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DIREITO PENAL - ERRO NA EXECUÇÃO E RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO

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DIREITO PENAL - ERRO NA EXECUÇÃO E RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO
ERRO NA EXECUÇÃO
Introdução:
O erro na execução, também conhecido como "aberratio ictus," é disciplinado no art. 73 do Código Penal. Este fenômeno legal ocorre quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, em vez de atingir a pessoa que pretendia ofender, acaba atingindo outra pessoa. Nesse caso, a lei estabelece que o agente deve responder como se tivesse cometido o crime contra a pessoa que ele pretendia atingir. No entanto, se a pessoa visada também for atingida, aplica-se a regra do art. 70 do Código Penal.
Erro na Execução:
O erro na execução, ou "aberratio ictus," ocorre quando o autor de um crime, devido a um desvio de ataque, acaba atingindo uma pessoa diferente daquela que pretendia ofender. Isso pode ocorrer devido a um acidente ou a um erro nos meios de execução. Em crimes contra a pessoa, o agente visa uma pessoa, mas por acidente ou erro, atinge outra. Ou seja, há uma discrepância entre a intenção original do agente e o resultado real do ato.
Consequências:
No que diz respeito ao erro na execução, o Código Penal visa proteger o bem jurídico da vida ou integridade física, independentemente de quem seja a vítima. Portanto, o erro na execução não altera a configuração do crime, pois o foco é a proteção desse bem jurídico em geral, não de uma pessoa específica. No entanto, do ponto de vista do dolo, o agente claramente tinha a intenção de prejudicar a pessoa visada. Portanto, o autor responde pelo crime como se tivesse atingido a pessoa pretendida. Por exemplo, se o autor tentasse matar Fulano, mas por erro matasse Beltrano, ele será responsabilizado como se tivesse atingido Fulano.
Dolo:
No erro na execução, o agente mantém o dolo original, que era dirigido à pessoa visada. Isso significa que, apesar do resultado ter sido diferente, o dolo inicial de prejudicar a pessoa visada é "aproveitado." Por exemplo, se o agente pretendia matar alguém e acidentalmente matou outra pessoa, seu dolo original é direcionado à pessoa visada, e ele será responsabilizado por esse crime.
Espécies:
Existem duas espécies de erro na execução, a saber, aberratio ictus com resultado único e aberratio ictus com resultado duplo. No primeiro caso, aplica-se a regra do art. 20, parágrafo 3, do Código Penal. No segundo caso, aplica-se a regra do concurso formal, conforme estabelecido no art. 70 do Código Penal, que prevê o aumento da pena de 1/6 até 1/2.
Portanto, o erro na execução, ou aberratio ictus, é uma complexa questão legal que envolve a intenção do agente, a identificação da vítima visada e as circunstâncias específicas do caso. É fundamental para a justiça e a adequada aplicação da lei que esses conceitos sejam compreendidos e aplicados adequadamente.
MODALIDADES DO ERRO
Introdução
Após examinar a estrutura do aberratio ictus, é essencial analisar as várias situações que podem surgir em relação ao aberratio ictus com resultados simples ou complexos. É importante observar que a casuística abrange uma variedade de situações que nem sempre são previstas pela doutrina. Guilherme Nucci explora essas situações possíveis e as soluções jurídicas correspondentes, conforme apresentado a seguir.
1ª Hipótese
Na primeira hipótese, temos um cenário simples em que Mévio atira em Fulano, mas acaba matando Beltrano. Nesse caso, ocorre um homicídio consumado, mas Mévio será responsabilizado como se tivesse atingido a pessoa visada, que é Fulano. Isso configura uma situação de aberratio ictus com resultado único. Um exemplo ilustrativo é quando alguém, após ser agredido, sob forte emoção, dispara um tiro no agressor, atingindo acidentalmente outra pessoa. Mévio teria direito a uma redução de pena, variando de 1/6 a 1/3, conforme previsto no § 1º do art. 121 do Código Penal, devido à sua reação sob forte emoção, após uma provocação injusta por parte da vítima visada, que, neste caso, é Fulano. A jurisprudência também respalda essa interpretação.
2ª Hipótese
Nessa segunda situação, o autor atira em Fulano e acaba matando tanto Fulano quanto Beltrano. Aqui, temos dois homicídios consumados. Consideram-se as condições de Fulano, que era a pessoa visada, e aplicamos a regra do concurso formal (art. 70 do Código Penal), com uma pena equivalente a um crime, aumentada de 1/6 a 1/2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal endossa essa abordagem.
3ª Hipótese
Na terceira hipótese, Mévio atira em Fulano, ferindo Beltrano, mas sem causar a morte. Nesse caso, Mévio não conseguiu o resultado de morte desejado, nem atingir a pessoa pretendida. Portanto, trata-se de um aberratio ictus com resultado único, configurando apenas uma tentativa de homicídio. As condições de Fulano, a pessoa visada, são levadas em consideração. Isso se enquadra como uma tentativa de homicídio, como se fosse dirigida à vítima desejada.
4ª Hipótese
Na quarta situação, Mévio atira em Fulano e fere tanto Fulano quanto Beltrano. Isso resulta em duas tentativas de homicídio, já que não houve mortes. Como ocorreu um aberratio ictus com resultado duplo, as condições de Fulano são consideradas. A pena é aplicada como se fosse um único crime, com um aumento de 1/6 a 1/2, seguindo a regra do concurso formal (art. 70 do Código Penal).
5ª Hipótese
Mévio atira em Fulano, ferindo-o e matando Beltrano. Nesse cenário, há um resultado duplo, mas apenas uma das vítimas faleceu, que é a pessoa atingida acidentalmente. Portanto, é considerado homicídio consumado, como se fosse direcionado a Fulano. As características de Fulano são relevantes para determinar a pena. Trata-se de um aberratio ictus com resultado duplo, aplicando-se a regra do concurso formal (art. 70 do Código Penal), que estabelece que a pena será de um dos crimes, aumentada de 1/6 a 1/2. De acordo com Nucci, isso se enquadra como "homicídio consumado contra" a pessoa pretendida "em concurso formal."
6ª Hipótese
Por fim, temos a hipótese em que Mévio atira em Fulano, matando-o, e fere Beltrano. Nessa situação, a vítima pretendida foi atingida, e o resultado desejado foi alcançado. No entanto, uma outra pessoa também foi atingida por engano. Isso resulta em Mévio ser responsabilizado por homicídio consumado em concurso formal de delitos (art. 70 do Código Penal), pois ocorreu um aberratio ictus com resultado duplo. A pena é determinada com base em um dos crimes, aumentada de 1/6 a 1/2. Segundo Nucci, isso se configura como "homicídio consumado contra B [a pessoa visada] em concurso formal."
Leitura Complementar
Além disso, o erro na execução (aberratio ictus) e o resultado diverso do pretendido merecem uma análise mais detalhada na parte geral do Código Penal. O erro na execução ocorre quando o agente, devido a inabilidade ou acidente, atinge não a vítima visada, mas outra pessoa próxima. É importante destacar que essa figura legal é distinta do erro sobre a pessoa, previsto no artigo 20, § 3º, do Código Penal, onde se trata de um engano em relação à representação, quando o agente acredita erroneamente que está lidando com outra pessoa. No caso da aberratio ictus, o agente responde como se tivesse cometido o crime contra a pessoa visada ou pretendida.
[JURISPRUDÊNCIA]
O recurso especial abordou várias questões legais, incluindo a análise do erro na execução (aberratio ictus) em um caso de homicídio qualificado. O tribunal determinou que não havia omissões, contradições ou obscuridades no acórdão recorrido e que a nulidade na quesitação do júri não era fundamentada. Também considerou que as alegações de que a decisão do júri era contrária à prova dos autos não poderiam ser analisadas em um recurso especial. O tribunal reconheceu a prescrição da pretensão punitiva em relação a um crime de lesão corporal e ajustou a dosimetria da pena. O caso exemplifica a aplicação do erro na execução e destaca a importância do concurso formal de delitos em tais casos.
MODALIDADES DO RESULTADO DIVERSO
RESUMO
Introdução
Dentro das várias modalidades de aberratio delicti, observamos uma diferença crucial entre a intenção inicial do agente e o resultadoefetivamente obtido. Nesse contexto, podemos dividir essas situações em quatro hipóteses distintas, cada uma com suas próprias implicações.
1ª hipótese
Na primeira hipótese, o agente tinha a intenção de cometer um crime contra a propriedade, mas acaba prejudicando uma pessoa. Nesse cenário, a resolução é relativamente direta: ele será responsabilizado por um crime culposo. Esse crime pode se configurar como lesão corporal culposa (conforme o art. 129, § 6º, CP) ou homicídio culposo (conforme o art. 121, § 3º, CP), dependendo do dano causado, ou seja, lesão ou morte.
2ª hipótese
A situação se inverte quando a intenção do agente era causar dano a uma pessoa, como uma lesão corporal, mas o resultado afeta a propriedade. Aqui, precisamos distinguir o tipo de dano causado. Se o dano estiver de acordo com o artigo 163 do Código Penal, não haverá crime de dano culposo. Nesse caso, o agente não será punido por dano, mas sim por tentativa do crime original contra a pessoa, como exemplificado por Nucci, em que o autor atira para matar, mas acerta um veículo (Nucci, 2017, p. 871).
Entretanto, é importante ressaltar que essa situação difere daquela em que o dano é causado ao patrimônio cultural, conforme previsto na Lei 9.615/1998, que estabelece uma modalidade culposa. Em tal cenário, seguindo a orientação de Nucci, haverá um concurso formal entre a tentativa de homicídio e o dano culposo ao patrimônio cultural. A pena resultante será a mais severa, aumentada de 1/6 até a metade.
3ª hipótese
Uma situação possível ocorre quando a intenção era cometer um crime contra a pessoa, como homicídio ou lesão corporal. O agente atinge seu objetivo desejado, mas também causa dano à propriedade. Novamente, essa é uma situação relativamente simples, na qual o agente será processado por crime doloso contra a pessoa e não por crime de dano, uma vez que o dano culposo não é previsto (conforme o art. 163, CP). No entanto, a exceção ocorre quando o dano é ao patrimônio cultural (conforme o art. 62, parágrafo único, da Lei 9.605/1998), que permite uma modalidade culposa. Nesse caso, haverá um concurso formal (conforme o art. 70, CP) entre o crime doloso contra a pessoa e o crime culposo contra o patrimônio cultural. A pena resultante será a mais grave, aumentada de 1/6 até a metade, de acordo com Nucci (2017, p. 871).
4ª hipótese
Quando ocorre um resultado duplo e o crime original era contra a propriedade, mas atinge tanto a propriedade quanto uma pessoa, o agente será processado por dano doloso, que pode ser enquadrado conforme o art. 163, CP, ou o art. 62, parágrafo único, da Lei 9.605/1998. Isso ocorre em concurso formal com o crime culposo contra a pessoa, que pode ser lesão corporal culposa (conforme o art. 129, § 6º, CP) ou homicídio culposo (conforme o art. 121, § 3º, CP). A regra do art. 70, CP, é aplicada, aumentando a pena mais severa em 1/6 até a metade.
Culpa
É essencial ressaltar que qualquer resultado indesejado será imputado como culpa. Portanto, é necessário avaliar a previsibilidade desse resultado, uma vez que a previsibilidade é um dos elementos cruciais para caracterizar um crime culposo. Se não houver previsibilidade, o autor não será responsabilizado pelo resultado decorrente do desvio, mesmo que haja previsão legal.
Assim, se o agente pretendia causar dano, mas atingiu uma pessoa, em uma situação em que era imprevisível que pudesse causar esse resultado, porque não era previsível que uma pessoa estivesse presente, o agente não responderá por lesão corporal culposa. O artigo 74, CP, estipula que "o agente responde por culpa," tornando necessário avaliar a presença dos elementos constitutivos de um crime culposo.
Dolo no resultado duplo
É possível que o agente tenha agido com dolo em relação aos dois resultados - contra a propriedade e contra a pessoa -, especialmente se houver dolo direto em relação a um resultado e dolo eventual ou até mesmo dolo direto de segundo grau em relação ao outro. Considere o exemplo de alguém que decide matar uma pessoa que ele sabe estar em uma loja de cristais, usando uma metralhadora. Ao abrir fogo e causar a morte da vítima e danos à propriedade, não resta dúvida de que ele responderá por dois crimes, uma vez que ele tinha dolo direto de primeiro grau no homicídio e dolo direto de segundo grau no dano.
JURISPRUDÊNCIA
PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 273, § 1º-B, I. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. ERRO DE TIPO. RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO. INOCORRÊNCIA. EMENDATIO LIBELLI. DESCAMINHO. IMPOSSIBILIDADE. CONFLITO APARENTE DE NORMAS. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. CONSTITUCIONALIDADE DO PRECEITO SECUNDÁRIO DA NORMA. DOSIMETRIA DA PENA.
1. A autoria e materialidade do delito restaram devidamente comprovadas através do auto de prisão em flagrante delito, do auto de apresentação e apreensão, do laudo de exame em produto farmacêutico, do laudo pericial criminal federal, dos depoimentos prestados pelas testemunhas de acusação e defesa e pelo interrogatório da ré.
2. O modo como os medicamentos se encontravam ocultos, na cintura da própria ré, bem como no interior de caixas de outros produtos trazidos do Paraguai, associados à existência de viagens anteriores por parte da apelante ao Paraguai para compra de mercadorias e posterior revenda, bem como à negativa quanto à existência de outras cartelas no bagageiro do ônibus, até que os policiais as encontraram, demonstram claramente a sua consciência quanto à ilicitude da conduta.
3. No caso concreto, verifica-se que a ré, de forma livre e consciente, transportava medicamentos provenientes do Paraguai, com a intenção de repassá-los a terceiros para que fossem comercializados, demonstrando plena consciência quanto à ilicitude de sua conduta, como já demonstrado.
4. Depreende-se, em verdade, que o alegado erro cometido pela apelante não se refere à ilicitude dos seus atos, mas cinge-se às graves consequências decorrentes da condenação pela prática delituosa descrita na denúncia, uma vez que acreditava que "não iria dar nada", provavelmente confiante na aplicação do princípio da insignificância ao caso concreto.
5. Tampouco há que se falar na ocorrência do resultado diverso do pretendido, ou "aberratio delicti", previsto no artigo 74, do Código Penal, uma vez que o resultado alcançado pela ré foi exatamente o pretendido, qual seja, a introdução de produtos com fins terapêuticos ou medicinais em território nacional, com finalidade comercial.
Esse acórdão exemplifica a aplicação do erro na execução e destaca a importância do concurso formal de delitos em tais casos.

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