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DIREITO PENAL- APLICACAO DA LEI PENAL


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MARIA CECÍLIA SAMPAIO NOGUEIRA - UNIFANOR 
 
 
 
 
 
- A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal. 
Com efeito, não há crime sem lei anterior que o defina, 
nem pena sem prévia cominação legal. 
- Por essa razão, é proibida a analogia in malan partem, ou 
seja, é vedado o uso de analogia nos casos de vácuo 
legislativo, em prejuízo do réu. Nada obstante, é possível a 
utilização de analogia in bonam partem, ou seja, em favor 
do réu. 
- A norma penal incriminadora se biparte em dois 
preceitos: primário e secundário. 
→ Preceito primário: descreve a conduta criminosa 
→ Preceito secundário: descreve a pena cominada ao 
delito. 
- Exemplificativamente, no crime de homicídio simples 
(Art. 121, caput) o preceito primário é matar alguém. Já o 
preceito secundário é: pena – reclusão de 6 a 20 anos. 
 
- Segundo Franz von Liszt, leis penais em branco são 
“corpos errantes em busca de alma”. Lei penal em branco 
é aquela cujo preceito secundário (pena) é completo, mas 
o preceito primário (descrição da conduta criminosa) 
reclama complementação legal. 
 
- Em sentido amplo (homogênea): Lei penal em sentido 
amplo, ou homogênea, é aquela cujo complemento possui 
a mesma natureza jurídica (Lei ordinária, por exemplo), e 
advém do mesmo órgão (Congresso Nacional, por 
exemplo). A lei penal em sentido amplo de divide em 
homovitelina e heterovitelina. 
→ Homovitelina: A lei penal em branco homogênea 
homovitelina é aquela cuja complementação possui a 
mesma natureza jurídica (lei ordinária, por exemplo), 
advém do mesmo órgão (Congresso Nacional, por 
exemplo) e pertence ao mesmo diploma legal. 
Por exemplo: No crime de peculato (Art. 312 do CP), o 
conceito de funcionário público está no próprio Código 
Penal (Art. 327). 
→ Heterovitelina: A lei penal em branco homogênea 
→ 
→ 
→ 
→ 
 
heterovitelina é aquela cujo complemento possui a mesma 
natureza jurídica, advém do mesmo órgão e pertence a 
diploma legal diverso. 
Por exemplo: No crime do Art. 169, § único, inciso I, do CP 
(apropriação de tesouro), o conceito de “tesouro” é 
encontrado no Código Civil (Art. 1.264). 
- Em sentido estrito (heterogênea): A norma penal em 
branco sentido estrito, ou heterogênea, possui 
complemento de natureza jurídica distinta e órgão diverso. 
O exemplo mais notável é o Art. 33 da Lei 11.343/06 
(tráfico de drogas). O conceito “droga” está na Portaria 
344 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério 
da Saúde, órgão do Poder Executivo Federal. 
→ Inversa ou ao avesso: A lei penal inversa ou ao avesso 
é aquela que em que o preceito secundário (pena) 
reclama complementação. Daí a nomenclatura lei 
penal “ao avesso”. 
Por exemplo: Lei n° 2.889/56 (genocídio) 
→ De fundo constitucional: A lei penal em branco de 
fundo constitucional é aquela cujo complemento do 
preceito primário (conduta criminosa) está na 
Constituição Federal. 
Por exemplo: Homicídio qualificado praticado contra 
integrantes dos órgãos de segurança pública. O 
complemento do Art. 121, § 2°, inciso VI do CP está nos 
Art´s. 142 da CF/88. 
 
- A interpretação da lei penal leva em conta os seguintes 
critérios: quanto ao sujeito; quanto aos métodos e quanto 
à finalidade. 
- Quanto a sujeito: Em relação ao sujeito ou órgão, a 
interpretação pode ser autêntica, judicial ou doutrinária. 
→ Autêntica: É aquela feita pelo próprio legislador, que 
o faz para esclarecer o significado e o alcance de 
determinada lei penal. 
Por exemplo: Art. 327 do CP, que traz o conceito de 
funcionário público para fins penais. 
 
Direito penal 
 
 
 
 
 
MARIA CECÍLIA SAMPAIO NOGUEIRA - UNIFANOR 
 
→ Judicial: É a interpretação realizada pelos membros 
do Poder judiciário. 
Por exemplo: Súmulas vinculantes. 
→ Doutrinária: Como a nomenclatura sugere, é aquela 
feita pelos doutrinadores, estudiosos do Direito Penal. 
Por exemplo: Exposição de motivos do Código Penal. 
 
- Quanto ao método: Quanto ao método ou meio utilizado, 
a interpretação pode ser gramatical ou teleológica. 
→ Gramatical: Leva em conta a literalidade do texto 
legal. 
→ Teleológica: Tenta adquirir a finalidade da norma. 
 
- Quanto ao resultado: Aqui, a interpretação divide-se em 
declaratória, extensiva e restritiva. 
→ Declaratória: Não há o que se acrescentar ou ser 
suprimido da interpretação do texto legal. 
→ Extensiva: Entende-se que o legislador disse menos 
do que desejava, ampliando-se o texto da lei para 
satisfazer a vontade do legislador. 
Por exemplo: No crime de extorsão mediante sequestro 
(Art. 159 do CP), é possível interpretar a expressão 
destacada como cárcere privado. 
→ Restritiva: Compreende-se que a lei disse mais do que 
desejava. 
 
- Interpretação analógica: É aquela que utiliza uma 
expressão casuística (específica) seguida de uma fórmula 
genérica (ampla). Admite-se sua utilização no Direito 
Penal, mesmo que para prejudicar o réu. 
Exemplo clássico é o art. 121, § 2º, inciso I, do CP, 
qualificadora do homicídio, quando praticado mediante 
paga ou promessa de recompensa (fórmulas casuísticas), 
ou por outro motivo torpe (expressão genérica). 
- Diferença entre Interpretação Analógica e Analogia: Não 
se deve confundir analogia (forma de autointegração da 
lei) com interpretação analógica, a última, sempre 
admissível no Direito Penal, mesmo que prejudicial ao réu. 
 
 
 
A analogia consiste na aplicação, ao caso não previsto em 
lei, de norma regulamentadora de situação semelhante. 
Como visto, proíbe-se a analogia in malan partem, ou seja, 
é defeso o uso de analogia, nos casos de vácuo legislativo, 
em prejuízo do réu, isto é, para impor-lhe sanções penais. 
Exemplificativamente, o Art. 61, inciso I, alínea “e”, do CP 
estabelece a agravante do crime praticado contra cônjuge. 
Com efeito, não se pode utilizar o citado dispositivo para 
agravar a pena de um delito praticado contra o 
companheiro (a), sob pena de violação ao princípio da 
legalidade. 
Nada obstante, é possível a utilização de analogia in 
bonam partem, ou seja, em favor do réu, desde que não 
seja aplicada contra texto expresso de lei. 
 
- A Constituição Federal assegura a irretroatividade da lei 
penal mais gravosa, ou seja, a lei penal não pode retroagir, 
de maneira alguma, para prejudicar o réu. Contudo, a lei 
penal que, de qualquer modo, favorecer ao agente, 
retroage para alcançar fatos cometidos antes da sua 
vigência. Dessa forma, a lei penal benéfica goza de extra-
atividade, ou seja, regula fatos praticados durante sua 
vigência, mesmo depois de revogada (ultra-atividade), ou 
retroage para alcançar fatos praticados antes da sua 
vigência (retroatividade). 
→ Novatio legis incriminadora: Aqui, a lei tipifica como 
crime um comportamento até então considerado 
irrelevante. Jamais retroagirá para alcançar fatos 
praticados antes da sua vigência, dado o princípio da 
anterioridade da lei penal. 
→ Lei penal mais grave (lex gravior): A nova lei penal, de 
qualquer forma, é prejudicial ao réu. 
Por exemplo: Norma que aumenta a pena de um 
determinado delito. Obviamente, jamais retroagirá para 
alcançar fatos praticados antes da sua vigência. Ter-se-á, 
portanto, a ultra-atividade da lei penal mais benéfica. 
- Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao 
crime continuado ou ao crime permanente, se a sua 
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência. 
→ Abolito criminis: A abolitio criminis exclui um fato até 
então criminoso. Com efeito, ninguém pode ser punido 
por fato que lei posterior deixa de considerar crime, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos 
 
 
MARIA CECÍLIA SAMPAIO NOGUEIRA - UNIFANOR 
 
penais da sentença condenatória (art. 2º, caput, do 
CP). 
- Os pressupostos da abolitio criminis são: 
→ Revogação formal do tipo penal; 
→ Supressão material do fato criminoso. 
De fato, não haverá abolitio criminis nas hipóteses em que 
o tipo penal seja revogado formalmente, mas seus 
elementos migrem para outro tipo penal incriminador já 
existente.Trata-se do princípio da continuidade típico-
normativa, visto a seguir. 
→ Princípio da continuidade típico-normativa: Na 
continuidade típico-normativa ocorre apenas a 
revogação formal do fato criminoso, pois ele não deixa 
de ser crime, mas apenas está disciplinado em 
dispositivo legal diverso. 
Por exemplo: Os elementos do crime de atentado violento 
ao pudor (Art. 214 do CP) migraram para a nova figura 
típica do delito de estupro (Art. 213 do CP), por força da 
Lei n. 12.015/2009. 
→ Lei penal benéfica (lex mitior): A lei posterior, que de 
qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença 
condenatória transitada em julgado (Art. 2º, § único, 
do CP). Cuida-se da retroatividade da lei penal mais 
benéfica. 
→ f 
- A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o 
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que 
a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua 
vigência (Art. 3º do CP). 
→ Lei temporária: A lei temporária possui vigência 
predeterminada no tempo. A própria lei já traz em seu 
texto, expressamente, o seu prazo de validade, vale 
dizer, a data de início e de término de sua vigência. 
Por exemplo.: Lei Geral da Copa (Lei n. 12.663 de 5 de julho 
de 2012), com vigência até 31 de dezembro de 2014. 
→ Lei excepcional: A lei excepcional possui duração 
relacionada a situações de anormalidade. Sua duração 
é limitada pela própria situação excepcional que levou 
a sua edição. 
Por exemplo: Lei que incrimine o desperdício de água 
potável durante a estiagem. 
 
 
- Características: 
→ Autorrevogáveis: A lei temporária se revoga com o 
decurso do seu prazo de duração. A lei excepcional se 
revoga quando da cessação da situação de 
anormalidade. 
→ Ultratividade: A lei excepcional e temporária se aplica 
ao fato praticado durante sua vigência, embora 
decorrida a sua duração ou cessadas as 
circunstâncias que a determinaram.

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