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CONTABILIDADE DA FOLHA DE PAGAMENTO João Guterres de Mattos Obrigações trabalhistas e previdenciárias Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir as obrigações trabalhistas e previdenciárias do empregador. Descrever a incidência das contribuições sociais do INSS sobre a renda do trabalhador. Diferenciar as parcelas tributáveis e não-tributáveis em relação aos encargos previdenciários. Introdução O contrato de trabalho celebrado entre empregado e empregador gera obrigações de natureza contratual e tributária. Entre elas, encontram-se as chamadas obrigações trabalhistas e previdenciárias, devidas pelo empregador ao empregado, no que se refere ao salário e às parcelas indenizatórias, e também ao Estado, no que diz respeito às contribuições sociais. Neste capítulo, trataremos das obrigações trabalhistas e previden- ciárias do empregador, bem como da alíquota de incidência sobre os proventos devidos ao empregado. Além disso, estudaremos as exceções tributáveis e as exceções não tributáveis no âmbito das obrigações pre- videnciárias decorrentes do contrato de trabalho. 1 As obrigações do empregador A relação de trabalho existente entre empregador e empregado gera uma série de obrigações específi cas que são consolidadas em contrato. Trata-se de obrigações de natureza contratual (trabalhistas) e de natureza extracontratual (tributárias), entre as quais se destacam as obrigações assistenciais de cunho previdenciário. Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Segundo Ibrahim (2008), a preocupação com os infortúnios da vida é uma constante da humanidade desde os tempos mais remotos, quando o ser humano concentrava os seus esforços para adaptar-se ao ambiente e para reduzir os efeitos das adversidades inerentes à sua sobrevivência, como a fome, as doenças, as dificuldades acarretadas pela idade avançada, etc. O autor (IBRAHIM, 2008) acrescenta que a proteção social nasce, verdadeiramente, no contexto familiar em épocas em que a família detinha obrigações e deveres mais claros a respeito dos seus membros. O Estado moderno responsabilizou- -se por absorver tais obrigações para contemplar aqueles que não possuíam proteção familiar abastada à medida que passou das suas origens liberais para um modelo de bem-estar social. A Constituição Federal de 1988 reflete essa evolução do Estado no seu art. 195 ao prever que: “A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta ou indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line), bem como das contribuições so- ciais. Embora as contribuições sociais não sejam a única fonte de custeio da seguridade social, devemos reconhecer que elas são a principal. Também cabe destacarmos que os recursos mencionados no art. 195, sejam eles diretos (contribuições sociais) ou indiretos (tributos), são arcados pela sociedade por meio da solidariedade social, reafirmada à época da Constituinte. A obrigação do empregado com a contribuição social decorre da sua con- dição de segurado obrigatório no sistema previdenciário, de modo que não há a possibilidade da sua exclusão voluntária. Essa condição está explicitada no art. 12 da Lei nº. 8.212 e no art. 11 da Lei nº. 8.213, ambas aprovadas em 24 de julho de 1991, que enquadram como segurado empregado todo aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob a sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado. Nesse ponto dos nossos estudos, é importante compreendermos que, para fins previdenciários, o conceito de empresa remete à firma individual ou à sociedade que assume o risco da atividade econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como órgãos e entidades da administração pública. Equiparam-se a tal o contribuinte individual com relação ao segurado que lhe preste serviços, as cooperativas, as associações ou entidades de qualquer natureza, finalidade ou missão diplomática, bem como a repartição consular de carreira estrangeira. Essas possibilidades representam as figuras típicas do empregador (IBRAHIM, 2008). Obrigações trabalhistas e previdenciárias2 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Delgado (2019) complementa que o empregador é a pessoa física, a pessoa jurídica ou o ente despersonificado que contrata uma pessoa física com interesse na prestação dos seus serviços, que devem ser efetuados com pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação. Dessa maneira, encontram-se na mesma figura jurídica as obrigações de cunho trabalhista (empregador) e previdenciário (empresa). Conforme listado pelo autor (DELGADO, 2019), são obrigações de natureza trabalhista: as obrigações de pagamento, ou seja, a quitação das verbas trabalhistas derivadas da assunção da posição de empregador na forma da obri- gação de dar as verbas salariais e as parcelas não salariais, como o vale-transporte e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); a assinatura da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); a emissão do documento de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) em caso de infortúnio ocorrido durante a execução dos serviços contratados; o estabelecimento da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA); e a realização do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CA- GED), por força da Lei nº. 4.923, de 23 de dezembro de 1965, em toda e qualquer admissão, demissão ou transferência dos empregados. As parcelas de natureza previdenciária que atuam sobre o contrato de trabalho são de duas espécies: de um lado, temos as contribuições sociais; de outro lado, temos o auxílio voluntário. As contribuições sociais são parcelas oriundas da previdência oficial e são pagas pelo empregador em favor do empregado. Já o auxílio voluntário consiste em as parcelas previdenciárias privadas de caráter complementar que podem ser pagas diretamente pela empresa, isto é, pelo empregador ou podem ser pagas diretamente por entes previdenciários privados, mas com garantia assumida pelo empregador. Dois exemplos de parcelas de natureza previdenciária citados por Del- gado (2019) na esfera do Direito brasileiro são o salário-família e o salário- -maternidade, ambos pagos pelo empregador em benefício do empregado. O salário-família foi instituído pela Lei nº. 4.266, de 3 de outubro de 1963, e foi incorporado à Constituição Federal de 1988 no seu art. 7º, XII, sob a forma de parcelas monetárias ou cotas devidas pela previdência oficial ao trabalhador de baixa renda em função dos seus dependentes. O empregador paga diretamente ao empregado tais parcelas e se ressarce junto à previdência oficial. Por sua 3Obrigações trabalhistas e previdenciárias Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 vez, o salário-maternidade está previsto no art. 7º, XVIII, da Constituição e corresponde à renda mensal calculada com base na remuneração integral da trabalhadora gestante, sendo pago a ela por ocasião do período de afastamento previdenciário para o parto e para o subsequente aleitamento materno. Além disso, o art. 22, II, da Lei nº. 8.212/1991 institui o encargo sobre o risco da atividade econômica, sobre o qual é cobrada a contribuição previden- ciária decorrente do grau de incapacidade laborativa incidente sobre o risco inerente ao desenvolvimento da atividade empresarial. Esse encargo é chamado de Riscos Ambientais do Trabalho (RAT). Já as parcelas previdenciárias privadas dependem da criatividade particular dos contratantes e configuram benefícios sem natureza salarial, conforme as Súmulas nº. 237, nº. 288 e nº. 326 do Tribunal Superior do Trabalho (TST).Ademais, as parcelas da seguridade social são compostas pelo crédito do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), regulamentado pela Lei Complementar nº. 7, de 7 de setembro de 1970; pela Lei Complementar nº. 8, de 3 de dezembro de 1970; pelo art. 239 da Constituição Federal de 1988; e pelo art. 9º da Lei nº. 7.998, de 11 de janeiro de 1990. Assim sendo, o PIS/Pasep é a prestação anual no importe de um salário mínimo devida aos trabalhadores inscritos nesses dois programas e que recebem até dois salários mínimos de remuneração mensal, ressalvados os saldos individualizados existentes até a data da Constituição, de acordo com o art. 239 da Constituição. Nos termos do art. 159 do Código Civil de 1916 e do art. 186 do Código Civil de 2002, a irregularidade empresarial no tocante à inscrição trabalhista no PIS, frustrando o direito oriundo das normas jurídicas antes especificadas, pode gerar a obrigação indenizatória respectiva por parte do empregador. Seguindo a mesma lógica, obrigações indenizatórias também podem surgir de irregularidades no que tange às contribuições sociais típicas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Para finalizar os apontamentos acerca das obrigações do empregador, devemos lembrar que a Lei nº. 12.761, de 27 de dezembro de 2012, instituiu uma nova parcela que apresenta traços característicos da seguridade social. Trata-se do vale-cultura, a ser entregue por empresas vinculadas ao programa de cultura aos empregados que recebem até cinco salários mínimos mensais. Esse benefício não possui caráter salarial ou remuneratório. Obrigações trabalhistas e previdenciárias4 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 2 A contribuição social do INSS sobre a remuneração De acordo com Ibrahim (2008), a cobrança da contribuição social do benefi ci- ário pelo regime previdenciário é consequência da natureza contributiva e da solidariedade social do sistema, além de ser um mandamento constitucional, como comprova o art. 195, II, da Constituição Federal. A lei determina que a incidência recaia sobre o chamado salário de contribuição do trabalhador. Por regra, corresponde à remuneração do trabalhador, ou seja, aos valores recebidos pelo trabalho prestado. A Medida Provisória nº. 946, de 7 de abril de 2020, definiu a extinção do fundo PIS/ Pasep e a transferência imediata dos seus ativos e passivos ao FGTS a partir de 31 de maio do mesmo ano. Assim, continua a ocorrer a contribuição social por parte do empregador, mas houve alteração no regime do fundo de destino das verbas. 5Obrigações trabalhistas e previdenciárias Antes da reforma da previdência de 2019, o empregado da iniciativa privada tinha três alíquotas de contribuição para o INSS (8%, 9% e 11%), calcula- dos com base em todo o salário e implementados de acordo com a renda do empregado. Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 A partir de 1º de março de 2020, essas alíquotas passaram a variar entre 7,5%, 9%, 12% e 14,5%, sendo aplicados sobre cada faixa de remuneração, e não mais sobre todo o salário. A tabela de aliquotas de contribuição é anualmente ajustada, em geral no começo do ano. Assim, é fundamental a consulta ao site do INSS em busca dos valores vigentes. Use seu mecanismo de busca e localize a informação em uma fonte confiável. Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G Kaele-G Nota Marked definida por Kaele-G 3 As parcelas tributáveis e as não tributáveis Para fi ns de base de cálculo da contribuição social previdenciária, integram-se as parcelas remuneratórias do trabalhador, quais sejam: o salário, as gorjetas, as comissões, as porcentagens de participação nos lucros da empresa e as grati- fi cações. Em outras palavras, consideram-se os ganhos habituais consolidados pelo trabalhador e que são fornecidos periodicamente pelo empregador em decorrência dos serviços prestados (IBRAHIM, 2008). É importante eviden- ciarmos que o vale-refeição fornecido por previsão no contrato de trabalho integra o salário do empregado, conforme entendimento do TST (Ag-AIRR - 199-50.2017.5.21.0023, 7ª Turma do TST, julgado em 11 de dezembro de 2019). Portanto, excluem-se as parcelas indenizatórias e ressarcitórias devi- das ao empregado por motivos de, por exemplo, rompimento do contrato de trabalho sem justa causa ou, ainda, os valores pagos com o objetivo de cobrir gastos do trabalhador no exercício da sua atividade, tais como ressarcimento de combustível, diárias, alimentação, etc. Cabe salientarmos que a Lei nº. 13.467, de 13 de julho de 2017, responsável pela reforma trabalhista, trouxe inovações importantes no que se refere ao enquadramento das parcelas indenizatórias. Essas parcelas incluem os prêmios e as verbas de representação, bem como as ajudas de custo, quais sejam: o auxílio alimentação, englobando as cestas básicas, os tíquetes de alimentação e a alimentação in natura ofertada pela empresa cujo empregador é participante do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), conforme a Lei nº. 6.321, de 14 de abril de 1976. No entanto, se o auxílio alimentação for fornecido em dinheiro, ele passa a incorporar o salário do trabalhador e, portanto, a sua remuneração, conforme a Súmula nº. 241 do TST (MOREIRA, 2020). Além disso, notemos que as diárias pagas não podem exceder 50% da re- muneração mensal, sob pena de agregação à base de cálculo. Caso ultrapassem o valor de 50%, o valor total dessas diárias integra-se à base, não somente a diferença que excede 50%, como lembra Ibrahim (2008). Além disso, o autor (IBRAHIM, 2008) também explica que não se incorporam à remuneração do trabalhador os valores despendidos pelas entidades religiosas e pelos insti- tuições de ensino vocacional com caráter de confissão religiosa, membros de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, em face da sua ocupação religiosa ou para a sua subsistência, desde que fornecidos em condições que independam da natureza e da quantidade do trabalho executado (art. 22, § 13, da Lei nº. 8.212/1991). Obrigações trabalhistas e previdenciárias6 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Os adicionais de insalubridade e periculosidade ensejam obrigação de cunho tributário referente a parcelas da contribuição social ao INSS, recolhimento do FGTS e Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), pois se trata de valor incorporado à remuneração do trabalhador. Em caso de afastamento por acidente de trabalho, no entanto, os primeiros 15 dias de afastamento incidem sobre esses tributos, bem como o período de afastamento previdenciário incide sobre o IRRF e o FGTS. Logo, a complementação até o valor do salário do empregado afastado por acidente de trabalho tem apenas encargo tributário do IRRF. 7Obrigações trabalhistas e previdenciárias Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm. Acesso em: 13 maio 2020. DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. 18. ed. São Paulo: LTR, 2019. IBRAHIM, F. Z. Curso de direito previdenciário. 12. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. MOREIRA, E. Como ficam as parcelas indenizatórias após a reforma trabalhista. Instituto de Direito Real, 09 jan. 2020. Disponível em: https://direitoreal.com.br/artigos/parcelas- -indenizatorias-apos-a-reforma-trabalhista. Acesso em: 13 maio 2020. Leitura recomendada FREIRE, D. Governo extingue PIS/Pasep e libera saques de R$ 1.045 do FGTS. CNN Brasil,08 abr. 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/04/08/ mp-extingue-pis-pasep-e-libera-saques-de-r-1045-do-fgts. Acesso em: 13 maio 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Obrigações trabalhistas e previdenciárias8 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1 Identificação interna do documento SMQAXBCP3M-NMVX7H1
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