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SAÚDE INTEGRAL DA MULHER I - CICLO I Descolamento prematuro da placenta (DPP) Definição ● O descolamento prematuro da placenta (DPP) é a separação intempestiva da placenta implantada no corpo do útero antes do nascimento do feto, em gestação de 20 ou mais semanas ● Separação da placenta da camada decidual a partir de 20 semanas até 36 semanas e 6 dias ■ < 20 semanas = aborto ● DPP incide em 1% das gestações ● É causa importante de sangramento vaginal na segunda metade da gravidez, especialmente entre 24 e 26 semanas. ● A mortalidade materna é de 0,4/1.000 casos, e a perinatal é de 12% (1/3 de todas as mortes perinatais) ● A mortalidade perinatal é consequência da asfixia intrauterina e da prematuridade ● 15 a 20% dos recém-nascidos podem apresentar sequelas neurológicas ● DPP -> principal causa de mortalidade para o bebê intrauterino ● Prematuridade -> principal causa de mortalidade pós nascimento ● Descolamento de placenta na periferia = sangramento intenso, vermelho vivo e rutilante, contração, hipertonia e dor do tipo cólica ○ Causa importante de sangramento vaginal na segunda metade da gravidez, especialmente entre 24 e 26 semanas. ● Descolamento de placenta central = ausência de sangramento, hipertonia, dor do tipo cólica e diminuição dos batimentos cardiofetais Fator de risco ● Descolamento prematuro de placenta em gestação anterior ○ Chance considerável (15-25%) ● Síndromes hipertensivas: Hipertensão, pré-eclâmpsia, ● Uso de cocaína (efeitos hipertensivos e vasoconstritores) ○ Qualquer causa de instabilidade da junção placenta com a decídua basal ● História do acidente em gravidez anterior, ● Trauma grande: acidente automobilístico, violência doméstica, queda de própria altura com trauma da barriga ○ Trauma pequeno -> causa trabalho de parto prematuro ● Tabagismo: todos os tipos ● Gravidez múltipla, ● Idade materna avançada (>35 anos) ● Obesidade: pessoa obesa é inflamada ● Mulheres negras ● Cicatriz em cavidade uterina (parto cesária, miomectomia, correção de septo uterino por histeroscopia, curetagem) ● Útero bicorno ● Ruptura prematura das membranas pré-termo (RPMP), placenta circunvalada, ● Infecção intra amniótica (corioamnionite), ○ Infecção de membranas ovulares (âmnio e cório) -> placenta infectada tem maior chance de descolamento ● Dengue, ● Polidrâmnio: líquido amniótico maior que o volume de referência (8-24cm) ● Gestação gemelar ● Doppler de artéria uterina anormal Quadro clínico DPP agudo ● Quadro clínico variável ○ Casos assintomáticos até morte fetal e gravidade materna ○ Inicialmente não tem o hematoma ● Hipertonia ● Dor ● Alteração do BCF (diminuído) ● Sangramento vermelho vivo rutilante (depois) ● Sintomas clássicos: ○ Sangramento vaginal ○ Dor abdominal ● O volume da hemorragia vaginal tem pouca correlação com o grau do DPP ● A extensão do descolamento está associada ao óbito fetal: separação > 50% -> natimortalidade ● Hipertonia uterina: pontual, acompanhada de contrações de elevada frequência e de baixa intensidade. ● Palpação: útero duro e doloroso ● Fatores adversos à vitabilidade fetal: diminuição da superfície de trocas placentárias, hipertonia uterina, hipotensão arterial, eventual toxemia associada ○ Deflagra sinais de sofrimento no feto; ○ Ou em caso de óbito, a ausência dos batimentos cardíacos. ● Cardiotocografia (CTG) revela traçados característicos de sofrimento fetal: desaceleração tardia, variabilidade reduzida, bradicardia (50% dos casos) ● 1º sinal clínico de DPP com hemorragia oculta e morte fetal = coagulopatia ○ Choque hipovolêmico materno ● No caso de necrose tubular (reversível) ou a cortical (irreversível), consequentes à hipovolemia e à CID -> oligúria e insuficiência renal aguda ● Toque no início do DPP: colo imaturo, longo e com dilatação mínima ○ Cervicodilatação e expulsão fetal ocorrem rapidamente ● A placenta, já descolada, é expelida logo, juntamente com o hematoma retroplacentário ● Na face materna = cratera característica ● Parto em alude: feto, placenta e páreas, expulsos em turbilhão, com coágulo apegado. ● Pós-parto: principalmente nas formas apopléticas -> hemorragias incoercíveis (atonia uterina e distúrbios da hemocoagulação) ● Sinais da discrasia (sangue vaginal que não coagula, hematomas nos locais de punção, gengivorragias) ● Diagnóstico da DPP aguda é clínico ● Desenvolvimento da sintomatologia do DPP é gradual e ocorre em algumas horas, acompanhando o aumento da área placentária descolada e a intensidade da hemorragia oculta (Serve para saber se a cesária deve ser de emergência ou pode nascer por via vaginal): SAÚDE INTEGRAL DA MULHER I - CICLO I ○ Grau 0 – assintomático: o diagnóstico é retrospectivo, pelo exame da placenta = hematoma retroplacentário ○ Grau 1 – leve: há sangramento vaginal, mas a paciente não relata dor ou age com discrição; mãe e feto estáveis ○ Grau 2 – intermediário: caracterizado por sangramento vaginal, dor abdominal intensa, hipertonia uterina; feto em sofrimento, mas vivo ○ Grau 3 – grave: associado ao óbito fetal. ■ Grau 3A = sem coagulopatia ■ Grau 3B = com coagulopatia. DDP crônico ● Perda de área de troca de nutrição ● Microdescolamentos devido ao aumento dos níveis pressóricos -> dor esporádica em cada pico hipertensivo ○ Área descolada e sofreu necrose e formou tecido cicatricial (deixou de ter troca de nutrientes) -> não tem repercussão fetal ○ Somatório das áreas = diminui superfície de troca -> repercussão fetal crônico ● Restrição de crescimento fetal = feto tem diminuição do potencial de crescimento (percentil) ○ Mecanismo hormonal deflagrado -> órgãos nobres recebem mais sangue (prioriza cérebro e coração), ■ Rins não são órgãos nobres por não serem funcionais, continuam filtrando e formando urina (líquido amniótico) ■ Pulmão produz fluido intrauterino -> parte do líquido amniótico ■ Rim filtra menos e por consequência tem diminuição do líquido amniótico = oligoidrâmnio (filtração renal diminuída -> produção de urina diminuída -> diminuição da quantidade de líquido amniótico) ● Visto ao USG ● Microáreas de sangramento não são vistas ao USG ○ Diagnóstico: anatomopatológico após nascimento ○ USG: acompanhamento da restrição de crescimento e oligodrâmnio. ● Não tem hipertonia, dor de leve intensidade (resolve com analgésico), não tem alteração de BCF, não tem sangramento ○ Placenta crônica pode evoluir para aguda = sintomatologia ● Conduta em caso de oligoidrâmnio: ○ Expectante = aguardar se menor que 34 semanas (acompanhar pelo USG) ○ Acima de 34 semanas = indicada a realização do parto ■ “Melhor que fique em condição adversa mais dentro do útero do que fazer cesárea pelo risco de prematuridade.” Patologia ● O sangue chega à zona de clivagem decíduo placentária e inicia a separação; vasos maternos se abrem e o espaço retroplacentário é invadido. ● O útero, que reage com hipertonia, aumenta a tensão no local da coleção sanguínea, provocando o descolamento de novas áreas. ● Hematoma retroplacentário: parte do sangue coagula, fica aprisionada atrás da placenta e é eliminada somente após o parto. ● Hemorragia externa: descola as membranas e flui para o exterior (80% dos casos) ● Hemorragia oculta: sangue fica totalmente retido (20% dos casos) ● Hemoâmnio: sangue pode alcançar a cavidade amniótica ● Raro: prolapso da placenta ● Apoplexia uteroplacentária ou útero de Couvelaire ○ Em 10 a 20% dos casos de DPP -> a hemorragia oculta `é intensa; as hemácias e o soro, provenientes do coágulo retroplacentário, são impulsionados pelo miométrio, em que dissociam o sistema de miofibrilas ● Útero, as tubas uterinas, os ovários e os ligamentos largos, à conta das efusões sanguíneas ou equimoses que se assestam sob a serosa, mostram coloração azulada marmórea característica ● Atonia uterina que se observa no pós-parto é proveniente da desorganização da estrutura miometrial ● DPP: decorre da hemorragia na interface deciduoplacentária ● A DPP pode ter a sua origem no primeiro trimestre da gravidez, pela placentação defeituosa (deficientea invasão trofoblástica, com remodelação incompleta das artérias espiraladas) ● O DPP é processo agudo -> ruptura das membranas no polidrâmnio ou após o parto do primeiro gemelar ● Descolamento > 50% = morte do feto (ocorre separação aguda da placenta que corta o suprimento fetal de O2 e nutrientes) ● DPP recente: presença de coágulo aderido à face materna ao exame da placenta delivrada ● DPP nos casos antigos: no local do descolamento há depósitos de fibrina, infartos e depressão = cratera ● Alta incidência de placenta circunvalada Tipos de descolamento prematuro da placenta (DPP): com hemorragia oculta (A) e com hemorragia externa (B). Modalidades anatomoclínicas do descolamento prematuro da placenta. A. Havendo solução de continuidade nas membranas, o sangue materno pode derramar-se na cavidade amniótica, configurando o hemoânimo. B. O hematoma retroplacentário descolou as membranas, acarretando o prolapso da placenta. SAÚDE INTEGRAL DA MULHER I - CICLO I Complicações da DPP Alterações renais ● DPP é a causa mais comum de necrose cortical aguda na gravidez ● Necrose tubular aguda (grau incompleto de necrose cortical aguda): provoca oligúria temporária Síndrome de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto) ● Complicação do DPP em casos com grande sangramento, choque e coagulação intravascular disseminada (CID) ● A adeno- hipófise sofre hipertrofia na gravidez, devido ao aumento das células lactóforas, produtoras de prolactina (PRL), pelo estímulo estrogênico, o que demanda maior afluxo sanguíneo. ● No pós-parto, a mulher tem agalactia, amenorreia e, com o tempo, insuficiência da suprarrenal e hipotireoidismo. ● A ressonância magnética (RM) mostra imagem característica de “sela vazia”. Alterações da hemocoagulação ● A cascata da coagulação é ativada pela liberação de tromboplastina (fator tecidual) na circulação materna, proveniente do hematoma, com o consumo dos fatores da coagulação determinando a CID. ● A CID (coagulação intravascular disseminada) está presente em casos graves (10% dos casos) -> leva ao óbito fetal Diagnóstico ● Clínico ou por meio de exame de imagem (USG ou RNM) ○ Agudo = diagnóstico clínico (inicialmente não tem sangramento) ○ USG = positivo em apenas 20% dos casos Clínico ● Quadro clínico: sangramento e dor abdominal, por vezes história de trauma ou RPMP. ● Diagnóstico diferencial -> afastar a placenta prévia Diagnósticos diferenciais: ● Trabalho de parto ● Placenta prévia ○ Diagnóstico diferencial = placenta prévia não tem alteração de BCF, não tem dor, não tem hipertonia, nem taquissistolia ■ Tem sangramento vermelho vivo rutilante ● Rotura uterina -> suspeitar se queda do BCF, bebê não palpável a manobra de leopold , dor intensa, evolui para óbito rapidamente USG /RNM USG ● Identificado em 25-50% dos casos ● Depende da extensão e da localização do coágulo, assim como da duração do acidente ● Localização mais frequente do hematoma = subcoriônica ● Na fase aguda = hematoma hiper/isoecóico comparado com a placenta ○ Placenta heterogênea e espessada (> 5 cm). ● Posteriormente, dentro de 1 semana, o hematoma torna-se hipoecoico e, após 2 semanas, sonolucente Principais locais do hematoma no DPP ● Separação > 50% ou coágulo > 50 ml oneram o prognóstico, determinando sofrimento e morte fetal RNM ● Diagnostica 100% dos casos ● Indicada nos casos de DPP crônico Rastreamento de trombofilia ● Mulheres com DPP sem causa conhecida -> rastreamento para trombofilia congênita ou adquirida. Tratamento ● Antes pedir exames: Tipagem sanguínea (imunoglobulina anti D se mãe Rh negativo), hemograma, coagulograma, fibrinogênio (> 400 = competente) ● Depende da extensão do DPP, do comprometimento materno e fetal e da idade da gravidez ● Parto vaginal se se mãe estável e bebê bem e se certeza que nascera antes de 20 min ● Mãe instável, feto não está bem e não nascera em 20 min = cesária de emergência ● DPP com feto vivo e periviável (≥ 23 semanas): interrupção da gravidez pela cesariana ○ Atonia uterina intratável pode indicar histerectomia subtotal ○ Procedimentos: massagem uterina, uso de ocitócicos (ocitocina, misoprostol) e “prova da sutura” inicia-se a síntese do miométrio e aguarda-se o resultado ● DPP grave com morte fetal ou feto inviável e mãe estável -> indicado o parto vaginal ○ Após a amniotomia, o útero se contrai vigorosamente e o parto progride de maneira muito rápida SAÚDE INTEGRAL DA MULHER I - CICLO I ○ Há risco iminente de coagulopatia e de choque hipovolêmico ○ Muitos casos de DPP estão associados à pré-eclâmpsia grave ○ Após o parto, a paciente deve ser monitorada pela grande incidência da atonia pós-parto ● Óbito fetal e mãe instável = cesariana de emergência ● Gestações pré-termo (< 34 semanas), quadro do DPP não é grave (“crônico”) e os estados materno e fetal estão estáveis -> conduta conservadora com rigorosa vigilância das condições maternas e fetais ○ Entre 24 e 34 semanas = corticoide para amadurecer o pulmão fetal, muitas vezes associado a tocolítico. ○ Hospitalização prolongada e monitoramento materno e fetal (CTG) ○ A RM seriada monitora a evolução do hematoma. ○ A alta da paciente poderá ser cogitada se o feto estiver em boas condições vitais. Trauma na gravidez ● No caso de mulheres que sofreram trauma na gravidez, como acidente grave de carro, em até 40% das vezes está associado o DPP ● Todas as mulheres envolvidas em trauma devem ter seu feto monitorado por pelo menos 4h ● O traçado anormal é indicação de DPP e de interrupção da gravidez DDP agudo não tem medidas conservadoras Prognóstico ● Riscos para mãe = hemorragia, consumo de todos os fatores de coagulação, choque hipovolêmico -> CIVD ● Feto = risco de óbito ● Alta morbimortalidade do binômio feto-mãe durante o período gestacional ○ Período pós natal = parto prematuro Fetal ● 10% da natimortalidade ● A mortalidade perinatal é de 119 por 1.000 nascimentos, especialmente pelo parto pré-termo, que incide em 10%. ● Cerca de 34% dos que sobrevivem desenvolvem leucomalácia periventricular ou hemorragia intraventricular. Materno ● Cerca de 20% das mortes maternas, por hemorragia, são decorrentes do DPP ● Agravam o prognóstico antecedentes toxêmicos, CID, choque e insuficiência renal aguda. Aconselhamento pós concepcional ● Mulheres com DPP apresentam risco 10 vezes maior de repetir o acidente na gestação seguinte ● Aquelas que fumam ou fazem uso de cocaína devem ser aconselhadas a parar ● Controlar a hipertensão ● O DPP é a principal causa de CID na gravidez. ● A mortalidade materna no DPP é de 1 a 3% ● A mortalidade perinatal é de 12% (1/3 de todas as mortes perinatais) ● Em 80% dos casos de DPP, a hemorragia é externa; nos 20% restantes, é oculta. ● O diagnóstico do DPP é essencialmente clínico, e o diferencial será feito essencialmente com a placenta prévia. ● Nos casos de DPP com hemorragia oculta, o sangue pode dissociar o sistema de miofibrilas do miométrio, configurando o quadro da apoplexia uteroplacentária (útero de Couvelaire). ● Em apenas 25 a 50% dos casos a ultrassonografia revela hematoma retroplacentário. ● Quando a área da placenta descolada for > 50%, a morte fetal será inevitável. ● No DPP com o feto morto, indica-se a interrupção da gravidez pela amniotomia. ● No DPP com o feto vivo, a interrupção da gravidez será feita pela operação cesariana. ● Em gestações de menos de 34 semanas, com mãe e feto em boas condições (DPP “crônico”), pode ser adotada a conduta conservadora.
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