Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS Fabiane Padilha da Silva Introdução à avaliação de empresas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a importância de determinar o valor das empresas. Identificar os métodos de avaliação de empresas. Reconhecer as expectativas de valor de uma empresa. Introdução As operações que ocorrem nas empresas têm como objetivos, em sua grande maioria, a geração de valor e a maximização de resultados. Todas as empresas querem o crescimento sustentável e, com base nessa busca, fazem de seus processos os caminhos para alcançar esse objetivo. Quando as empresas começam a apresentar resultados positivos, a expansão é o caminho mais óbvio. Entretanto, existem alternativas. É importante compreender como se dá a avaliação da empresa pelo mercado. Trata-se de um elemento estratégico, já que a competitividade, cada vez mais acirrada, ampara-se em resultados comparativos, sejam eles internos ou externos. As comparações no âmbito interno se baseiam nos resultados da empresa em períodos diferentes; as comparações externas se valem de análises de outras organizações do mesmo setor. Neste capítulo, você vai compreender a importância de determinar o valor de uma empresa. Diante das exigências do cenário competitivo, conseguir situar a organização em termos de valor é também uma forma de confirmar se o que foi planejado estava certo. Assim, podem ser feitos ajustes de rotas. Nesse sentido, você vai identificar os métodos de avaliação e as expectativas de valor de uma empresa. O valor da empresa Qualquer empresa que é criada deveria passar pela análise de viabilidade do negócio, em que é averiguado se o empreendimento é viável a ponto de oferecer valor ao proprietário. Tal premissa básica de desenvolvimento de uma empresa é pautada em diversos pontos, dentre os quais pode-se destacar a viabilidade fi nanceira. Ao ser viável fi nanceiramente, uma organização mostra que possui capacidade de gerar riqueza, mostrando sustentabilidade no que tange às fi nanças. Atualmente, a sobrevivência organizacional se vincula, em grande parte, ao uso adequado das ferramentas disponíveis para planejamento, controle e execução dos processos. Entretanto, em uma empresa iniciante, a avaliação inicial terá como suporte os resultados financeiros, responsáveis por mostrar se aquele projeto trará lucro ao investidor e o fará dar seguimento à sua ideia inicial. A fase de início de um negócio é assim; mas, à medida que o empre- endimento passa a se desenvolver e a mostrar sustentabilidade financeira, começa-se a imaginar o quanto ele vale no mercado, pois não se trata mais de um projeto incipiente. Essa determinação do valor das empresas no mercado é uma das formas que os gestores possuem de fazer dois tipos de comparações: comparar a sua empresa com o mercado e comparar a empresa com seus próprios resultados — acompanhando o desempenho da organização e utilizando os resultados como base para a tomada de decisão. Outra utilização para a avaliação de empresas são os casos em que há possibilidades de fusões e aquisições (F&A), que oferecem aos interessados a possibilidade de ganhos maiores em função da parceria. A busca pela maximização dos lucros e da riqueza dos acionistas, junta- mente com a necessidade de calcular o preço justo das ações (reforçado pelas ofertas públicas de empresas ingressantes nas bolsas de valores), além das F&A que ocorrem em todos os setores, evidenciam-se como as principais razões para se avaliar uma empresa, conforme apontam Martelanc, Pasin e Pereira (2010). Introdução à avaliação de empresas2 O valor justo é tratado com maior profundidade no Comitê de Pronunciamentos Contábeis, por meio do pronunciamento técnico CPC 46, intitulado “Mensuração do Valor Justo”, que é uma correlação com as Normas Internacionais de Contabilidade. Mais informações no link a seguir. https://qrgo.page.link/uSPC9 A avaliação de empresas depende, em grande parte, de expectativas futuras de desempenho, o que deriva, em certo ponto, da subjetividade na escolha de métodos e medidas disponíveis. Se a pretensão é vislumbrar o que a empresa pretende para o futuro, é necessário que seja construída uma desconexão do passado, pois, segundo Samanez (2007, p. 355), “[...] é o futuro que vai remunerar os beneficiários e não seu passado”. Com base nisso, tanto Samanez (2007) quanto Titman e Martin (2010) afirmam que é um desafio estimar o valor de uma empresa. Algumas organizações optam pela oferta de suas ações nas bolsas de valores. Esse processo em que uma empresa vende suas ações ao público pela primeira vez, visando à captação de recursos, é chamado de oferta inicial de ações (IPO, do inglês initial public offering). Valuation é um termo de origem inglesa normalmente traduzido para o português como avaliação de empresas. Samanez (2007, p. 353) afirma que “[...] qualquer que seja o processo de avaliação empregado, sempre existirá um propósito específico”. Portanto, existem atores que, de acordo com a sua relação com a empresa avaliada, vão observá-la de formas diferentes. Credores e gestores, assim como os acionistas, podem ser considerados os principais interessados nas decisões e nos efeitos gerados pela avaliação em uma organização. Os credores estão interessados no recebimento do valor que foi negociado. Já os gestores e acionistas estão atentos aos melhores resultados, em função de que ambos podem se beneficiar com eles: o gestor pode ter um 3Introdução à avaliação de empresas percentual de participação nos lucros maior, e o acionista pode ter suas ações valorizadas em função dessas decisões. Em processos de F&A, mesmo que haja lógica econômica, podem aparecer dificuldades. Ativos humanos, cada vez mais considerados essenciais para a continuidade das empresas, revelam que o conhecimento e o capital intelectual inerentes a eles devem estar alinhados, em função das diferentes culturas. Caso isso não ocorra, pode ser que a fusão não gere bons resultados. Se os gestores não fizerem uma integração adequada, pode ser que muitos deixem a organização por insatisfação. Se gestores, trabalhadores especializados e engenheiros não estiverem felizes com suas respectivas funções na empresa resultante da fusão, os melhores vão embora, conforme afirmam Brealey et al. (2018). Entretanto, não é apenas em instituições já estabelecidas que se aplica a avaliação de empresas. A valuation pode ser uma ferramenta utilizada por empresas que estão em fases consideradas iniciais (ou mesmo ainda não iniciadas — tendo apenas um projeto de produto), pretendendo, dessa forma, captar recursos de investidores externos. Nesse sentido, a valoração da orga- nização será uma das formas de mostrar que aquela oportunidade não deve ser desperdiçada, pois ela mostra uma valorização já conquistada e uma possibilidade de ganhos futuros atraentes. A Figura 1 mostra as razões para que seja feita a avaliação de empresas. Figura 1. Razões para avaliar empresas. Fonte: Adaptada de Martelanc, Pasin e Pereira (2010). Introdução à avaliação de empresas4 Como pode-se perceber, em processos de F&A, avaliar negócios é essencial. Entretanto, outras situações mostram a importância da avaliação de empresas, de modo a se tornarem objetivos dela, voltados para meios internos ou externos, como afirmam Martelanc, Pasin e Pereira (2010, p. 3): Compra e venda de ações e de participações minoritárias; Aquisição de carteiras de clientes e linhas de negócios; Management buyout (aquisição da empresa por seus gerentes e diretores e leveraged buyout (aquisição de empresas financiadas por meio de empréstimos bancários, onde os fluxos de caixa servem para a amortização das dívidas); Liquidação judicial; Abertura (IPO) e fechamento de capital; Processos de privatização, concessões e parcerias público-privadas (PPP); Formação de parcerias e joint ventures; Análise de oportunidades de novos negócios e viabilidadede novas empresas; Avaliação do desempenho econômico e financeiro de unidades de negócios, departamentos e produtos (dentre outros), visando à criação de valor e servindo como feedback para gestores e proprietários; Gestão de carteiras de investimento e de fundos de private equity (injeção de capital por meio de sociedade em empresas em fase inicial) e venture capital (injeção de capital por meio de sociedade em empresas consolidadas). Em resumo, a avaliação de empresas pode ser um instrumento de utilização interna ou externa. Quando usada internamente, oferece informações à gestão estabelecida. No caso de uso com finalidades externas, buscará oferecer o maior volume de informações para a tomada de decisão de outros stakeholders não estabelecidos internamente. Métodos de avaliação As metodologias de avaliação de empresas foram criadas a partir da década de 1960. Existem vários métodos de avaliação de empresas, mas, deve-se res- saltar que eles não devem ser analisados isoladamente, pois podem mostrar-se inconsistentes. O ideal, nesse caso, é utilizar mais de um método, para que haja uma maior acuracidade. Dependendo das premissas da avaliação, alguns métodos podem apresentar-se mais adequados do que outros; isso depende muito da qualidade das informações que estão servindo de base. Nenhum modelo oferece um valor preciso, apenas uma estimativa, dado que variáveis — como mudanças na conjuntura econômica local — podem alterar receitas, custos e despesas, segundo Martelanc, Pasin e Pereira (2010). 5Introdução à avaliação de empresas Titman e Martin (2010) afirmam que os analistas devem considerar um amplo conjunto de fatores quando há a intenção de comprar um negócio. Os seguintes aspectos devem ser foco de análise: estimativa de fluxo de caixa; avaliação de risco; oportunidades de financiamento; resultados nos lucros a curto prazo; investimentos graduais; e oportunidades de investimento adicionais. Esses aspectos são condizentes com as expectativas relacionadas ao negócio em si. Entretanto, ao avaliar uma empresa, o analista deve ser capaz de ampliar a perspectiva de que essa empresa pertence a um determinado segmento; por sua vez, o mercado também deve estar no foco da apreciação. A seguir, serão apresentados três métodos: fluxo de caixa descontado, abordagem patrimonial e métodos múltiplos. Método do fluxo de caixa descontado O método do fl uxo de caixa descontado, ou FCD, é obtido quando se faz a atualização dos valores que serão recebidos ao longo do tempo. Por isso, ele também é denominado de método pela renda, pois a renda auferida no inves- timento é que será a base para a avaliação. Portanto, o elemento central desse método é a atualização dos valores a partir de uma determinada taxa de juros e dentro de um referido período — conceitos referentes à matemática fi nanceira. Breadley et al. (2018) recordam que conceitos e instrumentos básicos, assim como os princípios de gestão fi nanceira, não variam, reforçando que o valor presente do fl uxo de caixa continua fazendo sentido. Para que o FCD seja utilizado como um método para avaliação de empresas, deve-se reforçar que, antes da aplicação propriamente dita do cálculo, o ideal é buscar informações históricas, tornando possível, por meio desse olhar para o passado, projetar o futuro. Entretanto, é importante avaliar o contexto de projeção, pois, por melhores que tenham sido os resultados passados, se a conjuntura futura for diferente (o que pode acontecer), as perspectivas não se confirmarão, mostrando-se infundadas. Titman e Martin (2010, p. 53) afirmam que o FCD é utilizado pelos ana- listas financeiros desde os anos de 1950 por sua simplicidade, podendo ser executado em três passos: Introdução à avaliação de empresas6 Projetar o valor e o cronograma dos fluxos de caixa futuros: definir quanto se espera que o projeto gere em termos de retorno e qual o período em que esses retornos acontecerão. Estimar uma taxa de desconto apropriado ao risco incorrido: definir uma taxa com base em investimentos semelhantes. Descontar os fluxos de caixa: encontrar o valor atual (PV) dos valores futuros (FV), que são os retornos. Gitman (2010) afirma que o fluxo de caixa pode ser dividido em: fluxo operacional — aquele que está intrinsecamente ligado à parte operacional da organização; fluxo de investimento — que representa a compra e a venda de ativos por parte da organização; e fluxo de financiamento — que se origina das transações financeiras da organização. Dessa forma, é por meio da análise do fluxo de caixa de um projeto de investimento que se pode ter uma visão sistêmica, facilitando a avaliação e a posterior tomada de decisão sobre investir ou não na empresa. O FDC se resume à representação das entradas e saídas de caixa em um projeto, sendo possível sua projeção a partir de expectativas sobre o que pode acontecer futuramente. Nessa análise, devem ser observados os dois tipos de fluxo de caixa, con- forme descrevem Titman e Martin (2010): o primeiro é o fluxo de caixa livre para o acionista (FCLA), que é aquele apresentado aos acionistas a título de verificação de seus direitos; o segundo tipo é o fluxo de caixa livre do projeto, conceito que se refere ao fluxo de caixa disponível tanto para credores da firma quanto para os acionistas, sendo calculado subtraindo-se do fluxo de caixa operacional o dispêndio de capital, ou seja, o quanto há em dívidas. Quando se avalia uma empresa, um dos fatores mais importantes a ser considerado é o valor do negócio no qual será investido. Conforme Gitman e Martin (2010, p. 121), “[...] o fluxo de caixa é o sangue que corre pelas veias da empresa e, portanto, uma determinante fundamental do valor do negócio”. Para quantificar a capacidade de geração de valor de um ativo, é necessário que seja elaborado um fluxo de caixa, a fim de traçar um mapa sobre todas as entradas e saídas de capital do período no qual se espera aplicar determinada quantidade de capital. Como esclarece Gitman (2010, p. 262), “[...] o valor de 7Introdução à avaliação de empresas qualquer ativo depende do (s) fluxo (s) de caixa que se espera que o ativo gere durante o período em que for mantido”. Ao projetar um fluxo de caixa, a empresa apresentará seus ingressos e desembolsos, os quais gerarão um saldo final de caixa, como mostra o Quadro 1. Fonte: Adaptado de Santos et al. (2008). I. Ingressos Vendas à vista Vendas a prazo Outras entradas II. Desembolsos 1. Capital de terceiros e investimentos Fornecedores Impostos Imobilizado 2. Gastos operacionais Pessoal Encargos sociais Água/luz/manutenção III. Saldo final de caixa Quadro 1. Fluxo de caixa projetado É com base no fluxo de caixa final que deverão ser aplicadas as taxas de desconto, a fim de atualizar os valores. Basear-se em um período de cinco anos é uma projeção bastante propícia, pois já se consegue verificar se aquela avaliação será positiva ou não. Para que essa estimativa seja capaz de mostrar o quanto os valores são afetados pelas taxas de juros (custo do capital) e pelo período em que se dão as operações, a Equação 1 apresenta o valor presente (VP). Com base em um valor futuro (VF), e dada uma taxa de juros (i) e um período estipulado (n), consegue-se identificar o valor atual desse valor futuro. Introdução à avaliação de empresas8 Quanto à taxa de desconto, deve-se utilizar a mais conveniente para a operação. Uma das possibilidades é imaginar que essa taxa seria a alternativa, por exemplo, se o valor do investimento fosse deixado em outro investimento. De outra forma, pode-se também buscar no mercado uma composição de taxas cobradas em financiamentos e empréstimos, calculando-se o custo médio ponderado de capital. O VP será o valor que foi atualizado. Portanto, se a projeção foi feita em um horizonte de cinco anos, deve-se somar esses valores presentes dos cinco anos para que se obtenha o valor que deve ser o valor da avaliaçãoda empresa. Abordagem patrimonial Na abordagem patrimonial, os métodos de avaliação são utilizados em situações específi cas, pois o interesse está direcionado apenas à aquisição dos ativos (que vão determinar o valor do negócio) da empresa, e não ao potencial de geração de resultados futuros. Embora seja uma das abordagens mais simples e fáceis para avaliar empresas, em raras situações ela é adequada e pode ser utilizada, pois se baseia nos valores investidos por seus acionistas no passado (patrimônio líquido) ou no valor de liquidação de ativos. Conforme Martelanc, Pasin e Pereira (2010), os métodos de avaliação de empresas que utilizam a abordagem patrimonial se baseiam no fato de que o valor de uma empresa pode ser estimado com base em diferentes aspectos, conforme descrito a seguir. Pelo valor do patrimônio líquido contábil (book value): esse valor é obtido por meio dos registros contábeis e no balanço patrimonial da empresa. Altas taxas de inflação, obsolescência, depreciação, mudanças tecnológicas e condições mercadológicas não são apreciadas nesse método, o que o torna pouco preciso. No caso de a empresa estar no início, a apuração do patrimônio líquido se dará pela diferença entre o ativo (bens e direitos) e o passivo (obrigação para com terceiros de curto e longo prazo). Pelo valor de liquidação: esse valor é obtido a partir da perspectiva de liquidação do negócio, mostrando-se como um piso mínimo de venda, que também pode ser levantado pela expectativa que cada sócio espera receber após a venda. Essa metodologia pode ser utilizada em empresas 9Introdução à avaliação de empresas que estejam em situação desfavorável, mas que, ainda assim, possuam ativos de valor. Por isso, como não há expectativa de geração futura de valor, esse método é utilizado quando há interesse nas instalações físicas, nos maquinários, em itens de capital de giro e na capacidade de produção da empresa. Pelo valor de reposição ou do patrimônio líquido ajustado: esse valor é obtido quando se somam os recursos financeiros necessários para a constituição de uma empresa nova, idêntica à existente. Portanto, refere- -se à soma que inclui a aquisição dos ativos e os custos para colocar essa empresa em efetivo funcionamento. Nesse caso, reavaliações devem ser feitas periodicamente em títulos mobiliários, estoques, imóveis, terrenos, máquinas, equipamentos e exigibilidades (como passivos trabalhistas e tributários). Ressalta-se que, nesse método, não são considerados ativos intangíveis, como redes de relacionamento, portfólio de clientes, recursos humanos, capital intelectual e reputação da empresa. Esse acréscimo é denominado goodwill, que, de acordo com Martelanc, Pasin e Pereira (2010, p. 176), “[...] deriva de um conjunto de características, qualida- des e diferenciais da empresa, expresso por meio de sua capacidade futura de gerar riquezas e retornos superiores aos de novos entrantes e concorrentes estabelecidos no setor”. Assim, goodwill é a diferença entre a quantia que a empresa vale para os acionistas e o valor que o mercado estabelece. Métodos múltiplos (ou avaliação relativa) Os métodos múltiplos, também chamados de métodos de avaliação relativa, baseiam-se no fato de que o valor de uma empresa pode ser estimado em função dos múltiplos de outras empresas comparáveis. Na avaliação relativa, deve-se estimar o valor de um ativo, por meio da comparação com a precifi cação de ativos semelhantes (traçando um padrão de comparação, que pode se dar por lucro, receita ou variáveis setoriais e específi cas). Em um segundo momento, deve-se comparar esses indicadores com empresas semelhantes (comparáveis). A definição do múltiplo é importante para que haja uniformidade na com- paração. Ademais, é necessário que existam parâmetros para atribuir se o resultado auferido é baixo, médio ou alto e quais são as variáveis que podem fazer com que se alterem os resultados. Por fim, a escolha das empresas comparáveis é bastante relevante, pois elas devem se assemelhar o máximo possível, segundo Damodaran (2002). Dentre os métodos múltiplos, encontram-se os seguintes: Introdução à avaliação de empresas10 Valor de mercado e valor total da empresa: o valor de mercado é obtido por meio da multiplicação do preço de uma ação pela quantidade de ações (ordinárias e preferenciais). Entende-se que o valor das ações reflete a influência de variáveis como lucros potenciais da empresa e seus dividendos, riscos financeiros e de estrutura de capital e valor dos ativos, assim como as variáveis ambientais que podem afetar o negócio. Já o valor total da empresa é calculado por meio da soma do valor de mercado mais as dívidas financeiras, subtraindo-se desse total o valor do disponível, segundo Martelanc, Pasin e Pereira (2010). Múltiplos de lucros: dentre os múltiplos de lucros podem estar, con- forme Damodaran (2002), a razão preço/lucro, ou seja, o preço de mercado de uma ação e o lucro que essa ação apresentou. Outro múltiplo de lucro trata do valor de mercado/Ebitda. Ebitda é uma abreviação para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, que, em português, traduz-se para “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”, ou Lajida. Dessa forma, esse indicador exclui custos que não estão ligados diretamente ao negócio. Múltiplos setoriais: são múltiplos que são específicos de cada setor. Por exemplo, o setor de energia elétrica possui indicadores diferentes dos apresentados pelo setor automobilístico. Com isso, ressalta-se o fato de que, quando se vai utilizar os múltiplos como método de avaliação de empresas, deve-se ter como base de comparação outra empresa do mesmo setor e com as mesmas características. Quando se utiliza a avaliação relativa, de certa forma, está sendo feito um benchmarking, ou seja, visualizam-se em outras empresas concorrentes (ou não, mas do mesmo segmento) resultados que podem ser buscados pela empresa como parâmetros. Esse método, conforme Martelanc, Pasin e Pe- reira (2010), apresenta como vantagens a simplicidade e a rapidez no que diz respeito a novas informações, além de necessitar de poucas informações. No que tange às desvantagens, encontram-se a diferença nos fundamentos das 11Introdução à avaliação de empresas empresas comparáveis, a qualidade das informações, as especificidades de cada transação e o efeito manada. Os métodos de avaliação de empresas que foram apresentados possuem, cada um deles, suas especificidades. Dessa forma, cabe ao analista verificar quais são as características do negócio e o quão válido é cada um dos métodos para a avaliação. Como já foi mencionado anteriormente, a utilização de mais de um método pode facilitar e deixar mais confiável a avaliação. Fatores que, muitas vezes, não podem ser percebidos no papel, podem ser observados no dia a dia da empresa, no contato com clientes, fornecedores e outros stakeholders. Assim, é válido que se busquem outras informações além daquelas propostas pelos métodos, pois elas podem oferecer uma perspectiva mais realista dos benefícios que podem ser proporcionados na compra da empresa, caso seja esse o objetivo principal. Expectativa de valor de uma empresa Se for solicitado a um empresário que ele calcule o preço de venda de um produto que sua empresa vende, existem muitas chances de ele responder em poucos minutos. Isso não acontece quando a pergunta é sobre o valor da empresa. São muitas as variáveis envolvidas. Não é apenas aquilo que foi investido que deve ser tomado como base para a venda. A projeção de vendas, assim como outros fatores relevantes, deve ser considerada. A expectativa do empresário pode ser bastante diferente daquela dos investidores. O proprietário de uma empresa, muitas vezes, aposta todas as fichas no sucesso dela e, por esse motivo, tem grande apego à sua criatura e acaba não percebendo o que pode ser destacado por analistas e outras pessoas não dire- tamente envolvidascom a organização. O empreendedor projeta na empresa suas expectativas de crescimento contínuo. Ele terá dificuldades de assumir se algo vai mal, pois, se vai mal, foi resultado de suas escolhas, ou melhor, de suas más escolhas. Ele terá dificuldades de enxergar com olhos realistas o valor dos bens que compõem a empresa e terá uma tendência a sobrevalorizar esses bens, principalmente os ativos intangíveis, como a marca, conforme apontam Martelanc, Pasin e Pereira (2010). O valor dos intangíveis da empresa servirá para gerar os benefícios vin- douros; portanto, devem estar incluídos na avaliação da empresa. Entretanto, esses ativos não devem estar à parte ou separados, pois eles fazem parte do negócio, integrando-o de forma sistêmica. Sua exclusão faz a diferença, mas sua inclusão é parte do trato, na grande maioria das vezes. Um exemplo é a Introdução à avaliação de empresas12 reputação da empresa: sem ela, não haverá a continuidade da empresa, ou o crescimento estará gravemente afetado. Da mesma forma, são relevantes o valor da marca, que, nesse caso, será confirmado pelas preferências dos clientes, e os preços dos produtos, que permitem que as receitas possam ter continuidade e aumento. Quando a avaliação passa pelo valor do patrimônio líquido, pode haver dúvidas. O patrimônio líquido é uma conta que reflete o investimento dos sócios e os lucros obtidos. A questão aqui é que, para o comprador, a empresa que está à venda possui um significado no futuro, criando expectativas quanto ao que pode ser gerado de riqueza dali para a frente. É importante que o histórico da empresa seja analisado, até mesmo para entender como se chegou até aquele momento. Mas o que realmente interessa é o novo ponto de partida, ou seja, o momento em que a empresa trocará de proprietário. Outra variável que pode afetar o valor da empresa é a quantidade de negócios com as mesmas características que estão à venda. Nesse caso, ficará evidente a lei da oferta e demanda, pois, quanto mais empresas estiverem à venda, menor será o preço a ser pago por elas. O contrário também pode ocorrer, ou seja, se um número pequeno de empresas com as mesmas características estiver à venda, a tendência é que o vendedor consiga vender a empresa pelo preço que ele quer, pois não existe concorrente para competir em relação a isso. De acordo com essas dificuldades, a opinião de pessoas especializadas em avaliação de empresas é essencial e trará confiabilidade aos resultados, dada a imparcialidade, objetividade e independência do analista. Uma das possibilidades é que se mostrem diferentes cenários de avaliação — cenários otimista, realista e pessimista —, pois, assim, será mais fácil de verificar as diferenças dessas três dimensões. Com base nessas premissas, será mais difícil haver discrepâncias muito grandes entre aquele valor que o empresário atribuirá à empresa e o valor que o comprador pretende pagar. Quando a empresa já está estabelecida, é mais fácil (ou menos complicado) fazer a avaliação, o que não acontece quando a empresa é embrionária. Nesse caso, as expectativas de avaliação se baseiam apenas em horizontes futuros, projeções que são feitas com base na premissa de que a empresa suprirá uma lacuna na sociedade. É uma tarefa bastante peculiar, mas, atualmente, com os investidores se voltando para as startups, começam a despontar métodos que envolvem a expectativa de valor da empresa do ponto de vista do empresário, alinhada com as expectativas de valor atribuídas pelos investidores. 13Introdução à avaliação de empresas BREALEY, R. A. et al. Princípios de finanças corporativas. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018. DAMODARAN, A. A face oculta da avaliação. São Paulo: Makron Books, 2002. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. MARTELANC, R.; PASIN, R.; PEREIRA, F. Avaliação de empresas: um guia para fusões & aquisições e private equity. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. SAMANEZ, C. P. Gestão de investimentos e geração de valor. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. SANTOS, J. L. et al. Fundamentos de orçamento empresarial. São Paulo: Atlas, 2008. TITMAN, S.; MARTIN, J. D. Avaliação de projetos e investimentos: valuation. Porto Alegre: Bookman, 2010. Introdução à avaliação de empresas14
Compartilhar