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28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 1/51 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho Prof.ª Renata Morares, Prof.ª Vanessa Melo Descrição A escravização como prática de comércio de pessoas, como uso dos indígenas e africanos no Brasil Colonial, demonstrando as formas de resistir e a manutenção das práticas na história nacional. Propósito Ao tratarmos da escravidão no Brasil, conseguimos compreender as diversas formas de exploração do trabalho existentes desde o Período Colonial e que atingiu indígenas, africanos e seus descendentes, imigrantes e mulheres negras. Preparação Consulte as seguintes obras de referência: Dicionário da Escravidão e Liberdade e a Enciclopédia Negra Objetivos 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 2/51 Módulo 1 A venda da mão de obra indígena Discutir o uso da mão de obra indígena pelos europeus na colonização do Brasil. Módulo 2 A escravização de africanos nas Américas Identificar a escravização africana como um grande comércio de gente. Módulo 3 A resistência à escravização no Brasil Exemplificar as diferentes formas de resistência à escravidão no Período Colonial e Imperial. Módulo 4 O comércio de imigrantes e de mulheres Identificar ações de venda de mão de obra imigrante e dos corpos das mulheres. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 3/51 Ao contarmos a história do Brasil, não podemos deixar de mencionar um sistema que foi predominante por mais de três séculos: a escravidão. A predominância desse sistema, que atravessou o Período Colonial e foi quase até o final do Império, estava baseada na comercialização de homens e mulheres, os escravizados, muitos vindos de várias regiões da África e seus descendentes nascidos no Brasil. No entanto, os portugueses quando chegaram ao Brasil utilizaram inicialmente outro tipo de mão de obra para o trabalho, os indígenas, que continuaram sendo comercializados a despeito da proteção que tinham da Igreja Católica. Além de africanos e indígenas, homens e mulheres de diferentes nacionalidades atuaram como trabalhadores no Brasil, vendendo a sua força de trabalho para os mais diferentes ofícios. De fato, desde 1500, o trabalho introduzido no Brasil por meio dos portugueses foi o da exploração do corpo alheio, que passava por uma lógica comercial, necessário para a produção de grandes riquezas. Logo, gente virou mercadoria, com geração de trabalho e riquezas para alguns poucos, que estavam fora dessa dinâmica comercial. Este texto pensa nesse comércio de gente a partir de várias perspectivas, passando pela história do Brasil vista sob um ponto de vista social e humano, seja da parte do explorador ou do explorado. Nesse caso, os indígenas constituem o primeiro grupo a ser explorado como mão de obra nos primeiros momentos da colonização. Os africanos foram escravizados a partir de uma lógica comercial que foi iniciada nos primeiros contatos entre portugueses e povos africanos. Após esses contatos, há a maior migração de pessoas registrada na história, todos para a escravização nas Américas e uma grande parte para o Brasil. Porém, essa escravização não foi realizada sem a constante resistência de homens e mulheres, que promoveram revoltas, fugas, quilombos e negociação. Outros explorados foram os imigrantes, principalmente europeus, que foram atraídos para o trabalho no Brasil, sendo submetidos a condições precárias de trabalho, ainda durante a vigência da escravidão. Por fim, vale ressaltar o quanto as mulheres, principalmente as escravizadas e negras, foram exploradas por diferentes formas, sejam como amas de leite, ou no trabalho doméstico, no comércio de rua e na prostituição. Este texto mostra as diferentes formas de comercializar gente Introdução 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 4/51 1 - A venda da mão de obra indígena Ao �nal deste módulo, você será capaz de discutir o uso da mão de obra indígena pelos europeus na colonização do Brasil. Organização local Aldeamentos Os primeiros trabalhadores do Brasil foram os povos nativos, escravizados pelos portugueses desde os primeiros contatos. Se em primeiro momento a ideia era estabelecer relações a fim de que pudessem melhor explorar a região, no momento seguinte, os portugueses aprofundaram o contato por meio da exploração dessa mão de obra, tornando os indígenas indispensáveis para o projeto da colonização. existentes no Brasil Colonial e Imperial, e que podem ter deixado ressonâncias até hoje. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 5/51 Família indígena, tela de Jean-Baptiste Debret. Nesse caso, é importante identificar os diferentes tipos de relacionamento entre indígenas e portugueses e demais povos estrangeiros a fim de compreender como esse grupo social foi explorado nos primeiros séculos da colonização portuguesa no Brasil. Um primeiro ponto de destaque dos contatos iniciais entre portugueses e indígenas diz respeito à organização desse grupo social e como ela seria modificada a partir da presença dos portugueses. Algo crucial para os colonos era interferir na lógica de organização dos diferentes grupos étnicos que viviam na região hoje conhecida como Brasil. A primeira modificação foi o estabelecimento de aldeias, tipo de organização introduzida pelos colonizadores, com apoio dos jesuítas, que submetia os indígenas a uma nova forma de viver em comunidade e, consequentemente, de realizar seus trabalhos. Os aldeamentos fizeram parte do projeto de colonização portuguesa, sendo decisivos para a inserção dos indígenas na ordem colonial, tendo diferentes significados para os envolvidos. Nas aldeias houve o compartilhamento de culturas e histórias entre diferentes etnias e, em alguns casos, entre outros grupos, como mestiços, colonos e missionários. Por meio desse contato, ocorreu também uma reelaboração de comportamentos, atitudes e valores por 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 6/51 parte dos indígenas, evidenciando que eram um grupo em constante movimento, principalmente na reelaboração da identidade, processo presente em todo grupo social. Aldeia de indígenas cristãos. As aldeias eram unidades locais sem serem autossuficientes, precisando de uma articulação com grupos locais ou unidades maiores. Sua criação permitiu que houvesse o fim da peregrinação missionária, fazendo com que os indígenas fossem deslocados para as proximidades dos núcleos portugueses, favorecendo, assim, o seu controle, tanto por parte dos religiosos como dos colonos. Ao mesmo tempo que as aldeias faziam parte de um projeto pedagógico de cristianização dos indígenas e de transformação desse grupo em súditos do rei, elas também se tornaram redutos para os colonos interessados nesse tipo de mão de obra, atendendo, desse modo, aos interesses dos moradores de algumas regiões. No entanto, pesquisas indicam que alguns grupos indígenas estiveram envolvidos na dinâmica dos aldeamentos como sujeitos ativos desse processo de construção das aldeias, tendo alguns dos seus líderes papel de destaque dos aldeamentos. Mudança das dinâmicas indígenas Con�itos A presença dos portugueses também alterou a dinâmica das guerras entre os povos nativos, uma vez que o contato entre europeus e indígenaspoderia favorecer grupos específicos e subjugar outros, principalmente por meio das relações de escambo de artefatos para a guerra. Nas relações comerciais existentes entre europeus e indígenas, os objetos trocados possuíam diferentes valores e significados para os envolvidos. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 7/51 Imagem: Jean-Baptiste Debret - Biblioteca Virtual / Wikimedia commons / Domínio Público Imagem: Jean-Baptiste Debret - Biblioteca Virtual / Wikimedia commons / Domínio Público Flechas de indígenas brasileiros. Ao lado, soldados indígenas. A partir dessa lógica, ferramentas e armas europeias aumentaram a competitividade entre os grupos indígenas que lutavam entre si, sendo esses conflitos favoráveis aos portugueses que poderiam escravizar os perdedores dessas guerras ou aprofundar as trocas de armas por mercadorias ou mão de obra. Ou seja, segundo historiadores, a divisão dos grupos étnicos e a rivalidade entre eles foram parte de um mesmo jogo de conflitos e interesses em que os europeus eram um dos agentes. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 8/51 No entanto, a aliança e as relações de troca e escambo existentes entre indígenas e portugueses tornaram-se inadequadas diante das novas exigências da Colônia em crescimento, alimentando, assim, a prática da escravização indígena em larga escala. De acordo com Maria Regina Celestino de Almeida: Colônia em crescimento Como exemplos do crescimento da Colônia temos aumento populacional, novas construções, produção de alimentos e atividades agrícolas. Paralelo a isso, o caráter destruidor da aliança com os portugueses se revelava cada vez mais por meio de doenças contagiosas, de atitudes traiçoeiras e, principalmente, de sua voracidade em obter escravos que, além de intensificar as guerras intertribais, contrariava sua principal motivação – a captura de prisioneiros para o sacrifício, descontentando os índios. A consequência direta dessa situação foi o incremento assustador das guerras indígenas contra os portugueses em toda a costa do Brasil. (ALMEIDA, 2013, p. 63) O litoral do Rio de Janeiro foi um bom exemplo da guerra de domínio existente nas primeiras décadas da colonização e provocou, segundo essa mesma autora, uma alteração no quadro de alianças e hostilidades entre os grupos indígenas (ALMEIDA, 2013, p. 73). 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 9/51 Importante lembrar que a fundação da cidade do Rio de Janeiro foi realizada a partir de um conflito entre portugueses e franceses pelo domínio da região. No entanto, esse conflito só pôde ocorrer a partir também do apoio e das hostilidades existentes entre os diferentes grupos de indígenas que ocupavam a região. Alimentar essas hostilidades e con�itos favoreceu os colonos portugueses. Desse modo, criou-se categorias de indígenas a partir das relações que mantinham com os colonos. Os “aliados” teriam um papel especial nessas relações porque eram súditos do rei e garantiam a ocupação e manutenção da terra. Além disso, os vistos como aliados poderiam oferecer sua força de trabalho a autoridades, missionários e colonos a partir de uma troca de valores. Em oposição a esses aliados, existiam os “inimigos”, que poderiam ser escravizados e violentados na sua identidade. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 10/51 Formas de escravismo indígena Escravização Os portugueses introduziram várias formas de “aquisição” dessa mão de obra nos primeiros anos da colonização. As expedições de descimento foram uma dessas formas e eram realizadas por meio da retirada dos índios dos seus locais de origem para as aldeias criadas nos núcleos portugueses. Alguns desses indígenas que iam para as aldeias aceitavam de forma voluntária por temer a escravização, a redução das terras livres, a falta de alimentos ou outras dificuldades que poderiam colocá-los em risco, tornando a aldeia uma proteção nesse processo de negociação das perdas e nas estratégias de sobrevivência. Indígenas soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos, tela de Jean-Baptiste Debret. Em paralelo a isso, existiram as chamadas “guerras justas” que se tornaram um procedimento legítimo de escravização dos indígenas hostis aos portugueses e que se recusassem à evangelização. A Coroa portuguesa autorizava esse tipo de guerra, usando como justificativa a ideia de Com o avanço da colonização, as expedições de apressamento foram 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 11/51 que os indígenas eram selvagens e por isso permitia sua escravização. realizadas pelos bandeirantes paulistas que, ao desbravarem o sertão, capturavam os indígenas para a escravização. Por meio das guerras justas, o processo de escravização desse grupo se aprofundou. O cenário inicial da escravização indígena é o das primeiras expedições portuguesas, principalmente após as cartas de doação das capitanias hereditárias e em um ambiente de escassez de mão de obra. A disputa entre colonos e jesuítas, esses últimos desejosos de catequizar os indígenas, marcou os primeiros séculos da colonização. No entanto, de acordo com Jacob Gorender (2010, p. 524), se os jesuítas salvaram em parte a população indígena da escravização, principalmente salvando-os do extermínio dos colonos leigos, os jesuítas também estimularam alguns processos violentos de sujeição desses indígenas sob pretexto de viabilizar a catequese. Comentário Para esse autor, o protesto contra a escravização injusta tinha, no seu reverso, o reconhecimento da escravização considerada justa aos olhos da lei. Mesmo com uma estrutura montada para controlar o “uso” dos indígenas para o trabalho por parte das autoridades portuguesas e dos jesuítas, esse grupo não deixou de ser escravizado por particulares. Essa escravização pôde ser identificada em pesquisas que analisaram testamentos e que encontraram as heranças com as seguintes expressões: moços de serviço forros, gente forra, gente do Brasil, peças forras serviçais, administrados ou servos de administração (GORENDER, 2010, p. 519). Importante ressaltar que a introdução de africanos para a escravização não preservou os indígenas e nem substituiu esse tipo de mão de obra que continuou a ser usada em regiões mais pobres. Durante o século XVII, o trabalho indígena foi predominante em algumas áreas da Colônia, a despeito da presença dos africanos escravizados. Durante a presença dos jesuítas na Colônia, antes de sua expulsão por parte do Marques de Pombal, houve um apoio sistemático no uso dos africanos como escravos a fim de preservar os indígenas, sendo as ações dos jesuítas apoiadas pelos interessados na venda dos africanos. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 12/51 Proibição legal do escravismo O �m? A escravização indígena foi abolida pelas leis pombalinas de 1755 e 1758, apesar de deixarem brechas para a escravização em caso de prisão dos indígenas por “vagabundagem”. Desse modo, permaneceu um comércio de indígenas no estilo dos descimentos e a escravização em regiões afastadas do litoral. Nos tempos do Império, principalmente na região do cultivo do café no Vale do Paraíba, outros grupos indígenas foram afetados. Os que viviam na região de Valença, os Coroados, desapareceramna medida em que houve a fundação das vilas e o avanço da produção do café. A violência sobre os grupos indígenas, dessa vez, não foi apenas para o uso da sua mão de obra, mas sim sobre a sua presença física e política na região disputada por grandes fazendeiros. Nessa violência que causou o desaparecimento do indígena, criou-se a ideia de que, no século XIX, ele já não mais existia no Brasil. A comercialização da mão de obra indígena serviu a inúmeros interesses e permaneceu sendo feita até meados do século XIX. O uso desse grupo para o trabalho na Colônia e no Império foi reduzido diante do aumento do número de africanos para a escravização e na pressão política e econômica que os interessados no comércio com a África fizeram para que os africanos fossem privilegiados na escravização. Ainda assim, é preciso ver a história do Brasil Colônia e Império sendo feita a partir do trabalho indígena, apesar da sua resistência e negociação para preservar suas identidades e a própria vida. Escravidão indígena 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 13/51 Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em História Beatriz Libano Bastos, que aprofunda o debate no tema escravidão indígena. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O uso da mão de obra indígena é cheio de mitos na história do Brasil. Foi discutida desde uma relação amistosa até o fato de indígenas fugirem por conhecerem a terra e não se adaptarem ao trabalho. As premissas falsas podem ser observadas quando A os indígenas eram escravizados irregularmente, mesmo com a proibição da Colônia portuguesa, desde o século XVI. B a Colônia brasileira buscava se estabelecer e precisava de aliados, por isso não escravizava indígenas. C os indígenas foram escravizados e trocados como mercadorias nos portos de São Vicente e Desterro para fazendas do Recife e Salvador. D as tribos lutaram bravamente e faziam rituais de morte coletiva para não se entregarem ao escravismo. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 14/51 Parabéns! A alternativa E está correta. Os indígenas tiveram relações diversas com os portugueses. A lógica de trabalho compulsório sempre esteve presente como possibilidade. Seu modelo de escravidão não foi de grande comércio de costa a costa, mas sim com mais dinâmicas locais e por terra. Os indígenas eram vistos como força de trabalho e almas a serem salvas. Pela proximidade com a Coroa, os jesuítas eram os principais articuladores, que se beneficiavam de uma forma de escravismo e criticavam outras no espaço colonial. Questão 2 A escravidão indígena muitas vezes é apresentada na escola como algo que não existe ou era secundário. No entanto, uma investigação nas fontes acabam por indicar processos diferentes. Escolha, entre as alternativas abaixo, a que serve de exemplo de um processo de escravidão indígena. E foi montado um modelo em que os jesuítas teriam o principal direito à força de trabalho indígena, por isso, muitas vezes, o escravismo foi negado. A Durante a Guerra dos Bárbaros, em que os índios invadiram Salvador. B No levante na cidade do Rio de Janeiro, para expulsar os franceses da Baía de Guanabara. C Nas lutas dos jesuítas contra os bandeirantes, pela proteção dos indígenas. D Nas ações do governo, que tentava de toda forma evitar que os indígenas fossem escravizados. E Nos relatos do Vale do Paraíba, já nas plantações de café, sobre o escravismo indígena mantido. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 15/51 Parabéns! A alternativa E está correta. A construção dos indígenas como foco de escravismo não está só no padrão jurídico, mas no lidar com o outro na formulação do Brasil. Os relatos de escravismo indígena não se mostram na resistência, que sempre houve, ou na proteção de um grupo, o princípio é que a dinâmica de escravismo, mesmo com a proibição, continuou viva e recorrente. 2 - A escravização de africanos nas Américas Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a escravização africana como um grande comércio de gente. Trá�co de africanos pelo Atlântico Trá�co Atlântico O Brasil recebeu o maior volume de africanos para a escravização nas Américas. Esse grande comércio de gente foi introduzido pelos portugueses nas primeiras décadas da colonização, perdurando a escravidão até 1888. Entender o complexo processo desse comércio é fundamental para compreendermos a estrutura do trabalho no Brasil, principalmente diante da constante exploração de homens e mulheres em suas atividades laborais mediante baixos salários. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 16/51 A comercialização de africanos para as Américas começou com a chegada dos portugueses ao continente em meados do século XV. Essa chegada foi impulsionada por diferentes motivos, entre eles o religioso, no qual a presença portuguesa no continente africano iria espalhar a fé cristã e salvar algumas almas. Quadro “Primeira Missa no Brasil”. As condições econômicas de Portugal permitiram a aventura dos portugueses se lançarem ao mar em busca de novas rotas comerciais e da expansão da fé. A costa do continente africano parecia ideal para esse empreendimento, sendo alguns nativos capturados e enviados a Portugal, iniciando uma guerra justa aos moldes daquela que promoveriam no Brasil nas décadas seguintes. Nessa guerra, a conversão ao cristianismo seria a senha para escapar da escravização, sendo uma ação legítima e providencial apoiada pela Igreja Católica e pela Coroa. De acordo com alguns cronistas do período, a escravidão permitiria aos nativos africanos a conversão ao cristianismo e depois libertos estariam abertos à civilização, servindo a escravização como uma salvação (COSTA, 2014, p. 62). 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 17/51 Ainda de acordo com esses cronistas, os nativos africanos deveriam ser forçados a trabalhar porque eram afeitos ao ócio e, sendo superiores religiosa e culturalmente, os portugueses acreditavam que tinham direitos sobre as terras, os bens e os povos (COSTA, 2014, p. 65). Ao estabelecer feitorias pela costa africana, os portugueses foram estabelecendo contato com diferentes povos, negociando mercadorias, pessoas, convertendo alguns ao cristianismo e empreendendo guerras justas que renderiam mais pessoas para a escravização de outras regiões, principalmente as Américas. Nesse processo de conquista da África, que passava pela negociação e cristianização, é importante chamar a atenção para a sedução que alguns reis africanos caíram no contato com os portugueses, que, em primeiro momento, tratavam-nos como iguais. Os reis portugueses tinham o poder de decidir quem proteger e quem atacar, e suas decisões dependiam da boa vontade dos chefes em respeitar os acordos com a Coroa. Quando os chefes africanos se deram conta das trágicas consequências do tráfico de escravos – seus povos divididos e em guerra uns contra os outros, vassalos leais subitamente rebelados contra a autoridade dos soberanos, todos seduzidos pela ilusão de riqueza e poder trazida à África, e os portugueses 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 18/51 demandando sempre mais mão de obra por meio do tráficoe expandindo a infraestrutura colonial –, já era tarde demais para voltar atrás e redefinir a relação com o rei português. Os chefes e seus povos haviam caído na armadilha de um processo que já não podiam controlar. (COSTA, 2014, p. 70) Já tendo introduzido a escravização africana no Brasil, os portugueses conquistaram no final do século XVI a região de Angola, o que serviu para o aprimoramento do tráfico negreiro. Dentre alguns números sobre a chegada de homens e mulheres da África ao Brasil, em primeiro momento, entre 1576 e 1600, entraram aproximadamente 40 mil escravos africanos; entre os anos de 1601 e 1625 esse número triplicou, provocado pela demanda da mineração. Nesse último período, houve um forte envolvimento de negociantes ingleses e holandeses, havendo pelo menos cinco sistemas transatlânticos: britânico, francês, holandês, espanhol e português. Africanos no Brasil O Brasil recebeu 1/3 dos africanos trazidos para as Américas, de lugares como: Centro-ocidental (Angola, Congo) 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 19/51 Costa Ocidental (Costa da Mina, principalmente) Costa Oriental (Moçambique) A identificação étnica desses grupos que vieram para o Brasil poderia responder sobre a experiência da escravidão e como viveram a diáspora. No entanto, muitos registros de nação, encontrados nas documentações, são apenas categorias criadas por senhores ou comerciantes ou identidades adotadas pelos próprios africanos ao se reagruparem ou ressocializarem sob a escravidão. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 20/51 Um dos exemplos das trocas de mercadorias que geraram o comércio de africanos está na Bahia. Nessa região, era produzido um tipo de tabaco de grande interesse dos comerciantes da região da Costa da Mina, sendo esse um local de origem dos africanos que foram para a Bahia diante da profícua troca entre os comerciantes de ambos os lados do Atlântico. Esses povos seriam os Jejes, Ussás, Nagôs, considerados pelos homens da época as nações mais guerreiras da África, segundo Pierre Verger. Até o final do século XVII, não havia escravizados em Minas Gerais e os que começaram a entrar na região, por conta da exploração do ouro, vinham de Angola para o Rio de Janeiro, sendo vendidos diretamente para os mineradores. Em 1730, cresceu em 40% o volume de entrada de cativos no Rio de Janeiro com destino às minas. A mineração causou um impacto no caráter da escravidão, fazendo com que ela fosse difundida social e espacialmente, disseminando também a posse do escravo e a criação de hierarquias étnicas e culturais mais complexas. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 21/51 Algumas pesquisas realizadas sobre a região mineradora revelaram uma sociedade heterogênea e múltipla, paradoxal em relação a uma administração, que procurava ser repressora e excludente, mas que nem sempre conseguia moldar essa sociedade conforme seu intento. Ao contrário do que usualmente se pensava, os indivíduos escravizados foram capazes de estabelecer níveis significativos de organização familiar e de luta por seus direitos. A instituição escrava, em toda a região da Colônia e do Império, serviu para estragar as relações sociais que o escravizado e o ex-escravizado pudessem estabelecer mais tarde no mundo branco. O legado da escravidão seria eterno para quem vivesse em uma sociedade escravista, não sendo a liberdade um fator de igualdade entre livres, ou seja, um ex-escravizado não estaria no mesmo pé de igualdade que um homem branco, mesmo que pobre. A comercialização do corpo negro para o trabalho não poderia ser apagada com a liberdade enquanto durasse a sociedade escravista. A cidade do Rio de Janeiro foi afetada pela forte demanda de escravizados para a região de Minas Gerais, estando esse comércio consolidado na cidade no século XVIII, por haver também capital para o investimento nesse tipo de mercadoria por parte dos negociantes locais. Para o empreendimento, foi realizada uma grande manobra que envolvia diferentes setores. Vejamos! Os que forneceriam as mercadorias a serem negociadas na África em troca de homens e mulheres para a escravização. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 22/51 Os que comandavam as frotas dos navios, de diferentes tamanhos e que incluía experientes mestres e capitães, e de origem do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco e de Portugal. Havia também médicos e cirurgiões capazes de tratar das doenças originárias dos navios que traziam os africanos para o Brasil. Além disso, era preciso a figura dos intérpretes e professores que pudessem ensinar um palavreado básico para os recém-desembarcados, a fim de que fossem capazes de se comunicar. Toda essa estrutura foi alimentada por aqueles que queriam comprar essas “mercadorias” e enviá-las para diferentes tipos de atividades, seja para o campo ou para as cidades. Importante ressaltar as palavras do pesquisador Nireu Cavalcanti sobre o comércio desses africanos no Brasil. Vamos conferir! Esses consumidores de homens e mulheres escravizados eram diversos. De acordo ainda com Cavalcanti, havia os comerciantes que queriam revender esses sujeitos novos, ou os ricos que os queriam para o trabalho e por isso preferiam os mais sadios, mas havia também aqueles mais pobres que adquiriam os africanos doentes a preços módicos, e que poderiam estar aleijados ou velhos e que eram chamados de “refugo” (CAVALCANTI, 2005, p. 41). Alguns investiam no 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 23/51 tratamento desses doentes para que pudessem ser vendidos e assim terem seus investimentos recuperados. Ou seja, o comércio de africanos para a escravização abrangia diversos interesses em uma cidade escravista. Navio negreiro. Quando o Rio de Janeiro se tornou sede da Corte em 1808, houve um aumento da demanda por escravizados artesãos, encarecendo o aluguel desses indivíduos. Além da possibilidade de alugar o serviço, havia também os “negros de ganho”, presentes nas cidades escravistas. Essa modalidade da escravização consistia em uma licença tirada pelo seu senhor que permitia que o escravizado oferecesse seus serviços em troca de uma quantia, que seria dada ao senhor e combinada entre eles. Esse tipo de atividade exercida por esses escravizados permitiu até que famílias pobres tivessem alguma renda em caso de possuírem algum sujeito escravizado. Em alguns casos, o senhor não oferecia moradia, restando ao escravizado pagar com a renda adquirida no trabalho o valor da sua moradia e alimentação. Uma das atividades realizadas pelos chamados “escravos de ganho” era a de transporte de mercadorias. No tempo da Colônia e do Império, os animais ou outros dispositivos mecânicos não eram utilizados para o transporte de grandes mercadorias, restando aos escravizados essa 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 24/51 atividade, usando suas cabeças, braços e toda sua força física para carregar todos os tipos de mercadorias, das mais leves às mais pesadas. Velho africano com berimbau As mulheres também eram responsáveis pela realização do ganho nas cidades. Elas realizavam diferentes atividades, desde serviços de cozinheiras, costureiras e lavadeiras. Além dessas atividades, também comercializavam gênerosalimentícios ou comidas preparadas por elas. O uso de sujeitos esravizados para esse carregamento era disseminado em várias cidades, desde as mais planas, como o Rio de Janeiro, até as com grandes ladeiras, como Salvador. Escravidão no Império Escravismo no tempo do Império O tempo do Império do Brasil foi de auge da escravidão. Entre 1822 e 1888, o Brasil tornou-se a maior sociedade escravista e o último país a libertar seus homens e mulheres escravizados. Ainda durante a primeira metade do século XIX, entraram no Brasil mais de 42% dos africanos, a maioria destinada à atual Região Sudeste. No entanto, concomitante ao aprofundamento da escravização africana e dos seus descendentes, ocorreu também uma movimentação legislativa a �m de diminuir essa dependência e eliminar gradativamente a escravidão. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 25/51 Um primeiro momento dessa tentativa de reduzir a influência da escravidão foi atacar a entrada de africanos no Brasil. Esse comércio transatlântico foi proibido por meio de uma lei assinada em 7 de novembro de 1831, já no Período Regencial, uma vez que o Imperador Pedro I havia abdicado do seu trono no dia 7 de abril do mesmo ano. A lei que proibiu o tráfico de “escravos transatlântico” está dentro de um contexto internacional de repressão do tráfico e numa conjuntura doméstica que colocava o Brasil no topo dos países das Américas com maior número de população escravizada, tendo também a maior população de africanos fora da África e a maior população de descendentes livres de africanos. Essa era a realidade da escravidão no Brasil logo após a independência e que teria pouca alteração na década seguinte. A lei de 1831 foi resultado de uma pressão internacional e um acordo feito entre D. Pedro I e a Inglaterra em 1826, ferindo os interesses dos setores conservadores do Estado. Assinada em 1831, a proibição de entrada de africanos para a escravização alterou os rumos da escravidão no Brasil. Houve um decréscimo temporário nas entradas de africanos durante a primeira metade da década de 1830, mas, nos anos seguintes, assumiu grandes proporções. Homens e mulheres capturados. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 26/51 Uma das mudanças foi a respeito do perfil de quem operava esse comércio. Em diversas regiões do Império, o antigo comércio virara tráfico com novas roupagens e esquemas, o que tornava a atividade mais lucrativa e mais violenta. A atividade atrairia profissionais especializados, não sendo possível a participação de amadores nesse comércio. Com a ilegalidade, perdia-se uma estrutura de chegada dos homens e mulheres para a escravização, em que teriam cuidados iniciais para a recuperação da viagem e imediata venda. Após 1831, o desembarque passou a ser uma questão de oportunidade, quando não houvesse perigo da descoberta do tráfico, fazendo com que muitos cativos esperassem nos navios por horas ou dias para serem desembarcados, deteriorando ainda mais suas condições físicas. Outras regiões para esse desembarque se desenvolveram, não sendo possível ter registros desses homens e mulheres que chegaram ao Brasil de forma ilegal. Chamada de “lei para inglês ver”, a primeira lei que interrompeu o tráfico foi fundamental para a produção de fortunas e para o aprofundamento da escravização, apesar da ilegalidade desse comércio. Por ter dado um novo rumo ao comércio de africanos no Brasil, a lei de 1831 tem um impacto profundo, durando até 1850, quando ocorreu a aprovação da segunda lei contra o tráfico desses indivíduos. As leis que trataram do fim do tráfico foram elaboradas em contextos distintos e previam mais a preservação da propriedade escrava do que o fim do tráfico propriamente dito. A lei de 1850 teve um apoio diferenciado diante da iminência de uma revolta comandada pelo elevado número de africanos e por não responsabilizar o proprietário desses escravizados pela entrada ilegal dos africanos. Ainda assim, o contexto tenso da escravidão, entre temor de insurreições e sua realização propriamente dita, abriu brechas para a negociação de liberdade ou de “direitos” no mundo da escravidão. Entre o período das duas leis, houve o estabelecimento e a expansão da produção do café na região do Vale do Paraíba. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 27/51 A implantação efetiva de uma economia agrária de plantation, a partir da década de 1830, favoreceu o crescimento, a acumulação e a concentração da população escravizada nas mãos dos proprietários rurais, principalmente na região do Vale do Paraíba, causando mudanças nos espaços de negociação nas relações senhor e escravizado. Os anos entre 1865-1880 representaram anos de grandeza da cafeicultura de Vassouras, com alteração no padrão das relações de força entre senhores e escravizados, havendo um crescente protagonismo desses últimos por seus direitos e ampliação dos espaços de negociação. A expansão do café no Vale do Paraíba se confunde com a história da expansão da própria classe senhorial no Império, dependente da escravidão. A elite imperial compartilhava e expressava um estilo de vida e uma visão de mundo a partir do ponto de vista delimitado pela Corte e pela escravidão. Tornavam-se dependentes da escravidão, desse comércio, tanto econômica quanto socialmente. Trá�co de viventes e formas do escravismo no Brasil Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em História Beatriz Libano Bastos, aprofundando o debate no tema tráfico atlântico. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 28/51 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O tráfico atlântico foi um grande negócio. A sua estrutura econômica foi marcada pela construção de uma rede ampla que pode ser caracterizada pela Parabéns! A alternativa E está correta. O tráfico é marcado por discursos de poder e superioridade, mas de fato é uma dinâmica social que transformou o estabelecimento e a conquista de entrepostos em espaços de trocas, transformando, na dinâmica mercantil, pessoas em produtos. Questão 2 A superioridade europeia e que domina todo o mundo. B poderio militar que permite que os portugueses dominem o mundo. C prática de escravismo na África que facilitou a aceitação da escravidão. D organização religiosa que gerava o interesse na conversão e justificou a escravidão. E estrutura de feitorias e a inserção nas disputas locais que permitiram um lento e contínuo processo de uso da mão de obra escrava. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 29/51 O trabalho como um produto e que tem suporte governamental para a sua legalização ou proibição é algo recorrente nas sociedades modernas e contemporâneas. Durante a modernidade, essa exploração teve um capítulo terrível com o escravismo como modelo econômico e que tem seu auge no século XIX. Ao mesmo tempo que é seu auge, devemos salientar também que é Parabéns! A alternativa E está correta. O tráfico é controverso ao longo de todo seu período, no entanto, a aceleração do comércio nos séculos XVIII e XIX ampliou as trocas, assim como as leis do XIX ampliaram os valores e, por isso, a resistência acaba por apontar o enriquecimento de traficantes. A o período em que o comércio começa a falir com a valorização do trabalho assalariado imigrante.B o período em que a religião muda o discurso e se torna inimiga da escravidão. C o período em que os grupos contra o escravismo defendem o retorno de todos os africanos ao continente de origem. D o período em que os governos independentes das Américas mais lutaram pelo seu direito de escravizar. E o período em que as contestações cresceram e as legislações, por pressão de ingleses, por exemplo, passam a restringir as práticas escravistas. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 30/51 3 - A resistência à escravização no Brasil Ao �nal deste módulo, você será capaz de exempli�car as diferentes formas de resistência à escravidão no Período Colonial e Imperial. Quilombo Formação dos quilombos As formas de escravização que tratamos até aqui não foram feitas sem a resistência dos homens e mulheres escravizados. Durante todo o Período Colonial e Imperial, houve resistência por parte dos africanos e seus descendentes, que não aceitaram suas condições de mercadoria. Desse modo, é importante pontuar também as diferentes formas de resistência dessa população. Uma delas foi por meio da fuga e formação de quilombos, criados a partir de grupos de homens e mulheres fugidos que estavam organizados econômica e socialmente em comunidade, tendo um tipo de autonomia e agenciando estratégias de resistência diante de Os quilombos foram uma forte expressão de resistência à escravidão e são caracterizados pela sua condição radical diante do escravismo. Além de escravizados fugidos, os quilombos agregavam também indígenas perseguidos, multados e outros 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 31/51 outros sujeitos perigosos. grupos sociais oprimidos e em risco. O quilombo de Palmares foi o primórdio desse tipo de ação, sendo classificado como “quilombo-rompimento” por ter como princípio a prática do esconderijo e do segredo de guerra, sendo necessário preservar o cotidiano e a organização interna contra curiosos e, consequentemente, autoridades coloniais. Esse tipo de prática assustou autoridades e causou mudanças na legislação após o fim de Palmares, que durou aproximadamente 80 anos, a fim de evitar a repetição da grandiosidade desse quilombo. Após o fim de Palmares, a legislação e a repressão não permitiram que outro Palmares existisse. No entanto, a prática do aquilombamento não desapareceu, sendo identificados quilombos em algumas cidades. Nas últimas décadas da escravidão surgiram os “quilombos abolicionistas”. Diferentemente do segredo existente no modelo tradicional, suas lideranças eram conhecidas, com boas articulações políticas, sendo essencial a articulação mais profunda com a sociedade e sendo parte de um jogo político daqueles últimos anos da escravidão. Dois quilombos abolicionistas são conhecidos e fortemente pesquisados pela historiografia. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 32/51 Jabaquara Jabaquara foi o maior deles. Ficava na região de Santos, São Paulo, e suas terras foram cedidas por um abolicionista da elite e os quilombolas lá ergueram suas casas com ajuda do dinheiro recolhido entre comerciantes da região e de outros doadores. Leblon Outro exemplo é o quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro, que teve como idealizador um comerciante português. Os fugitivos acolhidos no Lebon eram protegidos por outros abolicionistas, cientes da existência desse tipo de refúgio em plena cidade. Os quilombos do Jabaquara e do Leblon se comunicaram e ambos eram exemplos de uma nova forma de resistir à escravidão, ampliando, assim, aqueles que aderiram a liberdade dos escravizados. De fato, os quilombos desafiaram as autoridades escravistas, que tentaram encontrar meios para diminuir a atração da escravaria para esse tipo de prática. As alforrias eram uma forma de diminuir a tensão e serviam de mecanismo de segurança para garantir a permanente entrada de africanos, numa espécie de constante mobilidade da escravaria. Por outro lado, as fugas e as revoltas eram desmobilizadas por meio da negociação entre senhor e escravizado e a concessão de alguns direitos, como a realização de festas, permissão para constituir famílias, pedaços de terra e outras medidas que poderiam aliviar a pressão sobre esses homens e mulheres. Quando essas medidas não funcionavam, estouravam as revoltas. Movimentação e resistência Levantes e revoltas Durante todo o período da escravidão, as revoltas escravas foram constantes. Algumas com maior impacto e repercussão e outras que foram inibidas pelas autoridades ou por senhores. O século XIX, principalmente após a independência do Brasil, teve nas revoltas o grande temor de que uma grande rebelião pudesse agregar todos os indivíduos escravizados e causar uma convulsão social, nos moldes do que ocorreu no Haiti. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 33/51 Haiti Colônia francesa que por meio de uma revolução negra se tornou independente e acabou com a escravidão. Muitos senhores temiam um “transplante” da África para o Brasil na continuidade do trá�co. O ideal seria a promoção de reformas a fim de evitar o mal maior: uma grande revolta. Apesar do temor das autoridades e dos senhores, a grande revolta nos moldes da ocorrida no Haiti não foi testemunhada no Brasil. No entanto, podemos afirmar que as rebeliões aqui existentes foram grandes “ensaios” para algo maior e causaram preocupação sobre o destino da escravidão no Império. Entre as mobilizações estudadas pela historiografia, destacam-se as ocorridas na década de 1830, após a primeira lei do fim do tráfico. 1833 Em maio, ocorreu na região de Carrancas, da comarca de Rio das Mortes, em Minas Gerais, uma revolta promovida pela escravaria de um deputado que resultou na morte de nove membros da família do senhor. A região tinha uma forte concentração de escravizados africanos, tendo como atividade econômica a pecuária e o cultivo do tabaco. A revolta espalhou-se por outras propriedades do senhor e na repressão cinco escravizados foram mortos. A penalidade caiu sobre outros 12 que foram condenados à morte. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 34/51 Apesar dessas revoltas terem sido realizadas em regiões e contextos diferentes, chamou a atenção dos pesquisadores uma interessante característica: a presença de um grande número de africanos. Essa condição das revoltas preocupou as autoridades que temiam, conforme já foi dito, um predomínio de africanos no Brasil, podendo alimentar revoltas e mais instabilidade para a instituição escravista. Essa característica também deu argumentos para aqueles que eram contra a continuidade do contrabando de africanos. No entanto, no final da década de 1830, o volume do tráfico aumentou, só cessando em 1850 com a segunda lei. Comentário Entre quilombos e revoltas, os escravizados tinham uma autonomia de ação, não podendo ser vistos nem como heróis nem como apenas vítimas. Esses papéis não podem ser tão facilmente definidos num 1835 Em Salvador, Bahia, escravizados muçulmanos tinham como objetivo atacar a região produtora de cana e programaram a revolta para o dia 25 de janeiro, dia de Nossa Senhora da Guia e de festividades na cidade. A repressão matou 70 escravizados e mais de 500 foram condenados a diferentes penas, morte, tortura, deportação. A Revolta dos Malês, como ficou conhecida, foi a maior rebelião escrava do Império. 1838 Na região de Paty dos Alferes, no Rio de Janeiro, houve a fuga de escravizados de duas fazendas, que tinham como objetivo formar quilombos. A fuga não teve sucesso e esses homens foram recuperados, sendo condenados à morte e Manoel Congo enforcado em praça pública para servir de exemplo. A fuga ocorreu numa região com grande concentração de escravizados para as fazendas de café e está dentro de um contexto de redução da entrada de africanos via tráfico transatlântico. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 35/51 contexto de escravização em que tanto a rebeldia quanto a negociação tinham o seu valor. Para alguns autores que pesquisaram contextos específicos, os escravos no Brasil foram mais negociadores do que rebeldes, uma vez que negociar era uma chave para sobreviver no sistema. Por conta disso, é errado ver o período da resistência à escravização e a continuidade do comércio de gente seguindo uma lógica de ação. Na verdade, todas as ações escravas possuíram lógicas próprias dependentes do contexto em que homens e mulheres viviam, dependentes da margem de negociação que encontravam. Estratégias e lutas contra o escravismo Lutas pessoais e resistência ao controle Outras formas de resistência à escravidão existiram, além das revoltas e formação dos quilombos. Alguns realizavam roubos, suicídios e abortos, dentre outras ações. Todas essas formas de resistência serviam para ou abrir margens de negociação para alcançar algum tipo de liberdade ou interromper de imediato a escravização. No entanto, havia também algumas revoltas que serviam para a negociação, ou seja, não significariam o rompimento definitivo com o sistema e talvez servissem para evitar a venda de algum escravizado, separação da família ou negociar folgas. O movimento de greve que conhecemos hoje feito por trabalhadores livres era chamado de “paredes” quando realizado por escravizados e servia para alertar o senhor, iniciar uma negociação ou buscar um direito, apesar da escravidão. Esse direito talvez fosse permanecer num lugar específico e evitar sair do campo para a cidade ou vice-versa, por exemplo. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 36/51 Outro motivo para as fugas poderia ser também uma reação aos castigos físicos ou a quebra de costumes anteriormente aceitos, entre eles, a redução dos dias santos, ou o impedimento de festas e atividades religiosas. Importante ressaltar a diferença entre a escravidão no campo e na cidade: em ambos os lugares, a violência era fundamental nesse comércio de gente. O campo e a cidade possuíram ideias próprias para a repressão às fugas e revoltas. Porém, é importante ressaltar o quanto que o escravizado, homem e mulher, são distintos e não constituem um bloco que possa ser facilmente coordenado para a realização de uma grande fuga ou revoltas. Esses sujeitos operavam a partir de lógicas próprias que eram determinantes para a sobrevivência no sistema escravista ou para a realização de alguma ação mais violenta de fuga ou de conquista de liberdade. Nas cidades escravistas, esse sujeito também estava submetido a outras vigílias, não apenas do seu senhor, mas das autoridades locais que seguiam códigos de conduta e que prezavam pela harmonia da cidade, para isso reprimindo ajuntamentos e outras ações coletivas de homens e mulheres escravizados. A chamada “boa sociedade” também servia de vigília contra esses sujeitos em fuga ou em desordem. Logo, a vida escrava nas cidades seguia uma lógica de violência diferente da existente no campo, não sendo amena por ser na cidade. Ethos escravista Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em História Beatriz Libano Bastos, aprofundando o debate no tema tráfico atlântico. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 37/51 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O trabalho é parte do processo social. Seja compulsório ou por escolha do trabalhador, ele estabelece uma relação entre quem usa o trabalho e quem o executa. A relação homem com o trabalho ao longo do tempo traz formas de resistência. Exemplifique uma forma de luta vinculada ao trabalho na história do Brasil. Parabéns! A alternativa E está correta. A lógica de exemplificar tem que ter sentido. Apesar de poder ser político, o foco sobre o trabalho é produção. Nesse ponto, a única A O quilombo, por tornar-se uma zona política independente politicamente. B A batalha do Haiti, que toma o poder em um país para os ex-escravizados. C Revoltas, como Malês e Sabinada, que tentavam tomar o poder político e pôr fim à escravidão. D Suicídios coletivos dos “escravos de ganho”, quando tinham oportunidade de trabalhar na rua. E Revoltas com a queima das fazendas, destruindo a produção, gerando prejuízo financeiro ao senhor. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 38/51 questão que se concentra sobre disputa de trabalho e produção decorrente das fazendas é a letra E. Questão 2 A discussão sobre o que representava o quilombo dentro da sociedade brasileira é histórica e relevante. Em sua retirada social, não deve ser entendida como isolamento. De fato, o quilombo representava Parabéns! A alternativa E está correta. O quilombo mantinha um sistema econômico, com trocas, produção, mesmo sendo espaço de resistência e muitas vezes palco de lutas ferrenhas contra o poder instituído. A uma forma de organizar um exército para lutar contra a escravidão. B uma associação religiosa que visava proteger os escravizados. C uma cidade fortificada que tinha plena autonomia. D uma favela onde um estilo de vida próprio era organizado, apartado da sociedade. E um centro de resistência, que mantinha trocas econômicas e recebia núcleos de populações diversas. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 39/51 4 - O comércio de imigrantes e de mulheres Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car ações de venda de mão de obra imigrante e dos corpos das mulheres. Imigração e trabalho Mão de obra imigrante No Brasil escravista, não eram explorados apenas os escravizados. Havia também uma gama de trabalhadores de diferentes origens que exerciam atividades variadas. Esses trabalhadores, homens e mulheres, comercializavam sua mão de obra e, em alguns casos, o próprio corpo, em troca de dinheiro, moradia, alimentação e outros valores. A vinda de imigrantes europeus para o trabalho no Brasil também fazia parte de um projeto civilizatório que tinha outros propósitos. Vejamos! Incorporar à sociedade brasileira uma ética do trabalho. Estabelecer o projeto de branqueamento da população. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 40/51 Eliminar vestígios indexados da presença indígena e negra. No entanto, esses imigrantes eram de origens variadas e não necessariamente dispostos para algumas atividades laborais em condições precárias, como as que existiam no Brasil no período. Essa lei poderia ser a garantia para a falta de braços para o trabalho por conta do fim do tráfico em 1831. No entanto, o que se viu nos anos seguintes foi não apenas a intensificação do tráfico ilegal de africanos, mas da própria força da escravidão. Uma das formas de garantir que os imigrantes trabalhassem no Brasilera dificultar a aquisição de terras por parte deles. Essa foi uma proposta do Conselho do Estado do Império, em 1842, e que foi efetivada em 1850 por meio da Lei de Terras. Assim, muitos que vieram para o Brasil foram destinados ao trabalho na construção de estradas, pontes e demais obras públicas. 1830 Antes mesmo do fim do tráfico de africanos, em 1831, houve a promulgação da Lei de Locação de Serviços, no ano anterior, que regulou por escrito o contrato sobre prestação de serviços por brasileiros e estrangeiros. No entanto, essa lei não foi suficiente. 1837 Em 1837, novas providências foram anunciadas para a contratação de colonos. Entre as condições estabelecidas na nova lei, estavam a possibilidade de demissões por justa causa, a intermediação de sociedades de colonização para a contratação inclusive de crianças e órfãos e os direitos e deveres de locatários e locadores. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 41/51 A política imigrantista do Império parece ter sido vitoriosa quando temos acesso aos números. Entre 1861 e 1870, havia cerca de 95 mil estrangeiros no Brasil. O censo de 1872, o primeiro a fazer uma contagem geral da população, identificou que os imigrantes livres correspondiam a 3,8% da população, que nesse censo foi totalizada como sendo de 10 milhões. Imigrantes europeus. Em 1879, outra lei reajustava as normas para a locação dos serviços aplicados à agricultura e estabelecia prazos diferentes para os contratos exercidos por brasileiros ou estrangeiros e revogava as anteriores – 1830 e 1837. Entre 1880 e 1889, há um aumento do número de imigrantes e que se acentua nas décadas seguintes, principalmente nos primeiros anos republicanos. Maneiras diversas de exploração Escravos de aluguel Enquanto alguns imigrantes ocupavam os postos de trabalho, a escravização de homens e mulheres continuava. Seja por simples venda de escravo. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 42/51 Seja por meio do aluguel. Nesse último caso, o acordo seria entre o contratante e o senhor do escravizado a ser alugado, diferente do “escravo de ganho”, já visto anteriormente. Uma das formas de exploração das mulheres escravizadas foi por meio da prática conhecida como “ama de leite”, ocupação feminina naturalizada em todas as sociedades escravistas das Américas e presente no Brasil, sendo vista nos diversos anúncios de “aluga-se” e de oferecimento dessas mulheres por parte dos seus senhores em jornais das grandes cidades do Império. Algumas escravizadas eram alugadas ou pertenciam à família e dentre a função exercida estava a de amamentar a criança do senhor. Tal “ofício” aparecia na ocasião que essas mulheres ficavam grávidas, podendo ser oferecidas por seus senhores para um aluguel como “amas de leite” ou exercer a atividade para os filhos do senhor. As “amas secas” também eram exercidas por essas mulheres, às vezes de forma complementar, e seria destinado aos cuidados das crianças. No entanto, um aspecto cruel dessa prática é que, para ser ama de leite, era preciso ser mãe primeiramente. Desse modo, onde estavam as crianças geradas por essas mulheres que se tornaram amas de leite? O destino desses filhos é pouco investigado pela historiografia, talvez devido à falta de fontes sobre o paradeiro deles, que sequer aparecem nas fotografias de mulheres negras amamentando crianças brancas. Imagens essas realizadas por fotógrafos profissionais nos últimos anos da escravidão. Certamente, os filhos dessas amas de leite, se vivos, estavam entregues à escravização, disputando com as crianças brancas o leite da sua mãe. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 43/51 O serviço doméstico também era o destino das mulheres escravizadas ou negras libertas e livres, representando um forte aspecto da escravidão urbana e que serviu de crônicas para viajantes que visitavam o Brasil, principalmente a Corte, e que identificavam no serviço doméstico uma atividade quase essencialmente escrava. Essa atividade doméstica era iniciada cedo pelas mulheres, às vezes, ainda crianças. No entanto, muitas atuavam, tanto no trabalho doméstico quanto no comércio ambulante, nas ruas, vendendo todo o tipo de coisa. As quitandeiras foram a atividade comercial mais expressiva nas grandes cidades escravistas do século XIX, atividade ocupada por 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 44/51 mulheres negras em sua maioria. Diante de uma precária distribuição de alimentos, as quitandeiras tornaram-se responsáveis pela venda de diversos gêneros alimentícios, fazendo anúncios dos seus produtos, causando uma grande gritaria pela cidade, ao mesmo tempo que negociavam os preços com os compradores. Ou seja, elas ocupavam as ruas e tinham nos seus corpos uma extensão dos seus trabalhos, ao carregarem nos braços ou na cabeça os tabuleiros com seus quitutes e outros alimentos. Trabalho escravo e trabalho sexual Prostituição Outra forma de venda do corpo foi por meio da prostituição. Prática antiga em todos os lugares do mundo, no Brasil escravista não foi diferente. Essa foi uma prática existente entre as mulheres escravizadas, imigrantes, libertas, livres, ou seja, um perfil social diversificado. A respeito da prostituição, temos dois perfis. Esta foi uma prática existente entre as mulheres escravizadas, imigrantes, libertas, livres, ou seja, um perfil social diversificado. Mulheres escravizadas e imigrantes 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 45/51 A respeito da prostituição, temos dois perfis. O primeiro perfil é o das mulheres brancas, imigrantes, que vieram para o Brasil por conta do forte fluxo imigratório do século XIX e que, por diversas razões, entraram no mundo da prostituição. A Corte foi o ambiente que agregou muitas dessas mulheres que vieram de várias partes da Europa, que na maioria das vezes eram exploradas por terceiros que controlavam suas ações ou as abrigavam em prostíbulos e outros tipos de residência, em alguns casos eram os responsáveis pela vinda delas ao Brasil. O sistema conhecido como “tráfico de brancas”, que consistia na vinda de mulheres para a prostituição no Brasil (principalmente de moças judias da Europa Oriental), foi uma consequência da forte imigração europeia para as Américas, na maioria de homens, fazendo com que houvesse um desequilíbrio de sexos e assim uma demanda por mulheres. Importante ressaltar que grande parte das mulheres estrangeiras que se prostituíam no Brasil eram enganadas e acreditavam que na América exerceriam outra atividade. A entrada na prostituição se dava por meio da violência sexual e física que enfrentavam desses homens responsáveis por seu translado. Em alguns casos, as mulheres recém-chegadas eram “ensinadas” por prostitutas mais velhas e experientes. Essas informações constam em denúncias feitas às autoridades da Corte que, mesmo condenando tal prática, eram benevolentes com os estrangeiros acusados por tais ações. O segundo perfil é o das mulheres escravizadas e negras, podendo as primeiras estarem no mundo da prostituição por uma imposição do senhor. Tal prática foi condenada pelas autoridades jurídicas, que, a partir da década de 1870, empreenderam ações para pôr fim à prática da prostituição das escravizadas pelos seus senhores. O motivo da campanha era uma demanda de uma parte da sociedade, que, por meio de um Mulheresescravizadas e negras 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 46/51 discurso moralizador e de higiene, considera a prática da prostituição das escravizadas um momento de degradação. No entanto, algumas pesquisas mostram que a prática da prostituição das escravizadas nem sempre era uma imposição dos seus senhores, podendo ser também uma possibilidade por parte dessas mulheres a fim de se afastar da proteção senhorial ou ter chances de acumular dinheiro para a liberdade. No entanto, vale destacar como são distintas as histórias da prostituição no Império, principalmente na Corte, não deixando, porém, de ser a mulher, branca ou negra, imigrante ou escravizada, a maior vítima desse comércio. Formas de exploração do corpo Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em História Beatriz Libano Bastos, aprofundando o debate sobre imigrantes e a exploração dos corpos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 47/51 Comércio de gente é um termo muito duro, mas necessário, quando falamos das formas de exploração do trabalho. Quando falamos sobre os imigrantes, podemos detectar no Brasil Imperial Parabéns! A alternativa E está correta. A tradição de exploração e de uma diferença econômica marcaram os traços de exploração do trabalho no Brasil e foram uma dificuldade aos grupos imigrantes que aqui chegaram. Questão 2 A discussão sobre o escravismo brasileiro não ser identificado como trabalho, mas como troca de mercadorias é importante. Quando traçamos a discussão, notamos que mesmo os escravizados alforriados – que compravam sua liberdade – tinham dificuldades com a forma de exploração. Os chamados “escravos de aluguel” são um exemplo importante de uso do indivíduo como mercadoria e de manutenção de seu valor em nossa sociedade. São funções que se enquadram neste contexto: I – Prostituição A que vieram como escravos, mas somente para pagar a passagem. B que organizaram espaços autônomos no Brasil para fugir do escravismo. C que as práticas do trabalho escravo foram rompidas e abandonadas por eles. D que as relações de imigrantes eram de que sua superioridade lhes dava posição destacada nas condições de trabalho. E que foram impactados pela tradição escravista no mercado de trabalho do Brasil Império. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 48/51 II – Amas de leite III – Domésticas e arrumadeiras Estão corretas: Parabéns! A alternativa D está correta. As três formas podem se enquadrar no serviço de escravos de aluguel, sendo marcante a exploração do corpo feminino como uma peça, como algo que o senhor tinha direito a usar conforme desejasse. Considerações �nais O comércio de gente no Brasil e nas Américas foi iniciado com a chegada dos colonizadores europeus. Os indígenas foram os primeiros grupos a sofrerem essas ações que desconsideram suas identidades étnicas e suas práticas culturais, principalmente as voltadas para o trabalho. Algo semelhante ocorreu com a chegada dos portugueses ao continente africano, interferindo significativamente na forma de escravização existente, introduzindo um novo tipo de comércio de homens e mulheres, retirando-os do seu continente e os levando para regiões longínquas. A Somente I e II. B Somente I e III. C Somente II e III. D I, II e III. E Somente a I. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 49/51 Ao chegarem no Brasil, homens e mulheres africanos foram comercializados como se fossem simples mercadorias, com valores diferentes a partir das suas características. Essa prática da escravização não existiu sem as resistências dos escravizados. Logo, ao mesmo tempo que os senhores escravizavam, tinham também que conviver com o perigo de uma grande revolta por parte desses homens. Algumas revoltas ocorreram em diferentes regiões, mas nenhum grande movimento que pudesse abalar as estruturas da escravidão no Brasil. Por outro lado, temendo a redução da mão de obra escravizada, a vinda de imigrantes foi incentivada pelas autoridades do Império que, além de visar à exploração do seu trabalho, acreditavam que poderiam moralizar a população, tão afetada pela escravidão. Além de homens imigrantes para a lavoura e outras atividades, muitas mulheres vieram para o Brasil e foram obrigadas ou tiveram a opção de se prostituir. A prostituição afetou, além das mulheres brancas e imigrantes, as negras e escravizadas, muitas sendo obrigadas por seus senhores a exercerem tal prática. Desse modo, é fácil concluir o quanto que os anos da Colônia e do Império foram marcados por uma atividade comercial específica: o comércio de gente e a exploração dos corpos de homens e mulheres de diferentes origens. Podcast Ouça agora um breve resumo do que conversamos neste conteúdo. Explore + Alguns artigos são imprescindíveis para aprender mais sobre o assunto, confira! 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 50/51 FREITAS, F. V. As negras quitandeiras no Rio de Janeiro do século XIX pré-republicano: modernização urbana e conflito em torno do pequeno comércio de rua. Tempos históricos, vol. 20, 1º semestre de 2016, p.189-2017. MARTINS, B. C. R. Reconstruindo a memória de um ofício: as amas de leite no mercado de trabalho urbano do Rio de Janeiro (1820-1880). Revista de História Comparada, Rio de Janeiro, 6-2: 138-167, 2012. PRECHET, B. do N. O imoral escândalo da prostituição de escravas: pensando a prostituição a partir das mulheres negras no Rio de Janeiro (1871), Revista Transversos, Rio de Janeiro, n. 20, dez. 2020. SILVA, M. dos S. O tráfico e a exploração de mulheres na prostituição no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, Ler História [On-line], 68 | 2015. Dois livros são muito especiais sobre o assunto, confira! LEMOS, M. S. O índio virou pó de café? Resistência indígena frente à expansão cafeeira no Vale do Paraíba. Jundiaí: Paco Editorial. 2016. REIS, J. J.; SILVA, E. Negociação e conflito. A resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das letras, 1988. Referências ALMEIDA, M. R. C. de. Metamorfoses indígenas. Identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FGV, 2013. CAVALCANTI, N. O. O comércio de escravos novos no Rio setecentista. In: FLORENTINO, M. (Org). Tráfico, cativeiro e liberdade. Rio de Janeiro, séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 15-77. COSTA, E. V. A dialética invertida e outros ensaios. São Paulo: Unesp, 2014. GOMES, F.; LAURIANO, J.; SCHWARCZ, L. M. (Org.) Enciclopédia Negra. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. GOMES, F.; SCHWARCZ, L. M. (Orgs). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. GORENDER, J. O escravismo colonial. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010. 28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 51/51 Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()
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