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HIGIENE E CONTROLE SANITÁRIO DE ALIMENTOS Ramara Kadija Fonseca Santos Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância dos sistemas de gestão da qualidade Codex Alimentarius e APPCC. Descrever o Codex Alimentarius e suas aplicações em unidades de alimentação e nutrição. Analisar os princípios do sistema APPCC e sua utilização em unidades de alimentação e nutrição. Introdução A busca por segurança alimentar e nutricional fez com que Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) buscassem por produção de alimentos nutricionalmente adequados e sanitariamente seguros. Nesse contexto, países se reúnem no intuito de unificar propostas para a oferta de segu- rança alimentar e nutricional e normatizar condutas para que esse feito seja atingido. Além disso, a percepção quanto à competitividade de mercado nacional e internacional fez com que as UANs adequassem suas etapas de produção a normas estabelecidas e reconhecidas mundialmente. Neste capítulo, você vai conhecer dois sistemas importantes para o adequado fluxo de produção nas UANs: os sistemas de gestão de qualidade Codex Alimentarius e o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). 1 Sistemas de gestão da qualidade O aumento do quantitativo populacional e a necessidade de produção de insumos alimentares em grande escala fez com que a indústria alimentícia buscasse alta qualidade sanitária nesse processo. A necessidade de desenvolver sistemas de gestão de qualidade de produção cresceu concomitantemente, uma vez que a indústria alimentícia internacional mobiliza milhões de dólares anuais, ao mesmo tempo em que exige dos produtores de alimentos excelência nos produtos ofertados. Nesse sentido, o comitê Codex Alimentarius busca oferecer a todos um alimento seguro e de boa qualidade, sendo norteador nos debates nesse âmbito em todo o mundo. Ademais, é desenvolvido com base em consensos científicos, o que é ideal para que possa servir de base a leis e diretrizes de produção de alimentos em nível internacional e nacional. O comitê é composto por 185 países, cada qual com direito a um voto. Seu comitê executivo possui um presidente e sete membros de diferentes continentes. Existem ainda os comitês regionais na Ásia, Europa, Oriente, África, América Latina e Caribe, América do Norte e Pacífico Sul Ocidental. A conformação estrutural desse sistema é composta por comitês, que têm como objetivo estabelecer as normas gerais da entidade. O Codex possui nove comitês de assuntos gerais como: Comitê Codex sobre Resíduos de Pesticidas Comitê Codex sobre Sistemas de Inspeção e Certificação da Importação e Exportação de Alimentos Comitê Codex sobre Resíduos de Drogas Veterinárias em Animais Comitê Codex sobre Nutrição e Alimentos para Dietas Especiais Comitê Codex sobre Rotulagem de Alimentos Comitê Codex sobre Métodos de Análise e Amostragem Comitê Codex sobre Princípios Gerais Comitê Codex sobre Aditivos e Contaminantes Alimentares Comitê Codex sobre Higiene de Alimentos Além disso, conta com outros nove comitês dedicados a produtos: Comitê Codex sobre Frutas e Hortaliças Processadas Comitê Codex sobre Óleos e Gorduras Comitê Codex sobre Frutas e Hortaliças Frescas Comitê Codex sobre Produtos de Cacau e Chocolate Comitê Codex sobre Pescado e Produtos da Pesca Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC2 Comitê Codex sobre Açúcares Comitê Codex sobre Leite e Produtos Lácteos Comitê Codex sobre Higiene da Carne Comitê Codex sobre Cereais, Legumes e Leguminosas Forças-tarefas foram estipuladas para completar e ampliar, por meio de estudos, o trabalho já realizado pelos comitês. São três forças-tarefas estipu- ladas: uma sobre alimentos oriundos da biotecnologia, sendo o Japão o país anfitrião; outra sobre alimentação animal, cujo país anfitrião é a Dinamarca, escolhido por ser o primeiro a proibir o uso de antibióticos na ração de animais de produção; e a terceira para sucos de frutas e hortaliças, cuja sede é Brasil. O Codex Alimentarius foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1963, no intuito de proteger a saúde dos consumidores por meio da implementação de práticas adequadas no comércio nacional e internacional de alimentos. No Codex Alimentarius, é possível obter informações sobre os melhores padrões para os principais alimentos, em diferentes graus de processamento (processados, semiprocessados ou crus), bem como para sua distribuição ao consumidor, informações essas que têm como objetivo orientar e promover a elaboração e o estabelecimento de definições e requisitos de alimentos para auxiliar na harmonização e facilitar o comércio internacional (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019a). O Codex Alimentarius é “[...] uma coleção de padrões, diretrizes e códigos de prática que os governos podem optar por usar para garantir a segurança alimentar, a qualidade e o comércio justo” (WORLD HEALTH ORGANI- ZATION, 2019a, documento on-line). Quando esses padrões são seguidos, o consumidor tem garantia de um produto de qualidade. Nos primórdios, o Codex era um único componente do Programa Conjunto de Padrões Alimentares da FAO/OMS. Porém, com o passar dos anos e com avanço das pesquisas inerentes ao tema, o Codex e os pareceres científicos foram gerenciados separadamente, sendo as análises coordenadas pelos secretários da OMS e da FAO. Segundo Costa Junior (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019a, document on-line): O processo de desenvolvimento dos padrões do Codex exige a participação robusta de todos os atores envolvidos na cadeia de produção de alimentos. Quando os países membros preparam suas posições e as delegações se reú- nem durante as sessões do Codex, as negociações multilaterais servem para garantir que os textos do Codex possam ser utilizados de maneira prática. 3Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC Dentre as ações do Codex, destaca-se a implementação do Dia Mundial da Segurança Alimentar em 7 de junho, promovendo o conceito de segurança alimentar por todos os cantos do mundo e estimulando diferentes países a aderirem ao projeto. As normas do Codex e textos relacionados não substituem ou alteram legis- lações nacionais e são revisados de acordo com procedimentos próprios, após sugestão dos membros da comissão Codex com base em novas informações científicas e outras informações relevantes. O sistema APPCC, sugerido pelo Codex Alimentarius, tem sido alvo de implementação em massa nas grandes empresas alimentícias. Assim, o objetivo dessas empresas é não apenas oferecer um produto saboroso e apresentável, mas também sanitariamente seguro aos seus clientes. O sistema APPCC é baseado em sete princípios, que vão desde a identificação de perigos até a implementação de medidas de monitoramento de correção desses perigos. Assim, essa ferramenta é capaz de antever os problemas que podem surgir ao longo de uma produção de alimentos e preveni-los. Ademais, o sistema APPCC proporciona ao gestor uma visão holística do fluxo de produção da sua empresa, ajudando-o a perceber perigos presentes já nas etapas iniciais, pois o recebimento de matéria-prima pode repercutir negativamente nas etapas finais e na distribuição do alimento pronto. Sendo assim, torna-se uma ferramenta de suma importância para a redução dos custos e maior lucratividade na indústria alimentícia. No Brasil, mediante a publicação da Portaria nº. 46 do Ministério da Agri- cultura e Abastecimento, em 10 de fevereiro de 1998, ficou obrigatória a implementação gradativa do sistema APPCC na indústria de alimentos de origem animal (BRASIL, 1998). O sistema, além de ser considerado de baixocusto, também atende a normas nacionais e internacionais, o que faz com que seja considerado uma ferramenta segura e de abrangência internacional. O Codex Alimentarius publicou seu plano estratégico para 2020–2025, estabelecendo missão, visão e metas, tendo como prioridade a segurança e qualidade dos alimentos no intuito de proteger a saúde do consumidor e garantir práticas justas no comércio alimentar. Para ler este plano estratégico na íntegra (em inglês), consulte sua referência completa na seção Leituras Recomendadas, ao fim deste capítulo. Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC4 2 Aplicação do Codex Alimentarius em UANs O comércio de alimentos movimentou cerca de US$ 1,6 trilhão em 2016, sendo que os países em desenvolvimento contribuíram de maneira signifi cativa para essa expansão, uma vez que nações de baixa renda exportam principalmente produtos vegetais como frutas, nozes, café e chá, enquanto importam cereais, oleaginosas e alimentos e bebidas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019a). Observa-se, portanto, que a baixa qualidade dos produtos exportados por países de baixa renda pode comprometer um mercado altamente promissor e responsável por faixa significativa da economia mundial. De fato, uma baixa qualidade acaba sendo reportada quando países em desenvolvimento não cumprirem as normas de segurança do país importador, ação considerada discriminatória pelo comitê no que diz respeito a rejeições/detenções nas fronteiras do Codex. O papel do Codex no contexto da produção e comercialização de produtos alimentícios é de suma importância, uma vez que garante ao mesmo tempo produtos de qualidade e práticas comerciais mais justas. No contexto da higiene dos alimentos, o Codex busca promover a compreensão de como regras e regulamentos sobre higiene alimentar são desenvolvidos e aplicados, abrangendo práticas de higiene desde a produção primária até o consumo final e principais controles sanitários em cada estágio de produção. O Codex Alimentarius entende que a doenças transmitidas por alimen- tos são, de um lado, desagradáveis a letais e, de outro, podem prejudicar o comércio e a economia. Sendo assim, todos os participantes da cadeia de produção de alimentos (agricultores e produtores, fabricantes e processadores, manipuladores de alimentos e consumidores) são responsáveis por garantir um alimento seguro. Seguindo a cadeia alimentar, o Codex Alimentarius propõe funções es- pecíficas para o governo, a indústria e os consumidores. Ao governo cabe (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009): proteger adequadamente os consumidores de doenças ou ferimentos causados por alimentos; considerar a vulnerabilidade da população ou de diferentes grupos dentro da população; garantir que os alimentos sejam adequados ao consumo humano; manter a confiança nos alimentos comercializados internacionalmente; fornecer programas de educação em saúde que comuniquem efetiva- mente os princípios de higiene alimentar à indústria e aos consumidores. 5Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC À indústria cabe: fornecer alimentos seguros e adequados ao consumo; garantir que os consumidores tenham informações claras e de fácil com- preensão, via rotulagem e outros meios apropriados, para permitir que protejam seus alimentos da contaminação e crescimento/sobrevivência de patógenos transmitidos por alimentos, armazenando, manipulando e preparando-os corretamente; manter a confiança em alimentos comercializados internacionalmente. Por sua vez, os consumidores devem reconhecer seu papel, seguindo ins- truções relevantes e aplicando medidas adequadas de higiene alimentar. Além disso, o Codex Alimentarius propõe controles específicos de riscos alimentares nos seguintes elementos de operações industriais: aspectos-chave dos sistemas de controle de higiene, requisitos de materiais recebidos, em- balagem, água, gerenciamento e supervisão, documentação e registros e procedimentos de recall (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019b). O conceito de segurança alimentar vem se adequando às novas características da população com o passar dos anos. Sendo assim, para conhecer o novo conceito de segurança alimentar publicado em 2017 pelo Ministério da Saúde, consulte a referência completa na seção Leituras Recomentadas, ao fim deste capítulo. 3 Princípios e aplicação do APPCC em UANs Como já mencionado, o Codex Alimentarius sugere a implementação do sistema APPCC. No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº. 46/1998 (BRASIL, 1998), determina que estabelecimentos que prestam ser- viços no setor de alimentação precisam, em caráter obrigatório, implementar o sistema APPCC. O sistema APPCC apresenta como vantagem o baixo custo para sua implan- tação. Porém, requisitos básicos como água corrente potável, encanamento, sanitários e sistema funcional de esgoto são difíceis de ser atendidos em países em desenvolvimento, o que dificulta a implementação desse sistema. Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC6 Além disso, para que seja possível obter resultados significativos, após a implementação do sistema APPCC é necessário que a gerência da UAN esteja comprometida a empenhar todas as pessoas e disponibilizar todos os recursos necessários. Ademais, é necessário que seja desenvolvido e implementado o sistema de monitoramento de temperatura em todas fases da produção do alimento. O sistema APPCC tem como base sete princípios (UBARANA, 2020): 1. realizar análise de risco; 2. determinar os Pontos Críticos de Controle (PCC); 3. estabelecer os limites críticos; 4. estabelecer o sistema de monitoramento dos PCCs; 5. estabelecer ação corretiva a ser tomada quando o monitoramento indicar que um PCC específico não está sob controle; 6. estabelecer procedimentos de verificação para confirmar que o sistema APPCC está funcionando de maneira eficaz; 7. estabelecer documentação referente a todos os procedimentos e registros adequados a esses princípios e sua aplicação. O primeiro passo para a implementação do sistema APPCC numa UAN é a formação de uma equipe multidisciplinar, a qual deve ser primeiramente treinada. Uma equipe multidisciplinar descapacitada implicará em dificuldade para implantação do sistema. Além disso, um escopo do plano APPCC deve ser apresentado nessa etapa (UBARANA, 2020) . O segundo passo é a descrição do produto a ser produzido. Nesse momento, deve ser elaborada uma descrição completa do produto, incluindo informações relevantes, como: composição, estrutura físico-química (incluindo atividade de água, pH, etc.), tratamento térmico, congelamento, salmoura, embalagem, durabilidade, condições de armazenamento e método de distribuição. Nas empresas com vários produtos, é necessário agrupar produtos com caracte- rísticas semelhantes ou nas mesmas etapas de processamento para fins de desenvolvimento do plano HACCP. O terceiro passo é identificar o uso pretendido, o qual é baseado nos usos esperados do produto pelo usuário final e consumidor. O quarto passo é a construção de um diagrama de fluxo de construção, que deve ser elaborado no intuito de abranger todas as etapas de produção. Para produtos diferentes, mas com etapas de fabricação semelhantes, o uso do mesmo diagrama de fluxo é recomendado. 7Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC O quinto passo é confirmar o local do diagrama de fluxo. Essa etapa deve ser realizada por pessoas devidamente capacitadas. Nesse momento, devem ser tomadas medidas para confirmar a operação de processamento frente ao diagrama de fluxo durante todos os estágios e horas de operação e alterar o diagrama de fluxo quando apropriado. O sexto passo é crucial para o bom funcionamento do sistema. Nesse momento, deve-se listar todos os potenciais riscos de cada etapa, bem como considerar as medidasadotadas para controlar os riscos identificados. Ao conduzir a análise de riscos, é preciso determinar: a provável ocorrência e a gravidade de seus efeitos adversos à saúde; a avaliação qualitativa e/ou quantitativa da presença de riscos; a sobrevivência ou multiplicação de mi- crorganismos preocupantes; e a produção ou persistência de toxinas, produtos químicos ou agentes físicos em alimentos. A partir daí, devem ser aplicadas as medidas de controle relevantes para mitigar cada risco identificado. Vale ressaltar que muitas vezes um único risco exige diversas medidas de controle, e, vice-versa, às vezes diversos riscos podem ser mitigados por uma única medida de controle. O sétimo passo é determinar os pontos críticos, podendo haver mais de um PCC. Elaborar uma árvore de decisão pode ser uma estratégia para que esses pontos críticos sejam estabelecidos. Quando um perigo é identificado em uma etapa crítica e nenhuma medida de controle existe nessa etapa ou em qualquer outra posterior, recomenda-se a modificação do processo desta etapa ou em um estágio anterior ou posterior para que seja incluída uma medida de controle. O oitavo passo é estabelecer os limites críticos dos respectivos PCCs. Os limites críticos devem ser específicos para cada PCC, podendo ser identificado mais de um limite crítico a cada etapa. Normalmente, adota-se como critério para estabelecer o limite crítico atividades como medições de temperatura, tempo, nível de umidade, pH, atividade de água, cloro disponível e parâmetros sensoriais, como aparência e textura visuais. Todos os limites críticos devem ser mensuráveis. O nono passo é estabelecer uma maneira de monitoramento para cada ponto crítico de controle identificado. O monitoramento deve ser capaz de identificar perda de controle do ponto crítico previamente identificado, além de informar a tempo de fazer ajustes para garantir o controle do processo e impedir a violação dos limites críticos. As medições físicas e químicas são preferidas aos testes microbiológicos, uma vez que podem ser feitas de maneira rápida e indicar o controle microbiológico do produto. Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC8 O décimo passo é estabelecer as ações corretivas, as quais devem ser específicas e desenvolvidas para cada PCC. O procedimento escolhido deve ser devidamente documentado. O décimo primeiro passo consiste em estabelecer procedimentos de ve- rificação, que podem ser testes de verificação e auditoria. A frequência da verificação deve ser suficiente para confirmar que o sistema APPCC está fun- cionando de maneira eficaz. A verificação deve ser realizada por profissional capacitado e que não seja o responsável pela execução das ações corretivas e de monitoramento. O décimo segundo passo consiste em estabelecer a documentação e a ma- nutenção dos registros. Todo o sistema deve ser documentado e a manutenção eficiente e precisa de registros é essencial para a aplicação de um sistema APPCC. Entre os documentos envolvido nesse passo, temos a análise de risco, a determinação do PCC e a determinação do limite crítico. Como exemplos de registro, temos as atividades de monitoramento do PCC, desvios e ações corretivas associadas, procedimentos de verificação executados e modificações para o plano APPCC. O número de riscos que podem ocorrer em cada etapa é extenso. Porém, na prática, os principais riscos ocorrem nas seguintes etapas: recebimento de matéria-prima contaminada; forma de armazenamento, uma vez que favorece a proliferação de microrganismos; descongelamento, haja vista que contribui para multiplicação de mi- crorganismos e contaminação de superfícies; pré-preparo, etapa na qual ocorre multiplicação de microrganismos, contaminação cruzada, por parte do manipulador, superfícies, utensílios e equipamentos, bem como por ingredientes; preparo, etapa na qual evita-se a sobrevivência de células deteriorantes e patógenas; montagem, em que pode ocorrer contaminação pelo manipulador, ban- cadas e utensílios; espera para distribuição e distribuição, que também favorecem a mul- tiplicação de agentes deteriorantes e patógenos. Atenção especial deve ser dada à ação corretiva estipulada. O funcionário responsável deve ser capaz de identificar quando a ação não foi capaz de atingir seu objetivo, para que medidas possam ser tomadas. Além disso, a análise periódica do sistema APPCC deve ser realizada para averiguar se ele está 9Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC funcionando. Essa análise se dá por meio de reuniões com o pessoal da linha de trabalho e seus supervisores. Acima de tudo, é vital necessária a cooperação entre os produtores primários, indústrias, grupos comerciais, consumidores e autoridades é para o adequado funcionamento do sistema APPCC. O Codex Alimentarius conceitua aspectos importantes para compreensão da sua importância e da implementação do sistema APPCC. Eis a seguir os principais conceitos elaborados pelo Codex (WORLD HEALTH ORGANI- ZATION, 2009): Limpeza — remoção de sujeira, resíduos de alimentos, sujeira, graxa ou outros objetos desagradáveis. Contaminante — qualquer agente biológico ou químico, matéria es- tranha ou outras substâncias não adicionadas intencionalmente aos alimentos que possam comprometer a segurança ou a adequação dos alimentos. Contaminação — introdução ou ocorrência de um contaminante em alimentos ou ambiente alimentar. Desinfecção — redução, por meio de agentes químicos e/ou métodos físicos, do número de microrganismos no ambiente a um nível que não comprometa a segurança ou a adequação dos alimentos. Estabelecimento — qualquer edifício ou área em que os alimentos sejam manuseados e os arredores sob o controle da mesma gerência. Higiene alimentar — todas as condições e medidas necessárias para garantir a segurança e a adequação dos alimentos em todas as etapas da cadeia alimentar. Perigo — agente biológico, químico ou físico em alimento com potencial para causar um efeito adverso à saúde. Manipulação de alimentos — qualquer pessoa que manipule diretamente alimentos, equipamentos e utensílios alimentares ou superfícies de contato com alimentos e não embalados; portanto, espera-se que cumpra os requisitos de higiene alimentar. Segurança alimentar — garantia de que os alimentos não causarão danos ao consumidor quando forem preparados e/ou consumidos de acordo com o uso pretendido. Adequação dos alimentos — garantia de que os alimentos são aceitáveis para consumo humano de acordo com o uso pretendido. Produção primária — etapas da cadeia alimentar que incluem, colheita, abate, ordenha, pesca. Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC10 Uma UAN com produção diária de mil almoços busca aperfeiçoamento da produção para poder ampliar a clientela. Assim, percebeu a necessidade da implementação do sistema APPCC para garantia da produção de alimentos de melhor qualidade higiênico- -sanitária. Em primeira instância, os funcionários foram treinados para implementar o sistema, os PCCs foram estabelecidos e as medidas de correção foram previstas. A etapa de recebimento da matéria-prima foi considerada um PCC, já que preparações específicas (como sobremesa) eram elaboradas com as matérias-primas cruas ou minimamente processadas. Assim, um protocolo para recebimento de matéria-prima foi estabelecido, a fim de reduzir os perigos presentes nessa etapa, ficando definido que: só poderiam ser recebidas matérias-primas secas com embalagens inócuas, dentro do prazo de validade, que tivessem sido transportadas em meio de transporte próprio e com entregadores atendendo a todos os critérios básicos de higiene pessoal. A equipe se reúne periodicamente para rever as estratégias do sistema. Após a implementação, a produção foi otimizada e a qualidade do produto garantida,colocando a empresa em condições para ampliação da clientela. BRASIL. Portaria nº. 46, de 10 de fevereiro de 1998. Institui o sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle: APPCC a ser implantado nas indústrias de produtos de origem animal. Diário Oficial da União, Brasília, 16 mar. 1998. Disponível em: https:// www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/PRT_046_10_02_1998_MANUAL_GE- NERICO_DE_PROCEDIMENTOS_APPCCID-f4POhN0ufV.pdf. Acesso em: 28 abr. 2020. UBARANA, F. Determinação de PCC. Food Safety Brazil, 2012. Disponível em: https:// foodsafetybrazil.org/determinacao-de-pcc/. Acesso em: 28 abr. 2020. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Codex 2019: the year of food satefy. Rome: WHO/ FAO, 2019a. (E-book). WORLD HEALTH ORGANIZATION. Codex alimentarius: food hygiene. 4. ed. Rome: WHO/ FAO, 2009. (E-book). WORLD HEALTH ORGANIZATION. Codex strategic plan 2020–2025. Geneva: WHO/FAO, 2019b. (E-book). 11Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Leituras recomendadas ABREU, E. S. de; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. de S. Gestão de unidades de alimentação e nutrição um modo de fazer. 6. ed. São Paulo: Metha, 2016. MACHADO, R. L. A. Conceitos. 2017. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/consea/ acesso-a-informacao/institucional/conceitos. Acesso em: 28 abr. 2020. MACHADO, R. L. A. Direito humano à alimentação adequada. 2017. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/consea/acesso-a-informacao/institucional/conceitos/ direito-humano-a-alimentacao-adequada. Acesso em: 28 abr. 2020. UNITED STATES DEPARTAMENT OF AGRICULTURE. The Codex Alimentarius Commission and the United States Codex Program. [2018]. Disponível em: https://www.usda.gov/sites/ default/files/documents/codex-at-a-glance.pdf. Acesso em: 28 abr. 2020. Ferramentas de qualidade e controle sanitário dos alimentos: Codex Alimentarius e APPCC12