Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SP1 - LEUCEMIAS, TRANSFUSÃO, CASCATA DE COAGULAÇÃO E ANTICOAGULANTES Hematopoiese Produção de novas células hematológicas → repor as circulantes, perdidas por apoptose. Essa substituição do estoque de células maduras em sangue periférico depende do estímulo de diversas citocinas e fatores de crescimento (eritropoetina e a trombopoetina), sobre células-tronco (stem cells) indiferenciadas, capazes de autorrenovação, proliferação e diferenciação celular. ● Precursores hematopoiéticos/Stem-cells: células multipotentes. Conforme maturam → comprometem-se com uma linhagem específica → mielóide e linfóide. ● Progenitores mieloides: Plaquetas, hemácias, granulócitos (basófilo, neutrófilo, eosinófilo) e monócitos. ● Progenitores linfóides: Origem aos linfócitos B e T e células NK. ● Local da hematopoiese: ■ Vida adulta: A medula óssea é o principal sítio. ■ Vida embrionária e fetal: saco vitelino, passando ao fígado da 6a à 24a semana de gestação, com alguma participação do baço, timo e linfonodos. ● Maturação: Nem toda a maturação ocorre na medula óssea! Exceções: ■ Reticulócitos: Demoram 2-3 dias para tornarem-se hemácias maduras na circulação. ■ Linfócitos B e T: Completam sua maturação em tecidos linfóides periféricos (linfonodos, baço e timo) → serão expostos a diversos antígenos → imunidade adquirida. Exames utilizados na onco-hematologia ● Mielograma: Aspirado de medula óssea (crista ilíaca) → conteúdo medular é aspirado e analisado pela microscopia óptica → analisa a morfologia das células da MO → características de forma, tamanho e complexidade que possam indicar alterações hematológicas. Não dá informações sobre a estrutura da MO. ● Biópsia de medula: Retira-se um pequeno fragmento do órgão, mantendo sua estrutura física, para análise, permitindo-nos analisar a morfologia das células hematopoiéticas e a arquitetura medular. ● Imunofenotipagem por citometria de fluxo: Incuba-se as células com marcadores imunológicos (citocromos) que se ligam a determinados antígenos de membrana. A depender do citocromo ligado em sua superfície, a célula levará à refração de um tipo específico de comprimento de onda, identificado então pelo aparelho → identificação do fenótipo da célula analisada, ou seja, quais antígenos de superfície ela expressa. ■ Linhagem mielóide: MPO, CD13 e CD33. ■ Células linfóides B: CD19, CD20 e CD22. ■ Células linfóides T: CD3, CD4, CD7 e CD8. ● Avaliação genética: cariótipo, FISH e/ou PCR → Mutações específicas → fornece informações diagnósticas e prognósticas (não patognomônico) ■ Cromossomo Philadelphia: Relacionado com a LMC. ■ LLA + cromossomo Philadelphia = Pior evolução/prognóstico. 45 anos + febre vespertina 38oC, 3 vezes por semana, sudorese noturna com a troca do p�ama duas vezes por noite, relata que ao jogar futebol não tem mais o mesmo desempenho de antes + 2 episódios infecciosos nesse período, uma amigdalite e uma infecção urinária + hematomas sem relação com traumas. A sequência correta da investigação diagnóstica é: Anamnese e Exame físico; Hemograma e Imunofenotipagem de Medula Óssea. Tratamento geral ● Quimioterápicos: Agem extirpando o clone maligno → interfere na produção de DNA → destruindo células que se proliferam muito. Age contra toda célula que se prolifera. ● Terapias-alvo: Moléculas contra alvos específicos das células neoplásicas → agem no próprio mecanismo de instalação da doença (inibidores da tirosina-quinase e ATRA e ATO). ● Transplante de medula óssea (TCTH): Retira as stem cells de um doador e infunde no paciente, após realizada uma QT intensa que “mata” todas as células-tronco hematopoiéticas desse paciente. ■ TCTH autólogo: Coleta de células-tronco hematopoiéticas antes da QT e depois sua reinfusão no paciente → recuperação medular mais precoce. ■ TCTH singênico: doador é um gêmeo idêntico do paciente → semelhante ao TCTH autólogo. ■ TCTH alogênico: doador é outro indivíduo. Retira suas stem cells por coleta de medula ou por coleta em sangue periférico e, após uma intensa QT, infunde essas células no paciente, fazendo com que elas “encontrem” a medula óssea vazia e substituam-na. ○ Upgrade no transplante alogênico (CAR-T cells [chimeric antigen receptor T cells]): Retira células T do paciente e introduz nelas receptores contra antígenos presentes em sua doença, devolvendo-as ao paciente depois. CLASSIFICAÇÃO DAS LEUCEMIAS ● Leucemias agudas: Clones em células mais especializadas (maior poder de diferenciação). ■ Clone mielóide: Leucemia mieloide aguda. ■ Clone linfoide: Leucemia linfóide aguda. ● Leucemias crônicas: Clones em células menos especializadas. ■ Clone mielóide: Leucemia mielóide crônica. ■ Clone linfoide: Leucemia linfoide crônica. LEUCEMIAS AGUDAS *Fazem parte do quadro clínico das leucemias agudas - Astenia, febre e hemorragia Leucemia linfoide aguda (LLA) ● Mais comum em crianças (pico aos 2-5 anos). A maioria das mortes ocorre em idosos. ● Fisiopatologia: Neoplasia maligna linfóide - ⊗ na maturação = aprisiona células anômalas - Linfoblastos. * Doença está relacionada a ummaior risco de desenvolver LLA - Síndrome de Down ● Quadro clínico-laboratorial: ■ Anemia, plaquetopenia, neutropenia. ■ Linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia, dor óssea. ■ Acometimento de SNC e testículos (comum na recidiva). ■ Sintomas B: Sudorese noturna ou febre vespertina > 38º ou 20% perda de peso em 6 meses. ■ Leucocitose às custas de blastos linfóides. ● Complicação clássica: Sd. da lise tumoral. ● Diagnóstico: ■ Anamnese e exame físico compatíveis. ■ Análise de sangue periférico com blastos linfóides. Lembrar que inicialmente pode haver uma leucopenia (células anômalas restritas à medula), com posterior leucocitose às custas de blastos. ■ Mielograma com > 20% de blastos linfóides anômalos. ○ Por vezes, é difícil distinguir os blastos linfóides de mielóides (ambas células jovens e indiferenciadas) → aplica-se a imunofenotipagem por citometria de fluxo → Identifica a presença de antígenos de cada linhagem. ● LLA B (85%): antígenos B (CD19, CD20, CD22) → Melhor prognóstico. ● LLA T (15%): antígenos T (C3, CD7, CD4 e CD8) → Prognóstico adverso. Citogenética → presença do cromossomo philadelfia → pior prognóstico Biópsia de MO → quadro de bicitopenia e neutropenia febril → confirmar diagnóstico. ● Tratamento: Doença com alto índice de cura Varia de 2-3 anos de quimioterapia → esquemas: ■ Indução da remissão (eliminação das células neoplásicas); ■ Profilaxia do SNC; ■ Consolidação da remissão (eliminação de quaisquer células residuais); ■ Manutenção da remissão (prevenção de recaída). ○ A quimioterapia é associada à TCTH alogênico em casos de risco elevado. Leucemia mieloide aguda (LMA) ● Mais prevalente nos adultos. Comum em idosos (65-70 anos). Pacientes com Sd. de Down possuem risco ↑. ● Fisiopatologia: Neoplasia maligna mieloide - ⊗ na maturação = aprisiona as células anômalas - Mieloblastos. ● Quadro clínico-laboratorial: ■ Anemia, plaquetopenia, neutropenia (pancitopenia = diminuição das 3 linhagens) ■ Sarcoma mieloide: Extravasamento das células neoplásicas → “tumor” de blastos mieloides extramedular. ○ Cloroma (sarcoma granulocítico) → M2. ○ Hiperplasia gengival → M4 e M5. ■ Comum em pacientes com Sd. de Down → M7. ■ Bastonetes de Auer - Inclusões citoplasmáticas da LMA → sangue periférico. ■ Leucocitose às custas de blastos mieloides. ● Diagnóstico: Segue o mesmo raciocínio que a LLA, mas o mielograma deve conter > 20% de blastos mieloides anômalos. Lembrar que inicialmente pode haver uma leucopenia (células anômalas restritas à medula) em sangue periférico, com posterior leucocitose às custas de blastos. ■ Mutações presentes - fecha diagn → t(8;21), t(6;16), t(15;17) → citogenética. ● Tratamento: Protocolo 3+7, exceto no subtipo promielocítico. ■ Indução da remissão (eliminação das células neoplásicas); ○ 7 dias de quimioterapia com a Citarabina IV; ○ 3 dias de quimioterapia com Idarrubicina ou Daunorrubicina. ■ Consolidação da remissão (eliminação de células residuais); ■ Manutenção da remissão (prevençãode recaída). ○ A quimioterapia é associada à TCTH alogênico em casos de risco elevado. A idade é um fator limitante: idosos → menor performance status → incapazes de submeter-se à quimioterapia intensiva ou ao transplante de medula alogênico → novas terapias mais toleráveis, como o venetoclax (medicação que age contra a Bcl-2, proteína antiapoptótica muito expressa na LMA). Leucemia promielocítica (LMA M3) ● É uma leucemia mieloide aguda → subtipo de leucemia → Altamente curável (as vezes sem QT) ● 5-8% dos casos de LMA com predomínio em adultos de meia-idade (40-65 anos). ● Fisiopatologia: A maioria das células leucêmicas está ⊗ na forma de promielócitos, células grandes e repletas de grânulos. A liberação do conteúdo pró-coagulante dos grânulos promielócitos desencadeia a ativação da cascata de coagulação, com consumo de fibrinogênio. - Blastos <20% na MO/sg periférico + t(15;17) + bastonetes de auer ● Quadro laboratorial: Alargamento de TAP e TTPA, aumento de D-dímero e consumo de fibrinogênio. ● Quadro clínico: Coagulopatia/CIVD. Manifestações hemorrágicas são proeminentes → Hemoptise, hematúria, melena, hematêmese, hemorragia pulmonar e sangramento intracraniano. - Distúrbio de coagulação → hipofibrinogenemia. ● Tratamento: ■ É associada à t(15;17) → Proteína de fusão PML-RARα → Leva ao ⊗ de maturação sob a forma de promielócitos. ■ ATRA e ATO: Agem sobre a PML-RARα , proteína de fusão resultante da t(15;17), levando a sua degradação, vencendo o bloqueio de maturação e forçando as células leucêmicas a sofrerem apoptose. ■ Alto risco: ATRA + QT. ■ Baixo ou intermediário risco: ATRA + ATO. Suporte transfusional: Além de introduzir o cp da ATRA à menor suspeita de LPA, deve-se manter: Transfusão de plaquetas, se os níveis estiverem abaixo de 30.000/mm3; e Transfusão de plasma ou crioprecipitado, se a dosagem de fibrinogênio cair a menos de 150 mg/dL. ● Complicação do tratamento: Síndrome ATRA: Quadro inflamatório generalizado, iniciado entre 2-21 dias após o uso do ATRA. O tratamento é feito com Dexametasona. LEUCEMIAS CRÔNICAS Leucemia linfoide crônica (LLC) ● Mais comum em homens, com média de 70 anos ao diagnóstico (idosos). ● Fisiopatologia: Proliferação descontrolada de linfócitos B maduros anômalos e clonais que podem atrapalhar a hematopoiese, infiltrar tecidos (linfonodos e baço), além de levar a sintomas constitucionais. ● Quadro clínico: ■ Anemia, plaquetopenia, neutropenia. ■ Linfonodomegalias difusas e esplenomegalia (extravasamento de linfócitos anômalos da medula). ■ Hiperesplenismo: Grande monte → Captura células - Piora a anemia e a plaquetopenia. ■ Maior risco de infecções (linfócitos anômalos incapazes de realizar funções imunes). ■ Sintomas B (sudorese, emagrecimento, febre). ● Diagnóstico: ■ maioria assintomática ao diagn - Achados incidentais de linfocitose em hemograma ■ Nas leucemias crônicas, não é necessário mielograma. ■ Linfócitos clonais >5.000 células/mm3 em sangue periférico, com morfologia. ■ Imunofenótipo típico da LLC (CD5, CD19, CD20, CD23 e CD200). ● Tratamento: Não há necessidade de submeter pacientes assintomáticos, com boa sobrevida, à terapias não curativas agressivas. ■ Paciente assintomático: Watch and wait. ■ Paciente sintomático - Tratar quando: ○ Falência medular → Anemia e/ou trombocitopenia progressivas. ○ Esplenomegalia sintomática. ○ Linfoadenomegalia sintomática. ○ Citopenias autoimunes corticorefratárias. ○ Sintomas constitucionais: Febre, perda de peso, sudorese noturna (sintomas B). ○ Aumento proeminente da linfocitose - “Dobrarem” em nº em menos de 6 meses. Leucemia mieloide crônica (LMC) ● Epidemiologia: 2ª leucemia + comum no adulto (15%). > 55 anos (média 60 anos). ● Fisiopatologia: Presença adquirida do cromossomo Philadelphia → patognomônico (95%). O cromossomo Philadelphia, resultado da t(9;22) → estímulo à mieloproliferação pela geração da BCR-ABL1, proteína quimérica que permite que as células leucêmicas se proliferam descontroladamente. ● Quadro clínico: Os sintomas são insidiosos e inespecíficos: ■ Fadiga, anorexia, perda de peso e desconforto abdominal. ■ Esplenomegalia de grande monta (até 90% dos casos). Linfonodomegalia. ● Quadro laboratorial: ■ Leucocitose com neutrofilia e desvio escalonado à esquerda (presença das formas maturativas dos neutrófilos na circulação): Proliferação desenfreada da série granulocítica (as células neoplásicas conseguem completar sua diferenciação celular, gerando todos os estágios normais de maturação dos granulócitos: neutrófilos segmentados, bastonetes, metamielócitos, mielócitos, promielócitos e mieloblastos). ● Diagnóstico: ■ Leucocitose com desvio escalonado. ■ Identificação da proteína BCR-ABL em testes moleculares (RT-PCR ou FISH). ● Estadiamento: Por estudo da medula óssea - É uma doença trifásica → hemograma com ou sem blastos (dependendo da fase). ■ Crônica: Mieloproliferação desordenada, levando ao quadro clássico de leucocitose com desvio escalonado à esquerda, mas com pequena quantidade de formas jovens (blastos) - <10% ■ Acelerada: Sem tto, as células neoplásicas da LMC adquirem mutações secundárias em que há o aumento das formas imaturas até que a diferenciação normal seja totalmente comprometida - 10 a 19% ■ Crise blástica: Estágio final - Transformação da LMC em um quadro de franca leucemia aguda - >20% blastos. ● Tratamento: Terapia com inibidores da tirosina-quinase. ■ 1ª linha: Imatinibe. ■ 2ª linha: Dasatinibe, nilotinibe, ponatinibe e bosutinibe. ○ Objetivo: Corrigir a leucocitose, melhorar os sintomas da doença e, principalmente, manter o paciente em fase crônica. ○ Mecanismo de ação: A proteína de fusão BCR-ABL, resultado da transcrição do cromossomo Philadelphia, é capaz de utilizar o ATP para fosforilar diversas proteínas de vias metabólicas intracelulares, desencadeando um estímulo à mieloproliferação. Os inibidores de tirosina quinase, como o imatinibe, ligam-se à BCR-ABL, impedindo o uso do ATP e, assim, bloqueando a fosforilação. COMPLICAÇÕES NA ONCO-HEMATOLOGIA Síndrome da lise tumoral ● Síndrome clínico-laboratorial resultante da destruição maciça de células malignas → liberação do seu conteúdo extracelular → subjugar os mecanismos homeostáticos → rim → IRA. ● Condição mais associada: Tumores grandes ou neoplasias de rápida proliferação celular (Burkitt, LLA). Pode surgir logo após tto QT. ● Quadro laboratorial: Hipercalemia, hiperfosfatemia, hiperuricemia e hipocalcemia. ● Quadro clínico: Fraqueza muscular, tremores, insuficiência renal, arritmias, convulsões, coma. ● Diagnóstico: Classificação de Cairo-Bishop. ● Tratamento: Hidratação EV profusa, manejo de distúrbios hidroeletrolíticos, uso de reagentes hipouricemiantes (alopurinol, rasburicase). A alcalinização urinária é controversa. Neutropenia febril ● Definição: Queda abrupta na contagem de neutrófilos circulantes. ● Diagnóstico: Febre (38º C) + Neutropenia (< 500 neutrófilos). ● Etiologia: O microrganismo mais encontrado em pacientes com neutropenia febril são os Staphylococcus coagulase-negativo (SCN), seguidos de enterobactérias (Escherichia coli e à Klebsiella pneumoniae) e de Gram-negativos não fermentadores (como a Pseudomonas). Neutropenia > 7 dias → Etiologia fúngica provável (candidíase oral ou esofágica, mucosite, forma pulmonar quando neutropenia prolongada). ■ Formas de infecção: mucosite e úlceras orais, relacionada ao uso de cateteres centrais ou periféricos, celulite, erisipela ou cortes recentes em pele, gastroenterite aguda, translocação bacteriana ou perfuração de alças, cistites, ITU superior ou infecção de trato genital, infecção de via aérea superior ou inferior. Manejo: 1. Anamnese + EF detalhados → sinais de sepse e infecções prévias. (não realizar toque retal → risco de translocação de bactéria) 2. Revisar os dispositivos (cateteres, sondas e drenos) - fontes de infecção. 3. Coletar culturas de sítios suspeitos + ATB empírica → largo espectro (penicilinas + beta-lactâmico). Dose alta para penetrar SNC. 4. Coleta de provas de disfunção orgânicae solicitação de exames de imagem: Hemograma, função renal, hepática, e PCR 5. Radiografia de tórax para todos os pacientes com neutropenia febril. ATUAÇÃO MULTIPROFISSIONAL 1 - Fisioterapeuta → condicionamento pulmonar e motor. 2 - Nutricionista → aporte nutricional adequado. 3 - Terapeuta Ocupacional → ocupar atividade durante a internação. 4 - Psicólogo → acompanhamento de possíveis transtornos ansiosos e depressivos. 5 - Dentista → Auxílio na higiene oral que é foco de infecção (mucosites). 6 - Enfermeiro → administrar e orientar o paciente sobre a doença. 7- Farmacêutico → seleção e padronização de medicamentos e materiais + manipulação dos agentes antineoplásicos. 8 - Assistente Social → social, emocional e os problemas ambientais que podem vir → garantir o tratamento e assistência integral dos pacientes que esta em tratamento do câncer, e a seus familiares. 9 - Oncologista → especialista na abordagem do câncer. Faz as prescrições, acompanha o tratamento. COAGULAÇÃO SANGUÍNEA homeostasia - ocorre formação de coágulos sanguíneos em locais de lesão vascular. Envolve plaquetas, fatores de coagulação e endotélio, resultando em formação de coágulo sanguíneo que serve para prevenir ou limitar a extensão do sangramento. Uma das mais importantes propriedades do sangue é sua capacidade de se coagular, o que evita a sua perda excessiva quando um vaso é lesado. Assim que o sangue começa a sair do vaso lesado, na região do corte: As plaquetas aderem-se às paredes do vaso e retêm os glóbulos sanguíneos. ● Vasoconstrição arteriolar: Ocorre imediatamente e reduz o fluxo sanguíneo para a área lesionada. É mediada por mecanismos neurogênicos reflexos e intensificada pela secreção local de determinado fatores, como a endotelina (potente vasoconstritor derivado do endotélio). Porém, é um efeito transitório - O sangramento voltaria a ocorrer caso não houvesse a ativiação de plaquetas e fatores de coagulação. ● Homeostasia primária: Momento de formação do tampão plaquetário. ■ Adesão plaquetária: Ocorre a partir da ruptura do endotélio, havendo exposição de colágeno e fator de von Willebran. O colágeno liga-se aos receptores plaquetários GP Ia/IIa e GP-VI enquanto que o fator de von Willebrand liga-se aos receptores plaquetários GP Ib/IX/V. Esse movimento cria uma camada de plaquetas sobre o endotélio lesado, o trombo plaquetário. ■ Ativação plaquetária: Com a adesão plaquetária ao endotélio, ocorrem mudanças conformacionais nas plaquetas com liberação do conteúdo de seus grânulos, os chamados ativantes plaquetários (ADP, tromboxano A2 (TXA2), serotonina e mais fator de von Willebrand). Após a liberação, agirão sobre as plaquetas próximas, fazendo com que elas também se alterem, processo conhecido como ativação plaquetária. Algumas medicações agem reduzindo a ação ou secreção dos agonistas plaquetários, inibindo o processo de ativação plaquetária. AAS (ácido acetilsalicílico): Inibe de forma irreversível a COX-1 (síntese do tromboxano A2). Clopidogrel e Ticagrelor: Agem sobre o receptor do ADP (P2Y12), reduzindo também a ativação plaquetária. Apesar de serem chamadas de “antiagregantes”, essas medicações são “antiativadores plaquetários”. ■ Agregação plaquetária: O fibrinogênio e fator de von Willebrand ligam-se à GP IIb/IIIa, levando à ligação de mais plaquetas ao trombo através da formação de pontes entre si. Resumindo… Adesão: Com a lesão, o colágeno liga-se aos receptores GP Ia/IIa e o fator de Von Willebrand ao GP IIb. Ativação: Liberação de agonistas plaquetários após conformação das plaquetas. Agregação: Agonistas atraem mais plaquetas e estas começam a formar pontes entre si por meio da GP IIb/IIIa, do fator de von Willebrand e do fibrinogênio = Trombo controlando o sangramento. O mecanismo de formação do plug plaquetário é frágil. Logo, deve ser estabilizado por algo! ● Avaliação clínica da homeostasia primária: Envolve os vasos, plaquetas e o fator de von Willebrand. O paciente apresenta queixas cutâneaas: petéquias e equimoses. As petéquias são hemorragias de pequenos capilares por anormalidades de vasos e plaquetas, sendo normalmente < 3mm e não desaparecendo com a digitopressão. As equimoses são lesões > 1cm, resultando da infiltração sanguínea no tecido subcutâneo. Podem haver queixas mucosas, como epistaxe, gengivorragia, menorragia e sangramentos cutâneos profundos com cortes superficiais. O tempo de aparecimento é imediato após lesão. ● Homeostasia secundária: Corresponde ao momento de estabilização do plug plaquetário pelos fatores de coagulação, com posteior deposição de redes insolúveis de fibrina, a fim de consolidar o tampão plaquetário inicial. ■ Mecanismo de coagulação sanguínea: O processo de coagulação que gera trombina consiste em duas vias inter-relacionadas: as vias extrínseca e intrínseca. ○ Via intrínseca: iniciada quando o sangue entra em contato com superfícies de carga negativa, como a membrana de uma plaqueta ativada ou os chamados ativantes de contato, substâncias como o colágeno, a calicreína e o quininogênio de alto peso molecular. Nessa via, ativam-se sequencialmente o FXII, FXI, FIX e FVIII, culminando na formação da tenase intrínseca, formada pela união do FVIIIa, FIXa, fosfolipídios plaquetários e cálcio. ● Grande marcador: PTT (KTTP) - Se alargado, indica alteração na via intrínseca. ● Fatores: XIII, IX e XI ○ Via extrínseca: Inicia com ativação do fator de coagulação VII pelo fator tecidual (tromboplastina). O fator tecidual é uma proteína de membrana que normalmente é separada do sangue pelas células endoteliais que revestem os vasos (por isso extrínseca, pois está fora da circulação). Contudo, em resposta a uma lesão no vaso, a tromboplastina fica exposta ao sangue. O complexo tromboplastina-FVIIa-cálcio é chamado de tenase extrínseca, capaz de iniciar a via comum. ● Grande marcador: TAP corrigido pelo INR (RNI) - Se alargado, indica alteração. INR/RNI (relação entre o tempo de protrombina do doente e um valor padrão do tempo de protrombina) - Reflete o tempo necessário para o sangue coagular relativamente a um valor médio → Valor de referência deve variar entre 0,8 e 1. Se uso de anticoagulantes entre 2-3. ● Fator: XII. ○ Via comum: Tanto a tenase extrínseca (FT, FVIIa e cálcio) quanto a tenase intrínseca (FVIIIa, FIXa e cálcio) ativam o fator X, daí o nome tenase (“ten”). O FXa ligar-se-á ao FV e ao cálcio, formando o complexo protrombinase, responsável pela conversão da protrombina em trombina. Será a trombina que precipitará o evento mais marcante da hemostasia secundária: a conversão de fibrinogênio em fibrina. Por fim, a trombina também ativa o FXIII, que age sobre as redes de fibrina formando mais ligações entre elas, fortalecendo e estabilizando o trombo ● Como a via comum depende da via intrínseca e extrínseca, se houver alteração nesta via, tanto KTTP quanto TAP estarão alargados. ● Avaliação clínica-laboratorial da homeostasia secundária: Envolve os fatores de coagulação. Se alteração, podem haver sangramentos profundos, como hematomas musculares e hemartroses (sangramentos articulares. Tendem a cursar com controle inicial do sangramento pela formação do plug plaquetário, mas com posterior recorrência, já que não se forma adequadamente o plug hemostático secundário. ● Homeostasia terciária: processo de dissolução dos trombos de fibrina, garantindo a permeabilidade do sistema vascular. A própria formação da fibrina precipita esse mecanismo, pelo recrutamento de ativadores da fibrinólise, como o ativador de plasminogênio tecidual (t-PA) e a uroquinase. Os ativadores da fibrinólise agem convertendo o plasminogênio circulante no plasma em plasmina, enzima proteolítica capaz de lisar a fibrina, dissolvendo o trombo e formando os chamados produtos de degradação da fibrina. Esse mecanismo fibrinolítico desencadeado pela fibrina só ocorre após o esgotamento dos mecanismos antifibrinolíticos, mediados pelo TAFI (thrombin activatable fibrinolysis inhibitor - inibidor da fibrinólise ativado pela trombina) e o PAI (plasminogen activatorinhibitor - inibidor do ativador do plasminogênio). A vitamina K é necessária na síntese de quais fatores da coagulação? II, VII, IX, X, proteína C e proteína S. No modelo conhecido como cascata de coagulação, a ativação do fator X e sua combinação com fosfolipídios e com o fator V – formando, assim, o complexo ativador da protrombina – ocorrem em qual via?Via comum. MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTICOAGULANTES E SEUS EFEITOS ADVERSOS ● Antagonistas da vitamina K: A vitamina K é um cofator essencial na carboxilação de algumas proteínas da cascata de coagulação: os fatores II, VII, IX e X, além das proteínas C e S. Sem esse processo, essas substâncias não conseguem ligar-se ao cálcio e aos fosfolípides para proceder às reações hemostáticas. ■ Varfarina: Principal representante. Inibem as enzimas que reciclam a vitamina K: a vitamina-K1-redutase e a vitamina-K1-epóxi-redutase. Com a atividade dessas substâncias inibida, a vitamina K não é reciclada em sua forma ativa e, assim, sem a carboxilação dos fatores dependentes desse nutriente, temos o efeito anticoagulante dos antagonistas de vitamina K. É uma medicação segura e efetiva, caso sejam mantidos seus níveis terapêuticos adequados, com INR de 2 a 3. ○ Efeito adverso à longo prazo: flutuações inesperadas em seus níveis de anticoagulação - elevações do TP/INR (intoxicações cumarínicas) 1. Suspensão do warfarin; 2. Administração de vitamina K; e 3. Transfusão de plasma fresco congelado ou complexo protrombínico (concentrado dos fatores II, VII, IX e X). ● Heparinas: A heparina liga-se à antitrombina, aumentando em mais de 1000 vezes a atividade dessa substância, que, por sua vez, inibe a atividade da trombina (FIIa) e do fator Xa, além de agir em menor instância sobre os fatores IXa, XIa e XIIa. ■ Heparina não fracionada (HNF): Moléculas maiores, fazem a antitrombina inibir tanto a trombina quanto o fator Xa. ■ Heparina de baixo peso molecular (HBPM): Moléculas de menor tamanho, não são capazes de fazer a ponte entre a antitrombina e a trombina, agindo principalmente sobre o fator Xa. A heparina não fracionada, por sua ação sobre os fatores XII, XI e IX, inibe a via intrínseca, prolongando o TTPA, principal exame usado no seu monitoramento. Já a heparina de baixo peso molecular age menos sobre esses fatores, não afetando o TTPA e, assim, não necessitando de avaliação laboratorial de rotina. ■ Trombocitopenia induzida por heparina (HIT): Evento raro em que, paradoxalmente, tem-se uma queda dos níveis de plaquetas associada a um aumento da incidência de eventos trombóticos venosos e arteriais. Há formação de anticorpos voltados contra a PF4 (platelet factor 4 – fator plaquetário 4), uma proteína plaquetária, quando ela está ligada à heparina. Esses anticorpos IgG, quando ligados ao complexo PF4-heparina na superfície das plaquetas, levam à ativação plaquetária pelo receptor FcγRIIA, precipitando os eventos trombóticos dessa síndrome. Além disso, os anticorpos anti-PF4/heparina levam a um consumo aumentado das plaquetas pelos macrófagos esplênicos, precipitando trombocitopenia ● Anticoagulantes orais diretos (DOACs): A maioria dos DOAC é inibidora direta do fator Xa: rivaroXAbana (Xarelto®), apiXAbana (Eliquis®) e edoXAbana (Lixiana®). A exceção é a dabigatrana (Pradaxa®), que age inibindo a trombina (fator IIa). Enquanto a rivaroxabana e a apixabana não precisam de uso de outro anticoagulante inicial, a edoxabana e a dabigatrana precisam de uma “ponte de heparina” até que atinjam seu efeito anticoagulante. MECANISMO DE FORMAÇÃO DE EQUIMOSES EM PACIENTES EM USO DE ANTICOAGULANTES Pacientes em uso de anticoagulantes estão mais propensos a desenvolver hematomas, devido à ação desses medicamentos na cascata de coagulação, que prolonga o tempo necessário para a formação de coágulos sanguíneos. Isso significa que, em caso de lesões ou traumas, o sangramento pode ser mais prolongado e resultar em um acúmulo de sangue nos tecidos, formando um hematoma. CUIDADOS RELATIVOS AOS PACIENTES QUE FAZEM USO DE ANTICOAGULANTES ● Se atentar a sangramentos: Na gengiva; no nariz (epistaxe); na pele (equimoses); na urina (hematúria), nas fezes ou escarro; no vômito; sangramento vaginal ou aumento do fluxo menstrual. ● Evitar: Esportes de risco, trabalho de risco, injeções intramusculares e subcutâneas, quedas e batidas, grandes procedimentos odontológicos, AAS/AINES (irritação no estômago → sangramentos). Contraindicado o uso na gestação. ● Instruir sobre: cuidados com manuseio de materiais cortantes e pontiagudos, procedimentos de depilação, ao se barbear, cortar unhas, entre outros. ● Alimentação: Evitar alimentos ricos em vitamina K, vegetais e folhas verdes (agrião, alface, folhas de beterraba, brócolis, folhas de couve-flor); óleo e gorduras (azeite de oliva, óleo de canola, óleo de soja); fígado bovino. Evitar bebidas alcoólicas (alcoolismo crônico aumenta a metabolização da varfarina e a diminuição do RNI; alcoolismo agudo há a inibição da metabolização e a elevação do RNI). A INR em pacientes que não estão em uso de varfarina tem valores de 0,9 a 1,3; já quem está em tratamento esse valor oscila entre 2,0 a 3,5. Sua coleta deve ser realizada pelo menos após 5 dias do início do medicamento para refletir o efeito pleno da medicação e após alcançado o efeito esperado será repetido. TAP - 1 a cada 21 dias → com dois consecutivos normais → a cada 2 meses. SP2 - PÚRPURAS, CHOQUE SÉPTICO, HEMORRAGIA E CHOQUE HEMORRÁGICO + SP5 - ATLS PÚRPURAS Manifestações hemorrágicas cutâneas decorrente de inúmeras lesões (<2mm) que denominamos de petéquias. Não está completamente elucidado o processo fisiopatológico, mas existe importante relação com os distúrbios primários quantitativos plaquetário, bem como reações imunológicas, como destruição plaquetária no sistema retículo-endotelial no baço, determinado na maioria dos casos pela produção de IgG pelos linfócitos B. Múltiplos antígenos na superfície plaquetária parecem ser responsáveis pela ligação com anticorpos, especialmente a glicoproteína IIb/ IIIa e a Ib/IX que podem estimular a lise plaquetária, bem como a produção de autoanticorpos que podem ocasionar a destruição plaquetária. Púrpura de Henoch-Schonlein (PHS) - Vasculite por IgA ● 90% dos casos em crianças <10 anos (comum aos 6) - Predomínio no sexo masculino. ● Fisiopatologia: As IVAS precedem a PHS em 50% dos casos (outros gatilhos: medicamentos, picadas de inseto, vacinas), onde há início de um quadro de vasculite por IgA. A IgA em imunocomplexos é depositada em pequenos vasos, ocasionando uma resposta inflamatória que favorece o surgimento de petéquias e púrpuras, além de outras manifestações, como vasculite intestinal, renal e artrite. ● Quadro clínico: ■ 1º: Geralmente, um quadro de IVAS. ■ Após alguns dias/semanas: Febre baixa e mal-estar, seguidos por manifestações específicas da PHS (púrpura palpável, manifestação articular, dor abdominal e comprometimento renal). ○ Púrpura: 1º sintoma. São palpáveis e não desaparecem à digito-pressão. Predominam em MMII (ou região glútea) e são simetricamente distribuídas. Tem coloração vermelho-arroxeada. ○ Artrite/artralgia: Pode preceder a púrpura em alguns casos. Predomina em grandes articulações. Evolui de forma benigna, não deixando sequelas. ○ Manifestações GI: Náuseas, vômitos, dor abdominal periumbilical (em cólicas). ○ Envolvimento renal: Hematúria, com ou sem proteinúria leve. ● Diagnóstico: ■ Baseia-se em dados clínicos. ■ Critério obrigatório: Púrpura palpável (sem trombocitopenia ou coagulopatia) - Predomínio em MMII. ■ Deve haver 1 ou mais dos seguintes: ○ Dor abdominal (difusa de início agudo); ○ Artrite ou artralgia de início agudo; ○ Envolvimento renal (proteinúria ou hematúria); ○ Vasculite leucocitoclástica ou glomerulonefrite proliferativa com deposição predominante de IgA. ● Tratamento: doença autolimitada e a maioria dos pacientes recupera-se espontaneamente - terapia voltada para o suporte e alívio dos sintomas. Quando for identificado algum gatilho (medicamentos, alimentosou infecções) - removidos e controlados. ■ Dor leve a moderada = Analgésicos e AINEs ■ Dor abdominal seve = Glicocorticoides (prednisona). ■ Lesão renal: ○ Envolvimento renal discreto = Acompanhamento clínico. ○ Envolvimento renal grave = Glicocorticóides. Púrpura Trombocitopênica Imunológica - PTI ■ Em crianças, a doença é frequentemente precedida por uma infecção viral, a maioria cursa com remissão espontânea. Em adultos, a maioria dos casos cronifica e não há infecção precedente. ● Fisiopatologia: Causada pela formação de auto anticorpos contra as plaquetas (geralmente IgG) → ligam-se à múltiplos antígenos plaquetários. Os macrófagos do sistema reticuloendotelial do baço e do fígado fagocitam as plaquetas, tirando-as da circulação. Esse aumento do consumo periférico de plaquetas estimula a proliferação medular de megacariócitos, fazendo com que o paciente tenha uma típica hiperplasia megacariocítica na medula óssea. No entanto, esse aumento do número de megacariócitos não se traduz necessariamente em maior produção de plaquetas! Por mecanismos não totalmente esclarecidos, os autoanticorpos também agem na medula óssea, inibindo a fabricação medular de plaquetas em grande parte dos pacientes. Assim, não só o paciente com PTI tem um aumento da destruição periférica de plaquetas, como a própria trombocitopoese está comprometida, culminando em trombocitopenia. Portanto, a PTI é causada pela formação de autoanticorpos que levam a aumento da destruição plaquetária e inibição da trombocitopoese. ● Classificação: ■ PTI primária: Forma espontânea, sem causa identificável. ■ PTI secundária: Ocorre em decorrência de outras condições (LLC, LES, SAAF, infecções [HCV, HIV, HBV, CMV], vacinação, imunodeficiências primárias. ● Manifestações laboratoriais: ■ Plaquetopenia (leve [>70.000], moderada [20-70.000) e grave [< 20.000]). A média da plaquetometria ao diagnóstico costuma ser entre 25 e 30.000/mm3. O restante do hemograma costuma ser normal, sem anemia ou leucopenia. ● Manifestações clínicas: ■ Ponta de baço palpável: A presença de baço muito aumentado deve alertar a possibilidade de outros diagnósticos. ■ Independentemente da idade, 1/3 dos pacientes terá plaquetas acima de 30.000 e nenhuma manifestação hemorrágica, muitas vezes identificando o quadro em exames de rotina. Já o restante dos pacientes poderá ter sangramentos cutâneos mucosos (epistaxes, gengivorragias, petéquias e equimoses). ● Diagnóstico: A PTI é um diagnóstico de exclusão! Afastar outras causas de plaquetopenia. ■ História clínica adequada, EF e exclusão de outras causas de trombocitopenia. ■ A detecção de anticorpos antiplaquetários possuem alta especificidade, mas baixa sensibilidade, com alto número de falso-negativos, além de sua difícil realização e baixa disponibilidade. Assim, não é indicado de rotina. ● Tratamento: Indicado em pacientes com sangramento ativo ou plaquetas <20.000-30.000/mm3. Pacientes com > 30.000 plaquetas/mm3 e sem queixas hemorrágicas devem ser apenas observados. Púrpura Trombocitopênica Trombótica - PTT ● Rara (2-6 pessoas/1 milhão) com pico de incidência entre os 30 e 50 anos (2M:1H). ● Fisiopatologia: O fator de von Willebrand (FVW) é uma glicoproteína plasmática secretada pelo endotélio vascular, que promove a adesão plaquetária através da ligação com um receptor da superfície das plaquetas, a glicoproteína IB (Gp-Ib). Normalmente, o FVW é secretado pelo endotélio em grandes polímeros, que precisam ser continuamente clivados em fragmentos menores pela metaloprotease ADAMTS13, que possibilita a circulação dos fragmentos pelo plasma. Na PTT, existe deficiência da ADAMTS13, fazendo com que grandes polímeros de FVW permaneçam ligados ao endotélio e induzam à adesão das plaquetas, formando trombos plaquetários na microcirculação de diversos órgãos e levando à fragmentação mecânica das hemácias que por ali passarem. ● Quadro clínico: Muitos órgãos são acometidos pelos microtrombos plaquetários, fazendo com que a PTT seja uma doença multissistêmica. A pêntade clínica clássica é febre, sintomas neurológicos (cefaleia, amaurose, escotomas), insuficiência renal, anemia hemolítica microangiopática e trombocitopenia. ● Diagnóstico: Clínico! Pode ser confirmado pela dosagem da atividade da ADAMTS13, tipicamente reduzida (exame pouco disponível e demorado). ● Tratamento: emergência médica - na menor suspeita do quadro = prontamente introduzir terapia = plasmaférese. ■ 1ª linha - Plasmaférese: Procedimento em que retira o sangue do paciente por um cateter, passando-o por uma centrífuga capaz de separar o plasma das hemácias. O objetivo é retirar o plasma doente, com os polímeros gigantes de FVW e os auto anticorpos contra a ADAMTS13, e fornecer plasma normal, com ADAMTS13 ativa, capaz de clivar o FVW. Em situações de exceção, a transfusão simples de plasma normal pode ser usada se a plasmaférese for inacessível, garantindo um aumento da atividade da ADAMTS13 até que o procedimento de escolha possa ser realizado. Não deve-se transfundir plaquetas em pacientes com PTT, apesar da plaquetopenia grave! As plaquetas infundidas serão prontamente captadas nos microtrombos, podendo, inclusive, piorar o quadro. A única exceção a essa regra é em situações de sangramento ativo, em que não temos opção a não ser realizar a transfusão. ■ A plasmaférese pode ser acompanhada de: ○ Corticoterapia: Capaz de ↓ a produção de autoanticorpos e, assim, ↓a ⊗ sobre a ADAMTS13. ○ Caplaxizumabe: Um anticorpo antiFVW que ⊗ sua ligação às plaquetas, impedindo a formação dos trombos plaquetários. Nunca deve ser usado isoladamente. ■ Se refratário (2ª linha): Pacientes refratários ao tratamento de primeira linha podem ser submetidos a diversas terapias, como uso de rituximab (anticorpo monoclonal antiCD20), ciclofosfamida e ciclosporina. CHOQUE O choque é um evento frequente nas vítimas de trauma e constitui a principal causa de morte evitável nesses pacientes. O estado de choque é definido como uma alteração circulatória em que há má perfusão generalizada, levando ao comprometimento da oxigenação e nutrição tecidual. O estado de choque é um estado de perfusão tecidual inadequada que gera suprimento insuficiente de oxigênio (O2) e nutrientes aos tecidos e impede a remoção dos produtos de excreção celular, causado por anormalidades no veículo de transporte de O2 (sangue) ou no sistema de transporte (sistema cardiovascular). É caracterizado pelo desequilíbrio entre a perfusão e as necessidades celulares. ● Fisiopatologia do choque: A deprivação celular de oxigênio e glicose faz com que o metabolismo se torne predominantemente anaeróbico nos tecidos mal perfundidos. A manutenção da homeostasia celular é feita pela normalidade do funcionamento da bomba de sódio-potássio, a fim de gerar energia celular. Se estamos diante de uma condição de hipoperfusão tecidual, a célula não tem oxigênio disponível para realizar o metabolismo aeróbico. O subproduto do metabolismo anaeróbio é o ácido lático (importante marcador de hipoxemia). Portanto, nas vítimas de choque, é esperada a acidose metabólica associada ao aumento nos níveis séricos de lactato. Em certo momento, a manutenção da homeostasia celular não é mais possível e a célula morre, podendo gerar um quadro de disfunção de múltiplos órgãos. ● Determinantes da oferta de O2: Os dois principais determinantes da oferta de oxigênio (DO2) são: débito cardíaco (DC) e o conteúdo arterial de oxigênio (CaO2). Lembrando que: DC = FC x DS / DS = (pré carga x contratilidade) / pós-carga ● Classificação do choque: ● Choque distributivo (↓ RVP): “Problema na periferia”! → redução da RVP → promoverá um aumento compensatório no DC. Como o problema está na RVP baixa, pouco sangue retornará ao coração e, com isso, redução na pré-carga. A principal causas: sepse, anafilaxia (mediada pelo IgE → redução da RVP relacionada à liberação de histamina). a- Choque Anafilático → quando o indivíduo entra em contato com um antígeno para o qual foi previamente sensibilizado (microorganismos, fármacos, alimentos).b - Choque Neurogênico → Decorre da redução do tônus vasomotor normal por distúrbio da função nervosa. c - Choque Séptico → Causado pela resposta do organismo a uma infecção sistêmica. d - Insuficiência da Supra Renal → Relaciona-se com a incapacidade do paciente em produzir hormônios de estresse Cortisol, caracteriza-se por redução da resistência vascular sistêmica, do volume circulante e do débito cardíaco. Fisiopatologia do choque anafilático → A interação antígeno-anticorpo, mediada pela imunoglobulina E, é extremamente significativa e provoca a degranulação de mastócitos com consequente liberação de histamina (dentre outros mediadores). A histamina produz venodilatação, diminuindo o retorno venoso; vasodilatação arteriolar, diminuindo a resistência vascular periférica; e aumento da permeabilidade vascular, causando extravasamento de plasma e proteínas dos capilares para os espaços intersticiais. O grande aumento da permeabilidade pode produzir o edema de glote, que muitas vezes leva ao óbito antes mesmo que o choque circulatório se instale. Tratamento adequado → Protocolo para choque anafilático - pervidade das vias aéreas, oxigênio via máscara e adrenalina IM. ● Choque cardiogênico (↓ DC): “Sangue chega no coração, mas tem problema na bomba”!--> falha na bomba cardíaca → alguma situação compromete o débito cardíaco → aumento compensatório da RVP. O “defeito” pode afetar o coração direito e/ou esquerdo e ocorrerão apresentações clínicas diferentes. - Falência do ventrículo esquerdo (VE) → o pulmão será mais afetado → aumento da pressão capilar pulmonar → edema pulmonar e toda a sintomatologia respiratória do choque cardiogênico (dispneia, ortopneia etc.) + sinais de sobrecarga dessas cavidades ao ecocardiograma, assim como aumento do volume diastólico final do VE. - Falência do ventrículo direito (VD) → o maior risco é o aumento expressivo da pós-carga do VD que pode comprimir o VE. ● Choque hipovolêmico (↓ pré-carga): “Sangue não chega no coração - Hipovolemia!” → redução do volume circulante efetivo → Como chega menos sangue ao coração → redução da pré-carga. As fibras miocárdicas estirarão pouco e o DC também ficará reduzido (tem pouco sangue para ejetar). Como o DC é reduzido, há um aumento compensatório na RVP. A principal causa de choque hipovolêmico é hemorragia, mas ele pode ocorrer em situações de perda hídrica, como diarreia, diurese osmótica (diabetes insipidus) ou queimaduras. ● Choque obstrutivo: Obstrução ao enchimento do VD → Alguma obstrução impedirá o fluxo sanguíneo adequado e, assim, a chegada de oxigênio aos tecidos. Nesse tipo de choque, as alterações hemodinâmicas dependerão do local da obstrução, por isso não haverá uma característica principal. SEPSE E CHOQUE SÉPTICO ● Classificação Sepsis-1 e Sepsis-2 (antiga!): ■ Infecção: Doenças causadas por microrganismos sem que houvesse o desenvolvimento de SIRS (cistite não complicada, no caso de pacientes com sinais vitais normais). ■ Sepse: Foco infeccioso presumido ou confirmado na presença de dois critérios de SIRS - Infecção gerando uma resposta inflamatória exacerbada (disúria e dor lombar [sugerindo pielonefrite] e que, ao mesmo tempo, apresenta taquicardia de 108 bpm e leucocitose de 18.000 células/mm³ ● Classificação Sepsis-3 (atual!): ■ Choque séptico: O limite de PAM após expansão com cristaloides passou a ser 65 mmHg. Incluiu-se o critério “uso de drogas vasoativas” na consideração de choque séptico e níveis de lactato acima de 2 mmol/L como equivalentes de choque. A elevação do lactato sérico reflete: Aumento da glicólise anaeróbia Visto isso, tem-se três cenários possíveis: Infecção sem disfunção orgânica, sepse e choque séptico. ■ ● Fatores de risco para o desenvolvimento de sepse: ● Consensos de sepse e definições: Ao longo dos últimos anos, houveram 3 consensos diferentes para definir, classificar e estabelecer condutas principais para a sepse. O primeiro foi o Sepsis-1 (1991), o segundo foi o Sepsis-2 (2012), seguido do SEPSIS-3 (2016). ● Fisiopatologia da sepse: 1. Inflamação: Estímulo antigênico (bacteriano, viral, fúngico, parasitário) → Estímulo à macrófagos e células T + Danos inflamatórios no endotélio vascular = Produção de diversas citocinas (especialmente IL-1, IL-6 e TNFα) → Vasodilatação com redução da RVP e choque em alguns casos. Esse dano inflamatório endotelial também facilitará a formação de prostaglandinas e aumentará o risco de formação de trombos. 2. Alterações hemodinâmicas e acidose metabólica: As citocinas pró-inflamatórias (principalmente IL-1, IL-6 e TNF-a) promovem vasodilatação de capilares com extravasamento plasmático → ↓ da RVP → ↓ da PA → Hipotensão arterial sistêmica. Para compensar e não deixar o organismo morrer de choque, existe tentativa de ↑ o DC pelo ↑ da FC. Portanto, aqui, temos 2 achados clínicos da sepse: TAQUICARDIA E HIPOTENSÃO! A ↓ da PA com vasodilatação intensa privará células de diversos órgãos de receberem oxigênio e glicose adequadamente → Sem oxigênio, as células realizarão sua produção de energia através do metabolismo anaeróbio, que, além de ser ruim do ponto de vista energético (produz apenas 2 ATPs), tem como subproduto o ácido lático. O ácido lático, por ser um ácido facilmente ionizável, irá dissociar-se em íons H+ e lactato. O acúmulo de íons H + gerará, então, uma acidose metabólica. A sepse será apresentada com uma acidose metabólica de ânion gap aumentado às custas de lactato, que consumirá os íons bicarbonato (HCO3) disponíveis no sangue → Acidose metabólica hiperlactatêmica. O organismo tenta reduzir a pCO₂ "eliminando" mais gás carbônico (alcalose respiratória compensatória), isso é feito através do ↑ da frequência respiratória e das amplitudes inspiratórias (↑ o volume corrente) → Ritmo respiratório de Kussmaul (respiração mais frequente e mais profunda). 3. Alterações ventilatórias: A complicação mais temida de um quadro séptico é a síndrome do desconforto respiratório (SDRA). Acontece em 18 a 25% dos casos de sepse e é definida como intensa inflamação do parênquima pulmonar com destruição da capacidade de troca alveolar. É ocasionada por lesão pulmonar indireta (meningite, endocardite, infecção renal) ou direta (pneumonia) com produção de citocinas inflamatórias → Liberação na corrente sanguínea junto a padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs - estrutura do microrganismo [pilina, flagelina, LPS, galactomanana]) e padrões moleculares associados ao dano (DAMPs - produtos moleculares gerados no fim de uma reação inflamatória [uratos, proteínas nucleares]) → Atingirão os capilares alveolares, ↑ a permeabilidade e formando NETs (armadilhas extracelulares de neutrófilos) → Essas armadilhas aumentarão a pressão dentro do capilar. Como a permeabilidade estará aumentada, tem extravasamento de plasma para zonas de menor pressão (alvéolos). Consequentemente, há acúmulo de líquido interalveolar, achado essencial da SDRA. a. Redução da relação PaO2/FiO2 (< 300): ⊗ das trocas gasosas devido ao líquido alveolar. b. Radiografia de tórax: Vê-se preenchimento alveolar bilateral, poupando ápices pulmonares, com eventuais broncogramas aéreos. A presença de derrame pleural é frequente, ocorrendo em 80% dos pacientes. 4. Alterações cardiológicas: Pacientes com sepse podem apresentar uma contratilidade cardíaca alterada, seja com disfunção sistólica, eventualmente com redução da fração de ejeção cardíaca, com disfunção diastólica ou ambas. Pacientes com disfunção cardíaca têm mortalidade muito aumentada em uma internação por sepse, sendo um dos fatores de disfunção orgânica com pior prognóstico. 5. Alterações renais na sepse: Advém da produção de citocinas (mecanismos renais) e produção de óxido nítrico (mecanismos pré-renais): a. Produção de citocinas: Principalmente IL-1, IL-6 e TNF-alfa. ● Dano tubular: Produção massiva de citocinas e exposição a DAMPs e PAMPs → Produção aumentada de espécies reativas de oxigênio → Dano citotóxico nos túbulos contorcidos proximais e distais. ● Infiltração glomerular de linfócitos: ↑ citocinas→ + neutrófilos para a cápsula de Bowman → Intensa inflamação mesangial → Dificuldade na filtração glomerular. ● Microtrombos glomerulares: A inflamação intensa também aumentará a possibilidade de coagulação intravascular, gerando microtromboses glomerulares, que culminarão na lesão renal aguda associada à sepse. b. Produção de óxido nítrico: Estímulo infeccioso → Produção intensa de óxido nítrico (NO) → Vasodilatação sistêmica (o que inclui a arteríola aferente). ● 1ª fase (minutos-horas) → Aumento transitório da TFG (chega mais sangue ao rim). ● 2ª fase → Progressão da vasodilatação gerará uma lesão renal aguda pré-renal mais acentuada e, em casos mais extremos, até micro isquemias. 6. Alterações neurológicas na sepse: Uma das complicações mais comuns durante a fase aguda da sepse é a encefalopatia e pode carregar uma grande morbidade, após a alta hospitalar. O aumento de citocinas levará ao distanciamento das junções de oclusão da BHE → maior permeabilidade → exotoxinas e células inflamatórias ao SNC. Além disso, pode ser ocasionada por hipoxemia, hipercapnia, hipoglicemia, choque com redução da pressão de perfusão cerebral e hipernatremia. A longo prazo, tem-se uma redução de densidade neuronal, seja por regeneração resultante da injúria inflamatória ou por lesões trombóticas/hemorrágicas que ocorreram durante o episódio de sepse, além do aumento do número de astrócitos na composição do parênquima cerebral. Tais alterações podem levar, no futuro, a uma atrofia cerebral difusa e alterações cognitivo-motoras. Fase aguda: delirium, alterações do NC, agitação, sonolência, alucinações. Fase crônica: disfunções neurocognitivas, diminuição dos NT (serotonina, dopamina). 7. Alterações gastrointestinais na sepse: Aumento de citocinas e a exposição aos DAMPs e PAMPs → Inflamação dos ductos biliares → Colestase trans-infecciosa (marcada pelo aumento de enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e gama glutamil transferase). Devido à colestase importante, é perceptível uma desregulação na excreção de bilirrubina direta pelos hepatócitos, levando a uma hiperbilirrubinemia total e direta, marcador disfuncional gastrointestinal com maior correlação com a mortalidade atribuída à sepse. Os hepatócitos raramente sofrem insuficiência aguda, exceto em casos em que há doença hepática preexistente, sendo as transaminases, habitualmente, pouco alteradas na sepse. O estado toxêmico e pró-inflamatório da sepse impedirá o estímulo vagal parassimpático, são esperados a gastroparesia (redução da motilidade do estômago, com aumento do resíduo gástrico) e o íleo adinâmico, que facilitam a desnutrição já acelerada pelo estado catabólico do paciente. 8. Alterações hematológicas na sepse: Estado de hipercoagulação, que pode ser seguido de um estado pró-hemorrágico, com redução na hematopoiese por diversos fatores. Existem duas interleucinas-chave nos fenômenos trombóticos da sepse, a IL-6 e o TNFα. A sepse aumenta o risco de CIVD (hipercoagulabilidade e intensa supressão medular gerando anemia). a. IL-6: Aumenta a expressão de fatores tissulares pró-trombóticos (expressos pelo endotélio dos vasos) → Aumenta a trombina → Trombos (consumo de plaquetas [plaquetopenia de consumo], fibrinogênio e fatores de coagulação). b. TNFα: Colabora para o estado pró-coagulante por meio de dois mecanismos distintos: ● Inibindo vias fisiológicas anticoagulantes e; ● Reduzindo a fibrinólise pelo aumento expressivo da síntese de plasminogênio. A sucessão desses eventos leva à trombose microvascular, piorando a hipoperfusão da sepse e a disfunção orgânica, quadro que denominamos de CIVD – coagulação intravascular disseminada. ● Triagem antiga da sepse - Síndrome da resposta inflamatória sistêmica: No início dos anos 90, percebeu-se que a maior parte dos pacientes com sepse apresentava: febre ou hipotermia, taquicardia, taquipnéia ou hipoxemia e alterações nas contagens de leucócitos. Esses sinais clínicos e laboratoriais foram agrupados como critérios da Sd. da resposta inflamatória sistêmica (SRIS ou SIRS). Mulher 65 anos, história de tabagismo, chega na emergência com dor ventilatório dependente, tosse produtiva, eliminação de escarro purulento e febre (38,5oC). Exame Físico: Lúcida, orientada, taquicárdica (FC=100 bpm), taquipnéia (FR=28 irpm). PA 90x60, extremidades aquecidas. RX Tórax: consolidação terço inferior direito, leucograma apresenta 23.000/mm leucócitos com desvio à esquerda. Após receber 2 litros de SF 0,9 % a pressão arterial foi medida em 110X80. Com relação ao quadro clínico, qual o diagnóstico: (B) Sepse Paciente feminina, 63 anos, admitida no pronto-socorro com queixa de disúria e odor fétido na urina há dois dias. Hoje familiares notaram a paciente apática e confusa. Sinais vitais na triagem: frequência cardíaca=99 bpm, frequência respiratória= 25 irpm, pressão arterial= 85 x 50 mmHg, saturação periférica de oxigênio = 88% em ar ambiente. Sepse grave de provável foco urinário. Monitorização na sala de emergência, oferta de oxigênio e acesso venoso periférico; iniciar reposição volêmica com 30ml/kg/peso de solução cristalóide; coleta de hemoculturas periféricas e lactato, seguida do início precoce de antibióticos de amplo espectro. Considerando as diretrizes atuais do Surviving Sepsis Campaign, assinale verdadeiro ou falso. - A SIRS pode ser encontrada em politraumas, politransfundidos, pacientes com pancreatite e submetidos a cirurgias de grande porte. - A sepse consiste no achado de no mínimo 2 alterações clínico laboratoriais em um paciente com suspeita de doença infecciosa. - Sepse grave significa achado de bactérias na corrente sanguínea por meio de resultado de 2 hemoculturas. - O pulmão é o sítio mais comumente associado aos quadros evolutivos de sepse. - Sepse atualmente é definida pela presença de uma infecção mais escore SOFA maior ou igual a 2. - Choque séptico é definido com a presença de sepse associado a necessidade de utilização de vasopressores para manter a pressão arterial acima de 65 mmHg mais lactato sérico maior que 2 nmol/L (ou 10 ng/dL). ( )Quick SOFA é uma ferramenta utilizada para detectar pacientes commaior risco de desfechos adversos. ( )Os parâmetros analisados pelo SOFA são: PaO2/FiO2, plaquetas, bilirrubinas, PA, nível de consciência e função renal. ● Triagem atual da sepse - Escore quick SOFA: Pensando na alta sensibilidade do antigo SIRS e na dificuldade de aplicação em áreas remotas, a Society of Critical Care Medicine, junto à European Society of Intensive Care Medicine, criou um novo escore, em 2016: o quick SOFA. Então, o critério de triagem que deve ser utilizado é o quick SOFA! ● Escore SOFA - Estimativa da mortalidade associada à sepse: Análise do grau de disfunção orgânica do paciente. Ajudar a priorizar recursos e limitar cuidados, priorizando paliação em situações com baixa probabilidade de resposta clínica. Os sistemas avaliados são: ■ Respiratório: Relação PaO2 / FiO2. ■ Hematológico: Grau de plaquetopenia. ■ Neurológico: Escala de coma de Glasgow. ■ Hepático: Bilirrubina total. ■ Cardiovascular: Hipotensão ou uso de drogas vasoativas. ■ Renal: Oligúria ou aumento da creatinina. ● Manejo da sepse: medidas terapêuticas da sepse em 2 pacotes: (1) Pacote de 1ª hora de atendimento (golden hour), envolvendo 5 etapas, e (2) Pacote de atendimento da 6ª hora. ■ Pacote de 1ª hora de atendimento: 1. Coleta de provas de disfunção orgânica: O objetivo é analisar o grau de disfunção orgânica. Logo, coleta-se os marcadores prognósticos contidos no escore SOFA. Das 6 disfunções, a única que não tem exame laboratorial é a disfunção neurológica. a. Respiratório: Gasometria arterial. b. Hematológico: Hemograma. c. Neurológico: Não há. d. Hepático: Bilirrubina total. e. Cardiovascular: Lactato arterial. f. Renal: Creatinina. De todos, o mais importante é o lactato arterial = grau de hipoperfusão da sepse, responsável por todas as outras disfunções. Além disso, ele é o único parâmetro laboratorial reavaliado no pacote de 6 horas. 2. Coleta de culturas: Sempre deve-se tentarisolar o agente infeccioso durante o manejo inicial da sepse. Isso auxiliará a guiar o tratamento antimicrobiano (espectro e dose) e, até, encontrar focos infecciosos adicionais. a. Coleta de dois pares de hemoculturas de sítios distintos antes do início de antimicrobianos, resultando em dois balões de hemocultura (aeróbio/anaeróbio) coletados do braço esquerdo e dois balões coletados do braço direito, totalizando quatro amostras. + Coletar culturas de outros sítios pertinentes, por exemplo: b. Infecção do trato respiratório: cultura de secreção traqueal ou escarro; c. Infecção do trato urinário: uroculturas; d. Infecção gastrointestinal: coprocultura (se diarreia patológica); e. Pele, partes moles, sítio cirúrgico: cultura de abscessos, de sítio incisional etc; f. Artrite séptica: cultura de líquido sinovial; g. Infecção do sistema nervoso central: cultura de LCR. 3. Antibioticoterapia e controle do foco: Após, deve-se iniciar antibióticos de largo espectro, via EV e ajustados para peso do paciente. Tem objetivo de reduzir a carga do microrganismo causador da sepse com consequente controle inflamatório e, consecutivamente, hemodinâmico. Em pacientes internados, temos que pensar em cateteres, sondas e derivações cirúrgicas que possam ser fonte de infecção, pois algumas bactérias formam biofilmes nesses dispositivos e são dificilmente erradicadas. 4. Ressucitação volêmica: Garantirá a perfusão de oxigênio e nutrientes → Reduz o metabolismo anaeróbio → Reduz acidose hiperlactatemia. Oferecer aos pacientes com sinais de hipoperfusão ("Regra dos 3 Ps" → PAM< 65 mmHg, Perfusão lentificada e Pulsos filiformes) ou com lactato arterial acima de 2x o valor de referência. 5. Drogas vasoativas: Caso o paciente apresente PAM persistentemente < 65 mmHg após expansão volêmica adequada, o uso de drogas vasoativas deverá ser prontamente iniciado, já no final da 1ª hora. Em caso de hipotensão ameaçadora à vida, o uso de vasopressores deverá ser iniciado ainda na primeira hora de atendimento, junto com as soluções cristalóides. Não é necessário o uso imediato de um acesso venoso central para a infusão de vasopressores. No contexto de emergência, um acesso venoso periférico calibroso poderá ser utilizado nas primeiras horas, tão logo se realize a punção de acesso venoso central. Como o problema da sepse é a redução da RVP, o vasopressor de escolha é aquele com maior ação vasoconstritora, levando ao aumento da RVP. Desses, a droga de escolha sempre deverá ser a noradrenalina. ■ Pacote da 6ª hora de atendimento: Nem todo paciente precisará da reavaliação de 6ª hora. Apenas aqueles com sinais de choque séptico, lactato inicial acima de 2x o limite superior da normalidade e com hipoperfusão tecidual. O objetivo desse pacote é hemodinâmico: analisar as condições de volemia do paciente e sua perfusão tecidual. HEMORRAGIA INTERNA E EXTERNA / ALTA E BAIXA ● Hemorragia interna: Sangramento não exteriorizado. Sintomas e os sinais demoram mais a aparecer → pulso com batimento anormal (fraco ou acelerado); pele fria; sudorese abundante; palidez intensa; tonturas; eliminação de sangue pela boca (junto com vômito ou saliva), nas fezes e na urina; sede; inconsciência. 1. CAVIDADE ABDOMINAL: capaz de reter grandes volumes. Confirmação feita pelo FAST ou LPD. Pode haver indicação de laparotomia (retroperitônio → não consegue pelo fast). 2. RETROPERITÔNIO: é envolvido pelo peritônio → Se há sangramento, o sangue não se comunica com a cavidade abdominal → O LPD e FAST não identifica sangue se o sangue estiver isolado → FAST identifica se o sangramento for tão exacerbado que desloca estruturas da cavidade. Equimose em dorso e flancos → Identificação clínica → Alta probabilidade de ser sangramento no retroperitônio. 3. HEMOTÓRAX: Comporta grandes volumes → MV diminuídos + Macicez à percussão. Tto inicial → Drenagem torácica → Se alta quantidade de sangue → toracotomia. 4. PELVE: Comporta grandes volumes. Dor/Crepitação da sínfise púbica à palpação. Controle de sangramento/Estabilizar: Lençol (ao nível dos trocantes maiores) tala flexível, pelvic binder. 5. OSSOS LONGOS: Pode ocorrer sangramento mesmo se a fratura for fechada. Menino de 14 anos sofre trauma em epigástrio em acidente com bicicleta. Chega à sala de emergência queixando-se de dor abdominal, frequência respiratória de 20 rpm, pressão arterial de 110 x 65mmHg e frequência cardíaca de 105 bpm, escala de coma de Glasgow 15, pupilas isocóricas e foto reagentes, discreta equimose em epigástrio. Realizado Ultrassom na sala de emergência que não evidenciou líquido na cavidade abdominal. Tomografia revela hematoma intramural em terceira porção duodenal que se estende até o início da quarta porção, sem evidências de enfisema retroperitoneal. Com relação ao tipo de trauma e a esta lesão duodenal diagnosticada assinale a alternativa com a conduta inicial mais adequada. Fechado; Jejum oral, hidratação, sondagem gástrica e observação. ● Hemorragia externa: Sangramento exteriorizado. 3 tipos principais → tipo de vaso sanguíneo rompido - Arterial: sangue coloração viva, vermelho claro, derramado em jato, conforme o batimento cardíaco, geralmente rápido e de difícil controle. - Venosa: coloração vermelho escuro, em fluxo contínuo, sob baixa pressão. - Capilar: Flui de diminutos vasos da ferida. Possui coloração avermelhada, menos viva que a arterial, e facilmente controlada. ● Hemorragia alta: Sangramentos oriundos superior ao ângulo de Treitz → flexura entre duodeno e jejuno, acima dela: esofago, estômago, duodeno, vias hepatobiliopancreaticas. Apresentação clínica: - Hematêmese: Vômito de sangue vermelho vivo; - Melena: fezes escuras (em borra de café, enegrecidas), pegajosa, fétido. PERDA VOLÊMICA: Hipotensão postural → Taquicardia → Hipotensão independente da situação do paciente → choque hemorrágico (alargamento do tempo de enchimento capilar, pulsos finos, pele pegajosa). Etiologia - Após estabilizar o paciente → EDA para averiguar a causa. Mais comuns: Péptica (duodenal) e varicosa (varizes esofágicas)! Manejo Clínico: → Avaliação inicial: história médica pregressa + histórico de sangramento GI superior + histórico de medicamentos (AINEs, anticoagulantes, antiplaquetários, ISRS, BCC, antagonistas da aldosterona). → Avaliação dos sintomas: sangramento grave é representado por tontura ortostática, confusão, angina, palpitações severas e extremidades frias/úmidas. Exame físico - Frequência do pulso e a PA com o paciente deitado, sentado e em posição ortostática. - Cor das mucosas visíveis e a presença ou não de sudorese. - Dor à palpação abdominal, linfadenopatia, massa abdominal e esplenomegalia. - Toque retal. PRIMEIRA ABORDAGEM: Estabilização clínica do paciente: Suporte geral: 1. O2 suplementar, 2. 2 cateteres periféricos, 3. Intubação em caso de paciente com hematêmese contínua. 4. Ressuscitação com fluidos: Pacientes com sangramento ativo → fluidos intravenosos. 5. Pode ser necessário suporte temporário com drogas vasopressoras. 6. Transfusão sanguínea: hemoglobina for <7 g/dL. 7. Anticoagulantes e antiplaquetários. 8. EDA precoce → não deve ser adiada devido ao uso de anticoagulantes ou antiplaquetários, desde que o paciente esteja hemodinamicamente estável → Espera-se até que o INR seja <2,5 se possível. 9. Supressão ácida: IBP IV a cada 12 horas ou iniciar uma infusão contínua para pacientes com sinais de sangramento ativo. 10. Procinéticos: eritromicina e metoclopramida → melhorar a visualização gástrica na EDA. 11. Medicamento vasoativo: Somatostatina, octreotide e a terlipressina são usados no tratamento de sangramento por varizes e também podem reduzir o risco de sangramento devido a causas não varicosas. 12. Jejum (possível processo cirúrgico). Laboratório: → Hemograma completo, bioquímica sérica, testes hepáticos e estudos de coagulação. → ECG seriados e enzimas cardíacas podem ser indicados em pacientes com risco de IAM. ● Hemorragia baixa: inferior ao ângulo de Treitz → jejuno, íleo, ceco, cólon, reto e canal anal. Apresentação Clínica: Enterorragia:Sangue vermelho vivo nas fezes; Hematoquezia: Sangue misturado às fezes formadas; PERDA VOLÊMICA → Hipotensão postural → Taquicardia → Hipotensão independente da situação do paciente → choque hemorrágico (alargamento do tempo de enchimento capilar, pulsos finos, pele pegajosa). Etiologia → Jejuno: doença de Crohn: úlceras pépticas proximais. → Ílio: doença de crohn: pode acometer todo o tgi → Cólons: Doença diverticular dos cólons; Angiodisplasia; Tumor de cólon. → Reto: retite actínica; RCU; Tumor de reto. → Doença orificial: Fissura anal; hemorroida; tumor de canal anal. Manejo Clínico: → História + exame físico + Lab + ressuscitação com fluidos + transfusão (idem HDA) → Anticoagulantes e antiplaquetários: em pacientes com sangramento com risco de vida e coagulopatia (INR >1,5) → varfarina e anticoagulantes de ação direta devem ser suspensos. Exames: → Realizar EDA antes da colonoscopia → descartar HDA e por não precisar de preparo. → Colonoscopia: Localizar com precisão o local do sangramento. Capacidade de coletar amostras patológicas; Potencial de intervenção terapêutica CHOQUE HEMORRÁGICO É a principal etiologia de choque no trauma e também a principal causa de morte evitável em pacientes politraumatizados. Portanto, ao avaliarmos um politraumatizado com sinais de choque, sempre devemos considerar a hemorragia como principal causa → essencial investigar se existem focos de hemorragia externa, além de pesquisar os 5 focos principais de sangramento interno. ● Focos de hemorragia externa: facilmente identificados durante a avaliação primária e devem ser tratados por meio de compressão direta do ferimento. Nos casos em que há sangramento de extremidades, sem possibilidade de controle por meio de compressão, devemos considerar a aplicação de um torniquete. Vale lembrar que o uso dessa estratégia por tempo prolongado pode levar à isquemia irreversível de parte do membro. ● Focos de hemorragia interna: ■ Cavidade abdominal: É capaz de reter grandes volumes. Se dúvida diagnóstica, a confirmação pode ser feita pelo FAST (ultrassom na sala de trauma) ou LPD (lavado peritoneal diagnóstico). Pode haver indicação de laparotomia (sem nenhum exame complementar) se o paciente estiver com trauma contuso associados à hipotensão, sem outros focos de sangramento prováveis e/ou hipotensão associada a ferimentos penetráveis que ultrapassam a fáscia anterior da parede abdominal. ■ Retroperitônio: o LPD e FAST possuem baixa sensibilidade para diagnóstico. O retroperitônio é envolvido pelo peritônio, portanto, se há sangramento, o sangue não se comunica com a cavidade abdominal (O LPD e FAST não identifica sangue se o sangue estiver isolado ao retroperitônio). O FAST pode identificar se o sangramento for tão exacerbado que desloca estruturas da cavidade. Pode-se identificar clinicamente o sangramento através de equimose em dorso e flancos (alta probabilidade de ser sangramento no retroperitônio). ■ Hemotórax: O tórax é uma cavidade que comporta grandes volumes. No hemotórax haverá MV diminuídos e macicez à percussão. O tratamento inicial é drenagem torácica, porém, se alta quantidade de sangue, está indicada a toracotomia. ■ Pelve: Comporta grandes volumes. O paciente pode apresentar dor ou crepitação da sínfise púbica à palpação. A medida emergencial utilizada durante a avaliação primária para controle do sangramento pélvico é a imobilização dos ossos da pelve com lençol, tala flexível ou cinturão pélvico. ■ Ossos longos: Ossos como a tíbia e o úmero, quando fraturados, podem levar à perda de até 750mL. Já os sangramentos provenientes do fêmur podem atingir volumes de até 1.500mL. O controle do sangramento de ossos longos pode ser feito durante a avaliação primária, por meio da redução da fratura e imobilização com a aplicação de tala ou splint de tração. ● Apresentação clínica: ■ Sinais precoces: hipovolemia → liberação de catecolaminas que produzem: ○ Taquicardia: O ↑ da FC é um mecanismo compensatório que permite que o DC mantenha-se constante, mesmo diante de determinadas perdas volêmicas. ○ Palidez cutânea: A liberação de catecolaminas leva à vasoconstrição da circulação cutânea, visceral e muscular. Esse fenômeno produz o aumento da RVP, favorecendo a manutenção dos níveis de PA e, consequentemente, a perfusão de órgãos nobres. ○ Redução da pressão de pulso (PAS - PAD): A redução da pressão de pulso acontece à medida que a vasoconstrição e o aumento da RVP elevam a PAD → valores de pressão de pulso inferiores a 30mmHg podem ser indicativos de um baixo índice cardíaco. A existência desses mecanismos de compensação (taquicardia e vasoconstrição periférica) permite que os níveis pressóricos se mantenham estáveis, mesmo com perdas de sangue até 30% da volemia. ■ Sinais tardios: ○ Hipotensão: ↓ dos níveis tensionais acontece após a perda de 30% ou mais da volemia. ○ Alteração do nível de consciência: Também é uma alteração perceptível apenas quando as perdas volêmicas superam 30%. Portanto, taquicardia, palidez cutânea e redução da pressão de pulso são sinais precoces do choque hipovolêmico, enquanto que a hipotensão e a alteração do nível de consciência são sinais tardios. O choque hipovolêmico consiste em uma alteração hemodinâmica crítica, provocada pela diminuição aguda do volume de sangue intravascular a tal nível que não é possível manter a perfusão tissular. Tal condição se manifesta por meio de um conjunto de sinais e sintomas característicos - são característicos do início de um estado de choque hipovolêmico. Palidez cutânea, aumento de frequência respiratória, aumento da frequência cardíaca. Um paciente internado em UTI no pós-operatório de cirurgia de grande porte, na qual foi submetido à passagem de cateter duplo-lumen em veia subclávia direita antes do procedimento cirúrgico. O plantonista nota em radiografia de controle que o cateter venoso central encontra-se mal posicionado e realiza a troca do mesmo. Após 50 minutos o paciente apresenta hipotensão (PA 100x60 mmHg) que melhora rapidamente com infusão de noradrenalina. Após mais 30 minutos apresenta novamente hipotensão severa (PA 70x30 mmHg) que melhora com administração de volume, porém ocorre piora dos parâmetros ventilatórios (FC 100 bpm; PA 110x80 mmHg; Fr 32 rpm; Sat O2 88%). A radiografia de tórax nesta ocasião revela opacificação total do hemitórax direito. Sobre as causas de choque e qual a melhor conduta a seguir, a alternativa correta é:Choque hemorrágico; Drenagem pleural e observação. Paciente de 32 anos, feminina, vítima de politraumatismo decorrente de colisão automóvel versus caminhão, foi trazida à unidade de emergência do Pronto Socorro. Na admissão a paciente encontrava-se inconsciente, com colar de imobilização cervical. Ao exame clínico apresentava-se taquicárdica (144 bpm), hipotensa (40x20 mmHg), anisocórica, escala de coma de Glasgow 3, Saturação O2 88%, Temperatura 34,6oC, com fraturas em pelve, úmero esquerdo e mandíbula; além de sangramento ativo na região fronto-parietal direita, grande hematoma em região da pelve e hipogástrio. Qual o diagnóstico da paciente → Choque hipovolêmico secundário a trauma pélvico + TCE Descreva passo a passo a conduta → Homem de 27 anos, vítima de queda de moto após choque em alta velocidade com um carro, é trazido ao pronto-socorro. Apresenta-se com vias aéreas pérvias, murmúrios vesiculares presentes e simétricos, frequência respiratória de 30 incursões respiratórias por minuto, frequência cardíaca de 125 batimentos por minuto, pressão arterial de 90 x 50 mmHg. Apresenta, ainda, sinais de fratura em face, antebraço direito e perna direita. Dor à palpação da bacia e distensão abdominal, sem outras alterações. Foram realizados os exames abaixo (radiografia da perna, do tórax, da bacia e fast). Cite o diagnóstico deste paciente e justifique a sua resposta. Choque hipovolêmico hemorrágico Classe III, com sangramento no abdome demonstrado no FAST (presença de líquido no espaço de Morrison). Durante um assalto um jovem de 22 anos de idade sofre um ferimento por arma brancaem região cervical. Na sala de emergência apresenta confusão mental, agitação, murmúrio vesicular simétrico com roncos bilateralmente, FR 28ipm e Sat O2 92%, hematêmese e sangramento ativo pelo ferimento de 4cm localizado no terço médio do músculo esternocleidomastoideo esquerdo. Pressão arterial 70 x 40mmHg e FC 148 bpm. quais medidas devem ser tomadas no atendimento inicial: Intubação traqueal, reposição volêmica com sangue e cristalóide, compressão local e exploração em centro cirúrgico Homem de 19 anos chega à emergência, vítima de ferimento por arma branca na região torácica anterior direita (3 EIC) e na região periumbilical esquerda. Ao exame físico está consciente, com PA=100x60mmHg, FC=92bpm, FR=22irpm e oximetria de pulso=93% (com máscara de oxigênio). O exame de tórax revela timpanismo à percussão torácica e murmúrio vesicular diminuído à direita, e do abdome dor à palpação difusa com sinais de irritação peritoneal. A conduta é: Drenagem de tórax e laparotomia mediana ● Classificação da hemorragia: Baseado no volume de sangue perdido e nas características clínico-laboratoriais da perda volêmica → principal guia para tomada de decisões terapêuticas. ■ A última edição (10ª), na prática, é muito parecida com a 9ª edição, porém a conduta frente à cada classe de hemorragia consta apenas na última edição. ● Tratamento do choque hemorrágico: feito durante a etapa C do ATLS (circulation). Não confundir o ATLS com o PHTLS (atendimento pré-hospitalar ao trauma)! No atendimento pré-hospitalar (PHTLS), o tratamento de hemorragias graves, com risco de exsanguinação, é prioritário em relação à estabilidade da coluna cervical, vias aéreas e ventilação - O mnemônico de atendimento das prioridades de atendimento pré-hospitalar é o XABCDE. ■ Etapa C do ATLS: (1) Parar os focos de sangramento e (2) Repor o volume (paralelamente). 1. Obtenção de acesso vascular: O ATLS preconiza que o acesso preferencial em adultos seja feito por meio de punção periférica com dois cateteres calibrosos (diâmetro ≥ 18 gauge). 2. Coleta de amostras de sangue, logo após obtenção do acesso: Imediatamente após a obtenção do acesso vascular, devem ser colhidas amostras de sangue para realização de tipagem sanguínea e provas cruzadas (caso o paciente tenha indicação de receber sangue) e teste de gravidez (a fim de programar uma possível laparotomia, e/ou identificar aloimunização pelo feto [nestes casos, faz-se a administração de vacina anti-Rh]). Nessa etapa, podemos realizar também uma gasometria (valor do Base Défice (um dos critérios aplicados para a classificação da hemorragia) e valor de lactato). 3. Reposição de volume: Indicado para todos os subtipos de choque! a. Adultos: Solução isotônica (cristaloides, preferencialmente RL), em bolus de 1000mL. b. Crianças com menos de 40Kg: A dose de reposição deve ser de 20mL/kg de peso. Após essa medida, devemos observar o tipo de resposta apresentada pelo paciente. Independentemente da resposta à reposição volêmica, a administração de grandes volumes de sangue ou cristalóide não substitui o controle definitivo do foco de sangramento. 4. Reposição de hemoderivados: baseada na classificação da hemorragia, assim como na resposta à reposição volêmica inicial. A reposição volêmica com hemoderivados em caráter precoce está indicada para: a. Pacientes com hemorragia classe III; b. Pacientes com hemorragia classe IV; c. Respondedores transitórios à reposição volêmica; d. Não respondedores à reposição volêmica. As vítimas de choque têm uma alta predisposição à coagulopatia. Isso acontece pela hemodiluição do plasma provocada pelos cristalóides e pelos concentrados de hemácias, além do consumo de fatores de coagulação provocado pelo trauma. Portanto, nesse contexto, duas ações devem ser tomadas para reduzir o risco de morte pela coagulopatia. 1. Administração de fluidos (sangue ou cristalóides) aquecidos a uma temperatura de 39°C: Cristalóides podem ser aquecidos em estufas ou fornos de micro-ondas. No entanto, os concentrados de hemácias só podem ser aquecidos em aquecedores de fluido de alto fluxo. 2. Correção de distúrbios de coagulação: Impedir, de forma precoce, que as coagulopatias por deficiência de hemocomponentes desenvolvem-se. Os testes indicados para o diagnóstico da coagulopatia incluem a coagulometria padrão, com contagem de plaquetas, TAP e KPTT. Em pacientes sem proposta de transfusão maciça, a administração de plasma, plaquetas e crioprecipitados deve ser guiada pelos testes coagulométricos. Protocolo de transfusão maciça (PTM): Indicado nas seguintes situações: 1. Choque hemorrágico classe IV; 2. Choque hemorrágico II ou III com resposta transitória ou sem resposta à reposição volêmica inicial; 3. ABC Score maior ou igual a 2 pontos*. Segundo o ATLS, considera-se transfusão maciça a administração de mais de 10 concentrados de hemácias nas primeiras 24 horas subsequentes ao trauma ou 4 concentrados de hemácias em uma hora. Vale lembrar que, na transfusão maciça, é recomendada a administração de concentrados de hemácias juntamente a plasma e plaquetas na proporção de 1:1:1. Essa abordagem é chamada de ressuscitação volêmica balanceada ou hemostática, e está associada à redução da mortalidade. Escore ABC: Bastante aplicado nos cenários de trauma, para avaliar a necessidade de TM. ● Trauma penetrante em tronco (tórax ou abdome) – 1 ponto; ● FAST positivo – 1 Ponto; ● Pressão arterial sistólica igual ou abaixo de 90 – 1 ponto; ● Frequência cardíaca igual ou acima de 120 – 1 ponto. 2 ou mais pontos já indicam necessidade de transfusão maciça! Hipotensão permissiva: Prevê a administração EV de fluidos ou hemoderivados de modo que seja apenas suficiente para manter a PAS > 70. Segundo alguns autores, essa medida melhora o prognóstico em pacientes com choque hemorrágico, especialmente nos casos em que a causa do sangramento é secundária a ferimentos penetrantes de tronco. Essa estratégia não é recomendada para pacientes com traumatismo cranioencefálico à medida que a hipotensão pode reduzir a perfusão cerebral e aumentar a mortalidade. 5. Ácido tranexâmico: Essa droga está formalmente indicada em até três horas após o trauma, nos casos em que a FC > 110bpm ou a PAS < 90. Sua administração é feita da seguinte forma: a. 1g, IV, em bolus (em 10 minutos) - Preferencialmente na cena do trauma; b. 1g, IV, ao longo das próximas 8 horas - Iniciada logo após a 1ª dose. ● Medidas auxiliares: ■ Passagem de sonda vesical de demora (SVD): Elemento útil em 2 aspectos: 1. Quantificar o débito urinário (excelente indicador da perfusão renal) → indicador mais fidedigno para avaliar perfusão tecidual e reposição volêmica. 2. Diagnóstico de lesões das vias urinárias, que se manifesta por meio de hematúria após a sondagem (equimose de períneo e de escroto e presença de sangue no meato uretral). Portanto, é contraindicado em casos onde há suspeita de trauma de uretra. Nesses casos, uma uretrografia retrógrada deve ser considerada antes da sondagem. A uretrografia é parte da avaliação secundária, portanto está contraindicada caso haja instabilidade hemodinâmica. ■ Sondagem nasogástrica: 1. Descompressão gástrica: A dilatação gástrica - comum em vítimas de trauma - pode levar à hipotensão por mecanismo pouco compreendido ou a bradiarritmias em decorrência da estimulação vagal. 2. Diagnóstico de sangramentos do trato gastrointestinal: A presença de sangue após a sondagem gástrica deve levantar suspeita para sangramentos traumáticos do TGI. Contraindicado se sinais de fratura de base de crânio (hematoma retroauricular (sinal de Battle), equimose periorbital (sinal do guaxinim), otorragia e hemotímpano, otoliquorreia, rinorreia). Afinal, a fratura de base de crânio pode permitir que haja falso trajeto da sonda para o interior da caixa craniana. HEMOCOMPONENTES Os produtos transfusionais, obtidos por doações de sangue, são divididos em duas grandes classes: 1. Hemocomponentes: Aqueles gerados em um serviço de hemoterapia por meio do processamento físico do sangue total (centrifugação,
Compartilhar