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Aula 5 - Retórica e Argumentação em Sala de Aula

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Aula 5 — Retórica e Argumentação em Sala de Aula
Descrição: Contribuições da Retórica e da Teoria da Argumentação para a comunicação docente, o diálogo pedagógico e o pluralismo no contexto educacional.
Propósito: Compreender os fundamentos da Retórica e os recursos argumentativos para uma formação docente baseada no diálogo e na pluralidade.
Preparação: Tenha à disposição dicionários on-line da área de filosofia e cultura, como o Dicionário de Filosofia Básica, de H. Japiassú e D. Marcondes, o Dicionário de Cultura Básica, de Salvatore D’Onofrio, e o E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia.
Objetivos:
Módulo 1 — Relacionar as definições de Retórica com o contexto educacional
Módulo 2 — Identificar os principais recursos argumentativos
Módulo 3 — Relacionar a Nova Retórica com o diálogo e o pluralismo
Introdução:
Talvez você já tenha ouvido falar da fama negativa da retórica. Quando alguém diz: “Isso tudo é mera retórica”, ou algo como: “Não precisa responder, minha pergunta é apenas retórica”, parece que o termo está associado ao uso pouco eficaz e verdadeiro das palavras, dando a entender que retórica tem a ver com manipulação ou com linguagem floreada, rebuscada, mas vazia e pouco verdadeira.
Também já ouviu por aí que “contra fatos não há argumentos”? A frase traz a ideia de que os argumentos não são mais importantes do que a realidade, os fatos ou os acontecimentos.
Será que tudo isso é verdade? Retórica e técnicas de argumentação são coisas já ultrapassadas?
Faz sentido estudarmos Retórica e Argumentação?
Há lugar para a relação retórica ou uso de recursos argumentativos na sala de aula?
Uma educação mais democrática, plural e dialógica é possível sem o exercício do convencimento e da persuasão por meio de argumentos?
Vamos tratar dessas questões estudando a Retórica e a Teoria da Argumentação, para avaliar a pertinência de sua relação atual com a educação.
Módulo 1 — Relacionar as definições de Retórica com o contexto educacional
A ORIGEM DA RETÓRICA
Imagem: Discurso fúnebre de Péricles, por Philipp Foltz, 1877.
Vamos compreender a origem da má fama da Retórica, que vem de longo tempo, num breve panorama histórico e teórico sobre o assunto.
Primeiro, veremos como surgiu a Retórica, para em seguida examinar suas principais definições.
Tudo parece ter começado com uma situação social e política bastante complicada. Proprietários que haviam perdido suas terras para governantes tiranos na Sicília, no século V a.C., tiveram a oportunidade de recuperá-las assim que uma rebelião levou à deposição desses tiranos.
Assim, foram abertos procedimentos legais para que os antigos donos pudessem reaver suas propriedades, formando-se júris populares diante dos quais eram feitos discursos eloquentes para persuadir os ouvintes em relação à justiça de cada causa. A arte ou a técnica de proferir esses discursos que procuravam convencer e persuadir as pessoas seria, então, a própria Retórica em sua origem.
Ainda no século V a.C., em Atenas, na Grécia, a Retórica é introduzida e desenvolvida em contexto parecido, ou seja, num cenário de disputas sociais e políticas marcado pela reivindicação de direitos.
Imagem: Busto de Polemon de Laodiceia, filósofo sofista grego do século II.
Na verdade, o próprio termo retórica é de origem grega, com o sentido de “discurso público”, de “falar com eloquência”.
Quem, inicialmente, atuava como advogado, usando a sabedoria e a eloquência para defender os interesses dos que reivindicavam seus direitos pela via judiciária, eram os sofistas. Eles eram intelectuais que elaboravam discursos para defender as diversas causas se valendo de determinada sabedoria, daí o nome sofista. Além disso, cobravam por esse serviço e pelos seus ensinamentos. Por isso mesmo, eram bastante criticados por alguns filósofos.
Sofista
O termo grego para sofista é σοφιστής (sophistēs), que nos remete aos étimos sophia (sabedoria) e sophos (sábio).
A crítica se dirigia também ao próprio saber dos sofistas, que teria apenas aparência de verdade. Desse modo, se opôs os sofistas aos filósofos, e a Retórica à Filosofia. Este é um ponto ao qual vamos retornar mais à frente quando tratarmos do valor que alguns filósofos da Antiguidade atribuíam à Retórica.
Vamos agora ao aspecto teórico da Retórica, examinando suas principais definições e outros elementos conceituais.
DEFINIÇÕES PARA RETÓRICA
Para o filósofo belga Michel Meyer, nascido em 1950, importante estudioso da Retórica, podemos identificar pelo menos três grandes definições de retórica, cada uma delas vinculada à visão de um determinado filósofo da Antiguidade:
Vamos examinar cada uma dessas afirmações veiculada a uma definição de retórica.
A primeira definição deu origem, ao longo da história do pensamento ocidental, a compreensões e conceitos de retórica que valorizaram o interlocutor e suas reações, focalizando o aspecto da emoção. É um conceito centrado no auditório. Os discursos da publicidade e da propaganda, que apelam ao sentimento e à resposta do interlocutor, são, atualmente, uma implicação ou consequência dessa concepção.
A segunda definição está centrada no orador, na sua expressão ou expressividade, nas suas qualidades, relacionando-se com a sua intenção, com o querer dizer. Os discursos de autopromoção, que usam certo rebuscamento e eloquência, podem ser considerados uma implicação ou exemplo desse entendimento de Retórica.
A terceira definição valoriza a linguagem e seu uso, o próprio discurso que se organiza racionalmente para apresentar argumentos que buscam ser convincentes ou persuasivos. O discurso de um advogado de defesa procurando convencer um júri a votar em favor de seu cliente, utilizando diversos recursos argumentativos, seria um exemplo atualizado ou renovado dessa antiga concepção de Retórica.
O VALOR DA RETÓRICA
Agora, consideremos brevemente o valor que cada pensador conferia à sua definição ou entendimento de Retórica.
Imagem: Platão (à esquerda) e Aristóteles (à direita) em detalhe da famosa pintura Escola de Atenas, de Rafael Sanzio.
Platão (426 a.C. ‒ 347 a.C. aprox.), o importante filósofo grego ao qual se filia a primeira definição de Retórica, atribuía um valor negativo à Retórica. Para ele, a retórica correspondia a um falso saber, sendo o contrário da Filosofia. Por conter algum erro ou raciocínio enganador, a retórica seria um tipo de sofisma, de raciocínio falacioso (enganoso) contrário ao pensamento justo. A visão depreciativa que Platão possuía da retórica teria contribuído para que, ao longo do tempo, ela fosse associada à sedução, à propaganda e à manipulação por meio de ideias e palavras.
O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), à diferença de seu mestre Platão, confere um valor positivo à retórica, vendo nela o contrário necessário da ciência, mas nem por isso algo que não fosse sério. Enquanto a ciência lida com certezas, a retórica trata das diversas situações da vida humana em que não é possível chegar a uma conclusão com certezas definitivas.
Quintiliano (35 d.C. – 96 d.C.), orador, escritor e mestre que viveu em Roma, atribuía à Retórica um valor positivo, pois entendia que era uma ciência do bem-dizer. Ele valorizava também o uso de figuras de linguagem, de recursos literários e de efeitos poéticos no discurso, que permitiriam um desempenho louvável e bem-sucedido do orador.
Cada um desses pensadores valorizava determinado aspecto da Retórica.
A definição vinculada a Platão valoriza o auditório.
Para Quintiliano, o destaque era o orador.
Aristóteles destacava a linguagem ou o próprio discurso.
Os três componentes básicos da Retórica
O enfoque de cada filósofo a um aspecto da Retórica evidencia, na verdade, os três componentes básicos da Retórica.
Vamos examinar essas dimensões da retórica e verificar se faz sentido privilegiar um dos três componentes e deixar de lado os outros dois.
	Auditório
Imagem: Cícero discursando no senado romano em 63 a.C., por Cesare Maccari, século XIX.
O primeiro componente da Retórica que vamos destacaré o auditório, dimensão ressaltada na compreensão negativa que Platão possuía da Retórica.
No contexto da Antiguidade Clássica, o auditório correspondia ao público que se reunia para ouvir os discursos dos oradores, muitas vezes em praça pública.
Se expandirmos e atualizarmos o sentido de auditório, podemos incluir os leitores do texto impresso, os ouvintes das transmissões radiofônicas, os telespectadores da televisão e os que navegam pelas mídias digitais.
Considerando o contexto escolar, os alunos ou turma de determinado professor seriam um exemplo de auditório.
Na Retórica, o conhecimento das características do auditório seria levado em consideração a fim de que a mensagem fosse adequada ao público e o orador obtivesse êxito na sua tarefa de convencer o auditório
Na Retórica clássica, o auditório relaciona-se com o termo grego páthos (paixão, sentimento), pois as emoções dos ouvintes deveriam ser alvo do discurso do orador. As emoções, boas ou ruins, quando mobilizadas pelo orador, poderiam levar o público a mudar de opinião. As paixões, assim, seriam um meio pelo qual se buscaria persuadir os ouvintes.
A palavra páthos, usada para qualificar o auditório que se quer seduzir, convencer ou persuadir, sugere que o público se torna passivo, manipulado pelo orador. O auditório muda sua opinião ao sabor das paixões que o orador habilmente desperta por meio de seu discurso. Por isso, Platão criticava a Retórica:
	Linguagem, discurso
O segundo componente da retórica a ser destacado é a linguagem. Meyer (2007) nos lembra que linguagem, racionalidade e discurso são aspectos fundamentais para Aristóteles na sua retórica, podendo ser sintetizados no termo grego lógos (palavra, verbo). A força da palavra seria superior às qualidades do orador e às paixões que movem o auditório. Na verdade, é pela palavra, pela força dos argumentos, que o auditório deveria ser persuadido. Se o auditório se comove ou é agradado, deve ser pela beleza do estilo do discurso (MEYER, 2007).
O destaque conferido ao lógos na retórica aponta para a diferença entre o discurso racional e o uso da linguagem a serviço, simplesmente, da paixão e da criação de emoção no auditório.
Discurso ou linguagem foi inicialmente caracterizado pela palavra falada, pelos discursos orais dos oradores, no entanto, ao longo do tempo, com o lugar privilegiado da palavra escrita e o advento da imprensa, os textos escritos ganharam notoriedade como representantes dessa dimensão da Retórica. Hoje, as linguagens hipermidiáticas, as diferentes modalidades de mensagens no mundo digital, nos apontam para uma diversidade de formas de comunicação.
O discurso didático ou a fala do professor pode ser um exemplo, no mundo da educação, deste segundo componente da retórica.
	Orador
Imagem: A Pregação de São Paulo, por Rafael Sanzio, 1515.
O orador é um componente da retórica que aponta para a importância das características, da virtude, da autoridade daquele que fala, daquele que procura convencer ou persuadir o público.
O termo grego éthos (modo de ser, caráter, conjunto de valores) qualifica esta dimensão da retórica, que é o orador. Com sua eloquência, autoridade moral, legitimidade e credibilidade, o orador poderia, então, persuadir o auditório.
Na retórica antiga, particularmente de Quintiliano, o orador é “um homem de bem” que domina a “ciência do bem-dizer” (MEYER, 2007, p. 23).
Hoje, seja qual for o gênero ou os atributos sociais, temos diversas pessoas que procuram persuadir outras, seja ao vender um produto, divulgar um evento, pregar uma doutrina ou mesmo influenciar seguidores nas redes sociais.
No mundo da educação, um orador privilegiado é o próprio professor, que, ao longo da tradição escolar, ocupa o lugar da voz autorizada, daquele que ensina, que fala aos seus alunos.
Após apresentarmos brevemente os três componentes da Retórica antiga, é hora de responder a seguinte pergunta:
Atividade discursiva
É adequado escolher ou privilegiar um dos componentes, negligenciando os outros dois?
Resposta:
Para vários estudiosos da Retórica, essa seria uma postura teórica inadequada. A Retórica implica um orador que realiza um discurso procurando persuadir determinado auditório. Valorizar apenas um desses elementos seria optar por uma definição parcial de retórica e correr um risco maior de falhar no propósito de convencer e persuadir.
OS TRÊS GÊNEROS DA RETÓRICA
A relação entre os três componentes da Retórica pode também ser identificada nos três grandes gêneros distinguidos por Aristóteles: o epidíctico, o judiciário e o deliberativo.
 
	Gênero epidíctico
Caracteriza-se pela reafirmação de valores de determinado grupo, pelo discurso de louvor às pessoas, pela celebração de datas, valores morais ou religiosos, pelo estilo atraente e agradável.
 
	Gênero judiciário
Caracteriza-se por estabelecer ou convencer se uma ação é justa ou não, tomando decisões acerca de algo ocorrido.
 
	Gênero deliberativo
É aquele que delibera sobre algo que ocorreu, que busca decidir a ação a partir do que é útil ou prejudicial (MEYER, 2007, p. 28-29).
Em cada um desses gêneros, podemos identificar os componenetes da Retórica.
 
	Páthos
Identificamos o auditório ou elemento páthos no gênero epidíctico, ao definir se algo é belo; no gênero judiciário, ao julgar se algo é justo; e no gênero deliberativo, ao julgar se algo é útil.
	Éthos
O elemento éthos, ou o orador, intervém no gênero epidíctico ornamentando o discurso; no gênero judiciário, defendendo por meio do discurso; e no gênero deliberativo, deliberando.
	Lógos
A linguagem (lógos) repousa nos três gêneros sobre o possível: o que teria sido possível (judiciário), o que é possível (epidíctico) e o que será possível (deliberativo) (MEYER, 2007, p. 29).
HÁ ESPAÇO PARA A RETÓRICA NA SALA DE AULA?
A partir dos três componentes da Retórica, podemos identificar no ambiente escolar, na sala de aula, situações nas quais é possível reconhecer nos alunos o auditório, no professor o orador e no discurso didático ou professoral a dimensão da linguagem.
Entretanto, seria a sala de aula lugar adequado para a relação retórica?
A pergunta faz sentido porque o prestígio da tradição retórica, embora tenha sido a base do ensino ao longo de vários séculos, acabou se perdendo.
A retórica, de certo modo, ficou reduzida a disputas ou competições de eloquência, com abuso de citações, ou ficou limitada ao falar, caracterizado pelo floreio das figuras de linguagem (LEMGRUBER; OLIVEIRA, 2011, p. 27).
Além disso, cada vez mais se questiona a figura de um professor que apenas discursa, que limita suas aulas à transmissão oral do conhecimento.
Vamos, então, esclarecer alguns pontos importantes.
Realmente houve um declínio da Retórica antiga, que até o final do século XIX era matéria de alguns currículos, como nos liceus franceses.
O vínculo entre retórica e religião contribuiu para o desprestígio da Retórica nas universidades na medida em que a separação entre Igreja e Estado foi se consolidando como ideal republicano. A Retórica, tão valorizada na tradição educacional jesuítica, acabou associada ao atraso e ao obscurantismo, sendo, portanto, rejeitada por aqueles que valorizavam o conhecimento científico (OLIVEIRA, 2011, p. 104).
O uso de algumas técnicas antigas na tradição da retórica, como as técnicas de memorização e o desenvolvimento de habilidades relacionadas com a cópia e o ditado, é considerado algo obsoleto, um atraso pedagógico (OLIVEIRA, 2011, p. 104).
Por outro lado, alguns aspectos da retórica antiga, como dizer bem um discurso, adequar-se ao auditório ou atentar para as características e recursos do orador, podem ter alguma valia.
Um professor que atua como educador, como alguém que contribui para a formação dos seus alunos, que demostra as competências necessárias para promover o aprendizado, pode ser visto como um “orador” qualificado, que tem credibilidade no desempenho de seu trabalho.
No entanto, a apropriação da Retórica no ambiente educacional não deve reforçar a centralidade do orador,confundindo autoridade com autoritarismo, limitando a aula às exposições orais ou reduzindo a experiência educacional às técnicas de ensino, sem valorizar a atuação e o aprendizado do aluno.
A retórica também não deve ser pretexto para focar na produção de emoções no auditório para melhor conduzir as decisões dos ouvintes, ou seja, o conhecimento das características do auditório ou dos alunos não deve dar margem à manipulação.
A retórica não deve, ainda, ser entendida apenas como o cuidado formal com o discurso ou a linguagem do professor. A fala ou discurso docente não se resume a técnicas de construção da mensagem, não deveria se destacar pela linguagem rebuscada, de difícil compreensão.
Por isso, é necessário atualizar, contextualizar, revisitar criticamente a retórica para encontrar seu lugar no mundo da educação na atualidade. Contudo, este é um assunto que vamos desenvolver nos próximos módulos, quando estudaremos a Nova Retórica, os recursos argumentativos e o desafio de construir uma relação plural e democrática no espaço escolar.
RETÓRICA E EDUCAÇÃO
Agora, os professores Rodrigo Rainha e Luís Dallier apresentam os principais pontos teóricos e históricos da Retórica clássica.
1. Considere as seguintes afirmativas:
	As definições de retórica a partir de Platão, Aristóteles e Quintiliano são distintas, mas valorizam igualmente o páthos, ou seja, o auditório como componente principal da retórica.
	A definição de retórica centrada no auditório é identificada com Platão, filósofo que entendia a retórica como manipulação das pessoas, do auditório.
	Um advogado que discursa em favor de uma causa, usando a linguagem com certa racionalidade e se valendo de argumentos, exemplifica na atualidade a definição de retórica centrada no lógos, ou seja, no discurso ou na linguagem.
	A definição de retórica que privilegia o orador e suas qualidades e eloquência encontra um importante representante em Quintiliano.
Estão CORRETAS apenas as afirmativas:
	I e II.
	I e IV.
	II e III.
	I, III e IV.
	II, III e IV.
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
As definições de retórica apresentadas possuem ênfases distintas quanto aos componentes ou elementos da retórica. Platão, por exemplo, ao destacar o papel do auditório, criticava a retórica como forma de manipulação das emoções do público. Aristóteles, por sua vez, valorizava a retórica a partir do discurso, da linguagem usada com racionalidade, em favor da persuasão, o que poderia ser ilustrado na fala de um bom advogado durante a apresentação de argumentos para defender determinada tese. A dimensão do orador era enfatizada por Quintiliano, que valorizava as virtudes, a eloquência e o bem-dizer do orador.
2. Assinale a alternativa que relaciona adequadamente a definição de retórica centrada na figura do orador com o contexto educacional.
	O professor, ou educador, representa hoje o que no passado correspondia, na retórica, ao orador, por isso, a sala de aula deve ser centrada na figura do professor e no uso de técnicas de oratória.
	Se os alunos constituem o auditório e o professor corresponde ao orador, a retórica deve ser entendida como aprimoramento de técnicas que valorizam a autoridade docente e a centralidade das aulas expositivas.
	As características, qualidades e competências do professor no ambiente escolar contribuem para reforçar sua credibilidade na função que corresponde à do orador na retórica antiga.
	Identificar o professor com a figura do orador na retórica antiga implica, necessariamente, que o docente assuma uma posição autoritária diante de seu auditório: os alunos.
	Considerando os elementos da retórica, o orador deve sempre sobressair, porque o auditório existe em função dele, assim como uma turma ou sala de aula existe em função do discurso eloquente do docente.
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
O orador, como componente da retórica, aponta para a importância das características e virtudes daquele que se dirige ao auditório. Assim, no contexto educacional, esse aspecto da retórica pode ser relacionado com o fato de a credibilidade do professor, que ocuparia a função do “orador”, advir de sua preparação e competência para desempenho das funções docentes.
Módulo 2 — Identificar os principais recursos argumentativos
A RETÓRICA NÃO É MAIS A MESMA: A NOVA RETÓRICA
O desprestígio da Retórica ao longo do tempo e os novos desafios das relações sociais, políticas e educacionais mediadas pela linguagem acabaram por consolidar não apenas a crítica à antiga Retórica, mas também levaram alguns pensadores a revisitar o arcabouço teórico da Retórica e a desenvolver importantes releituras e atualizações.
Imagem: Chaïm Perelman.
Uma contribuição fundamental nesse sentido é encontrada no pensamento e na obra do filósofo e professor Chaïm Perelman (1912-1984), que nasceu em Varsóvia, na Polônia, mas emigrou para a Bélgica ainda na sua adolescência. Perelman teve a colaboração da pesquisadora belga Lucie Olbrechts-Tyteca (1899-1987), com quem escreveu a importante obra Tratado da Argumentação, publicado em 1958.
Perelman propõe uma “virada retórica”, uma Nova Retórica, baseada numa teoria da argumentação que valoriza as estruturas argumentativas desenvolvidas pelo orador, presentes no discurso, principalmente no texto escrito.
As contribuições de Perelman, sem esquecer a retórica de Aristóteles, nos permitem uma atualização na definição da Retórica:
Desse modo, se o objetivo do orador não é alcançado, será necessário avaliar e reelaborar o discurso, pois a retórica não é uma ciência ou um método rigoroso, preciso e previsível (MAZZOTTI, 2016).
Assim, deve-se buscar argumentos e procedimentos discursivos que contribuam para a persuasão ou convencimento do ouvinte, do leitor ou do espectador em geral.
Na nova retórica de Perelman, o discurso construído a partir de argumentos adequados e estratégicos ganha relevância. Por isso mesmo, o que Perelman chamou de Nova Retórica também recebe a denominação de Teoria da Argumentação.
O trabalho de Perelman forneceu uma classificação dos tipos de argumento, enfatizando a importância do convencimento, da persuasão, em situações nas quais a verdade é uma questão de consenso a ser conquistado. Trataremos brevemente de alguns tipos de argumento, mas antes vamos considerar a relação que há entre argumentação e comunicação.
ARGUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Ao usarmos a língua para expressar o que pensamos e nos comunicar, estamos também agindo sobre o outro, atuando para que nosso interlocutor responda ou reaja favoravelmente ao nosso discurso.
Assim, falamos e escrevemos porque desejamos levar o outro a nos ouvir/ler, mas não somente isso, esperamos que o outro passe a pensar, agir ou responder a partir do que ouve ou lê.
De certo modo, a um quê de argumentação em tudo que falamos e escrevemos, pois esperamos persuadir por meio da língua.
Em todas essas situações de comunicação e interação, há um aspecto argumentativo, mesmo que não apareça formalmente algum tipo de argumento, como os que veremos mais adiante.
Isso quer dizer que, num sentido mais amplo e no contexto da comunicação e da interação por meio da língua, o argumento busca a persuasão:
Num sentido mais estrito, o argumento está relacionado com técnicas de convencimento, com esquemas de raciocínio ou com raciocínios lógicos.
Vejamos, então, algumas técnicas argumentativas e como elas foram entendidas no contexto da chamada Nova Retórica.
RECURSOS ARGUMENTATIVOS
Vamos conhecer alguns dos principais tipos de argumentos sem nos preocuparmos, aqui, com o estudo de uma taxonomia (classificação) ou mesmo uma caracterização e exemplificação exaustivas dos argumentos.
Nosso objetivo é partir das contribuições de Perelman (1999), Fiorin (2016) e Fiorin & Savioli (2003) para identificar recursos argumentativos que podem nos ajudar na comunicação docente.
Vamos adiantar para você que Perelman, ao classificar as técnicas argumentativas, foi bem detalhista e usou quase 400 páginas de sua principal obra para classificá-lasem diferentes tipos, grupos e categorias.
Contudo, queremos simplificar, apresentando apenas algumas técnicas ou recursos argumentativos que, certamente, vão nos ajudar a pensar a comunicação entre professores e alunos.
	Argumento de autoridade
Quando nos valemos da ideia, posicionamento ou opinião de alguém que é autoridade em determinado assunto sobre o qual estamos tratando, temos uma situação que caracteriza o uso do argumento de autoridade.
No meio acadêmico, essa é uma prática comum, pois várias vezes falamos e escrevemos sobre um tema a partir da pesquisa, dos estudos e das ideias de determinado autor ou pesquisador. Isso acaba se materializando na forma de citações, que podem ser diretas (mantendo literalmente as palavras do autor) e indiretas (modificando as palavras do autor, porém mantendo sua ideia ou conceito).
Em sala de aula, o professor recorre ao argumento de autoridade com certa frequência, chamando a atenção para o fato de que alguém que reconhecidamente tem autoridade no assunto confirma ou certifica o que ele está falando.
O uso do argumento da autoridade quando feito adequadamente pode indicar que conhecemos o assunto de que tratamos, pois estudamos, pesquisamos e usamos autores relevantes e confiáveis.
No entanto, o mau uso do argumento de autoridade tem efeito contrário.
Quando usamos a ideia de um autor fora de contexto ou de forma incoerente, incompleta ou despropositada, estamos sinalizando que não estudamos adequadamente o assunto ou nos preparamos mal para falar ou escrever.
Também não é adequado que um educador abuse dos argumentos de autoridade a tal ponto que sua fala perca todo traço autoral, ou seja, ele não se torna autor da maior parte daquilo que fala ou escreve.
	Argumento baseado no consenso
Já reparou que existem proposições ou ideias que são aceitas numa determinada cultura, comunidade ou auditório sem questionamentos?
Por exemplo: A educação é importante para o desenvolvimento de uma nação.
Essa afirmação tem apoio no consenso da sociedade porque a Economia, a Sociologia e a própria área da Educação evidenciam o papel da formação escolar ou acadêmica na construção e crescimento de um país. Porém, quando afirmamos a frase do nosso exemplo não temos, geralmente, que demonstrar cientificamente a sua validade, pois ela é aceita como verdadeira em nosso tempo.
 
Atenção
Não devemos confundir esse tipo de argumento com afirmações preconceituosas ou lugares-comuns, que têm mais a ver com crendices, clichês e provérbios populares, que carecem de evidências e validade.
	Argumento baseado em provas concretas
O uso de dados ou fatos verdadeiros, pertinentes e suficientes para confirmar, comprovar ou evidenciar determinada afirmação ou juízo pode se constituir em um tipo de argumento.
Repare que, nesse caso, os fatos comprobatórios são a base do argumento. Não confunda com os fatos corriqueiros, com os acontecimentos do dia a dia.
 
Exemplo
Temos uma situação de uso do argumento baseado em provas concretas quando alguém afirma algo como: “O distanciamento social durante a pandemia de COVID-19 ao longo de 2020 tornou ainda mais grave a desigualdade social e educacional entre estudantes que não dispõem de Internet ou mesmo espaço adequado para estudar em casa, pois as atividades pedagógicas não presenciais em quase todos os casos dependiam de acesso a videoaulas, transmissões ao vivo ou material didático digital”.
Veja que, nesse caso, não se trata de mera opinião ou alguma generalização indevida, pois o argumento do aumento da desigualdade social e educacional entre estudantes mais pobres está baseado na prova ou fato concreto que foi a limitação dos estudantes acompanharem o chamado “ensino remoto” por não possuírem Internet ou espaço adequado em casa para estudar.
	Argumentos quase lógicos
Os argumentos quase lógicos são aqueles que se parecem com a estrutura de um raciocínio lógico, porém suas conclusões não são necessárias do ponto de vista da lógica formal.
Vamos entender melhor isso recorrendo ao filósofo Aristóteles, que distinguia dois tipos de raciocínios: os necessários e os preferíveis.
Os raciocínios necessários apresentam uma conclusão que resulta obrigatoriamente das premissas enunciadas. Os silogismos lógicos seriam um exemplo: “Todos os planetas do sistema solar giram ao redor do Sol. Marte é um planeta do sistema solar. Logo, Marte gira ao redor do Sol”. Perceba que a conclusão (Marte gira ao redor do sol) não depende de convicções ou preferências pessoais.
Os argumentos necessários estão, assim, relacionados com o campo da lógica formal.
Os raciocínios preferíveis apresentam uma conclusão que não decorre de forma imperiosa das premissas apresentadas. A conclusão, na verdade, se apresenta como algo provável ou possível, em vez de ser necessária no âmbito da lógica. Quando alguém diz que uma escola é melhor do que outra porque as mensalidades são mais caras, a conclusão pode até ser possível ou provável, mas não será logicamente verdadeira.
Atividade discursiva
Qual tipo de raciocínio estaria relacionado com a retórica?
Resposta:
Para Aristóteles, a retórica estava intimamente associada à lógica, pensamento que foi resgatado durante a filosofia escolástica pelos filósofos católicos. Na Idade Média, a retórica compunha, junto com a gramática e a lógica, o conjunto chamado de trívio.
Os raciocínios preferíveis pertencem ao âmbito da retórica porque esta lida com a argumentação, com a necessidade de se argumentar em favor de uma tese ou uma afirmação que não se constitui numa verdade lógica, em algo categórico e que possa ser demonstrado logicamente. A lógica é que vai lidar com as provas demonstrativas.
Os argumentos quase lógicos podem levar em conta os princípios formais do raciocínio lógico, como o princípio da não contradição, porém são argumentos que utilizamos quando tratamos daquilo que é plausível, possível, provável, e não o que é necessário na perspectiva da lógica formal.
Por isso mesmo, em áreas como a Política, o Direito e a Educação, devemos usar argumentos que levem em conta a não contradição, a relação correta entre causa e efeito, a coerência entre as proposições que são feitas, porém isso deve ser feito tendo em conta que estamos em áreas ou domínios do que é plausível, possível, preferível. Não estamos tratando de áreas, como a matemática, em que há verdades demonstráveis, baseadas em raciocínios analíticos, mas de outras áreas nas quais há controvérsias e, dessa forma, é preciso argumentar para convencer o outro.
TIPOS DE ARGUMENTOS
Confira mais explicações sobre os tipos de argumentos e seus exemplos assistindo ao vídeo com os professores Luís Dallier e Rodrigo Rainha.
ELEMENTOS DA RELAÇÃO ARGUMENTATIVA
Conhecendo alguns dos principais recursos argumentativos, é hora de finalizar este módulo com algumas considerações pontuais sobre o uso dos argumentos na relação que se estabelece entre o orador e o auditório. Vamos tratar de aspectos que devem fazer parte de um “acordo prévio” entre o orador e o público.
Adequação da linguagem: o primeiro ponto está relacionado com a necessidade de orador e auditório compartilharem a mesma língua. Mais do que isso, a linguagem verbal (palavra falada e escrita) e não verbal (gestos, expressões faciais, imagens etc.) devem ser utilizadas adequadamente, ou seja, precisam estar adequadas à situação, ao público, ao tema.
Usar a língua padrão numa situação formal confere credibilidade ao orador, enquanto o uso desleixado e contrário à norma padrão pode comprometer a confiabilidade do que é falado numa situação formal. A competência linguística, portanto, é importante fator argumentativo.
Adaptação ao auditório: adaptar-se ao auditório só é possível quando se conhece o público ao qual se dirige. Os argumentos podem ser eficazes e válidos para determinado público, mas não para outro; em determinada época, mas não em outra; em certo contexto, mas não em outro.
Além de conhecer seu auditório, o orador precisa organizar sua argumentação com base em premissas admitidas pelo público,com as quais este está de acordo. Lembre-se de que as premissas são as ideias ou as proposições que usamos para chegar a determinada conclusão. Se alguém constrói argumentos baseados em valores, princípios, premissas e verdades que não são compartilhados pelo seu auditório, terá muita dificuldade.
Também é importante distinguir aspectos factuais, mais objetivos, dos aspectos mais relacionados com juízo de valor: afirmar que determinado time ganhou um jogo (juízo de fato) está num patamar de objetividade diferente de afirmar que a vitória foi merecida (juízo de valor) (LEMGRUBER; OLIVEIRA, 2011, p. 27).
A disposição para ouvir: mais do que escutar o orador, a disposição para ouvir, que deve existir no auditório, está relacionada com o interesse e apreço pelo que o outro vai falar.
Entretanto, essa disposição para ouvir deve também existir no orador, porque se ele precisa conhecer seu auditório e adaptar suas estratégias argumentativas ao seu público a fim de o convencer ou persuadir, então é necessário o orador ouvir de algum modo o que seu público diz. Ele precisa inteirar-se dos anseios, dos conhecimentos, dos discursos do seu público.
Numa perspectiva pedagógica, em que o professor ocupa a função de orador, falar ao auditório a partir do que esse público conhece e pensa é uma forma de considerar e valorizar os saberes prévios.
Escrever e falar a partir do conhecimento prévio do interlocutor pode tornar mais significativo, interessante e próximo o que se tem a dizer.
1. Assinale a alternativa na qual é possível identificar corretamente um argumento de autoridade:
	Os professores são seres humanos. João é um professor. Logo, João é um ser humano.
	Os professores não têm mais autoridade, por isso a educação vem piorando.
	Os indicadores e resultados ruins da educação são provocados por uma relação com os alunos em que o professor não tem sua autoridade reconhecida.
	Não basta saber decodificar as palavras ou ler os textos escritos, é preciso também ler o mundo, pois, como defendia Paulo Freire, a leitura do mundo vem antes da leitura da palavra.
	A leitura e a escrita são pilares do aprendizado inicial em língua portuguesa, pois a progressão ao longo dos anos escolares fica ameaçada quando não se domina as competências escritora e leitora.
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
O argumento de autoridade se caracteriza pela apresentação de uma opinião, um parecer ou uma ideia de alguém que é autoridade em determinado assunto para confirmar ou reforçar o que está defendendo. No caso da alternativa correta, se recorre a uma citação do educador brasileiro Paulo Freire, internacionalmente reconhecido na área da Pedagogia, para sustentar ou corroborar uma afirmação sobre a necessidade de estender a leitura do texto para a leitura do mundo.
2. Qual cuidado deve ter o orador ao construir e apresentar seu discurso ao auditório, numa situação formal, levando em conta seu objetivo de persuadir o público?
	Elaborar argumentos baseados em convicções pessoais, independentemente do que o auditório pensa, e alicerçados em raciocínios necessários, aqueles que podem ser cientificamente demonstrados e são irrefutáveis.
	Organizar seu discurso a partir de uma linguagem bastante informal e bem-humorada, criando um clima descontraído para que o público, mais relaxado e pouco reflexivo, vá aderindo às suas ideias.
	Focar em sua própria ideia e seus valores, pois a convicção, a firmeza e autoconfiança do orador são recursos argumentativos suficientes e infalíveis em qualquer contexto e auditório.
	Adequar a linguagem ao auditório e à situação de comunicação, ter disposição para ouvir ou conhecer seu público e construir argumentos baseados em premissas compartilhadas pelo auditório.
	Escolher estratégias argumentativas que se caracterizem pela linguagem rebuscada, pomposa e difícil, pois assim impressionará positivamente o auditório, que tenderá a aceitar os argumentos de alguém que parece ser muito inteligente.
Parabéns! A alternativa "D" está correta.
O orador estabelece com seu auditório uma relação argumentativa que deve se caracterizar por aquilo que se chama de “acordo prévio”, ou seja, o orador deve partir de premissas ou pressupostos que são compartilhados pelos seus ouvintes, para que a conclusão ou proposição que ele apresentar nasça de um acordo ou ponto inicial comum. Também é importante a adequação da linguagem, no caso, por ser uma comunicação formal, a língua padrão é que deve ser usada. Finalmente, é importante conhecer o público ao qual se vai dirigir, pois a argumentação pode levar em conta o conhecimento prévio do auditório.
Módulo 3 — Relacionar a Nova Retórica com o diálogo e o pluralismo
A ARGUMENTAÇÃO E O DISCURSO DOCENTE
Tradicionalmente, o professor é aquele que detém o discurso do conhecimento, da ciência, das verdades incontestáveis, do saber privilegiado socialmente. A matéria de seu ensino ou o conteúdo de suas aulas, muitas vezes, estão no campo daquilo que não é controverso.
Não é comum alguém imaginar o professor fazendo um grande esforço argumentativo para defender, por exemplo, o estudo da língua portuguesa ou da matemática na escola.
O conhecimento e os valores dos quais o professor é porta-voz são reconhecidos pela sociedade e pela comunidade acadêmica. Por isso, o educador ou professor podem ser vistos como possuidores de certo prestígio, pelo menos do ponto de vista intelectual e institucional.
Nesse sentido, Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) entendem que os valores defendidos na educação não estão sujeitos a controvérsias, por isso se presume que o orador (educador) usufrua de tanta confiança por parte de seu público que nem mesmo precisaria se adaptar a seus ouvintes e falar a partir de teses que seus alunos aceitem. Portanto, o professor não precisaria se valer de argumentos, a não ser os chamados argumentos didáticos, aqueles que os ouvintes adotam porque “o mestre disse”.
De acordo com essa visão, o educador possuiria prestígio indiscutível e seria um tipo de porta-voz dos valores de determinada sociedade, não suscitando controvérsias no seu público nem se envolvendo em defesas ou ataques de valores.
Isso ocorreria porque ele seria um promotor de valores da comunidade à qual seus próprios alunos pertencem. O professor teria, de antemão, um auditório com boa vontade, o que, somado ao reconhecimento do prestígio do professor, cria uma situação bem favorável (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996).
Mas será essa a realidade do dia a dia da sala de aula?
Uma outra forma de olhar essa questão é reconhecendo que o espaço da escola é plural, composto por um público heterogêneo e por um auditório que tem diferentes valores, formação familiar, visão de mundo ou religiosa etc.
É possível que o professor, em diversas situações, precise conquistar, persuadir e convencer seu aluno em relação ao que tem a dizer ou às atividades pedagógicas a serem realizadas.
Dessa forma, o recurso à argumentação no discurso do professor está relacionado com o reconhecimento de que nem tudo que ele tem a dizer é previamente aceito pelo seu auditório ou encontra eco e concordância entre seus alunos.
A pluralidade e a heterogeneidade da sala de aula demandam um esforço de aproximação, conhecimento e adaptação do orador (professor) ao auditório (alunos).
Além disso, o conhecimento e os valores culturais e sociais que o professor traz no bojo de sua disciplina podem se chocar contra o senso comum e os valores de seus alunos.
Como a autoridade do professor não deve se converter em autoritarismo, nem o discurso argumentativo ceder facilmente ao discurso imperativo, a disposição para argumentar deve prevalecer na relação do professor com seus alunos na tarefa de construir o conhecimento.
Embora seja complexo e difícil, o professor deve privilegiar o caminho trabalhoso e paciente da argumentação (discurso argumentativo), e não o atalho fácil do ordenar (discurso imperativo).
Isso não quer dizer que todos os problemas e desafios que enfrentamos no contexto escolar sejam resolvidospor meio da argumentação. Também não significa que toda relação ou prática pedagógica se resuma a argumentar, argumentar e argumentar.
O que queremos dizer é: sempre que possível, escolha o caminho do diálogo, da argumentação, da construção de pontes para que os saberes dos alunos não sejam ignorados ou negligenciados e o conhecimento do professor não seja imposto nem validado irrefletidamente.
ARGUMENTAÇÃO E DIÁLOGO PEDAGÓGICO
O contexto educacional, particularmente a sala de aula, deve ser lugar privilegiado do diálogo.
O diálogo pedagógico, aquele que se estabelece entre educador e educando no processo de formação, permite tanto a comunicação indispensável para a construção do conhecimento quanto favorece o exercício da autoridade do docente sem o recurso ao autoritarismo.
Instaurar e cultivar o diálogo na prática pedagógica pode implicar o uso de recursos argumentativos, pois em vez de transmitir ou impor ensinamentos e verdades, o professor opta por persuadir seu aluno em favor de determinada tese ou afirmação por meio de argumentos que podem ser trabalhados numa relação dialógica em que orador e auditório ouvem um ao outro e se expressam legitimamente.
A abertura ao diálogo está, assim, relacionada com a necessidade de uma comunicação docente que não é impositiva nem autoritária, mas propositiva, colaborativa e participativa.
Isso não quer dizer que professor e alunos, ao participarem legitimamente desse diálogo pedagógico, compartilhem as mesmas condições e estejam em pé de igualdade quanto aos seus saberes e experiências.
Assim, a necessidade do diálogo advém do reconhecimento tanto da autoridade do professor quanto do direito de o aluno a construir sua autonomia e emancipação.
Por um lado, é preciso assumir que professor e alunos compartilham experiências e conhecimentos distintos, o que instaura diferentes níveis de maturidade e conhecimento entre eles, o que resulta na autoridade do professor.
Por outro lado, a autoridade não deve ensejar o autoritarismo porque a relação de autoridade deve ser gradualmente substituída pela relação de colaboração crítica entre alunos e professores (OLIVEIRA, 2011; PERELMAN, 1996).
O diálogo pedagógico, dessa forma, pode romper com atitudes e discursos autoritários, homogeneizadores e monoculturais, ainda que essa postura gere desacordos e conflitos, pois a heterogeneidade do auditório (alunos), com diferentes valores e formação cultural, pode dar lugar tanto a acordos quanto a desacordos (OLIVEIRA, 2011).
De certo modo, a tarefa do professor será a de conquistar seu auditório por meio da argumentação e de atitudes pedagógicas adequadas, tendo em vista tal heterogeneidade e também os diferentes discursos externos à comunidade escolar e que também procuram atrair e moldar os alunos.
Tal situação nos coloca frente ao desafio de assumir o pluralismo como um valor, a liberdade de escolha como um direito e o pensamento crítico como uma necessidade.
ARGUMENTAÇÃO E PLURALISMO
Você lembra da menção que fizemos, logo no começo, à frase “contra fatos não há argumentos”?
Embora os fatos aparentemente não necessitem de argumentos, sejam imunes à discussão, para a teoria da argumentação, os fatos não bastam por si mesmos.
Não vemos os fatos da mesma forma, com os mesmos “óculos” ou com a mesma perspectiva social e cultural.
Além disso, muitos fatos chegam até nós por meio de relatos, de narrativas. Poderemos ter uma ou mais versões do mesmo fato.
Não estamos negando a realidade ou objetividade dos fatos, mas chamando a atenção para as condições culturais, sociais e subjetivas que estão presentes na percepção dos fatos e, também, na descrição ou narrativa deles.
É bom considerarmos que os fatos, ao longo da história, inclusive da história pessoal de cada um de nós, podem ser vividos ou experienciados de formas diferentes. Um mesmo fato pode ser vivenciado e interpretado de forma diversa por diferentes pessoas.
Por isso, contra fatos pode haver argumentos, sim!
Argumentos que procurem persuadir o ouvinte ou leitor acerca de percepções, leituras, interpretações ou vieses de determinado fato.
Argumentos que desloquem o observador para outra perspectiva, na qual ele poderá enxergar ou perceber algum aspecto, alguma dimensão ou alguma implicação que antes não identificava.
Você já ouviu falar da parábola indiana Os cegos e o elefante?
Os cegos e o elefante
Era uma vez seis cegos que viviam em uma vila na Índia. Um dia, os moradores do local disseram aos cegos:
— Um elefante chegou hoje na cidade.
Os cegos não tinham ideia do que era um elefante. Pensaram e decidiram:
— Embora não possamos ver o que é um elefante, podemos senti-lo.
E assim, foram até o local onde estava o animal. Ao chegarem lá, cada um tocou no elefante. O primeiro homem apalpou a barriga do elefante e disse:
— O elefante é como uma parede.
Ao que o segundo cego retrucou, ao tocar em sua presa:
— Não, o elefante é pontudo como uma lança.
O terceiro afirmou ao pegar em sua tromba:
— O elefante é como uma cobra.
— Vocês estão todos errados, disse o quarto homem ao tocar a perna. O elefante é como uma árvore.
O quinto cego, que por acaso tocou as orelhas do animal, declarou:
— Mesmo o mais cego dos homens perceberia que o elefante é como um leque.
O sexto homem, ao agarrar o rabo que balançava, retorquiu:
— O elefante é como uma corda.
Nesse caso, o elefante não permite uma síntese imediata, por ser muito grande. Cada cego tenta definir, com a linguagem que conhece, o animal. Porém, suas percepções sensoriais os guiam a interpretações enganosas.
(ADELL, 2010, p. 90)
É uma narrativa popular que, entre suas várias versões, evidencia a possibilidade de diferentes pessoas terem distintas percepções de um mesmo objeto, de um mesmo fato.
Toda metáfora e analogia tem suas limitações, mas queremos chamar sua atenção para o perspectivismo, ou seja, não há uma única perspectiva de um objeto ou fato.
Se as condições para perceber um objeto ou fato são limitadas ou precárias, maior a possibilidade de percepções e definições parciais e limitadas.
Por isso, quem atua na construção do conhecimento deve empreender um esforço para se inteirar das diversas percepções sobre determinado assunto no sentido de favorecer:
 
	Uma apreensão integradora
Que considere e articule os vários aspectos e perspectivas implicados na percepção.
 
	Uma compreensão integral
Que dê conta do conjunto de elementos que constroem o conhecimento.
Isso pode ser feito de forma argumentativa, sem impor a verdade, persuadindo para se ganhar a adesão em relação a determinada tese ou conclusão.
Tal constatação é mais pertinente ainda nas situações em que não lidamos com a necessidade produzir demonstrações ou provas científicas, mas com o desafio de lidar com questões que admitem diferentes visões e escolhas.
Perceba que não estamos negando a possibilidade da construção de uma verdade objetiva sobre determinado fato, mas também não estamos reduzindo os fatos à imposição de uma narrativa única, oficial e incontestável.
Isso nos leva, então, à necessidade de reconhecer o valor do pluralismo e, consequentemente, da democracia como importante valor na sociedade e na educação.
Nós argumentamos porque fizemos uma escolha na história da civilização humana: levar o outro a agir em função da persuasão ou do convencimento, e não da força, da imposição ou do autoritarismo.
Imagine alguém em sala de aula, num curso de formação de professores, impondo que determinada metodologia de alfabetização é a única correta e afirmando categoricamente que todas as demais metodologias ou técnicas são inválidas e não produzem resultado em qualquer situação.
Essa atitude não parece ser a mais adequada, pois é possível defender ardorosamente determinada metodologia, oferecendo diversos argumentos a favor e examinando os argumentos contrários, sem precisar elevar à categoria de verdade absoluta e incontestável a metodologia da qual se está convencido ser a mais adequada ou melhor.
LINGUAGEM, DIÁLOGO E PLURALISMO
Tudo isso deve nos levar a refletirtambém sobre o papel da linguagem numa comunicação docente que privilegia o diálogo e valorize o pluralismo.
O uso da língua pode tanto estar a serviço do mandar, do impor, do constranger, do oprimir, quanto pode estar a serviço do argumentar, do persuadir, do convencer, do debater, do dialogar, do ponderar.
Se necessário, posso me dirigir ao aluno e ordenar: “Abra o livro agora e leia o que estou mandando!”. Também posso pedir ou encorajá-lo dizendo: “Vamos abrir o livro e ler esse trecho importante?”.
Posso ouvir a opinião do aluno e retrucar enfaticamente: “Você está errado, não concordo com a sua opinião!”. Posso também ponderar: "É possível que sua opinião seja discutível e precisemos revê-la".
Procurando chamar a atenção do aluno sobre alguma avaliação formal, posso ameaçá-lo com a possibilidade de um fracasso na prova dizendo: “Você vai tirar zero se não estudar!”. Também posso alertá-lo e desafiá-lo dizendo: “Se você estudar, vai conseguir tirar boa nota”.
Poderíamos nos estender com a tentativa limitada de descrever algumas situações em que temos não apenas duas, mas diversas possibilidades de uso da língua em função do contexto, da nossa intenção e do nosso comprometimento com o diálogo e o pluralismo.
O domínio da língua portuguesa e o uso competente dos recursos argumentativos é uma necessidade na comunicação docente. Nem sempre estaremos numa situação em que tenhamos de argumentar, ponderar e lidar com opções de escolhas legítimas. No entanto, esta deve, certamente, ser a tônica da comunicação docente: o diálogo num contexto em que o pluralismo deve ser um importante valor.
ARGUMENTAÇÃO, PLURALIDADE E DIÁLOGO
Agora, os professores Rodrigo Rainha e Luís Dallier comentam e exemplificam o uso da argumentação para promover o diálogo pedagógico e a pluralidade.
1. Um aspecto da relação entre a Nova Retórica e o diálogo na educação pode ser identificado corretamente em qual afirmativa?
	Há uma simetria entre alunos e professores em relação ao conhecimento e às experiências, o que demanda um discurso sempre amistoso e conciliador da parte do professor.
	Há uma assimetria entre o professor e seus alunos, o que não deve levar ao abuso da autoridade do professor, mas à comunicação propositiva, colaborativa e participativa.
	A necessidade de argumentação por parte do professor na sua relação com os alunos existe porque quem detém o conhecimento precisa falar, enquanto os que ainda possuem pouca experiência e saber precisam ouvir resignadamente.
	A argumentação é uma importante ferramenta do professor para convencer seus alunos de que os únicos saberes legítimos são aqueles que a escola cultiva e defende.
	Quanto mais diálogo houver na sala de aula, menos o professor precisará desenvolver argumentos e impor sua autoridade aos alunos.
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
Por não compartilharem os mesmos conhecimentos e experiências, professores e alunos são diferentes, porém essa assimetria não precisa dar lugar a uma relação autoritária da parte do professor, pois sua autoridade pode ser reconhecida pela competência que ele demonstra em dialogar, argumentar e promover a atuação colaborativa de seus alunos, contribuindo para a formação e autonomia deles.
2. A parábola sobre os cegos e o elefante ilustra o desafio da construção do conhecimento diante das condições limitadas que podemos ter na tarefa de apreender e compreender a realidade, o mundo. Por isso, o perspectivismo (diferentes perspectivas de um mesmo objeto ou realidade) e o pluralismo (diversidade de pensamento, opinião, valores etc.) precisam ser reconhecidos e assumidos no contexto das práticas pedagógicas.
Levando em consideração o que se afirma anteriormente e o que você estudou, assinale a alternativa correta:
	Os fatos sempre são descritos objetivamente, pois são imunes a interpretações e perspectivas históricas e culturais.
	Contra fatos não há argumentos, pois a percepção que cada um tem de determinada realidade impossibilita a construção de um conhecimento coletivo acerca daquela realidade.
	A argumentação não é uma atividade que contribui para a construção do conhecimento porque cada problema ou aspecto da realidade comporta apenas uma visão ou perspectiva.
	As percepções parciais de determinado objeto ou realidade impedem a construção do conhecimento, que somente é construído a partir de uma unidade de pensamento, de uma visão única.
	As diferentes perspectivas e a diversidade de opinião sobre um assunto ou realidade demandam o uso da argumentação no esforço de se chegar a um conhecimento mais integral e integrador.
Parabéns! A alternativa "E" está correta.
O pluralismo e a diversidade de perspectivas exigem um esforço argumentativo na prática educacional, pois a construção do conhecimento deve levar em conta essa diversidade e articular visões diferentes ou complementares para se chegar a uma conclusão ou determinado conhecimento. Para promover a adesão a essa conclusão ou visão sobre um assunto, os argumentos podem ser bastante úteis.
Conclusão
Considerações finais
Começamos fazendo algumas perguntas sobre o lugar da retórica e da argumentação no ambiente educacional, e finalizamos esperando que os encaminhamentos dados a essas questões tenham mostrado a você que o desafio de persuadir e convencer as pessoas é muito antigo e tem seu lugar no mundo da educação ainda hoje.
Como você pôde perceber, a retórica não precisa ser sinônimo de discursos floreados feitos por oradores eloquentes a um público manipulável.
Em vez disso, a nova retórica nos ajuda a reconhecer que, no contexto plural e dialógico da sala de aula, o professor deve persuadir e convencer seus alunos a aderir a determinada tese ou conclusão por meio de recursos argumentativos adequados.
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Leia mais sobre os conceitos apresentados aqui e sua relação com a educação buscando o artigo Retórica e argumentação: contribuições para a educação escolar, de Helen Oliveira e Renato Oliveira, disponível no portal da plataforma Scielo Brazil.
Veja algumas contribuições do estudo da nova retórica para o enfrentamento da violência verbal, e o papel da educação nesse contexto, lendo o artigo Linguagem, nova retórica e violência verbal nas redes sociais, de Luís Dallier e Milca Tscherne, publicado na Revista Travessias Interativas, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Conheça ainda um estudo sobre argumentação e aprendizagem de língua no contexto escolar no artigo A arte de argumentar na sala de aula, de Débora Massmann, publicado na Revista Letras, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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