Buscar

DIREITO ADMINISTRATIVO APLICADO À POLÍCIA - ESCRIVÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA 2022

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL “DELEGADO JÚLIO CESAR DA FONTE NOGUEIRA”
ESTADO DE MATO GROSSODO SUL
SECRETARIA DE ESTADO DE JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA CIVIL
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DEL. JÚLIO CESAR DA FONTE NOGUEIRA
78º CURSO DE FORMAÇÃO POLICIAL
17ª TURMA DE ESCRIVÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA
 
DIREITO ADMINISTRATIVO APLICADO À POLÍCIA JUDICIÁRIA
GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
REINALDO AZAMBUJA
SECRETÁRIO DE ESTADO DE JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
ANTÔNIO CARLOS VIDEIRA
DELEGADO-GERAL DA POLÍCIA CIVIL
ROBERTO GURGEL DE OLIVEIRA FILHO
DIRETOR DA ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DELEGADO JÚLIO CÉSAR DA F. NOGUEIRA
DEVAIR APARECIDO FRANCISCO
SECRETARIA DA ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL
ROSELY APARECIDA MOLINA
COORDENADOR DE ASSUNTOS EDUCACIONAIS
FERNANDO VILLA DE PAULA
COORDENADORA DE PLANEJAMENTO E ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
MARILDA DO CARMO RODRIGUES
COORDENADORIA DE ASSUNTOS EDUCACIONAIS
Edson Pedro dos Anjos	Investigador de Polícia
Ana Elisa de Moura	Investigadora de Polícia
ÍNDICE
1. CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO	5
1.1 CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO	5
1.2 NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO	5
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA	6
3. PODERES E DEVERES DO ADMINISTRADOR	7
3.1 PODER E DEVER DE AGIR	7
3.2 DEVER DE EFICIÊNCIA	7
3.3 DEVER DE PROBIDADE	8
3.4 DEVER DE PRESTAR CONTAS	8
3.5 USO E ABUSO DE PODER	9
3.5.1 Excesso de Poder	9
3.5.2 Desvio de Finalidade	10
3.6 ABUSO DE PODER POR OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO	10
4. PODERES ADMINISTRATIVOS	10
4.1 PODER VINCULADO	10
4.2 PODER DISCRICIONÁRIO	10
4.3 PODER HIERÁRQUICO	11
4.4 PODER DISCIPLINAR	11
4.5 PODER REGULAMENTAR	11
4.6 PODER DE POLÍCIA	12
5. ATO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, REQUISITOS E ATRIBUTOS; ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO; DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO.	12
5.1 CONCEITO E DIFERENÇAS	12
5.2 REQUISITOS OU ELEMENTOS	13
5.2.1 Teoria dos Movimentos Determinantes	14
5.2.2 Mérito do Ato Administrativo	14
5.3 ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO	15
5.4 INVALIDAÇÃO OU EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS	15
5.4.1 Revogação:	16
5.4.2 Anulação:	16
5.4.3 Cassação:	18
5.4.4 Caducidade:	18
5.4.5 Contraposição (derrubada):	19
6. DO REGIME DISCIPLINAR – PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS EM GERAL	19
6.1 AUTO DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR (AIP)	19
6.2 SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA DISCIPLINAR (SAD)	22
7. LEGISLAÇÃO ORGÂNICA	27
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	50
1. CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
1.1 CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Como uma ideia geral, o Direito Administrativo pode ser conceituado, em sentido amplo, como um ramo do Direito Público Interno que tem como objeto a busca pelo bem da coletividade e pelo interesse público.
Vale ressaltar que a doutrina não é unânime ao conceituar o Direito Administrativo, constituindo este tema motivo de grande divergência. Essa polêmica decorre da ausência de uma definição clara quanto ao seu objeto que vem sendo sistematicamente ampliado, modificado, ou mesmo reduzido em alguns pontos, em virtude dos novos anseios da sociedade, como também das mutações estatais que foram vivenciadas nas últimas décadas (MARINELA, 2010, P. 3).
Para Hely Lopes Meirelles, o Direito Administrativo Brasileiro
[...] sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado
Segundo definição de José Cretella Júnior, Direito Administrativo é o 
[...] ramo do Direito Público interno que regula a atividade jurídica não contenciosa do Estado e a constituição dos órgãos e meios de sua ação, ou seja, o ramo do Direito Público que rege a ação do Estado para a consecução dos seus fins.
Observa-se claramente que os conceitos expostos colocam como motivação do Direito Administrativo, a procura de obtenção e realização dos fins desejados pelo Estado, que procura o bem comum nas suas atividades.
1.2 NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
O Direito, enquanto ciência jurídica é dividido, somente para fins didáticos, em diversos ramos. Dois grandes ramos são percebidos, levando em conta a sua destinação: ramo do direito público e ramo do direito privado.
O primeiro compõe-se predominantemente de normas que disciplinam as relações jurídicas, tendo o Estado como parte, seja nas questões internas seja nas internacionais, visando regular, precipuamente, os interesses estatais e sociais, cuidando só reflexamente da conduta individual. Há uma desigualdade entre os polos da relação (prevalecem os direitos do Estado). Predominam as normas imperativas, que são inafastáveis. Como exemplo, temos o Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal e Direito Processual Penal.
O segundo rege as relações entre particulares, tutelando, sobretudo, os interesses individuais, de modo a assegurar a convivência harmônica das pessoas em sociedade, além da fruição de seus bens, pensando nas relações de indivíduo a indivíduo. Há uma igualdade jurídica entre os polos da relação (as partes se encontram em pé de igualdade). Predominam normas mais flexíveis, que podem ser modificadas por acordo entre as partes. Como exemplo, podemos citar o Direito Civil, o Direito Empresarial, Direito do Trabalho e Direito do Consumidor.
O objeto do Direito Administrativo engloba todas as funções exercidas pelas autoridades administrativas: a regulamentação da estrutura, do pessoal (órgãos e agentes), dos atos e atividades da Administração Pública, praticados ou desempenhados na qualidade de poder público. Toda e qualquer atividade de administração, seja ela exercida pelo Poder Executivo, pelo Poder Legislativo ou pelo Poder Judiciário, é tutelada pelo Direito Administrativo.
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O bom administrador tem por obrigação observar as regras que formam os princípios básicos da Administração Pública: legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, nos termos da Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
Princípio da Legalidade. Os atos do administrador devem sempre estar de acordo com o ordenamento jurídico, pois caso contrário, irá praticar atos inválidos. Equivale dizer, que qualquer atividade administrativa dependerá sempre de se conformar à Lei. Tem como significado a subordinação à lei (aqui entendida em sentido amplo). Ao contrário do que ocorre nas relações privadas, nas quais o particular pode fazer tudo o que a lei não proíba, o administrador só atua quando a lei permite.
Princípio da Moralidade: Não se trata da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como: o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração. A probidade administrativa decorre diretamente do princípio da moralidade que lhe é anterior e hierarquicamente superior pelo maior grau de transcendência que os princípios têm em relação aos deveres. Podemos dizer que a probidade é uma das possíveis formas de extensão da moralidade. Hely Lopes Meirelles declara que
[...] o agente administrativo, como ser humano dotado de capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o Honesto do Desonesto. E ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético da sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo do injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também entre o honesto e o desonesto.”
Princípio da Impessoalidade: É o desdobramento do princípio da isonomia, visa a garantir aos administrados tratamento que afaste qualquer espécie de discrição ou de favoritismo, sem razão lógica que, à luz da lei o justifique. A licitação para escolha do contratante e o concurso para ingresso no serviço público são exemplosde aplicação prática desse princípio, que se traduz na exigência de neutralidade da Administração.
Princípio da Publicidade: Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. A publicidade não é elemento formativo do ato, é requisito de eficácia e moralidade. Por isso mesmo, os atos irregulares não se convalidam com a publicação, nem os regulares a dispensam para a sua exequibilidade, quando a lei ou o regulamento a exige.
Princípio da Eficiência: A função administrativa não se contenta apenas com a legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros. Significa dizer, toda movimentação pública deve, perfeitamente, estar de acordo com a impossibilidade de descaso, irreflexão, desconsideração e descaso para com a coletividade.
3. PODERES E DEVERES DO ADMINISTRADOR
Os poderes e deveres do administrador público são os expressos em Lei, os impostos pela moral administrativa e os exigidos pelo interesse da coletividade. Fora dessa generalidade não se poderá indicar o que é Poder e o que é Dever do gestor público, porque, estando sujeito ao ordenamento jurídico geral e às leis administrativas especiais, só essas normas poderão catalogar, para cada entidade, órgão, cargo, função, serviço ou atividade pública, os poderes e deveres de quem os exerce.
3.1 PODER E DEVER DE AGIR
O poder de agir se converte no dever de agir. Assim se no direito privado o poder de agir é uma faculdade, no Direito Público é uma imposição, um dever para o agente que o detém, pois não se admite a omissão da autoridade diante da situação que exige sua atuação.
Eis por que a Administração responde civilmente pelas omissões lesivas de seus agentes.
3.2 DEVER DE EFICIÊNCIA
A eficiência funcional é considerada em sentido amplo, abrangendo não só a produtividade do exercente do cargo ou da função pública como a perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administração, para o que se avaliam os resultados, confrontam-se os desempenhos e se aperfeiçoa o pessoal através de seleção e treinamento.
Objetivando o cumprimento desse dever, a legislação possibilita a dispensa de servidor público estável mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assim como estabelecem a condição para aquisição da estabilidade, a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade.
Dever de eficiência é o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.
A eficiência funcional é, pois, considerada em sentido amplo, abrangendo não só a produtividade do exercente do cargo ou da função como a perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administração, para o qual se avaliam os resultados, confrontam-se os desempenhos e se aperfeiçoa o pessoal através de seleção e treinamento. 
A verificação da eficiência atinge os aspectos quantitativo e qualitativo do serviço, para aquilatar do seu rendimento efetivo, do seu custo operacional e da sua real utilidade para os administrados e para a Administração. Tal controle desenvolve-se, portanto, na tríplice linha administrativa, econômica e técnica.
3.3 DEVER DE PROBIDADE
Os atos de improbidade administrativa importarão na suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao Erário, na forma e gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Os atos administrativos praticados com lesão aos bens e interesses públicos, também ficam sujeitos a invalidação pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário, por vício de improbidade, que é uma ilegitimidade como as demais que nulificam a conduta do administrador público.
O dever de probidade está constitucionalmente integrado na conduta do administrador público como elemento necessário à legitimidade de seus atos. O velho e esquecido conceito romano do probus e do improbus administrador público está presente na nossa legislação administrativa, como também na Constituição da República, que pune a improbidade na Administração com sanções políticas, administrativas e penais, nos seguintes termos: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao Erário, na forma e gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” (art. 37, § 4º, da CF).
A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429, de 02/06/1992), com as recentes modificações trazidas pela Lei nº 14.230, de 25/10/2021, dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º, do artigo 37, da Constituição Federal e dá outras providências.
3.4 DEVER DE PRESTAR CONTAS
O dever de prestar contas decorre diretamente do Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público, sendo pertinente à função do agente público, que é simples gestão da coisa pública. Quem administra bens e interesses de terceiros, tem o dever de prestar contas ao proprietário. No caso do administrador público este dever é bem mais acentuado, pois os bens e interesses são da coletividade.
A prestação de contas não se refere apenas ao dinheiro público, à gestão financeira, mas a todos os atos de governo e da administração. A regra é universal: quem gere dinheiro público ou administra bens e interesses da comunidade deve contas ao órgão competente para a fiscalização.
Ao lado do dever de probidade e como seu complemento natural está sempre o dever de prestar contas. 
O dever de prestar contas é decorrência natural da administração como encargo de gestão de bens e interesses alheios. Se o administrar corresponde ao desempenho de um mandato de zelo e conservação de bens e interesses de outrem, manifesto é que quem o exerce deverá contas ao proprietário. No caso do administrador público, esse dever ainda mais se alteia, porque a gestão se refere aos bens e interesses da coletividade e assume o caráter de um múnus público, isto é, de um encargo para com a comunidade. Daí o dever indeclinável de todo administrador público – agente político ou simples funcionário – de prestar contas de sua gestão administrativa, e nesse sentido é a orientação de nossos Tribunais, conforme a Constituição, em seu artigo 70, parágrafo único:
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. 
3.5 USO E ABUSO DE PODER
O uso do poder é prerrogativa da autoridade. Usar normalmente do poder é empregá-lo segundo as normas constitucionais, legais e morais, buscando sempre o interesse público.
Abusar do poder é empregá-lo fora da lei, sem utilidade pública. Ocorre quando o agente público observa mais o seu interesse particular, contrariando o interesse público. O uso do poder, a princípio, é lícito, o abuso é ilícito.
O abuso do poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas.
O abuso do poder, como todo ilícito, se reveste das formas mais diversas. Ora se apresenta ostensivo como a truculência, às vezes dissimulado como o estelionato, e não raro encoberto na aparência ilusória dos atos legais. Em qualquer desses aspectos – flagrante ou disfarçado – o abuso do poder é sempre uma ilegalidade que invalida o ato que o contém. 
O gênero abuso de poder ou abuso de autoridade reparte-se em duas espécies bem caracterizadas: o excesso de poder e o desvio de finalidade.3.5.1 Excesso de Poder
O excesso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de suas faculdades administrativas. (Lei nº 13.869, de 05/09/2019 – CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE).
Meireles (2000, p. 312), ensina que “embora competente para praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de suas faculdades administrativas. Excede, portanto, sua competência legal e com isso, invalida o ato”.
3.5.2 Desvio de Finalidade
O desvio de finalidade ou de poder verifica-se quando a autoridade, embora atuando nos limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público. Tais desvios ocorrem, por exemplo, quando a autoridade pública decreta uma desapropriação alegando utilidade pública, mas visando, na realidade, a satisfazer interesse pessoal próprio ou favorecer algum particular com a subsequente transferência do bem expropriado; ou quando outorga uma permissão sem interesse coletivo;
3.6 ABUSO DE PODER POR OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO
O abuso do poder tanto pode revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do administrado.
O silêncio não é ato administrativo; é conduta omissiva da Administração que, quando ofende direito individual do administrado ou de seus servidores, se sujeita a correção judicial e a reparação decorrente de sua inércia. 
A omissão da Administração pode representar aprovação ou rejeição da pretensão do administrado, tudo dependendo do que dispuser a norma pertinente. O certo, entretanto, é que o administrado jamais perderá seu direito subjetivo enquanto perdurar a omissão da Administração no pronunciamento que lhe compete.
4. PODERES ADMINISTRATIVOS
4.1 PODER VINCULADO
A vinculação, respeito ao condicionamento da Administração Pública, à obrigatoriedade de praticar sob determinadas condições, um ato administrativo; dessa forma, a atuação do Poder Público restringe-se, através da atuação de seus agentes, ao estrito cumprimento daquilo que se contém no interior dos contornos da lei.
O ato vinculado não deixa qualquer alternativa à Administração Pública, senão a de praticá-lo conforme preceitua a Lei.
Como exemplo, temos a licença para construir. Se o agente cumpre todos os requisitos legais para obtê-la, o Administrador é obrigado a concedê-la. A concessão de aposentadoria, a licença para dirigir, são outros exemplos.
4.2 PODER DISCRICIONÁRIO
Significa certa margem de liberdade para a Administração Pública de editar, ou não, o ato administrativo.
A expressão discricionariedade indica a limitada liberdade de escolha e de decisão na edição de atos próprios de cada função.
A discricionariedade justifica-se em face dos problemas que o administrador tem que solucionar no exercício cotidiano de suas funções.
Não se confunde a discricionariedade com arbitrariedade. A primeira indica o sentido de liberdade de ação vigiada, fiscalizada, condicionada à lei. A Segunda, contrariamente, apresenta comportamentos absolutamente incompatíveis com a lei.
Como exemplo, temos a permissão de uso de bem público. Suponhamos que o dono de uma lanchonete resolva colocar mesas na calçada. Ele deverá requerer permissão a Administração (Prefeitura), que deferirá ou não o uso do local público, levando em contra a conveniência e oportunidade no caso em concreto apresentado. Outro exemplo é a autorização para circulação de veículos acima das medidas normais.
4.3 PODER HIERÁRQUICO
É através do qual o Poder Executivo utiliza para distribuir escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, assim estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.
Pela hierarquia se impõe ao subalterno a estrita obediência das ordens e instruções legais superiores e se define a responsabilidade de cada um. As determinações superiores devem ser cumpridas fielmente, sem ampliação ou restrição, a menos que sejam manifestamente ilegais.
A apreciação da conveniência e da oportunidade das determinações superiores foge das atribuições meramente administrativas e, por isso, escapa da órbita da ação dos subalternos. Descumprindo-as ou retardando-as na execução, poderá o servidor relapso incorrer não só em falta disciplinar e também em crime funcional.
4.4 PODER DISCIPLINAR
O poder disciplinar é correlato ao poder hierárquico, mas com ele não se confunde. No uso do poder hierárquico a Administração Pública distribui e escalona as suas funções executivas; no uso do poder disciplinar ela controla o desempenho dessas funções e a conduta interna de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas.
A aplicação da pena disciplinar tem para o superior hierárquico o caráter de um poder-dever, uma vez que a condescendência na punição é considerada crime contra a administração pública. Todo chefe tem o poder e o dever de punir o subordinado quando este der ensejo, ou, se lhe faltar competência para a aplicação da pena devida, fica na obrigação de levar o fato ao conhecimento da autoridade competente.
A Lei Complementar nº 114/2005, traz o regime disciplinar aplicável aos policiais civis do Estado de Mato Grosso do Sul, nos títulos III e IV, artigos 153 a 229.
4.5 PODER REGULAMENTAR
O regulamento não é lei, embora a ela se assemelha no conteúdo e poder normativo. Nem toda lei depende de regulamento para ser executada, mas toda e qualquer lei pode ser regulamentada se o Executivo julgar conveniente fazê-lo. Na omissão da lei, o regulamento supre a lacuna, até que o legislador complete os claros da legislação.
O poder regulamentar é a faculdade de que dispõem os chefes de Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para sua correta execução, ou de expedir decretos autônomos sobre matéria de sua competência ainda não disciplinada por lei. É um poder inerente e privativo do chefe do Executivo, e, por isso mesmo, indelegável a qualquer subordinado.
No âmbito da Polícia Civil, temos o Decreto nº 12.218/2006, que regulamenta a Lei Complementar nº 114/2005, além de outros.
4.6 PODER DE POLÍCIA
Dentre os poderes administrativos, figura, com especial destaque, o poder de polícia administrativa, que a Administração Pública exerce sobre todas as atividades e bens que afetam ou possam afetar a coletividade. Para esse policiamento há competências exclusivas e concorrentes das três esferas estatais, dada a descentralização político-administrativa decorrente do nosso sistema constitucional.
Em princípio, tem competência para policiar a entidade que dispõe do poder de regular a matéria. Assim sendo, os assuntos de interesse nacional ficam sujeitos a regulamentação e policiamento da União; as matérias de interesse regional sujeitam-se às normas e à polícia estadual, e os assuntos de interesse local subordinam-se aos regulamentos edilícios e ao policiamento administrativo municipal.
Como exemplo, temos cobranças de multas e aplicação de sanções pecuniárias a estabelecimentos públicos, interdição de atividade ilegal, embargo de obra clandestina, demolição de obra clandestina, inutilização de gêneros alimentícios impróprios para o consumo, etc.
5. ATO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, REQUISITOS E ATRIBUTOS; ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO; DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO.
5.1 CONCEITO E DIFERENÇAS
Inicialmente precisamos demonstrar a diferença entre atos administrativos e fato administrativo. Veja.
Ato Administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria; a condição primeira para o seu surgimento é que a Administração aja nessa qualidade, usando de sua supremacia de Poder Público, visto que algumas vezes nivela-se ao particular e o ato perde a característica administrativa; a segunda é que mantenha manifestação de vontade apta; a terceira éque provenha de agente competente, com finalidade pública e revestido na forma lega; 
Fato Administrativo é toda realização material da Administração em cumprimento de alguma decisão administrativa, tal como a construção de uma ponte, etc., só interessa ao Direito, em razão das consequências jurídicas que dele possam advir. 
5.2 REQUISITOS OU ELEMENTOS
a) COMPETÊNCIA: é a condição primeira de sua validade; nenhum ato - discricionário ou vinculado - pode ser realizado validamente sem que o agente disponha de poder legal para praticá-lo; sendo um requisito de ordem pública, é intransferível e improrrogável pela vontade dos interessados, podendo ser delegada e avocada. 
b) FINALIDADE: é aquela que a lei indica explícita ou implicitamente; não cabe ao administrador escolher outra, ou substituir a indicada na norma administrativa. 
· Os atos administrativos sempre têm:
· Uma finalidade GERAL OU MEDIATA, que é aquela que a lei indica explícita ou implicitamente: satisfação do INTERESSE PÚBLICO:
· b) uma finalidade ESPECIFICA OU IMEDIATA. que é o objetivo direto, o resultado específico a ser alcançado, previsto na lei, e que deve determinar a prática do ato
· É um requisito VINCULADO
· FINALIDADE é o objetivo de interesse público pretendido com a prática do ato.
· Qualquer desatendimento, seja da finalidade geral ou específica, visando a defesa de interesse alheio, configura vício insanável, devendo ser anulado por desvio de finalidade ou détournement du pouvoir.
c) FORMA: revestimento exteriorizador do ato administrativo, a vontade da administração exige procedimentos especiais e formal legal; todo ato administrativo, é, em princípio, formal; e compreende-se essa exigência, pela necessidade que ele tem de ser contrastado com a lei e aferido, pela própria Administração, ou pelo Judiciário, para verificação de sua validade. 
d) MOTIVO: é a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a realização do ato administrativo; pode vir expresso em lei como pode ser deixado ao critério do administrador. 
e) OBJETO: a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas à ação do Poder Público.
5.2.1 Teoria dos Movimentos Determinantes
Pela motivação, o administrador público justifica sua ação administrativa, indicando os fatos (pressupostos de fato) que ensejam o ato e os preceitos jurídicos (pressupostos de direito) que autorizam sua prática. Portanto, deve apontar a causa e os elementos determinantes da prática do ato administrativo, bem como o dispositivo legal em que se funda. 
A Teoria dos Motivos Determinantes funda-se na consideração de que os atos administrativos, quando tiverem sua prática motivada, ficam vinculados aos motivos expostos, para todos os efeitos jurídicos; tais motivos é que determinam e justificam a realização do ato. 
Nos atos vinculados, a motivação é obrigatória; nos discricionários, quando facultativa, se for feita, atua como elemento vinculante da Administração aos motivos declarados, como determinantes do ato; se tais motivos são falsos ou inexistentes, nulo é o ato praticado.
5.2.2 Mérito do Ato Administrativo
Consubstancia na valoração dos motivos e na escolha do objeto do ato, feitas pela Administração incumbida de sua prática, quando autorizada a decidir sobre a conveniência, oportunidade e justiça do ato a realizar; é aspecto pertinente apenas aos atos praticados no exercício de competência discricionária.
5.3 ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO
a) PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE: todos os atos administrativos nascem com ela, decorre do princípio da legalidade da Administração, que informa toda a atuação governamental; autoriza a imediata execução ou operatividade dos atos administrativos, mesmo que arguidos de vícios ou defeitos que levem à invalidade; a transferência do ônus da prova de invalidade do ato administrativo para quem o invoca.
b) IMPERATIVIDADE: é o atributo do ato administrativo que impõe a coercibilidade para seu cumprimento ou execução, está presente nos atos que consubstanciam um provimento ou uma ordem administrativa (normativos, ordinatórios, punitivos), com a força impositiva própria do Poder Público; a imperatividade decorre da só existência do ato administrativo, não dependendo da sua declaração de validade ou invalidade; assim, deve ser cumprido ou atendido enquanto não for retirado do mundo jurídico por revogação ou anulação. 
c) AUTO-EXECUTORIEDADE: consiste na possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria Administração, independentemente de ordem judicial; ao particular que se sentir ameaçado ou lesado pela execução do ato administrativo é que caberá pedir proteção judicial para defender seus interesses ou para haver os eventuais prejuízos que tenha injustamente suportado. 
5.4 INVALIDAÇÃO OU EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
5.4.1 Revogação:
É a supressão de um ato administrativo legítimo e eficaz, realizada pela Administração (somente por ela), por não mais lhe convir sua existência, pressupõe, portanto, um ato legal e perfeito, mas inconveniente ao interesse público; funda-se no poder discricionário de que dispõe a Administração para rever sua atividade interna e encaminhá-la adequadamente à realização de seus fins específicos. A revogação opera da data em diante (ex nunc); os efeitos que a precederam, esses permanecem de pé; desde que o administrador possa revogar a ato inconveniente, sua invalidação não obrigará o Poder Público a indenizar quaisquer prejuízos presentes ou futuros que a revogação eventualmente ocasione, porque a obrigação da Administração é apenas a de manter os efeitos passados do ato revogado.
Além disso, a doutrina estabelece a impossibilidade de revogação de determinadas espécies de atos administrativos, embora não haja um consenso absoluto entre os estudiosos. Neste sentido, não se admite a revogação de:
a) Atos consumados, uma vez que estes atos já produziram todos os efeitos, não havendo efeitos futuros a serem impedidos. Neste diapasão, não é possível revogar o ato de concessão de férias de um servidor, após o gozo do respectivo período.
b) Atos irrevogáveis, assim declarados por meio da lei específica que regulamenta e prevê sua edição.
c) Atos que geram direitos adquiridos, em decorrência da irretroatividade do ato administrativo revogador.
d) Atos vinculados, haja vista estes atos não admitirem análise de oportunidade e conveniência. A ressalva fica feita em relação aos atos de licença para construir que, no entendimento da doutrina majoritária e da jurisprudência, admite revogação em razão de interesse público superveniente, devidamente justificado, desde que indenizado o particular prejudicado pelo ato de revogação.
e) Atos enunciativos, uma vez que atestam situações de fato ou emitem mera opinião da Administração Pública, não ensejando a produção direta de efeitos a particulares.
f) Atos de controle, haja vista não serem atos praticados no exercício da função administrativa propriamente dita, não se configurando atos constitutivos de direitos ou obrigações, somente incidindo na vigência dos outros atos.
g) Os atos complexos, uma vez que, para sua edição dependem da soma de mais de uma vontade administrativa. Neste sentido, não é possível que a vontade de um único agente retire este ato do mundo jurídico.
5.4.2 Anulação:
É a declaração de invalidade de um ato administrativo ilegítimo ou ilegal. feita pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário; desde que reconheça que praticou um ato contrário ao direito vigente, cumpre-lhe anulá-lo, e quanto antes, para restabelecer a legalidade administrativa; se não o fizer, poderá o interessado pedir ao Judiciário que verifique a ilegalidade do ato e declare sua invalidade. Os efeitos da anulação dos atos administrativos retroagem às suas origens, invalidando as consequências passadas, presentes e futuras do ato anulado; e assim é porque o ato nulo não gera direitos ou obrigações para as partes (ex tunc). Atenção: Nos casos de boa fé e para segurançajurídica poderão ter efeitos ex nunc. 
Neste sentido, é preciso citar a Teoria da Aparência. No caso de nomeação de servidor sem concurso público é nula, mas os atos praticados são válidos, em atenção ao princípio da segurança jurídica. Ademais, não há devolução dos salários, sob pena de enriquecimento da Administração Pública já que os serviços foram prestados. E não se faz possível retornar ao status quo ante.
CONVALIDAÇÃO: Em determinadas situações, é possível a correção do vício de ato administrativo. Nestas situações, diz-se ser caso de nulidade relativa, pois o vício é sanável. Por sua vez, o ato é tido por anulável e não nulo, consoante previamente analisado. A correção do vício e consequente manutenção do ato deve sempre atender ao interesse público e, caso isso se configure, será possível a convalidação do ato viciado.
Com efeito, se o interesse público exigir e for sanável o vício, o ato administrativo pode ser convalidado, em razão da oportunidade e conveniência, desde que a convalidação não cause prejuízos a terceiros. Dessa forma, para que se admita a convalidação de um ato administrativo, devem-se fazer presentes os dois requisitos, a saber, o vício do ato se tratar de vício sanável e a convalidação não causar prejuízos a terceiros interessados no processo nem à própria Administração Pública.
Pode ser citada, a título de exemplo, a nomeação feita por autoridade incompetente. Neste caso, há vício no elemento competência do ato administrativo, no entanto, pode ser convalidado pela autoridade competente, por meio de ratificação do ato viciado. Nestes casos, o conserto decorre dos princípios da eficiência e economicidade, já que é mais útil para a Administração Pública convalidar do que anular, além de se garantir uma preservação da ordem jurídica, garantindo-se a segurança de relações previamente constituídas.
Assim, a doutrina passou a entender que, quando é o caso de nulidade sanável, ou seja, vícios de forma e de competência, devem ser corrigidos se for mais interessante ao interesse público e causar menos prejuízo do que a sua anulação. Nestes casos, consertado o vício, o ato produz efeitos licitamente, desde a sua origem, podendo-se definir, portanto, que a convalidação opera efeitos ex tunc, retroagindo à data de edição do ato para que sejam resguardados os efeitos pretéritos desta conduta.
A doutrina costuma definir que a convalidação feita pela mesma autoridade que havia praticado o ato originariamente deve ser designada como confirmação, como ocorre se o agente público, verificando um vício na formalização do ato, determina o seu conserto. Por sua vez, a convalidação efetivada por ato de outra autoridade recebe o nome de ratificação.
No mesmo sentido, a doutrina entende, majoritariamente, que a convalidação deve ser praticada pela Administração Pública sempre que possível, não se configurando uma faculdade do Estado, mas sim um dever de sanar o vício que macula sua conduta. Ocorre que esta situação não se aplica nos casos de atos discricionários que sofram de vício de incompetência, haja vista, nestes casos, a autoridade deva exercer uma margem de escolha acerca da manutenção ou não do ato. Com relação a isso, Fernanda Marinela24 dispõe que sempre que a Administração estiver diante de um ato suscetível de convalidação, deve convalidá-lo.
5.4.3 Cassação:
Ocorre a cassação nas hipóteses em que o ato administrativo é extinto por ilegalidade superveniente em face do descumprimento dos requisitos impostos para a sua expedição pelo beneficiário. Ocorre, portanto, quando o beneficiado do ato deixa de cumprir os requisitos de quando teve o ato deferido. Trata-se de hipótese de ilegalidade superveniente por culpa do beneficiário. Pode-se citar como exemplo a hipótese de uma determinada pessoa que obteve uma licença para o funcionamento de um hotel e, tempos mais tarde, modifica a finalidade do empreendimento que passa a ser um motel, sem a comunicação ou ciência do Poder Público. Na situação descrita, o beneficiário descumpriu os requisitos do ato de concessão da licença.
Enfim, se inicialmente o ato cumpria os requisitos, deixando de cumpri-los, por culpa do beneficiário, há a cassação, retirando-se o ato do mundo jurídico.
5.4.4 Caducidade:
Trata-se de extinção do ato administrativo por lei superveniente que impede a manutenção do ato inicialmente válido. Novamente, estamos diante de uma situação de ilegalidade superveniente, entretanto, nestes casos, não por culpa do particular beneficiário do ato, mas sim por alteração legislativa.
Com efeito, lei posterior torna inconveniente a manutenção do ato. A título de exemplo, suponha que determinado sujeito usufrui de uma autorização de uso de bem público que permite que ele monte e se apresente em um circo alocado em uma determinada praça pública.
Ocorre que, mediante a edição de uma nova lei, altera-se o plano diretor da cidade, tornando a área residencial, não sendo possível a manutenção do ato de autorização, inicialmente lícito.
Nestes casos, não obstante inexista responsabilização do destinatário do ato, não é possível a manutenção do mesmo diante da nova realidade jurídica.
Não confundir com caducidade de contratos que é a rescisão unilateral de um contrato por motivo de inadimplemento da empresa concessionária.
5.4.5 Contraposição (derrubada):
Ocorre nas situações em que um ato administrativo novo se contrapõe a um ato anterior extinguindo seus efeitos. ln casu, não se fala em ilegalidade originária ou superveniente da atuação originária, mas tão somente na impossibilidade de manutenção do ato, por colidir com ato novo que trata da matéria.
Como exemplo, podemos citar o ato de nomeação e exoneração de um servidor. A exoneração se contrapõe ao ato de nomeação, tornando-o extinto seus efeitos.
6. DO REGIME DISCIPLINAR – PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS EM GERAL
A Lei Complementar nº 114, que aprovou a Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso do Sul, dispõe sobre sua organização institucional e as carreiras, os direitos e as obrigações dos seus membros, inclusive, trata do regime disciplinar, em seu Título III (artigos 153 a 192) e do processo disciplinar e da revisão em seu Título IV (artigos 193 a 229).
Procurando dar utilidade em consonância com a prática, fugindo de profundos debates doutrinárias ou jurisprudenciais acerca do tema, necessário se faz trazer alguns apontamentos sobre o auto de investigação preliminar (AIP) e a sindicância administrativa disciplinar (SAD), feitos presididos em sua grande maioria por Delegados de Polícia, nos quais se materializam o poder hierárquico e disciplinar da Administração.
6.1 AUTO DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR (AIP)
Sobre o tema, importante transcrevermos na íntegra alguns apontamentos da Delegada Célia Maria Bezerra da Silva, que de forma prática e direta, aborda em linhas gerais alguns importantes problemas sobre o AIP, procedimento previsto no nosso Estatuto, de caráter preparatório e inquisitivo:
“Previsto no artigo 182, e parágrafos da Lei Complementar nº 114/2005, tem a finalidade de determinar indícios suficientes sobre a existência ou não de transgressão disciplinar, individualizando dinâmica, materialidade e autoria de fatos que constituem violação disciplinar.
Muitas vezes, há a notícia do fato tido como irregularidade administrativa e/ou penal, cuja autoria não se encontra definida ou, há um indicativo de autoria, mas os fatos, em um primeiro momento, não trazem estampados os indícios de transgressão, como por exemplo, quando policiais cumprem mandado de busca domiciliar ou mandado de prisão e os moradores, não entendendo o caráter legal daquela ação, reclamam da ação policial.
Observa-se que o AIP está para a sindicância e/ou processo administrativo disciplinar como o inquérito policial está para o processo criminal.
Nesse sentido, por ser um caderno investigativo, não garante ao investigado as prerrogativas constitucionais do contraditório e da ampla defesa, não sendo, em um primeiro momento, sigiloso, porém, nada obsta e até mesmo é salutar que o investigado apresentea maior quantidade possível de elementos que comprovem sua não participação no evento que lhe fora imputado.
Obviamente, recai sobre a autoridade investigando o ônus de demonstrar, por meio de provas, os indícios suficientes de autoria e materialidade das infrações disciplinares.
Sua instrução é semelhante à do inquérito policial, possuindo os mesmos termos de movimentação, que darão o andamento sequencial das diligências que vão sendo determinadas pela autoridade policial que o preside, ao escrivão que nele atua: certidão, juntada, recebimento, data, conclusão e remessa.
É iniciado por força de uma portaria, após determinação superior ou poderá ser instaurado de ofício, pela própria autoridade policial. Na portaria são mencionados os fatos noticiados (através de boletim de ocorrência, declaração reduzida a termo da parte, ofícios diversos, expediente encaminhado pelo Ministério Público, Judiciário, etc.). A autoridade policial, na portaria de instauração, fará um breve relato daquilo que lhe chegou ao conhecimento, onde serão determinadas ao escrivão as providências que deverá adotar após a autuação propriamente dita.
A autuação é o termo que dará início às atividades dentro daquele feito, contendo, entre outras, o número de ordem do AIP, que deverá ser registrado no livro destinado a esse fim.
As diligências passarão a ser ordenadas pela autoridade policial, obedecendo a uma sequência lógica de oitivas, juntadas de documentos, perícias e todas as outras providências necessárias para o cabal esclarecimento dos fatos.
É possível a expedição de carta precatória para a oitiva de testemunhas que estejam em local diverso daquele onde os fatos se deram.
Ao final, será elaborado relatório circunstanciado a respeito dos fatos e, diferentemente do inquérito policial, será emitido um juízo de valor com relação ao que restou evidenciado, ou seja, a autoridade que presidiu o feito DEVERÁ dizer se aquilo que ela apurou possui indícios consistentes de transgressão disciplinar e os dispositivos da LC nº 114/2005 que foram, em tese, violados pelo(s) investigado(s), ou ainda a impossibilidade de comprovação dos fatos, devendo explicar as razões pelas quais isso ocorreu.
Diante da constatação da existência de indícios de transgressão disciplinar a autoridade que o presidiu SUGERIRÁ a instauração de procedimento específico (Sindicância Administrativa Disciplinar ou Processo Administrativo Disciplinar) ao superior hierárquico, observando-se a gravidade das transgressões em tese apontadas, conforme artigos 170, §§ 1º e 2º, e 171 parágrafo único da LC nº 114/2005, para que, à luz do contraditório e da ampla defesa, possa ser responsabilizado.
A prescrição de que trata o artigo 176, da LC nº 114/2005, deverá ser observada quando da instrução do feito, podendo ser arguida quando da conclusão dos autos, observando-se ainda o que dispõe o artigo 172 do mesmo diploma legal. Vale destacar que a instauração do AIP não interrompe o curso da prescrição. Daí nasce a necessidade de cumprir os prazos legais para o término do AIP (30 dias prorrogáveis por mais 30 dias).
Muitas vezes, é iniciada uma investigação preliminar para apurar possível transgressão disciplinar e vem à tona alguma infração criminal a qual poderá ser constatada dentro do Auto de Investigação Preliminar. Assim, diante gravidade de que se revestem os fatos (criminosos), no estado em que o AIP se encontrar, deve ser feito breve relatório apontando os indícios existentes, encaminhando-se os autos ao superior imediato, que determinou a apuração, com a sugestão de instauração de inquérito policial (ou mesmo de ofício, a autoridade policial poderá instaurar o Inquérito Policial para apurar na seara penal o crime).
A autoridade investigante deverá, nos casos de transgressões que também se revestem como crimes de menor potencial ofensivo, sugerir a sua chefia, o encaminhamento de cópia dos autos ao Juizado Especial Criminal, quando se tratar de designação superior ou fazer diretamente o encaminhamento, quando o AIP foi instaurado de ofício. Aconselhável seria, nestes casos, a elaboração de Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
Quando a requisição para instauração de procedimento apuratório vier do Poder Judiciário ou do Ministério Público, ao final, independentemente do resultado, é aconselhável o envio de cópia do relatório àqueles Órgãos, exceto nos casos em que já se procedeu o envio de cópia integral dos autos face a existência de possível crime.
Entendendo a autoridade investigante não ter restado evidenciada a existência de transgressão administrativa e/ou penal ou individualizada a sua autoria, através de relatório conclusivo exporá as razões do seu entendimento, propondo ao final o arquivamento do feito. Saliente-se que a autoridade investigante poderá concluir o AIP, pugnando pelo seu arquivamento, reconhecendo estar provada a inexistência do fato; não haver prova de sua existência; não se caracterizar a ação ou omissão como infração administrativa e/ou penal e não restar provado que o investigado concorreu ou participou do evento.
Havendo qualquer dúvida que não permita de plano o arquivamento do feito pelos motivos elencados no parágrafo anterior, existindo materialidade mínima da falta e evidências suficientes de autoria, a autoridade investigante deverá propor que o cabal esclarecimento se dê através de sindicância administrativa disciplinar e/ ou processo administrativo disciplinar, já que a valoração da prova deverá ocorrer nos procedimentos mencionados, onde são observados os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Saliente-se que o prazo para conclusão do AIP é aquele previsto no artigo 182, § 2º da Lei Complementar nº 114/2005.
MODELO DE PORTARIA DE AIP
Através da representação formulada pelo Sr. José da Silva junto a este Órgão, chega ao conhecimento desta autoridade policial que no dia 29/09/2008 o irmão do representante teria sido preso por policiais da 32ª DP, na Rua do Anzol, 123- Vila Sapé, nesta cidade, por ter cometido, em tese, crime de roubo. Ocorre que, de acordo com o representante, seu irmão teria sido agredido pelos policiais daquela unidade, a fim de indicasse os locais em que teria agido, bem como indicasse onde se encontram a res furtiva.
Há a necessidade de serem individualizadas as ações, bem como determinadas as circunstâncias em que efetivamente ocorreram os fatos, para uma posterior adoção de providências no âmbito administrativo e/ou penal, caso comprovadas, razão pela qual, atendendo determinação do Senhor Corregedor-Geral da Polícia Civil INSTAURO INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR, amparada no que dispõe o artigo 182, § 1º da Lei Complementar nº 114, de 19 de dezembro de 2005, devendo o Senhor Escrivão de meu cargo, após R. e A. esta, tomar as seguintes providências preliminares:
Juntar aos autos o termo de compromisso de Escrivão ad hoc, e a documentação supracitada e seus anexos;
Oficiar a 32ª DP, solicitando cópia do procedimento referente a José dos Anzóis e que informe os policiais que participaram da diligência envolvendo essa pessoa;
Verificar o local onde se encontra José dos Anzóis, para que compareça, preste esclarecimentos e seja submetido a exame de corpo de delito, se necessário;
Após, proceder a oitiva dos policiais envolvidos.
CUMPRA-SE. Após, voltem-me conclusos.
Campo Grande-MS, 18 de agosto de 2008.
Célia Maria Bezerra da Silva
Delegada de Polícia Corregedora”.
6.2 SINDICÂNCIA ADMINISTRATIVA DISCIPLINAR (SAD)
Também importante trazermos à baila alguns comentários sobre a Sindicância Administrativa Disciplinar. Procedimento regido pelo contraditório e ampla defesa, via de regra, com caráter punitivo ou, em alguns casos, preparatório.
A sindicância sempre terá início quando houver indícios suficientes que apontem para a existência de um fato que constitua falta disciplinar com sua respectiva autoria. Portanto, a sindicância tem seu início para apurar um fato já definido (que tenha provas suficientes de sua existência – indícios de falta disciplinar) praticado por policial civil (que tenhaindícios suficientes de autoria).
Vale lembrar que a sindicância será precedida de documentos que constituem uma apuração preliminar, via de regra, será o AIP, que por sua vez terá início para apurar a existência de transgressões disciplinares com sua respectiva autoria, quando não existirem elementos mínimos que possibilitem deduzir uma acusação. A sindicância também poderá ser precedida de cópia de inquéritos policiais, processos criminais, cíveis ou outros documentos que noticiem a existência de uma possível falta disciplinar com sua respectiva autoria. É o que decorre da leitura do artigo 182, especialmente dos parágrafos 1º e 2º, da Lei Complementar nº 114/2005.
Pela sistemática da Lei Complementar nº 114/2005, não existe, a priori, a figura da sindicância investigativa que era aquela instaurada para definir a autoria e a própria existência dos fatos (infrações disciplinares), com despacho sindicatório durante o seu curso, no qual se indicavam as faltas atribuídas a um policial, que passava a ser considerado, no próprio curso da SAD, sindicado. A sindicância terá início para apurar a possível transgressão disciplinar já delineada com provas suficientes que indiquem um autor (sindicado). Em uma análise sistemática da Lei Orgânica, podemos afirmar que desde a instauração da sindicância, já temos a figura do sindicado (contra quem existem indícios de autoria) e a existência de evidências de transgressões disciplinares (faltas administrativas, definidas nos artigos 155 e 156, da LC nº 114/2005).
Desta maneira, desde o seu nascedouro a sindicância terá o caráter acusatório, devendo ser respeitado o contraditório e a ampla defesa, princípios constitucionais que decorrem do devido processo legal (artigo 5º, inciso LV, da CF 88). A portaria inicial da SAD deverá descrever claramente os fatos, as transgressões disciplinares deles decorrentes (conforme os incisos do artigo 155 e 156, da LC nº 114/2005), imputando-as ao(s) sindicado(s), policial civil. Atualmente, a portaria da SAD equivale ao antigo despacho sindicatório previsto em legislações passadas (Lei Complementar nº 38/89).
O artigo 187, da LC nº 114/2005, traz um esboço não muito claro sobre o rito da sindicância. Desta forma, valendo-se de uma interpretação sistemática da Lei Orgânica, especialmente nos dispositivos destinados ao Processo Administrativo Disciplinar – PAD podemos apresentar um rito que procure garantir, efetivamente, o contraditório e a ampla defesa, conforme se observa claramente do artigo 188, da LC nº 114/2005.
O rito também pode ser verificado no Regulamento das Atividades da Polícia Judiciária do 	Estado de Mato Grosso do Sul, conhecido como “R-12”[footnoteRef:1], naquilo que não contraria a Lei Complementar 114/2005. [1: R-12: Regulamento aprovado pela Deliberação CSPC/MS Nº 12/2002, Publicado no Diário Oficial do Estado nº 5916, de 14 de janeiro de 2003.] 
Assim, após receber a portaria de designação para a instauração de SAD, a autoridade sindicante terá cinco dias para baixar sua portaria nos moldes acima mencionados. Conveniente, na própria portaria, arrolar todas as testemunhas que interessem ao esclarecimento dos fatos. Também na portaria a autoridade sindicante marcará audiência prévia do(s) sindicado(s), que deverá(ão) ser notificado(s) da instauração da sindicância, recebendo cópia da portaria inicial para tomar conhecimento inteiramente dos fatos e das faltas em tese praticadas, bem como convocado(s) a comparecer perante a autoridade sindicante.
No dia, horário e local, o sindicado deverá comparecer perante a autoridade sindicante, acompanhado de pessoa responsável por sua defesa técnica, preferencialmente, com conhecimentos jurídicos ou profissional habilitado (advogado). Caso não compareça acompanhado de defensor técnico, a autoridade sindicante deverá nomear um para aquele ato (preferencialmente com conhecimentos jurídicos). Na presença do defensor, o sindicado será ouvido em declarações, devendo ser cientificado de seu direito ao silêncio. Sua oitiva será norteada pelo Código de Processo Penal (do interrogatório do acusado, artigos 185 e seguintes). O defensor do sindicado ou mesmo o sindicado terão direito de fazer reperguntas, ao final dos questionamentos feitos pela autoridade sindicante. Terminado o ato, o sindicado e seu defensor serão notificados do prazo de cinco dias para apresentarem a defesa prévia.
O sindicado, sempre através de seu defensor, no prazo processual de cinco dias, apresentará a defesa prévia, arrolando testemunhas, requerendo diligências pertinentes, juntando documentos, etc.
Caso não apresente a defesa prévia no prazo de cinco dias, o Secretário designado nos autos da SAD fará certidão consignando tal fato e a autoridade sindicante nomeará defensor dativo para essa tarefa (apresentar defesa prévia), devolvendo-lhe os cinco dias de prazo.
Após a apresentação da defesa prévia pelo defensor do sindicado, a autoridade sindicante providenciará o início da instrução, marcando a oitiva de testemunhas, requisitando exames se for o caso, solicitando juntada de documentos, informações, expedindo carta precatória, etc.
Necessário registrar que as testemunhas arroladas pela autoridade sindicante na portaria deverão obrigatoriamente ser ouvidas antes das testemunhas arroladas pela defesa do sindicado. Se forem testemunhas comuns, arroladas pela autoridade sindicante e pela defesa, serão ouvidas normalmente sem problemas quanto à ordem.
A autoridade sindicante sempre comunicará ao sindicado e ao seu defensor a data, horário e local das oitivas das testemunhas, para que o sindicado e seu defensor compareçam ao ato, caso desejarem.
A presença do sindicado durante a oitiva das testemunhas não é obrigatória. Também se a testemunha se mostrar incomodada ou intimidada com a presença do sindicado, este será convidado a se retirar da sala de audiência, devendo permanecer seu defensor, consignando-se tal incidente. A presença de defensor é obrigatória.
Caso o sindicado compareça desacompanhado de seu defensor, para a oitiva das testemunhas, deverá ser nomeado um para o ato (preferencialmente com conhecimentos jurídicos ou advogado). Se nem o sindicado e seu advogado comparecerem para a oitiva das testemunhas, após devidamente comunicados, a autoridade sindicante deverá adotar a medida já indicada, nomeando um defensor para o ato.
Após a oitiva de todas as testemunhas arroladas pela autoridade sindicante (testemunhas de acusação), serão ouvidas as testemunhas arroladas pela defesa do sindicado, devendo ser adotadas todas as cautelas já mencionadas acima (comunicação do sindicado, seu defensor, nomeação de defensor para o ato se for o caso, etc.).
As testemunhas serão sempre ouvidas em assentada, devendo ser compromissadas na forma da lei, se for o caso (nos termos do CPP). Após as perguntas feitas pela autoridade sindicante, deverá ser dada a palavra à defesa para que faça perguntas pertinentes às testemunhas (através da autoridade sindicante). Conveniente consignar na assentada que foi dada a palavra à defesa e as respostas das testemunhas a tais questionamentos ou mesmo a circunstância de que a defesa nada perguntou.
Somente serão ouvidos em declarações nos autos da SAD o próprio sindicado, conforme já mencionado e pessoas que figuram como vítimas das ações faltosas atribuídas aos sindicados. Ex. vítimas de abuso de autoridade, de lesões corporais atribuídas aos policiais sindicados. Serão ouvidas, portanto, em declarações. 
É possível a expedição de carta precatória pela autoridade sindicante para a oitiva das testemunhas arroladas na SAD, devendo ser observado o artigo 209, da LC nº 114/2005[footnoteRef:2]. [2: Art. 209. Residindo a testemunha em município diverso do que tiver sede a comissão processante, sua inquirição poderá ser deprecada ao Delegado de Polícia do local de sua residência, cabendo à comissão processante certificar-se da data e hora da realização da audiência de inquirição para dela cientificar, com cinco dias de antecedência, o processado ou seu defensor.
Parágrafo único. A cartaprecatória conterá síntese da imputação e indicará os esclarecimentos pretendidos.] 
Terminada a instrução da SAD, não havendo outras provas a serem produzidas, a autoridade sindicante abrirá vistas dos autos ao sindicado e a seu defensor, para que no prazo de cinco dias, ofereça defesa final, conforme artigo 187, § 2º da Lei Complementar nº 114/2005[footnoteRef:3] e art. 205 caput do Regulamento das Atividades da Polícia Civil do Estado de mato Grosso do Sul (Anexo à Deliberação – CSPC/MS nº. 12 de 4/12/2002)[footnoteRef:4]. [3: Art. 187. [...]
§ 2° Os prazos de defesa serão de cinco dias contado da notificação e, quando houver mais de um sindicado, o prazo será comum, permanecendo os autos à disposição dos sindicados para consultas ou requerimento de cópia de peças.] [4: Art. 205. Findas as diligências do artigo anterior e concluída a formação de provas o presidente do feito determinará a juntada da certidão funcional do sindicado, notificando-o para no prazo de cinco dias oferecer defesa escrita, querendo.] 
Caso o defensor do sindicado não apresente a defesa final no prazo, a Secretária certificará tal situação e a autoridade sindicante nomeará defensor para o ato, restituindo-lhe o prazo de cinco dias para a tarefa.
Após juntada a defesa final, a autoridade sindicante fará um sucinto relatório do que foi apurado nos autos, especificando cada prova produzida, confrontando-as com a defesa apresentada e as contraprovas, concluindo sobre a existência das irregularidades administrativas cometidas, especificando os dispositivos violados e propondo a pena a ser aplicada, seu arquivamento ou mesmo a instauração de PAD, conforme o § 3º do artigo 187 da LC 114/2008[footnoteRef:5]. [5: § 3°. O relatório final deverá conter sucinto relato do que foi apurado, especificar as provas produzidas, confrontando-as com a defesa apresentada e as contraprovas e concluirá evidenciando seu entendimento e apontando a irregularidade cometida, individualizando a autoria, especificando os dispositivos violados e propondo a pena a ser aplicada, seu arquivamento ou instauração do processo disciplinar.] 
No caso de sugestão de pena, deverão ser considerados os incisos constantes do artigo 165, da LC nº 114/2005. Também a autoridade sindicante deverá se manifestar sobre a existência de circunstâncias agravantes e atenuantes dos artigos 166 e 167, da LC nº 114/2005, devendo fazer as motivações necessárias.
Após a conclusão da sindicância, com o relatório final, a autoridade sindicante deverá remeter os autos à autoridade superior (aquela que determinou a instauração da SAD), devendo mencionar no despacho que determina essa medida, sempre que possível, os motivos do atraso na conclusão da apuração, caso ocorram.
Em qualquer fase da sindicância administrativa, se ficar evidenciado falta funcional em que a pena seja superior a trinta dias de suspensão, os autos serão encaminhados à autoridade competente (que determinou a instauração) propondo a instauração de processo administrativo, indicando os fundamentos fáticos e jurídicos da proposta. Neste caso, seria aconselhável a elaboração de um relatório circunstanciado, no qual devem ser expostos os fatos tidos como graves, bem como os incisos do artigo 156 tidos como violados, bem como a motivação legal quanto a uma virtual pena superior a trinta dias (cf. incisos do artigo 172).
Por vezes, servidores encontram-se afastados para tratamento da própria saúde, conforme Boletins de Inspeção Médica – BIMs. Tal condição, por si só, não impede os policiais de serem notificados sobre a instauração de SAD, de serem ouvidos e de participarem de todos os seus atos. Entretanto, havendo elementos indicativos de que o sindicado esteja com sua capacidade de discernimento diminuída por alguma doença, a autoridade sindicante deverá representar perante a autoridade que mandou instaurar a SAD para que o sindicado seja submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe pelo menos um médico psiquiatra, a fim de que sejam esclarecidos, dentre outros quesitos necessários:
1) se o servidor é portador de insanidade mental e qual é o tipo (qual a espécie de psicopatologia);
2) se a enfermidade mental interfere em sua capacidade de discernimento;
3) se a enfermidade estava presente à época dos fatos ou se foi superveniente;
4) se a enfermidade é curável;
5) se o servidor é ou não clinicamente responsável;
6) se pode assumir responsabilidade decorrentes do procedimento administrativo (sindicância administrativa disciplinar;
Importante salientar que se encontra disponível no site da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso do Sul o Manual de Sindicância Administrativa, elaborado pelo Dr. Matusalém Sotolani, que apresenta vários modelos e instruções mais aprofundadas sobre o tema (Campo Memento, anexo à notícia do dia 4/12/2008)[footnoteRef:6]. [6: http://www.pc.ms.gov.br/index.php?templat=vis&site=160&id_comp=2350&id_reg=50605&voltar=lista&site_reg=160&id_comp_orig=2350] 
7. LEGISLAÇÃO ORGÂNICA
1) Lei Complementar nº 114/1995 (Lei Orgânica da Polícia Civil, com alterações da Lei Complementar nº 290, de 16/12/2021).
2) Lei nº 1.102/1990 (Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Poder Executivo, das Autarquias e das Fundações Públicas do Estado de Mato Grosso do Sul, e dá outras providências).
3) Decreto nº 12.218, de 28/12/2006 (Aprova a estrutura básica e dispõe sobre competência e composição dos cargos da Diretoria-Geral da Polícia Civil e dá outras providências).
4) R-12 – Regulamento das Atividades da Polícia Judiciária do Estado de Mato Grosso do Sul (R-12: Regulamento aprovado pela Deliberação CSPC/MS Nº 12/2002 – Publicado no Diário Oficial do Estado nº 5916, de 14/01/2003).
ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
LEI COMPLEMENTAR Nº 114, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2005.
	
	Aprova a Lei Orgânica da Policia Civil do Estado de Mato Grosso do Sul, dispõe sobre sua organização institucional e as carreiras, os direitos e as obrigações dos seus membros.
Publicada no Diário Oficial nº 6.630, de 20 de dezembro de 2005.
O GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, faz saber que a Assembléia Legislativa decreta e ele sanciona a seguinte Lei Complementar: 
[...]
TÍTULO II
DOS DIREITOS E VANTAGENS
CAPÍTULO I
DO DESENVOLVIMENTO FUNCIONAL
Art. 90. O desenvolvimento funcional dos integrantes das carreiras da Polícia Civil terá como objetivo incentivar e promover o aperfeiçoamento e a capacitação profissional dos policiais civis, orientado pelas seguintes diretrizes:
I - buscar identidade entre o potencial profissional do policial civil e o nível de desempenho esperado;
II - recompensar a competência profissional demonstrada no exercício da função policial, tendo como referência o desempenho, as responsabilidades e a complexidade das atribuições;
III - oferecer condições para o desenvolvimento profissional, mediante:
a) a) promoção anual mediante cumprimento de interstício mínimo, contado em dias de efetivo exercício na classe e/ou na referência, avaliação de desempenho satisfatória e conclusão com êxito de curso obrigatório de aperfeiçoamento funcional, observadas as normas dos arts. 91-A, 91-B, 91-C, 91-D, 91-E, 91-F, 91-G, 91-H e 91-I desta Lei Complementar;
b) apoio à participação em cursos ou programas de capacitação na área de conhecimento, consideradas as atribuições dos cargos das carreiras da Polícia Civil e sua missão institucional.
CAPÍTULO II
DA PROMOÇÃO
Seção I 
Disposições Preliminares
Art. 91-A. A carreira Delegado de Polícia Civil da Polícia Civil é estruturada pelo cargo de provimento efetivo de Delegado de Polícia, composto por classes para fins de promoção funcional, desdobradas das seguintes formas: 
I - Classe Especial; 
II - Primeira Classe;
III - Segunda Classe;
IV - Terceira Classe; 
V - Quarta Classe.
Art. 91-B. A promoção para a carreira Delegado da Polícia Civil consiste na movimentação para a classe imediatamente superior, dentro do respectivo cargo, pelo critério de merecimento e de cumprimento de interstício mínimo na classe, observados os seguintes requisitos:
I- contar com os seguintes interstícios de efetivo exercício na classe em que o Delegado de Polícia Civil estiver posicionado, apurados até 30 de abril do ano em que se realizar a promoção, observadas as normas dos arts. 91-H e 91-I e do inciso II do art. 93 desta Lei Complementar: 
a) da 4º para 3º classe: 2.190 dias;
b) da 3º para 2º classe: 1.825 dias;
c) da 2º para 1º classe:1.825 dias;
d) da 1º para classe especial: 1.825 dias;
II - concluir, com aproveitamento, o curso de aperfeiçoamento exigido;
III - contar com pelo menos 70% (setenta por cento) da média das pontuações obtidas nas avaliações de desempenho;
IV - não possuir em seus assentos funcionais punição disciplinar, exceto se reabilitado mediante procedimento específico previsto nesta Lei Complementar;
V - não possuir condenação criminal, salvo se reabilitado nos termos da lei penal.
Art. 91-C. As carreiras de Agente de Polícia Judiciária, Perito Oficial Forense, Perito Papiloscopista e Agente de Polícia Científica da Polícia Civil são estruturadas respectivamente pelos cargos de provimento efetivo de Agente de Polícia Judiciária, Perito Oficial Forense, Perito Papiloscopista e Agente de Polícia Científica compostos por classes e referências para fins de promoção funcional, desdobradas das seguintes formas:
I - Classe Especial - Referências 6 e 7;
II - Primeira Classe - Referências 4 e 5; 
III - Segunda Classe - Referências 2 e 3;
IV - Terceira Classe - Referência 1.
Art. 91-D. A promoção para as carreiras de Agente de Polícia Judiciária, Perito Oficial Forense, Perito Papiloscopista e Agente de Polícia Científica da Polícia Civil consiste na movimentação entre classes e referências imediatamente superiores, dentro do respectivo cargo e ocorrerá alternadamente pelos critérios desta Lei Complementar e de regulamento expedido por ato do Chefe do Poder Executivo, devendo o servidor atender aos seguintes requisitos:
I - para efeito da promoção por merecimento:
a) estar na 2ª referência da classe, no caso em que esta tenha mais de uma referência;
b) contar com 1.460 (mil, quatrocentos e sessenta) dias de efetivo exercício na 2ª referência da classe em que o policial civil estiver posicionado, apurados até 30 de abril do ano em que se realizar a promoção, observadas as normas dos arts. 91-H e 91-I e do inciso II do art. 93 desta Lei Complementar;
c) concluir, com aproveitamento, o curso de aperfeiçoamento exigido;
d) contar com, pelo menos, 70% (setenta por cento) da média das pontuações obtidas nas avaliações de desempenho;
e) não possuir em seus assentos funcionais punição disciplinar, exceto se reabilitado mediante procedimento específico previsto nesta Lei Complementar;
f) não possuir condenação criminal, salvo se reabilitado nos termos da lei penal;
II - para efeito da promoção com mudança de referência na mesma classe, nas classes com mais de uma referência:
a) contar com 1.095 (mil e noventa e cinco) dias de efetivo exercício na primeira referência da classe em que o policial civil estiver posicionado, apurados até 30 de abril do ano em que se realizar a promoção, observadas as normas dos arts 91-H e 91-I e do inciso II do art. 93 todos desta Lei Complementar;
b) contar com, pelo menos 70% (setenta por cento) da média das pontuações obtidas nas avaliações de desempenho;
c) não possuir em seus assentos funcionais punição disciplinar, exceto se reabilitado mediante procedimento específico previsto nesta Lei Complementar;
d) não possuir condenação criminal, salvo se reabilitado nos termos da lei penal.
Parágrafo único. Para a promoção por merecimento de que trata na alínea “b” do inciso I deste artigo, para a Terceira Classe, o interstício de efetivo exercício será de 1.460 (mil quatrocentos e sessenta) dias na classe.
Art. 91-E. A promoção, para todos os cargos das carreiras da Polícia Civil, será realizada anualmente, iniciando-se o procedimento de abertura no mês de maio, com a divulgação, por edital:
I - do tempo de serviço na classe, para fins de apuração dos interstícios tanto para a promoção por merecimento quanto para a promoção por mudança de referência na mesma classe, conforme as previsões por cargo;
II - do resultado da avaliação de desempenho do Policial Civil apurado pelas Comissões Permanentes de Avaliações;
III - da relação dos habilitados no curso de aperfeiçoamento funcional exigido nas hipóteses de promoção por merecimento.
Art. 91-F. Em face do edital a que se refere o caput do art. 91-E desta Lei Complementar, será cabível recurso no prazo de até 10 (dias), contados da referida publicação, o qual deverá ser julgado no prazo de 10 (dez) dias subsequentes ao término deste prazo recursal, e, na sequência, novo edital será elaborado e divulgado, contendo:
I - as correções de dados funcionais, se for o caso;
II - o tempo de serviço na classe e a pontuação obtida na avaliação de desempenho de todos os policiais civis aptos à promoção.
Art. 91-G. A relação de policiais promovidos deverá ser publicada no prazo de até 90 (noventa) dias, contados da data da veiculação do edital a que se refere o caput do art. 91-E desta Lei Complementar.
Art. 91-H. A promoção produzirá efeitos financeiros a partir da data da publicação do ato, observado o prazo máximo de que trata o art. 91-G desta Lei Complementar, sendo que o descumprimento deste implicará retroatividade dos efeitos financeiros para o primeiro dia subsequente ao seu término.
Art. 91-I. Os dias de efetivo exercício na classe e/ou referência em que o policial civil se encontra posicionado, posteriores a 30 de abril de cada ano, serão considerados excedentes e computados para a contagem do interstício da próxima promoção, como se cumpridos na classe subsequente.
Art. 92. Ficam instituídas as Comissões Permanentes de Avaliação para cada carreira da Polícia Civil, as quais serão responsáveis pela condução dos procedimentos de avaliação de desempenho e de elaboração das listas dos policiais aptos à promoção.
§ 1º As comissões serão constituídas por ato do Presidente do Conselho Superior da Polícia Civil, integradas por 3 (três) ocupantes de cargos das carreiras da Polícia Civil, os quais serão pertencentes à carreira objeto da representação, posicionados na classe especial e em efetivo exercício, escolhidos por voto de seus pares para mandato de 2 (dois) anos, permitida a recondução.
Art. 93. Serão considerados como termo inicial para a apuração dos interstícios para as promoções a que se referem o inciso I do art. 91-B, o inciso I, alínea “a”, e o inciso II, alínea “a”, do art. 91-D, desta Lei Complementar:
I - a data do início do exercício no cargo efetivo, em razão de aprovação em concurso público;
II - o primeiro dia subsequente àquele que encerrou o cumprimento do interstício para a promoção anterior, independentemente da data da publicação da promoção;
III - o tempo acumulado anteriormente na respectiva classe e/ou referência, nos casos específicos de reversão ou de recondução.
§ 1º Na apuração dos interstícios de que trata o caput deste artigo serão excluídos(as), se ocorridos no referido liame temporal:
I - os dias de afastamento do cargo não considerados como de efetivo exercício;
II - o período de cedência para órgãos fora do âmbito da segurança pública, nas esferas municipal, estadual e federal, exceto para cargos privativos de policial civil, nos termos da legislação vigente;
III - o período de afastamento em decorrência de sanções administrativas não convertidas em multa;
IV - o período de afastamento por força do cumprimento de medidas cautelares administrativas ou criminais;
V - as faltas não abonadas;
VI - os dias de licença para tratamento da própria saúde ou de pessoa da família que excederem a 180 (cento e oitenta) dias, ininterruptos ou alternados, excetuadas as licenças às gestantes, decorrentes de acidente de trabalho, em razão do exercício da atividade policial, ainda que horário de folga, ou em virtude de doença profissional;
VII - o período da licença, a qualquer título, sem remuneração;
VIII - o período de cumprimento de condenação criminal transitadaem julgado, desde que a decisão judicial seja impeditiva ao exercício das funções do cargo.
§ 2º Na hipótese do inciso IV deste artigo, se o policial for absolvido ao final, computa-se o respectivo período, sem qualquer prejuízo, com efeitos a partir da data da absolvição, sem direito à promoção retroativa.
§ 3º Nos casos de condenações administrativas disciplinares ou criminais, julgadas definitivamente, o interstício voltará a contar a partir da data em que o policial civil for declarado reabilitado.
Art. 94. A avaliação de desempenho de que tratam o inciso III do caput do art. 91-B, a alínea “d” do inciso I e a alínea “b” do inciso II do caput do art. 91-D desta Lei Complementar, será realizada nos termos estabelecidos em regulamento editado pelo Poder Executivo Estadual, observadas as disposições desta Lei Complementar.
§ 1º O policial civil será avaliado pelo titular da unidade policial a que estiver subordinado o maior período de tempo, considerados os interstícios a que se referem o inciso I do caput do art. 91-B; a alínea “a” do inciso I e a alínea “a” do inciso II do caput do art.91-D desta Lei Complementar, o qual, a fim de subsidiar sua avaliação, poderá valer-se de consulta às demais chefias imediatas a que esteve subordinado o servidor.
§ 2º O avaliador dará ciência ao avaliado, facultando-lhe prazo de 5 (cinco) dias, contados da cientificação, para interpor pedido de reconsideração e, em caso de não acolhimento deste, poderá apresentar recurso, em igual prazo, à Comissão Permanente de Avaliação que decidirá em até 10 (dez) dias úteis, contados do recebimento do recurso.
§ 3º Da decisão do recurso interposto perante a Comissão Permanente de Avaliação caberá recurso ao Conselho Superior da Polícia Civil, que terá 10 (dez) dias úteis para julgá-lo em decisão irrecorrível.
Seção II
Da Promoção por Merecimento
Art. 95. O curso de aperfeiçoamento a que se referem o inciso II do caput do art. 91-B e a alínea “c” do inciso I do art. 91-D desta Lei Complementar, cujo efeito será o de habilitar o candidato à promoção, deverá guardar correlação com as atribuições dos cargos das carreiras da Polícia Civil, bem como com sua missão institucional, dependendo de prévia aprovação pelo Conselho de Ensino da Academia de Polícia Civil, que fixará os critérios para a sua execução.
§ 1º O curso de aperfeiçoamento será ministrado, anualmente, pela Academia de Polícia Civil, pela Fundação Escola de Governo de Mato Grosso do Sul ou por instituições de ensino superior, mediante convênio aprovado pelo Conselho de Ensino da Academia de Polícia Civil.
§ 2º O curso a que se refere o caput deste artigo será válido para a classe específica a qual se destina, não podendo ser aproveitado para promoção referente à classe subsequente.
§ 3º Nas promoções para a segunda e para a primeira classe, o curso de aperfeiçoamento deverá ser realizado em nível de atualização e de especialização, segundo os critérios estabelecidos pelo Conselho de Ensino da Academia de Polícia Civil.
§ 4º Nas promoções para a classe especial, o curso a que se refere o caput deste artigo será previamente estabelecido em ato específico pelo Conselho de Ensino da Academia de Polícia Civil, observado o caput deste artigo.
§ 5º Findo o curso, a Academia de Polícia Civil publicará a lista dos servidores que o concluíram com aproveitamento.
§ 6º Os cursos já realizados até a publicação desta Lei Complementar serão válidos para efeito de habilitar o candidato à promoção.
Art. 96. A avaliação de desempenho a que se referem o inciso III do caput do art. 91-B, a alínea “d” do inciso I e a alínea “b” do inciso II do caput do art. 91-D desta Lei Complementar tem por objetivo à aferição do rendimento do policial civil no exercício de suas atribuições e está condicionada ao preenchimento dos seguintes requisitos, considerados indispensáveis ao exercício de suas funções:
I - qualidade de trabalho;
II - produtividade no trabalho;
III - iniciativa e presteza;
IV - disciplina e zelo funcional;
V - urbanidade no tratamento,
VI - assiduidade e pontualidade;
VII - aproveitamento em programas de capacitação e cultura profissional;
VIII - chefia e liderança.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, considera-se:
I - qualidade de trabalho: a demonstração do grau de exatidão, precisão e apresentação, quando possível, mediante apreciação de amostras, do trabalho executado, bem como pela capacidade demonstrada pelo policial civil no desempenho das atribuições do seu cargo;
II - produtividade no trabalho: a comprovação, a partir da comparação da produção desejada com o trabalho realizado que será aferido, sempre que possível, com base em relatórios estatísticos de desempenho quantificado;
III - iniciativa: capacidade de agir, de apresentar sugestões ou idéias visando ao aperfeiçoamento do serviço, assim como o desempenho das atribuições e das tarefas que seja incumbido, sem supervisão permanente de outrem;
IV - presteza: qualidade demonstrada pelo policial civil de cooperar com a chefia, com os colegas e público, na realização dos trabalhos afetos ao organismo policial com a devida prontidão na execução dos trabalhos;
V - urbanidade no tratamento: conduta pessoal no relacionamento com o público, colegas e superiores, com comportamento ético, educação e obediência ao conjunto dos princípios que orientam a conduta do policial civil;
VI - disciplina: observância dos preceitos e normas, com compreensão dos deveres e responsabilidade e seriedade com que o policial civil desempenha suas atribuições;
VII - zelo funcional: execução de suas atividades com cuidado, dedicação e compreensão dos deveres e responsabilidade;
VIII - assiduidade: aferida pelo número de ausências ao serviço;
IX - pontualidade: aferida pelo número de entradas em serviço atrasadas, saídas antecipadas ou ausências durante o expediente de trabalho;
X - aproveitamento em programas de capacitação e cultura profissional: comprovação da capacidade para melhorar o desempenho das atribuições normais do cargo e para a realização de tarefas superiores, adquiridas por intermédio de estudos, trabalhos específicos e a participação em cursos regulares relacionados com atribuições do cargo;
XI - chefia e liderança, o exercício de funções de direção, coordenação, supervisão e orientação, bem como a participação, como representante da categoria funcional, em órgãos de deliberação coletiva ou eventos técnicos de interesse da segurança pública.
§ 2º Para cada um dos requisitos relacionados nos incisos I a VIII do caput deste artigo serão atribuídos graus de avaliação, os quais serão convertidos em pontos, visando a apurar o desempenho dos policiais civis, nos termos do regulamento editado pelo Governador do Estado, mediante proposição do Conselho Superior da Polícia Civil.
§ 3º O policial civil que, após 5 (cinco) anos consecutivos de avaliação de desempenho, não atingir 70% (setenta por cento) da pontuação será submetido à avaliação especial realizada pela Comissão Permanente de Avaliação, a qual elaborará plano de capacitação e poderá apresentar outras medidas consideradas necessárias à melhoria do desempenho.
Art. 97. As Comissões Permanentes de Avaliação, além dos conceitos lançados na Ficha Individual de Desempenho pelas chefias imediatas, utilizará para elaboração das listas de promoção os seguintes parâmetros:
I - conduta na vida pública e particular, que reflitam no exercício da função policial ou na imagem da Polícia Civil;
II - eficiência no desempenho das funções inerentes ao cargo ocupado;
III - atuação destacada na solução de situações ou conflitos de relevância para o restabelecimento da ordem pública;
IV - contribuição à organização e à melhoria dos serviços de natureza policial;
V - aprimoramento de seus conhecimentos, por meio de cursos, publicação de livros e artigos relacionados com a atividade policial, jurídica e ou científica;
VI - elogios, medalhas de mérito ou outras condecorações por desempenho destacado no exercício da função pública, de autoridades da administração pública ou de entidades da organização civil;

Outros materiais