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AULA 1 CONTROLADORIA AVANÇADA Profª Anelise Krauspenhar Pinto Figari 2 TEMA 1 – CONTROLADORIA Padoveze (2015, p. 6) resume a controladoria como “[...] o atual estágio evolutivo da Ciência Contábil”. Nesse contexto, torna-se necessário refletirmos, inicialmente, sobre o objetivo da ciência contábil, o seu objeto de estudo e sua finalidade. A ciência contábil é a ciência que estuda o patrimônio das entidades. Ela tem a finalidade de gerar informações úteis para a tomada de decisão dos usuários, sejam eles internos ou externos à organização. Em outras palavras, seu objetivo é “o de permitir a cada grupo principal de usuários a avaliação da situação econômica e financeira da entidade, num sentido estático, bem como fazer inferências sobre suas tendências futuras” (Marion, 2018, p. 5). Para tanto, cabe à contabilidade “captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fenômenos que afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de qualquer ente [...]” (Iudícibus et al., 2019, p. 1). Para que possamos compreender o papel da controladoria em uma organização, Frezatti et al. (2009) sugerem, inicialmente, o entendimento de que toda organização possui stakeholders, isto é, está inter-relacionada com aquelas entidades, pessoas físicas ou jurídicas, que possuem algum tipo de interesse na organização. Na figura 1, está apresentada a empresa e seus stakeholders. Figura 1 – Empresa e seus stakeholders Fonte: Frezatti et al., 2009, p. 26. 3 Nesse contexto, há uma relação de mútuo interesse entre a empresa e cada um dos stakeholders. Por exemplo, os investidores são essenciais para a existência e continuidade de uma empresa, pois são eles que injetam dinheiro – capital social – na empresa, entretanto, há um interesse dos investidores ao emprestar o seu dinheiro à empresa: eles desejam que o dinheiro investido tenha uma rentabilidade a qual, no mínimo, exceda o seu custo de oportunidade. Os stakeholders são usuários da informação contábil e a utilizam para a tomada de decisão. No caso do investidor, seu interesse está em saber o desempenho econômico-financeiro da empresa, mais especificamente se houve lucro no período e se ele será remunerado a uma taxa de retorno satisfatória. Nesse contexto, para Frezatti et al. (2009, p. 26): A Controladoria é o órgão da empresa cuja missão consiste em zelar pela eficácia do seu processo de gestão, tanto para finalidades internas como externas, isto é, cuidar para que os usuários disponham de todas as informações necessárias para que possam atingir plenamente os seus objetivos. Observe que o conceito dos autores menciona como responsabilidade da controladoria zelar pela eficácia do seu processo de gestão. A eficácia consiste em atingir as metas anteriormente estabelecidas no planejamento em um nível estratégico. Já o processo de gestão está relacionado à geração de informação aos usuários de modo a suprir integralmente seu interesse informacional. Entretanto, os próprios autores mencionam que, apesar de ser de extrema relevância, a controladoria não se resume somente a gerar informações contábeis, conforme veremos no Tema 2. Saiba mais Você sabe qual a diferença entre eficácia e eficiência? “[...] uma empresa, para ser eficaz, deve ser eficiente; eficácia é quando os objetivos preestabelecidos são atingidos como resultado da atividade ou do esforço; eficiência é a relação existente entre o resultado obtido e os recursos consumidos para conseguir aquele resultado” (Padoveze, 2015, p. 15). Diversos autores partem do pressuposto de que a maneira mais adequada de mensurar a eficácia em uma empresa é por meio do lucro gerado por ela. “Eficiência está relacionada com a otimização do uso dos recursos” (Padoveze, 2015, p. 15). 4 Corroborando ainda com a definição de controladoria, Frezatti et al. (2009, p. 27) mencionam que “em sentido prático e restrito, a Controladoria é a área da empresa que deve coordenar o processo de controle gerencial – desde o planejamento estratégico e operacional até́ o controle orçamentário”. Nesse contexto de que a controladoria é uma área da empresa, Padoveze (2015) demonstra o que é sua relação com a contabilidade, por meio do Quadro 1 apresentado a seguir. Quadro 1 – Controladoria Controladoria Unidade Administrativa Ciência Contábil Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Fonte: Padoveze, 2015, p. 11. O Quadro 1 entende a área da controladoria como uma unidade administrativa, que se utiliza de toda a contabilidade, tanto a financeira quanto a gerencial, para exercer as suas funções. Assim, para Padoveze (2015, p. 3), “a Controladoria é a utilização da Ciência Contábil em toda a sua plenitude”. TEMA 2 – CONTROLADORIA NAS ORGANIZAÇÕES E SUAS ATRIBUIÇÕES Não é uma tarefa fácil definir atribuições e responsabilidades da controladoria. As funções conferidas à controladoria estão relacionadas ao tamanho da empresa, à forma pela qual foi constituída, entre outros fatores que geram impacto na empresa e, consequentemente, nas funções da controladoria (Schmidt; Santos; Martins, 2014). Para Padoveze (2015, p. 33), a controladoria “[...] é responsável pela coordenação da gestão econômica do sistema empresa”. O autor adiciona que o papel principal dessa área é o “de fazer acontecer o planejado”. Frezatti et al. (2009) segregam em duas as funções da controladoria, a de mensurar e de informar. No âmbito da mensuração, “[...] cabe a ela identificar, interpretar e calcular (mensurar), monetariamente, os eventos econômicos em termos de receitas, custos, resultados, margens, taxas de retorno etc. relativas aos produtos e às áreas da empresa” (Frezatti et al., 2009, p. 31). 5 Quanto à função de informar, corresponde à perspectiva de “[...] proporcionar um fluxo de informações que permita preparar os relatórios e divulgá- los para os grupos de usuários internos e externos das informações” (Frezatti et al., 2009, p. 31). É importante deixar claro que os autores discutem as funções segregadas em mensurar e informar levando em consideração a finalidade da controladoria, que é a de auxiliar no processo de tomada de decisão do usuário da informação contábil. Os autores ainda apontam que a principal função da controladoria está no “acompanhamento do desempenho das diversas áreas da empresa – compras, produção, vendas etc., verificando se o que estão realizando está de acordo com os planos previamente elaborados, à luz do planejamento global” (Frezatti et al., 2009, p. 33). Padoveze (2015, p. 37) afirma que “a Controladoria basicamente é responsável pelo Sistema de Informação Contábil Gerencial da empresa e sua função é assegurar o resultado da companhia”. Nesse contexto, o autor separa a controladoria, quanto à sua estrutura, em duas áreas: contábil e fiscal, e de planejamento e controle, conforme demonstra a Figura 2. Figura 2 – Estrutura da controladoria CONTROLADORIA Relações com investidores Controle interno Sistema de Informação Gerencial Planejamento e controle Escrituração – Orçamento, projeções e análise de investimentos – Contabilidade Tributária (apuração) – Contabilidade de custos – Contabilidade Societária – Contabilidade por responsabilidades – Controle Patrimonial – Acompanhamento do negócio – Gestão do risco e da estratégia – Gestão tributária Fonte: Padoveze, 2015, p. 38. 6 O autor denomina escrituração a área contábil e fiscal. Além dessas duas grandes áreas, apresenta outras três responsabilidades, na maioria das vezes atribuídas à controladoria: controle interno,relacionamento com investidores e sistema de informação gerencial. Como é possível observar na figura, no que tange à responsabilidade da controladoria em relação à área de planejamento e controle, as seguintes funções são atribuídas: orçamento, projeções e análise de investimentos, contabilidade de custos, contabilidade por responsabilidades, acompanhamento do negócio, gestão do risco e da estratégia e gestão tributária. Em relação à área de escrituração contábil, cabe à controladoria a responsabilidade pela contabilidade societária, pelo controle patrimonial e pela contabilidade tributária da empresa. Uma vez entendida a estrutura interna da área da controladoria e suas principais atribuições, vamos conhecer sua posição na estrutura organizacional. O posicionamento hierárquico pode variar de empresa para empresa e isso está relacionado ao nível de autoridade designada à área (Schmidt; Santos; Martins, 2014). Na maioria dos casos, a controladoria encontra-se abaixo da diretoria financeira na estrutura organizacional (Frezatti et al., 2009; Schmidt; Santos; Martins, 2014), como observa-se na Figura 3 a seguir. Figura 3 – Exemplo de estrutura organizacional Fonte: Frezatti et al., 2009, p. 34. Entretanto, cabe ressaltar que essa não é a única estrutura hierárquica. Nas empresas em que o nível de autoridade é maior, a controladoria pode assumir Presidência Diretoria de Marketing Diretoria Financeira Controladoria Tesouraria Diretoria de Operações Diretoria de Tesouraria 7 uma posição hierárquica de diretoria ou vice-presidência/staff, por exemplo (Frezatti et al., 2009; Schmidt; Santos; Martins, 2014). A Figura 4 a seguir apresenta a controladoria como uma diretoria, respondendo à presidência, assim como as demais áreas denominadas também de diretoria. Figura 4 – Estrutura organizacional: controladoria como uma diretoria Fonte: Frezatti et al., 2009, p. 35. Por fim, a Figura 5 corresponde à controladoria como staff, como já mencionado. “Esse posicionamento deve-se ao fato de que o controller somente poderá exercer suas atividades tendo autonomia para interferir no processo decisório dos principais gestores” (Schmidt; Santos; Martins, 2014, p. 25). Figura 5 – Estrutura organizacional: controladoria como staff Fonte: Adaptado de Schmidt; Santos; Martins, 2014, p. 25; Frezatti et al., 2009. Presidência Diretoria de Marketing Diretoria de Controladoria Diretoria de Operações Diretoria de Tesouraria Presidência Diretoria de Marketing Diretoria de Controladoria Diretoria de Operações Diretoria de Tesouraria Controladoria 8 Saiba mais No artigo publicado na Financial Executives International, intitulado “Controladoria de classe mundial: traçando seu caminho para o sucesso” (World- class controllership: charting your course to success), são apresentadas quatro faces da controladoria. • “O administrador protege e preserva os ativos críticos da organização e reporta com precisão a posição financeira e as operações às partes interessadas internas e externas. • O operador equilibra recursos, talento, custos e níveis de serviço para cumprir com eficiência as responsabilidades de controladoria da organização financeira. • O catalisador fornece informações oportunas sobre informações que permitem à organização executar iniciativas estratégicas de negócios e impulsionar uma cultura inteligente de risco. • O estrategista fornece informações e análises financeiras e de gerenciamento que permitem ao diretor financeiro (CFO) e outras partes interessadas moldar a direção estratégica da organização para melhorar o valor do acionista”. Acesse o conteúdo por meio do link disposto a seguir. Disponível em: <https://www2.deloitte.com/content/dam/Deloitte/us/Documents/risk/us-deloitte- risk-center-for-controller-ship.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2020. TEMA 3 – GOVERNANÇA E ACCOUNTABILITY O tema governança corporativa vem ganhando força no Brasil devido ao aumento de empresas abrindo capital na bolsa de valores (Frezatti et al., 2009). O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2020) conceitua governança corporativa como “o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”. Em outras palavras, resumidamente, “a governança corporativa é o sistema pelo qual uma empresa é dirigida e controlada” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 19). Nos dois conceitos apresentados anteriormente, há duas palavras-chave: dirigida e controlada/monitorada. Uma empresa ser dirigida significa ser 9 administrada, ser gerida; enquanto, ao mesmo tempo, há o controle/monitoramento dessa gestão e suas atividades pelos proprietários/acionistas da organização. Adicionalmente, Garisson et al. (2013, p. 19) apontam que um sistema de governança “[...] deve fornecer incentivos para que o conselho de diretoria e a alta gerência procurem alcançar objetivos que são do interesse dos proprietários da empresa e deve possibilitar o monitoramento eficaz do desempenho”. Nesse contexto, a finalidade da governança consiste em alinhar os interesses dos proprietários aos interesses dos gestores da organização, de modo que esses possam geri-la de acordo com os objetivos dos proprietários. Corroborando com essa abordagem, Frezatti et al. (2009, p. 206) conceituam governança nas organizações como “um conjunto de instrumentos que visam mitigar o problema de agência que ocorre quando um principal (a pessoa que detém os direitos sobre algo) delega a um agente (pessoa que executa as ações) a responsabilidade pelos atos de determinado empreendimento”. De acordo com o mesmo autor, o problema de agência está relacionado com a assimetria informacional, de modo que “[...] é impossível o principal ter todas as informações necessárias para monitorar o comportamento do agente; em consequência, o agente, normalmente, tem mais informações que o principal”. (Frezatti et al., 2009, p. 206-207). Assim, uma boa governança tende a reduzir essa assimetria informacional entre proprietários (principal) e os agentes (gestores). Ainda, “a governança corporativa eficaz aumenta a confiança dos acionistas, de que a empresa é administrada de acordo com seus interesses em vez de interesses dos altos gerentes” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 19). No Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, o IBGC apresenta quatro princípios básicos que devem conduzir as práticas de governança: transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas (accountability) (IBGC, 2015). Vamos discutir, mais especificamente nesse momento, o princípio básico de prestação de contas. O IBGC (2015, p. 21) define que no accountability “os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis”. 10 Em outras palavras, “todas as áreas de responsabilidade de uma organização têm seus deveres e atribuições e, em consequência disso, seus respectivos gestores têm a obrigação de, periodicamente, prestar contas a seus superiores hierárquicos: isso é accountability” (Frezatti et al., 2009, p. 36). É possível observar essa cadeia de prestação de contas conforme o Quadro 2 a seguir, que discrimina agente, responsabilidade assumida por este e a quem ele delega a autoridade. Quadro 2 – Accountability: cadeia de prestação de contas Agente Assume responsabilidade de Delega a autoridade Acionista majoritário Eleger o Conselho de Administração da empresa. Ao Conselho de Administração, para administrar o negócio e nomear a diretoria da empresa.Conselho de Administração Gerir o negócio e nomear a diretoria da empresa. À Diretoria da empresa, para dirigir as atividades do negócio e contratar a gerência. Diretoria Dirigir o negócio e contratar a gerência. À gerência, para administrar o negócio e contratar supervisores e assistentes Gerência Gerenciar o negócio e contratar supervisores e assistentes. Aos supervisores e assistentes, para executar as atividades operacionais do negócio. Supervisores e assistentes Executar as atividades operacionais do negócio. Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 16. A delegação de autoridade apresentada no Quadro 2 tem como contrapartida a prestação de contas. No Quadro 3, a seguir, apresenta-se cada agente, as atividades que executam e a quem esse agente se reporta para prestar contas. Quadro 3 – Agente, atividades que executam e a quem se reportam Agente Executa Reporta Supervisores e assistentes As atividades operacionais do negócio À gerência o resultado de suas atividades, por meio de documentos e relatórios. Gerência O gerenciamento do negócio À diretoria o resultado de suas atividades, por meio de relatórios gerenciais. Diretoria A direção do negócio Ao Conselho de Administração o resultado de suas atividades, por meio das demonstrações contábeis e dos relatórios gerenciais. Conselho de Administração A administração do negócio Aos acionistas o resultado de suas atividades, por meio das demonstrações contábeis e do relatório da administração. Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 17. 11 É válido ressaltar que a controladoria “reúne condições para que seja viabilizado, por meio da contabilidade, todo o processo de prestação de contas, dos níveis hierárquicos inferiores à alta administração, aos acionistas e à comunidade, numa verdadeira cadeia de accountability” (Frezatti et al., 2009, p. 36). Essa cadeia permite à organização uma congruência de seus objetivos, isto é, que estejam alinhados os interesses dos proprietários (principal) com os interesses individuais dos agentes (gestores). TEMA 4 – CONTROLADORIA ESTRATÉGICA Inicialmente, vamos entender o que é estratégia para, posteriormente, avançarmos com a temática proposta neste Tema. A estratégia no âmbito das organizações, de acordo com Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 19), “[...] é uma forma de pensar no futuro, uma atividade que deve estar integrada no processo decisório das organizações e que envolve o profundo conhecimento do negócio e a verificação sistemática de tendências”. Logo, a controladoria estratégica auxilia a gestão das organizações no processo de tomada de decisão. Isso fica claro na definição de Padoveze (2016, p. 92): Podemos definir então Controladoria estratégica como a atividade de Controladoria que, por meio do sistema de informação contábil, abastece os responsáveis pelo planejamento estratégico da companhia com informações tanto financeiras quanto não financeiras para apoiar o processo de análise, planejamento, implementação e controle da estratégia organizacional. A forma como a controladoria estratégica auxilia na tomada de decisão dos gestores, conforme o autor, ocorre por meio de informações financeiras e não financeiras contidas no sistema de informação contábil. Destaca-se ainda a importância de a controladoria participar das decisões estratégicas da empresa, uma vez que o “sistema de informação deverá estar alinhado com as estratégias organizacionais e de negócios” (Padoveze, 2016, p. 92). Dessa forma, fica evidente que “falar sobre Controladoria Estratégica pressupõe, de alguma maneira, que o profissional contábil possa exercer este papel com os demais principais gestores de uma entidade que tem esta responsabilidade” (Padoveze, 2015, p. 97). Em outras palavras, a controladoria estratégica é uma função da controladoria que contribui na elaboração do planejamento estratégico da 12 organização. Isso ocorre por meio do fornecimento de informações geradas no sistema de informação contábil aos gestores, os quais tomam decisões no que tange às definições de missão, visão, valores e diretrizes da organização. Considerando que a controladoria estratégica é vista como auxiliadora no processo de tomada de decisão, a seguir, há uma representação gráfica do que ela seria, no que tange às áreas do conhecimento dentro de uma organização, na perspectiva de Fernandes (2018). Para a autora, é na sobreposição das áreas de conhecimento da contabilidade, da administração e do planejamento que surge a controladoria estratégica. A autora ainda destaca que a ideia não é abrir uma nova equipe de trabalho, mas demonstrar o avanço da área de controladoria que se encontra também no nível estratégico da organização. Figura 6 – Controladoria estratégica no que tange às áreas do conhecimento dentro de uma organização Fonte: Fernandes, 2018. Nesse contexto, é importante que a controladoria compreenda, também, a atividade de negócio da empresa, o mercado em que a empresa está inserida, quais são as vantagens competitivas da empresa ante seus concorrentes, para que as informações geradas pela controladoria sejam, de fato, úteis e relevantes aos gestores na tomada de decisão estratégica. Como menciona Padoveze (2016, p. 38), “o atual momento empresarial caracteriza-se pela questão da competitividade”. Para que uma organização se 13 mantenha no mercado, há a necessidade de que busque estratégias de modo a obter vantagens competitivas ante seus concorrentes. Esse autor afirma que a competitividade, apesar da sua evidência atual, não é um assunto novo, “[...] sempre esteve presente no mundo dos negócios, com maior ou menor evidência, dependendo do momento e da situação geográfica, política ou cultural em que se situa uma empresa” (Padoveze, 2016, p. 83). Assim, “estratégia competitiva pode ser definida como cursos de ação específicos que são desenvolvidos para criar vantagens competitivas sustentáveis em produtos particulares ou mercados identificados na persecução de objetivos identificados” (Padoveze, 2015, p. 97). Adicionalmente, observa-se que uma “vantagem competitiva é distinta e idealmente sustentável sobre os competidores ou concorrentes. É mais do que a ideia de uma estratégia competitiva, que pode ou não ser distintamente comprovada” (Padoveze, 2015, p. 97). Portanto, observa-se como um dos papéis relevantes da controladoria sua atuação estratégica junto de gestores de modo a pensar no futuro e contribuir com a tomada de decisão destes, trazendo vantagens competitivas à organização. É importante destacar que, em empresas de capital, todas as ações da organização, como geração de informações pela controladoria e a tomada de decisões dos gestores, são voltadas a alcançar a missão, a visão e os objetivos da organização que, em síntese, estão atrelados à finalidade de criação de valor da empresa. A criação de valor é o nosso próximo tema a ser estudado. TEMA 5 – CRIAÇÃO DE VALOR Quando discutimos criação de valor, podemos ter duas perspectivas: (1) a de criação de valor do produto ou serviços ao cliente e (2) a de criação de valor ao proprietário/acionista. Em relação à primeira perspectiva, de criação de valor do produto ou serviços ao cliente, Schmidt, Santos e Martins (2014, p. 5) afirmam que a continuidade do negócio depende da “[...] geração de valor para o cliente e, consequentemente, de recursos financeiros a partir da venda de produtos e serviços”. O autor ainda complementa que “os estudos de mercado e a focalização de clientes são utilizados para determinar se os clientes percebem ou não o seu valor acrescentado como contrapartida pelo bem que cedem em troca. As 14 entidades devem, portanto, saber onde estão criando valor para maximizarem seus retornos” (Schmidt; Santos; Martins, 2014, p. 6). Nessa perspectiva, faz-se necessárioidentificar as atividades que agregam valor ao negócio e aquelas que não agregam valor sobre uma percepção do cliente. Destaca-se que “[...] não é por meio da redução de custos que o valor será criado, mas por meio do gerenciamento de atividades, com a eliminação de desperdícios a partir do corte ou redução dos gastos com atividades que não agregam valor para o cliente” (Schmidt; Santos; Martins, 2014, p. 7). Um outro ponto a se destacar na fala desses autores é que a identificação das atividades que agregam valor é realizada com a finalidade de maximizar o retorno dessa atividade, da melhor maneira possível. De acordo com esses autores, a controladoria é responsável por viabilizar as informações para a análise de quais atividades estão agregando valor daquelas que não estão agregando valor ao cliente. Adicionalmente, a controladoria também é responsável por “[...] identificar como uma parte do valor é perdida com custos altos, erros, inconsistências, retrabalhos ou treinamento inadequado” (Schmidt; Santos; Martins, 2014, p. 7). Em relação à segunda perspectiva, a de criação de valor ao proprietário/acionista, Padoveze (2016) aponta o lucro como uma medida de eficácia empresarial, sendo este o resultado de um planejamento e um controle com o enfoque no resultado, realizado com base na estratégia de valor econômico da empresa, como apresentado na Figura 7 a seguir. Figura 7 – Lucro como uma medida de eficácia empresarial Fonte: Padoveze, 2016, p. 57. Com base na premissa de que o resultado, isto é, o lucro é a melhor medida da eficácia da empresa, Padoveze (2016, p. 57) aponta que “o foco da Controladoria deve ser o processo de gestão baseado em resultados”. 15 Adicionalmente, esse mesmo autor afirma que, em consequência, “[...] todos os esforços empresariais e a missão da Controladoria devem ter como ponto referencial o processo de criação de valor para o acionista, por meio da mensuração econômica do valor da empresa” (Padoveze, 2016, p. 57). Essa gestão baseada no valor da empresa (Gestão Baseada em Valor, ou Value Based Management – VBM) objetiva a criação de riqueza ao acionista, isto é, a realização de um retorno superior ao custo de oportunidade do capital próprio, de acordo com Assaf Neto (2014). Nessa direção, o custo de oportunidade vem a ser o “[...] quanto uma pessoa (empresa) sacrificou de remuneração por ter tomado a decisão de aplicar seus recursos em determinado investimento alternativo, de risco semelhante” (Assaf Neto, 2014, p. 171). Nessa abordagem, há o entendimento de que somente há criação de valor econômico para a empresa após a remuneração dos proprietários/acionistas. Assim, para que a controladoria possa exercer o seu papel nas organizações, é importante conhecer o valor da empresa, a criação de valor aos proprietários/acionistas, a rentabilidade destes, e isso é realizado por meio da continuidade da organização com lucros consistentes e que satisfaçam as necessidades dos proprietários/acionistas da organização (Padoveze, 2015). Leitura complementar Leia o artigo “A controladoria estratégica na otimização do lucro e criação de valor”, de Raphael Brino. Disponível em: <http://aptusvc.com/a-controladoria- estrategica-na-otimizacao-do-lucro-e-criacao-de-valor/>. Acesso em: 5 mar. 2021. 16 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. FERNANDES, D. P. Controladoria estratégica: uma nova forma de pensar e planejar o futuro das empresas. Treasy, 21 fev. 2018. Disponível em <https://www.treasy.com.br/blog/controladoria-estrategica/>. Acesso em: 28 jun. 2020. FREZATTI, F. et al. Controle Gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico, comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas, 2009. GARRISON, R. H.; NOREEN, E. W.; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial. 14 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. IBGC – INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. O que é Governança corporativa. Disponível em: <https://www.ibgc.org.br/conhecimento/ governanca-corporativa>. Acesso em: 28 jun. 2020. IUDÍCIBUS, S. et al. (Coord.). Contabilidade introdutória. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2019. _____. Código das melhores práticas de governança corporativa. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015. MARION, J. C. Contabilidade empresarial: instrumentos de análise, gerência e decisão. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2018. OLIVEIRA, L. M.; PEREZ JUNIOR, J. H.; SILVA, C. A. S. Controladoria estratégica: textos e casos práticos com solução. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, C. L. Controladoria estratégica aplicada: conceitos, estrutura e sistema de informações. São Paulo: Cengage Learning, 2016. _____. Controladoria estratégica e operacional. 3 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015. SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L.; MARTINS, M. na. S. Manual de Controladoria. São Paulo: Atlas, 2014.
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