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DELÍRIUM Fonte: Compêndio, p. 713, Tratado, p. 1386 INTRODUÇÃO ❖ Caracterizado por confusão de curta duração e alterações na cognição. ❖ O delirium se caracteriza por um declínio agudo nos níveis tanto de consciência quanto de cognição, com particular comprometimento da atenção. Existem 04 subcategorias: 1. Condição médica geral: infecção 2. Induzido por substâncias: cocaína, opioides, fenciclidina 3. Causas múltiplas: lesão cerebral traumática, doença renal 4. Outras etiologias: privação de sono, mediação O delírium pode ser letal, mas ainda potencialmente um transtorno reversível do SNC. Costuma envolver perturbações da: ❖ Percepção; ❖ Atividade psicomotora anormal; ❖ Prejuízo no ciclo sono-vigília Sintomas inconfundíveis ❖ Prejuízo da consciência ❖ Anormalidade do humor, na percepção e no comportamento. ❖ Tremor ❖ Asterixe ❖ Nistagmo ❖ Incoordenação ❖ Incontinência urinária Possui início repentino (horas ou dias), curso breve e instável e melhora rápida (quando o fator causativo é identificado e eliminado) EPIDEMIOLOGIA Grande parte da incidência e dos índices de prevalência é relatada em idosos. Risco do delirium deve ser acomodado em duas categorias: ❖ Fatores predisponentes ❖ Fatores precipitantes Obs: idade avançada é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento do delirium. Ser do sexo masculino também. Delirium é um sinal de prognóstico desfavorável. Os índices de internação triplicam no caso de pacientes a partir dos 65 anos que o exibem enquanto estão hospitalizados. Estima-se que o índice de mortalidade em três meses de pacientes que têm um episódio de delirium seja de 23 a 33%. O índice de mortalidade em um ano pode chegar a 50%. Pacientes idosos que experimentam delirium durante hospitalização têm um índice de mortalidade de 21 a 75% durante o período no hospital. Após a alta, até 15% desses indivíduos morrem no prazo de um mês, e 25% morrem no prazo de seis meses. ETIOLOGIA As principais causas de delirium são doenças do SNC (p. ex., epiepsia), doença sistêmica (p. ex., falência cardíaca) e intoxicação ou abstinência de agentes farmacológicos ou tóxicos. Ao avaliar pacientes com delirium, o clínico deve presumir que todos os fármacos ou drogas que o paciente consumiu podem ser etiologicamente relevantes para o transtorno DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A síndrome de delirium quase sempre é causada por uma ou mais perturbações sistêmicas ou encefálicas que afetam a função cerebral As características fundamentais de delirium incluem consciência alterada, como: ❖ Nível reduzido de consciência ❖ Atenção alterada, que pode incluir capacidade reduzida de concentrar, manter ou deslocar a atenção ❖ Prejuízo nos outros domínios do funcionamento cognitivo, que pode se manifestar como desorientação (em especial quanto a tempo e espaço) diminuição da memória; início relativamente rápido (de horas a dias); curta duração (em geral de dias a semanas) ❖ Frequência oscilações acentuadas e imprevisíveis quanto a gravidade e outras manifestações clínicas no decorrer do dia, às vezes piores à noite (confusão noturna), e que podem variar de períodos de lucidez a prejuízo cognitivo e desorganização graves. Características clínicas associadas costumam estar presentes e podem ser proeminentes. Elas podem incluir: ❖ Desorganização de processos de pensamento (desde tangencialidade leve até incoerência manifesta) ❖ Perturbações da percepção, como ilusões e alucinações, hiperatividade e hipoatividade psicomotora ❖ Distúrbio do ciclo de sono-vigília (frequentemente manifestado como sono fragmentado à noite, com ou sem sonolência diurna) ❖ Alterações do humor (desde irritabilidade sutil até disforia, ansiedade ou mesmo euforia evidentes) ❖ Outras manifestações de função neurológica alterada (p. Ex., hiperatividade ou instabilidade autonômica, espasmos mioclônicos e disartria). Postula-se que o principal neurotransmissor envolvido no delirium seja a acetilcolina e que a área neuroanatômica principal seja a formação reticular. A formação reticular da medula espinal é a principal área reguladora da atenção e da excitação; a principal via implicada no delirium é a via tegmentar dorsal, que se projeta desde a formação reticular mesencefálica até o teto e o tálamo. Pesquisadores sugeriram outros mecanismos fisiopatológicos para a síndrome. Em particular, o delirium relacionado com abstinência de álcool foi associado a hiperatividade do locus ceruleus e seus neurônios noradrenérgicos. Outros neurotransmissores que foram implicados são serotonina e glutamato. EXAMES FÍSICOS E LABORATORIAIS ❖ O delirium costuma ser diagnosticado à beira do leito do paciente e caracteriza-se pelo início repentino dos sintomas A bateria de exames laboratoriais de um paciente com delirium deve incluir exames-padrão e investigações adicionais indicadas pela situação clínica. No delirium, o EEG em geral mostra uma lentidão generalizada de atividade e pode ser útil para diferenciar delirium de depressão ou psicose. O EEG de um paciente delirante às vezes mostra áreas focais de hiperatividade. Em casos raros, pode ser difícil diferenciar delirium relacionado a epilepsia de delirium relacionado a outras causas. A clínica deve ser primordial para o diagnóstico de delirium, existem uma série de alterações físicas que podem ajudar no diagnóstico dessa síndrome. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Delirium x demência Eventualmente, delirium ocorre em um paciente com demência, uma condição conhecida como demência nebulosa. Um diagnóstico duplo de delirium pode ser realizado quando houver uma história bem estabelecida de demência preexistente. Delirium x esquizofrenia ou depressão ❖ As alucinações e os delírios de indivíduos com esquizofrenia são mais constantes e mais bem organizados do que os daqueles com delirium. O paciente com esquizofrenia costuma não experimentar alteração em seu nível de consciência nem em sua orientação. Aquele com sintomas hipoativos de delirium pode parecer um pouco semelhante a uma pessoa grave�mente deprimida, mas os dois podem ser diferenciados por meio de um EEG. CURSO E PROGNÓSTICO Embora o início de delirium costume ser repentino, sintomas prodrômicos (p. ex., inquietação e medo) podem ocorrer nos dias que antecedem o início de sintomas mais desenvolvidos. Os sintomas da perturbação costumam persistir enquanto os fatores causais relevantes estiverem presentes, embora o delirium em geral dure menos de uma semana. Após a identificação e a remoção dos fatores causais, os sintomas normalmente retrocedem ao longo de um período de 3 a 7 dias, ainda que alguns possam levar até duas semanas para se resolverem por completo. Quanto mais velho o paciente e maior o tempo em que permaneceu delirante, mais tempo leva para que o transtorno se dissipe. Obs: períodos de delirium às vezes são seguidos por depressão ou transtorno de estresse pós- traumático. TRATAMENTO ❖ Objetivo primário é abordar a causa subjacente. Quando a condição subjacente é toxicidade anticolinérgica, pode ser indicado o uso de salicilato de fisostigmina, de 1 a 2 mg por via intravenosa ou intramuscular, com repetição da dose em 15 a 30 minutos. A pessoa com delirium não deve ter privação sensorial nem estímulo demasiado do ambiente. Normalmente, ela se beneficia da presença de um amigo ou parente no quarto ou de um cuidador regular. Imagens e decorações familiares, a presença de um relógio ou calendário e orientações regulares quanto a pessoa, lugar e tempo podem ajudá-la a ficar mais à vontade. Se a pessoa tiver alguma condição com uso de aparelho auditivo e/ou óculos esses objetos devem ser mantidos no uso. Janelas no ambiente tambémdevem ter para ajudar o paciente a saber se é dia/noite. FARMACOTERAPIA dois principais sintomas de delirium que podem exigir tratamento farmacológico são psicose e insônia. Um fármaco de uso comum para psicose é haloperidol, um antipsicótico de butirofenona. Dependendo da idade, do peso e da condição física do indivíduo, a dose inicial pode variar de 2 a 6 mg por via intramuscular, repetidos em 1 hora se ele continuar agitado. Assim que o paciente se acalmar, deve-se iniciar a medicação na forma líquida concentrada ou em comprimidos. Duas doses orais diárias devem ser suficientes, sendo que dois terços da dose devem ser administrados na hora de dormir. Para obter o mesmo efeito terapêutico, a dose oral deve ser cerca de 1,5 vez a dose parenteral. A dose diária total eficaz de haloperidol pode ficar na faixa de 5 a 40 mg para a maioria dos pacientes. O droperidol é uma butirofenona disponível com fórmula intravenosa (IV) alternativa, embora monitoramento criterioso possa ser a opção prudente nesse tratamento. Obs: ambos os medicamentos (com enfaze no droperidol) deve-se tomar cuidado pois causam prolongamento da onda QT (arritmias e morte). O uso de antipsicóticos de segunda geração, como risperidona, clozapina, olanzapina, quetiapina, ziprasidona e aripiprazol, pode ser considerado para o manejo de delirium, mas experimentos clínicos com esses agentes para essa condição são limitados. O melhor tratamento para insônia é o uso de benzodiazepínicos com meias-vidas curtas ou intermediárias (p. ex., lorazepam 1 a 2 mg na hora de dormir). TRATAMENTO EM POPULAÇÕES ESPECIAIS Doença de Parkinson: No caso dessa doença, os agentes antiparkinsonianos frequentemente estão implicados nas causas de delirium. Se houver demência coexistente, delirium tem o dobro de chances de se desenvolver em pacientes com doença de Parkinson e demência medicados com agentes antiparkinsonianos do que naqueles sem demência. A redução da dosagem do agente antiparkinsoniano precisa ser considerada contra um agravamento dos sintomas motores. Se esses agentes não puderem ser reduzidos ainda mais, recomenda-se clozapina. Caso o paciente não consiga tolerar clozapina ou o monitoramento sanguíneo necessário, devem ser considerados agentes antipsicóticos alternativos. A quetiapina não foi estudada de forma tão minuciosa quanto a clozapina e pode ter efeitos colaterais parkinsonianos, mas é usada na prática clínica para tratar psicose na doença de Parkinson. Pacientes com doenças terminais: o foco do tratamento pode mudar da busca da etiologia do delirium para cuidados paliativos durante os últimos dias.
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