto, e enfaticamente, a identificação de sinais e sintomas de hemorragia interna devem ser buscados constantemente num doente traumatizado multissistêmico. A identificação rápida desses sinais levará a equipe a tomar atitudes rápidas em identificar os possíveis locais de sangramento e encaminhar o paciente o mais breve possível para o Centro Cirúrgico.2.4. C - Circulação e Controle da Hemorragia ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM22 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Um dos primeiros sintomas é a agitação do paciente, causada pela diminuição se oxigênio a nível cerebral, pois o cérebro é muito sensível a uma pequena redução do fornecimento desse gás no sangue. Na sequência, o organismo vai reagir à falta de oxigênio aumentando a frequência cardíaca, o que é percebido com o aumento dos batimentos cardíacos, observado na palpação do pulso radial. Em seguida inicia-se a redução do fornecimento de sangue a todo o organismo, para preservar os órgãos acima citados, cujo mecanismo intrínseco é a contração das artérias. Quando há a redução de sangue para as extremidades, a pele se torna fria, pegajosa e úmida, a perfusão periférica fica diminuída, aumentando o tempo de enchimento capilar, cujos sinais podemos perceber ao tocar no paciente, principalmente nos membros superiores ou inferiores, assim como a face, que já pode se apresentar pálida e o paciente referir boca seca e sede. Somente depois a pressão arterial começará a diminuir. Portanto, nunca devemos esperar o paciente apresentar hipotensão para fazer uma associação a uma perda de sangue importante. Todos os sinais e sintomas anteriormente citados são suficientes para servirem de alerta a uma situação grave que se instala no paciente. Concomitantemente, a frequência respiratória vai aumentar, na tentativa do organismo buscar mais oxigênio no meio ambiente. Por fim, se medirmos o débito urinário e ele estará muito reduzido e a urina de aspecto escuro e concentrado. A resposta do organismo à perda de sangue está diretamente relacionada à quantidade de sangue perdida, conforme podemos observar na tabela abaixo. Classe I Levemente ansioso Até 750 ml (15%) < 100 Classe IV Confuso, letárgico > 2.000 ml (> 40%) > 140 Classe III Ansioso, confuso 1.500 – 2.000 ml (30 – 40%) > 120 Classe II Moderadamente ansioso 750 – 1.500 ml (15 – 30%) > 100 Tabela 4 - Classificação do choque hemorrágico Estado mental Perda sanguínea (ml) / %Volemia Frequência cardíaca (bpm) ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM23 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA O tratamento esperado para um paciente num choque hemorrágico em curso engloba: O² a 12/15 l/min; a punção venosa (punção venosa única) em um dos membros, com cateter tipo jelco 18; a administração de soluções isotônicas de soro fisiológico ou ringer com lactato; administração de concentrado de hemácias, plasma e plaquetas; coleta de sangue para análises laboratoriais (Hb, Ht, Tipagem ABO-Rh, Prova Cruzada, Teste de Gravidez para as mulheres em idade fértil, entre outros). Pode haver necessidade da realização de uma punção intraóssea, cujo procedimento é privativo do Enfermeiro, no escopo da categoria. Exames de imagem, como ultrassom do abdome e do tórax, assim como tomografia, podem ser solicitados a fim de elucidar o diagnóstico; sem, no entanto, atrasar o encaminhamento do paciente ao Centro Cirúrgico. As regiões anatômicas onde podem acumular mais sangue após um trauma são: pelve (fratura de ossos da bacia), abdome (trauma em artérias, baço, fígado), tórax (hemotórax maciço, lesão traumática da aorta), pernas (fraturas de fêmur) e braços (fraturas de úmero). Portanto, na avaliação primária deve-se buscar um possível sangramento nessas regiões, com um exame físico direcionado, cujo profissional competente, no arcabouço da equipe de enfermagem, é o Enfermeiro. O Técnico de Enfermagem é o profissional que deve compor a equipe de assistência da SE, na coadjuvância das ações de identificação do deterioramento do quadro do paciente,através da avaliação contínua de sinais vitais, do estado geral, no manuseio, na obtenção do acesso venoso, na administração de medicamentos, na coleta de sangue para exames, sob orientação do Enfermeiro. A administração de sangue e hemoderivados é privativa ao Enfermeiro, devendo, inclusive, constar da dupla checagem antes e no ato da instalação. 14 - 20 Normal > 30 > 35 Diminuída Desprezível 30 - 40 Diminuída 5 - 15 20 - 30 Normal 20 - 30 Frequência ventilatória (vpm) Pressão arterial (mmHg) Débito urinário (ml/h) ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM24 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Um paciente traumatizado pode apresentar uma lesão cerebral traumática (LCT), a qual deve ser prontamente identificada por meio de um exame direcionado. Muitos podem apresentar lesões anatômicas visíveis, como hematomas, escoriações, ferimentos corto-contusos na região da cabeça, o que torna mais presumível a suspeita; assim como a história do incidente traumático, como por exemplo, quedas de moto, quedas de altura, ferimentos por arma branca ou de fogo, contusões por objetos, entre outros. A avaliação da condição neurológica do paciente pode estar associada à ingestão de drogas lícitas e/ou ilícitas, o que nunca deve subjugar um potencial LCT. Dependendo da lesão, um paciente pode não apresentar alterações imediatas no exame neurológico e, por esse motivo, deve ser repetido, conforme prescrição de enfermagem realizada pelo Enfermeiro. O exame de Glasgow e a avaliação pupilar, na SE, são de competência do Enfermeiro, ao passo que a vigilância das alterações comportamentais, como letargia, agitação psicomotora e convulsões fazem parte das observações do Técnico de Enfermagem, cuja orientação deve constar da prescrição de enfermagem. Conforme resultados obtidos nas constantes avaliações do paciente, a IOT pode ser necessária, devendo a equipe estar preparada para auxiliar o profissional médico a realizá-la, como por exemplo, no estabelecimento de um acesso venoso periférico e na administração de drogas pré IOT. 2.5. D - Disfunção Neurológica ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM25 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Fonte: https://www.generalmed.com.br/tesoura-ponta- romba-para-cortar-vestes-18cmFonte: Sérgio Dias Martuchi, 2023 Como último elemento da avaliação primária, mas não menos importante, o paciente deve ser completamente despido, na intenção de detectar mais lesões que possam vir a causar uma rápida deterioração do paciente. Ou para elucidar potenciais causas de alterações de sinais e sintomas inexplicáveis frente a um mecanismo de trauma, como por exemplo, um motociclista que deu entrada na SE por uma queda de motocicleta em baixa velocidade e sem lesões aparentes, porém com sinais de choque hemorrágico. Ao realizar a exposição completa do paciente identifica-se um orifício de entrada de projétil de arma de fogo na região posterior do tronco, justificando o quadro inicial. A retirada das vestes do paciente deve ser realizada de forma rápida, a figura abaixo mostra um esquema de corte das vestes. Importantíssimo ressaltar que nunca se deve utilizar uma lâmina de bisturi para cortar as roupas, pois o rico de lesar o paciente é enorme. Obrigatoriamente deve ser utilizado uma tesoura própria para esse fim, com pontas rombas e inclinadas, como mostrado na figura abaixo. 2.6. E - Exposição e Controle do Ambiente ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM26 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Um paciente traumatizado tem um grande potencial para perda de temperatura corporal, ainda mais potencializada quando o expomos nessa fase da avaliação; portanto, uma SE nunca deve estar com um ar condicionado em baixas temperaturas no atendimento ao paciente. A hipotermia, definida como uma temperatura corporal abaixo de 36ºC, é extremamente danosa a um paciente traumatizado, devendo ser constantemente um elemento de avaliação e cuidado de toda a equipe durante o atendimento, mantendo a sala aquecida, soluções isotônicas aquecidas até 39ºC (nunca aquecer sangue e hemoderivados), manter o paciente coberto e aferição da temperatura corporal dentro da prescrição de enfermagem. Oquadro abaixo sinteriza os elementos da avaliação primária que, apesar de parecer extensa, deve ser realizada rapidamente, o que conseguimos com uma propedêutica direcionada a um paciente traumatizado, com conhecimentos específicos adquiridos dos estudos científicos e experiência da prática assistencial. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Etapa Descrição Tabela 4 - Avaliação primária no trauma Avaliação Tratamento Competência X Hemorragia Externa Exsanguinante Sangramento pulsante¹ ² Sangue vermelho vivo¹ ² Compressão direta¹ ² Curativo compressivo¹ ² Torniquete¹ ² Enfermeiro Tec. Enfermagem 1. 2. A Via Aérea e Proteção da Coluna Cervical Fluxo de ar - 1 Permeabilidade da via aérea - 1 O² por MNR - 1 IOT - * Medicações (AVP) - 2 Desobstrução da VA - 1 Imobilização manual - 1, 2 Colar cervical - 1, 2 Protetor lateral de cabeça - 1, 2 B Ventilação e Respiração Frequência, Ritmo - 1, 2 Profundidade - 1 Inspeção - 1 Palpação - 1 Ausculta pulmonar e cardíaca - 1 O² por MNR - 1, 2 IOT - * Medicações (AVP) - 1, 2 Punção de alívio - * Drenagem torácica - * C Circulação e Controle da Hemorragia Nível de consciência - 1,2 Pulso, pele, perfusão - 1,2 Acesso venoso periférico (AVP) - 1, 2 Coleta de exames - 1, 2 Administração de soluções - 1, 2 Sangue e hemoderivados - 1 ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM27 Enfermeiro Tec. Enfermagem 1. 2. * Outro profissional D E Disfunção Neurológica Exposição e Controle do Ambiente Escala de Coma de Glasgow - 1 Avaliação pupilar - 1 Alterações do nível de consciência - 1, 2 Despir o paciente completamente - 1, 2 Exame físico - 1 O² por MNR - 1, 2 IOT - * Medicações (AVP) - 1 Controle de temperatura da sala - 1 Infusão de soluções aquecidas, exceto sangue e hemoderivados - 1, 2 ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM28 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Feita a avaliação primária, cabe ao Enfermeiro proceder com a avaliação secundária, cujo objetivo é identificar outras lesões que não coloquem a vida do paciente em risco iminente de morte. Fonte: https://www.todamateria.com.br/sistema-respiratorio/ A via aérea é composta por 2 partes que se integram perfeitamente para a captação de ar do ambiente, o fluxo livre desse ar até os pulmões e a transferência do oxigênio do ar ambiente (21%) para o sangue arterial. Vamos entender a anatomia dessas duas partes distintas. A via aérea superior é composta por: cavidades nasais, cavidade oral, faringe e laringe; e a via aérea inferior por: traqueia, brônquios e pulmões. 3. Manejo da via aérea superior ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM29 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Durante a avaliação da via aérea, cabe ao Técnico de Enfermagem participar no reconhecimento do problema, realizar alguns procedimentos e tratamentos, conforme sua competência ética e legal. A via aérea pode estar comprometida por traumas diretos, em razão de intoxicações ou LCT. Lembramos que nesse momento do atendimento o objetivo é manter permeável o fluxo de ar ente via aérea superior e inferior. Dentre os traumas diretos que podem afetar o fluxo de ar na via aérea superior destacam-se: as fraturas de face; queimaduras e ferimentos no pescoço, diretos na laringe ou mesmo na região cervical. Exemplos comuns de trauma no pescoço que comprometem a via aérea inferior estão aqueles relacionados à armas de fogo ou armas brancas que, além da lesão direta, podem causar grandes hematomas fazendo a compressão das estruturas internas (glote, epiglote, traqueia) impedindo o fluxo do ar. Durante a o exame físico deve-se manter a coluna estabilizada manualmente. Pacientes com queimadura de via aérea, cujos sinais incluem: queimadura de pelos do supercílio, sobrancelhas, narinas, rouquidão, escarro escuro e tosse, associada a uma história de incêndio ou choque elétrico em caixa de força; necessitam de intubação imediata. A primeira e mais óbvia avaliação é perguntar o nome do paciente e o que ocorreu com ele, perguntas simples e de respostas simples. Se o paciente responder, ele tem uma via aérea pérvia (aberta) minimamente; se não responder, demorar para responder ou tiver dificuldade em emitir palavras, muito provavelmente ele apresente um comprometimento da via aérea. Em ato contínuo, enquanto o Técnico de Enfermagem faz a imobilização manual da cabeça do paciente em posição neutra, o Enfermeiro deve realizar a avaliação da via aérea, instalando oxigênio imediatamente com máscara não-reinalante (MNR) com bag reservatório entre 12 a 15 l/min., tendo como meta oferecer 100% de Fração inspirada de oxigênio (FiO²) ao paciente. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM30 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Fonte: Secretaria da segurança Pública e Justiça do Estado de Goiás - Corpo de Bombeiros Militar ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM31 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA A abertura da via aérea do paciente é fundamental para a avaliação completa do paciente; contudo, deve-se utilizar uma técnica correta, evitando a mobilização da coluna cervical e danos secundários a algum trauma primário. Essa manobra, conhecida como Jaw Trust é composta pela imobilização da cabeça, elevação do ângulo inferior a mandíbula e abertura da via aérea. É uma manobra de suporte básico de vida (SBV), portanto inerente ao Técnico de Enfermagem, que possibilita a abertura da boca do paciente e elevação das estruturas da base da língua, responsáveis pela obstrução anatômica da via aérea do paciente. Com essa manobra é possível a visualização da cavidade oral em busca de um possível corpo estranho e se há passagem de ar pela laringe, caso o paciente apresente uma obstrução anatômica. Caso o paciente tenha uma obstrução visível por um objeto, o Enfermeiro pode retirá-lo com o auxílio de uma pinça Magil. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM32 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Sinais óbvios de obstrução da via aérea superior incluem agitação do paciente, busca incessante de tocar o pescoço, alterações anatômicas, respiração ofegante, rouquidão, grandes esforços respiratórios visíveis na caixa torácica emovimentos respiratórios abdominais. A ausculta torácica é fundamental para a identificação de problemas ventilatórios. O uso de oximetria de pulso pode auxiliar na identificação de comprometimento da via aérea superior, que se traduz em baixa concentração de oxigênio na hemoglobina, conhecida como saturação de oxi-hemoglobina (Sat. O²). Saturações abaixo de 94% deve ser comunicada e acompanhada com maior frequência. Um aparelho chamado de capnógrafo mede a quantidade de gás carbônico exalado (EtCO²) e é um indicativo da qualidade da ventilação do paciente. Importante ressaltar que o termo ventilação se refere à capacidade de troca de oxigênio e gás carbônico a nível dos alvéolos pulmonares. Uma referência ao padrão ventilatório normal e alterações estão relacionadas na tabela abaixo. Frequência - movimentos ventilatórios por minuto (mvm) < 12 mvm 12 a 20 mvm 20 a 30 mvm > 30 mvm Tabela 5 - Frequência ventilatória no adulto Alertas Bradipneia. Várias causas Necessidade de O² por MNR Podem necessitar de IOT Eupneico Pode apresentar alterações em pacientes com LCT, choque em curso Taquipneia Necessidade de O² por MNR Pode indicar dor Também está associada à perda sanguínea Taquipneia grave IOT Choque hipovolêmico adiantado LCT ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM33 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Além das manobras de suporte básico de vida (acima mencionadas) para o tratamento da via aérea superior e, dependendo das alterações obtidas durante a avaliação, o paciente pode necessitar, no mínimo, de um aporte de oxigênio, o qual sempre deve ser oferecido com MNR a um fluxo de 12 a 15 l/min. Dado ofato que o paciente respire, porém necessite de uma via aérea avançada, deve-se proceder a obtenção de um acesso venoso periférico para a medicalização antes do procedimento, mediante prescrição médica. Medicamentos comumente usados incluem Propofol®, Etomidato®, Dormonid®, Fentanil®, Succinilcolina®, conceituado como Intubação Assistida por Drogas (IAD). Também podem ser utilizados dispositivos alternativos para o acesso à via aérea superior, como por exemplo os extraglóticos (Máscara Laríngea ou Tubo Laríngeo); e ainda a necessidade de realização de uma via aérea por cricotireoidostomia por punção ou cirúrgica, cuja utilização é privativa a outros profissionais, inclusive ao Enfermeiro, para algumas situações especiais. Avaliação Sangramento pulsante - 1, 2 Sangue vermelho vivo - 1, 2 Fluxo de ar - 1 Permeabilidade da via aérea - 1 Frequência, Ritmo - 1, 2 Profundidade - 1 Inspeção - 1 Palpação - 1 Ausculta pulmonar e cardíaca - 1 Tratamento Compressão direta - 1, 2 Curativo compressivo - 1, 2 Torniquete - 1, 2 O² por MNR - 1, 2 IOT - * Medicações (AVP) - 2 Desobstrução da VA - 1, 2 Imobilização manual - 1, 2 Colar cervical - 1, 2 Protetor lateral de cabeça - 1, 2 O² por MNR - 1, 2 IOT - * Medicações (AVP) - 1, 2 Punção de alívio - * Drenagem torácica - * Competência Enfermeiro Tec. Enfermagem 1. 2. Enfermeiro Tec. Enfermagem 1. 2. *Outro profissional Tabela 6 - Manejo da via aérea superior ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM34 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Concluindo, a via aérea superior deve ser assistida pelo Técnico de Enfermagem em alguns momentos da avaliação e tratamento, como resumido no quadro abaixo: Escala de Coma de Glasgow - 1 Avaliação pupilar - 1 Alterações do nível de consciência - 1, 2 Despir o paciente completamente - 1, 2 Exame físico - 1 O² por MNR - 1, 2 IOT * Medicações (AVP) - 1 Controle de temperatura da sala - 1 Infusão de soluções aquecidas, exceto sangue e hemoderivados - 1, 2 Nível de consciência - 1, 2 Pulso, pele, perfusão - 1, 2 Acesso venoso periférico (AVP) - 1, 2 Coleta de exames - 1, 2 Administração de soluções - 1, 2 Sangue e hemoderivados - 1 ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM35 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA As lesões cerebrais traumáticas (LCT) podem ocorrer em várias estruturas anatômicas do crânio, as quais destacamos: couro cabeludo, calota craniana, meninges (dura-máter, aracnoide, pia-máter), cérebro (massa cinzenta), tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo), medula espinhal e cerebelo. 4. Assistência de enfermagem no trauma cranioencefálico ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM36 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Por essas estruturas há uma grande circulação venosa e arterial, cujas alterações mínimas de oxigênio circulante podem alterar o nível de consciência do paciente. Entre as meninges circula o líquido cefalorraquidiano (LCR) ou Líquor, que tem a função protetora das camadas do encéfalo e na troca entre nutrientes e excretas do metabolismo cerebral. Quando ocorre uma LCT, principalmente nos mecanismos fechados, pode haver a lesão de uma artéria cerebral ou edema difuso do cérebro. No que tange a lesão arterial, há um extravasamento de sangue gerando um aumento da pressão intracraniana,o que causa uma hipóxia cerebral. Nessa circunstância, o organismo aumenta o retorno venoso e a excreta de LCR, numa tentativa de diminuir as pressões intracranianas, num ciclo compensatório, para evitar maiores lesões no sistema nervoso. Contudo, há um limite para esse mecanismo compensatório, cujas consequências, se não tratadas em tempo, vão levar o paciente à morte cerebral, consequente ao edema cerebral e herniação. Quando ocorre o trauma, independente do mecanismo que o causou, existe a lesão primária, a qual não podemos agir, pois já ocorreu a hipóxia local e os danos decorrentes dela, ou seja, a morte tecidual local; e a lesão secundária nas áreas adjacentes (área de penumbra) à lesão primária. Toda a avaliação e tratamento estão focados na tentativa de evitar que ocorram as lesões secundárias, na piora do quadro hipóxico que evoluem rapidamente para necrose e morte tecidual, assim com o ocorrido na lesão primária. É premente ressaltar que as estruturas nervosas após sofrerem lesões não se regeneram, deixando sequelas físico-funcionais para toda a vida do indivíduo. A Escala de Coma de Glasgow (ECG), a avaliação da resposta pupilar e os déficits localizados são os principais elementos da avaliação no paciente com suspeita de LCT, lembrando que todas essas ações são privativas do Enfermeiro, com auxílio do Técnico de Enfermagem, pois conhecer o paciente em sua primeira avaliação é fundamental para reconhecer possíveis alterações no decorrer do atendimento. A classificação do trauma craniencefálico (TCE) se dá pelo resultado do escore da ECG, a saber: ECG de 13 a 15 = TCE leve; ECG de 9 a 12 = TCE moderado; e ECG de 3 a 8 = TCE grave. E, para cada tipo de TCE, um tratamento específico será direcionado. Antes de adentrarmos nas opções de tratamento, é necessário que se tenha em mente que um paciente com suspeita, ou mesmo com TCE confirmado, necessita de controle de sinais vitais rigorosos. Pacientes com TCE moderado e grave devem ser encaminhados para uma UTI, cujos recursos são mais apropriados para seu acompanhamento. Quando ainda na SE esses controles devem conter da prescrição de enfermagem, cabendo ao Técnico de Enfermagem a averiguação da pressão arterial, frequência cardíaca, frequência, ritmo e padrão respiratório, alterações psicomotoras, controle do volume urinário, entre outros. Descartas outras lesões, o ideal é manter o paciente em decúbito elevado a 30º, cujo controle da altura da cabeceira também deve ser parte da prescrição de enfermagem. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM37 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Uma tomografia computadorizada (TC) de crânio, sem contraste, é parte integrante da avaliação de qualquer suspeita de TCE, podendo não ser realizada à critério do profissional competente nos casos de TCE leve. Todo paciente encaminhado ao exame de TC deve ser acompanhado por uma equipe previamente estabelecida em protocolos institucionais, minimamente pelo Técnico de Enfermagem, pois no transporte ou na execução do exame podem ocorrer alterações do quadro incialmente avaliados, cuja identificação rápida fará diferença entre a vida e a morte do paciente. Pacientes com TCE grave, devem ser intubados rapidamente, antes de qualquer exame de imagem ou outro que demore a ser realizado, pois a IOT nesse caso, além de proteger a via aérea, fornecerá oxigênio em altas frações e hiperventilação controlada, evitando a formação da lesão secundária. Assim como em outras circunstâncias onde há a necessidade de sedação do paciente para obtenção de uma via aérea avançada ou definitiva, o acesso venoso periférico é mandatório, e as drogas a serem utilizadas são as mesmas anteriormente descritas (IAD). Nunca se deve passar qualquer dispositivo via nasal (sondas) em pacientes com suspeita de fratura de base de crânio (hematoma periorbitário, perda de líquor/sangue pelas narinas e/ouvido e hematoma retroauricular), pois há o risco de migrar para o cérebro. Um paciente com TCE moderado a grave jamais pode apresentar hipotensão, pois a baixa pressão sistólica provoca uma diminuição considerável na perfusão cerebral podendo, com apenas um único episódio, causar uma lesão secundária irreversível. Portanto, cabe ao Enfermeiro munir os Técnicos de Enfermagem no alerta constante de mínimas alterações nos sinais vitais, enfatizando na prescrição de enfermagem esses alertas e a conduta a ser tomada, prioritariamente, de acionar o Enfermeiro. A mobilização no leito desses pacientes pode acarretar alterações das pressões intracranianas, afetando sobremaneira a sua condiçãoneurológica. Portanto, o Técnico de Enfermagem deve acionar o Enfermeiro sempre que houver a necessidade de movimentação do paciente, inclusive na prevenção de lesões por pressão (LPP). ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM38 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA 5. Assistência de enfermagem no trauma de extremidades (musculoesquelético) ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM39 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA As lesões musculoesqueléticas podem colocar a vida do paciente em risco iminente se associadas à lesão arterial e sangramento exsanguinante, como vimos anteriormente. Outras circunstâncias que envolvem o risco de morte estão a amputação traumática e a rabdomiólise (síndrome de Crush), que está associada a lesões por esmagamento. Um membro de extremidade possui muitas estruturas anatômicas podem estar afetadas. Como observado na figura abaixo, num corte transversal, encontramos a pele, gordura, músculos, veias, artérias e nervos. Nas articulações ficam mais evidentes os ligamentos, as capsulas articulares e líquidos intra-articulares. Dependendo do mecanismo de trauma, as estruturas podem estar muito comprometidas, e a avaliação é a chave para identificação rápida e tratamento adequado. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM40 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Os traumas nas extremidades corpóreas podem ser divididos em: fraturas abertas e fechadas, luxações, entorses e contusões. Caso o trauma não ameace a vida do paciente, a segunda preocupação é em não perder o membro afetado, cuja avaliação direcionada vai determinar a urgência do tratamento; reforçando que as lesões que ameaçam a vida, dentro da avaliação primária, sempre serão majoritárias na atenção da equipe. Traumas em extremidades causam dor de média a alta intensidade e podem distrair a equipe durante o atendimento. A primeira e mais óbvia fase da avaliação é a inspeção visual, onde devemos focar a atenção em identificar as lesões nos membros, como a seguir: coloração, hematomas, edemas, deformações, ferimentos, encurtamentos, rotações, objetos transfixados ou impactados. Sempre que possível, fazer uma comparação com outro membro, ajuda na melhor avaliação. Caso o paciente esteja consciente e respondendo aos estímulos, perguntar sobre dores localizadas auxilia na identificação de lesões. Na sequência da avaliação, a palpação deve ser realizada, buscando por avaliar a sensibilidade presente ou ausente, total ou parcial. Como dito acima, podem ocorrer lesões nervosas localizadas ou completas quando há, por exemplo, lesões medulares em variados níveis da coluna vertebral, quando há a perda da sensibilidade à dor e ao simples toque. Se presentes a dor e a sensibilidade, pode tratar-se de uma fratura. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM41 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA A presença de edema, dor e movimentos espontâneos anormais locais, sugerem a presença de uma fratura. Não se deve realizar movimentos nos membros para provocar crepitação, pois podem causar mais lesões em tecidos adjacentes aos ossos fraturados. Lesões articulares podem estar presentes e a movimentação espontânea solicitada pelo avaliador ao paciente, se acompanhadas de dor e/ou movimentos anormais, sugerem lesões nessas áreas, assim como a dor à palpação. A circulação do membro deve ser avaliada através da palpação dos pulsos distais dos membros. A ausência de pulsação ou a diferença de pulso entre membros sugere lesão arterial. Ainda nessa fase da palpação dos membros a temperatura, a cor e a sensibilidade podem evidenciar lesões arteriais. Pele fria, pálida, com perfusão periférica aumentada e com presença de parestesia podem estar associadas à lesões de artérias. Deve-se levar em conta que pacientes hemodinamicamente instáveis terão os pulsos diminuídos em função de uma causa sistêmica, como por exemplo, o choque hemorrágico causado por uma lesão abdominal. Contudo, atenção especial deve ser dada às fraturas de fêmur, que podem causar choque hipovolêmico pelo grande conteúdo de sangue arterial que comportam. Os exames radiográficos ou de ultrassom dos membros com potenciais lesões, quando indicados, devem ser realizados após toda a avaliação primária, exceto se oferecerem risco à vida do paciente. A síndrome compartimental é uma condição que se desenvolve quando há um aumento da pressão dentro de um segmento de uma extremidade, sendo que qualquer lesão pode causá-la. Como exemplo podemos citar a fratura de fêmur ou de tíbia fechadas, com lesão arterial simultânea. Ocorre um extravasamento de conteúdo arterial para o interior do compartimento causando a isquemia e necrose muscular. A síndrome compartimental também pode ocorrer em pacientes com imobilizações apertadas, em pacientes que permaneceram presos nas ferragens por tempo prolongado, em queimaduras, em esmagamentos e até em atividades físicas extenuantes. Ao exame físico, apresentará um edema duro, dor maior que a esperada, parestesia ou alteração da sensibilidade na extremidade do membro afetado. A gravidade está relacionada ao tempo e a quantidade de pressão exercida sobre o compartimento afetado. Assim que diagnosticada todas as roupas, imobilizações e curativos. O tratamento indicado na emergência é a fasciotomia, que consiste na incisão da pele, gordura e fáscia muscular (membrana que envolve os músculos) e deve ser realizada por profissional competente. De uma forma geral, com o paciente ainda na SE, cabe à equipe de enfermagem, orientada pelo Enfermeiro, proceder com as imobilizações, geralmente com talas pré-fabricadas, até que se tenha o diagnóstico definitivo e tratamento indicado. As imobilizações podem ser realizadas durante a avaliação secundária, desde que esse procedimento não esteja relacionado à manutenção da vida do doente. As fraturas de fêmur devem ser imobilizadas após tração do membro. Nas deformidades que apresentarem ferimentos sobre ela, a suspeita de fratura exposta deve ser considerada, pois uma extremidade óssea pode ter transfixado a pele e retornado ao interior do membro. Em fraturas expostas com exposição óssea, deve ser feito o curativo protetor antes de colocar a tala de imobilização. Todo e qualquer fragmento ósseo deve ser envolto em material estéril (gazes, compressas ou campos), identificados e entregues ao Enfermeiro para as devidas providências. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM42 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM43 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA O princípio geral de uma imobilização compreende a colocação de talas que mantenham o local fraturado ou luxado imóvel. No caso de fraturas lineares duas articulações (anterior e posterior à fratura) devem fazer parte da imobilização. Na mesma linha, quando da lesão articular, dois ou mais segmentos ósseos devem compor a imobilização. Lesões de joelho requerem imobilizações da raiz da coxa até os dedos dos pés, enquanto lesões isoladas na articulação do tornozelo requerem apenas a colocação da tala dos dedos do pé até abaixo do joelho. Também vale para os membros superiores, como por exemplo nas lesões de cotovelo, cuja imobilização deve atingir desde a axila até as mãos do paciente, enquanto lesões em punho requerem imobilizar da fossa ante cubital até os dedos da mão. Após a colocação de uma imobilização as extremidades devem ser checadas para verificar se a perfusão e o pulso distal estão mantidos, assim como a sensibilidade, evitando lesões vasculares ou nervosas, e até síndrome compartimental, em consequência às imobilizações muito apertadas. Um paciente com trauma de extremidades só deve ser movimentado após a imobilização de todas os membros afetados, exceto, obviamente, se o encaminhamento ao Centro Cirúrgico for imediato em rezo de lesões que coloquem a vida do paciente em risco.Em casos de amputação, deve ser realizado um curativo compressivo no coto e, caso haja hemorragia exsanguinante, a aplicação de um torniquete deve ser realizada. A parte amputada deve ser envolta em campo estéril, colocada num saco plástico hermeticamente fechado, devidamente identificado e dentro de um recipiente com gelo. Quando o paciente for encaminhado ao Centro Cirúrgico a peça deve seguir junto. No quadro abaixo estão detalhadas as competências dos membros da equipe de enfermagem na abordagem ao paciente com trauma de extremidade. A caixa torácica é frequentemente lesada em traumas multissistêmico e a depender do mecanismo e forças envolvidas podem ocorrer desde contusões locais, fraturas de costelas a traumas cardíacos. Como vimos a avaliação primária, o potencial de lesões que ameaçam a vida é de grande importância, cuja atuação da equipe deve ser de rápida identificação e tratamento. No tórax encontramos órgãos nobres como coração, pulmões, artérias, veias, esôfago e diafragma. Sob o aspecto fisiológico é mister destacar que a cavidade onde os pulmões estão alojados a pressão é negativa, abaixo de zero, pois se não o fosse, os pulmões não se expediriam durante a inspiração. 6. Assistência de enfermagem no trauma de tórax e pelve ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM44 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA 6.1. Trauma de tórax Para a perfeita avaliação do paciente todo o pescoço e tórax devem ser expostos, pois já na inspeção pode-se encontrar elementos fundamentais de traumas graves. A avaliação torácica é composta por inspeção, palpação e ausculta. Na inspeção busca-se por lesões aparentes, como por exemplo, hematomas, ferimentos abertos, escoriações, deformidades e padrão respiratório. Durante os movimentos respiratórios a comparação entre os dois hemisférios torácicos é fundamental para a identificação de pneumotórax hipertensivo, cuja parte afetada não expandirá nos movimentos inspiratórios. Deve-se observar juntamente a esse achado a presença de estase jugular e desvio da traqueia. A ausculta pulmonar deve ser realizada buscando por identificar a presença, diminuição ou ausência de murmúrios vesiculares. Imediatamente após a identificação destes achados, incluindo uma ausculta diminuída ou ausente, o paciente deve receber uma punção de alívio com cateter sobre agulha de grosso calibre, para aliviar a pressão intratorácica positiva e permitir o retorno da expansibilidade pulmonar. Outro exame que deve ser realizado para confirmar o achado de um pneumotórax hipertensivo é a percussão da caixa torácica Outro achado importante é o ferimento aberto na parede torácica cujo diâmetro seja de um tamanho que permita a entrada, concorrendo com o diâmetro da traqueia, ocorrendo o que se chama de traumatopneia. Nessa circunstância, onde o ar entra pela abertura do ferimento e diminui drasticamente a entrada de ar pela traqueia, o pulmão fica colabado, não expandindo e prejudicando toda a dinâmica ventilatória do paciente. O tratamento indicado de imediato é o curativo valvulado de três pontas, demonstrado na figura abaixo. Dessa forma, quando o paciente inspirar, o curativo fechará a abertura na parede torácica, e no movimento expiratório, o ar sairá pela mesma abertura, realizando um movimento valvular unidirecional, melhorando a expansibilidade pulmonar. Tão logo seja possível, uma drenagem torácica deve ser realizada por um profissional competente. Outras lesões são possíveis de ocorrer, como o hemopneumotórax e lesões da árvore brônquica, tão fatais quanto a anterior, cuja identificação passa pelo mesmo processo avaliativo. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM45 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA As lesões cardíacas decorrentes de grandes forças mecânicas envolvidas no trauma, são identificadas pela visualização de estase jugular associada à diminuição das bulhas cardíacas e hipotensão, cujo tratamento dá-se pela punção do saco pericárdico, realizada por profissional competente. Lesões como fraturas de costela, isoladamente, são muito dolorosas e podem alterar a frequência respiratória sem, no entanto, comprometer a hemodinâmica corpórea. O valor da frequência respiratória deve ser associado ao quadro geral do paciente, assim como a profundidade do movimento da caixa torácica e o ritmo, pois movimentos respiratórios, como por exemplo, taquipneia intercalada com apneia, pode estar relacionada à lesões neurológicas. As lesões do diafragma e do esôfago são de difíceis identificação, necessitando por vezes da passagem de uma sonda gástrica e posterior radiografia para verificar a posição. Estando a sonda à altura do tórax, mesmo que preservada a passagem de todo seu conteúdo conforme medida prévia, é um dado importante para aumentar a suspeita de lesões diafragmáticas. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM46 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM47 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA A cintura pélvica ou osso do quadril é formado por 3 ossos fundidos: ílio, ísquio e púbis anteriormente; e a coluna sacra e cóccix posteriormente. Na pelve masculina se abriga parte do intestino grosso e reto, vesículas seminais, ductos seminais, próstata, parte do ureter e bexiga. Na mulher, além da parte do intestino grosso e reto, encontram-se os ovários, tubas uterinas e útero, parte pélvica dos ureteres e bexiga urinária. Comum aos dois estão as grandes artérias, como as ilíacas e sacrais que, quando lesadas são a causa de choque hemorrágico grave e podem levar o paciente à morte se não identificado e tratado rapidamente. Portanto, cabe à equipe atentar-se para a avaliação da estabilidade da pelve na avaliação primária, no item “C”, de circulação e controle da hemorragia. 6.2. Trauma de pelve A avaliação deve ser feita pelo Enfermeiro, muito cuidadosamente, não sendo recomendada a manobra de distração interna e externa sob o risco de desalojamento de coágulos que estão servindo de bloqueio ao sangramento inicial. A palpação deve ser realizada com muito cuidado. Rotações das pernas sem fraturas associadas são sinais de fraturas nos ossos da pelve, cujo reposicionamento do membro rodado ajuda na contenção da hemorragia. Sangramentos uretrais, edema e hematomas nas regiões de períneo e saco escrotal no homem, e sangramento vaginal na mulher, são também sinais que devem ser levados em consideração no conjunto da avaliação. Sinais de choque hemorrágico, como agitação psicomotora, taquicardia, palidez, sem causa aparente identificada, sugerem lesões graves em abdome e pelve. A hipotensão pode estar presente, já como um sinal de choque avançado. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM48 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Obrigatoriamente a pelve traumatizada deve ser imobilizada com um lençol ou dispositivos pré-fabricados. É um procedimento que impede a progressão da hemorragia e deve ser realizada imediatamente após a avaliação positiva para fraturas dos ossos da pelve. Toda a equipe da SE deve atentar-se para a mobilização cuidadosa do paciente enquanto se coloca a imobilização. Tanto uma cinta pélvica como um lençol devem ser colocados na linha trocanteriana e não à altura do osso ilíaco, como mostra a figura abaixo. O dispositivo colocado não deve ser retirado na SE ou para realização de radiografia ou TC, mas sim no Centro Cirúrgico, exceto se o resultado dos exames fornegativo para fraturas, cuja decisão é de um profissional competente, ortopedista ou cirurgião. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM49 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Como referido no capítulo da cinemática do trauma, os ferimentos por armas brancas (faca, canivete, facão, outros objetos perfurantes) e armas de fogo (revolver, espingarda, fuzil) provocam a perfuração do corpo do paciente e as lesões estão relacionadas àvelocidade com que tais objetos adentram o organismo e a direção que tomam nas cavidades penetradas. São classificados como trauma penetrante e causam lesões do tipo cavitação permamente. São situações em que o policiamento deve ser acionado obrigatoriamente, se não o tenham feito, pois envolvem agressão infringida a outrem auto infringidas (tentativa de suicídio). As armas são classificadas em: de baixa energia, as armas brancas; as de médiaenergia, revolveres, espingardas; e alta energia: fuzis. As armas de baixa energia normalmente são manipuladas por pessoas e gravidade da lesão está associada à direção da lâmina do objeto perfurante. Por vezes, um pequeno orifício mascara uma grande área lesada, se o agressor, por exemplo, rodar a faca dentro do organismo do agredido, após golpeá-lo. Um mesmo indivíduo pode apresentar vários ferimentos pelo mesmo objeto. A prioridade é identificar sinais de choque hemorrágico, como a agitação psicomotora, taquicardia, palidez, pele fria e pegajosa e pulso rápido e fino, lembrando que a hipotensão é um sinal de choque grave. Caso o objeto esteja impactado no paciente, nunca deve ser retirado na SE, pois ele pode estar impedindo um sangramento maior em uma artéria já lesada. O objeto deve ser amparado por compressas de cirúrgicas e fixação com esparadrapo. Caso esse objeto apresente um movimento tipo “pulsação”, significa que sua extremidade se encontra próximo a uma grande artéria ou mesmo ao coração, não devendo em hipótese alguma ser fixado, sob o risco de a lâmina lacerar essas estruturas. 7. Assistência de enfermagem no ferimento por arma de fogo e arma branca Fonte: G1 PB Um termo corriqueiramente utilizado quando um objeto se mantém introduzido no organismo é o empalamento (objeto empalado). Esse termo é oriundo da época antiga onde a utilizavam para torturar e matar inimigos de guerra ou por incompatibilidades religiosas. Uma estaca de madeira (maior que o próprio indivíduo)era introduzida em qualquer parte do corpo, principalmente no ânus e vagina, com a pessoa ainda viva, fica pendurada até sua morte. Nos ferimentos por armas de média e alta energia, cuja classificação está associada à velocidade com que o projétil sai do cano da arma, também provocam lesões por cavitação permanente.As lesões também estão associadas ao tipo e tamanho do projétil, sua trajetória dentro do organismo e sua capacidade em causar outras lesões fora do percurso originário. Essas características, ditas como perfil, capacidade de rotação e fragmentação dentro do corpo do paciente lesão vários órgãos, e a principal atenção continua sendo em relação à busca de sinais de choque hemorrágico. Identificar orifícios de entrada e saída de um projétil, ou mesmo somente um orifício de entrada, auxilia na interpretação de quais órgãos podem estar lesados. Um orifício de entrada tem suas bordas bem definidas, enquanto os de saída são irregulares. Raramente causam hemorragias externas exsanguinante, exceto se lesarem alguma artéria mais superficial, com por exemplo, a artéria femoral, cujo tratamento imediato será a compressão local. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM50 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Seja qual for o tipo de arma que causou o ferimento, cada região anatômica pode ser afetada e causar danos específicos. Lesões penetrantes em pescoço podem lesar a traqueia e artéria carótida, sendo prioridade o acesso à via aérea. Podem lesar os pulmões e a prioridade de tratamento ser a drenagem de um pneumotórax ou um curativo valvulado, dependendo do tamanho do orifício. Se no abdome ou pelve podem causar grandes hemorragias. Se na coluna vertebral, lesões permanentes da medula espinhal. Nestas circunstâncias, e após a avaliação primária e atendimento às lesões que causam a morte do paciente rapidamente, uma avaliação mais detalhada e com exames complementares por imagem, definem melhor as lesões e tratamento do paciente. Contudo, nenhum exame complementar deve atrasar o encaminhamento do paciente para o Centro Cirúrgico, no risco de morte iminente. Acessos venosos calibrosos, coleta de sangue, administração de fluídos, sangue e hemoderivados; e assim como monitorização complementar,fazem parte do atendimento ainda na SE. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM51 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM52 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA O atendimento à paciente vítima de trauma e gestante deve ter a mesma sequência de avaliação, como qualquer outro paciente. A gravidez, por si só, não é motivo para priorizar o atendimento, pois pode ocorrer de um outro paciente do mesmo acidente estar mais gravemente ferido. A avaliação primária sempre deverá ser aplicada a todos os pacientes vítimas de trauma e seus achados que irão direcionar o atendimento mais adequado, sempre considerando as lesões que colocam a vida em risco. A gestante, a partir da 10ª semana de gestação, aproximadamente, apresenta alterações da frequência cardíaca entre 10 a 15 batimentos por minuto, diminuição da pressão arterial entre 5 a 15 mmHg, diminuição no tempo de esvaziamento gástrico. Todas essas alterações estão relacionadas ao aumento de líquido circulante no organismo e pelo aumento do útero, ocupando um maior espaço na cavidade abdominal. Os traumas mais frequentes em gestantes são do tipo fechado, ou por colisões automobilísticas, quedas ou agressão com objetos ou mesmo chutes ou socos. 8. Assistência de enfermagem no trauma em gestante A avaliação abdominal é fundamental para avaliar possíveis lesões uterinas e consequentemente ao feto, lembrando que a prioridade na ressuscitação será sempre da mãe. Um útero gravídico traumatizado apresenta-se rígido, dolorido à palpação, podendo o feto estar em posição anormal (transversal), quando do rompimento da parede uterina. O sangramento vaginal é um sinal sugestivo de deslocamento de placenta. Os sinais vitais podem demorar a deteriorar-se, em razão das alterações fisiológicas acima descritas. A história do trauma deve ser pesquisada à exaustão, pois apenas o posicionamento errôneo do cinto de segurança é capaz de provocar lesões no útero e feto. O peso de um abdome gravídico diminui o retorno venoso por comprimir a veia cava, cuja anatomia se encontra posteriormente ao útero. Portanto, quando imobilizada em prancha, em posição supina, a pressão sobre essa veia tão calibrosa vai diminuir ainda mais a pressão arterial da paciente. Nestas circunstâncias o útero deverá ser deslocado manualmente para a esquerda, ou a prancha deve ser inclinada lateralmente cerca de 15º e estabilizada nessa posição com coxins. A ausculta fetal deve ser realizada, a fim de avaliar a vitalidade fetal. se a paciente entrar em parada cardiorrespiratória pode indicada a cesárea peri mortem ainda na SE, cuja situação é grande estresse na equipe. ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM53 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA Fonte: Amazon (2023) ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO EM ENFERMAGEM54 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA EMERGÊNCIA EM TRAUMA No trauma pediátrico também devemos aplicar a avaliação primária, ou seja, em qualquer paciente, independente de raça, sexo, idade, mecanismo de trauma, a sequência de avaliação é a mesma. Normalmente crianças chamam a atenção muito mais que um adulto traumatizado, mesmo que esta esteja estável ao primeiro contato. Contudo, a avaliação primária da criança deve levar em conta algumas particularidades anatômicas e fisiológicas, as quais são consideravelmente diferentes do adulto. Para as equipes que pouco tem familiaridade com o atendimento de crianças, essas medidas atômicas e fisiológicas, assim como doses de medicamentos e tamanho de dispositivos, devem estar disponíveis para consultas rápidas em catálogos pré-elaborados. A Fita de Reanimação (Broselow®Pediatric Emergency Care) determina
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