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Método de pesquisa qualitativa - Análise textual

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Universidade de Brasília
Métodos e Técnicas em Pesquisa em Comunicação
Métodos de pesquisa qualitativa: Análise textual
Proposta: A cobertura do caso Henry Borel por meio da Análise
Crítica da Narrativa (considerando as matérias do site G1, publicadas
no período de 08/03 a 22/03/2021)
A pesquisa, realizada pelos alunos X, considera a cobertura do caso da morte de
Henry Borel realizada pelo G1, portal de notícias da Globo, entre o período de 8 e 22 de
março de 2021 para aplicar sobre as postagens a análise crítica da narrativa.
O intuito do trabalho é analisar a abordagem feita pelo portal em questão através
da visão crítica da narrativa conforme proposta no livro Análise crítica da narrativa (de
autoria de Luiz Gonzaga Motta, publicado em 2013 pela editora Universidade de
Brasília), apontar como as notícias se encaixam nos moldes expostos por ele e
apresentar novas perspectivas de acordo com as propostas de análise mais adequadas ao
caso selecionado.
O método aplicado por esta pesquisa busca analisar os dados coletados a partir
da perspectiva da fenomenologia, a fim de entender os ajustes lógicos do discurso
narrativo adotado pelo portal G1 de acordo com a situação comunicativa em questão,
acrescentando também observações a respeito do que a postura jornalística adotada
acresce ao contexto social e histórico.
A pesquisa evita fazer afirmações fundamentadas na intuição, mas com base em
conexões encontradas entre os elementos selecionados através de processos de indução
e associação. A intenção é apresentar embasamento para formar uma outra perspectiva
do objeto do caso estudado a partir da imagem reproduzida pelo G1.
É de conhecimento geral que acontecimentos trágicos costumam atrair muitos
acessos em sites de portais de notícias. Há vários exemplos de casos que comoveram e
chocaram parcela considerável do país: o caso Richthofen, o caso Isabella Nardoni, o
caso Eloá Pimentel. Este último é frequentemente usado como exemplo de como a
mídia é capaz de interferir negativamente quando age em momentos inoportunos em
determinadas situações.
No dia 8 de março de 2021, Henry Borel Medeiros, de quatro anos, foi dado
como morto. O garoto encontrava-se na casa da mãe, Monique Medeiros Costa e Silva
de Almeida (32), e do padrasto, Jairo Souza Santos Júnior (43), residentes da Barra da
Tijuca, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Jairo é popularmente conhecido como
Dr. Jairinho, vereador do Rio de Janeiro filiado ao Partido Solidariedade.
Apesar da morte de Henry Borel ter sido confirmada no dia 8 de março, o portal
de notícias G1 passou somente a realizar a cobertura do caso nove dias depois, no dia
17, quando se teve o início da investigação policial que considerava Jairinho e Monique
como principais suspeitos de assassinato do garoto.
A primeira publicação do site conta com uma descrição apurada do caso, com
relatos do pai do garoto e detalhes do laudo da autópsia realizado. A reportagem que foi
ao ar no jornal local (RJ2) apresenta uma narrativa fait diver, reproduzindo registros em
vídeo capturados pelo pai do garoto enquanto este brincava sob seus cuidados. Na
entrevista, embora esteja claramente emocionado, o pai, Leniel Borel de Almeida,
demonstra controle. Relata que passou um dia feliz com o filho e que, ao deixá-lo na
casa da mãe, de quem é divorciado, o garoto chorou e chegou até mesmo a vomitar, o
que foi considerado normal por familiares e pela psicóloga, visto que Henry era uma
criança muito sensível e sempre sofria quando tinha que se afastar do pai. Pronto para
partir para uma viagem de negócios, recebeu uma ligação de Monique, pedindo para
que fosse até o hospital. Ao chegar lá, se deparou com o médico sobre o corpo do
garoto, que não conseguia respirar, perguntando para a mãe o que havia acontecido.
O relato da mulher foi de que ouviu um barulho durante a noite, foi ver do que
se tratava e encontrou o filho revirando os olhos e aparentando estar com dificuldade
para respirar. Acreditou tratar-se de um ataque cardíaco e o levou, junto com o
namorado, que dirigia o carro, para o hospital.
O laudo médico aponta que a criança deu entrada no hospital sem vida,
apresentando: múltiplos hematomas no abdômen e membros superiores; infiltração
hemorrágica na região frontal do crânio, na região parietal direita e occipital, ou seja, na
parte da frente, lateral e posterior da cabeça; edemas no encéfalo; grande quantidade de
sangue no abdômen; contusão no rim à direita; trauma com contusão pulmonar;
laceração hepática (no fígado); e hemorragia retroperitoneal; com a causa da morte
sendo hemorragia interna, laceração hepática causada por uma ação contundente. A
hipótese de “acidente doméstico”, como foi declarada a morte do menino pela escola
que frequentava, não faz sentido para a série de especialistas que o G1 consultou e
entrevistou para apurar os ferimentos.
Ao fim da reportagem, Dr. Jairzinho e Monique Medeiros vão à delegacia
prestar depoimentos como testemunhas. Esta primeira reportagem televisiva,
posteriormente publicada online, não assumiu tom acusatório, embora não apresentasse
álibis para a mãe e padrasto da vítima. Adotando o caráter de fait diver, o jornal buscou
fazer com que os telespectadores se sensibilizassem com a perspectiva do pai de Henry,
que forneceu um vídeo de própria autoria para ser ilustrada pela emissora a boa relação
que cultivava com o filho, artifício bastante característico dos modelos narrativos
citados por Jerome Bruner, autor que fala a respeito do que chama de psicologia
intuitiva, sistema no qual as pessoas organizam suas próprias experiências.
Há, no entanto, uma versão transcrita do que parece ser a mesma entrevista na
matéria online (que leva o título de “Polícia investiga morte de enteado de vereador na
Barra da Tijuca; laudo aponta várias lesões”) em que o pai mostra descrença em relação
à versão que sugeria tratar-se de um acidente doméstico, e que pensava tratar-se de uma
situação em que o garoto fora agredido pela mãe ou pelo padrasto. Em nota ao jornal
Extra, Jairo diz que as autoridades apuravam os fatos e que ele e a namorada iam ajudar
a entender o que aconteceu, completando que achava prudente primeiramente “dizer na
delegacia a dinâmica dos fatos para não atrapalhar os trabalhos desenvolvidos”.
Esta foi a primeira do que seriam nove notícias que o G1 publicaria até o final
do dia 22 de março a respeito do que foi popularizado como Caso Henry. Tendo sido
publicada dez dias após a morte da criança, o artigo reúne informações suficientes para
que a repercussão fosse nacional.
Na segunda matéria publicada sobre o caso no G1, assume-se um tom de
cobrança: “Por que o Henry morreu?”, pergunta o pai. Não é uma nova entrevista, é a
mesma exibida no dia anterior no RJ2, mas agora é mostrada de forma isolada a
perspectiva do pai. “Eu choro. Acordo de manhã chorando. Tem que ter muita força,
cara. E o que eu sei é que esse menino não pode ter morrido em vão. O menino era
perfeito. Então, por que que o Henry morreu?” é destacado pela matéria, seguido pelo
andamento das investigações. Dr. Jairinho e Monique Medeiros prestaram depoimento
por cerca de 12 horas, ambos em salas separadas.
Segundo o site, o relato da mãe durou mais de sete horas, terminando por volta
das 22h, enquanto o vereador foi ouvido até às 2h30m da manhã. Dados da matéria
anterior são recontados, relembrando a vida de Henry e todas as lesões que ele sofreu
antes de sua morte. Esta publicação já assume uma postura próxima do que se considera
uma hard new: linguagem transcritiva, direta e objetiva, apresentando assim a intenção
de produzir o efeito de realidade.
Apresentada a narrativa de maneira mais detalhada na primeira notícia, o portal
já assume o caráter jornalístico mais direto, passando a fazer postagens mais focadas em
atualizações sobre o caso do que de fato apresentando a história a leitores que a
desconhecem.
Mais duas matérias são produzidas no dia 18 de Março, enquanto a segundaserve mais um resumo de todos os dados até o momento, a primeira revela que a 16ª DP
da Barra teve acesso às câmeras do condomínio e mostram que Henry chegou bem até o
condomínio da mãe e que também teve acesso às filmagens do garoto mais cedo,
passeando no shopping com o pai, sem sinais de lesões aparentes. Além de resumir o
caso novamente, a reportagem, pela primeira vez, afirma que apenas a mãe, o padrasto e
o enteado estavam no apartamento durante o ocorrido. O jornal já passa a tomar
liberdades para deixar clara a possibilidade de que a mãe e o padrasto do garoto podem
ter sido responsáveis pelo crime, destacando o aparente bem estar da criança mais cedo
naquele mesmo dia.
O dia 19 de Março foi decisivo para o caso Henry. Na quinta matéria sobre o
caso, há finalmente depoimentos dos suspeitos. Monique afirma para a polícia que viu o
filho já no chão do quarto do casal após ter passado mal, e que ela e o namorado
estavam em outro cômodo vendo televisão. Quando perguntada sobre qual poderia ter
sido a causa do acidente, responde que ele poderia ter levantado e caído da cama.
Segundo Jairinho, ele estava dormindo profundamente, à base de remédios,
quando a namorada foi até o quarto do casal e encontrou Henry já caído, com “os olhos
revirados e mãos e pés gelados". Apesar de ser formado em medicina, o vereador não
tentou reanimar o menino. Mais tarde, uma nova matéria foi publicada, onde os
depoimentos dos dois foram dados como incoerentes, uma vez que a versão dita à
polícia não foi a mesma dita à equipe do hospital, onde ambos falaram sobre ter ouvido
um barulho alto, não mencionado em seus depoimentos oficiais.
Além da equipe médica ter suspeitado dos hematomas no jovem Henry, os
peritos desacreditaram com veemência da versão da mãe sobre o acidente: uma queda
da cama não causaria lesões tão sérias. Quando a polícia foi realizar a perícia na casa, na
tarde da segunda-feira em que Henry morreu, o lugar havia sido limpo pela empregada,
Rosângela, que disse não saber o que havia ocorrido mais cedo. Porém, isso contradiz
Dr. Jairinho, que disse que a empregada sabia de tudo. O jornalismo cumpre seu papel
de relatar as novas informações a respeito do caso, enquanto os personagens da
narrativa reproduzida parecem de fato os responsáveis pelo crime.
Enquanto a penúltima matéria sobre o caso, no tempo definido pela pesquisa,
realiza uma reconstituição dos fatos, a última notícia produzida no período é uma
adaptação de uma matéria feita no programa Fantástico, no domingo do dia 21 de
março. Após deixar Henry com o pai, no dia 6, Monique Medeiros mantém mensagens
com o ex-marido. Ela se mostra feliz pela felicidade do garoto, mas se lamenta por
saber que ele não voltaria para a casa dela, se pudesse. Ela diz que está se esforçando,
que matriculou o filho em natação, judô, futebol, que quer matriculá-lo no teatro.
Tudo é recebido com animação pelo pai. Mas, com o passar do tempo, suas
mensagens vão se tornando mais preocupadas. Ela diz estar apreensiva, por saber que
ele não vai querer ir embora. O pai diz que tem conversado com o filho sobre as
atividades, sobre como a mãe sente saudades. Ela demonstra insatisfação com a atitude
do garoto de chorar para ir embora, e diz que isso a deixa muito triste.
O Fantástico tem acesso ao apartamento onde a morte aconteceu: o casal viria a
dar uma entrevista (oportunidade da mídia para que atraiam telespectadores curiosos a
respeito do que os suspeitos do crime tem a dizer), mas desistiu de última hora. O
repórter mostra o cômodo onde Henry morreu e conversa com especialistas, que dizem
ser impossível uma morte tão violenta ser causa de um acidente tão superficial. É dada
voz ao advogado de Dr. Jairinho, que defende o seu cliente dizendo que ele era apenas
um “namorido de três meses”, e que nenhuma mãe arriscaria a vida do filho por um
homem dessa maneira.
A reportagem então relembra que, na mesma delegacia onde foi registrado o
Caso Henry, uma ex-mulher de Dr. Jairinho, mãe de dois de seus filhos, registrou uma
queixa de agressão. De acordo com ela, ele sempre foi violento e a agrediu diversas
vezes, chegando a arrastá-la e chutá-la em acessos de ira. Ao ser procurada pela
reportagem, a ex-mulher desmentiu a denúncia, porém o processo existiu e foi
arquivado. É o jornalismo investigativo trabalhando junto da demanda da narrativa fait
diver, encaminhando a história contada e a opinião popular para uma espécie de
conclusão, clímax.
As últimas mensagens de Monique Medeiros para o ex-marido foram: “Hoje
será uma noite difícil. Sempre que ele chega é assim. Eu parei a minha vida para estar
ao lado dele e não adianta. Eu sei o que passo diariamente. Uma criança de 4 anos
desestrutura a gente, mas não pode comandar". Por fim, ela diz: "Temos que ser firmes,
fazer o nosso melhor".
Embora o caso tenha ganhado novas atualizações conforme a investigação
policial prosseguiu, as informações disponibilizadas até o dia 22 de março no portal do
G1 terminam neste ponto, sem que haja uma grande conclusão a respeito do julgamento
dos réus.
Cada atualização sobre o caso não é necessariamente organizada de maneira
cronológica, mas acompanha o andamento da investigação, que pode variar de acordo
com as circunstâncias. O resultado disso é um produto cultural diferente de uma
narrativa nos moldes mais convencionais, que remete a uma antropologia da notícia
dedicada à compreensão da realidade imediata no transcurso cultural de uma sociedade.
Ambos os alunos envolvidos na pesquisa eram leigos quanto ao evento estudado
e não tinham conhecimento quanto a qualquer nome envolvido no caso. Assim que o
tema foi escolhido e fomos atrás de referências, seguiu-se um bombardeio de
informações — e opiniões — por todos os lados. Há um histórico de notícias sobre o
padrasto de Henry estar envolvido em esquemas milicianos, relatados por diversos
veículos, que sequer é mencionado pelas postagens no G1 no período analisado.
O Caso Henry Borel apresentou o início de sua narrativa de maneira no mínimo
curiosa: a morte do garoto, enteado de um vereador do Rio de Janeiro, uma figura
pública, só veio a ser noticiada publicamente pela grande mídia nove dias após o
ocorrido. Não há grandes indagações — pela grande mídia — sobre o porquê do tempo
até o caso ter sido noticiado ser tão extenso, para ser anunciado de forma tão estrondosa
nove dias depois, com especialistas, peritos criminais e advogados já a postos para
darem suas análises.
O portal de notícias G1, assim como outros portais, passou a falar do caso
apenas a partir da reportagem do RJ2 que foi ao ar na noite de 17 de março. Usando o
método de reflexão da fenomenologia, retirado do livro Análise crítica da narrativa, a
cobertura do caso foi observada meramente por sua essência. Foi analisada a notícia da
morte de uma criança, com um depoimento emotivo do pai que deixou seu filho na
companhia da mãe e do padrasto, ou “namorido”, como se refere o advogado do réu, e
que nunca mais o veria novamente, a não ser morto na cama de um hospital. O plano de
expressão principal da narrativa escolhida pelo veículo é emocionar e surpreender os
leitores com o caráter triste da situação.
No início da cobertura, naturalmente não se questionam os elos com a mãe,
afinal, têm-se em mente na opinião popular que mães se preocupam com os filhos,
porém estes são questionados quase imediatamente quando os depoimentos dados à
polícia e ao hospital se contradizem.
O plano da estória (aqui considerada não como o fato propriamente da maneira
que ocorreu, mas a narrativa feita pelo G1 em seu caráter diegético) apresenta-se de
forma a deixar o leitor curioso, pois além desses pequenos “deslizes”, a forma como os
dois réus relatam a morte da criança é simplesmente inacreditável. Quando a mãe e o
padrasto dizem que as graves lesões e hemorragias internas são por conta da criança ter
caído da cama, qualquer suspeita, mesmo que velada no início, se torna clara. O fato da
mãe terdito que a empregada não sabia do ocorrido e que havia limpado a cena do
evento antes da perícia policial, que logo foi desmentida pelo padrasto, não ajudou em
nada na tentativa de limpar a imagem do casal. Ambos cancelarem uma entrevista
gravada para o programa Fantástico de última hora sugere que não apenas se recusaram
a falar: dá margem para que o público suponha que não teriam argumentos convincentes
o suficiente para se defenderem.
O Caso Henry é curioso porque, apesar das intrigas, dos personagens bem
definidos, talvez até arquétipos (como o do padrasto vilão), das provas concretas, parece
ter existido uma nuvem de proteção contra os possíveis réus — tendo em vista que não
avaliamos reportagens após o período definido pela pesquisa —, que são levados a
depor como testemunhas mesmo com inconsistências nas primeiras versões relatadas no
hospital . É o plano da metanarrativa em si. Apesar da cobertura ser, em sua maior parte,
acusatória, ela ainda abre brechas para inocentar personagens que apresentam diversas
pistas de que são culpados.
Teorias que fogem à pesquisa, envolvendo o padrasto dr. Jairinho, se oferecem
para explicar a demora para a investigação sobre o caso de fato ser iniciada e divulgada,
com seu suposto envolvimento com a milícia local. Mas é claro que toda a cobertura foi
muito bem controlada, e que, pelo menos a princípio, há aparente manipulação, uma
política de redução de danos, respeitada pela imprensa mas exposta às pressas assim que
tornou-se possível.
É uma história que, se vista superficialmente, é mais uma tragédia envolvendo a
morte de uma criança. Mas quando aplicamos um olhar analítico, podemos enxergar que
há muito mais camadas atreladas à história, que envolvem outras esferas e possuem seus
próprios objetivos. O grande tema para o público é a tragédia que representa a morte de
uma criança cuja própria família estava envolvida (mãe e padrasto) e como este caso
difere do que é tido na psicologia social como senso comum, com a família
frequentemente relacionada a sentimentos de afeto e segurança. Para o veículo que
noticia o caso, além de jornalismo, é o molde sugerido pela teoria narrativa, que aplica
os artifícios narrativos popularmente conhecidos para chamar a atenção do público,
pensando não só em levar informação ao âmbito social, mas no sentido de vendê-la e
torná-la interessante no quesito mercadológico.
Bibliografia
ROCHA, Décio; DEUSDARÁ, Bruno. Análise de conteúdo e análise de
discurso: aproximações e afastamentos na (re)construção de uma trajetória. Alea vol.7
n.2. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2005000200010>
. Acesso em 26 de Abril de 2021.
GADET, F& HAK, T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução
à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Unicamp. 1997. 3ª ed.
MOTTA, Luiz Gonzaga. Análise crítica da narrativa. Editora da Universidade
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RJ2; Rede Globo via GLOBOPLAY. Polícia investiga morte de menino de 4
anos no RIO. 17 de Março de 2021. Disponível em:
<https://globoplay.globo.com/v/9358540/?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-
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LANNOY, Carlos de; FREIRE, Felipe; LEITÃO, Leslie; RJ2. Polícia
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17 de Março de 2021. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/17/policia-investiga-morte-de-e
nteado-de-vereador-na-barra-da-tijuca-laudo-aponta-varias-lesoes.ghtml>. Acesso em
26 de Abril de 2021.
LANNOY, Carlos de; LEITÃO, Leslie; RJ2. Pai do menino Henry Borel
cobra resposta sobre a morte da criança: 'Acordo de manhã chorando'. 18 de Março de
2021. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/pai-do-menino-henry-borel-c
obra-resposta-sobre-a-morte-da-crianca-acordo-de-manha-chorando.ghtml>. Acesso em
26 de Abril de 2021.
HAIDAR, Diego; LEITÃO, Leslie. Câmeras registram que Henry Borel
chegou bem a condomínio no dia da morte; polícia já tem as imagens. 18 de Março de
2021. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/cameras-registram-que-henry
-borel-chegou-bem-a-condominio-no-dia-da-morte-policia-ja-tem-as-imagens.ghtml>.
Acesso em 26 de Abril de 2021.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-106X2005000200010
https://globoplay.globo.com/v/9358540/?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar
https://globoplay.globo.com/v/9358540/?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/17/policia-investiga-morte-de-enteado-de-vereador-na-barra-da-tijuca-laudo-aponta-varias-lesoes.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/17/policia-investiga-morte-de-enteado-de-vereador-na-barra-da-tijuca-laudo-aponta-varias-lesoes.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/pai-do-menino-henry-borel-cobra-resposta-sobre-a-morte-da-crianca-acordo-de-manha-chorando.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/pai-do-menino-henry-borel-cobra-resposta-sobre-a-morte-da-crianca-acordo-de-manha-chorando.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/cameras-registram-que-henry-borel-chegou-bem-a-condominio-no-dia-da-morte-policia-ja-tem-as-imagens.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/cameras-registram-que-henry-borel-chegou-bem-a-condominio-no-dia-da-morte-policia-ja-tem-as-imagens.ghtml
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Henry Borel, no Rio. 18 de Março de 2021.. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/o-que-se-sabe-sobre-a-morte
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LANNOY, Carlos de; FREIRE, Felipe; COELHO, Henrique; LEITÃO,
Leslie; TV Globo; G1 Rio.Mãe de Henry diz que acordou com a TV e já encontrou
filho caído no chão. Veja o que ela e o padrasto falaram no depoimento. 19 de Março de
2021. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/19/mae-de-henry-borel-diz-que-
estava-em-outro-quarto-acordou-com-barulho-da-tv-e-ja-encontrou-filho-caido-no-chao
.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1&fbclid=IwAR
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Acesso em 26 de Abril de 2021.
LEITÃO, Leslie; LANNOY, Carlos de. Investigadores encontram diferenças
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19 de Março de 2021. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/19/investigadores-encontram-dif
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em 26 de Abril de 2021.
LANNOY, Carlos de; LEITÃO, Leslie; Fantástico.Mensagens entre pais de
Henry mostram mãe preocupada com a reação do menino na volta para a casa dela. 19
de Março de 2021.. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/21/mensagens-entre-pais-de-hen
ry-mostram-mae-preocupada-com-a-reacao-do-menino-na-volta-para-a-casa-dela.ghtml
?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=rjtv&utm_content=post
&fbclid=IwAR26cO7Vh1HYfUGQyTZreMLCaRqiYDhVeFGj1w2KzhSNAX28OidzS
9QrcMs>. Acesso em 26 de Abril de 2021.
LEITÃO, Leslie; SOARES, Paulo Renato; RJ2. Testemunhas são intimadas a
prestar depoimento sobre a morte de Henry Borel, no Rio. 20 de Março de 2021.
Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/20/testemunhas-sao-intimadas-a
-prestar-depoimento-sobre-a-morte-de-henry-borel-no-rio.ghtml?utm_source=twitter&u
tm_medium=social&utm_campaign=g1>. Acesso em 26 de Abril de 2021.
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/o-que-se-sabe-sobre-a-morte-do-menino-henry-borel-no-rio.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/18/o-que-se-sabe-sobre-a-morte-do-menino-henry-borel-no-rio.ghtmlhttps://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/19/mae-de-henry-borel-diz-que-estava-em-outro-quarto-acordou-com-barulho-da-tv-e-ja-encontrou-filho-caido-no-chao.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1&fbclid=IwAR1SAeH8NxEe36Dmi-nQDKtA0PRrKMoyBY3D0CiIVkeDwMedM6TgE-RzcO8
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/19/mae-de-henry-borel-diz-que-estava-em-outro-quarto-acordou-com-barulho-da-tv-e-ja-encontrou-filho-caido-no-chao.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1&fbclid=IwAR1SAeH8NxEe36Dmi-nQDKtA0PRrKMoyBY3D0CiIVkeDwMedM6TgE-RzcO8
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https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/19/investigadores-encontram-diferencas-nas-versoes-apresentadas-pela-mae-e-padrasto-de-henry-borel-sobre-morte-do-menino.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1
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https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/21/mensagens-entre-pais-de-henry-mostram-mae-preocupada-com-a-reacao-do-menino-na-volta-para-a-casa-dela.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=rjtv&utm_content=post&fbclid=IwAR26cO7Vh1HYfUGQyTZreMLCaRqiYDhVeFGj1w2KzhSNAX28OidzS9QrcMs
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https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/20/testemunhas-sao-intimadas-a-prestar-depoimento-sobre-a-morte-de-henry-borel-no-rio.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1
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