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Autora: Profa. Vera Lúcia de Lemos Carvalho Colaboradores: Prof. Cláudio Ditticio Profa. Rachel Niza Brandão Recursos Humanos na Administração Pública GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Professora conteudista: Vera Lúcia de Lemos Carvalho Doutoranda em Educação, pela FEUSP (2011), é mestre em Educação pela Universidade de São Paulo – FEUSP (2006) – em Didáticas, Teorias do Ensino e Práticas Pedagógicas e defendeu a dissertação sobre Avaliação da Aprendizagem no Contexto da Educação Corporativa. Possui especialização em Estudos Históricos Políticos da América Latina na Contemporaneidade, pela FFLCH-USP (2003). Também é especialista em Sociologia Econômica (FFLCH-USP, 2002) e em Mercadologia (FESP – UPE, 1993). Além disso, possui especialização em Gestão de Pessoas pela FESP – UPE (1992) e é bacharel em Comunicação – habilitação em Relações Públicas, pela Escola Superior de Relações Públicas de Pernambuco (1983). Atuou como professora na Escola Superior de Relações Públicas de Pernambuco (1983–1987) e como professora na Universidade São Camilo, no curso de Administração Hospitalar. No percurso da vida acadêmica, participou de eventos, como congressos internacionais e nacionais, com apresentação de trabalhos e comunicações. Possui experiência prática em organizações corporativas de grande porte – Grupo Itausa Divisão Itautec Philco – na área de comunicação, gestão de pessoas e marketing; foi gerente de marketing, abrangendo as regiões Norte e Nordeste, especificamente com apoio às revendas no tocante à propaganda de vendas e publicidade institucional, onde supervisionava uma equipe dessas regiões e dava suporte ao treinamento de vendedores, promotores e demonstradores, bem como à análise e alocação de verbas cooperada (marketing cooperado); na empresa Springer Carrier do Brasil promoveu a ligação organizacional no trinômio: fabricante-revendas-rede autorizadas. É consultora em cursos in company. É professora universitária na UNIP desde 2001, em diversas disciplinas de vários cursos (Administração, Propaganda e Marketing, Jornalismo, Ciências Contábeis, Psicologia, Enfermagem, Arquitetura). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331r Carvalho, Vera Lúcia de Lemos. Recursos humanos na administração pública. / Vera Lúcia de Lemos Carvalho. – São Paulo: Editora Sol, 2014. 152 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-102/14, ISSN 1517-9230. 1. Recursos humanos. 2. Fundamentos da administração. 3. Estruturas organizacionais. I. Título. CDU 658.3 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Cristina Z. Fraracio Virgínia Billato GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Sumário Recursos Humanos na Administração Pública APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................9 INTRODUçãO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAçãO DE RECURSOS HUMANOS .............................................. 13 1.1 Um breve retrospecto histórico da administração de recursos humanos ..................... 13 1.2 As organizações e as pessoas – conflitos e/ou comunhão de objetivos?...................... 17 1.3 Conceitos de público. Formação de público – a lógica da determinação de público na atualidade ................................................................................................................................ 18 2 COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL (CO) – UMA TEIA DE VáRIAS CIêNCIAS COMPORTAMENTAIS .......................................................................................................................................... 22 2.1 Níveis de abordagem do comportamento organizacional – os papéis organizacionais ............................................................................................................................................. 27 2.2 Percepção do ambiente organizacional – organizações são sistemas abertos? Características sistêmica e contingencial das organizações modernas ................................ 29 2.3 O que é uma organização contingencial? – Teoria da Contingência ............................. 33 2.4 As organizações e a inegável contribuição da administração ........................................... 35 Unidade II 3 ADMINISTRAçãO PÚBLICA NO BRASIL ................................................................................................. 39 3.1 Um “olhar histórico” e uma “visão atual” ................................................................................... 39 3.2 Liderança nas organizações – modernos processos teóricos de liderança ................... 47 3.3 Relações de poder nas organizações – breve análise sobre essas relações nas organizações públicas ................................................................................................................................ 55 3.4 O gestor público – diferenças entre sistemas de carreiras e sistemas de emprego ......................................................................................................................................................... 61 3.5 O componente ético nas relações de trabalho - possíveis tratados de coesão social .................................................................................................................................................. 64 4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS E VISãO CONTEMPORÂNEA DOS CONCEITOS EM GESTãO DE RECURSOS HUMANOS ............................................................................................................ 68 4.1 Estruturas organizacionais: conceitos e tipologias ................................................................ 68 4.2 Visão contemporânea de conceitos em gestão de recursos humanos .......................... 75 4.3 Para entender políticas – seis políticas ou subsistemas com suas devidas tarefas – de recursos humanos ............................................................................................................. 77 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade III 5 POLíTICA E TÉCNICA NA GESTãO DE PESSOAS NO SETOR PÚBLICO:A DICOTOMIA APARENTE .............................................................................................................................................................. 86 5.1 Planejamento estratégico e gestão de pessoas no setor público – art. 165 da Constituição Federal e a LC nº 101, de 2000 ................................................................................... 89 5.2 Aspectos preliminares sobre: geração de despesa; art.16 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC nº 101). Breve comentário sobre a Declaração de Adequação e Compatibilidade (geração de despesa; art.16 da Lei de Responsabilidade Fiscal) .......................................................................................................................... 91 5.3 Objetivos, meios tangenciais das organizações públicas e privadas e dicotomia dos objetivos fins. Padrões normativos ou ingerência política? ............................................... 92 6 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMO PROJETO POLíTICO ............................................................. 92 6.1 Decisões sobre adequação de estrutura organizacional no cenário das organizações públicas e privadas ......................................................................................................... 94 6.2 A “entropia” no setor público .......................................................................................................... 95 6.3 A necessidade de profissionalizar o servidor público ............................................................ 96 6.4 Inserção de princípios na profissionalização do servidor público .................................... 98 Unidade IV 7 REGIME JURíDICO ÚNICO E DIREITOS E VANTAGENS DOS SERVIDORES PÚBLICOS .........106 7.1 Regime Jurídico Único (Lei nº 8.112/90) ...................................................................................106 7.1.1 Uma breve introdução ao Regime Jurídico Único ..................................................................106 7.1.2 Regime Estatutário .............................................................................................................................109 7.1.3 Regime Trabalhista ...............................................................................................................................109 7.1.4 Regime Especial ..................................................................................................................................... 110 7.1.5 Regime Jurídico Único (RJU) .......................................................................................................... 110 7.1.6 Conceito de servidor e de cargo público ......................................................................................111 7.1.7 Serviços públicos essenciais no Brasil .......................................................................................... 112 7.2 Direitos e vantagens dos servidores públicos .........................................................................113 7.2.1 Provimento ..............................................................................................................................................113 7.2.2 Nomeação ................................................................................................................................................114 7.2.3 Posse do funcionário público ...........................................................................................................115 7.2.4 Estágio probatório ................................................................................................................................ 116 7.2.5 Readaptação ...........................................................................................................................................116 7.2.6 Reversão ..................................................................................................................................................116 7.2.7 Reintegração ......................................................................................................................................... 117 7.2.8 Recondução ............................................................................................................................................117 7.2.9 Aproveitamento .....................................................................................................................................117 7.2.10 Promoção .............................................................................................................................................118 7.2.11 Estabilidade ...........................................................................................................................................118 7.2.12 Vacância .................................................................................................................................................119 7.2.13 Remoção .............................................................................................................................................. 120 7.2.14 Redistribuição .................................................................................................................................... 120 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 7.2.15 Substituição ......................................................................................................................................... 120 7.2.16 Remuneração e vencimento .........................................................................................................121 7.2.17 Indenizações .........................................................................................................................................121 7.2.18 Gratificações e adicionais .............................................................................................................. 122 7.2.19 Licenças concedidas aos servidores públicos ......................................................................... 124 7.2.20 Afastamentos concedidos aos servidores públicos ............................................................. 126 7.2.21 Direitos de petição ............................................................................................................................ 127 8 REGIME DISCIPLINAR E SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR ....................................................127 8.1 Regime disciplinar ..............................................................................................................................127 8.1.1 Infrações e punições ......................................................................................................................... 127 8.1.2 Acumulação ilegal de cargos ......................................................................................................... 132 8.1.3 Processo administrativo disciplinar .............................................................................................. 132 8.2 Seguridade social do servidor ......................................................................................................135 9 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 APResentAção Este livro-texto tem o compromisso de apresentar os fundamentos e desdobramentos de recursos humanos na administração pública. Para tanto, faz-se necessário iniciá-lo em partes interligadas e, ao mesmo tempo, independes, de acordo com a dinâmica de cada unidade que se perfazem um total de quatro unidades. Gradativamente, temas imprescindíveis serão abordados em tópicos e subtópicos. Dessa forma, a proposta metodológica alia-se às características do curso, e a metodologia de ensino adotada permitea integração entre a apresentação e discussão dos fundamentos teóricos e a vivência prática. Este livro-texto se compromete a ofertar informações a respeito da condução das atividades que irão colaborar para que os pressupostos assumidos pelo curso sejam atendidos. A nossa participação ativa e a criação de ambientes de aprendizagem permearão o curso, e a motivação do aluno (a) será imprescindível para a nossa parceria nessa aprendizagem significativa, que privilegia a autonomia e a dedicação ao estudo como forma de condução para além do tempo e do espaço, com apoio de equipamentos multimídia. O acompanhamento contínuo voltado para a aprendizagem com autonomia, respeitando a diversidade e as mudanças nas situações reais de trabalho nesses estudos, são estratégias pedagógicas fundamentais para o desenvolvimento do curso, em especial, a criação de nossa conexão proativa e constante com esta disciplina, a qual temos o prazer em apresentar neste momento. Para Recursos Humanos na Administração Pública é relevante conhecer, antes de tudo, a dinâmica das organizações e seu comportamento organizacional. Para tanto, a presença de informações que lhe proporcionem um conhecimento por meio de um retrospecto histórico sobre as estruturas das organizações e suas variáveis, com vistas às principais abordagens teóricas, tanto no setor público como no setor privado, abrirá portas para a compreensão de desdobramentos na forma de lidar com as pessoas na administração dessas organizações e acrescentará considerações sobre o componente “ético” nessas relações. A largada está estabelecida! Será possível refletir sobre a visão contemporânea de conceitos em gestão de recursos humanos e suas políticas ou subsistemas. Além disso, discutiremos sobre a adequação dos subsistemas também denominados de políticas de ARH – sigla utilizada para administração de recursos humanos – e sua aplicação no setor público. Para finalizar nossos objetivos, apresentaremos considerações paralelas ao planejamento estratégico como projeto político (Art.165 da Constituição Federal e a LC nº 101/2000), uma forma breve de entender a introdução ao Regime Jurídico Único (Lei nº 8.112/90) e disposições preliminares (regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e fundações públicas federais). Acreditamos que desse modo desenvolveremos a capacidade analítica, estratégica e de comunicação interpessoal para a formação profissional ou expansão da formação que o aluno(a) já tenha e deseja 10 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 aprimorar, em relação ao entendimento do funcionamento de gestão de pessoas nas organizações públicas. O estudante também será capaz de compreender melhor como os servidores se inserem no contexto político em suas atividades e, principalmente, quais sãos as possibilidades futuras de disseminação de novas abordagens e experiências, despertando a busca do exercício da cidadania. IntRodução Muitos de nós sentimos um clima de incerteza sobre o teor das informações advindas de um noticiário veiculado na televisão, jornais ou revistas periódicas. A questão aqui se debruça sobre a credibilidade e segurança dessas informações, porque, de uma forma ou de outra, tácita ou explicitamente, contribuem positiva ou negativamente nas decisões em que tomamos em nossas vidas e que afetam o seu entorno. Somos gregários, porque vivemos em sociedade, em organizações, que por sua vez são formadas por pessoas, razão primeira de sua existência. Para onde vamos? Para onde vão as ações e planejamentos que podem carregar o destino de pessoas numa organização, seja qual for o setor em que se insere? Administrar pessoas, gerir talentos, desenvolver pessoas, remunerá-las, monitorá-las e, ao mesmo tempo, uma ambiguidade: a de reduzir custos advindos dessas empreitadas em meio a uma competição desenfreada. Como se nota, a indagação anterior tem um forte sentido. O que fazer com a área de RH (recursos humanos) frente à tamanha mudança e tanta pressão das circunstâncias externas? É importante, antes de tudo, situar a relevância da administração de recursos humanos para a organização pública e privada para a sociedade atual, advinda de processos históricos, e discernir suas principais teorias explicativas. Entender as variações provenientes da história nos fornece fôlego para compreender o hoje, porque já nos foi dito, ao menos pelos historiadores, sociólogos e antropólogos, que cada época deveria comportar o que é necessário ao seu progresso. A inércia é uma falha da criatura humana. É como se o progresso batesse à porta sempre do vizinho enquanto alguém assiste a cena debruçado na janela da espera. A época de desperdício, de acomodação já se foi, e hoje pessoas e organizações estão preocupadas em manter e desenvolver apenas e exclusivamente aqueles aspectos que contribuem direta ou indiretamente para o seu negócio e para o sucesso de suas operações. E qual a resposta para a pergunta inicial? A área da RH deve ser mantida? Ou estará fadada ao fracasso? A resposta será negativa em algumas situações, por exemplo, se essa área não traduz nenhuma contribuição ao negócio da organização (empresa) ou, pior, se não favorece o ajustamento às demandas do novo ambiente, da nova ordem mundial. A resposta será positiva se houver a percepção de que ela é indispensável para o ajustamento da empresa a um mundo mutável e competitivo. Ela se torna imprescindível quando reduz as diferenças a respeito dos valores, da missão, da visão e dos objetivos 11 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 da organização e de seus membros, e funciona como elemento que esclarece os valores e princípios da empresa, cria uma nova cultura de comprometimento e de motivação das pessoas, e as torna empreendedoras e criadoras de novos patamares de qualidade. Muda-se uma empresa a partir da criação de uma nova mentalidade e estado de espírito, que deve ter o seu início na cúpula da organização. É nesse espírito de ação que a área de RH consegue prestar insubstituíveis serviços, trazendo uma nova cultura, criando um clima de participação e de realização da missão e visão da organização para melhor servir ao cliente, ao público, tanto interno como externo, e, no caso de organizações estatais, à população, aos seus usuários e cidadãos que colaboram de forma direta e indireta na busca de qualidade em todos os âmbitos desses serviços dos quais necessitam e pelos quais esperam. É urgente saber reconhecer as mudanças organizacionais e sociais das relações de trabalho, em especial nesta disciplina, que estamos encorajados ao estudo, com a ênfase no setor público. As relações de recursos humanos e outras disciplinas correlatas (interdisciplinaridade e transversalidade) do programa do curso proposto nos encorajarão a (re)conhecer aspectos peculiares: macroabordagem e microabordagem em termos de estudo de pessoas e grupos e suas interações nas estruturas organizacionais. Como consequência, teremos o entendimento sobre as organizações como sistemas abertos: as diversidades sociais, os fatores que influenciam as decisões éticas, papéis e socialização. Entraremos em contato direto com a teoria e a observação na prática de nosso dia a dia do “espaço público” e o recurso humano. Perceberemos o que é qualidade do trabalho e segurança das pessoas. Trataremos as relações de trabalho do setor de atuação do aparelho do Estado e os princípios nessas relações. Discutiremos “liderança e relações de poder nas organizações públicas e privadas”. Também distinguiremos os subsistemas ou políticas de recursos humanos e suas tarefas pertinentes: planejamento de recursos humanos, provisão, desenvolvimento– treinamento, formação, educação continuada; cadastro, carreiras cargos salários e benefícios – administração do desempenho e profissionalização do servidor público. Teremos uma base de conhecimento necessária sobre o Regime Jurídico Único (introdução à Lei nº 8.112/90) e seu conjunto de direitos e responsabilidades trabalhistas a que se subordinam os servidores públicos civis federais, e também sobre a gestão de recursos humanos na administração pública: seus efeitos sobre o exercício da cidadania no contexto brasileiro. Além disso, construiremos um embasamento teórico sobre as doutrinas administrativas ao longo do tempo até a contemporaneidade. Boa leitura. Excelente estudo. Estaremos sempre conectados! 13 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Unidade I 1 FundAMentos dA AdMInIstRAção de ReCuRsos HuMAnos saiba mais Recomendamos a leitura de: MARRAS, J. P. Gestão estratégicas de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, 2010. Esta obra tem como propósito a abordagem da área de Recursos Humanos. Possui textos que possibilita a reflexão e estimula a valorização do ser humano no ambiente de trabalho. 1.1 um breve retrospecto histórico da administração de recursos humanos O objetivo desta primeira parte é denotar o campo da administração relacionada com as pessoas, um estudo breve sobre abordagens de um campo relativamente novo dentro do contexto da administração, pois foi na Revolução Industrial que se evidenciam as primeiras mudanças no modo de administrar uma organização, bem como a visão sobre o trabalhador. Sabemos que as mudanças sempre existiram e irão existir em todos os eixos e desmembramentos da ciência da Administração. O fato é que na atualidade essas mudanças estão velozes, com um volume e rapidez atestados por fatores que presenciamos: mudanças econômicas, tecnológicas, culturais, legais, sociais, demográficas e ecológicas, que atuam de forma nem sempre sincronizadas, mas inegavelmente sistêmicas, num campo de reação e atração constante. Espera-se que as organizações, em seu amplo contexto, cresçam ou, no mínimo, sobrevivam. Como exemplos do amplo contexto das organizações, estão inseridas as indústrias, o comércio, os bancos, as universidades, os hospitais, as prestadoras de serviços, os órgãos públicos, dentre outras organizações de várias naturezas, tamanhos e propriedades. O que temos é a convicção de que tudo ou quase tudo é produzido por meio de organizações. Imaginemos a época da Revolução Industrial. Quantos desdobramentos ocorreram e que marcaram pontualmente o modo de lidar com as pessoas nas organizações! Pois bem, foi a partir daí que tudo começou, com o uso de máquinas em grande escala, implantado na Inglaterra a partir de 1760, 14 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I aproximadamente. Houve profunda influência sobre a economia mundial, ocasionando significativas mudanças sociais, políticas e culturais para o homem contemporâneo. A era do progresso industrial possibilitou a transformação de todos os setores da vida humana. O crescimento populacional e o acelerado êxodo rural determinaram o aparecimento das grandes cidades industriais: Londres e Paris, que em 1880 já contavam, respectivamente, com 4 e 3 milhões de habitantes. Esses grandes aglomerados humanos originaram as mais variadas transformações urbanas: abastecimento de água, canalização de esgotos, criação e fornecimento de mercadorias, modernização de estradas, fornecimento de iluminação, fundação de escolas, construção de habitações etc. No aspecto social, estabeleceu-se um distanciamento cada vez maior entre o operariado (ou proletariado), que vivia em condições de miséria, e os capitalistas. Separavam-se em quase tudo: no acesso à modernidade, nas condições de habitação e mesmo nos locais de trabalho – nas grandes empresas fabris e comerciais, os proprietários já não estavam em contato direto com os operários e delegavam às pessoas de sua confiança as funções de organizar e principalmente supervisionar o trabalho, ou seja, os trabalhadores. O mercado de trabalho, a princípio, absorvia todos os braços disponíveis; as jornadas de trabalho oscilavam entre 14 e 18 horas diárias. Os salários, já insuficientes, tendiam a diminuir diante do grande número de pessoas em busca de emprego e da redução dos preços de venda dos produtos provocada pela necessidade de competição. Além disso, as inovações tecnológicas, muitas vezes, substituíam inúmeros trabalhadores antes necessários à produção. O aumento das horas de trabalho, os baixos salários e o desemprego levavam às frequentes greves e revoltas. Esses conflitos entre operários e patrões geraram problemas de caráter social e político, os quais, em seu conjunto, convencionou-se chamar de questão social. Os trabalhadores organizaram-se, então, em sindicatos para melhor defenderem os seus interesses: salários dignos, redução da jornada de trabalho, melhores condições de assistência e segurança social etc. Diante desse quadro surgiram novas doutrinas sociais, pregando a criação de uma nova sociedade, livre da miséria e da exploração reinante. Lembrete Esse processo de alteração estrutural da economia, que marcou o início da Idade Contemporânea, chamamos de Revolução Industrial. Nesse contexto histórico, os trabalhadores decidiram organizar-se em associações que lutavam pela melhoria das suas condições de vida e de trabalho. Nasceram, assim, os sindicatos que, no início, não eram reconhecidos oficialmente, e sim reprimidos de forma violenta. 15 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Muito depois, diante das suas vitórias, acabaram conquistando o reconhecimento oficial de legítimos representantes da classe trabalhadora. Por meio de lutas, conseguiram alcançar seus objetivos quanto à elevação dos salários, limitação das horas de trabalho, garantias aos trabalhadores acidentados, restrição de idade e número de horas de trabalho, dentre outras conquistas. A segunda fase da Revolução Industrial deu-se com o desenvolvimento efetivo da atividade industrial em diversas partes do mundo. Os proprietários dos meios de produção e que geravam capitais começaram a direcionar recursos financeiros para o desvendamento e criação de novas tecnologias, como procedimentos produtivos, máquinas, equipamentos, entre outros, todos com intuito de dinamizar e acelerar a produtividade e automaticamente os seus percentuais de lucro. Desse modo, grande parte dos avanços tecnológicos foi derivada de pesquisas científicas que, realizadas, promoviam o aperfeiçoamento industrial. Segundo Chiavenato (2012), a maior característica desse período de intenso fenômeno da industrialização foi o surgimento de países desenvolvidos ou industrializados. O século XX trouxe grandes mudanças e transformações que influenciaram as organizações, e se podem antever mudanças atuais, quando se estuda o desdobramento no século XX chamado de três eras organizacionais distintas: • A Era da Industrialização Clássica. • A Era da Industrialização Neoclássica. • A Era da Informação. Historicamente, após a Revolução Industrial, ocorreu um grande período de crises e de prosperidade. Na era da industrialização clássica houve imperiosamente a adoção de estrutura organizacional burocrática, caracterizada pelo formato piramidal e centralizador. A eficiência era a preocupação básica e, para alcançá-la, eram necessárias medidas de padronização e simplificação, bem como especializaçãoda mão de obra para permitir escalas de produção maiores a custos menores. O modelo organizacional era um desenho típico da lógica do sistema fechado, citado por Chiavenato (2012) como ‘desenho mecanístico’, e, dentro dessa concepção, a administração das pessoas recebeu a denominação de relações industriais. Era da Industrialização Neoclássica (1950 -1990) – se dá após a Segunda Guerra Mundial. Eram crescentes e necessárias as mudanças para a reconstrução do mundo, tudo deveria ser levantado e ampliado do local para o regional e do regional para o internacional. Transações comerciais começam a tomar dimensões nos quatro cantos do globo, onde a imprevisibilidade acentuava a competição em toda a parte. Inovações surgem e o modelo anterior burocrático e tradicional, bem como a centralização das organizações, já não respondiam ao grande crescimento. Segundo Chiavenato (2012), as organizações tentaram novos modelos estruturais para adequar inovações às mutáveis condições externas. Surge a abordagem matricial, que parecia adequar-se a essa nova configuração: inovação e mudanças. Contudo, apesar de essa nova configuração promover 16 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I uma melhoria no desenho fabril, não foi o suficiente para remover a densa e rígida estrutura funcional, herança da administração clássica. Foram necessárias novas mudanças, como a fragmentação da organização em unidades estratégicas, favorecendo a mobilidade que se necessitava, decompondo a organização de forma a aproximá-la do mercado e do cliente. Lentamente, mas necessariamente, a cultura organizacional ganhou novos contornos: de tradicional, passa a privilegiar a mudança de hábitos e atitudes, operando na forma de pensar e agir na dinâmica das organizações. A denominação da área de pessoas de uma empresa foi alterada para administração de recursos humanos, proporcionando uma mudança no comportamento das organizações e das pessoas. saiba mais Indicamos o filme: TEMPOS Modernos. Dir. Charles Chaplin. EUA: Cinemax, 1936. 89 minutos. O filme faz críticas ao sistema capitalista e à forma como as pessoas eram tratadas no ambiente de trabalho. Era da Informação – cada vez mais a competitividade aumenta. Em todas as ciências o avanço é rápido com a tecnologia da informação e das comunicações. Uma revolução digital é estampada nas organizações e cada vez mais são eliminadas as fronteiras políticas e organizacionais. Há notadamente um valor baseado no conhecimento, na inovação e na informação, devido à necessidade de preservar e reutilizar os recursos naturais. Na Era da Informação, Chiavenato afirma: “[...] o emprego passou a migrar do setor industrial para o setor de serviços, e o trabalho manual, substituído pelo trabalho mental, indicando o caminho para uma era da pós-industrialização baseada no conhecimento e no terciário” (p. 30, 1999). A fibra ótica, a aeroespacial, a automobilística, o surgimento dos chips, o reequilíbrio geopolítico, o surgimento de formas inéditas de organização empresarial são sinais irreversíveis dessa era. O seu desenho é orgânico, ou seja, os aspectos organizacionais são dinâmicos e existem constantes realimentações nos ambientes organizacionais (ambiente interno e ambiente externo). Também novas formas de organização empresarial se voltam para a importância comercial nos seus tratados locais, regionais, inter-regionais, e internacionais, bem como a necessidade de adequação e promoção de políticas e de cunho social, do meio ambiente e a crescente preocupação ecológica. 17 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Chiavenato (1999, p. 31) evidencia que “[...] as pessoas passam a ser a principal base da nova organização, a antiga administração de recursos humanos – ARH – cedeu lugar a uma nova abordagem: a gestão de pessoas”. Nessa nova concepção, pessoas são abordadas como seres dotados de inteligência, aspirações, percepções próprias e singulares, personalidade, conhecimentos, habilidades e destrezas e são percebidas como parceiros da organização. 1.2 As organizações e as pessoas – conflitos e/ou comunhão de objetivos? É inegável que qualquer gestor de pessoas, um gerente, um líder, um supervisor, que mantém grupos – o que se chama de equipe de trabalho – depende fortemente da contribuição das pessoas inseridas no seu processo e, consequentemente, no processo organizacional em todo contexto e formação. O que chama a atenção é que a base da gestão de pessoas está no desempenho e na forma como está organizada. Os funcionários são estimulados, capacitados e se mantêm em ambiente de trabalho e clima organizacionais adequados. Isto reduz conflitos. Outra questão que minimiza conflitos é a importância que a organização dispensa aos grupos e a cada elemento do grupo. Estruturados e organizados, os membros da força de trabalho bem habilitados e treinados exercem maior poder e liberdade de decisão, levando à maior flexibilidade e à reação mais rápida aos requisitos mutáveis do mercado. A gestão de pessoas nas organizações empresariais deixou de abranger apenas atividades operacionais e legisladas para ações corporativas estratégicas, passando a envolver também responsabilidades como: qualidade pessoal, qualificações culturais, competências tecnológicas, responsabilidade empresarial e cidadania. Abordagens para criar flexibilidade, autonomia e iniciativa na organização de trabalho e na estrutura de cargos podem ser estabelecidas por meio da redução de níveis hierárquicos, otimização de unidades organizacionais e arranjo físico adequado para as pessoas, em que as oportunidades para a criatividade, inovação e compartilhamento de conhecimentos e habilidades possam ser criadas através do uso de equipes de trabalho e de solução de problemas, temporais ou permanentes. Uma equipe motivada e com moral elevado segue numa direção de trabalho com qualidade e acredita na motivação das pessoas envolvidas. 18 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I Organização As pessoas esperam da organização: excelente lugar para trabalhar; reconhecimento e recompensas; oportunidades de crescimento, carreira; participação nas decisões; autonomia; apoio e suporte; empregabilidade; qualidade de vida no trabalho; satisfação. As organizações esperam das pessoas: foco na visão de futuro; foco na missão organizacional; foco no cliente; foco em metas e resultados; foco em melhorias e desenvolvimento continuado; foco no trabalho participativo em equipe; comprometimento e dedicação; talento, habilidades e competências; aprendizado e crescimento profissional; ética e responsabilidade. Figura 1 Os estudos das relações humanas comprovaram que a maioria das pessoas trabalham melhor se forem mais bem-motivadas e instruídas. Nesse contexto, torna-se imprescindível identificar os fatores que motivam as pessoas e identificar a contribuição que eles trazem para a qualidade. Com a globalização da economia, cuja principal característica são as constantes mudanças, novos métodos e novas tecnologias surgem a todo o momento, e as ameaças são contínuas, exigindo, mais do que nunca, uma gestão voltada para equipes motivadas, participativas e com o moral elevado, para maximizar a qualidade de produtos e serviços. observação As relações humanas representam “uma atitude, um estado de espírito”, que se sobressaem a partir do reconhecimento de que os seres humanos são possuidores de personalidade própria, que merece ser respeitada, e implica uma compreensãosadia de que toda pessoa tem necessidades materiais, sociais ou psicológicas, em que busca a sua satisfação. Isso a levará a atitudes motivadas em seu comportamento. 1.3 Conceitos de público. Formação de público – a lógica da determinação de público na atualidade É necessário definir o termo “público” em seu significado e sua interação com as organizações. Dessa forma, deixaremos os conceitos amplos sobre “público” e vamos nos concentrar nas relações que as empresas têm necessariamente com as pessoas. A conceituação do renomado autor brasileiro Teobaldo Andrade, em seu livro Psicologia das Relações Públicas (2. ed. São Paulo: Loyola, 1989) é a mais acentuada contribuição a respeito do paradigma de público empregado até hoje entre nós. Nesse contexto, escreveu: 19 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Para nós os púbicos são classificados em: interno, misto e externo, que originam, respectivamente, dos funcionários e seus familiares, da clientela e espectadores, após o estabelecimento de um “diálogo planificado e permanente”, entre a instituição e os grupos que estejam ligados a ela, direta ou indiretamente (ANDRADE, 1989, p. 78). Entretanto, tudo o que vimos anteriormente no texto está relacionado ao ambiente interno para o entendimento sobre as pessoas e as organizações. Contudo, precisamos localizar a ideia de púbico em uma dinâmica organizacional, porque vimos que os públicos de uma organização estão inseridos em espaços diferentes, como mostra a figura: Público externo Público intermediário ou misto Organização público interno Figura 2 – Ambientes organizacionais e seus públicos Ao analisarmos a figura 2 de fora para dentro, podemos dizer que o ambiente é o contexto no qual a organização está inserida. Quando associamos os ambientes organizacionais, facilmente percebemos quais são os públicos neles inseridos. Ambiente organizacional interno corresponde a todas as relações que ocorrem dentro de uma organização, com seus públicos internos, quer sejam empregados, supervisores, gerentes, diretores, terceirizados e estudantes em regime de estágio. A relação de vínculo difere de acordo com os contratos que arregimentam essas relações. É interessante perceber que as organizações se envolvem com seus ambientes organizacionais na medida em que compreendem suas expectativas e os problemas a serem resolvidos com esses ambientes. Em outras palavras, cada organização interpreta de acordo com suas percepções. Por exemplo, uma empresa pode interpretar que para ela são muito relevantes as relações com fornecedores, e chegam a estreitar laços e até optar por estruturas paralelas aos seus fornecedores. Cada ambiente de negócio, ou o que se chama de ramo de atividade, contém o que é particular nas relações público versus empresa. Notadamente, essas “percepções” que originam as relações empresariais não podem ser desassociadas das pessoas que administram as organizações. A dedução implica que, diante da dinâmica dessas relações, são inúmeras as informações advindas dos ambientes organizacionais. Cada organização necessita adaptar-se continuadamente e diminuir as diferenças que norteiam essas relações. 20 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I Compreendemos de forma mais adequada quando encaramos que o ambiente organizacional é vasto, complexo, mutável e desafiador. Onde estaria o público intermediário (denominado por Andrade, 1989, de “misto”) em um ambiente organizacional? Já podemos deduzir que existe uma linha tênue, talvez não divergente, quando se entende sobre a dinâmica dessas relações entre alguns públicos intermediários ou mistos, e os públicos externos de uma organização. Isso se dá pelo fato de que, dependendo dos interesses comuns entre si e referentes à organização, expectativas e resultados de relacionamentos com os públicos tem como prerrogativa o favorecimento de visão estratégica nos negócios, e isso deveria refletir para todos os envolvidos. Se as organizações atuam por meio de redes de relacionamento institucionais e mercadológicas, haverá sempre a necessidade de que os tipos de relacionamentos com seus públicos não sejam de forma aleatória, e sim planejada. É a cadeia de valor das relações que se agrega junto ao planejamento organizacional da empresa e dos públicos inseridos nos planejamentos de ambas as partes. Por exemplo, pode-se ter como público intermediário ou misto: acionistas, consultores, clientes familiares dos empregados, distribuidores, representantes comerciais, revendedores, representantes de sindicatos, corretores, vendedores, entre outros. Assim, haverá algumas interseções dependendo do nível de integração e interesses advindo dos contratos e do planejamento estratégico, clientes, fornecedores, acionistas, familiares dos empregados, comunidade, sindicatos profissionais e terceirizados. Vejamos o quadro a seguir, tomando como base um demonstrativo de duas categorias de público, clientes e fornecedores, para que possamos comparar objetivos, prioridade, expectativas e resultados de relacionamentos das organizações: Quadro 1 Público Tipo de relacionamento Objetivos da empresa Grau de dependência Expectativas da empresa Expectativas dos públicos Clientes Negocial. Parceria de curto e longo prazo. Aumentar as vendas. Dar excelente atendimento. Essencial. Credibilidade. Satisfação. Fidelidade. Produtos de qualidade. Assistência técnica. Bom atendimento. Preços justos. Fornecedores Negocial. Legal. Obter bons contatos. Observar a boa qualidade. Flexibilidade na entrega. Comprometimento com o cliente organizacional. Essencial. Relação que tenha durabilidade. Acompanhar investimentos em inovação – ambas as partes –. Ética na relação. Cumprir contratos. Flexibilidade na comunicação desta relação. Pagamentos na data marcada. 21 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública observação Há uma categorização natural de públicos: alguns são essenciais, outros, não essenciais. Essa conceituação lógica elimina as contradições habituais encontradas no tratamento dos públicos e esclarece todas as formas de interdependência empresa-públicos, permitindo ainda determinar, de maneira correta, as mensagens e os veículos que devem ser dirigidos a cada público de interesse. O grau de dependência é situacional e pode variar de acordo com cada tipo de organização. Embora, como mostre o quadro, a intenção seja padronizar numa relação direta de sua natureza (forma que a organização se legitima) e obviamente com seus interesses de negócios, a classificação apresentada anteriormente como exemplo não se acomoda igualmente a todas as organizações, que têm a livre iniciativa de determinar seus públicos. É importante salientar que, em se tratando de comunicação, faz-se necessário ter um planejamento para que se possa utilizar o uso de instrumentos para diferentes tipos de público. Vamos explicitar dois exemplos, levando em consideração que chamamos a atenção sobre a determinação dos públicos – objetos da comunicação. Públicos empregados da organização: a forma de comunicação com esse público deve ser direta, permanente, informativa, motivacional, interativa e persuasiva. Os instrumentos que podem ser utilizados como prioritários: encontro de comunicação, reuniões, comunicação face a face, eventos, publicações, helpline, intranet. Públicos clientes diretos da organização:a forma de comunicação deve ter regularidade, ser bem planejada, informativa, tecnológica, transparente, persuasiva e ética. Instrumentos que podem ser utilizados como prioritários: publicações, informativos, volantes, campanhas, outdoors, rádio, televisão, merchandising, faixas, prêmios, coleções, sorteios, ofertas, eventos. Percebe-se que os postulados sobre conceitos e sobre a lógica de públicos, além de inovadores, são estratégicos. O que se faz necessário é estabelecer critérios para defini-los de modo adequado e facilitador das dinâmicas das relações internas e externas, para oferecer segurança ao trabalho, além de promover uma melhor qualidade de comunicação. 22 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I Lembrete Se o comportamento humano organizacional é tratado sob a ótica de três subtemas – comportamento micro-organizacional, comportamento mezo-organizacional e comportamento macro-organizacional –, faz-se necessário compreender que os desdobramentos desses comportamentos estão circundantes de forma dinâmica imutável nos ambientes organizacionais, a saber: microambiente, ambiente intermediário e macroambiente. 2 CoMPoRtAMento oRgAnIzACIonAL (Co) – uMA teIA de VáRIAs CIênCIAs CoMPoRtAMentAIs Figura 3 O comportamento organizacional (CO) está relacionado com as ações das pessoas no trabalho em organizações. A representação do estudo sobre comportamento organizacional nestes próximos parágrafos que contemplam o tema em referência será feita através da sigla CO. Ao elucidar sobre CO nas organizações, estamos indo ao encontro do estudo de indivíduos e grupos atuando nas organizações e temos a influência das organizações sobre pessoas e grupos. Isso retrata uma continuada interação e influência recíproca. Além disso, há a relação com o comportamento grupal, tópicos como normas, papéis, bem como temas referentes à construção de equipes. Nesse sentido, são relevantes às contribuições de estudos da psicologia social e da sociologia. Assim, o comportamento de um grupo de pessoas não está compreendido apenas pela soma das ações dos indivíduos trabalhando sozinhos. O comportamento grupal é diferente do comportamento individual. Existem aspectos visíveis e superficiais do CO, como estratégias adotadas pela organização, a fixação de objetivos globais a serem alcançados, as políticas e procedimentos adotados, a estrutura organizacional, a autoridade formal, bem como a tecnologia utilizada. Esses são os aspectos visíveis do que podem ser chamados de explícitos, porque são rapidamente percebidos nas organizações. Da mesma forma, vale salientar os aspectos invisíveis e que demonstram profundidade para o reconhecimento de atitudes advindas da percepção e atitudes individuais, normas grupais – em que 23 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública um grupo de maneira exclusiva dita suas próprias normas diferentes de um padrão contumaz –, as interações informais e os conflitos interpessoais e intergrupais, que não são facilmente percebidos, mas que, de certa forma, dinamizam e influenciam o comportamento das pessoas e grupos. Baseado em Chiavenato (2010), as principais características do CO são: Disciplina científica aplicada e adota uma abordagem contingencial Disciplina científica aplicada e adota uma abordagem contingencial CO Recebe contribuições de várias ciências comportamentais Utiliza métodos científicos Figura 4 Conclui-se que o comportamento organizacional corresponde ao lado humano da administração, mas não a sua totalidade. A administração envolve abordagens de processos, sistemas, gestão do conhecimento, contingencias, entre outros aspectos. Neste momento, pretende-se salientar suas características, por ser uma disciplina científica aplicada, por adotar uma abordagem contingencial, por utilizar metodologia científica, por ajudar as pessoas a resolver problemas organizacionais e por estar relacionada às ciências sociais. Além disso, Chiavenato (2010, p. 21) chama a atenção em dizer que: [...] o CO se defronta com desafios importantes, como o nível de mudança no mundo e no ambiente dos negócios, nas características da força de trabalho que atua nas organizações, nas expectativas dos clientes e consumidores, nas próprias organizações, no comportamento dos dirigentes e gerentes das organizações e, sobretudo, no fato de que o conhecimento está se tornando aos poucos, o principal fator de produção. Vale salientar que o enfoque comportamental está vinculado com a Teoria Comportamental, que assinala a mais profunda influência das ciências do comportamento na administração. Para muitos, representa a aplicação da Psicologia Organizacional à Administração. Surgiu em 1947, nos Estados Unidos, dentro de uma fundamentação amplamente democrática. Essa teoria se assenta em novas 24 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I proposições acerca da motivação humana, notadamente as contribuições de McGregor, Abraham Maslow e Frederick Herzberg. Tais teóricos abordaram possibilidades que precisamos conhecer sobre os mecanismos motivacionais, ou seja, mecanismos que alavancam a motivação humana. Em McGregor, (apud CHIAVENATO, 2010) temos a Teoria X e a Teoria Y, que são dois extremos. McGregor acreditava que as crenças básicas dos gestores têm influência dominante sobre a forma como as organizações são gerenciadas e o fundamental nisso são os seus pressupostos sobre o comportamento das pessoas. McGregor postulava seus estudos em duas grandes categorias – Teoria X e Teoria Y. Essas teorias descrevem duas visões de pessoas no trabalho e podem ser usadas para expor dois estilos opostos de gestão. Chamada pelo autor de “Hipótese da Mediocridade das Massas”, a Teoria X é baseada nos pressupostos de que: • o ser humano comum tem aversão pelo trabalho e procura evitá-lo sempre; a maior parte das pessoas precisa ser forçada, controlada, dirigida e ameaçada para que realizem esforço adequado; • o homem comum prefere ser dirigido, tenta evitar responsabilidades e tem pouca ambição; o homem comum busca, basicamente, segurança. Já a Teoria Y propõe a integração dos objetivos do indivíduo com os da organização e é baseada pelo seu autor nos seguintes pressupostos: • empregar esforço, físico ou mental, em um trabalho é tão natural quanto jogar ou descansar; • o ser humano não tem aversão pelo trabalho; dependendo das condições laborais, ele pode ser fonte de satisfação ou punição; o controle extremo não é a única forma de atingir objetivos; pessoas exercem autocontrole e autodireção sempre que estiverem comprometidas; o compromisso com objetivos é resultante das recompensas que se adquirem quando atingimos os resultados estabelecidos; • em condições adequadas, o homem comum não somente aceita, mas procura responsabilidades. Pessoa 1. Necessidade 5. Satisfação da necessidade (incentivo) ou frustação (punição) 3. Comportamento focado na meta 6. Necessidade reavaliada pela pessoa 2.Procura de satisfação da necessidade(impulso) 4. Desempenho (no sentido de alcançar a meta) Figura 5 – Modelo simples de processo motivacional 25 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Para Maslow (apud CHIAVENATO, 2010, p. 248-250), o foco está no comportamento motivacional, que é explicado pelas necessidades humanas. Entende-se que a motivação é oresultado dos estímulos que agem com força sobre os indivíduos, levando-os a ação. Para que haja ação ou reação, é preciso que um estímulo seja acionado, decorrente de coisa externa ou proveniente do próprio organismo. Essa teoria é baseada no que ele chamou de “ciclo motivacional”. Quando o ciclo motivacional não se completa, sobrevém a frustração do indivíduo. A motivação é um estado cíclico e constante na vida pessoal. A teoria de Maslow é conhecida como uma das mais importantes teorias de motivação. Para ele, as necessidades dos seres humanos obedecem a uma hierarquia, uma escala de valores a serem transpostos. Isso significa que, no momento em que o indivíduo satisfaz uma necessidade, surge outra em seu lugar, o que exige que as pessoas sempre busquem meios para satisfazê-la. Exemplo: uma pessoa não irá procurar reconhecimento pessoal e status se suas necessidades básicas (fisiológicas) não estiverem satisfeitas. - Educação - Crescimento pessoal - Passatempos - Religião - Aprovação da família - Aprovação dos amigos - Reconhecimento da comunidade - Família - Amigos - Grupos sociais - Comunidade - Autonomia - Liberdade - Proteção contra a violência - Abrigo - Comida - água - Sexo - Sono e repouso - Trabalho desafiante - Diversidade - Autonomia - Crescimento pessoal - Participação nas decisões - Reconhecimento - Responsabilidade - Orgulho - Promoções - Amizade com os colegas - Interação com os clientes - Chefe amigável - Camaradagem - Trabalho seguro - Permanência no emprego - Proteção - Remuneração e benefícios - Horário de trabalho - Intervalos de descanso - Conforto físico Auto-realização Estima Sociais Segurança Fisiológicas Figura 6 – A pirâmide das necessidades humanas de Maslow e suas implicações Conclui-se que, na hierarquia das necessidades, proposta por Maslow, os cinco níveis a serem “escalados” por um ser humano são: • atender às necessidades básicas ou fisiológicas; • atender às necessidades de segurança; • atender às necessidades sociais ou de associação; • atender às necessidades de status ou autoestima; • atender às necessidades de autorrealização. 26 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I Frederick Herzberg (apud CHIAVENATO, 2010) é autor da Teoria dos Dois Fatores,que aborda a situação de motivação e satisfação das pessoas. Nessa teoria, Herzberg afirmava que: • a satisfação no cargo é função do conteúdo ou atividades desafiadoras e estimulantes deste, são os chamados “fatores motivadores”; • a insatisfação no cargo é função do ambiente, da supervisão, dos colegas, do contexto geral e do enriquecimento do cargo (ampliar as responsabilidades). São os chamados “fatores higiênicos”. Herzberg verificou e evidenciou, por meio de muitos estudos práticos, a presença de dois fatores distintos que devem ser considerados na satisfação do cargo. São eles: os fatores higiênicos e os motivacionais. Os fatores higiênicos correspondem à perspectiva ambiental e constituem-se nos elementos tradicionalmente utilizados pelas organizações para obter motivação dos funcionários. Herzberg considera os fatores higiênicos muito limitados na sua capacidade de influenciar poderosamente o comportamento dos empregados. A expressão “higiene”, utilizada pelo autor, serve para refletir o seu caráter preventivo e profilático, e para mostrar que se destinam simplesmente a evitar fontes de insatisfação do meio ambiente ou ameaças potenciais ao seu equilíbrio. Quando esses fatores são ótimos, simplesmente evitam a insatisfação, uma vez que sua influência sobre o comportamento não consegue elevar substancial e duradouramente a satisfação. Porém, quando são precários, provocam insatisfação. São exemplos de fatores higiênicos as circunstâncias que rodeiam o funcionário enquanto trabalha, englobando as condições físicas e ambientais de trabalho, como: o salário e os benefícios, a política da empresa, o tipo de supervisão recebido, o clima de relações entre a direção e os funcionários, os regulamentos internos, as oportunidades existentes, a estabilidade no cargo, entre outras. São considerados fatores motivacionais para Herzberg as tarefas e os deveres relacionados ao cargo em si, como: crescimento profissional, desenvolvimento e aprimoramento de habilidades, responsabilidade do cargo ocupado, autorrealização em cumprir as tarefas designadas e, claro, o reconhecimento de seu trabalho. Os fatores motivacionais produzem algum efeito duradouro de satisfação e de aumento de produtividade em níveis de excelência, isto é, acima dos níveis esperados, contudo, desejados. O termo motivação, para Herzberg, envolve sentimentos de realização, de crescimento e de reconhecimento profissional, manifestados por meio do exercício das tarefas e atividades que oferecem um suficiente desafio e significado para o trabalhador. Ao contrário de outros pensadores, como Abraham Maslow, que tentavam explicar as necessidades humanas em diversos campos, a teoria de Frederick Herzberg foi, desde o início, baseada no estudo das atitudes e motivações dos funcionários dentro de uma empresa. 27 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública O trabalho em si Responsabilidade Crscimento pessoal Realização Reconhecimento Responsabilidade Status Relação com colegas Supervisão recebida Amizades Supervisão técnica Segurança no emprego Políticas da companhia Salário Benefícios sociais Condições físicas Hierarquia das necessidades de Maslow Estima Auto-realização Sociais Segurança Fisiológicas Hi gi ên ic os M ot iv ac io na is Herzberg Figura 7 – Comparação entre os modelos de Maslow e Herzberg Um aspecto importante que se deve salientar, vinculado ao comportamento organizacional e inserido na Teoria Comportamental, é o sistema de decisões organizacionais, que estão inseridos nos processos decisoriais. Dessa forma, para os níveis hierárquicos que estão ligados ao planejamento organizacional e que perpassam em níveis táticos (gerenciais), o processo de tomada de decisão deve ser inevitável, a fim de sanar problemas ou situação de risco. Em outras palavras, sempre que houver uma disparidade entre o estado atual e o estado desejado para a organização, subentende-se que em seu sistema de decisões está estabelecida a delegação de resolução de problemas e/ou oportunidades. O sistema de decisão reflete nas questões de tomadas de decisão. Fica claro quando, ao delegar para um departamento em seus processos formais a autonomia cabível para um problema, este necessita de alternativas para decisões; isso já está no construto organizacional. Todo indivíduo é um tomador de decisão, baseando-se nas informações que recebe do seu ambiente, processando-as de acordo com suas convicções e assumindo atitudes, opiniões e pontos de vista em todas as circunstâncias. A organização, nesse sentido, é vista como um “sistema de decisões”. E os departamentos, juntamente com seus processos de fluxo de trabalho, permeiam uma gama de processos decisoriais. Isso permite incentivar o decisor que há em cada gestor. 2.1 níveis de abordagem do comportamento organizacional – os papéis organizacionais Em qualquer organização, não importando a sua natureza, as pessoas são interdependes, porque se associam umas com as outras e adquirem experiências nas relações interpessoais quando passam a esperar que outras se comportem de determinadas maneiras. 28 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade IObservem os exemplos que seguem. Na escola, os professores esperam que os alunos estudem os textos propostos em sala de aula antes da avaliação, e os alunos esperam que os professores administrem as avaliações sem grandes exigências quanto aos textos propostos. Quando qualquer das expectativas é violada, a relação evidenciará tensão. Os gerentes de nível superior esperam que os de nível médio coloquem os interesses da companhia (organização) à frente de seus próprios interesses. Ao mesmo tempo, os gerentes de nível médio esperam que as decisões de promoção tomadas pelos gerentes superiores sejam baseadas em mérito e experiência e não em formas de discriminação. observação Interdependência entre as partes: uma organização não é um sistema mecânico, no qual uma das partes pode ser mudada sem um efeito concomitante sobre as outras. Em face da diferenciação das partes provocadas pela divisão do trabalho, as partes precisam ser coordenadas por meio de integração e de trabalho. As interações internas e externas do sistema refletem diferentes escalões de controle e da autonomia. Uma variedade de subsistema deve cumprir a função do sistema e as suas atividades devem ser coordenadas. Deve-se pensar em: divisão de trabalho, coordenação, integração e controle. Com base nos dois exemplos citados, expectativas como essas e os comportamentos que elas pressupõem constituem os “papéis” que os indivíduos ocupam nas relações interpessoais. A luz das relações de trabalho é evidenciada em dois indicadores mais comuns: o elemento fixo da tarefa e o elemento emergente. Os elementos fixos das tarefas são as partes de um papel que derivam da expectativa de que o ocupante do papel execute um determinado trabalho. A forma mais provável para o desenvolvimento das tarefas por um funcionário está descrita no cargo que ele ocupa. Vale salientar que “cargo” é uma posição formal e geralmente vem acompanhado de uma declaração escrita das tarefas que lhe cabem. Essas declarações por escrito são chamadas de descrição de cargos e geralmente são preparadas por gestores (gerentes) ou especialistas em análise e descrição de cargos. Quando essas descrições são utilizadas, geralmente constituem os elementos fixos das tarefas de um papel. Quando uma pessoa começa a ocupar um cargo, geralmente se evidenciam quais tarefas omitidas na descrição do cargo precisam ser executadas para que o papel seja desempenhado com sucesso. Essas tarefas adicionais são os elementos emergentes. Uma verdade é que, à medida que os negócios se tornaram mais complexos e exigiram mais dos funcionários, com uma relação de tempo não tão generosa, os elementos fixos e emergentes da tarefa podem ser combinados de diferentes formas. 29 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Para entender melhor, seguem exemplos elucidativos: de um lado, hipoteticamente, o ocupante de um papel que pode cumprir poucas obrigações, além das relacionadas em sua descrição de cargo. Por exemplo, um indivíduo que pertença ao quadro operacional de uma linha de montagem fabril. De outro lado, um supervisor, que pode não dar conta dos elementos fixos em número, por causa dos muitos elementos emergentes em seu cargo; seu papel exige que venha a dar conta dos dois elementos, porque essas duas variáveis, de certo modo, geram conflitos para o cumprimento dos elementos fixos e, consequentemente, para o ocupante do cargo. Sendo assim, um papel de trabalho geralmente inclui bem mais do que o formalmente descrito para o cargo. É importante que os gerentes (gestores) reconheçam e premiem indivíduos que estão desempenhando papéis expandidos, quando esse desempenho resulta em mais comportamentos desejáveis. Conjunto de papéis Um conjunto de papéis é um grupo de pessoas que interagem e atuam como fonte das normas que influenciam o comportamento do ocupante do papel. Um conjunto de papéis típico inclui pessoas como o supervisor e seus subordinados, outros membros da unidade funcional do empregado e membros de unidades funcionais adjacentes que compartilham com o empregado as tarefas, os clientes ou consumidores. Os membros do conjunto de papéis comunicam normas ao ocupante do papel em mensagens transmissoras de papel. Algumas dessas mensagens são de caráter informativo e dizem ao ocupante do papel o que está acontecendo. Outras são tentativas de influenciar, de uma forma ou de outra, os ocupantes dos papéis. Por exemplo, informando-os sobre punições que poderão advir caso eles desconsiderem as normas. Algumas mensagens podem estar voltadas para a realização de objetivos organizacionais. Outras podem não ter relação com as exigências oficiais ou serem contrárias a essas. Enquanto o ocupante do papel atender a essas expectativas, os emissores dos papéis cuidarão de seus próprios trabalhos. Entretanto, se o ocupante do papel começar a desviar-se das expectativas, entrarão em cena os emissores dos papéis, suas expectativas e meios de forçar a obediência. O trabalhador temporário que não atende às advertências do pessoal mais experiente pode tornar-se vítima de chacota, trotes ou isolamento. De fato, pesquisa recente demonstra que os colegas de trabalho podem ser a fonte mais acurada e judiciosa em termos de monitoração de atividades relacionadas a normas. 2.2 Percepção do ambiente organizacional – organizações são sistemas abertos? Características sistêmica e contingencial das organizações modernas Para iniciarmos este ponto, faz-se necessário adentrar no conceito sobre sistemas abertos. Após a publicação pioneira do livro Teoria Geral dos Sistemas (1954) pelo biólogo Ludwig Von Bertalanffy, considerado o principal autor do enfoque sistêmico, estima-se que poucos conceitos 30 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I em administração têm uma conotação mais positiva do que a “visão sistêmica”. Trata-se de “algo forte”, acima de qualquer suspeita. É elegante e oportuna a adoção da visão sistêmica. E por quê? Porque os problemas de administração sempre envolvem interdependências e combinação de dimensões. Ou seja, são sempre sistêmicos. Vale salientar que o tripé complexidade, volume e interdependência só cresceu nos últimos três séculos, com acelerações notáveis nas últimas décadas. A produção cresceu, bem como o número de produtos, a população, as fábricas e as cidades. Diante das exigências crescentes, o número de especializações também aumentou de forma inacreditável em todos os campos. Assim se consolida o enfoque sistêmico. Mercado de mão-de-obra Sistema financeiro Comunidade Sindicatos Tecnologia Governo Concorrência Fornecedores ConsumidoresEmpresa Estrutura organizacional Figura 8 A utilidade inegável do enfoque sistêmico alia-se à contribuição de Katz e Kahn (1970), na qual os autores trabalharam as características dos sistemas abertos, em seu livro traduzido para o português com o título de Psicologia Social das Organizações (São Paulo: Atlas, 1970). A obra traduz fielmente a existência científica dos sistemas abertos advindos dos estudos da Teoria Geral dos Sistemas, mais precisamente, sobre o enfoque sistêmico. Veja alguns dos seus postulados. São características dos sistemas abertos: • Importação de energia: os sistemas abertos importam alguma energia do ambiente externo. • Transformação: os sistemas abertos transformam a energia disponível. Por exemplo, o corpo converte amido e açúcar em calor e ação. • Output (saída): os sistemas abertos exportam certos produtos para o meio ambiente. • Diferenciação: os sistemas abertos deslocam-se para a diferenciação em que os padrões difusose globais são substituídos por funções mais especializadas. Adaptado de: Katz; Khan (1970, p. 35-41). 31 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública A ilustração a seguir remete a uma ideia semelhante à original inserida no livro citado no parágrafo anterior, e mostra de forma bem sintetizada o enfoque sistêmico “esteio das características do sistema aberto”. Entradas Entradas Informações Energia Recursos Materiais Transformações ou processamento Ambiente Realimentação Informações Energia Recursos Materiais Figura 9 Ambiente Ambiente é o contexto que envolve externamente a organização (ou o sistema). É a situação dentro da qual uma organização está inserida; uma abordagem múltipla envolvendo a interação entre organização e ambiente. Como o ambiente é extremamente vasto e complexo, as organizações não podem absorvê-lo, conhecê-lo e compreendê-lo em sua totalidade e complexidade, o que seria inimaginável. O ambiente pode ser analisado em dois segmentos, o ambiente geral e o ambiente de tarefa. Ambiente geral É o macroambiente, ou seja, o ambiente genérico e comum a todas as organizações. Tudo o que acontece no ambiente geral afeta direta ou indiretamente todas as organizações. O ambiente geral é constituído de um conjunto de condições semelhantes para todas as organizações, como: • condições tecnológicas; • condições legais; • condições políticas; • condições econômicas; • condições demográficas; • condições ecológicas; • condições culturais. 32 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I Essas condições são fenômenos ambientais que formam um campo dinâmico de forças que interagem entre si. Esse campo de forças tem um efeito sistêmico. Enquanto o ambiente geral é genérico e comum para todas as organizações, cada empresa tem o seu ambiente particular e próprio: o ambiente de tarefa. Ambiente de tarefa É o ambiente mais próximo e imediato de cada organização. É o segmento do ambiente geral do qual cada organização extrai as suas entradas e deposita as suas saídas. É o ambiente de operações de cada organização e é constituído por: • fornecedores de entradas; • clientes ou usuários; • concorrentes; • entidades reguladoras. Cada um desses elementos ambientais pode ser uma organização, grupo, instituição ou indivíduo. Pode ser o governo ou outros países. Quando a organização escolhe o seu produto ou serviço e quando escolhe o mercado onde pretende colocá-los, ela está definindo o seu ambiente de tarefa. A organização tem poder sobre seu ambiente de tarefa quando as suas decisões afetam as decisões dos fornecedores de entradas ou consumidores de saídas. Ao contrário, a organização tem dependência em relação ao seu ambiente de tarefa quando as suas decisões dependem das decisões tomadas pelos seus fornecedores de entradas ou consumidores de saídas. As organizações procuram aumentar o seu poder e reduzir sua dependência quanto ao seu ambiente de tarefa e estabelecer o seu domínio. Esse é o papel da estratégia organizacional. O problema atual com que as organizações se defrontam é a incerteza. A incerteza é o desafio atual da Administração. Contudo, a incerteza não está no ambiente. A incerteza está na percepção e na interpretação das organizações e não na realidade ambiental percebida; está na cabeça dos seus administradores. A incerteza que se produz na organização acerca do ambiente é a de saber quais são as oportunidades e ameaças existentes, e como utilizá-las ou evitá-las, respectivamente. Tecnologia Ao lado do ambiente, a tecnologia constitui outra variável independente que influencia as características organizacionais (variáveis dependentes). Além do impacto ambiental, existe o impacto tecnológico sobre as organizações. Estas utilizam alguma forma de tecnologia para executar suas operações e realizar suas tarefas. A tecnologia adotada pode ser tosca e rudimentar, como pode ser sofisticada. 33 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 RecuRsos Humanos na administRação Pública Sob um ponto de vista administrativo, a tecnologia se desenvolve nas organizações por meio de conhecimentos acumulados e desenvolvidos sobre o significado e execução de tarefas – know-how – e pelas suas manifestações físicas – máquinas, equipamentos, instalações –, constituindo um complexo de técnicas usadas na transformação dos insumos recebidos em resultados, isto é, em produtos ou serviços. A tecnologia pode estar ou não incorporada a bens físicos. A incorporada está contida em bens de capital, matérias-primas intermediárias ou componentes etc. Corresponde ao conceito de hardware. A tecnologia não incorporada encontra-se nas pessoas – como técnicos, peritos, especialistas, engenheiros, pesquisadores – sob a forma de conhecimentos intelectuais ou operacionais, facilidade mental ou manual para executar as operações, ou em documentos que a registram e visam assegurar sua conservação e transmissão. Corresponde ao conceito de software. Exemplos: mapas, plantas, desenhos, projetos, relatórios fluxograma etc. A tecnologia pode ser considerada, ao mesmo tempo, sob dois ângulos diferentes: como uma variável ambiental e externa e como uma variável organizacional e interna. Como uma variável ambiental (exógena, externa), ela influencia a organização no sentido de fora para dentro, como se fora uma força externa e estranha à organização e sobre a qual a organização tem pouco entendimento. É necessário que seja adotada e decodificada para se transformar em oportunidade e posterior ponto forte, proporcionando melhor desempenho na ação e maior capacidade para a organização defrontar-se com as forças ambientais. 2.3 o que é uma organização contingencial? – teoria da Contingência Na Teoria da Contingência tudo é relativo, tudo depende, isto é, não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Há uma relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização. Dentro de uma relação funcional, as variáveis ambientais são variáveis independentes – ver figura explicativa sobre o conceito exibido anteriormente –, enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes. A palavra contingência significa algo incerto ou eventual, que pode suceder ou não; refere-se a uma proposição que só pode ser conhecida pela experiência e pela evidência, e não pela razão. A Teoria da Contingência vai bem mais longe do que a teoria de sistemas quando aborda a problemática do ambiente. Na Teoria da Contingência, as condições de ambiente é que causam transformações no interior das organizações. Ou seja, o ambiente explica o fenômeno organizacional. Há quem negue essa influência total do ambiente sobre a organização. O argumento é que a influência sobre a organização é ditada não pelo ambiente, mas apenas pelo que interessa diretamente à organização, isto é, a tecnologia existente no ambiente. Poderíamos dizer que uma corrente considera o ambiente total vital para a organização, e outra corrente considera o ambiente de forma parcial. De qualquer maneira, é o ambiente que conduz a vida da organização. 34 GP UB - R ev isã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 9/ 04 /1 4 Unidade I Uma característica relevante da Teoria da Contingência é a de que não se consegue um alto nível de sofisticação organizacional com a aplicação de um só modelo, ou seja, não há uma
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