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Natalia Quintino Dias Hipertensão arterial sistêmica Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma doença crônica caracterizada por elevação sustentada dos níveis de pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg. HAS secundária É usado quando existe uma causa de base para elevação da PA. Hipertensão Arterial Resistente (HAR) É definida quando a PA permanece acima das metas recomendadas com o uso de 3 anti- hipertensivos de diferentes classes de primeira linha (IECA, BRA, BCC e Tiazídico), sendo um deles preferencialmente um diurético, em doses máximas preconizadas e toleradas, com adesão comprovada. Hipertensos resistentes PA é controlada com 4 ou mais medicamentos anti- hipertensivos, chamada de HAR controlada. Hipertensão arterial refratária Ocorre quando não há controle pressórico mesmo com uso de 5 ou mais classes de anti-hipertensivos, fazendo parte, portanto, do grupo de HAR não controlada. Crise hipertensiva É definida como elevação da PA, que leva a sintomas e pode ser dividida entre: - Urgência hipertensiva (sem lesão aguda de órgão- alvo); - Emergência hipertensiva (com lesão aguda e progressiva de órgão-alvo e risco iminente de morte). Epidemiologia A hipertensão arterial é uma das doenças mais prevalentes no mundo. Estima-se que no Brasil cerca de 30% da população adulta seja hipertensa, e isso está relacionado ao sedentarismo, aos hábitos alimentares (elevada ingesta de sal) e à epidemia de obesidade, entre outros fatores. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, como obesidade abdominal, dislipidemias, diabetes mellitus (DM) tipo II. A prevalência aumenta com a idade. Tem relação independente com Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Acidente Vascular Encefálico (AVE), Insuficiência Cardíaca (IC), Doença Renal Crônica (DRC) e doença arterial periférica. Em crianças e adolescentes, devido ao aumento da obesidade infantil, estima-se que a prevalência atual de HAS esteja entre 3% a 5%, e de pré- hipertensão pode chegar a 15%. Fatores de risco Para HAS primária: - Idade; - Etnia (mais prevalente na raça negra); - Obesidade; - Grande ingesta de sal (média brasileira de 4,7 g de sódio/dia, sendo o recomendável pela OMS até 2 g/dia); - Baixa ingesta de potássio; - Consumo crônico de álcool; - Sedentarismo; - Genética (história familiar); - Fatores socioeconômicos (maior prevalência em população com menor renda). Sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) Tem como função manter a PA equilibrada e garantir o balanço hídrico do organismo, ou seja, a quantidade de água e sódio que o organismo deve manter ou eliminar, lembrando que o sódio é o principal mineral envolvido no controle da pressão arterial. O sistema Renina-Angiotensina- Aldosterona recebe esse nome por causa da interação entre esses três hormônios. Atuam de uma forma sequencial para que aconteçam reações orgânicas que vão equilibrar a pressão sanguínea e a quantidade de sódio e água do organismo. Esse sistema é ativado pelo próprio organismo quando é identificado um quadro de hipotensão. Assim, ele atua para reverter essa tendência induzindo os vasos sanguíneos a reduzirem o seu diâmetro, ou seja, provocando uma vasoconstrição. Ao mesmo tempo, esse sistema estimula a retenção do sódio, que estimula a elevação da PA. E a retenção de sódio caminha junto com a retenção de água. Os principais locais de ação do sistema Renina- Angiotensina e Aldosterona são os vasos sanguíneos e os rins. 1ª etapa: Conversão da pró-renina em renina Quando acontece uma queda da pressão arterial também ocorre uma redução da perfusão renal. Natalia Quintino Dias Essa reação é captada pelos receptores que estão presentes nas arteríolas conectadas aos rins. Então, inicia-se a conversão da Pró-renina em Renina. É a estimulação dos nervos renais que aumenta a secreção da renina pelas células. 2ª etapa: Liberação de angiotensina I Nessa etapa acontece uma segunda reação desencadeada pela renina. Quando presente no plasma sanguíneo, ela atua na conversão de Angiotensinogênio em Angiotensina I, que tem uma atividade biológica mais baixa. 3ª etapa: Conversão da angiotensina I em angiotensina II Nesse momento entra em ação uma outra enzima, localizada predominantemente nos rins chamada de Conversora de Angiotensina (ECA). A ação dessa enzima de conversão acontece nos pulmões e nos rins, desencadeando uma reação catalisadora que converte a angiotensina I em Angiotensina II. 4ª etapa: Liberação da Aldosterona Com a ativação da Angiotensina II, hormônio vasoconstritor ativado, ele vai atuar no córtex das glândulas suprarrenais fazendo com que a aldosterona seja sintetizada e secretada. Esse hormônio atua nas células dos rins incentivando o órgão a aumentar a reabsorção de sódio. Com isso, há um aumento da quantidade de líquido dentro dos vasos sanguíneos com objetivo de corrigir os níveis de pressão arterial. 5ª etapa: Estímulo renal direto Voltando à ação da Angiotensina II, ela vai atuar estimulando a troca de sódio e hidrogênio nesse órgão. Ao mesmo tempo, vai aumentar a retenção renal de sódio e também de bicarbonato. 6ª etapa: Aumento da sede e ação antidiurética Nessa etapa de ativação do sistema Renina- Angiotensina-Aldosterona, a Angiotensina II vai atuar mais uma vez. Porém, aqui ela estimulará o hipotálamo a aumentar a sensação de sede, para que a pessoa seja incentivada a beber água. Ao mesmo tempo, ocorre o estímulo da secreção do Hormônio Antidiurético (ADH) para que o organismo retenha mais água ingerida ou produzida pelo metabolismo. 7ª etapa: Vasoconstrição Como explicamos, o sistema Renina-Angiotensina- Aldosterona também vai provocar uma redução do diâmetro dos vasos sanguíneos pela ação da Angiotensina II. Ela vai atuar diretamente sobre as pequenas artérias e arteríolas fazendo com que se contraiam. Fisiopatologia Os mecanismos mais comumente relacionados são os 3: hormonal, neural e renal. Mecanismo hormonal: destaca-se o Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA), que pode estar com ativação exacerbada em determinados indivíduos hipertensos. Como resultado final ocorre retenção de água e sódio e vasoconstrição periférica, contribuindo para o aumento da PA. Mecanismo neural: o sistema autonômico simpático tem papel fundamental, ao estimular a vasoconstrição periférica e, por conseguinte, aumento da resistência vascular periférica e pós- carga, além de estimular o SRAA. Por fim, em algumas pessoas os rins têm papel central na gênese da hipertensão. Existe uma relação direta entre a curva de pressão e a natriurese. Alguns indivíduos têm essa curva desviada para direita, ou seja, maiores níveis tensionais para um mesmo consumo de sódio. Além disso, certos hipertensos podem ser “sal- sensíveis”, quando a inclinação da curva está Natalia Quintino Dias acentuada, ou seja, ocorre elevação de PA acima do esperado para cada aumento de ingesta de sódio. O mecanismo mais comum da HAS no idoso é o enrijecimento da parede arterial dos grandes vasos, levando ao aumento predominante da PAS, com manutenção ou queda da PAD (hipertensão sistólica isolada). Os principais órgãos-alvo lesados na HAS são o coração, o cérebro, o rim, a retina e a aorta (arteriopatia). Quadro clínico Na maioria dos casos não apresenta sintomas. A cefaleia, em geral, só ocorre com elevações significativas da PA (> 180/110 mmHg). Os sintomas se tornam mais evidentes quando há Lesão de Órgãos-Alvo (LOA), como dor torácica no caso de Doença Arterial Coronária (DAC), dispneia na Insuficiência Cardíaca (IC) e déficits neurológicos no AVE. Ao exame físico, deve-se avaliar a PA e o pulso nos 2 membros superiores (avaliar assimetrias e considerar nos membrosinferiores se houver suspeita de coartação de aorta), ausculta cardíaca (avaliar sopros, B3, B4), pulmonar (procurar sinais de congestão) e abdominal (sopros abdominais estão relacionados à hipertensão renovascular). Diagnóstico A avaliação diagnóstica engloba a aferição adequada da PA, o risco cardiovascular (CV) e a identificação de LOA. Diversos passos devem ser seguidos no preparo do paciente antes da aferição: manter repouso de 3 a 5 minutos em ambiente calmo, garantir que o paciente não está com a bexiga cheia, não praticou exercício físico nos últimos 60 minutos, não fumou nem ingeriu bebida alcoólica, café ou alimentos nos últimos 30 minutos. Medir a PA na posição de pé, após 3 minutos, nos diabéticos, nos idosos e em outras situações em que a hipotensão ortostática possa ser frequente ou suspeitada. Hipotensão ortostática ou postural é definida pela redução da PAS > 20 mmHg ou da PAD > 10 mmHg em comparação com a PA do paciente sentado ou deitado. Na primeira consulta, a PA deve ser aferida em ambos os MMSS. Deve-se anotar o membro com maior valor de PA. Modalidades básicas de aferição de PA fora do consultório - Medição Residencial da Pressão Arterial (MRPA): deve seguir protocolo específico, com pelo menos três aferições de PA pela manhã e à noite durante cinco dias (existe a opção de duas aferições por período, durante sete dias). - Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA): é realizada em 24 horas, com aferições a cada 15 a 30 minutos, e tem a vantagem de avaliar o período noturno. MRPA e MAPA são indicadas quando há divergência entre a PA aferida no consultório e em domicílio, além da avaliação da hipertensão resistente. Valores normais no consultório e elevados em casa caracterizam a hipertensão mascarada (HM), e o contrário (elevada no consultório e normal em casa) é chamado de hipertensão do avental branco (HAB). A hipertensão sistólica isolada (HSI) é definida como PAS aumentada com PAD normal. A HSI e a pressão de pulso (diferença entre PAS e PAD) são importantes fatores de risco cardiovascular em pacientes de meia-idade e idosos. Para paciente com PA em consultório ≥ 140/90 com risco cardiovascular baixo ou intermediário, uma segunda aferição é necessária para o diagnóstico. Para pacientes com PA ≥ 140/90 e risco cardiovascular alto ou PA ≥ 180/110, o diagnóstico de HAS já é estabelecido com uma medida isolada. Crianças e adolescentes: são considerados hipertensos quando PAS e/ou PAD forem Natalia Quintino Dias superiores ao percentil (p) 95, de acordo com idade, sexo e percentil de altura, em pelo menos 3 ocasiões distintas. Hipertensão maligna A hipertensão maligna é caracterizada clinicamente por níveis elevados de PA (geralmente > 180/110) associados a achados de retinopatia hipertensiva graus III ou IV. Fisiopatologicamente, 2 processos vasculares marcam a hipertensão maligna, com marcante acometimento renal: 1) lesão em casca de cebola: endarterite proliferativa em pequenas e grandes arteríolas, espessamento intimal, proliferação do músculo liso e fragmentação da lâmina elástica interna. 2) necrose fibrinoide: alteração necrosante das arteríolas, principalmente do hilo glomerular, refazendo a parede dos vasos com material eosinofílico granular e estreitamento do lúmen. É caracterizada por alto risco cardiovascular, evolui com lesões agudas em órgãos-alvo, sendo a doença renal crônica a principal causa de morte na evolução natural da doença. O achado típico dessa condição é a necrose fibrinoide de arteríolas renais, cerebrais e retinianas. A hipertensão maligna pode ser resultado tanto da HAS primária (mais comum em negros) quanto da hipertensão secundária. O termo “maligna” reflete o prognóstico ruim da patologia quando não tratada, principalmente relacionado à doença renal crônica. Classificação Os pré-hipertensos têm maior probabilidade de se tornar hipertensos e maior risco de desenvolvimento de complicações CV, quando comparados a indivíduos com PA normal. Exames complementares Os objetivos dos exames complementares são a identificação dos fatores de risco CV e a avaliação de LOA, o que permite classificar o risco cardiovascular do indivíduo para nortear o diagnóstico, tratamento e seguimento do paciente. Exame físico - Avaliar peso e altura para definir o IMC; - Circunferência abdominal; - Ausculta cardíaca, das carótidas e pulsos; - Medida do índice tornozelo-braquial (ITB – relação entre PAS tornozelo/PAS braço). Complementares - Exame de fundo de olho – avaliação da retinopatia hipertensiva, que pode ser classificada em 4 graus (Classificação de Keith-Wagener- Barker): • Grau I: leve estreitamento arteriolar. • Grau II: arteríolas em fio de cobre e cruzamentos arteriolovenulares (AV) patológicos. • Grau III: hemorragias em chama de vela, exsudatos algodonosos. • Grau IV: papiledema. Grau I (A): estreitamento arteriolar; Grau II (B): cruzamento AV patológico (seta); Grau III: exsudatos algodonosos (cotton wool spots) e hemorragia retiniana (hemorrhages); Grau IV: papiledema (perda dos limites no disco óptico). Exames de rotina Recomendados pela diretriz nacional para todos os pacientes hipertensos. • análise de urina; Natalia Quintino Dias • potássio sérico; • glicemia de jejum; • creatinina para cálculo do ritmo de filtração glomerular (RFG); • colesterol, HDL e triglicérides; • ácido úrico; • eletrocardiograma (ECG). Exames que podem ser solicitados/realizados para avaliação de LOA São ECG, ecocardiograma, ultrassonografia de carótida, velocidade de onda de pulso (VOP), ITB, creatinina (para avaliar ritmo de filtração glomerular – RFG) e albuminúria ou relação albumina/creatinina em amostra isolada Outros exames devem ser solicitados para populações específicas Hipertensão secundária 3-5% dos pacientes apresentam HAS secundária, que é quando existe uma doença de base responsável por elevar os níveis pressóricos. Situações que sugerem causas secundárias • Início precoce (< 30 anos) em paciente sem obesidade nem história familiar de HAS. • Piora aguda dos níveis de PA em hipertensos controlados. • Hipertensão resistente. • Quadro de emergência hipertensiva. • LOA desproporcional ao nível de PA. Na avaliação da HAS, é preciso estar atento a situações que sugerem causas secundárias, como início precoce (< 30 anos) em paciente sem obesidade nem história familiar de HAS, piora aguda dos níveis de PA em hipertensos controlados, hipertensão resistente, hipertensão estágio 3, quadro de emergência hipertensiva, lesão de órgão-alvo desproporcional ao nível de Natalia Quintino Dias PA, associação com distúrbios eletrolíticos como hipocalemia ou alcalose metabólica. Principais causas Doença parenquimatosa renal Ritmo de Filtração Glomerular (RFG) < 60ml/min, presença de albuminúria significativa (> 300 mg/24 horas). Investigação adicional inclui ultrassom de rins e vias urinárias e dosagem de PTH As doses dos anti-hipertensivos devem ser ajustadas ao RFG. Doença renovascular É secundária à estenose parcial ou total, uni ou bilateral da artéria renal. Achado de sopro abdominal ou piora da função renal com IECA sugerem causa renovascular. A etiologia aterosclerótica é mais comum em idosos com fatores de risco CV e displasia fibromuscular em mulheres jovens. O diagnóstico é feito com Doppler de artérias renais ou angiotomografia de artérias renais (mais sensível e específico). O tratamento cirúrgico (revascularização) ou percutâneo (angioplastia) da estenose de artéria renal está indicado em pacientes com perda progressiva de função renal, hipertensão resistente e edema agudo de pulmão de repetição. Os IECA podem precipitar insuficiência renalem paciente com estenose renal bilateral, por seu efeito de dilatação da arteríola eferente do glomérulo. Síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) A SAHOS caracteriza-se por obstruções recorrentes de vias aéreas superiores durante o sono, promovendo hipóxia intermitente, fragmentação do sono e ativação do sistema nervoso simpático. Achados comuns: roncos durante o sono, sonolência diurna excessiva e obesidade. A SAHOS pode levar à hipertensão mesmo em pacientes não obesos. O diagnóstico é realizado com a realização de polissonografia com 5 ou mais episódios de apneia e/ou hipopneia por hora de sono (índice de apneia- -hipopneia – IAH), mas um IAH ≥ 15 eventos/hora parecem ter maior impacto na hipertensão. O tratamento é realizado com Pressão Positiva Contínua (CPAP) durante o sono. Hiperaldosteronismo primário Produção excessiva, inadequada e autônoma de aldosterona, por hiperplasia bilateral das adrenais ou adenoma unilateral. Deve-se suspeitar quando associado à hipocalemia espontânea (sem diurético), alcalose metabólica e início de HAS antes dos 40 anos. Diagnóstico é firmado pela presença de aumento de aldosterona plasmática (geralmente, > 15ng/dL) e redução da atividade plasmática de renina, o que resulta numa relação aldosterona/atividade plasmática de renina elevada (em geral, > 30). Deve-se suspender a espironolactona por no mínimo 4 semanas antes da coleta da aldosterona plasmática. Testes confirmatórios que avaliam a supressão da produção de aldosterona inibindo a produção de renina geralmente são necessários (os testes da furosemida e do captopril têm maior precisão diagnóstica que o teste da sobrecarga salina). A Tomografia Computadorizada (TC) com cortes finos ou a Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de abdome ajudam a definir a presença de adenoma unilateral (cujo tratamento é a excisão cirúrgica) ou hiperplasia bilateral (cujo tratamento são altas doses de espironolactona, de 50 a 300 mg por dia). Síndrome de Cushing Síndrome ocasionada por excesso de cortisol produzido por adenoma ou carcinoma adrenal, tumor de hipófise secretor de ACTH, tumor ectópico ou, mais comumente, de causa iatrogênica (glicocorticoide exógeno). Quadro clínico: obesidade central, estrias violáceas, face em lua cheia, fraqueza muscular, hirsutismo, Distúrbios metabólicos (DM e HAS). Diagnóstico laboratorial: cortisol livre em urina de 24 horas, cortisol salivar no período noturno e teste de supressão com dexametasona 1 mg. Avaliação de ACTH sérico. RNM de hipófise para tumores ACTH-dependentes (provável causa tumor de hipófise), TC ou RNM de abdome para ACTH-independentes (avaliar adenoma adrenal). Tratamento é a excisão cirúrgica do tumor. Nos casos de etiologia iatrogênica, redução gradual (desmame) da dose do corticoide. Natalia Quintino Dias Feocromocitomas São tumores produtores de catecolaminas, originados de células cromafins do eixo simpático- adreno-medular. Regra dos 10: 10% são extra-adrenais (chamados de paragangliomas), 10% são múltiplos ou bilaterais, 10% são malignos, 10% são incidentalomas (achados de exame). Quadro clínico: elevações paroxísticas (50% dos pacientes) ou sustentadas de PA com a tríade clássica de paroxismos de cefaleia, sudorese e palpitações. Crises hipertensivas podem ser desencadeadas por medicações (como betabloqueadores) e cirurgias com manipulação abdominal. Pode estar relacionado à Síndrome Neoplásica Endócrina Múltipla (MEN) tipo 2, quando associado ao carcinoma medular de tireoide e ao hiperparatireoidismo primário. Tríade do feocromocitoma (mnemônico DST): Dor de cabeça, Sudorese e Taquicardia. Diagnóstico laboratorial pela dosagem de catecolaminas e metabólitos: metanefrina urinária isolada ou associada às catecolaminas plasmáticas. Metanefrina plasmática livre tem maior sensibilidade e especificidade. Exames de imagem para identificação do tumor são TC ou RNM, que é melhor para paragangliomas. O tratamento é cirúrgico, com uso de alfa-1- bloqueadores (doxazosina ou prazosina) e hidratação adequada por no mínimo 2 semanas antes da cirurgia. Como os receptores alfa-1 adrenérgicos causam vasoconstrição e, por consequência, elevação de PA, os betabloqueadores só podem ser utilizados em pacientes que já estão em uso de alfa-1- bloqueadores. Coarctação da aorta Redução do diâmetro da aorta torácica, distal à artéria subclávia esquerda, de etiologia congênita, encontrada em crianças e adultos jovens. Quadro clínico: fraqueza nas pernas aos esforços, sintomas de IC, dissecção de aorta, diferença de PA entre membros superiores e inferiores, ausência ou diminuição dos pulsos em membros inferiores, sopro sistólico interescapular e no tórax. Diagnóstico por exames de imagem: radiografia de tórax, ecocardiograma e angiotomografia de aorta torácica. O tratamento é sempre intervencionista, com cirurgia aberta ou procedimento endovascular. Estadiamento Deve-se considerar os níveis pressóricos + presença de LOA + risco cardiovascular global estimado pela presença de fatores de risco + comorbidades associadas. Natalia Quintino Dias Pacientes com Doença Cardiovascular (DCV) estabelecida ou equivalente são considerados de alto risco. Só não são considerados de alto risco os pacientes pré-hipertensos (PAS 130-139 ou PAD 85-89) sem LOA nem DCV, hipertensos estágio 1 com no máximo 2 fatores de risco ou hipertensos estágio 2 sem fator de risco adicional (situação incomum na prática clínica). Pacientes com LOA, DCV estabelecida ou equivalente e HAS estágio 3 são todos de alto risco. Tratamento O objetivo do tratamento é reduzir a PA para proteger órgãos-alvo e reduzir desfechos cardiovasculares (IAM, AVE, IC) e renais. Envolve mudanças no estilo de vida e uso de medicações anti-hipertensivas. O tratamento não-farmacológico está indicado para todos os pacientes pré-hipertensos e hipertensos. Já o tratamento farmacológico deve ser iniciado de imediato após o diagnóstico em: - Pré-hipertensos e hipertensos estágio 1 de alto risco CV ou com DCV estabelecida ou equivalente; - Em todos os hipertensos estágio 2 e 3, independentemente do risco adicional. Natalia Quintino Dias O tratamento visa atingir a meta de controle pressórico para o perfil do paciente, definida individualmente, considerando idade, DCV e fatores de risco. De forma geral, deve-se reduzir a PA visando alcançar valores menores que 140/90 mmHg e não inferiores a 120/70 mmHg. Tratamento não-farmacológico Perda de peso: Para cada redução de 5% do peso, ocorre diminuição de 20% a 30% na PA. Manter IMC menor 25 kg/m2 até 65 anos e menor que 27 kg/ m2 após 65 anos. → + efetiva Alimentação: A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) enfatiza o consumo de frutas, hortaliças e laticínios com baixo teor de gordura, inclui a ingestão de cereais integrais, frango, peixe e frutas oleaginosas e preconiza a redução da ingestão de carne vermelha, doces e bebidas com açúcar. Moderação no consumo de álcool – o preconizado é até 1 dose (14 g de etanol, o que equivale a 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho e 45 mL de bebida destilada) diária para mulheres e 2 doses para homens. Atividade física: O treinamento aeróbico é recomendado como forma preferencial de exercício para a prevenção e o tratamento da HAS e pode ser complementado pelo resistivo. Mínimo: 30min de atividade física moderada por dia – 5 a 7 dias/semana. Controle do estresse: Realizar técnicas de gerenciamento de estresse (psicoterapia, meditação, relaxamento, biofeedback) separadamente ou em conjunto. Tratamento farmacológico Deve seguir os seguintes princípios: - Monoterapia: pacientes com HAS estágio 1 e risco CV baixo ou moderado. - Terapia combinada: pacientescom HAS estágio 1 com risco CV alto e todos os hipertensos estágios 2 e 3. Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (IECA) e Bloqueadores do Receptor AT1 da Angiotensina II (BRA) Atuam através da inibição em diferentes pontos do Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA), cuja grande função é promover aumento da PA. Os IECAs (captopril, ramipril, enalapril) bloqueiam o SRAA ao inibir a ação da ECA no processo de conversão de angiotensina I para a II. Como a ECA também tem o papel de degradação da bradicinina, que tem ação vasodilatadora, tem também esse efeito vasodilatador adicional. Já os BRA (losartana, valsartana) ligam-se aos receptores da angiotensina II, impedindo a sua ação e, dessa forma, bloqueando o ciclo do SRAA. - Retardam a progressão de nefropatia, principalmente em pacientes diabéticos. - Têm menos efeito hipotensor do que os diuréticos e os BCCs (especialmente em negros). Efeito colateral muito prevalente dos IECAs: é a tosse seca, atribuível ao aumento da bradicinina. Mais raramente, pode acontecer o angioedema, sendo bem menos frequente para os BRAs. A associação de IECA com BRA não é recomendada, pois, além de não mostrar benefício em desfechos CV, acrescentou risco de efeitos adversos (insuficiência renal e hipercalemia). Diuréticos tiazídicos Os mais conhecidos são a hidroclorotiazida e a clortalidona. Atuam no túbulo distal dos néfrons, inibindo o transporte de íons Na+ e Cl – para dentro da célula. Nas primeiras semanas de uso, o efeito hipotensor decorre da ação natriurética. O efeito duradouro, no entanto, é através da redução da resistência vascular periférica. Não devem ser utilizados em pacientes com clearance estimado em < 30 mL/min/1,73 m2 por terem ação muito reduzida. Os efeitos colaterais metabólicos são variados: hipopotassemia, hiperuricemia (por competição da excreção com o ácido úrico), hipercalcemia (impedem excreção do cálcio), hiperglicemia (aumento da resistência insulínica), hiperlipidemia. Natalia Quintino Dias Podem ainda atrapalhar o tratamento: cãibras e disfunção erétil. Tiazídicos devem ser evitados em pacientes com Gota, pois seu uso pode aumentar os níveis séricos de ácido úrico. Bloqueadores do canal de cálcio Reduzem a resistência vascular periférica através da diminuição dos níveis intracelulares de cálcio nas células musculares das arteríolas. Os di-idropiridínicos (ex: anlodipino) são os mais vasosseletivos e mais utilizados no tratamento da HAS. Os efeitos colaterais mais importantes são edema de membros inferiores (para o qual a associação com IECA tem efeito benéfico) e cefaleia. Os não di-idropiridínicos (verapamil e dialtiazem), por sua vez, têm efeito bradicardizante, podem deprimir a função sistólica, além de terem menor efeito vasodilatador. Sendo assim, estão contraindicados para pacientes com insuficiência cardíaca. IECA OU BRA + BCC + DIU Natalia Quintino Dias Tratamento intervencionista Está indicado em casos específicos de causas secundárias (como angioplastia de artéria renal ou excisão cirúrgica de adenoma adrenal produtor de aldosterona). Tratamento na criança e no adolescente A terapêutica farmacológica deve ser iniciada para crianças e adolescentes com HAS sintomática, HAS secundária, presença de LOA, DM tipos 1 e 2, DRC e HAS persistente não responsiva à terapêutica não farmacológica. A utilização de todas as classes de anti- hipertensivos parece segura, devendo-se ajustar a dose pelo peso. Crise hipertensiva É definida por elevações significativas e sintomáticas da PA. Em geral, crises hipertensivas ocorrem com PA> 180/120 mmHg, porém o valor isolado da PA não define se o quadro clínico é uma verdadeira crise hipertensiva, já que o valor basal da PA e a velocidade de elevação (quanto mais abrupta, pior) são os principais determinantes dos sintomas. Somente urgências e emergências hipertensivas são consideradas crises verdadeiras. Emergência hipertensiva (EH) Caracterizada por elevação de PA associada à LOA aguda e progressiva que pode levar a risco iminente de morte. As situações clínicas mais comuns são AVE isquêmico e edema agudo de pulmão. Entre as lesões agudas mais comuns, estão insuficiência renal, retinopatia hipertensiva graus III e IV e anemia hemolítica microangiopática. A encefalopatia hipertensiva é uma condição clínica definida por sintomas neurológicos não localizatórios (cefaleia, náuseas, vômitos, agitação ou confusão mental, convulsões, rebaixamento e coma/torpor) associados a níveis elevados de PA (geralmente estágio 3) e retinopatia hipertensiva graus III e IV. A fisiopatologia envolve falha nos mecanismos de autorregulação da circulação cerebral. Em condições normais, o aumento da PA leva à vasoconstrição das arteríolas cerebrais, enquanto a hipotensão gera vasodilatação, o que proporciona estabilidade para o fluxo sanguíneo cerebral. Se a elevação da PA for muito rápida e intensa, a capacidade de vasoconstrição das Natalia Quintino Dias arteríolas é superada, ocorrendo então vasodilatação pelo efeito mecânico da PA, seguida por aumento do fluxo sanguíneo cerebral, lesão endotelial, extravasamento de plasma e edema cerebral difuso, que é o marco da encefalopatia hipertensiva. Por esse motivo, os sintomas não são focais, não podem ser relacionados a um território cerebral específico, como ocorre no AVE. Durante AVE (isquêmico ou hemorrágico), ocorre aumento da pressão intracraniana, portanto, é comum que a PA se eleve para manter a perfusão cerebral. É prática comum tolerar níveis mais elevados de PA no AVE isquêmico. No AVE hemorrágico, é recomendado anti- hipertensivos para manter o nível de PAS próximo a 140 mmHg. A redução excessiva para níveis de PAS < 140mmHg pode causar malefícios. No caso da dissecção aguda de aorta e eclâmpsia, situações que podem ser fatais se não forem rapidamente tratadas, o alvo de PA é mais agressivo: < 120/80 mmHg em 20 a 30 minutos. Em relação à dissecção aguda de aorta, betabloqueadores são as drogas de escolha inicial (como o esmolol). Devem-se evitar vasodilatadores como primeira opção nesse cenário, pois podem ocasionar taquicardia reflexa e aumento da área de dissecção. Por outro lado, em crises adrenérgicas graves (crises do feocromocitoma, uso de simpaticomiméticos como a cocaína) contraindicam o uso de betabloqueadores, pois faz prevalecer o efeito alfa-adrenérgico, que é vasoconstritor, elevando ainda mais a PA. Os principais vasodilatadores endovenosos utilizados na prática clínica são o nitroprussiato de sódio e a nitroglicerina. Natalia Quintino Dias Urgência hipertensiva (UH) São definidas pela presença de sintomas relacionados à HAS em paciente sem lesão aguda de órgãos-alvo. Podem ocorrer em pacientes hipertensos que param de tomar as medicações, com lesões crônicas (angina estável, doença renal crônica ou AVE prévio). O tratamento consiste na redução da PA para o basal do paciente ou 140/90, o que for menor, em 24 a 72 horas. Portanto, pode ser realizado com medicações por via oral. Os anti-hipertensivos orais mais utilizados no PS são captopril e clonidina, por seu início de ação mais rápido. O uso de nifedipino de liberação rápida na UH está proscrito, por não ser seguro nem eficaz, além de provocar reduções rápidas e acentuadas da PA, o que pode resultar em isquemia tecidual. Pseudocrise hipertensiva Elevação de PA secundária a outro sintoma, mais comumente dor, ansiedade e estresse emocional. O paciente não deve receber anti-hipertensivos, e sim sintomáticos (analgésicos ou ansiolíticos), e a PA deve ser reavaliada após o controle dos sintomas. No caso da cefaleia, cuidados devem ser tomados: - Cefaleias com características decefaleia primária (enxaqueca ou tensional), sem sintomas neurológicos associados, o tratamento inicial deverá ser apenas analgesia. - Quando a cefaleia for acompanhada de sintomas como hemiparesia ou hemiplegia, afasia, convulsão ou coma, podemos estar diante de emergência hipertensiva (AVE ou encefalopatia hipertensiva). Esses pacientes devem ter a PA tratada apropriadamente e sempre necessitarão de exame de imagem (TC de crânio inicialmente).
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