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Aula 1 - A Linguagem Hipermidiática na Construção da Aprendizagem

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Aula 1 — A Linguagem Hipermidiática na Construção da Aprendizagem
Descrição: Contexto, conceito e características da linguagem hipermidiática, bem como suas implicações nas práticas pedagógicas de ensino-aprendizagem.
Propósito: Identificar as alternativas e novas oportunidades de aprendizagem a partir do estudo e do conhecimento das possibilidades educacionais da linguagem hipermidiática.
Preparação: Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos dicionários on-line e gratuitos, como o Glossário Ceale, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Dicionário de Terminologia de Educação a Distância, disponível no portal da ABED, o Dicionário Priberam, entre outros.
Objetivos:
Módulo 1 — Identificar os diferenciais da linguagem hipermidiática
Módulo 2 — Identificar implicações pedagógicas das inovações e linguagem digitais
Módulo 3 — Reconhecer a relação da linguagem e do design de recursos didáticos com a aprendizagem
Introdução:
Com este conteúdo, você vai adquirir uma visão diferente sobre algo que, provavelmente, já conhece em parte. Estamos falando das linguagens hipermidiáticas e seus componentes, bem como de suas possibilidades no campo educacional.
É bem possível que você tenha o hábito de navegar pela Internet usando o celular, lançando mão de vários aplicativos e realizando uma série de ações no mundo digital. No entanto, acreditamos que você ainda precise conhecer os propósitos das linguagens hipermidiáticas e saber como se beneficiar delas para o seu processo de aprendizagem.
Vamos apresentar, para isso, alguns conceitos que ampliem sua visão sobre as linguagens hipermidiáticas, os processos de comunicação pedagógica, as mídias digitais educativas e o design educacional. Desse modo, vamos promover formas mais qualitativas e inovadoras no ensino, e que resultem em uma aprendizagem de mais qualidade.
Falamos em ampliar a visão porque você já tem uma vivência como usuário no campo de tecnologia, uma vez que pratica a comunicação digital de diferentes formas. No entanto, é necessário articular essas práticas com o contexto educacional.
Vamos juntos, a partir de agora, olhar para algo que você já conhece – as linguagens digitais – e construir reflexões críticas para o campo educacional.
Módulo 1 — Identificar os diferenciais da linguagem hipermidiática
EDUCAÇÃO E CONTEXTO HIPERMIDIÁTICO
O mundo se configurou de uma forma muito diferente a partir da introdução das mídias eletrônicas e digitais. Não vivemos sem a comunicação por celular nos dias atuais e estamos, portanto, distantes de um estilo de vida em que não havia Internet. Isso é um fato incontestável.
O filósofo francês Pierre Lévy, nos anos 1990 – época do surgimento da internet comercial –, entendia que as mediações tecnológicas digitais seriam irreversíveis, levando à chamada sociedade em redes, sociedade digital, e assim por diante.
As definições de ciberespaço, cibercultura, cultura digital e inteligência coletiva, em função das mídias digitais, da Internet e da Web, começaram a ganhar espaço no campo da comunicação, da informação e da educação.
Ciberespaço
O conceito de ciberespaço, elaborado pelo escritor norte-americano William Gibson, corresponde ao espaço virtual criado por uma rede de computadores. Desse modo, o ciberespaço é um espaço virtual de comunicação e interação.
Cibercultura
É a cultura emergente do ciberespaço. Corresponde às manifestações artísticas, às formas de entretenimento, aos saberes, aos costumes, aos valores e outros aspectos da socialização, da comunicação e da interação no mundo digital ou virtual.
Cultura Digital
Termo equivalente à cibercultura, designando também a forma de cultura produzida e veiculada no ciberespaço.
Inteligencia Coletiva
Conceito elaborado por Pierre Lévy. Pode ser, inicialmente, descrito como uma inteligência que está distribuída e compartilhada em todo lugar, graças ao ciberespaço, mobilizando colaborativamente diversas competências. No módulo 3, esse conceito será desenvolvido e relacionado com a educação.
	Dificuldades e possibilidades
Mesmo depois de tantos anos, no entanto, ainda existem inúmeras carências relacionadas com a habilitação dos cidadãos aos domínios das linguagens hipermidiáticas, a fim de extrair delas significados de qualidade, tanto para a sua formação educacional quanto para a vida.
Tais carências estão relacionadas não apenas com as possibilidades de ter conexões e acessos de qualidade, o que implica a questão da inclusão digital, mas também com o uso mais produtivo e aprofundado das linguagens hipermidiáticas, fazendo valer o que se aprende. Nesse sentido, o que mais nos interessa aqui é o ensino e o aprendizado a partir das mídias digitais.
Sabemos que a introdução de tecnologias na área educacional não é novidade há algum tempo, mas ainda se espera que isso aconteça de forma mais ampla, democrática e inclusiva. As tecnologias devem contribuir para alterar formas de pensar, de se relacionar e de prover mais qualidade às aprendizagens (BRUNO, 2008).
Constatamos uma grande emergência para o uso de metodologias inovadoras e de novas modalidades educacionais, como o blended-learning – ensino híbrido –, a educação a distância ou educação on-line, e o chamado ensino remoto – todas utilizando linguagens midiáticas.
LINGUAGEM E SOCIEDADE
Uma linguagem viabiliza a expressão, a comunicação e modos de interação. As linguagens servem como uma forma de registro histórico da vida do homem em sociedade. Surgem da necessidade de troca de experiências e sabedoria acumulada nas culturas. Por essa razão, ao longo da história, as linguagens materializam ou dão forma à cultura, às narrativas e a diversas manifestações das civilizações.
Quando pensamos nos processos de escrita e registro dos povos da antiguidade – com uso de barro, pedra, papiro, pergaminho, tábuas ou mesmo das marcações rupestres nas cavernas –, já verificamos uma consciência social para o uso de linguagens, bem como para a necessidade de sua decifração, suas leituras e seus domínios. Todos esses processos estão orientados para disseminação de saberes e conhecimentos. Imagem: Animais representados na Caverna de Chauvet.
Entendemos, com isso, que as linguagens visam a diferentes finalidades, têm diversas formatações e extensões, podendo utilizar variados caracteres ou símbolos.
A linguagem é um código a ser decifrado, ensinado e compartilhado. A condição para o uso de qualquer linguagem é esta: a existência de um domínio para que haja interpretação, interação, codificação, decodificação e troca.
	Transformações das linguagens
A complexidade das linguagens é grande, pois se trata de um produto das culturas, do que se constrói na memória dos povos. As linguagens abarcam várias dimensões – como as culturais, sociais, antropológicas, entre outras – e dependem de comunidades em contato para que possam criá-las, usá-las e expandi-las.
Eventos históricos, sociais e culturais podem contribuir ao longo do tempo para transformações das linguagens. Por exemplo, as línguas são “vivas”, podem sofrer variações e mudanças. Nesse contexto, a linguagem das mídias digitais evidencia a maneira atual de a sociedade se organizar e se deixar representar.
Percebemos, com isso, que a linguagem de uma época ou de um meio não é destruída necessariamente por outra que venha a aparecer. Elas podem se transformar e, muitas vezes, até conviver. O surgimento da escrita não destruiu a oralidade. A televisão não eliminou o rádio, nem o computador fez desaparecer a televisão.
Uma linguagem, no entanto, pode perder sua utilidade, função ou importância em determinado contexto, em determinada época. Os sinais de fumaça, por exemplo, não costumam ser usados e não fazem sentido no espaço urbano.
As linguagens circulam e, por isso, adquirem novos papéis nas realidades em que atuam. Nesse caso, circular não se restringe a propagar, mas a encontrar novos usos, passar por ressignificações por meio das práticas comunicativas.
As novas linguagens, por sua vez, também vão exigir um letramento, ou seja, um domínio
da linguagem em sua relação com as práticas sociais, como resultado de seu uso individual e coletivo.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
Precisamos levar em conta a sociedade digital e a geração digital se quisermos entender o que é linguagem hipermidiática. Nesse sentido, sabemos que, atualmente, vivemos em uma sociedade dependente da informação, do conhecimento e de diversas transações e relações que se dão no mundo virtual, nos meios digitais. Fazemos parte de uma geração digital que tem sua vida, suas relações sociais, seu trabalho, suas atividades e seu entretenimento suportados pelas tecnologias digitais.
Por trás de tudo isso, houve a convergência acelerada dos processos informacionais digitais, atrelados às comunicações, gerando as TDICs – Tecnologias digitais da informação e da comunicação. Nesse contexto, falamos da linguagem hipermidiática.
O que é, no entanto, uma linguagem hipermidiática?
	Hipermídia
Podemos entender o que é a linguagem hipermidiática destacando, inicialmente, a formação de dois elementos do termo hipermídia.
 Hiper Quer dizer algo que vai além, que supera alguns limites. 
 Media Mídia ou o adjetivo midiático corresponde aos meios de comunicação, aos formatos, às intenções e produções digitais que sustentam propósitos interativos e comunicativos. 
 
Podemos dizer, com isso, que hipermídia é a integração de diversos meios e de diferentes tipos de textos, sons e imagens de modo interativo e não linear, de tal forma que se navegue entre eles e se produza, até mesmo, uma versão pessoal desse conjunto de textos. A linguagem hipermidiática, portanto, é a linguagem das mídias digitais.
A hipermídia, para Santaella (2005), está relacionada com um sistema de comunicação eletrônica global. Desse modo, a hipermídia integra as pessoas e os meios digitais em uma relação de troca possibilitada pela comunicação interativa em um espaço informacional.
	Produtos hipermidiáticos
As linguagens hipermidiáticas combinam diferentes formatos de informações para construir mensagens que, por sua vez, podem ser recontextualizadas, passando por mais combinações de seus cocriadores. Nesse processo, pode-se interconectar textos, imagens, áudios e vídeos, valendo-se de hiperlinks e envolvendo várias manifestações de diferentes linguagens.
Conhecemos e fazemos uso diário de vários produtos hipermidiáticos, que podem ser os sites, blogs, podcasts e aplicativos, viabilizados por linguagens verbais – as palavras e os textos – e não verbais.
Para modificarmos o olhar para tais produtos e encará-los como suportes educacionais, é preciso conhecer mais sobre metodologias educacionais e a transformação de mídias em objetos de aprendizagem.
 
Exemplo
Podemos citar os podcasts, explorados no âmbito educacional, inclusive ao final deste conteúdo, além dos vídeos já utilizados há mais tempo, disseminados por plataformas, como a do YouTube.
LINK, HIPERTEXTO E HIPERMÍDIA
	Link
A palavra link pode ser traduzida para o português como ligação. No Brasil, o uso dessa palavra permanece em inglês. Um link serve para realizar as conexões entre documentos digitais: um texto que se liga a outro texto, a um vídeo ou a ilustrações, imagens em movimento. Isso significa que é armada uma teia de interconexões, pois chega-se a outro destino on-line após um clique no link.
Os links fazem as conexões, realizam uma troca de dados existentes em diferentes computadores em rede, que usam códigos para se reconhecerem e, portanto, realizarem o acesso a tais informações. Os links viabilizam uma trama dinâmica de comunicação e informação, estabelecendo ligações de sentidos e ampliando o campo informacional e comunicacional.
Os links, de certo modo, contribuem para a constituição de uma espécie de narrativa midiática, favorecendo a construção de uma linguagem tanto para a produção de textos diversos como para a interpretação. Os links, dessa forma, associam-se à ideia de hipertexto e hipermídia.
	Hipertexto e hipermídia
Os conceitos de hipertexto e de hipermídia estão relacionados aos links, já que estes viabilizam a interconexão de textos, imagens, áudios, vídeos e animações em suportes digitais. Tais suportes, por sua vez, são acessados em dispositivos tecnológicos, em diferentes telas, e podem desencadear interações com os seus usuários.
O hipertexto pode ser conceituado como a rede de textos, imagens, sons, animações e outras linguagens interconectadas no ciberespaço – geralmente, em suportes digitais –, permitindo diversas formas de interatividade. Alguns também usam a expressão hipertexto eletrônico. Também é comum considerar os termos hipertexto e hipermídias como equivalentes ou intercambiáveis.
Os hipertextos – produtos das mídias – devem construir formas de sentido, entre as estruturas de links, mas também dependem das condições de leitura e letramento dos sujeitos. Em outras palavras, os hipertextos dependem do domínio que os usuários possuem para avançar na navegação e construir sentidos entre os próprios links.
 
Atenção
Sem dúvida, os hipertextos armazenam uma variedade de possibilidades de textos, com buscas, interpretações e ganhos em sentidos, que correm sempre o risco de um valor fragmentado e disperso.
	Hipertexto impresso versus digital
É bom lembrar que o hipertexto também pode existir fora do contexto digital ou eletrônico, ainda que com algumas limitações, como acontece no impresso.
 Hipertexto impresso É o caso das enciclopédias, dos grandes almanaques e de algumas obras literárias que têm uma estrutura hipertextual, possibilitando a leitura não linear, por exemplo. 
 Hipertextos digitais Também chamados de linguagens hipermidiáticas, potencializam as possibilidades de conexão, a mixagem entre diferentes linguagens e a amplitude de textos e recursos que podem se interconectar. 
 
X 
	Hipertextualidade
A hipertextualidade se torna não só um sistema de organização e de acesso à leitura, como também de escrita, que implica diversificadas formas de autorias. Isso abrange, no sentido atual, as coautorias, já que diversos autores contribuem para essa construção por meio da chamada escrita colaborativa.
A hipertextualidade também atribui um poder de coautoria ao leitor, que escolhe seus trajetos a percorrer na leitura, resgatando também um sentido de familiaridade com a leitura de modelo mais tradicional. Naturalmente, por ser uma leitura hipertextual, existe o risco de que o leitor tenha uma visão mais aprofundada, por um lado, e mais fragmentada, por outro lado.
HIPERLEITURA
Nesse universo de expansão digital, se um link clicado leva a outro, o impulso de busca pode ser desencadeado pela construção de uma hipertextualidade, que desenvolve os entendimentos dessas possíveis tramas de sentidos.
A hipertextualidade não está necessariamente relacionada a textos escritos, pois diz respeito a diferentes formatos de textos e tipos de linguagem. Desse modo, a hipertextualidade também busca construir sentidos por meio das relações e da disposição dos diferentes elementos constituintes do hipertexto.
Tal processo permite outras leituras, outros planos ou camadas de sentido. Desse modo, podemos falar em hiperleitura.
	Coautoria
Entre os percursos possíveis da hiperleitura, que também dão origem ao verbo hiperler, entende-se a habilidade que vai além da leitura vista como uma prática convencional. Nesse sentido, a hiperleitura também é vista como uma forma coautoral de produção, já que os leitores escolhem a razão que leva a esses percursos, criando uma forma de textualidade.
A hiperleitura se alinha na busca de um percurso de sentidos, em que são visitados os links, que se expandem em referências que o hiperleitor já possui. Um exemplo são os e-books ou livros eletrônicos.
Por se tratar de uma variedade de formatos, além do texto escrito, busca-se configurar uma depuração, com uma leitura ativa, em que se trabalham vários níveis de informação. Os contextos também são avaliados para a criação de mais sentido. Por exemplo, se o link está relacionado à origem da informação, ampliam-se
os sentidos buscados.
	Características da hiperleitura
Os percursos de links abertos gerados na hiperleitura podem ser rastreados e recuperados, por meio do histórico que se formata nos programas de navegação.
Estão relacionados, na hiperleitura, diferentes esforços cognitivos, incluindo a atenção, a retenção, a possibilidade de ler imagens, de absorver informações em movimento, de acompanhar a dinâmica de um jogo, entre outros aspectos.
 
Atenção
A hiperleitura precisa dar conta da fragmentação de informações e textos no ciberespaço, a fim de evitar uma produção de sentido também fragmentada e que deixe de “costurar”, editar e inter-relacionar os fragmentos de texto. 
De qualquer forma, aproveitar a possibilidade de interconexão oferece um exercício de engajamento e tomada de decisão dos aprendizes, os quais avaliam o que vale a pena ou não seguir, não perdendo uma linha de investigação sobre o assunto. A hiperleitura é o aporte de sentidos que se busca com as linguagens hipermidiáticas.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
Neste bate-papo, os professores Roberto Paes e Luís Dallier apresentam os principais pontos do conceito de hipermídia e suas implicações na leitura e na escrita em meios digitais.
1. Assinale a alternativa em que se identifica corretamente um diferencial da linguagem hipermidiática.
	Uso de meios de comunicação de massa do tipo um para todos, como rádio e televisão, em que a informação é rapidamente distribuída.
	Formato enciclopédico dos textos e das publicações, reunindo vários textos no suporte material impresso.
	Combinação de várias linguagens e formatos, com possibilidade de navegação personalizada na rede de textos e informação.
	Junção do som e da imagem para formar conteúdos audiovisuais produzidos pela indústria para serem consumidos de modo contemplativo.
	Possibilidade de vários receptores receberem a mesma mensagem emitida pelo mesmo emissor de forma assíncrona.
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
Um dos diferenciais da linguagem hipermidiática está relacionado com a mixagem de linguagens, de códigos ou signos, possibilitando a construção de um hipertexto, em que escrita, fala, sons, imagens, vídeos, animações e diferentes formatos constituam um oceano de informações e de textos em que se pode navegar até de forma personalizada, por meio de links ou hiperlinks.
2. Considere as seguintes afirmativas:
I. Tanto no impresso quanto no digital, as experiências com o hipertexto são igualmente não lineares e ilimitadas nas possibilidades de conexão.
II. O hipertexto, diferentemente da linguagem hipermidiática, tem como principal diferencial a quantidade de textos escritos distintos que podem ser reunidos nas mídias digitais.
III. A hipertextualidade é mais do que um novo modo de acesso à leitura e prática de escrita, já que as formas de autoria ou construção de texto são ampliadas com as tecnologias digitais.
IV. A escrita ou construção colaborativa de textos com participantes de espaços e tempos diversos, instaurando uma coautoria, é uma das características do hipertexto.
Estão corretas apenas as afirmativas:
	I e II.
	I e III.
	II e III.
	II e IV.
	III e IV.
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
A cocriação ou autoria coletiva e colaborativa é uma das possibilidades do hipertexto, o que é facilitado pelas mídias digitais ao interconectar na rede diversos leitores e produtores de conteúdo. Desse modo, o texto pode ser elaborado, reelaborado, desconstruído, reconstruído num processo que envolve vários leitores/autores e diversos formatos e linguagens.
Módulo 2 — Identificar implicações pedagógicas das inovações e linguagem digitais
LINGUAGEM, INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM
A interação é a base para que os sistemas de comunicação possam funcionar. Nesse contexto, deve haver linguagens comuns entre os sujeitos que participam da interação e meios para que possam fluir. Sem uma linguagem comum, haverá mais dificuldade para que as interações ocorram, embora tais interações ainda possam ocorrer.
 
Exemplo
Em relação ao primeiro contato do homem branco com tribos isoladas, mesmo não havendo uma língua em comum, ocorreu alguma forma de interação, com troca de objetos, gestos, contatos visuais e corporais.
As linguagens verbal ou não verbal podem ser aprendidas, absorvidas, readaptadas ao longo do processo de interação. Processos interativos dependem de um fluxo recíproco, em que se fornece uma informação e se troca por outra, avançando-se na construção de novos sentidos.
A informação pode vir de maneira multimodal, em diferentes modalidades de linguagem. Além de escrita ou falada, a linguagem pode se valer de outros sinais ou signos, podendo comunicar por meio de sons, imagens, gestos etc.
Torna-se importante o sistema de reciprocidade, em que os interagentes respondem e apresentam suas perguntas, garantindo habilidades de troca e aposta em interesse mútuos.
	Interação e cultura
A interação é constituída a partir de uma base sócio-histórica existente nas formas de relacionamento social. Desde que nascemos interagimos com pessoas próximas, como familiares e outros que compõem nosso ambiente relacional e parental. Nossos antepassados também faziam isso de forma muito próxima ao que fazemos atualmente. No entanto, usamos muito mais tecnologias para interagir e comunicar.
A troca de informação é uma maneira de garantir a preservação da espécie humana e a construção das culturas. A sabedoria passada de pai para filho ou as tradições e saberes preservados pela transmissão de pessoas mais velhas de uma comunidade – os sábios que armazenavam o tesouro cultural de um povo antigo nas chamadas sociedades ágrafas (sem escrita) – podem ilustrar o valor da informação e da comunicação desde tempos mais remotos.
Os objetos culturais dessas comunidades – brinquedos, ferramentas, utensílios, armas, ornamentos, entre outros – promovem possibilidades de interações e aprofundam o conhecimento de mundo. Em todos esses cenários, as pessoas interagem para dar e receber informações, opiniões, pensamentos, reflexões, compondo uma trama que, por diversos caminhos, realiza diversificadas formas de conhecimento.
Imagem: Representante fulni-ô fala da cultura de seu povo para escolares no Jardim Botânico de Brasília, em comemoração do Dia do Índio, 2011.
	Mediadores da interação
A interação traz em si um fundamento dialógico, baseado nas trocas, que podem ser realizadas por mediações digitais tecnológicas e por mediações analógicas, interpessoais. O importante é haver condições, contextos, focos de troca, finalidades comunicativas, seres e objetos interagentes.
Ainda é importante ressaltar que a interação realizada nas mediações tecnológicas digitais permite trocas entre os seres humanos, e entre humanos e máquinas. Um exemplo importante que verificamos atualmente provém da Inteligência Artificial (IA), que promove diversificadas formas de interação.
	Inteligência artificial (IA)
A inteligência artificial (IA) tem se desenvolvido para construir uma linguagem interativa que possa se aproximar, o máximo possível, da performance humana. Além disso, busca-se o desenho de interfaces e diferenciais de contatos, níveis de usabilidade, navegabilidade, construção de robôs com características físicas e de inteligência humanas, entre outros fatores.
Na verdade, as proximidades interativas criadas entre máquinas e humanos na IA, no contexto da aprendizagem, visam elevar a satisfação dos aprendizes quanto às questões que precisam de respostas imediatas para que outros conhecimentos possam ser desenvolvidos. Mas como isso funciona?
Há muitos estudos que apontam padrões em certas formas de responder. Isso constitui um banco de dados de respostas, que se associam a perguntas adequadas a elas. Os bancos de dados apontam respostas mais adequadas em relações interativas como no atendimento a clientes em algum tipo de serviço – bancos e lojas de e-commerce, por exemplo – ou nos processos de ensino-aprendizagem, nas interações entre máquinas e aprendizes, a fim de promover
essa forma de fluxo e satisfação.
	IA nos ambientes de aprendizagem
Na educação a distância, os recursos da AI são vistos como uma possibilidade de aplicação da tecnologia na aprendizagem. Por exemplo, em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA), os estudantes podem ter dúvidas e questionamentos sobre tópicos recorrentes de estudos respondidos por robôs.
Nesse caso, os robôs já teriam absorvido inúmeras formas de reação a perguntas semelhantes de outros alunos, o que cria uma ambiência de compreensão e confiança favorável, como se fosse humana.
Essa forma de interação é um dos resultados do uso de algoritmos. Os algoritmos podem ser entendidos como uma sequência que envolve raciocínios, instruções lógicas ou operações focadas no alcance de um objetivo. Eles precisam ter os dados de entrada – chamados de input –, as instruções passo a passo, para que se chegue aos dados de saída, e os resultados – também chamados de output.
A interação mediada pela linguagem hipermidiática ou pela inovação tecnológica, desse modo, contribui para o aprendizado.
 
Atenção
Isso não quer dizer que o professor ou tutor não tenha mais funções pedagógicas. O que ocorre é que parte da tarefa instrucional ou mesmo da rotina de tirar dúvidas pode ser feita com a ajuda da inteligência artificial e de recursos hipermidiáticos.
MACHINE LEARNING
Ainda nessa linha, também é importante ressaltar as formas de interação a partir da machine learning – aprendizagem de máquina. Trata-se de um dos recursos da inteligência artificial baseados em reconhecimento de padrões.
Esses recursos têm levado a interações bastante arrojadas, como o reconhecimento facial, o reconhecimento de voz por programas instalados em máquinas sofisticadas, entre outras. Além disso, graças à previsibilidade de ações e respostas a partir de uma enorme quantidade de dados, é possível personalizar parte da experiência de aprendizado a partir de machine learning.
 
Exemplo
Identificar o desempenho do aluno em relação a determinados conteúdos, ou suas preferências em relação aos recursos didáticos e interativos disponíveis em um ambiente virtual, permite recomendar conteúdos mais pertinentes e formas de estudos mais eficazes ou adequadas ao aluno.
Todos esses recursos de interação e interatividade podem favorecer novas estratégias e formas de aprendizado.
LINGUAGEM DIGITAL E INTELIGÊNCIA COLETIVA
No contexto das relações interativas e das comunicações em rede, surge o conceito de inteligência coletiva. Tal conceito está relacionado com as chamadas tecnologias da inteligência e tem relação com as linguagens hipermidiáticas, na medida em que elas são utilizadas para uma construção colaborativa, em rede, do conhecimento.
O conceito de inteligência coletiva foi proposto por Pierre Lévy (1992), em seu livro As Tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. O livro e o conceito surgem em um contexto já distante de diversas inovações tecnológicas mais recentes com as quais convivemos, em um período em que a Internet ainda começava a se configurar em suas práticas e apropriações culturais e sociais de inteligência.
O conceito, no entanto, não caiu por terra. Ele pode ser ressignificado, já que muitas tecnologias e a linguagem digital atuam na construção da inteligência coletiva, permitindo a aprendizagem colaborativa e a construção do conhecimento em rede.
No conceito de inteligência coletiva, é central a ideia de que se pode constituir o pensamento por meio de conexões sociais, viabilizadas pelos computadores em redes abertas à comunicação e à informação.
	Tecnologias da inteligência
As tecnologias da inteligência se apoiam em diferentes linguagens, em vários recursos do pensamento lógico, bem como em diversos instrumentos e dispositivos, os quais podem ser utilizados para construir novos conhecimentos. Para Lévy (1992), o processo humano intelectual é trabalhado a partir dessas representações e precisa do auxílio de diferentes meios para construí-las e acessá-las.
Os usos das linguagens hipermidiáticas também sustentam práticas de inteligência coletiva na medida em que podem recriar novas formas de comunicação na interação entre pares ou grupos de pessoas.
 
Exemplo
A navegação em websites, o uso de aplicativos – como WhatsApp e Telegram – e a utilização de mídias ou redes sociais, viabilizam a construção da inteligência coletiva, sobretudo quando favorecem espaços de interação e buscam construir soluções para problemas, refletir sobre questões relevantes ou elaborar conceitos e ideias.
Os debates em fórum de discussão oferecem possibilidade para se trabalhar com inteligência coletiva, uma vez que os participantes contribuem com opiniões e pontos de vista em torno de um problema, uma proposição ou um tema.
As práticas de metodologias que buscam soluções criativas, para novos e velhos problemas, como o Design Thinking, também podem ser vistas como exemplo de inteligência coletiva ao usar o conhecimento de modo democrático e aberto, chegando-se a um consenso sobre a melhor solução desenvolvida pelo grupo em questão.
Essas práticas, possibilitadas pela tecnologia ou pelo contexto hipermidiático, envolvem tanto a responsabilidade individual quanto a coletiva.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA E LETRAMENTO DIGITAL
Como lidar com a linguagem hipermidiática e suas inter-relações educacionais? Uma resposta possível e mais imediata é: são necessários novos letramentos. Para Pinheiro e Araújo (2018), um letramento tecnológico ou digital se relaciona com o computacional ou hipertextual. Por sua vez, o letramento computacional ou hipertextual tem a ver com o modo de abordar o universo educacional com as tecnologias digitais.
Quando uma tecnologia é introduzida em determinada sociedade, seus membros precisam se apropriar dela, aprendendo a usá-la e sendo capazes de se tornarem produtivos e críticos com suas experiências de uso.
 
Exemplo
Um exemplo está na necessidade de fluência tecnológica e letramento digital para participar de uma experiência de educação a distância. Sem o letramento digital, ficam comprometidas a interação, as trocas pedagógicas, nas mediações entre alunos e professores. Ou seja, sem letramento digital, a comunicação pedagógica nos ambientes virtuais ou hipermidiáticos pode ficar inviabilizada.
O letramento revela uma possibilidade de inclusão quando se pensa em domínio de recursos e usos tecnológicos em uma sociedade dependente das tecnologias. Também implica emancipação ou autonomia quando se pensa em uma associação ao sujeito crítico, que busca o papel das mídias na sociedade e como elas afetam sua própria vida.
LINGUAGEM DIGITAL E OS MULTILETRAMENTOS
O conceito de multiletramentos foi proposto, inicialmente, por pesquisadores do New London Group, em um manifesto publicado em 1996. O objetivo do manifesto era dar evidência aos variados meios de comunicação relacionados à grande diversidade linguística e cultural emergente no mundo digital que conhecemos.
Pode-se dizer que os muiltiletramentos são um domínio necessário para traduzir o acervo que advém das TDICs – Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação – em termos de linguagens, softwares e aplicativos, em formas de raciocinar, e alteração na forma de armazenar informações e interpretá-las.
Ao longo das práticas de multiletramentos, tem se constatado uma expansão desse conceito. Podemos destacar, por exemplo, o entendimento dos multiletramentos como forma de empoderamento de quem ensina e de quem aprende. Também devemos considerar a compreensão de que multiletramento está relacionado com múltiplas aprendizagens possibilitadas pela cultura digital.
	Tipos de multiletramentos
Roja e Moura (2012, apud ANECLETO; OLIVEIRA, 2019, p. 237), enfatizam que, nas sociedades contemporâneas, mais especificamente as urbanas, existem dois tipos fundamentais de multiletramentos.
 Primeiro tipo Relaciona-se com a multiplicidade cultural presente nas comunidades, nas populações. 
 Segundo tipo Associa-se à multiplicidade semiótica – formas de produção de sentido
– presente na construção de textos que buscam informar e comunicar, tornando o seu sentido amplo. 
 
	Demanda por competências e habilidades
Anecleto e Oliveira (2019), observando o contexto do que se entende por era digital, entendem que as escolas são modificadas em função dos meios tecnológicos. Tais modificações demandam a necessidade de diferentes competências para os alunos. Entre essas competências, encontra-se capacidade de leitura hipertextual.
Os multiletramentos ainda demandariam dois tipos de habilidades:
 
Habilidade intelectual
Relaciona-se ao esforço cognitivo da leitura e da produção escrita, visual, sonora, animada, ou seja, o que envolve as linguagens hipermidiáticas. Tanto é usada para ler, em suas diferentes dimensões, quanto para construir novos arranjos e combinações de linguagens hipermidiáticas. Isso envolve, por exemplo, saber interpretar, entender, relacionar e cocriar, gerando novas práticas e saberes como consequência.
 
Habilidade operacional
Envolve o conhecimento de técnicas para tratar as linguagens em seu nível produtivo. É a habilidade do saber usar e do fazer ou produzir algo, saber como “colocar a mão na massa”. Por exemplo, construir uma animação, desenvolver um aplicativo, fazer e editar um vídeo, criar atividades com recursos digitais, sabendo escolher, explorar e usar as ferramentas corretas.
LINGUAGENS PARA SUPORTE DOS TRÊS FATORES MULTI
Tudo que descrevemos até então sobre as linguagens hipermidiáticas pode ser entendido como processos que abrangem, pelo menos, três fatores multi:
 Multiculturalidade Relaciona-se com a abrangência de várias culturas, sejam elas locais – como a cultura urbana, cultura da periferia, cultura de comunidade, cultura artística – ou culturas estrangeiras, entre outras. Seu significado também abrange as diferentes formas de ver o mundo pelo prisma da cultura, implicando seus modos de produção, sua forma de fazer arte e de enxergar o mundo, usando ferramentas físicas e digitais. 
 Multimidialidade Corresponde à diversidade de expressões de comunicação por meio das mídias, incluindo os meios tradicionais de comunicação de massa – rádio e televisão – e as mídias digitais – internet e aplicativos. Para absorver a multimidialidade, extrair sentido dela, é fundamental ter letramentos ou a chamada alfabetização midiática ou alfabetização digital (BÉVORT; BELLONI, 2009). 
 Multimodalidade Corresponde à multiplicidade e à quantidade de possibilidades midiáticas, como textos, vídeos, animações, games, fotografias etc. Tudo isso incorporado aos meios de comunicação e explorado em ambiente educacional. Além de suporte de informações, as possibilidades midiáticas também devem ser trabalhadas como mediações, interações e construção de novos conhecimentos (ALMEIDA, 2019). 
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
Até aqui, vimos que as linguagens digitais e as inovações tecnológicas envolvem alguns desafios, certas demandas e várias possibilidades educacionais.
As interações virtuais possibilitadas pela tecnologia no contexto hipermidiático nos apontam para oportunidades de ensino e aprendizagem em que o diálogo, a interatividade, a colaboração e as inter-relações são possíveis mesmo em ambientes virtuais, em situações em que professores e alunos não compartilham o mesmo espaço físico ou tempo.
O caráter múltiplo das linguagens hipermidiáticas e das inovações tecnológicas demanda, por sua vez, múltiplos letramentos ou práticas de leitura plurais.
Os diversos recursos midiáticos e as várias formas de linguagem no mundo digital trazem o desafio de levar professores e alunos à fluência digital. Mais do que isso, essa diversidade e inovação demandam competências e habilidades que deem conta das novas formas de construir, produzir, compartilhar e ressignificar conhecimentos.
Se são grandes as oportunidades de aprendizagem nesse universo digital cheio de recursos comunicacionais e interativos, também é grande o desafio de irmos além das práticas convencionais de leitura e de produção de texto, de construção individual e isolada do conhecimento. Precisamos de uma apropriação crítica e criativa das inovações e da linguagem hipermidiática.
LINGUAGEM HIPERMIDIÁTICA
Confira os destaques feitos pelos professores Roberto Paes e Luís Dallier acerca dos recursos tecnológicos, como machine learning, inteligência artificial e Design Thinking na educação.
1. O conceito de inteligência coletiva, formulado por Pierre Lévy, está relacionado com as tecnologias da inteligência e com o modo pelo qual o conhecimento é construído e compartilhado.
Desse modo, assinale a alternativa que apresenta corretamente uma afirmação sobre a implicação da linguagem hipermidiática e da inovação tecnológica em relação à inteligência coletiva e sua importância na educação.
	A produção coletiva de conteúdos e a construção colaborativa do conhecimento, permitidas pelas tecnologias digitais, favorecem a aprendizagem baseada na cooperação e no diálogo.
	Inteligência coletiva e tecnologias da inteligência estão ligadas pelo fato de que a construção de conhecimento é uma consequência natural das mídias digitais, tornando inválidas outras formas de se produzir o saber.
	Pierre Lévy construiu tecnologias capazes de trabalhar a inteligência dos indivíduos em meio digital, destacando que o conhecimento no mundo virtual é qualitativamente superior ao conhecimento produzido pelos livros.
	A participação em redes sociais é um exemplo claro de tecnologia da inteligência, no entanto, é incorreto usar as redes sociais ou aplicativos de mensagens para atividades que impliquem construção de algum saber.
	A educação é um campo fértil para a inteligência coletiva porque os alunos aprendem no contexto de turmas ou grupos nas escolas, situações em que a reunião entre professor e alunos caracteriza, necessariamente, a inteligência coletiva e tecnológica.
Parabéns! A alternativa "A" está correta.
A compreensão sobre inteligência coletiva tem a ver com a possibilidade de construção do pensamento, de novos conhecimentos por meio de conexões sociais, viabilizadas pelos computadores em redes abertas à comunicação e à informação. Dessa forma, a aprendizagem no contexto da hipermídia e da inteligência coletiva favorecem uma educação dialógica e colaborativa.
2. A linguagem hipermidiática ou digital é importante aliada na formação do sujeito, necessária para o enfrentamento das questões da sociedade contemporânea. Além disso, ela traz tanto oportunidades quanto desafios e demandas ao campo da educação. Assinale, entre as alternativas, aquela que apresenta corretamente desafios ou demandas que advêm da inovação tecnológica e das linguagens hipermidiáticas.
	Apropriação da tecnologia e substituição de todos os recursos não hipermidiáticos.
	Práticas plurais de leitura e fluência digital.
	Aprendizagem individual e construção isolada do conhecimento.
	Práticas convencionais de leitura e transmissão de conhecimento.
	Letramento, conhecimento enciclopédico e centralidade do professor.
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
A diversidade do mundo digital demanda multiletramentos, que implicam leituras plurais que deem conta das diversas linguagens das mídias digitais. Além disso, o uso disseminado de ambientes virtuais e recursos tecnológicos na educação exige que professores e alunos tenham fluência digital para dar conta das oportunidades ou possibilidades de ensino e aprendizagem no mundo digital.
Módulo 3 — Reconhecer a relação da linguagem e do design de recursos didáticos com a aprendizagem
APRENDIZAGEM E CONECTIVISMO
Vamos tratar, inicialmente, de atividades pedagógicas que valorizam as linguagens midiáticas, não só como suportes de ensino e aprendizagem, mas também como estratégias de construção de novos conhecimentos, por conta do que se estabelece com esses diferentes modos de aprender.
É importante entender que o desafio das hipermídias no âmbito educacional é promover espaços de apropriação cognitiva, argumentativa, crítica e criativa.
Dessa forma, se não fosse para dar algum salto qualitativo nas experiências de aprendizagem, todo o esforço nessa área perderia o seu sentido.
As apropriações das hipermídias, como vimos, já ocorrem nos espaços sociais, pelas convergências e acessos multimidialidade. No entanto, a escola tem o papel de orientar como esses recursos e essas linguagens podem fazer sentidos cognitivos e sociais na formação cidadã dos estudantes, além de sua orientação instrumental e operacional.
Destacaremos brevemente uma teoria de aprendizagem focada no contexto digital – o conectivismo – proposta pelo educador e teórico mexicano George Siemens.
	Conectivismo
Para Filatro e Cairo (2015), o conectivismo é uma abordagem que entende o processo educativo como aquele em que o aluno, ao acessar novas informações, relaciona tais informações com as que tem em sua estrutura mental de representações. Desse modo, ele consegue armazená-las no longo prazo.
Esse processo faz com que exista, na aprendizagem, um movimento de assimilação, resgate e reorganização das estruturas cognitivas.
O conectivismo abre precedentes para metodologias ativas, que são vistas como estratégias pedagógicas que buscam o protagonismo dos alunos e seu envolvimento ativo no processo ensino-aprendizagem.
O conectivismo, como teoria de aprendizagem, aposta em:
 Grande variedade de informações e opiniões que podem se relacionar a novas aprendizagens. 
 Processo de conexão de nós ou o que chamamos de fontes de informação especializada. 
 Orientação de que a informação pode estar distribuída em extensões de diferentes dispositivos e deve ser continuamente alimentada, pesquisada e atualizada. 
 
A aprendizagem por meio de conexões, articulações e associações ou a partir de metodologias ativas demanda um design dos materiais e recursos didáticos que favoreça procedimentos e percursos de aprendizagem adequados.
DESIGN DOS RECURSOS E MATERIAIS DIDÁTICOS
Os materiais didáticos são conteúdos previamente organizados e desenhados para alcançar algum tipo de aprendizagem pelo seu uso no ensino. São considerados elementos de mediação importantes, por exemplo, na área de EaD, em que os AVAs comportam uma gama de objetos de aprendizagem, tidos como materiais didáticos.
Como podemos caracterizar os materiais didáticos?
 Podem ser desenvolvidos e aplicados por professores como material de apoio ou mesmo focados em autoaprendizagem, funcionando como material autoinstrucional. 
 Visam a criar uma comunicação didático-pedagógica entre quem ensina e quem aprende. 
 Podem ser estruturados a partir de variados objetivos, formatos, mediação e níveis de ensino. 
 Sempre carregam uma intenção pedagógica: alterar alguma condição para quem aprende, em que se sai de uma condição inicial e se chega a outra superior. 
 
O público-alvo dos materiais didáticos pode ser crianças, adolescentes, jovens e adultos, o que tem relação também com a maturidade cognitiva desses aprendizes. Além disso, os materiais didáticos relacionam-se com a condição de resgate de memória, intercombinação de conteúdos e disposição de vencer desafios presentes em suas atividades.
Os materiais também podem usar diversificadas linguagens, indo das mais apropriadas para o público infantil, passando pelas demandas de conteúdos mais técnicos, até envolver as formas mais interativas.
	Educação a distância
No contexto da educação a distância (EaD), os materiais ganham importante status, principalmente porque as mediações pedagógicas dependem de conteúdos disponibilizados digitalmente.
O desenho (design) dos materiais ou conteúdo vai depender também do tipo de ambiente, se é um ambiente massivo, do qual participam muitos alunos simultaneamente, ou um ambiente e atividades personalizados. De toda forma, os materiais didáticos são recursos primordiais para a mediação entre aprendizes e professores/tutores.
Os materiais didáticos em EaD, quando autoinstrucionais, são o principal canal de contato entre os que aprendem, quem ensina ou faz tutoria e as propostas de ensino e aprendizagem. Nesses casos, os materiais e recursos didáticos podem incluir os AVAs – ambientes virtuais de aprendizagem –, textos, videoaulas, simulações, animações, atividades gamificadas, podcasts, atividades avaliativas, e-books, mapas conceituais, cartilhas, tutoriais, entre outros recursos.
 
Atenção
O desenho do material didático nos ambientes virtuais ou no contexto hipermidiático deve privilegiar a linguagem dialógica, explorar os recursos midiáticos e promover a interatividade, visando à aprendizagem.
	Materiais didáticos e suas possibilidades
No universo dos materiais didáticos, temos ainda os materiais didáticos físicos – muitos deles impressos – e os materiais didáticos digitais que não exploram a linguagem hipermidiática. Nesse caso, trata-se mais de uma transposição do suporte impresso para o digital.
Os materiais com linguagens hipermidiáticas, no entanto, destacam-se pela versatilidade no sentido de sua atualização de conteúdos, bem como pela sua reutilização em diferentes plataformas e favorecimento da interatividade.
Quanto mais os estudantes se identificarem com as propostas pedagógicas e o design dos materiais didáticos, maior será o engajamento do aluno e melhores os resultados de aprendizagem que poderão ser alcançados. Essa relação tem a ver com as possibilidades de diálogo que podem ser criadas entre esses materiais e os aprendizes.
 
Atenção
Um dos requisitos importantes do design dos materiais didáticos, portanto, é garantia de ação reflexiva nos estudantes, de modo que possam integrar o conhecimento teórico com o conhecimento mais prático (FRANCO, 2007).
DESIGN DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS COM LINGUAGENS HIPERMIDIÁTICAS
As atividades pedagógicas que exploram as potencialidades das linguagens hipermidiáticas devem ter um design instrucional ou didático que favoreça a interatividade na aprendizagem.
Explorar a realização ou uso de simulações, recorrer a animações, desafiar por meio de testes e games, engajar com resolução de problemas e atividades de “mão na massa”, ler textos que fazem mixagem de diferentes linguagens – tudo isso pode ser visto como formas de tornar a experiência de aprendizado mais ativa e interessante para o aluno, por meio de um bom design instrucional ou de aprendizagem.
A partir de Almeida (apud MARCELINO; MARCELINO, 2018), podemos listar alguns pontos que devem ser levados em conta no design e na realização de atividades pedagógicas que se valem das linguagens hipermidiáticas:
Todos esses pontos não devem ser levados em consideração apenas nos ambientes virtuais, nas experiências de educação a distância ou híbridas.
Nas aulas presenciais, também é possível explorar os recursos hipermidiáticos e ter um desenho das atividades pedagógicas que favoreça a interação entre os alunos e a interatividade com diversos recursos que podem facilitar a aprendizagem e motivar os alunos.
O layout de uma sala de aula presencial, o formato da própria aula, a dinâmicas das atividades e o uso de recursos digitais – smartphones, projetores multimídia, lousas digitais, entre outros – podem contribuir para uma aprendizagem mais ativa.
UMA PRÁTICA – A CURADORIA EM PROJETOS EDUCACIONAIS
Garcia e Czeszak (2019) propõem práticas educacionais em ambiente digital, com base nas linguagens hipermidiáticas, que propiciam a autonomia e o engajamento dos aprendizes, procuram orientar o uso de boas fontes, desencadeiam processos de investigação no ambiente da internet e promovem a avaliação de fake news. Tudo isso pode contribuir para um bom uso dos recursos hipermidiáticos e para a construção de uma formação cidadã.
Dependendo do design das atividades pedagógicas, pode-se favorecer a aprendizagem e promover a formação de alunos no sentido de desenvolver habilidades relacionadas com a avaliação da informação, os riscos da desinformação, as consequências do excesso de informação e de informações falsas, sem fontes confiáveis.
Uma atividade pedagógica desenhada para aprendizagem relacionada
com a curadoria de conteúdo ou de informações poderia, por exemplo, ser desenvolvida a partir dos nove passos propostos por Garcia e Czeszak (2019):
 
Passo 1
 Idealizar um projeto com design pedagógico, o que implica trabalhar as seguintes fases: analisar, planejar, desenvolver/implantar e avaliar.
Passo 2
Identificar o objetivo que leva o professor e seus estudantes a fazer uma curadoria. Por exemplo, definir o foco de uma pesquisa, levantar os dados, checar informações a partir das fontes pesquisadas. No caso, as autoras sugerem uma pesquisa mais aprofundada sobre o caso de Brumadinho – barragem da companhia Vale do Rio Doce –, que teve consequências drásticas constatadas até os dias atuais.
 Passo 3
Apresentar tópicos para a evolução da pesquisa – do mais elementar ao mais complexo.
 Passo 4
 Estimular o uso do pensamento crítico e argumentativo sobre o que foi levantado: analisar, raciocinar sobre os fatos e tecer opiniões pautadas na pesquisa, a partir de fatos e evidências.
Passo 5
 Orientar sobre como é a estrutura de construção de projetos, acentuando que esta é uma habilidade que servirá para toda a vida, além da escola.
Passo 6
Checar e “peneirar” a origem e as fontes de informação, bem como associá-las a outras fontes já checadas. Trata-se da realização de curadoria contra as fake news.
 Passo 7
 Buscar e aplicar ferramentas para a apresentação de resultados: criar infográficos e tabelas, e utilizar programa de apresentação de conteúdos.
Passo 8
Ter boa comunicação para fazer a apresentação, depois de todo esse levantamento. É nesse passo que a solução é mostrada.
 Passo 9
Avaliar todo o processo da atividade, tanto do lado do design pedagógico, quanto do lado do aprendiz e de sua satisfação.
Os nove passos sugeridos por Garcia e Czeszak (2019), por meio de uso de plataformas digitais, valorizam o que as mídias digitais e a internet oferecem.
O professor e aqueles que estejam envolvidos no desenho da atividade também devem incentivar o senso crítico em relação ao conteúdo acessado nos meios digitais e ao próprio meio, às mídias. Com isso, de forma crítica e criativa, torna-se possível nos apropriarmos das linguagens hipermidiáticas e favorecer a aprendizagem mais integral e emancipatória.
DESIGN E APRENDIZAGEM
Nesta conversa, os professores Roberto Paes e Luís Dallier destacam as implicações e possibilidades do design de aprendizagem.
1. Assinale a alternativa em que se relaciona corretamente o design com a elaboração de materiais didáticos.
	Tanto em ambientes virtuais massivos quanto em atividades pedagógicas personalizadas, o desenho do material didático é o mesmo, pois todos precisam aprender.
	O design de materiais didáticos autoinstrucionais em ambientes virtuais deve privilegiar o papel da tutoria, pois são recurso de apoio às aulas dos professores.
	A interatividade e a inclusão de variados recursos e linguagens no material didático autoinstrucional são fundamentais, pois esse material facilitará a aprendizagem.
	Materiais e recursos didáticos deixam de ter importância para a mediação pedagógica nas aulas presenciais, por isso, o design de aprendizagem está relacionado com a educação a distância.
	A linguagem dialógica não deve fazer parte do design de materiais didáticos, porque ela se reserva à fala do professor em sala de aula ou em vídeo.
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
O desenho dos materiais e recursos didáticos deve considerar diversos aspectos, entre eles, se o material é autoinstrucional, ou seja, se é o principal meio de o aluno acessar o conteúdo e aprender. Nesse caso, são importantes a interatividade, a linguagem dialógica, as variadas linguagens e os diversos recursos que promovam a construção do conhecimento.
2. Considere as afirmativas a seguir:
I. Atividades pedagógicas como “mão na massa” e exercícios gamificados são exemplos de possibilidades que devem fazer parte do design de aprendizagem ou didático.
II. O uso de simulações e animações é inapropriado nas atividades pedagógicas porque distrai os alunos, desvia o foco da escrita e pouco acrescenta ao aprendizado.
III. No design e na realização de atividades pedagógicas, é importante um suporte teórico que privilegie aprendizagens mais ativas.
Assinale a alternativa correta:
	Apenas a afirmativa I está correta.
	Apenas a afirmativa II está correta.
	Apenas a afirmativa III está correta.
	Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
	Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
O envolvimento ativo do aluno no estudo e na aprendizagem deve ser considerado no design das atividades pedagógicas. Por isso, atividades do tipo “mão na massa” e o uso do princípio dos games nos exercícios são recomendados. Além disso, é preciso que as atividades tenham sustentação teórica, suporte conceitual, que valorize a aprendizagem mais ativa, como as teorias construtivistas e o conectivismo.
Conclusão
Considerações finais
Estudamos algumas das questões mais relevantes sobre as linguagens hipermidiáticas e seu inter-relacionamento com o campo da educação. Além disso, trabalhamos conceitos importantes sobre hipermídia, hipertexto, hiperleitura, letramento, materiais didáticos, design e aprendizagem, e vimos as implicações desses conceitos na educação a distância e nas experiências em sala de aula presencial.
A partir dos conceitos abordados, tivemos a oportunidade de abordar alguns aspectos e pontos das práticas metodológicas relacionadas com a linguagem hipermidiática no ambiente escolar e virtual.
Ainda há um espaço muito grande a ser preenchido para formação em mídias digitais. O professor bem-preparado para a comunicação midiática poderá contribuir mais para o desenvolvimento de competências cognitivas e criativas de seus estudantes.
Explore +
	Assista ao vídeo Especial tecnologia na educação – por que usar tecnologia, no canal Porvir Educação, no YouTube, e tenha uma breve e interessante visão das possibilidades e dos cuidados do uso das tecnologias na aprendizagem.
	Leia o artigo Textos multimodais e escola: produção e leitura de peças de divulgação de um show de música popular, de Elisa Ribeiro, disponível no Portal Academia.Edu.
	Leia o artigo Hipermídia na educação: flexibilidade cognitiva, interdisciplinaridade e complexidade, de Flávia Rezende e Cláudio Cola, disponível no portal Redalyc.

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