Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Laísa Dinelli Schiaveto Insuficiência Cardíaca DEFINIÇÃO A insuficiência cardíaca (IC) compreende uma síndrome que torna o coração incapaz de ofertar oxigênio em taxa adequada aos tecidos ou o faz à custa de elevação da sua pressão de enchimento (pré-carga). Geralmente, resulta de uma disfunção estrutural ou funcional do coração, que compromete a capacidade de enchimento ou de ejeção de sangue. EPIDEMIOLOGIA • Alta prevalência e morbimortalidade; • Importante e crescente problema de saúde mundial; • No Brasil, estima-se há cerca de 300.000 internações, sendo a primeira causa de internação no SUS, sobretudo em pacientes acima de 60 anos de idade; • Incidência e prevalência aumentam com o crescimento da população > dos 65 anos. ETIOLOGIA • Doenças Cardiovasculares: - HAS: associada a hipertrofia ventricular e a fração de ejeção preservada. - Aterosclerose; - Infarto agudo do miocárdio; - Cardiomiopatia isquêmica: sobretudo na presença de fatores de risco, angina ou disfunção segmentar. - Doenças das válvulas cardíacas; - Doenças congênitas. • Cardiomiopatias Primárias: - Genética: hipertrófica e displasia arritmogênica de VD. - Mista: restritiva e dilatada. - Adquirida: miocardite aguda ou crônica, toxinas, infecção, entre outras. • Cardiomiopatias Secundárias: - Infiltrativa: amiloidose, sarcoidose e hemocromatose. - Toxicidade: álcool, cocaína, metais pesados, microelementos (mercúrio, cobalto e arsênico) e medicamentos (bloqueadores do canal de cálcio e agentes citotóxicos). - Endomiocárdica: endomiocardiofibrose e síndrome hipereosinofílica (endocardite de Loeffler). - Endócrina: diabetes, hipertireoidismo, hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, síndrome de Cushing, insuficiência adrenal, hipersecreção de GH e feocromocitoma. - Nutricional: beribéri, carnitina, kwashiokor, escorbuto, selênio, caquexia e obesidade. - Auto-Imune: LES, esclerodermia, artrite reumatoide e poliarterite nodosa. - Distúrbio Hidroeletrolítico: hipocalcemia e hipomagnesemia. - Doença de Chagas. - Outras: periparto, miocardiopatia do HIV e doença renal crônica. FISIOPATOLOGIA Laísa Dinelli Schiaveto 1. INOTROPISMO: Disfunção cardíaca, que acarreta na diminuição do débito cardíaco, devido a contratilidade inadequada e vasoconstrição periférica. 2. MODELO NEURO-HORMONAL: Reconhece que um evento inicial, como IAM ou HAS, resulta na queda da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e na queda do débito cardíaco, dando início à síndrome da IC. O desenvolvimento da IC resulta na ativação de vários sistemas neuro-hormonais importantes, como o Sistema Renina Angiotensina- Aldosterona (SRAA) e o Sistema Nervoso Simpático (SNS), que desempenham papel importante central na fisiopatologia. Esses sistemas ativados são responsáveis pelo caráter progressivo da doença e pela alta mortalidade dos pacientes. Os neuro-hormônios envolvidos incluem angiotensina II, norepinefrina, aldosterona, peptídeos natriuréticos, vasopressina e endotelina. SNS: - Aumento da frequência cardíaca; - Estimulação do SRAA; - Down-regulation de receptores beta- adrenérgicos. SRAA (vasoconstritor poderoso): - Aumento da aldosterona; - Aumento da endotelina: vasoconstritor poderoso, que estimula a hipertrofia dos cardiomiócitos e diminui a produção de NO; - SRAA tissular: age na remodelação ventricular; - Aumenta ação da ECA: degrada bradicinina. - Aumento de citocinas: aumento de TNF-alfa (aumento do tônus vascular e diminuição de NO); - BNP e NT-pro-BNP diminuem a secreção de aldosterona, promovendo vasodilatação e promove natriurese. OBS.: A vasopressina tem papel pouco importante; age na redução da supressão no centro vasomotor na ICC leva a secreção hipofisária de ADH, que também é facilitada pelo aumento de catecolaminas e angiotensina II. Independentemente do tipo de agressão miocárdica, após o declínio da função de bomba cardíaca, a consequência será a ativação de vários mecanismos, ditos compensatórios. Esse processo é inicialmente adaptativo, servindo para restaurar o DC, permitindo que o paciente permaneça assintomático; no entanto, em longo prazo, a ativação sustentada desses sistemas pode causar lesão ventricular secundária com remodelamento adverso e subsequente descompensação cardíaca. RESUMINDO PONTOS IMPORTANTES: 1. Aumento excessivo da pré-carga, devido à retenção de H2O e Na+, causando estreitamento das fibras miocárdicas/dilatação, dificultando a contração cardíaca e congestão pulmonar. 2. Aumento excessivo da pós-carga faz com que o coração necessite fazer mais força para ejetar o sangue do ventrículo, devido ao aumento da RVP, ocasionando uma sobrecarga de VE e hipertrofia. 3. Por fim, sem tratamento, ocorre fibrose e remodelamento cardíaco, diminuindo a contratilidade e morte. CLASSIFICAÇÃO 1. DURAÇÃO • IC AGUDA: < 6 meses. • IC CRÔNICA: > 6 meses. Laísa Dinelli Schiaveto 2. ANATÔMICA • IC ESQUERDA: sinais e sintomas de congestão pulmonar. - Dispneia aos esforços; - Tosse noturna; - Dispneia paroxística noturna; - Ortopneia; - Crepitações pulmonares. • IC DIREITA: sinais e sintomas de congestão sistêmica. - Estase jugular; - Edema de MMII; - Hepatomegalia dolorosa; - Ascite. • MISTA: conjunto das características da IC esquerda e direita. 3. DÉBITO CARDÍACO • ALTO DÉBITO: perfusão aumentada da pele. • BAIXO DÉBITO: sinais de má perfusão (pele fria e sudorese) e congestão. 4. FRAÇÃO DE EJEÇÃO • SISTÓLICA: fração de ejeção do VE/VD é comprometida. • DIASTÓLICA: fração de ejeção do VE/VD não é comprometida. 5. CLASSE FUNCIONAL • CLASSE I: paciente com doença cardíaca, mas sem limitação para atividade físicas habituais; assintomático; mortalidade em 5%. • CLASSE II: paciente com leve limitação para atividades físicas habituais; assintomático em repouso e dispneia aos moderados esforços; mortalidade em 10%. • CLASSE III: paciente com grande limitação para atividades físicas habituais; assintomático em repouso e dispneia aos pequenos esforços; mortalidade em 30%. • CLASSE IV: paciente sintomático com qualquer atividade e ao repouso; dispneia em repouso; mortalidade em 50-60%. 6. ESTÁGIOS • ESTÁGIO A: alto risco para IC (HAS, DM, doença coronariana, alcoolismo, doença reumática e história familiar) e ausência cardiopatia estrutural ou sintomas de IC. - Objetivo: prevenção da lesão. - Tratamento: tratar HAS e DM; atividade física; hábitos saudáveis; cessação do tabagismo. • ESTÁGIO B: cardiopatia estrutural e ausência sintomas de IC. - Objetivo: evitar progressão da lesão e iniciar tratamento específico. - Tratamento: todas as medidas do estágio A; IECA; betabloqueador. • ESTÁGIO C: cardiopatia estrutural e presença de sintomas de IC. - Objetivo: tratamento e associação com sintomáticos. - Tratamento: todas as medidas do estágio A; IECA; betabloqueador; diurético; digoxina. • ESTÁGIO D: IC refratária. - Objetivo: necessidade de intervenção especializada. - Tratamento: todas as medidas do estágio A, B e C; restrição de sódio; ressincronizador; ionotrópico/ vasodilatador EV; transplante cardíaco; cuidados paliativos. Drogas Sintomáticas Diuréticos Digitálicos Drogas que reduzem a Mortalidade IECAs BRAs Betabloqueadores Antagonistas de aldosterona OBS.: Somente pode ser usado os seguintes betabloqueadores: carvediol, metoprolol e bisoprolol. 7. ESTABILIDADE • COMPENSADA: quando não há sinais e/ou sintomas. • DESCOMPENSADA: quando há o aparecimento de sinais e/ou sintomas, como edema ou hipoperfusão ou hipotensão, que determinam nova estratégia terapêutica. Laísa Dinelli Schiaveto • PERSISTENTE DESCOMPENSADA: quando há persistência de sinais e/ou sintomas. 8. PERFIL HEMODINÂMICO É baseado a partir da presençade congestão e hipoperfusão. • SECO: sem sinais de congestão. • ÚMIDO: com sinais de congestão. • QUENTE: com boa perfusão. • FRIO: com má perfusão. 9. DISTÚRBIO MECÂNICO • DISFUNÇÃO MECÂNICA: estenose aórtica, estenose mitral, insuficiência aórtica ou insuficiência mitral. • OBSTRUÇÃO: TEP agudo ou crônico. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM 1. CRITÉRIOS MAIORES: • Dispneia paroxística noturna; • Distensão das veias do pescoço; • Estertores pulmonares; • Cardiomegalia na radiografia de tórax; • Edema pulmonar agudo; • Ritmo de galope (B3); • Pressão venosa aumentada (> 16 cmH2O); • Refluxo hepatojugular; • Perda de peso > 4,5 kg em 5 dias em resposta ao tratamento com diuréticos. 2. CRITÉRIOS MENORES: • Edema de tornozelo bilateral; • Tosse noturna; • Dispneia de esforço; • Hepatomegalia; • Derrame pleural; • Diminuição da capacidade vital em 1/3 do valor máximo registrado; • Taquicardia (> 120 bpm). DIAGNÓSTICO DE IC: presença de dois critérios maiores OU um critério maior e dois critérios menores OU três critérios menores. CRITÉRIOS DE BOSTON 1. CLÍNICA: • Dispneia em repouso = 4 pontos; • Ortopneia = 4 pontos; • Dispneia paroxística noturna = 3 pontos; • Dispneia ao deambular = 2 pontos; • Dispneia ao subir escadas = 1 ponto; 2. EXAME FÍSICO: • Alteração na frequência cardíaca: - FC entre 91-110 bpm = 1 ponto; - FC > 110 bpm = 2 pontos; • Aumento da pressão venosa jugular: - > 6 cmH2O = 2 pontos; - > 6 cmH2O + edema ou hepatomegalia = 3 pontos. • Crepitações pulmonares: - Basais = 1 ponto; - > basais = 2 pontos; - Galope de B3 = 3 pontos; - Sibilos = 3 pontos. 3. RADIOGRAFIA DE TÓRAX: • Edema pulmonar alveolar = 4 pontos; • Edema pulmonar intersticial = 3 pontos; • Derrame pleural bilateral = 3 pontos; • Índice cardiotorácico > 0,5 = 3 pontos; • Redistribuição de fluxo em região superior = 2 pontos. DIAGNÓSTICO DE IC: definitivo (> 8); provável (5-7); improvável (< 4). EXAMES COMPLEMENTARES Laísa Dinelli Schiaveto EXAMES LABORATORIAIS: hemograma, eletrólitos, glicemia, função renal, função hepática, uroanálise e perfil lipídico. PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS: BNP e NT- pro-BNP. ELETROCARDIOGRAMA (ECG): EXAMES DE IMAGEM: radiografia de tórax, ecocardiograma, RNM, cintilografia miocárdica e PET. BIÓPSIA ENDOMIOCÁRDICA: pode ser útil em casos de IC indefinida, particularmente doenças de depósito e inflamatórias; seu uso rotineiro não está indicado em pacientes com IC.
Compartilhar