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Cefaleia - As cefaleias podem ser classificadas, quanto à sua etiologia, em primárias, sem etiologia demonstrável pelos exames clínicos ou laboratoriais usuais, ou secundárias substrato orgânico identificável Cefaleia Primária - Os principais tipos de cefaléia primária são: migrânea, cefaléia tensional e cefaléia em salvas. Outros exemplos são as cefaleias hípnicas, primárias da tosse, do esforço físico e a associada à atividade sexual. 1. Migrânea/ Enxaqueca - distúrbio neurobiológico com base gênica que pode estar associado a alterações do sistema nervoso e ativação do sistema trigeminovascular. - Pesquisas recentes apontam para uma etiologia poligênica, multifatorial e com influência de fatores ambientais. - esse quadro acomete 17% das mulheres, 6% dos homens e 4% da população infantil. No Brasil, de 15 a 16% da população é acometida. - A herança genética desta patologia é basicamente poligênica. O pico de incidência da migrânea com aura nos homens ocorre aos 5 anos, e nas mulheres, entre 12 e 13 anos. Na migrânea sem aura, o pico se encontra nos homens aos 10 e 11 anos, e nas mulheres, entre 14 e 17 anos. Características - A migrânea típica apresenta-se como cefaleia unilateral (60% dos casos), de caráter pulsátil, que aparece, na maioria dos casos, antes dos 20 anos. Piora habitualmente com os esforços físicos ou manobras que aumentam o fluxo sanguíneo cerebral e melhora com as condições que diminuem o afluxo de sangue ao segmento cefálico. - Acompanhando a dor, observam-se, com grande frequência, palidez, sudorese, anorexia, náuseas e vômitos, foto e fonofobia e, mais raramente, distúrbios autonômicos. - Muitos pacientes referem fatores desencadeantes variados, como jejum, consumo de chocolate, distúrbios emocionais, modificações no padrão de sono, estímulos sensoriais (olfativos, visuais, auditivos) e ingesta de bebidas alcoólicas. - A crise migranosa divide-se em quatro fases: premonitória, aura, cefaléia e fase de resolução. Essas fases não estão necessariamente presentes em todos os casos. - Essas fases não estão necessariamente presentes em todos os casos. 1. Os sintomas premonitórios ocorrem até 48 horas antes da crise em cerca de 60%. Sintomas prodrômicos, como escotomas cintilantes ou parestesias de instalação gradual, podem estar associados. Também são observados, mas em menor frequência, sintomas como mudanças do humor, alterações do raciocínio e anorexia algumas horas antes da instalação da crise. 2. A aura é um sintoma neurológico temporário que pode se relacionar à área focal do cérebro afetada. A explicação neurofisiológica mais aceita para a aura é o fenômeno da depressão alastrante de Leão - Segundo essa hipótese, durante a aura, ocorreria uma hiperatividade neuronal, seguida de sua depressão, associada à oligoemia do cérebro que progrediria da região occipital em direção às regiões anteriores. A mudança da atividade neuronal ocorreria em ondas - a pode ocorrer antes, durante ou após a cefaleia ou ainda pode se manifestar independentemente da crise dolorosa. A forma mais comum é a visual. Pode-se citar como exemplos as manchas escuras, os escotomas cintilantes e o espectro de fortificação - Distúrbios sensitivos também são possíveis, em menor frequência, na forma de agulhadas ou alfinetadas que se movem lentamente, a partir do ponto de origem, e afetam uma área maior ou menor de um lado do corpo e da face, bem como alterações na fala. - A duração da aura varia de 5 a 60 minutos, mas em casos de enxaqueca hemiplégica, cuja manifestação da aura é uma hemiparesia, pode durar até 24 horas. 3. Cefaléia - caracteriza-se por sua localização unilateral, caráter pulsátil, intensidade moderada ou forte; exacerbação por atividade física rotineira e associação com náusea e/ou fotofobia e fonofobia. Normalmente tem duração entre 4 e 72 horas. Os pacientes podem apresentar sensibilidade excessiva a certos estímulos tais como luzes, sons, movimentos e cheiros, os quais podem ser fatores gatilhos das crises. Complicações Migrânea crônica: É caracterizada por cefaleia que ocorre em 15 ou mais dias/mês por mais que três meses, em que o paciente, pelo menos oito dias/mês, apresenta as características de cefaleia migranosa. Tratamento - O tratamento inicia-se com medidas gerais, como evitar, quando possível, fatores referidos como desencadeantes de crises; tratar doenças concomitantes, particularmente hipertensão arterial e depressão; valer-se de técnicas de relaxamento físico e mental; regular o padrão de sono e aconselhar a prática de atividades físicas. Também podem ser utilizadas técnicas cognitivas comportamentais e acupuntura, além de massagens e compressas. - Analgésicos simples, como paracetamol ou AINH (naproxeno sódico, ibuprofeno, diclofenaco de sódio, ácido tolfenâmico), são eficazes para o tratamento sintomático e devem ser utilizados precocemente, após o início dos sintomas - Os triptanos são medicações agonistas dos receptores serotoninérgicos com eficácia comprovada no tratamento sintomático e devem ser considerados dentro de uma abordagem estratificada de controle da dor para as crises moderadas e fortes - Antieméticos, como a clorpromazina, também fazem parte do arsenal terapêutico abortivo das crises. O status enxaquecoso corresponde à crise com duração superior a 24 horas, e nesses caos, recomenda-se o uso de corticosteroides como medicação abortiva. - O tratamento profilático está indicado nos pacientes com mais de duas crises por mês, por mais de três meses, ou naqueles que têm somente uma crise por mês mas que é extremamente grave ou prolongada ou, ainda, nos casos em que não respondem de modo satisfatório à terapêutica abortiva da crise de migrânea - Os medicamentos profiláticos mais utilizados são os betabloqueadores (propranolol), os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina), os antagonistas de canal de cálcio (flunarizina), os antagonistas dos receptores de serotonina e algumas medicações anticrises (ácido valproico, topiramato). Mais recentemente, têm-se investigado os antagonistas do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), como o eptinezumabe, galcanezumabe e fremanezumabe, que antagonizam o próprio peptídio, e o erenumabe, que bloqueia seu receptor 2. Cefaleia tipo tensão - cefaleia crônica mais comum e mais prevalente em adultos jovens. Sua incidência em adultos varia de 35 a 78%, sendo quase tão comum em homens como em mulheres 4:5. - O mecanismo fisiopatológico ainda não é bem conhecido. A Cefaleia Tipo Tensão Episódica (CTTE) caracteriza-se por episódios recorrentes de dor de cabeça com duração de 30 minutos a sete dias. Tem caráter de pressão ou aperto e localização bilateral, com intensidade fraca ou moderada e, ao contrário da migrânea sem aura, não é agravada por atividades físicas, mas pode apresentar fotofobia ou fonofobia (nunca ambas ao mesmo tempo), além de náusea leve ou vômitos. Diagnóstico - A palpação manual com movimentos giratórios e pressão sobre os músculos frontal, temporal, masseter, pterigóideo, esternocleidomastóideo, esplênio e trapézio deve ser realizada, embora o dolorimento não seja específico da condição. Tratamento 3. Cefaleia em salvas ou cluster - é a principal representante do grupo das cefaleias trigeminoautonômicas. Tem maior incidência no sexo masculino (3:1), início entre 20 e 40 anos. Caracteriza-se por crises com duração média de 15 a 180 minutos, que ocorrem desde em dias alternados podendo se repetir várias vezes ao dia, em salvas de até oito crises ao dia. - A dor é de grande intensidade (terebrante) e localização preferencialmente fronto-orbitária, podendo irradiar-se para o hemicrânio e/ou para a hemiface ipsilateral. É frequentemente descrita como sensação “de facada no olho”. Associa-se à dor, sintomas como injeção conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, sudorese frontal e facial, miose, ptose e/ou edema palpebral, ipsilaterais à dor e/ou a inquietude ou agitação. OBS: paciente com cefaleia em salvas, em razão da dor, pode desenvolver ansiedade antecipatóriarelacionada à constância de aparecimento em horários predeterminados. - A ingestão de bebidas alcoólicas desencadeia e/ou agrava os ataques. Há certo predomínio à noite, acordando o paciente, além disso registra-se tendência de ocorrência na mesma hora do dia e na mesma época do ano - Em alguns casos, a suspeita é corroborada pelas características faciais, pois alguns pacientes com cefaleia em salvas têm fácies leonina e pele “em casca de laranja”. Diagnóstico - As crises que preenchem os critérios de cefaleia em salvas e duram de sete dias a um ano, separadas por períodos livres de dor de pelo menos de três meses, caracterizam a cefaleia em salvas episódica. Quando os ataques de cefaleia em salvas ocorrem por um ano ou mais, sem remissão ou com períodos de remissão durando menos de três meses, diagnostica-se a cefaleia em salvas crônica. Tratamento - O tratamento abortivo da cefaleia em salvas é feito com oxigenoterapia a 100% 12 L/min, por 20 minutos, sumatriptana 6 mg SC e estuda-se o tratamento com estimulação invasiva do nervo vago. - A profilaxia pode ser feita com verapamil, valproato de sódio, prednisona ou carbonato de lítio. O tratamento profilático é fundamental na maioria dos casos. O verapamil é alternativa terapêutica na forma episódica e na forma crônica, devendo ser utilizado em doses fracionadas de 120 a 1.200 mg. - Para as formas episódicas, também podem ser utilizados o valproato de sódio e a prednisona (1 mg/kg, máximo de 60 mg/d por três dias; reduzir em 5 a 10 mg VO a cada três dias). Nas formas crônicas, pode-se usar o carbonato de lítio. A dose de lítio, por sua vez, deve ser controlada, e seu nível plasmático, mantido entre 0,4 e 0,8 mEq/L.
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