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AULA 5 DIFICULDADES COMUNS DE APRENDIZAGEM E PROBLEMAS DE “ENSINAGEM” Profª Elayne Thays de Lara Sena 2 TEMA 1 – PROCESSOS ATENCIONAIS A atenção é um dos fatores importantes para o desenvolvimento de variadas atividades que fazem uso dos processos perceptivos. As pessoas estão expostas a estímulos, a todo momento se utilizando da atenção para a compreensão dos acontecimentos. Compreender como a atenção ocorre ou não tem sido alvo de pesquisas dentro de vários campos de estudo, inclusive da neurociência. Dessa forma, é fundamental para o desenvolvimento deste estudo compreender como ocorrem os processos atencionais e as possíveis dificuldades que alguns sujeitos apresentam. Conforme Brandão (1995 citado por Lima, 2005): A atenção pode ser definida como a capacidade do indivíduo responder predominantemente os estímulos que lhe são significativos em detrimento de outros. Nesse processo, o sistema nervos é capaz de manter um contato seletivo com as informações que chegam através dos órgãos sensoriais, dirigindo a atenção para aqueles que são comportamentalmente relevantes e garantindo uma interação eficaz como meio. Assim sendo, entende-se que a atenção está relacionada ao desejo seletivo do sujeito de fixar seu interesse em determinado assunto ou acontecimento, minorando as interferências distratoras para processar os estímulos em foco. A atenção se fixa às informações essenciais, tendo em vista os estímulos que parecem não ser de grande importância no momento (Lima, 2005). Corroborando essa ideia, Cosenza e Guerra (2011, p. 41) afirmam que: Boa parte dessa informação não chega a ser processada, não porque não só porque é desnecessária e seria pouco econômico cuidar dela, mas também porque nosso cérebro, apesar de constituído por bilhões de células interligadas por trilhões de sinapses, não tem a capacidade de examinar tudo ao mesmo tempo. Dessa perspectiva, entende-se que ocorre uma regulação no sistema nervoso no processo de modo a focar a atenção que permite que o indivíduo consiga direcionar a atenção a certos estímulos e ignorar outros. Os processos atencionais estão vinculados a fatores de vigilância, que são comandados por neurotransmissores produzidos pelos neurônios, sendo a noradrenalina, que atua na regulação do estado de alerta, o principal deles. Assim, ocorrem alterações no estado de alerta, que interferem nos processos cognitivos atencionais que ocorre dentro dos processos de vigília do cérebro. 3 Estes podem variar “deste o sono profundo ao pleno despertar” ao extremo estado de alerta (Cosenza; Guerra, 2011, p. 43-44). Com isso, fica claro que é preciso equilíbrio nesses estados cerebrais para que a atenção se mantenha ajustada, dentro dos aspectos sensoriais, para a realização determinados para ações. Lima (2011, p. 115) apresenta um esquema que mostra os mecanismos atencionais e suas divisões de processamento cerebral: Figura 1 – Mecanismos atencionais Fonte: Lima, 2011, p. 115. Assim se compreende a seletividade do processo atencional, segundo a correlação atenção/foco. Lima (2011, p. 116) se utiliza de um exemplo ao se reportar à figura anterior, afirmando que “isto visualmente evidente na dicotomia da figura em que uma imagem é selecionada como foco atencional e o restante submergido ao fundo”. Não obstante a seletividade, são inúmeros os fatores que podem influenciar na atenção, que vão desde emocional às circunstâncias variadas nas quais o sujeito se encontra envolvido. Conforme Dalgalarrondo (2000, citado por Lima, 2011, p. 116), a atenção pode ser dividida em voluntária, que envolve a “seleção ativa e deliberada do indivíduo em uma determinada atividade, sempre ligada à motivação e interesse” 4 e involuntária ou reflexa, que “é suscitada pelas características dos estímulos, ou seja, ocorre diante de eventos inesperados no ambiente e o indivíduo não é agente de escolha da sua atenção”. Percebe-se que, em relação à atenção voluntária, são levados em conta fatores internos e escolha pessoal do sujeito. Já a atenção involuntária ou reflexa está focada em estímulos periféricos. De acordo com Cosenza e Guerra (2011, p. 44): Uma situação costuma ser muito usada como modelo do funcionamento da atenção é aquela em que, em uma reunião social, escutamos nosso nome sendo pronunciado em uma roda de conversação próxima de onde estamos. Neste caso, somos capazes de desviar o foco da atenção, e usualmente iremos dirigi-lo de forma a escutar melhor o que está sendo falado naquele grupo. Dessa forma, percebe-se a dinâmica de circuitos atencionais para que se processe a atenção em seus mais variados aspectos, indicando a ocorrência de dois circuitos reguladores, a saber: o circuito orientador e o circuito executivo. O circuito orientador proporciona a mudança de foco atencional de uma determinada situação para outra, com base num estímulo seletivo, já o circuito executivo proporciona o foco atencional de maneira contínua e regulada, livre de estímulos interferentes concorrentes. O circuito executivo está intimamente ligado às funções executivas do cérebro, em especial a autorregulação, fator esse que influencia de forma significativa a aprendizagem consciente, uma vez que se percebe sua importante ligação com os processos cognitivos e emocionais (Cosenza; Guerra, 2011). TEMA 2 – ATENÇÃO E O APRENDIZADO Não é novidade que as pessoas vivem expostas a uma rede de estímulos em seu cotidiano, que visam chamar a atenção das mais variadas maneiras e para as mais diversas finalidades. Assim, é interessante pensar que a demanda atencional é grande, pois se sabe que o nível de atenção depositada é que vai determinar o nível de competência para a execução de determinado projeto, garantindo o sucesso ou não da atividade executada (Goleman, 2013). É interessante salientar que a atenção depende de alguns fatores para ocorrer de forma satisfatória: Todos nós sabemos que nossa habilidade de focar a atenção depende do tempo de sono que tivemos, do estresse ao qual estamos submetidos e de outros fatores. E os benefícios da atenção focada são tão óbvios 5 quanto os efeitos prejudiciais dos distúrbios da atenção. (Wallace, 2018, p. 9) Dessa forma, procurar manter o equilíbrio contribui de maneira significativa para o desenvolvimento e manutenção da atenção, pois é através dela que as pessoas conseguem êxito na execução de suas atividades e tarefas diárias. Para ilustrar a atenção, Goleman (2013, p. 12) diz que ela funciona como um “músculo, que pouco utilizado definha e bem utilizada, melhora e se expande”. Assim, a manutenção da atenção depende de um treinamento baseado em três tipos de foco: interno, que alinha intuição, valores e decisões, foco no outro que permite a interação com os demais sujeitos e foco externo, que permite a interação com o mundo, fatores estes determinantes nas experiências vivenciadas pelas pessoas. Nos dias atuais, percebe-se que o desenvolvimento da atenção sofre um grande prejuízo por conta do mundo digital que envolve as crianças e jovens. Os nativos digitais se privam, na maioria das vezes, do contato puramente humano, e este fato acarreta prejuízo neurológico, uma vez que interrompe as conexões socioemocionais necessárias para se moldar o circuito cerebral e consolidar o aprendizado, tendo como possíveis resultados sérios déficits atencionais. Dessa forma, o contexto dos dias atuais apresenta um grande número de estudantes que demonstram incapacidade de dominar a interpretação de um simples texto, dificuldades de expressão e comunicação, privação da criatividade e se mostram sem habilidades de realizar uma simples leitura do outro (Goleman, 2013). É claro que o desenvolvimento tecnológico traz consigo seusbenefícios, isso é inquestionável, uma vez que o mundo digital desenvolve outras habilidades cognitivas nos sujeitos, todavia é notável que se perde quando da dificuldade no trato com as emoções essenciais e as habilidades socioemocionais não são bem desenvolvidas, principalmente nos dias atuais em que a sociedade necessita de pessoas equilibradas e prontas para viver a coletividade. Goleman (2013, p. 14) exemplifica esse contexto quando relata que: Uma professora da oitava série me contou que, por muitos anos, ela fez turmas sucessivas de alunos lerem o mesmo livro: Mitologia, de Edith Hamilton. Seus alunos adoravam o livro — até mais ou menos cinco anos atrás. “Comecei a ler que as crianças não estavam tão empolgadas, e nem mesmo os grupos com alto desempenho conseguiam se envolver”, ela me falou. “Eles dizem que a leitura é difícil demais, que as frases são complicadas demais, que é preciso muito tempo para se ler uma página.” 6 Dessa forma, parece que a linguagem virtual, que não necessita de um vocabulário muito rico para se processar, tem influenciado a aprendizagem e a demanda atencional dos estudantes. Os estudantes hodiernos acabam por achar desnecessária a busca pela leitura por não conseguirem prestar a atenção por muito tempo, perdendo a capacidade de selecionar o que realmente é importante, demonstrando uma disparidade quanto á atribuição de valor pessoa/rede social. Goleman (2013, p. 15) afirma: Uma relação empática exige atenção conjunta - foco mútuo. A necessidade de fazermos um esforço para termos esse tipo de momento humano nunca foi maior, levando em consideração o oceano de distrações que todos enfrentamos diariamente. Referente a esse fato, Goleman (2013) diz que está ocorrendo uma exaustão da atenção e que, como previsto por Herbert Simon, o mundo está se tornando rico em informação, porém que empobrece a atenção. Manter o foco e atenção e saber utilizá-lo de forma seletiva, transferindo-o de uma coisa para outra quando necessário, é imprescindível para uma vida equilibrada. Disso depende o bloqueio neural contra distratores e, uma vez que se tem a habilidade de manter a atenção focada, o aprendizado ocorre de forma significativa e cria novas conexões neurais. Goleman (2013, p. 24) afirma que: Quando nossa mente divaga, nosso cérebro ativa uma porção de circuitos neurais que murmuram sobre coisas que não têm nada a ver com o que estamos tentando aprender. Sem foco, nenhuma lembrança clara do que estamos aprendendo fica armazenada. Assim, o aprendizado concreto depende do foco atencional dispensado a ele, contudo Callegaro, Damásio (2011, citado por Silva, 2019, p. 134) afirma que “focamos nossa atenção, avaliamos (julgamos), aprendemos, memorizamos, recordamos e decidimos de forma não consciente”. Dessa forma, é importante pensar pela perspectiva da inteligência emocional que vincula o processo aos relacionamentos interpessoais equilibrados, envolvendo professores, alunos(as) e famílias, uma vez que as conexões espelhadas, marcadas pelos neurônios espelho, expressas nos relacionamentos são significativas para o aprendizado. Silva (2019, p. 90) propõe que: Os estímulos educacionais que recebemos têm valor ou significado suficiente (por exemplo, geram prazer?) para que prestemos atenção a eles e ainda os guardemos na memória? Motivam ao exercício, à prática 7 que vai consolidar a aprendizagem? E quanto a qualidade das relações interpessoais, o clima afetivo do ambiente escolar é favorável ao aprendizado, inspira confiança, sem medo? Professores (as) são otimistas, cativam para o melhor? Estimulam autoestima? Favorecem tomar boas decisões? Essas questões são diretamente relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem e a resposta para cada uma delas passa pela emoção! Dessa forma, percebe-se que manter a atenção e aprender dependem de uma demanda emocional e motivacional significativas. Assim, fortalecer os laços de confiança entre professor(a) e aluno(a) numa relação amigável garante o bom andamento do processo, culminando num aprendizado consolidado (Silva, 2019). Cosenza e Guerra (2011, p. 84) afirmam que: Por tudo isso, as emoções precisam ser consideradas nos processos educacionais. Logo, é importante que o ambiente escolar seja planejado de forma a mobilizar as emoções positivas (entusiasmo, curiosidade, envolvimento, desafio), para que não perturbem a aprendizagem. Dessa forma, compreende-se que trabalhar habilidades socioemocionais entre professores e alunos(as) é muito importante para se desenvolverem as capacidades atencionais e o aprendizado. TEMA 3 – DIFICULDADES ATENCIONAIS As dificuldades, de forma geral, em relação à aprendizagem, são preocupantes e talvez o maior desafio de educadores(as) de todos os tempos. Já se sabe que muitas são as causas das possíveis dificuldades que vão desde problemas cognitivos, ambientais, emocionais, adaptativos até questões puramente culturais, relacionados à família do estudante. Alunos que se apresentam padrões da normalidade em relação às funções cognitivas, quando qualquer tipo de mudança ou instabilidade que faça com que o estudante saia do que para ele é considerado como rotina, ativam bases neurais que visam estabelecer um equilíbrio ao contexto em que o indivíduo se encontra no momento, fazendo com que atenção, que é totalmente seletiva e se norteia pela emoção, fique comprometida, desviando no momento do foco da aprendizagem (Cosenza; Guerra, 2011). Crianças e adolescentes saudáveis, com funções cognitivas preservadas, podem apresentar baixo desempenho escolar devido a estratégias pedagógicas inadequadas, como aulas muito extensas, conteúdos não contextualizados e pouco significativos para o aluno, professores pouco qualificados ou desmotivados ou ainda pela falta de incentivo ou estimulação pelos pais. Fatores socieconômicos como ausência de condições para adquirir material didático, restrições do acesso a livros, jornais e outros meios de informação, falta de ambiente 8 e rotina para estudo em casa podem contribuir para um aprendizado que não reflete o potencial do aprendiz. Nesses casos, eles não têm acesso às experiências sensoriais, motoras e sociais que são fundamentais para o adequado funcionamento e para a reorganização de seu sistema nervoso. (Cosenza; Guerra, 2011, p. 131) Dessa forma, compreende-se que muitas podem ser as causas que dificultam o desenvolvimento do estudante e prejudicam a capacidade em manter seu foco atencional e voltá-lo à aprendizagem. 3.1 DDA – Distúrbio de déficit de atenção O DDA, que se caracteriza por um distúrbio de déficit de atenção, resultante de uma disfunção neurológica, impede o sujeito de se concentrar, demonstrando distração, impulsividade, com fraca supervisão interna, desorganização, falta de previsão e possível hiperatividade, não sendo uma prevalência, podendo ocorrer somente em 50% dos casos, fator que os diferencia dos TDAHs, resultando em dificuldades de aprendizagem (Amen, 2005). Os indivíduos que, classificados como DDA, apresentam um restrito campo de ação atencional, quando pressionados pioram o quadro. Assim, para que consigam prestar atenção, é necessária muita estimulação para que possam focar. É importante destacar que eles conseguem manter seu foco atencional em coisas que lhes despertem muito interesse (Amen, 2005). Vale aqui ressaltar um contraponto na classificação do DDA. Na visão da Dr. Lou de Olivier (2011), o DDA não se enquadra num caso neurológico, inclusive nomeado por ela como desordem de déficit de atenção. Olivier (2011), em virtude de suas pesquisas e atendimentos, acredita que o DDA é um caso típico de desatenção, não vinculado a problemas de origem neurobiológica. Ela afirma que os indivíduos assim classificados não apresentam QI baixo, somente baixo desempenho escolar, devido à falta de atenção quepode ser corrigido com práticas que valorizem o sujeito. Ela acredita que o DDA se distingue de TDAH, não só pela nomenclatura, mas sim pelas características distintas e que o DDA é observado pelo olhar da psicopedagogia, enquanto que o TDAH é observado pela Psiquiatria (Olivier, 2011). Se de ordem neurológica ou não, cabe refletir que, em função de suas características, os DDAs muitas vezes se colocam em situações desastrosas pela falta de tato que apresentam, em função de sua desorganização mental, causada pelo distúrbio, gerando conflitos e descontrole emocional, sendo característico 9 não conseguir concluir intentos, muitas vezes mal elaborados em função da constante distração. Todo esse quadro causa uma depreciação pessoal, que, quando relacionada à aprendizagem, é sem dúvida prejudicial. 3.1.1 Acompanhamento para o DDA Ao acompanhar os comportamentos dos alunos com DDA, percebe-se que as formas de auxiliá-los são simples. Medidas profissionais e tratativas são o caminho para que possam se desenvolver suas habilidades atencionais e consolidar a aprendizagem. A orientação às famílias e professores(as) no trato com o DDA é de suma importância, bem como o acompanhamento psicopedagógico para que práticas alternativas possam ser realizadas (Olivier, 2011). Dentre as medidas estão o acompanhamento mais próximo ao aluno(a), permitindo que compreenda a importância do aprender, através do incentivo e atividades que despertem interesse e criatividade. Ensinar a criança ou adolescente que ele necessita seguir algumas regras básicas, como horário para dormir, alimentar-se, estudar e brincar também é importante, mas, acima de tudo, investir no incentivo a autoestima, afirmando que ele(a) é capaz de realizar tarefas e ao menor avanço responder com elogios (Olivier, 2011). 3.2 TDAH – Transtorno de déficit de atenção Dentre as possibilidades de dificuldades atencionais, encontra-se o TDAH (transtorno de déficit de atenção), que afeta um grande números de pessoas nos dias atuais. De ordem neurobiológica, está relacionado ao contexto neuroemocional do sujeito e parece ter características genéticas de desenvolvimento (Olivier, 2011). Silva (2019, p. 134) afirma que: Aspectos genéticos estão envolvidos na sua etiologia, observando-se que vários genes parecem interagir para produção do fenótipo. Também fatores ambientais, como a exposição ao álcool ou a nicotina durante a gestação ou ainda a contaminação por substâncias tóxicas, têm sido relacionadas ao suposto transtorno, bem como o peso abaixo da média no nascimento. Dessa forma, percebe-se que ocorre uma alteração multifatorial, que implica o pleno desenvolvimento morfológico cerebral, comprometendo as funções executivas, atencionais e emocional do sujeito (Cosenza; Guerra, 2011). 10 O distúrbio apresenta um conjunto de sintomas característicos baseados na desatenção, hiperatividade, impulsividade, contudo o estudo acerca do TDAH é diversificado e as opiniões são variantes em relação ao diagnóstico. Santana e Signor (2016 citado por Silva, 2019) afirma que: A dificuldade de encontrar um “marcador biológico” para o TDAH reside no fato de que a criança “perfil TDAH” não é desatenta e/ ou hiperativa e ponto. Há uma imensa heterogeneidade manifestada em comportamentos e atitudes que se diferenciam a depender de uma série de fatores, sobretudo os interacionais e contextuais. Dito de outro modo: se uma criança é, por exemplo, incrivelmente atenta a jogos eletrônicos, como supor que uma imagem do cérebro possa demonstrar que ela não se atenta apenas na hora de fazer a lição de casa? Acreditamos, desse modo, que não se trata de desatenção, mas de deslocamento do foco atentivo. Se houvesse uma “homogeneidade” nas atitudes, ou seja, se a criança fosse sempre desatenta ou sempre hiperativa, suporíamos que esse “comportamento atípico” poderia imprimir seus efeitos no cérebro ou até mesmo ser consequência de uma alteração cerebral. Dessa forma, percebe-se que deve haver cautela e resignação ao se diagnosticar o distúrbio pela amplitude de fatores envolvidos. Olivier (2011, p. 80) destaca que as predominâncias e variações podem ser classificas em subtipos: a. Combinado: quando os sintomas igualam-se em desatenção, hiperatividade e impulsividade; b. Desatento: quando os sintomas pendem para a desatenção, variando desde simples desatenção até grande alienação. Nesse caso, o indivíduo apresenta-se quase sempre ausente, parecendo não entender o que está ocorrendo ou o que está sendo questionado. Chega a afirmar que presta a atenção, porém não apresenta resultado satisfatório; c. Hiperativo – Impulsivo: quando os sintomas aliam-se à hiperatividade – impulsividade. O indivíduo, nesse caso, mostra-se precipitado, sem raciocinar antes, frente aos questionamentos, precipitando-se em suas respostas, sem avaliar com clareza o que fala. Não espera sua vez para falar e não mede as consequências das situações nas quais se envolve. Com base nessas reflexões, vale pensar em como atender alunos que se enquadram nessas características para lhes oferecer a oportunidade de aprendizado. Silva (2019, p. 137) assegura que: O TDAH parece incluir comportamentos comuns na infância, porém de forma mais intensa e que não se modifica com as intervenções dos educadores. Desatenção, atividade excessiva e/ou comportamento 11 emocional impulsivo estão presentes nas crianças, dificultando-lhes o aprendizado desde o começo da vida acadêmica, trazendo-lhe rejeição e incertezas quanto a sua capacidade cognitiva, o que costuma lhes reduzir a autoestima, dificultando ainda mais o processo. Por essa perspectiva, percebe-se que, assim como mencionado anteriormente acerca dos DDAs, deve haver um trabalho conjunto entre escola e família, para o tratamento dos TDAHs, na intenção de os incentivar a compreender a necessidade de seguir regras e manter o equilíbrio comportamental e social, buscando estabelecer conexões através das habilidades socioemocionais. O ambiente escolar, por sua vez, deve buscar desenvolver estratégias para que o aluno(a) se sinta participante de sua educação, que, segundo Silva (2019), precisa “produzir o crescimento e harmonia emocional, consolidando da personalidade e da aprendizagem, o que só é possível a partir de experiências gratificantes, que intensifique as emoções positivas e de pertencimento”. TEMA 4 – INDISCIPLINA Na escola dos dias atuais, muito mais que em tempos remotos, percebe-se que as questões de indisciplina percebidas no meio dos alunos têm acarretado sérios problemas, requerendo da escola uma nova postura. Para se compreender o que está ocorrendo, é necessário que se pense no contexto familiar em que os alunos de hoje se encontram, pois se sabe que os comportamentos das crianças são reflexos do que percebem e vivenciam dentro de casa. Entendendo esse fato, fica mais fácil perceber que certas condutas são norteadas pela falsa “independência” que os pais têm delegado aos filhos. As crianças de hoje, em sua grande maioria, estão à mercê de seus próprios cuidados, pela falta de tempo dos pais que se culpam por isso, negando-se a dizer os nãos necessários para a modulação do caráter. Esse fato oportuniza às crianças acreditar que não devem ser submissas à autoridade de adultos. Dentro desse contexto, percebe-se que “as crianças de hoje em dia não tem limites, não reconhecem a autoridade, não respeitam as regras, a responsabilidade por isso é dos pais, que teriam se tornado muitos permissivos” (Aquino, 2003, p. 7). Dessa forma, as crianças reproduzem na escola os comportamentos permitidos em casa. A falta que os pais não percebem causar em seus filhos causa baixa estima e carência afetiva, pois não há socialização familiar. O desequilíbrio causado por esse contexto não se detém em parâmetros 12 socioculturaisou econômicos, mas na inexistência de relacionamentos seguros dentro do ambiente familiar (Aquino, 2003). Dessa forma, o ambiente escolar é que sofre o maior reflexo de toda essa esfera de desencontros e desequilíbrios familiares demonstrado na indisciplina e incapacidade de conviver de forma equilibrada com seus iguais, comprometendo o processo ensino-aprendizagem. O professor se encontra em uma posição reflexiva de suas práticas docentes, uma vez que se utilizar de autoritarismo se torna um canal não producente. Assumir uma postura firme é, sem dúvidas, um passo para gerar disciplina, porém utilizando-se de ações participativas para que possa plantar em seus alunos(as) valores que estes desconhecem, baseados no respeito e na igualdade a fim de que compreendam que a coletividade deve ser levada em conta. O professor que tem ciência de sua capacidade de influenciar seus alunos(as) tem uma grande vantagem a seu favor, buscando instigar aqueles que estão à sua mercê, despertando sua criatividade e criticidade, canalizando toda a energia utilizada na indisciplina para algo construtivo. Buscar desenvolver as habilidades socioemocionais é de suma importância, uma vez que, em função da falta dos pais, as crianças de hoje necessitam ser observadas por essa perspectiva. Dessa forma, é possível chamar a atenção de alunos(as) indisciplinados, de uma forma convidativa, inserindo-os(as) no processo para que percebam que são construtores conjuntos da educação. TEMA 5 – MINDFULNESS O termo mindfulness diz respeito a uma prática que trabalha a regulação da atenção para melhor se perceberem os sentidos sensoriais, as sensações corporais e os estados mentais (Silva, 2019). Cosenza (2018) afirma que: Em termos operacionais, mindfulness tem sido definida como a consciência do momento presente, quando fixamos nele nossa atenção voluntária, suspendendo qualquer julgamento sobre o que aparece em nosso fluxo de consciência e deixando fluir as experiências ao longo do tempo. Ou seja, como o momento presente é fugaz, mantemos a atenção plena na sequência de momentos presentes, da maneira como eles se apresentam à nossa consciência. A essência da natureza humana, em seus comportamentos mentais, vive em constantes processos de avaliação, diante das situações vivenciadas num 13 mundo cheio de estímulos, para melhor se adaptar às mudanças repentinas às quais estão expostas. Dessa forma, buscar a prática do mindfullness, na tentativa de alcançar equilíbrio, é um desafio que garante controle emocional e cognitivo, reduzindo uma variedade de comportamentos estressantes causados pelo mundo atual (Silva, 2019). As práticas do mindfulness são baseadas na meditação, que se utiliza de técnicas para treinar a atenção, muito utilizadas em tradições espirituais orientais. Vale ressaltar que a proposta atual nada tem a ver com religiosidade e sim com o intuito científico de promover um funcionamento cerebral maximizado a fim de produzir modificações em seu funcionamento, a favor do equilíbrio dos indivíduos que o praticam, potencializando a atenção e o foco (Cosenza, 2018): Na verdade, na meditação procura-se dirigir e manter o foco da atenção consciente em um objeto, que pode ser interno – como pensamentos, emoções e estados corporais – ou externo, como estímulos sonoros ou visuais. Ao mesmo tempo, é importante manter o estado de alerta (não sonolência) e o relaxamento corporal. O objeto da atenção pode ser variado, mas é muito frequente que ele seja a própria respiração. A atenção mantida na respiração traz o fluxo da consciência para o momento presente e dificulta a divagação mental, essa tendência natural que tem a nossa mente de devanear, lembrando-se ou fazendo planejamentos todo o tempo em que não estamos engajados em uma tarefa que exige esforço intelectual. A divagação mental é o principal obstáculo a ser contornado por quem está empenhado em meditar. Nessa perspectiva, reportar essas práticas ao ambiente escolar traz consigo benefícios significativos, uma vez que ajuda os estudantes a manter o foco e o equilíbrio pelo autoconhecimento, pois promove mudança nas reações emocionais, uma vez que conseguem controlar sua impulsividade. Conforme Marti, Garcia-Campayo e Demarzo (2016, citado por Silva, 2019, p. 116): “incluem melhoras nos seguintes aspectos: na memória de trabalho, atenção, competências acadêmicas, habilidades sociais, regulação das emoções, autoestima, estado de ânimo e redução da ansiedade, do estresse e da fadiga”. As respostas são positivas, acabando por desenvolver a inteligência emocional, imprescindível nos dias atuais. Dessa forma, percebe-se que a prática do mindfulness atua diretamente nas funções executivas do cérebro, promovendo equilibração (Cosenza, 2018). Permitir que os alunos(as) aprendam a desenvolver a atenção plena, a habilidade de focar, ignorando os distratores, e a desenvolver o autoconhecimento tem sua relevância no processo educacional, pois isso contribui para o desempenho escolar. 14 REFERÊNCIAS AMEN, D. G. Transforme seu cérebro, transforme sua vida. São Paulo: Mercuryo, 2005. AQUINO, J. G. Indisciplina o contraponto das escolas democráticas. São Paulo: Moderna, 2003. COSENZA, R. Práticas de mindfulness no ambiente escolar pode trazer benefícios a alunos e professores. Revista Educação. n. 246, jan. 2018. Disponível em: <https://www.revistaeducacao.com.br/pratica-de-mindfulness-no- ambiente-escolar-pode-trazer-beneficios-a-alunos-e-professores/>. Acesso em: 4 nov. 2019. COSENZA, R. M. GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. GOLEMAN, D. Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Tradução de Cássia Zanon. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. LIMA, R. F. Compreendendo os mecanismos atencionais. Ciência e cognição, v. 6, p. 113-122, nov. 2005. Disponível em: <http://www.cieniaecognição.org>. Acesso em: 4 nov. 2019. OLIVIER, L. de. Psicopedagogia e arteterapia: teoria e prática na aplicação em clínicas e escolas. Rio de Janeiro: Wak, 2011. SILVA, F. E. Neurociência e aprendizagem: uma aventura por trilhas da neuroeducação. Curitiba: InterSaberes, 2019. WALLACE, B. A. A revolução da atenção: revelando o poder da mente focada. Tradução de Jeanne Pilli. Petrópolis/RJ: Vozes, 2018. http://www.cieniaecognição.org/
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