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Comércio de gente debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho

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28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 1/51
Comércio de gente: debate sobre a exploração do
indivíduo no trabalho
Prof.ª Renata Morares, Prof.ª Vanessa Melo
Descrição
A escravização como prática de comércio de pessoas, como uso dos
indígenas e africanos no Brasil Colonial, demonstrando as formas de
resistir e a manutenção das práticas na história nacional.
Propósito
Ao tratarmos da escravidão no Brasil, conseguimos compreender as
diversas formas de exploração do trabalho existentes desde o Período
Colonial e que atingiu indígenas, africanos e seus descendentes,
imigrantes e mulheres negras.
Preparação
Consulte as seguintes obras de referência: Dicionário da Escravidão e
Liberdade e a Enciclopédia Negra
Objetivos
28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho
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Módulo 1
A venda da mão de obra indígena
Discutir o uso da mão de obra indígena pelos europeus na
colonização do Brasil.
Módulo 2
A escravização de africanos nas
Américas
Identificar a escravização africana como um grande comércio de
gente.
Módulo 3
A resistência à escravização no
Brasil
Exemplificar as diferentes formas de resistência à escravidão no
Período Colonial e Imperial.
Módulo 4
O comércio de imigrantes e de
mulheres
Identificar ações de venda de mão de obra imigrante e dos corpos
das mulheres.
28/09/2023, 15:10 Comércio de gente: debate sobre a exploração do indivíduo no trabalho
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/03468/index.html#imprimir 3/51
Ao contarmos a história do Brasil, não podemos deixar de
mencionar um sistema que foi predominante por mais de três
séculos: a escravidão. A predominância desse sistema, que
atravessou o Período Colonial e foi quase até o final do Império,
estava baseada na comercialização de homens e mulheres, os
escravizados, muitos vindos de várias regiões da África e seus
descendentes nascidos no Brasil.
No entanto, os portugueses quando chegaram ao Brasil utilizaram
inicialmente outro tipo de mão de obra para o trabalho, os
indígenas, que continuaram sendo comercializados a despeito da
proteção que tinham da Igreja Católica. Além de africanos e
indígenas, homens e mulheres de diferentes nacionalidades
atuaram como trabalhadores no Brasil, vendendo a sua força de
trabalho para os mais diferentes ofícios. De fato, desde 1500, o
trabalho introduzido no Brasil por meio dos portugueses foi o da
exploração do corpo alheio, que passava por uma lógica comercial,
necessário para a produção de grandes riquezas. Logo, gente virou
mercadoria, com geração de trabalho e riquezas para alguns
poucos, que estavam fora dessa dinâmica comercial.
Este texto pensa nesse comércio de gente a partir de várias
perspectivas, passando pela história do Brasil vista sob um ponto
de vista social e humano, seja da parte do explorador ou do
explorado. Nesse caso, os indígenas constituem o primeiro grupo a
ser explorado como mão de obra nos primeiros momentos da
colonização. Os africanos foram escravizados a partir de uma
lógica comercial que foi iniciada nos primeiros contatos entre
portugueses e povos africanos. Após esses contatos, há a maior
migração de pessoas registrada na história, todos para a
escravização nas Américas e uma grande parte para o Brasil.
Porém, essa escravização não foi realizada sem a constante
resistência de homens e mulheres, que promoveram revoltas, fugas,
quilombos e negociação. Outros explorados foram os imigrantes,
principalmente europeus, que foram atraídos para o trabalho no
Brasil, sendo submetidos a condições precárias de trabalho, ainda
durante a vigência da escravidão. Por fim, vale ressaltar o quanto as
mulheres, principalmente as escravizadas e negras, foram
exploradas por diferentes formas, sejam como amas de leite, ou no
trabalho doméstico, no comércio de rua e na prostituição. Este
texto mostra as diferentes formas de comercializar gente
Introdução
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1 - A venda da mão de obra indígena
Ao �nal deste módulo, você será capaz de discutir o uso da mão de obra
indígena pelos europeus na colonização do Brasil.
Organização local
Aldeamentos
Os primeiros trabalhadores do Brasil foram os povos nativos,
escravizados pelos portugueses desde os primeiros contatos. Se em
primeiro momento a ideia era estabelecer relações a fim de que
pudessem melhor explorar a região, no momento seguinte, os
portugueses aprofundaram o contato por meio da exploração dessa
mão de obra, tornando os indígenas indispensáveis para o projeto da
colonização.
existentes no Brasil Colonial e Imperial, e que podem ter deixado
ressonâncias até hoje.
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Família indígena, tela de Jean-Baptiste Debret.
Nesse caso, é importante identificar os diferentes tipos de
relacionamento entre indígenas e portugueses e demais povos
estrangeiros a fim de compreender como esse grupo social foi
explorado nos primeiros séculos da colonização portuguesa no Brasil.
Um primeiro ponto de destaque dos contatos iniciais entre portugueses
e indígenas diz respeito à organização desse grupo social e como ela
seria modificada a partir da presença dos portugueses.
Algo crucial para os colonos era interferir na
lógica de organização dos diferentes grupos
étnicos que viviam na região hoje conhecida
como Brasil.

A primeira modificação foi o estabelecimento de aldeias, tipo de
organização introduzida pelos colonizadores, com apoio dos jesuítas,
que submetia os indígenas a uma nova forma de viver em comunidade
e, consequentemente, de realizar seus trabalhos.

Os aldeamentos fizeram parte do projeto de colonização portuguesa,
sendo decisivos para a inserção dos indígenas na ordem colonial, tendo
diferentes significados para os envolvidos.
Nas aldeias houve o compartilhamento de culturas e histórias entre
diferentes etnias e, em alguns casos, entre outros grupos, como
mestiços, colonos e missionários. Por meio desse contato, ocorreu
também uma reelaboração de comportamentos, atitudes e valores por
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parte dos indígenas, evidenciando que eram um grupo em constante
movimento, principalmente na reelaboração da identidade, processo
presente em todo grupo social.
Aldeia de indígenas cristãos.
As aldeias eram unidades locais sem serem autossuficientes,
precisando de uma articulação com grupos locais ou unidades maiores.
Sua criação permitiu que houvesse o fim da peregrinação missionária,
fazendo com que os indígenas fossem deslocados para as
proximidades dos núcleos portugueses, favorecendo, assim, o seu
controle, tanto por parte dos religiosos como dos colonos. Ao mesmo
tempo que as aldeias faziam parte de um projeto pedagógico de
cristianização dos indígenas e de transformação desse grupo em
súditos do rei, elas também se tornaram redutos para os colonos
interessados nesse tipo de mão de obra, atendendo, desse modo, aos
interesses dos moradores de algumas regiões. No entanto, pesquisas
indicam que alguns grupos indígenas estiveram envolvidos na dinâmica
dos aldeamentos como sujeitos ativos desse processo de construção
das aldeias, tendo alguns dos seus líderes papel de destaque dos
aldeamentos.
Mudança das dinâmicas
indígenas
Con�itos
A presença dos portugueses também alterou a dinâmica das guerras
entre os povos nativos, uma vez que o contato entre europeus e
indígenaspoderia favorecer grupos específicos e subjugar outros,
principalmente por meio das relações de escambo de artefatos para a
guerra. Nas relações comerciais existentes entre europeus e indígenas,
os objetos trocados possuíam diferentes valores e significados para os
envolvidos.
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Imagem: Jean-Baptiste Debret - Biblioteca Virtual / Wikimedia
commons / Domínio Público
Imagem: Jean-Baptiste Debret - Biblioteca Virtual / Wikimedia
commons / Domínio Público
Flechas de indígenas brasileiros. Ao lado, soldados indígenas.
A partir dessa lógica, ferramentas e armas europeias aumentaram a
competitividade entre os grupos indígenas que lutavam entre si, sendo
esses conflitos favoráveis aos portugueses que poderiam escravizar os
perdedores dessas guerras ou aprofundar as trocas de armas por
mercadorias ou mão de obra. Ou seja, segundo historiadores, a divisão
dos grupos étnicos e a rivalidade entre eles foram parte de um mesmo
jogo de conflitos e interesses em que os europeus eram um dos
agentes.
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No entanto, a aliança e as relações de troca e escambo existentes entre
indígenas e portugueses tornaram-se inadequadas diante das novas
exigências da Colônia em crescimento, alimentando, assim, a prática da
escravização indígena em larga escala. De acordo com Maria Regina
Celestino de Almeida:
Colônia em crescimento
Como exemplos do crescimento da Colônia temos aumento populacional,
novas construções, produção de alimentos e atividades agrícolas.
Paralelo a isso, o caráter destruidor
da aliança com os portugueses se
revelava cada vez mais por meio de
doenças contagiosas, de atitudes
traiçoeiras e, principalmente, de sua
voracidade em obter escravos que,
além de intensificar as guerras
intertribais, contrariava sua principal
motivação – a captura de
prisioneiros para o sacrifício,
descontentando os índios. A
consequência direta dessa situação
foi o incremento assustador das
guerras indígenas contra os
portugueses em toda a costa do
Brasil.
(ALMEIDA, 2013, p. 63)
O litoral do Rio de Janeiro foi um bom exemplo da guerra de domínio
existente nas primeiras décadas da colonização e provocou, segundo
essa mesma autora, uma alteração no quadro de alianças e hostilidades
entre os grupos indígenas (ALMEIDA, 2013, p. 73).
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Importante lembrar que a fundação da cidade do Rio de Janeiro foi
realizada a partir de um conflito entre portugueses e franceses pelo
domínio da região. No entanto, esse conflito só pôde ocorrer a partir
também do apoio e das hostilidades existentes entre os diferentes
grupos de indígenas que ocupavam a região.
Alimentar essas hostilidades e con�itos
favoreceu os colonos portugueses.
Desse modo, criou-se categorias de indígenas a partir das relações que
mantinham com os colonos. Os “aliados” teriam um papel especial
nessas relações porque eram súditos do rei e garantiam a ocupação e
manutenção da terra. Além disso, os vistos como aliados poderiam
oferecer sua força de trabalho a autoridades, missionários e colonos a
partir de uma troca de valores. Em oposição a esses aliados, existiam os
“inimigos”, que poderiam ser escravizados e violentados na sua
identidade.
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Formas de escravismo
indígena
Escravização
Os portugueses introduziram várias formas de “aquisição” dessa mão de
obra nos primeiros anos da colonização. As expedições de descimento
foram uma dessas formas e eram realizadas por meio da retirada dos
índios dos seus locais de origem para as aldeias criadas nos núcleos
portugueses. Alguns desses indígenas que iam para as aldeias
aceitavam de forma voluntária por temer a escravização, a redução das
terras livres, a falta de alimentos ou outras dificuldades que poderiam
colocá-los em risco, tornando a aldeia uma proteção nesse processo de
negociação das perdas e nas estratégias de sobrevivência.
Indígenas soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos, tela de Jean-Baptiste
Debret.
Em paralelo a isso, existiram as chamadas “guerras justas” que se
tornaram um procedimento legítimo de escravização dos indígenas
hostis aos portugueses e que se recusassem à evangelização.
A Coroa portuguesa
autorizava esse tipo de
guerra, usando como
justificativa a ideia de
Com o avanço da
colonização, as
expedições de
apressamento foram
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que os indígenas eram
selvagens e por isso
permitia sua
escravização.
realizadas pelos
bandeirantes paulistas
que, ao desbravarem o
sertão, capturavam os
indígenas para a
escravização.
Por meio das guerras justas, o processo de
escravização desse grupo se aprofundou.
O cenário inicial da escravização indígena é o das primeiras expedições
portuguesas, principalmente após as cartas de doação das capitanias
hereditárias e em um ambiente de escassez de mão de obra. A disputa
entre colonos e jesuítas, esses últimos desejosos de catequizar os
indígenas, marcou os primeiros séculos da colonização. No entanto, de
acordo com Jacob Gorender (2010, p. 524), se os jesuítas salvaram em
parte a população indígena da escravização, principalmente salvando-os
do extermínio dos colonos leigos, os jesuítas também estimularam
alguns processos violentos de sujeição desses indígenas sob pretexto
de viabilizar a catequese.
Comentário
Para esse autor, o protesto contra a escravização injusta tinha, no seu
reverso, o reconhecimento da escravização considerada justa aos olhos
da lei.
Mesmo com uma estrutura montada para controlar o “uso” dos
indígenas para o trabalho por parte das autoridades portuguesas e dos
jesuítas, esse grupo não deixou de ser escravizado por particulares.
Essa escravização pôde ser identificada em pesquisas que analisaram
testamentos e que encontraram as heranças com as seguintes
expressões: moços de serviço forros, gente forra, gente do Brasil, peças
forras serviçais, administrados ou servos de administração (GORENDER,
2010, p. 519).
Importante ressaltar que a introdução de africanos para a escravização
não preservou os indígenas e nem substituiu esse tipo de mão de obra
que continuou a ser usada em regiões mais pobres. Durante o século
XVII, o trabalho indígena foi predominante em algumas áreas da Colônia,
a despeito da presença dos africanos escravizados. Durante a presença
dos jesuítas na Colônia, antes de sua expulsão por parte do Marques de
Pombal, houve um apoio sistemático no uso dos africanos como
escravos a fim de preservar os indígenas, sendo as ações dos jesuítas
apoiadas pelos interessados na venda dos africanos.

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Proibição legal do escravismo
O �m?
A escravização indígena foi abolida pelas leis pombalinas de 1755 e
1758, apesar de deixarem brechas para a escravização em caso de
prisão dos indígenas por “vagabundagem”. Desse modo, permaneceu
um comércio de indígenas no estilo dos descimentos e a escravização
em regiões afastadas do litoral.

Nos tempos do Império, principalmente na região do cultivo do café no
Vale do Paraíba, outros grupos indígenas foram afetados. Os que viviam
na região de Valença, os Coroados, desapareceramna medida em que
houve a fundação das vilas e o avanço da produção do café.

A violência sobre os grupos indígenas, dessa vez, não foi apenas para o
uso da sua mão de obra, mas sim sobre a sua presença física e política
na região disputada por grandes fazendeiros. Nessa violência que
causou o desaparecimento do indígena, criou-se a ideia de que, no
século XIX, ele já não mais existia no Brasil.
A comercialização da mão de obra indígena serviu a inúmeros
interesses e permaneceu sendo feita até meados do século XIX. O uso
desse grupo para o trabalho na Colônia e no Império foi reduzido diante
do aumento do número de africanos para a escravização e na pressão
política e econômica que os interessados no comércio com a África
fizeram para que os africanos fossem privilegiados na escravização.
Ainda assim, é preciso ver a história do Brasil Colônia e Império sendo
feita a partir do trabalho indígena, apesar da sua resistência e
negociação para preservar suas identidades e a própria vida.
Escravidão indígena

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Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em
História Beatriz Libano Bastos, que aprofunda o debate no tema
escravidão indígena.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O uso da mão de obra indígena é cheio de mitos na história do
Brasil. Foi discutida desde uma relação amistosa até o fato de
indígenas fugirem por conhecerem a terra e não se adaptarem ao
trabalho. As premissas falsas podem ser observadas quando
A
os indígenas eram escravizados irregularmente,
mesmo com a proibição da Colônia portuguesa,
desde o século XVI.
B
a Colônia brasileira buscava se estabelecer e
precisava de aliados, por isso não escravizava
indígenas.
C
os indígenas foram escravizados e trocados como
mercadorias nos portos de São Vicente e Desterro
para fazendas do Recife e Salvador.
D
as tribos lutaram bravamente e faziam rituais de
morte coletiva para não se entregarem ao
escravismo.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Os indígenas tiveram relações diversas com os portugueses. A
lógica de trabalho compulsório sempre esteve presente como
possibilidade. Seu modelo de escravidão não foi de grande
comércio de costa a costa, mas sim com mais dinâmicas locais e
por terra. Os indígenas eram vistos como força de trabalho e almas
a serem salvas. Pela proximidade com a Coroa, os jesuítas eram os
principais articuladores, que se beneficiavam de uma forma de
escravismo e criticavam outras no espaço colonial.
Questão 2
A escravidão indígena muitas vezes é apresentada na escola como
algo que não existe ou era secundário. No entanto, uma
investigação nas fontes acabam por indicar processos diferentes.
Escolha, entre as alternativas abaixo, a que serve de exemplo de um
processo de escravidão indígena.
E
foi montado um modelo em que os jesuítas teriam o
principal direito à força de trabalho indígena, por
isso, muitas vezes, o escravismo foi negado.
A
Durante a Guerra dos Bárbaros, em que os índios
invadiram Salvador.
B
No levante na cidade do Rio de Janeiro, para
expulsar os franceses da Baía de Guanabara.
C
Nas lutas dos jesuítas contra os bandeirantes, pela
proteção dos indígenas.
D
Nas ações do governo, que tentava de toda forma
evitar que os indígenas fossem escravizados.
E
Nos relatos do Vale do Paraíba, já nas plantações de
café, sobre o escravismo indígena mantido.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
A construção dos indígenas como foco de escravismo não está só
no padrão jurídico, mas no lidar com o outro na formulação do
Brasil. Os relatos de escravismo indígena não se mostram na
resistência, que sempre houve, ou na proteção de um grupo, o
princípio é que a dinâmica de escravismo, mesmo com a proibição,
continuou viva e recorrente.
2 - A escravização de africanos nas Américas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a escravização
africana como um grande comércio de gente.
Trá�co de africanos pelo
Atlântico
Trá�co Atlântico
O Brasil recebeu o maior volume de africanos para a escravização nas
Américas. Esse grande comércio de gente foi introduzido pelos
portugueses nas primeiras décadas da colonização, perdurando a
escravidão até 1888. Entender o complexo processo desse comércio é
fundamental para compreendermos a estrutura do trabalho no Brasil,
principalmente diante da constante exploração de homens e mulheres
em suas atividades laborais mediante baixos salários.
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A comercialização de africanos para as Américas começou com a
chegada dos portugueses ao continente em meados do século XV. Essa
chegada foi impulsionada por diferentes motivos, entre eles o religioso,
no qual a presença portuguesa no continente africano iria espalhar a fé
cristã e salvar algumas almas.
Quadro “Primeira Missa no Brasil”.

As condições econômicas de Portugal permitiram a aventura dos
portugueses se lançarem ao mar em busca de novas rotas comerciais e
da expansão da fé.

A costa do continente africano parecia ideal para esse empreendimento,
sendo alguns nativos capturados e enviados a Portugal, iniciando uma
guerra justa aos moldes daquela que promoveriam no Brasil nas
décadas seguintes.
Nessa guerra, a conversão ao cristianismo seria
a senha para escapar da escravização, sendo
uma ação legítima e providencial apoiada pela
Igreja Católica e pela Coroa.
De acordo com alguns cronistas do período, a escravidão permitiria aos
nativos africanos a conversão ao cristianismo e depois libertos estariam
abertos à civilização, servindo a escravização como uma salvação
(COSTA, 2014, p. 62).
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Ainda de acordo com
esses cronistas, os
nativos africanos
deveriam ser forçados a
trabalhar porque eram
afeitos ao ócio e, sendo
superiores religiosa e
culturalmente, os
portugueses
acreditavam que tinham
direitos sobre as terras,
os bens e os povos
(COSTA, 2014, p. 65).
Ao estabelecer feitorias
pela costa africana, os
portugueses foram
estabelecendo contato
com diferentes povos,
negociando
mercadorias, pessoas,
convertendo alguns ao
cristianismo e
empreendendo guerras
justas que renderiam
mais pessoas para a
escravização de outras
regiões, principalmente
as Américas.
Nesse processo de conquista da África, que passava pela negociação e
cristianização, é importante chamar a atenção para a sedução que
alguns reis africanos caíram no contato com os portugueses, que, em
primeiro momento, tratavam-nos como iguais.
Os reis portugueses tinham o poder
de decidir quem proteger e quem
atacar, e suas decisões dependiam
da boa vontade dos chefes em
respeitar os acordos com a Coroa.
Quando os chefes africanos se
deram conta das trágicas
consequências do tráfico de
escravos – seus povos divididos e
em guerra uns contra os outros,
vassalos leais subitamente
rebelados contra a autoridade dos
soberanos, todos seduzidos pela
ilusão de riqueza e poder trazida à
África, e os portugueses

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demandando sempre mais mão de
obra por meio do tráficoe
expandindo a infraestrutura colonial
–, já era tarde demais para voltar
atrás e redefinir a relação com o rei
português. Os chefes e seus povos
haviam caído na armadilha de um
processo que já não podiam
controlar.
(COSTA, 2014, p. 70)
Já tendo introduzido a escravização africana no Brasil, os portugueses
conquistaram no final do século XVI a região de Angola, o que serviu
para o aprimoramento do tráfico negreiro. Dentre alguns números sobre
a chegada de homens e mulheres da África ao Brasil, em primeiro
momento, entre 1576 e 1600, entraram aproximadamente 40 mil
escravos africanos; entre os anos de 1601 e 1625 esse número triplicou,
provocado pela demanda da mineração. Nesse último período, houve
um forte envolvimento de negociantes ingleses e holandeses, havendo
pelo menos cinco sistemas transatlânticos: britânico, francês, holandês,
espanhol e português.
Africanos no Brasil
O Brasil recebeu 1/3 dos africanos trazidos para as Américas, de lugares
como:
Centro-ocidental (Angola, Congo)
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Costa Ocidental (Costa da Mina, principalmente)
Costa Oriental (Moçambique)
A identificação étnica desses grupos que vieram para o Brasil poderia
responder sobre a experiência da escravidão e como viveram a
diáspora. No entanto, muitos registros de nação, encontrados nas
documentações, são apenas categorias criadas por senhores ou
comerciantes ou identidades adotadas pelos próprios africanos ao se
reagruparem ou ressocializarem sob a escravidão.
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Um dos exemplos das trocas de mercadorias que geraram o comércio
de africanos está na Bahia. Nessa região, era produzido um tipo de
tabaco de grande interesse dos comerciantes da região da Costa da
Mina, sendo esse um local de origem dos africanos que foram para a
Bahia diante da profícua troca entre os comerciantes de ambos os lados
do Atlântico. Esses povos seriam os Jejes, Ussás, Nagôs, considerados
pelos homens da época as nações mais guerreiras da África, segundo
Pierre Verger.
Até o final do século XVII, não havia escravizados em Minas Gerais e os
que começaram a entrar na região, por conta da exploração do ouro,
vinham de Angola para o Rio de Janeiro, sendo vendidos diretamente
para os mineradores.
Em 1730, cresceu em 40% o volume de entrada
de cativos no Rio de Janeiro com destino às
minas.
A mineração causou um impacto no caráter da escravidão, fazendo com
que ela fosse difundida social e espacialmente, disseminando também
a posse do escravo e a criação de hierarquias étnicas e culturais mais
complexas.
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Algumas pesquisas realizadas sobre a região mineradora revelaram
uma sociedade heterogênea e múltipla, paradoxal em relação a uma
administração, que procurava ser repressora e excludente, mas que nem
sempre conseguia moldar essa sociedade conforme seu intento.
Ao contrário do que usualmente se pensava, os indivíduos escravizados
foram capazes de estabelecer níveis significativos de organização
familiar e de luta por seus direitos. A instituição escrava, em toda a
região da Colônia e do Império, serviu para estragar as relações sociais
que o escravizado e o ex-escravizado pudessem estabelecer mais tarde
no mundo branco.
O legado da escravidão seria eterno para quem vivesse em uma
sociedade escravista, não sendo a liberdade um fator de igualdade entre
livres, ou seja, um ex-escravizado não estaria no mesmo pé de igualdade
que um homem branco, mesmo que pobre. A comercialização do corpo
negro para o trabalho não poderia ser apagada com a liberdade
enquanto durasse a sociedade escravista.
A cidade do Rio de Janeiro foi afetada pela forte demanda de
escravizados para a região de Minas Gerais, estando esse comércio
consolidado na cidade no século XVIII, por haver também capital para o
investimento nesse tipo de mercadoria por parte dos negociantes
locais. Para o empreendimento, foi realizada uma grande manobra que
envolvia diferentes setores. Vejamos!

Os que forneceriam as mercadorias a serem negociadas na África em
troca de homens e mulheres para a escravização.

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Os que comandavam as frotas dos navios, de diferentes tamanhos e
que incluía experientes mestres e capitães, e de origem do Rio de
Janeiro, da Bahia, de Pernambuco e de Portugal.
Havia também médicos e cirurgiões capazes de tratar das doenças
originárias dos navios que traziam os africanos para o Brasil. Além
disso, era preciso a figura dos intérpretes e professores que pudessem
ensinar um palavreado básico para os recém-desembarcados, a fim de
que fossem capazes de se comunicar. Toda essa estrutura foi
alimentada por aqueles que queriam comprar essas “mercadorias” e
enviá-las para diferentes tipos de atividades, seja para o campo ou para
as cidades. Importante ressaltar as palavras do pesquisador Nireu
Cavalcanti sobre o comércio desses africanos no Brasil. Vamos conferir!
Esses consumidores de homens e mulheres escravizados eram
diversos. De acordo ainda com Cavalcanti, havia os comerciantes que
queriam revender esses sujeitos novos, ou os ricos que os queriam para
o trabalho e por isso preferiam os mais sadios, mas havia também
aqueles mais pobres que adquiriam os africanos doentes a preços
módicos, e que poderiam estar aleijados ou velhos e que eram
chamados de “refugo” (CAVALCANTI, 2005, p. 41). Alguns investiam no
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tratamento desses doentes para que pudessem ser vendidos e assim
terem seus investimentos recuperados. Ou seja, o comércio de africanos
para a escravização abrangia diversos interesses em uma cidade
escravista.
Navio negreiro.
Quando o Rio de Janeiro se tornou sede da Corte em 1808, houve um
aumento da demanda por escravizados artesãos, encarecendo o aluguel
desses indivíduos. Além da possibilidade de alugar o serviço, havia
também os “negros de ganho”, presentes nas cidades escravistas.

Essa modalidade da escravização consistia em uma licença tirada pelo
seu senhor que permitia que o escravizado oferecesse seus serviços em
troca de uma quantia, que seria dada ao senhor e combinada entre eles.

Esse tipo de atividade exercida por esses escravizados permitiu até que
famílias pobres tivessem alguma renda em caso de possuírem algum
sujeito escravizado.

Em alguns casos, o senhor não oferecia moradia, restando ao
escravizado pagar com a renda adquirida no trabalho o valor da sua
moradia e alimentação.
Uma das atividades realizadas pelos chamados “escravos de ganho” era
a de transporte de mercadorias. No tempo da Colônia e do Império, os
animais ou outros dispositivos mecânicos não eram utilizados para o
transporte de grandes mercadorias, restando aos escravizados essa
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atividade, usando suas cabeças, braços e toda sua força física para
carregar todos os tipos de mercadorias, das mais leves às mais
pesadas.
Velho africano com berimbau
As mulheres também eram responsáveis pela realização do ganho nas
cidades. Elas realizavam diferentes atividades, desde serviços de
cozinheiras, costureiras e lavadeiras. Além dessas atividades, também
comercializavam gênerosalimentícios ou comidas preparadas por elas.
O uso de sujeitos esravizados para esse carregamento era disseminado
em várias cidades, desde as mais planas, como o Rio de Janeiro, até as
com grandes ladeiras, como Salvador.
Escravidão no Império
Escravismo no tempo do Império
O tempo do Império do Brasil foi de auge da escravidão. Entre 1822 e
1888, o Brasil tornou-se a maior sociedade escravista e o último país a
libertar seus homens e mulheres escravizados. Ainda durante a primeira
metade do século XIX, entraram no Brasil mais de 42% dos africanos, a
maioria destinada à atual Região Sudeste.
No entanto, concomitante ao aprofundamento
da escravização africana e dos seus
descendentes, ocorreu também uma
movimentação legislativa a �m de diminuir
essa dependência e eliminar gradativamente a
escravidão.
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Um primeiro momento
dessa tentativa de
reduzir a influência da
escravidão foi atacar a
entrada de africanos no
Brasil. Esse comércio
transatlântico foi
proibido por meio de
uma lei assinada em 7
de novembro de 1831,
já no Período Regencial,
uma vez que o
Imperador Pedro I havia
abdicado do seu trono
no dia 7 de abril do
mesmo ano.
A lei que proibiu o
tráfico de “escravos
transatlântico” está
dentro de um contexto
internacional de
repressão do tráfico e
numa conjuntura
doméstica que colocava
o Brasil no topo dos
países das Américas
com maior número de
população escravizada,
tendo também a maior
população de africanos
fora da África e a maior
população de
descendentes livres de
africanos.
Essa era a realidade da escravidão no Brasil logo após a independência
e que teria pouca alteração na década seguinte.
A lei de 1831 foi resultado de uma pressão internacional e um acordo
feito entre D. Pedro I e a Inglaterra em 1826, ferindo os interesses dos
setores conservadores do Estado. Assinada em 1831, a proibição de
entrada de africanos para a escravização alterou os rumos da
escravidão no Brasil. Houve um decréscimo temporário nas entradas de
africanos durante a primeira metade da década de 1830, mas, nos anos
seguintes, assumiu grandes proporções.
Homens e mulheres capturados.

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Uma das mudanças foi a respeito do perfil de quem operava esse
comércio. Em diversas regiões do Império, o antigo comércio virara
tráfico com novas roupagens e esquemas, o que tornava a atividade
mais lucrativa e mais violenta. A atividade atrairia profissionais
especializados, não sendo possível a participação de amadores nesse
comércio. Com a ilegalidade, perdia-se uma estrutura de chegada dos
homens e mulheres para a escravização, em que teriam cuidados
iniciais para a recuperação da viagem e imediata venda.
Após 1831, o desembarque passou a ser uma questão de oportunidade,
quando não houvesse perigo da descoberta do tráfico, fazendo com que
muitos cativos esperassem nos navios por horas ou dias para serem
desembarcados, deteriorando ainda mais suas condições físicas. Outras
regiões para esse desembarque se desenvolveram, não sendo possível
ter registros desses homens e mulheres que chegaram ao Brasil de
forma ilegal.
Chamada de “lei para
inglês ver”, a primeira lei
que interrompeu o
tráfico foi fundamental
para a produção de
fortunas e para o
aprofundamento da
escravização, apesar da
ilegalidade desse
comércio.
Por ter dado um novo
rumo ao comércio de
africanos no Brasil, a lei
de 1831 tem um
impacto profundo,
durando até 1850,
quando ocorreu a
aprovação da segunda
lei contra o tráfico
desses indivíduos.
As leis que trataram do fim do tráfico foram elaboradas em contextos
distintos e previam mais a preservação da propriedade escrava do que o
fim do tráfico propriamente dito. A lei de 1850 teve um apoio
diferenciado diante da iminência de uma revolta comandada pelo
elevado número de africanos e por não responsabilizar o proprietário
desses escravizados pela entrada ilegal dos africanos. Ainda assim, o
contexto tenso da escravidão, entre temor de insurreições e sua
realização propriamente dita, abriu brechas para a negociação de
liberdade ou de “direitos” no mundo da escravidão.
Entre o período das duas leis, houve o
estabelecimento e a expansão da produção do
café na região do Vale do Paraíba.

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
A implantação efetiva de uma economia agrária de plantation, a partir da
década de 1830, favoreceu o crescimento, a acumulação e a
concentração da população escravizada nas mãos dos proprietários
rurais, principalmente na região do Vale do Paraíba, causando mudanças
nos espaços de negociação nas relações senhor e escravizado.

Os anos entre 1865-1880 representaram anos de grandeza da
cafeicultura de Vassouras, com alteração no padrão das relações de
força entre senhores e escravizados, havendo um crescente
protagonismo desses últimos por seus direitos e ampliação dos
espaços de negociação.
A expansão do café no Vale do Paraíba se confunde com a história da
expansão da própria classe senhorial no Império, dependente da
escravidão. A elite imperial compartilhava e expressava um estilo de
vida e uma visão de mundo a partir do ponto de vista delimitado pela
Corte e pela escravidão. Tornavam-se dependentes da escravidão, desse
comércio, tanto econômica quanto socialmente.
Trá�co de viventes e formas
do escravismo no Brasil
Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em
História Beatriz Libano Bastos, aprofundando o debate no tema tráfico
atlântico.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O tráfico atlântico foi um grande negócio. A sua estrutura
econômica foi marcada pela construção de uma rede ampla que
pode ser caracterizada pela
Parabéns! A alternativa E está correta.
O tráfico é marcado por discursos de poder e superioridade, mas de
fato é uma dinâmica social que transformou o estabelecimento e a
conquista de entrepostos em espaços de trocas, transformando, na
dinâmica mercantil, pessoas em produtos.
Questão 2
A superioridade europeia e que domina todo o mundo.
B
poderio militar que permite que os portugueses
dominem o mundo.
C
prática de escravismo na África que facilitou a
aceitação da escravidão.
D
organização religiosa que gerava o interesse na
conversão e justificou a escravidão.
E
estrutura de feitorias e a inserção nas disputas
locais que permitiram um lento e contínuo processo
de uso da mão de obra escrava.
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O trabalho como um produto e que tem suporte governamental para
a sua legalização ou proibição é algo recorrente nas sociedades
modernas e contemporâneas. Durante a modernidade, essa
exploração teve um capítulo terrível com o escravismo como
modelo econômico e que tem seu auge no século XIX. Ao mesmo
tempo que é seu auge, devemos salientar também que é
Parabéns! A alternativa E está correta.
O tráfico é controverso ao longo de todo seu período, no entanto, a
aceleração do comércio nos séculos XVIII e XIX ampliou as trocas,
assim como as leis do XIX ampliaram os valores e, por isso, a
resistência acaba por apontar o enriquecimento de traficantes.
A
o período em que o comércio começa a falir com a
valorização do trabalho assalariado imigrante.B
o período em que a religião muda o discurso e se
torna inimiga da escravidão.
C
o período em que os grupos contra o escravismo
defendem o retorno de todos os africanos ao
continente de origem.
D
o período em que os governos independentes das
Américas mais lutaram pelo seu direito de
escravizar.
E
o período em que as contestações cresceram e as
legislações, por pressão de ingleses, por exemplo,
passam a restringir as práticas escravistas.
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3 - A resistência à escravização no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de exempli�car as diferentes
formas de resistência à escravidão no Período Colonial e Imperial.
Quilombo
Formação dos quilombos
As formas de escravização que tratamos até aqui não foram feitas sem
a resistência dos homens e mulheres escravizados. Durante todo o
Período Colonial e Imperial, houve resistência por parte dos africanos e
seus descendentes, que não aceitaram suas condições de mercadoria.
Desse modo, é importante pontuar também as diferentes formas de
resistência dessa população.
Uma delas foi por meio
da fuga e formação de
quilombos, criados a
partir de grupos de
homens e mulheres
fugidos que estavam
organizados econômica
e socialmente em
comunidade, tendo um
tipo de autonomia e
agenciando estratégias
de resistência diante de
Os quilombos foram
uma forte expressão de
resistência à escravidão
e são caracterizados
pela sua condição
radical diante do
escravismo. Além de
escravizados fugidos,
os quilombos
agregavam também
indígenas perseguidos,
multados e outros

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outros sujeitos
perigosos.
grupos sociais
oprimidos e em risco.
O quilombo de Palmares foi o primórdio desse tipo de ação, sendo
classificado como “quilombo-rompimento” por ter como princípio a
prática do esconderijo e do segredo de guerra, sendo necessário
preservar o cotidiano e a organização interna contra curiosos e,
consequentemente, autoridades coloniais. Esse tipo de prática assustou
autoridades e causou mudanças na legislação após o fim de Palmares,
que durou aproximadamente 80 anos, a fim de evitar a repetição da
grandiosidade desse quilombo.
Após o fim de Palmares, a legislação e a repressão não permitiram que
outro Palmares existisse. No entanto, a prática do aquilombamento não
desapareceu, sendo identificados quilombos em algumas cidades.
Nas últimas décadas da escravidão surgiram os
“quilombos abolicionistas”.
Diferentemente do segredo existente no modelo tradicional, suas
lideranças eram conhecidas, com boas articulações políticas, sendo
essencial a articulação mais profunda com a sociedade e sendo parte
de um jogo político daqueles últimos anos da escravidão. Dois
quilombos abolicionistas são conhecidos e fortemente pesquisados
pela historiografia.
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Jabaquara
Jabaquara foi o maior deles. Ficava na região de Santos, São
Paulo, e suas terras foram cedidas por um abolicionista da elite e
os quilombolas lá ergueram suas casas com ajuda do dinheiro
recolhido entre comerciantes da região e de outros doadores.
Leblon
Outro exemplo é o quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro, que
teve como idealizador um comerciante português. Os fugitivos
acolhidos no Lebon eram protegidos por outros abolicionistas,
cientes da existência desse tipo de refúgio em plena cidade.
Os quilombos do Jabaquara e do Leblon se comunicaram e ambos eram
exemplos de uma nova forma de resistir à escravidão, ampliando, assim,
aqueles que aderiram a liberdade dos escravizados.
De fato, os quilombos desafiaram as autoridades escravistas, que
tentaram encontrar meios para diminuir a atração da escravaria para
esse tipo de prática. As alforrias eram uma forma de diminuir a tensão e
serviam de mecanismo de segurança para garantir a permanente
entrada de africanos, numa espécie de constante mobilidade da
escravaria. Por outro lado, as fugas e as revoltas eram desmobilizadas
por meio da negociação entre senhor e escravizado e a concessão de
alguns direitos, como a realização de festas, permissão para constituir
famílias, pedaços de terra e outras medidas que poderiam aliviar a
pressão sobre esses homens e mulheres. Quando essas medidas não
funcionavam, estouravam as revoltas.
Movimentação e resistência
Levantes e revoltas
Durante todo o período da escravidão, as revoltas escravas foram
constantes. Algumas com maior impacto e repercussão e outras que
foram inibidas pelas autoridades ou por senhores.
O século XIX, principalmente após a independência do Brasil, teve nas
revoltas o grande temor de que uma grande rebelião pudesse agregar
todos os indivíduos escravizados e causar uma convulsão social, nos
moldes do que ocorreu no Haiti.
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Haiti
Colônia francesa que por meio de uma revolução negra se tornou
independente e acabou com a escravidão.
Muitos senhores temiam um “transplante” da
África para o Brasil na continuidade do trá�co.
O ideal seria a promoção de reformas a fim de evitar o mal maior: uma
grande revolta. Apesar do temor das autoridades e dos senhores, a
grande revolta nos moldes da ocorrida no Haiti não foi testemunhada no
Brasil. No entanto, podemos afirmar que as rebeliões aqui existentes
foram grandes “ensaios” para algo maior e causaram preocupação
sobre o destino da escravidão no Império. Entre as mobilizações
estudadas pela historiografia, destacam-se as ocorridas na década de
1830, após a primeira lei do fim do tráfico.
 1833
Em maio, ocorreu na região de Carrancas, da
comarca de Rio das Mortes, em Minas Gerais, uma
revolta promovida pela escravaria de um deputado
que resultou na morte de nove membros da família
do senhor. A região tinha uma forte concentração
de escravizados africanos, tendo como atividade
econômica a pecuária e o cultivo do tabaco. A
revolta espalhou-se por outras propriedades do
senhor e na repressão cinco escravizados foram
mortos. A penalidade caiu sobre outros 12 que
foram condenados à morte.
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Apesar dessas revoltas terem sido realizadas em regiões e contextos
diferentes, chamou a atenção dos pesquisadores uma interessante
característica: a presença de um grande número de africanos. Essa
condição das revoltas preocupou as autoridades que temiam, conforme
já foi dito, um predomínio de africanos no Brasil, podendo alimentar
revoltas e mais instabilidade para a instituição escravista. Essa
característica também deu argumentos para aqueles que eram contra a
continuidade do contrabando de africanos. No entanto, no final da
década de 1830, o volume do tráfico aumentou, só cessando em 1850
com a segunda lei.
Comentário
Entre quilombos e revoltas, os escravizados tinham uma autonomia de
ação, não podendo ser vistos nem como heróis nem como apenas
vítimas. Esses papéis não podem ser tão facilmente definidos num
 1835
Em Salvador, Bahia, escravizados muçulmanos
tinham como objetivo atacar a região produtora de
cana e programaram a revolta para o dia 25 de
janeiro, dia de Nossa Senhora da Guia e de
festividades na cidade. A repressão matou 70
escravizados e mais de 500 foram condenados a
diferentes penas, morte, tortura, deportação. A
Revolta dos Malês, como ficou conhecida, foi a
maior rebelião escrava do Império. 1838
Na região de Paty dos Alferes, no Rio de Janeiro,
houve a fuga de escravizados de duas fazendas,
que tinham como objetivo formar quilombos. A
fuga não teve sucesso e esses homens foram
recuperados, sendo condenados à morte e Manoel
Congo enforcado em praça pública para servir de
exemplo. A fuga ocorreu numa região com grande
concentração de escravizados para as fazendas de
café e está dentro de um contexto de redução da
entrada de africanos via tráfico transatlântico.
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contexto de escravização em que tanto a rebeldia quanto a negociação
tinham o seu valor.
Para alguns autores que pesquisaram contextos específicos, os
escravos no Brasil foram mais negociadores do que rebeldes, uma vez
que negociar era uma chave para sobreviver no sistema. Por conta
disso, é errado ver o período da resistência à escravização e a
continuidade do comércio de gente seguindo uma lógica de ação. Na
verdade, todas as ações escravas possuíram lógicas próprias
dependentes do contexto em que homens e mulheres viviam,
dependentes da margem de negociação que encontravam.
Estratégias e lutas contra o
escravismo
Lutas pessoais e resistência ao controle
Outras formas de resistência à escravidão existiram, além das revoltas e
formação dos quilombos. Alguns realizavam roubos, suicídios e abortos,
dentre outras ações. Todas essas formas de resistência serviam para ou
abrir margens de negociação para alcançar algum tipo de liberdade ou
interromper de imediato a escravização. No entanto, havia também
algumas revoltas que serviam para a negociação, ou seja, não
significariam o rompimento definitivo com o sistema e talvez servissem
para evitar a venda de algum escravizado, separação da família ou
negociar folgas.

O movimento de greve que conhecemos hoje feito por trabalhadores
livres era chamado de “paredes” quando realizado por escravizados e
servia para alertar o senhor, iniciar uma negociação ou buscar um
direito, apesar da escravidão.

Esse direito talvez fosse permanecer num lugar específico e evitar sair
do campo para a cidade ou vice-versa, por exemplo.

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Outro motivo para as fugas poderia ser também uma reação aos
castigos físicos ou a quebra de costumes anteriormente aceitos, entre
eles, a redução dos dias santos, ou o impedimento de festas e
atividades religiosas.
Importante ressaltar a diferença entre a escravidão no campo e na
cidade: em ambos os lugares, a violência era fundamental nesse
comércio de gente. O campo e a cidade possuíram ideias próprias para
a repressão às fugas e revoltas. Porém, é importante ressaltar o quanto
que o escravizado, homem e mulher, são distintos e não constituem um
bloco que possa ser facilmente coordenado para a realização de uma
grande fuga ou revoltas.
Esses sujeitos operavam a partir de lógicas
próprias que eram determinantes para a
sobrevivência no sistema escravista ou para a
realização de alguma ação mais violenta de
fuga ou de conquista de liberdade.
Nas cidades escravistas, esse sujeito também estava submetido a
outras vigílias, não apenas do seu senhor, mas das autoridades locais
que seguiam códigos de conduta e que prezavam pela harmonia da
cidade, para isso reprimindo ajuntamentos e outras ações coletivas de
homens e mulheres escravizados. A chamada “boa sociedade” também
servia de vigília contra esses sujeitos em fuga ou em desordem. Logo, a
vida escrava nas cidades seguia uma lógica de violência diferente da
existente no campo, não sendo amena por ser na cidade.
Ethos escravista
Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em
História Beatriz Libano Bastos, aprofundando o debate no tema tráfico
atlântico.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O trabalho é parte do processo social. Seja compulsório ou por
escolha do trabalhador, ele estabelece uma relação entre quem usa
o trabalho e quem o executa. A relação homem com o trabalho ao
longo do tempo traz formas de resistência. Exemplifique uma forma
de luta vinculada ao trabalho na história do Brasil.
Parabéns! A alternativa E está correta.
A lógica de exemplificar tem que ter sentido. Apesar de poder ser
político, o foco sobre o trabalho é produção. Nesse ponto, a única
A
O quilombo, por tornar-se uma zona política
independente politicamente.
B
A batalha do Haiti, que toma o poder em um país
para os ex-escravizados.
C
Revoltas, como Malês e Sabinada, que tentavam
tomar o poder político e pôr fim à escravidão.
D
Suicídios coletivos dos “escravos de ganho”, quando
tinham oportunidade de trabalhar na rua.
E
Revoltas com a queima das fazendas, destruindo a
produção, gerando prejuízo financeiro ao senhor.
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questão que se concentra sobre disputa de trabalho e produção
decorrente das fazendas é a letra E.
Questão 2
A discussão sobre o que representava o quilombo dentro da
sociedade brasileira é histórica e relevante. Em sua retirada social,
não deve ser entendida como isolamento. De fato, o quilombo
representava
Parabéns! A alternativa E está correta.
O quilombo mantinha um sistema econômico, com trocas,
produção, mesmo sendo espaço de resistência e muitas vezes
palco de lutas ferrenhas contra o poder instituído.
A
uma forma de organizar um exército para lutar
contra a escravidão.
B
uma associação religiosa que visava proteger os
escravizados.
C uma cidade fortificada que tinha plena autonomia.
D
uma favela onde um estilo de vida próprio era
organizado, apartado da sociedade.
E
um centro de resistência, que mantinha trocas
econômicas e recebia núcleos de populações
diversas.
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4 - O comércio de imigrantes e de mulheres
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car ações de venda de
mão de obra imigrante e dos corpos das mulheres.
Imigração e trabalho
Mão de obra imigrante
No Brasil escravista, não eram explorados apenas os escravizados.
Havia também uma gama de trabalhadores de diferentes origens que
exerciam atividades variadas. Esses trabalhadores, homens e mulheres,
comercializavam sua mão de obra e, em alguns casos, o próprio corpo,
em troca de dinheiro, moradia, alimentação e outros valores.
A vinda de imigrantes europeus para o trabalho no Brasil também fazia
parte de um projeto civilizatório que tinha outros propósitos. Vejamos!

Incorporar à sociedade brasileira uma ética do trabalho.

Estabelecer o projeto de branqueamento da população.

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Eliminar vestígios indexados da presença indígena e negra.
No entanto, esses imigrantes eram de origens variadas e não
necessariamente dispostos para algumas atividades laborais em
condições precárias, como as que existiam no Brasil no período.
Essa lei poderia ser a garantia para a falta de braços para o trabalho por
conta do fim do tráfico em 1831. No entanto, o que se viu nos anos
seguintes foi não apenas a intensificação do tráfico ilegal de africanos,
mas da própria força da escravidão.
Uma das formas de garantir que os imigrantes trabalhassem no Brasilera dificultar a aquisição de terras por parte deles. Essa foi uma
proposta do Conselho do Estado do Império, em 1842, e que foi
efetivada em 1850 por meio da Lei de Terras.
Assim, muitos que vieram para o Brasil foram destinados ao
trabalho na construção de estradas, pontes e demais obras
públicas.
 1830
Antes mesmo do fim do tráfico de africanos, em
1831, houve a promulgação da Lei de Locação de
Serviços, no ano anterior, que regulou por escrito o
contrato sobre prestação de serviços por brasileiros
e estrangeiros. No entanto, essa lei não foi
suficiente.
 1837
Em 1837, novas providências foram anunciadas
para a contratação de colonos. Entre as condições
estabelecidas na nova lei, estavam a possibilidade
de demissões por justa causa, a intermediação de
sociedades de colonização para a contratação
inclusive de crianças e órfãos e os direitos e
deveres de locatários e locadores.
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A política imigrantista do Império parece ter sido vitoriosa quando
temos acesso aos números.
Entre 1861 e 1870, havia cerca de 95 mil estrangeiros no Brasil.
O censo de 1872, o primeiro a fazer uma contagem geral da
população, identificou que os imigrantes livres correspondiam a
3,8% da população, que nesse censo foi totalizada como sendo de
10 milhões.
Imigrantes europeus.
Em 1879, outra lei reajustava as normas para a locação dos serviços
aplicados à agricultura e estabelecia prazos diferentes para os contratos
exercidos por brasileiros ou estrangeiros e revogava as anteriores –
1830 e 1837. Entre 1880 e 1889, há um aumento do número de
imigrantes e que se acentua nas décadas seguintes, principalmente nos
primeiros anos republicanos.
Maneiras diversas de
exploração
Escravos de aluguel
Enquanto alguns imigrantes ocupavam os postos de trabalho, a
escravização de homens e mulheres continuava.

Seja por simples venda de escravo.

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Seja por meio do aluguel.
Nesse último caso, o acordo seria entre o contratante e o senhor do
escravizado a ser alugado, diferente do “escravo de ganho”, já visto
anteriormente.
Uma das formas de exploração das mulheres escravizadas foi por meio
da prática conhecida como “ama de leite”, ocupação feminina
naturalizada em todas as sociedades escravistas das Américas e
presente no Brasil, sendo vista nos diversos anúncios de “aluga-se” e de
oferecimento dessas mulheres por parte dos seus senhores em jornais
das grandes cidades do Império. Algumas escravizadas eram alugadas
ou pertenciam à família e dentre a função exercida estava a de
amamentar a criança do senhor. Tal “ofício” aparecia na ocasião que
essas mulheres ficavam grávidas, podendo ser oferecidas por seus
senhores para um aluguel como “amas de leite” ou exercer a atividade
para os filhos do senhor. As “amas secas” também eram exercidas por
essas mulheres, às vezes de forma complementar, e seria destinado aos
cuidados das crianças.
No entanto, um aspecto cruel dessa prática é que, para ser ama de leite,
era preciso ser mãe primeiramente. Desse modo, onde estavam as
crianças geradas por essas mulheres que se tornaram amas de leite? O
destino desses filhos é pouco investigado pela historiografia, talvez
devido à falta de fontes sobre o paradeiro deles, que sequer aparecem
nas fotografias de mulheres negras amamentando crianças brancas.
Imagens essas realizadas por fotógrafos profissionais nos últimos anos
da escravidão. Certamente, os filhos dessas amas de leite, se vivos,
estavam entregues à escravização, disputando com as crianças brancas
o leite da sua mãe.
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O serviço doméstico também era o destino das mulheres escravizadas
ou negras libertas e livres, representando um forte aspecto da
escravidão urbana e que serviu de crônicas para viajantes que visitavam
o Brasil, principalmente a Corte, e que identificavam no serviço
doméstico uma atividade quase essencialmente escrava. Essa atividade
doméstica era iniciada cedo pelas mulheres, às vezes, ainda crianças.
No entanto, muitas atuavam, tanto no trabalho doméstico quanto no
comércio ambulante, nas ruas, vendendo todo o tipo de coisa.
As quitandeiras foram a atividade comercial mais expressiva nas
grandes cidades escravistas do século XIX, atividade ocupada por
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mulheres negras em sua maioria. Diante de uma precária distribuição de
alimentos, as quitandeiras tornaram-se responsáveis pela venda de
diversos gêneros alimentícios, fazendo anúncios dos seus produtos,
causando uma grande gritaria pela cidade, ao mesmo tempo que
negociavam os preços com os compradores. Ou seja, elas ocupavam as
ruas e tinham nos seus corpos uma extensão dos seus trabalhos, ao
carregarem nos braços ou na cabeça os tabuleiros com seus quitutes e
outros alimentos.
Trabalho escravo e trabalho
sexual
Prostituição
Outra forma de venda do corpo foi por meio da prostituição. Prática
antiga em todos os lugares do mundo, no Brasil escravista não foi
diferente. Essa foi uma prática existente entre as mulheres
escravizadas, imigrantes, libertas, livres, ou seja, um perfil social
diversificado. A respeito da prostituição, temos dois perfis.
Esta foi uma prática existente entre as mulheres escravizadas,
imigrantes, libertas, livres, ou seja, um perfil social diversificado.
Mulheres escravizadas e imigrantes 
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A respeito da prostituição, temos dois perfis. O primeiro perfil é o
das mulheres brancas, imigrantes, que vieram para o Brasil por
conta do forte fluxo imigratório do século XIX e que, por diversas
razões, entraram no mundo da prostituição. A Corte foi o
ambiente que agregou muitas dessas mulheres que vieram de
várias partes da Europa, que na maioria das vezes eram
exploradas por terceiros que controlavam suas ações ou as
abrigavam em prostíbulos e outros tipos de residência, em
alguns casos eram os responsáveis pela vinda delas ao Brasil.
O sistema conhecido como “tráfico de brancas”, que consistia na
vinda de mulheres para a prostituição no Brasil (principalmente
de moças judias da Europa Oriental), foi uma consequência da
forte imigração europeia para as Américas, na maioria de
homens, fazendo com que houvesse um desequilíbrio de sexos e
assim uma demanda por mulheres. Importante ressaltar que
grande parte das mulheres estrangeiras que se prostituíam no
Brasil eram enganadas e acreditavam que na América
exerceriam outra atividade. A entrada na prostituição se dava por
meio da violência sexual e física que enfrentavam desses
homens responsáveis por seu translado. Em alguns casos, as
mulheres recém-chegadas eram “ensinadas” por prostitutas mais
velhas e experientes. Essas informações constam em denúncias
feitas às autoridades da Corte que, mesmo condenando tal
prática, eram benevolentes com os estrangeiros acusados por
tais ações.
O segundo perfil é o das mulheres escravizadas e negras,
podendo as primeiras estarem no mundo da prostituição por
uma imposição do senhor. Tal prática foi condenada pelas
autoridades jurídicas, que, a partir da década de 1870,
empreenderam ações para pôr fim à prática da prostituição das
escravizadas pelos seus senhores. O motivo da campanha era
uma demanda de uma parte da sociedade, que, por meio de um
Mulheresescravizadas e negras 
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discurso moralizador e de higiene, considera a prática da
prostituição das escravizadas um momento de degradação.
No entanto, algumas pesquisas mostram que a prática da
prostituição das escravizadas nem sempre era uma imposição
dos seus senhores, podendo ser também uma possibilidade por
parte dessas mulheres a fim de se afastar da proteção senhorial
ou ter chances de acumular dinheiro para a liberdade. No
entanto, vale destacar como são distintas as histórias da
prostituição no Império, principalmente na Corte, não deixando,
porém, de ser a mulher, branca ou negra, imigrante ou
escravizada, a maior vítima desse comércio.
Formas de exploração do
corpo
Neste bate-papo, o professor Rodrigo Rainha entrevista a doutora em
História Beatriz Libano Bastos, aprofundando o debate sobre imigrantes
e a exploração dos corpos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

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Comércio de gente é um termo muito duro, mas necessário, quando
falamos das formas de exploração do trabalho. Quando falamos
sobre os imigrantes, podemos detectar no Brasil Imperial
Parabéns! A alternativa E está correta.
A tradição de exploração e de uma diferença econômica marcaram
os traços de exploração do trabalho no Brasil e foram uma
dificuldade aos grupos imigrantes que aqui chegaram.
Questão 2
A discussão sobre o escravismo brasileiro não ser identificado
como trabalho, mas como troca de mercadorias é importante.
Quando traçamos a discussão, notamos que mesmo os
escravizados alforriados – que compravam sua liberdade – tinham
dificuldades com a forma de exploração. Os chamados “escravos
de aluguel” são um exemplo importante de uso do indivíduo como
mercadoria e de manutenção de seu valor em nossa sociedade. São
funções que se enquadram neste contexto:
I – Prostituição
A
que vieram como escravos, mas somente para
pagar a passagem.
B
que organizaram espaços autônomos no Brasil para
fugir do escravismo.
C
que as práticas do trabalho escravo foram rompidas
e abandonadas por eles.
D
que as relações de imigrantes eram de que sua
superioridade lhes dava posição destacada nas
condições de trabalho.
E
que foram impactados pela tradição escravista no
mercado de trabalho do Brasil Império.
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II – Amas de leite
III – Domésticas e arrumadeiras
Estão corretas:
Parabéns! A alternativa D está correta.
As três formas podem se enquadrar no serviço de escravos de
aluguel, sendo marcante a exploração do corpo feminino como uma
peça, como algo que o senhor tinha direito a usar conforme
desejasse.
Considerações �nais
O comércio de gente no Brasil e nas Américas foi iniciado com a
chegada dos colonizadores europeus. Os indígenas foram os primeiros
grupos a sofrerem essas ações que desconsideram suas identidades
étnicas e suas práticas culturais, principalmente as voltadas para o
trabalho. Algo semelhante ocorreu com a chegada dos portugueses ao
continente africano, interferindo significativamente na forma de
escravização existente, introduzindo um novo tipo de comércio de
homens e mulheres, retirando-os do seu continente e os levando para
regiões longínquas.
A Somente I e II.
B Somente I e III.
C Somente II e III.
D I, II e III.
E Somente a I.
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Ao chegarem no Brasil, homens e mulheres africanos foram
comercializados como se fossem simples mercadorias, com valores
diferentes a partir das suas características. Essa prática da
escravização não existiu sem as resistências dos escravizados. Logo,
ao mesmo tempo que os senhores escravizavam, tinham também que
conviver com o perigo de uma grande revolta por parte desses homens.
Algumas revoltas ocorreram em diferentes regiões, mas nenhum grande
movimento que pudesse abalar as estruturas da escravidão no Brasil.
Por outro lado, temendo a redução da mão de obra escravizada, a vinda
de imigrantes foi incentivada pelas autoridades do Império que, além de
visar à exploração do seu trabalho, acreditavam que poderiam moralizar
a população, tão afetada pela escravidão.
Além de homens imigrantes para a lavoura e outras atividades, muitas
mulheres vieram para o Brasil e foram obrigadas ou tiveram a opção de
se prostituir. A prostituição afetou, além das mulheres brancas e
imigrantes, as negras e escravizadas, muitas sendo obrigadas por seus
senhores a exercerem tal prática. Desse modo, é fácil concluir o quanto
que os anos da Colônia e do Império foram marcados por uma atividade
comercial específica: o comércio de gente e a exploração dos corpos de
homens e mulheres de diferentes origens.
Podcast
Ouça agora um breve resumo do que conversamos neste conteúdo.
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Alguns artigos são imprescindíveis para aprender mais sobre o
assunto, confira!
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FREITAS, F. V. As negras quitandeiras no Rio de Janeiro do século XIX
pré-republicano: modernização urbana e conflito em torno do pequeno
comércio de rua. Tempos históricos, vol. 20, 1º semestre de 2016,
p.189-2017.
MARTINS, B. C. R. Reconstruindo a memória de um ofício: as amas de
leite no mercado de trabalho urbano do Rio de Janeiro (1820-1880).
Revista de História Comparada, Rio de Janeiro, 6-2: 138-167, 2012.
PRECHET, B. do N. O imoral escândalo da prostituição de escravas:
pensando a prostituição a partir das mulheres negras no Rio de Janeiro
(1871), Revista Transversos, Rio de Janeiro, n. 20, dez. 2020.
SILVA, M. dos S. O tráfico e a exploração de mulheres na prostituição no
Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, Ler História [On-line],
68 | 2015.
Dois livros são muito especiais sobre o assunto, confira!
LEMOS, M. S. O índio virou pó de café? Resistência indígena frente à
expansão cafeeira no Vale do Paraíba. Jundiaí: Paco Editorial. 2016.
REIS, J. J.; SILVA, E. Negociação e conflito. A resistência negra no Brasil
escravista. São Paulo: Companhia das letras, 1988.
Referências
ALMEIDA, M. R. C. de. Metamorfoses indígenas. Identidade e cultura
nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FGV, 2013.
CAVALCANTI, N. O. O comércio de escravos novos no Rio setecentista.
In: FLORENTINO, M. (Org). Tráfico, cativeiro e liberdade. Rio de Janeiro,
séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 15-77.
COSTA, E. V. A dialética invertida e outros ensaios. São Paulo: Unesp,
2014.
GOMES, F.; LAURIANO, J.; SCHWARCZ, L. M. (Org.) Enciclopédia Negra.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
GOMES, F.; SCHWARCZ, L. M. (Orgs). Dicionário da escravidão e
liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
GORENDER, J. O escravismo colonial. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2010.
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