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Direito Tributário Trabalhista Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias • Competência Tributária • Repartição das Receitas Tributárias • Repartição do Produto das Receitas do Impostos • Imunidades Tributárias • Crédito Tributário • Suspensão do Crédito Tributário · Conhecer como a Constituição Federal distribuiu a competência tributária ativa de criar tributos. Além disso, vamos aprender que as receitas tributárias provenientes de impostos devem ser repartidas entre os entes federativos e iremos, também, saber um pouco mais sobre as possibilidades de suspensão dos créditos tributários. Esses conhecimentos são fundamentais para saber mais sobre a aplicabilidade do Direito Tributário. OBJETIVO DE APRENDIZADO Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Competência Tributária Quanto ao poder de tributar, ou seja, a competência tributária, pode ser entendido como a capacidade de criar, cobrar e exigir tributos. Essa competência, entretanto, não é livre, pois, para sua existência, depende de permissivos constitucionais ou legais: CTN Art. 6º A atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios, e observado o disposto nesta Lei. Parágrafo único. Os tributos cuja receita seja distribuída, no todo ou em parte, a outras pessoas jurídicas de direito público pertencerá à competência legislativa daquela a que tenham sido atribuídos. É por intermédio da Constituição Federal que se faz a distribuição da Competência Tributária. É ela que delimita por ente federativo qual ou quais tributos estarão aptos a criar e exigir certa obrigação tributária. Características da Competência Tributária Como vimos, a Constituição institui um regime de competências privativas para cada um dos entes federativos. Privatividade Quanto à extensão dessa expressão “privativa”, vejamos o que nos diz Geraldo Ataliba1: Quem diz privativa, diz exclusiva, quer dizer: excludente de todas as demais pessoas; que priva de seu uso todas as demais pessoas. A exclusividade da competência de uma pessoa implica proibição peremptória, erga omnes, para exploração desse campo. Essa capacidade de distribuir a competência tributária entre a União, os Estados, os Municípios e também o Distrito Federal para criarem, de modo geral, impostos, taxas e contribuições de melhoria pode ser apreciada no Artigo 145 da CF: Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; 1 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência. 5.ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 106. 8 9 II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. Indelegabilidade A competência tributária é indelegável, mas essa visão não é plena, pois, ao editar regras gerais sobre Direito Tributário, por intermédio do Código Tributário Nacional – CTN, a mencionada norma enfatizou que quando se fala em indelegabilidade, estamos nos referindo à capacidade legislativa de criar tributos, não restringindo a capacidade de fiscalizar ou arrecadar certo tributo. A essa possibilidade de delegação dá-se a denominação “Parafiscalidade”. CTN Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da Constituição. § 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir. § 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido. § 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos. Um exemplo desta “Parafiscalidade” é o Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, o qual a própria Constituição Federal confere à União ser o ente competente para criá-lo. Entretanto, a União poderá delegar a fiscalização e a cobrança aos Municípios: Art. 153 - Compete à União instituir impostos sobre: (...) VI - propriedade territorial rural; (...) § 4º - O imposto previsto no inciso VI do caput: (...) III – será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal. 9 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Incaducabilidade Por intermédio desta característica, havendo a previsão constitucional da criação do tributo, esta não “caduca”; existirá mesmo que não exista Lei específica disciplinando a espécie tributária. Importante registrar o pensamento de Roque Carrazza2 a esse respeito: A competência tributária é, também, incaducável, já que o seu não exercício, ainda que não prolongado no tempo, não tem o condão de impedir que a pessoa política, querendo, venha a criar, por meio de lei, os tributos que lhe forem constitucionalmente deferidos. Um bom exemplo dessa característica é a competência conferida para a União de, por intermédio de Lei Complementar, exigir impostos que incidam sobre “grandes fortunas” (Inciso IV do Artigo 153 da CF) ainda não instituído, mas que o poderá ser. Inalterabilidade Diante dessa característica, fica enfatizada a impossibilidade de a pessoa política que tem competência para criar um tributo alterá-la, a não ser por intermédio da alteração do texto constitucional, que nos dá os próprios termos da Constituição, por intermédio daespécie legislativa denominada “Emenda Constitucional”. Facultatividade Embora a Constituição Federal delimite a competência legislativa para se criar um tributo, ela não exige que esses devam ser instituídos; em tese, o que se gera é uma possibilidade legislativa. Entretanto, a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/00) especifica uma consequência ao não exercício dessa capacidade criativa. Lei Complementar nº 101/00 Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos. 2 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 28.ed. São Paulo: Malheiros, São Paulo 2012. p. 753. 10 11 Repartição das Receitas Tributárias Nosso país adotou como forma de Estado a “Federal”, na qual as competências que esse Estado tem, por determinação constitucional, foi repartida entre os entes federativos (União, estados-membros, Municípios e Distrito Federal). Para o efetivo exercício dessas competências, cada ente federativo procura captar receitas. A principal fonte de receita de recursos se dá por intermédio dos tributos, seja pela arrecadação direta dos tributos de competência específica de cada ente federativo (“pela fonte”), seja pela participação do ente federativo na formação do produto arrecadado (“pelo produto”). No caso da participação da arrecadação do tributo, embora o ente federativo me- nor não tenha competência de criá-lo ou de o exigi, a Constituição Federal determina que o ente federativo superior reparta o produto arrecadado com o ente inferior. Por exemplo, a Constituição Federal atribui como competência do estados- -membros a criação do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, de tal modo que os estados-membros criam o imposto e o exigem. Porém, deverá repartir 50% (cinquenta por cento) de sua arrecadação com o Município em que o veículo esteja licenciado: CF Art. 158 - Pertencem aos Municípios: III - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios; Figura 1 11 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Repartição do Produto das Receitas do Impostos A seguir, vejamos como a Constituição Federal determina a repartição das receitas tributárias provenientes dos impostos, adotando o critério “pelo produto”. Observação Todos os Artigos citados a seguir são da Constituição Federal – CF. Art. 159. A União entregará: I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 49% (quarenta e nove por cento), na seguinte forma: a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal; b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios; c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos re- gionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semiárido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer; d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; Imposto de Renda – IR A Constituição ainda destina aos Estados e Municípios, como antecipação de receita, o valor total dos descontados na fonte sobre rendimentos pagos pelos servidores públicos de suas autarquias e por suas fundações: Art. 157 - Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; Art. 158 - Pertencem aos Municípios: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; 12 13 Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI A União deve repassar aos Estados 10% da arrecadação, sendo eles distribuídos proporcionalmente em razão do valor das respectivas exportações desses produtos industrializados. Entretanto, nenhum Estado poderá receber mais do que 20% do total desse montante de repasse; no caso de haver a existência dele, o excedente deverá ser repartido com os demais estados. Art. 159 - A União entregará: II - do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializados, dez por cento aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados. § 2º - A nenhuma unidade federada poderá ser destinada parcela superior a vinte por cento do montante a que se refere o inciso II, devendo o eventual excedente ser distribuído entre os demais participantes, mantido, em relação a esses, o critério de partilha nele estabelecido. § 3º - Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II. § 3º - Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR A União tem a capacidade tributária ativa de cobrar e exigir o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, sendo que a mesma Constituição estabelece que 50% da arrecadação desse tributo seja distribuído a cada município no qual os imóveis estão situados. Art. 158 - Pertencem aos Municípios: II - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, [...] Imposto sobre Circulacao de Mercadorias e Serviços – ICMS A competência para criar e exigir o mencionado imposto é, por competência constitucional, atribuída ao estado-membro; entretanto, o estado-membro não direcionará ao seu tesouro o total do arrecadado, 25% do volume arrecadado deverá ser distribuído aos Municípios, tendo como critério a realização do fator gerador do imposto ter ocorrido em seu território: 13 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Art. 158 - Pertencem aos Municípios: IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Esta- do sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Imunidades Tributárias Podemos dizer que a imunidade tributária se trata efetivamente de uma limitação ao poder conferido pela Constituição ao respectivo ente federativo em tributar, ou seja, é uma limitação à competência ativa de criar tributos. Nas palavras de Eduardo de Moraes Sabbag3: A imunidade tributária é, assim, a qualidade da situação que não pode ser atingida pelo tributo, em razão de norma constitucional que, à vista de alguma especificidade pessoal ou material dessa situação, deixou-a fora do campo sobre que é autorizada a instituição do tributo. Apreciando o presente conceito, podemos afirmar que a imunidade, por mandamento da Constituição, exclui a possibilidade de criar tributos que atinjam determinadas hipóteses por ela definidas. Veja: os tributos existem, mas não poderão incidir sobre determinadas hipóteses. Deve ficar claro que a mesma Constituição, tecnicamente, acabou utilizando a expressão “Isenção”, quando o termo correto seria “Imunidade”;ou seja, em alguns pontos da Constituição, foi erroneamente utilizada a palavra isenção em casos que se tratam, na verdade de Imunidade, pois, a “Isenção” determina que será dispensado o cumprimento da obrigação, mesmo que ocorra o fato gerador previsto na hipótese legal que, em tese, pode gerar crédito tributário. A seguir, vejamos como podem ser classificadas as imunidades tributárias. Imunidade Recíproca É uma imunidade subjetiva, justificada pela autonomia que possuem os entes federativos. Por essa espécie de imunidade, não poderá haver cobrança de um ente federativo (União, estados-membros, Municípios e Distrito Federal) a outro, de impostos sobre patrimônio, renda ou serviços uns dos outros. Exemplos: Imposto sobre Operações Financeiras – IOF; Imposto Predial e Terri- torial Urbano – IPTU; Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR; Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores – IPVA; Imposto de Renda – IR etc. 3 SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 5.ed. São Paulo: DPJ, 2004. p. 44. 14 15 De tal modo, a imunidade incide quando a União, os estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios figurarem como sujeito passivo da obrigação tributária. Não será o caso de aplicação dessa imunidade quando, por exemplo, o estado- -membro adquire uma impressora para o uso em certa repartição pública. Nesse caso, o fornecedor do equipamento deverá figurar no polo passivo da obrigação tributária, devendo saldar o tributo. A mencionada regra não é ampla, pois, em determinadas hipóteses, os entes federativos estarão obrigados a pagar estas obrigações: • Quando a União, os estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas autarquias e fundações estiverem praticando atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados; • Quando a União, os estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas autarquias e fundações cobrarem contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário; • Quando a União, os estados, o Distrito Federal, os Municípios, suas autarquias e fundações celebram contrato de promessa de compra e venda de imóvel que lhes pertence com particular – o bem perde a imunidade e o promitente comprador tem de pagar os tributos que incidem sobre ele. Imunidade dos Templos de qualquer Culto A presente imunidade abrange não somente o templo. A Constituição Federal inclui nessa imunidade o patrimônio, a renda e os serviços relacionados à atividade da entidade religiosa. Como exemplo, temos a possibilidade de um determinado culto que possua uma propriedade rural destinada a promover “retiros espirituais” de seus seguidores. Nesse caso, não deverá ocorrer a cobrança de Imposto Territorial Rural – ITR. Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] VI - instituir impostos sobre: [...] b) templos de qualquer culto; [...] § 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finali- dades essenciais das entidades nelas mencionadas. 15 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Todas as religiões estão contempladas, não importando o número de segui- dores; isso se dá em razão da liberdade de crença assegurada pelo Artigo 5º, Inciso VI, da CF. Art 5º (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; Imunidade dos Partidos Políticos, Inclusive suas Fundações, das Entidades Sindicais dos Trabalhadores, das Instituições de Educação e Assistência Social, sem Fins Lucrativos Podemos afirmar que se trata de uma imunidade subjetiva, pois está ligada à natureza dos beneficiados, e não pela atividade que desenvolvem. Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) VI - instituir impostos sobre: (...) c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; (...) § 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finali- dades essenciais das entidades nelas mencionadas; A imunidade abrange o patrimônio, a renda e os serviços relacionados às finalidades essenciais das entidades. Não abrange, por exemplo, a imunidade de imóvel cedido ao presidente de determinado Partido Político na capital federal. Para Entidades Sindicais dos Trabalhadores, haverá imunidade, o que não ocorre com o Sindicato de Empresários. No tocante às Instituições de Ensino e de Assistência Social, somente existirá imu- nidade se elas tiverem como natureza jurídica “sem fins lucrativos”, na forma da Lei que, no caso específico, é o Código Tributário Nacional – CTN, em seu Artigo 14: 16 17 CTN Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas: I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. § 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º do artigo 9º, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício. § 2º Os serviços a que se refere a alínea c do inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os diretamente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos. Imunidade dos Livros, Jornais, Periódicos e o Papel Destinado à sua Impressão Trata-se de uma imunidade objetiva, pois é aplicada tão somente à “coisa” (objeto), de tal modo que, para a venda de livros, não pode ser instituído Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS ou Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI. Contudo, o jornal, como Empresa, e mesmo uma Editora de determinada obra literária, em razão do lucro auferido com as vendas de jornais ou livros, não terão imunidade com relação a essa atividade comercial, a qual poderá ser tributada, por exemplo, incidindo Imposto Sobre A Renda – IR. Crédito Tributário Como visto, é com a ocorrência do fato gerador que surge a obrigação tribu- tária principal. Entretanto, de modo diverso com o que ocorre com qualquer obrigação, de modo geral, para que o crédito possa ser exigido do sujeito passivo (devedor da obrigação), existe a necessidade de se realizar um procedimento administrativo denominado “lançamento tributário”. 17 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Com relação à essa atipicidade, ensina-nos Luciano Amaro4: [...] embora o cumprimento do dever de pagar não dependa sempre do lançamento, este é, em todas as situações, condição para que o sujeito ativo pratique atos no sentido de cobrar seu crédito. Por ser um crédito de natureza tributária, sempre estará sujeito a determinadas regras do Direito Tributário: constituição, suspensão, exclusão e extinção, criadas pela Legislação Tributária. Suspensão do Crédito Tributário A Lei confere ao sujeito passivo certos instrumentos que suspendem a exigibilidade do crédito tributário, ficando ele protegido de qualquer medida que a autoridade tributária possa utilizar para a satisfação desse crédito. Mas, quando suspensa a exigibilidade do crédito tributário, em concomitância, será suspenso o prazo de prescrição (prazo para o ajuizamento de ação de cobrança do tributo).Figura 2 Moratória A concessão da moratória dependerá de previsão legal do ente federativo competente em criar o tributo, que irá prever as hipóteses cabíveis, bem como delimitar sua formalização (Art. 152 CTN). 4 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11.ed. São Paulo: Saraiva. p. 363. 18 19 Para Luciano Amaro5, moratória consiste: [...] na prorrogação do prazo (ou na concessão de novo prazo, se já vencido o prazo original) para o cumprimento da obrigação. Se, por exemplo, em razão de calamidade pública, ou outro motivo legalmente definido (situação financeira do sujeito passivo etc.), o prazo para o pagamento é dilatado, o sujeito ativo é obrigado a respeitar o prazo adicional e, nesse período, fica impedido de exercer qualquer ato de cobrança que pudesse ser lastreado no inadimplemento do devedor. Depósito do Montante Integral Ocorre quando o sujeito passivo discorda do lançamento tributário que gerou a obrigação tributária, adotando como medida complementar uma ação judicial a ser proposta ou, ainda, um pedido de reconsideração pela Administração Pública em distinto processo administrativo, ao realizar o depósito do montante integral do crédito tributário em conflito. Essa medida procura evitar que, no caso de uma demanda judicial na qual o contribuinte venha a ser condenado a pagar, haja incidência de correção monetária e de juros moratórios sobre o crédito tributário. Aquele que faz o depósito não está realizando o pagamento, mas, sim, apresentando uma garantia de que o crédito foi pago, no caso de não ter reconhecida sua pretensão, quer no campo jurídico, quer no administrativo. Quanto ao depósito, muito bem resume Luciano Amaro6: Quem consigna quer pagar. Já o depositante não quer pagar, quer dis- cutir o débito. Reclamações e Recursos, nos Termos das Leis Reguladoras do Processo Tributário Administrativo O sujeito passivo, por força do Direito de Petição, garantido pelo Artigo 5º, Inciso XXXIV, alínea ‘a’, da Constituição Federal, pode se insurgir contra os atos do Fisco que julgue ilegais ou abusivos, sem que para tanto haja a necessidade de se propor ação judicial. CF Art 5º XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder; 5 Op. cit., p.367. 6 Op. cit., p. 370. 19 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias O próprio Código Tributário Nacional – CTN (Artigo 151, Inciso III) estabelece que as reclamações e os recursos administrativos criados na esfera de competência de cada ente federativo deverão acarretar a suspensão do crédito tributário. Concessão de Liminar em Mandado de Segurança ou de Liminar ou Tutela Antecipada em outras Ações Judiciais A Constituição Federal, em seu Artigo 5º, Incisos LXIX e LXX, prevê o Mandado de Segurança, individual e coletivo. CF Art 5º LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; Essa garantia constitucional visa a proteger as pessoas, físicas ou jurídicas, de atos ilegais ou abusivos praticados pelo Poder Público, inclusive na área fiscal, quando é líquido e certo o direito discutido. Presentes os requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris, o juiz poderá conceder liminar em tal processo. Essa liminar, nos termos do Artigo151, Inciso IV, do CTN, irá causar a suspensão da exigibilidade do tributo, visto que, em uma decisão de cognição restrita, verifica- -se a plausibilidade do alegado pelo impetrante. A Lei Complementar nº 104/01 veio a acrescentar, no mencionado Artigo do CTN, outra hipótese semelhante, ou seja, a constante do Inciso V, que se refere à con- cessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de Ação Judicial. Essa alteração se fez necessária em razão da evolução do Processo Civil, que aumentou o leque das chamadas Tutelas de Urgência, nelas possibilitando que liminares e tutelas antecipadas pudessem ser utilizadas em maior número de procedimentos, sempre que previstos os requisitos fixados em Lei. Da mesma forma que as liminares em Mandados de Segurança, nas hipóteses em que a Lei autoriza a tutela antecipada, o juiz, em face de uma restrita e não exauriente cognição sobre os fatos apresentados, verifica, em especial, a verossimilhança do alegado pelo autor da Ação, ou seja, em todas essas hipóteses, existe um aparente 20 21 direito do autor, que requer que haja a suspensão da exigibilidade do crédito, assim visando a que, durante o andamento da causa, não possa o Fisco exigir o crédito tributário discutido. Parcelamento O Artigo 155–A do Código Tributário Nacional – CTN, prevê a possibilidade da suspensão da exigibilidade do crédito tributário por intermédio do parcelamento. CTN Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabe- lecidas em lei específica. § 1° Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas. § 2° Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei, relativas à moratória. Deve-se destacar que o ingresso do sujeito passivo com o pedido de parcelamento, em muitos casos, representa uma denúncia espontânea. 21 UNIDADE Poder de Tributar e Repartir Receitas Tributárias Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Repartição Tributária das Receitas https://goo.gl/YFSa5B A Imunidade Tributária dos Templos de Qualquer Culto sob a Interpretação Constitucional do Supremo Tribunal Federal https://goo.gl/vDrG9K Constituição Federal de 1988 https://goo.gl/zaRrL Exclusão do Credito Tributário https://goo.gl/2s83td A Impugnação Administrativa como Hipótese de Suspensão do Crédito Tributário https://goo.gl/W5Yx5g 22 23 Referências AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11.ed. São Paulo Saraiva, ano 2015. ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência. 5.ed. São Paulo: Malheiros, 1997. BRASIL. ______. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 out. 1988. Senado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 05 de setembro de 2017. BRASIL. Código Tributário Nacional – CTN, de 26 out. 1966. Senado Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 05 de setembro de 2017. CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 28.ed. São Paulo: Malheiros, 2012. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 24.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. CHAVES, Fábio Coutinho. Planejamento Tributário na Pratica: Gestão Tributaria Aplicada. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2010. FABRETTI, Láudio Camargo. Código Tributário Nacional Comentado. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2005. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Obrigações (Parte Geral). São Paulo: Saraiva, 2008. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 13.ed. São Paulo: Malheiros, 1998. ________. Fato gerador da obrigação acessória. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 96, set. 2003. PEREIRA, Luciano de Almeida. Direito Tributário Simplificado. 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