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SANGRAMENTO DA PRIMEIRA METADE DA GESTAÇÃO P R O F. M A R I N A AYA B E M A R Ç O D E 2 0 2 2 Estratégia MED Prof. Marina Ayabe | Sangramento da Primeira Metade da Gestação 2OBSTETRÍCIA PROF. MARINA AYABE APRESENTAÇÃO: @prof.alexandremelitto @estrategiamed /estrategiamed t.me/estrategiamed Estratégia MED INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO PESSOAL Olá, doutor, como você está? Eu sou a professora Marina Ayabe G. de Moraes. É uma honra fazer parte da equipe Estratégia MED e poder colaborar em sua preparação para enfrentar as provas de Residência Médica. Eu já estive aí em seu lugar, estudando como louca à procura de um material bem elaborado, combinado com uma boa didática para ajudar na compreensão de um tema que, às vezes, parece impossível, seja por falta de afinidade ou seja por uma leitura pesada e pouco atrativa. Este é um RESUMO que poderá ajudá-lo na reta final a focar seus estudos. https://www.instagram.com/prof.alexandremelitto/ https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://t.me/estrategiamed https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?app=desktop Estratégia MED Prof. Marina Ayabe | Sangramento da Primeira Metade da Gestação 3OBSTETRÍCIA Assim, esta será minha missão: oferecer a você um conteúdo de qualidade para que você consiga a tão sonhada aprovação na Residência Médica. E ainda quero que se sinta confortável e à vontade para voltar e me avisar que esse sonho aconteceu e que eu o ajudei nessa trajetória. Vou aproveitar a oportunidade e deixar alguns “macetes”, pois, para ser aprovado, não basta apenas conhecimento teórico, faz-se necessário SABER REALIZAR UMA PROVA. Mas, além de estar mais preparado, você levará esse conhecimento adquirido para sua vida profissional. Atenção para algumas dicas de estudo: 1º Não leia este material apenas 1 vez. Faça seus resumos e volte a ler para a FIXAÇÃO do conteúdo daqui alguns dias ou meses. 2º Organize seus RESUMOS da matéria. Não grife tudo, grife o que não pode faltar para ser compreendido e decorado (já deixei alguns pontos em negrito para ajudá-lo). 3º Resolva MUITAS QUESTÕES: método Dr. Joshua de estudo “3 Qs” - após a leitura, resolva QUESTÃO, QUESTÃO E QUESTÃO. 4º Vai ter que DECORAR, porque a chance de cair na prova é alta: escreva em uma folha, COLE NA PAREDE DO QUARTO OU NO BANHEIRO e olhe todos os dias. É certeza que, uma hora, entra na cabeça. 4º Se necessário, pode me procurar pelo FÓRUM DE DÚVIDAS e em nossas redes sociais: não vá para a prova com dúvidas, pois eu posso ajudá-lo. 6º NÃO PERCA TEMPO: se seu objetivo é passar, vamos, então, conquistar esta vaga. 7º Não gosta de estudar OBSTETRÍCIA? Estude, então, aqui comigo mesmo com ódio! Eu vou facilitar seu estudo para sua aprovação, para sua especialidade e na instituição que desejar. Conte comigo! Pronto? Então, separe seus materiais, concentração e vamos começar! Estratégia MED Prof. Marina Ayabe | Sangramento da Primeira Metade da Gestação 4OBSTETRÍCIA INTRODUÇÃO O tema sangramento da primeira metade da gestação está entre os 3 TOP temas da obstetrícia. Observe, a seguir, o gráfico de temas que vale ouro para organizar suas prioridades de estudo. 4% 25% 15% 13% Intercorrências obstétricas Medicina fetal Parto Doenças associadas à obstetrícia Pré-natal Obstetrícia fisiológica Puerpério 11% 7% 25% 34% 20% 12% 12% 9% 4% 3% 2% 2% 2% Sangramento primeira metade Rotura prematura de membranas Trabalho de parto prematuro Sangramento segunda metade Morte materna Gestação múl�pla Abortamento de repe�ção Aborto legal Morte fetal Pós-da�smo Deu para entender por que quero sua atenção nesse tema? Eu preciso que você garanta um ponto fundamental na prova para sua aprovação. Ao deparar-se com uma gestante com menos de 20 semanas ou na primeira metade da gestação e com queixa de sangramento vaginal, fique atento aos três principais diagnósticos: ABORTAMENTO GESTAÇÃO ECTÓPICA DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL Em nossa revisão, todos esses 3 temas têm uma participação importante no total de questões. É importante ressaltar que as questões, na maior parte das vezes, misturam os diagnósticos diferenciais nas alternativas, por isso é necessário conhecer bem todas as patologias. Vamos começar falando de cada uma com mais detalhes. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 5 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED SUMÁRIO INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO PESSOAL 2 INTRODUÇÃO 4 1.0 ABORTAMENTO 6 1.1 DEFINIÇÕES 6 1.2 CLASSIFICAÇÃO 6 1.3 EPIDEMIOLOGIA 8 1.4 ETIOLOGIA 8 1.4.1 ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS 8 1.4.2 DOENÇAS ENDÓCRINAS 8 1.4.3 INFECÇÕES 9 1.4.4 CAUSAS UTERINAS 9 1.4.5 FATORES IMUNOLÓGICOS 10 1.4.6 TABACO, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS 10 1.4.7 TRAUMA 10 1.5 FORMAS CLÍNICAS DE ABORTAMENTO E CONDUTAS ESPECÍFICAS 11 1.5.1 AMEAÇA DE ABORTAMENTO 11 1.5.2 ABORTAMENTO INEVITÁVEL 12 1.5.3 ABORTAMENTO COMPLETO 13 1.5.4 ABORTAMENTO INCOMPLETO 14 1.5.5 ABORTAMENTO INFECTADO 15 1.5.6 ABORTO RETIDO E GESTAÇÃO ANEMBRIONADA 17 1.6 CARACTERÍSTICAS ULTRASSONOGRÁFICAS DO ABORTAMENTO 19 1.7 TÉCNICAS PARA ESVAZIAMENTO UTERINO 20 1.7.1 ASPIRAÇÃO INTRAUTERINA 20 1.7.2 CURETAGEM UTERINA 20 OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 6 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 2.0 GESTAÇÃO ECTÓPICA 22 2.1 DEFINIÇÃO 22 2.2 LOCALIZAÇÃO 23 2.3 QUADRO CLÍNICO 24 2.4 FATORES DE RISCO 25 2.5 DIAGNÓSTICO 25 2.6 TRATAMENTO 26 2.6.1 CONDUTA EXPECTANTE 26 2.6.2 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 27 2.6.3 TRATAMENTO LOCAL COM METOTREXATO 28 2.6.4 TRATAMENTO CIRÚRGICO 28 2.7 GESTAÇÃO ECTÓPICA DE LOCALIZAÇÃO ATÍPICA 30 3.0 DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL 31 3.1 MOLA HIDATIFORME 32 3.1.1 FATORES DE RISCO 32 3.1.2 PATOGÊNESE 32 3.1.3 QUADRO CLÍNICO 36 3.1.4 TRATAMENTO 38 3.1.5 SEGUIMENTO PÓS-MOLAR 39 3.2 NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL 40 3.2.1 ESTADIAMENTO 40 3.2.2 TRATAMENTO 42 3.2.3 CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DA NTG 43 4.0 LISTA DE QUESTÕES 45 4.1 DOENÇA TROFOBLASTICA GESTACIONAL 45 OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 7 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 4.2 GESTAÇÃO ECTÓPICA 46 4.3 ABORTAMENTO 47 5.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 6.0 VERSÕES DAS AULAS 48 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 48 OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 8 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED CAPÍTULO 1.0 ABORTAMENTO 1.1 DEFINIÇÕES ABORTAMENTO: é a interrupção da gestação antes de que o produto conceptual tenha atingido a viabilidade. Definição segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): • expulsão ou extração do feto antes de 20 semanas ou com menos de 500 g. Fig 1: Definições. ABORTAMENTO 500 gramas 20 semanas < < Além disso, o termo abortamento refere-se ao processo de eliminação do concepto, enquanto aborto se refere ao produto conceptual eliminado. Os termos "aborto" e "abortamento" costumam ser empregados como sinônimos pelas provas de Residência e assim utilizaremo-los. 1.2 CLASSIFICAÇÃO O abortamento pode ser classificado quanto à intenção e à cronologia da seguinte maneira: Precoce x tardio Fig 2: Definição abortamento precoce x tardio. TARDIO Entre 12 e 20 semanas PRECOCE Menos que 12 semanas 80% das perdas x Os abortamentos com menos de 12 semanas são considerados precoces, sendo responsáveis por mais de 80% de todas as perdas, enquanto aqueles que ocorrem entre a 13a e a 20a semana de gestação são considerados tardios. As principais causas de abortamento precoce são as anomalias cromossômicas, já de abortamento tardio, é a incompetência istmocervical, que ocorre geralmente no segundo trimestre da gestação. A importância dessa classificação reside no fato de que os abortos têm etiologias e condutas terapêuticas diferentes de acordo com a idade gestacional. OBSTETRÍCIA Prof. MarinaAyabe | Resumo Estratégico | Março 2022 9 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED #FICAADICA: nos abortos tardios (> 12 semanas), o feto já apresenta espículas ósseas! Assim, seu raciocínio para a conduta deve basear-se no MAIOR RISCO DE PERFURAÇÃO pelas espículas e em evitar a curetagem como método único de tratamento. Eu sei que essa imagem impressionou você de uma forma triste ou gerou aflição. O que eu quero com ela? Preciso que você entenda o risco de perfuração por curetagem uterina isolada em feto acima de 12 semanas pela presença de espículas ósseas. Então, vamos prosseguir os estudos entendendo as diferentes definições de abortamento. Isso será importante para você definir as causas, os riscos e as condutas. Espontâneo x provocado Fig 3: Abortamento provocado. Os abortamentos esporádicos são aqueles que não se encaixam como abortamentos habituais. Geralmente, o abortamento esporádico está associado a anomalias cromossômicas e NÃO acarreta aumento de risco de um novo abortamento para a mulher. O abortamento de repetição ou habitual, pela definição clássica, é quando ocorrem 3 ou + perdas gestacionais espontâneas e consecutivas antes de 20 semanas de gestação. Porém, atenção para a alteração na definição moderna: 2 ou + perdas gestacionais documentadas pelo ultrassom ou exame histopatológico. Sugiro você saber essas duas definições, pois a utilizada na prova vai depender do examinador que fará a questão. Fique atento, porque muitas questões abordam esse tema e, se você deseja revisar com maior profundidade, não deixe de ler o livro digital sobre abortamento habitual e insuficiência cervical. O abortamento espontâneo é aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa, podendo ser causado por condições maternas ou por anormalidade do embrião ou do feto. Já o aborto provocado é aquele em que há intenção de provocá-lo e ocorre uma intervenção externa. Vale ressaltar que o aborto provocado pode ocorrer dentro da legalidade e das condições sanitárias adequadas ou não. Se você deseja detalhes e se aprofundar sobre a interrupção legal na gestação, veja o livro digital de ginecologia sobre Assistência à vítima de violência sexual . Esporádico X de repetição OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 10 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 1.3 EPIDEMIOLOGIA O abortamento é considerado a complicação mais comum da gestação. Aproximadamente, uma em cada quatro mulheres apresentará um aborto espontâneo em sua vida, sendo que 15 a 20% de todas as gestações diagnosticadas clinicamente evoluirão para abortamento. Muito triste saber disso, não é? Às vezes, a estatística assusta um pouco, mas ela é importante para sabermos lidar com o problema. Os abortamentos precoces são aqueles que ocorrem antes de 12 semanas de gestação e representam 80% dos abortamentos. Além disso, saiba que, diante de um abortamento esporádico, a principal causa está associada às anomalias cromossômicas. E por que você deve entender isso? Porque a família irá questionar sobre o medo de nova perda gestacional. E a resposta é que NÃO há aumento de risco de novo abortamento no caso do aborto esporádico. Ainda bem, não é? Quanto ao abortamento de repetição, a incidência ocorre em torno de 1 a 2% das gestações e o risco de uma perda aumenta a cada episódio, sendo em torno de 10% após a primeira perda, 15 a 30% após a segunda perda e 20 a 35% após o terceiro episódio. 1.4 ETIOLOGIA 1.4.1 ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS A ALTERAÇÃO CROMOSSÔMICA é a principal etiologia em 50 a 80% dos abortamentos precoces (antes da 12ª semana de gestação). As TRISSOMIAS são as alterações mais comuns associadas às perdas precoces, correspondendo a 50% dos abortamentos de causa genética. Dentro das trissomias, a do cromossomo 16 é a mais frequente. Apesar das causas cromossômicas serem frequentes, elas são decorrentes de erros ou mutações pontuais. A monossomia do cromossomo X é a segunda maior causa genética de abortamento, devido à falta do cromossomo paterno, e não tem correlação com a idade materna. O risco de alterações cromossômicas é maior com o avançar da idade da gestante, pois as divisões genéticas anômalas são mais frequentes. 1.4.2 DOENÇAS ENDÓCRINAS Doenças endócrinas INSUFICIÊNCIA DE CORPO LÚTEO TIREOIDOPATIAS SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLISÍSTICOS SOP DIABETES MELLITUS Fig 4: Principais etiologias endócrinas. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 11 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED • Insuficiência de corpo lúteo: leva a um endométrio pouco preparado para a recepção do embrião. ATENÇÃO DA CORUJA: atualmente, a literatura não demonstra que a deficiência lútea esteja associada aos abortamentos e nem que a suplementação de progesterona previna abortamentos. • Diabetes mellitus: pacientes com diabetes mellitus pré-gestacional do tipo 1, com descontrole glicêmico, têm uma taxa aumentada de abortamento. Em geral, recomenda-se manter a hemoglobina glicada inferior a 7,0% para que a paciente engravide, pois isso diminui o risco de perda fetal e de malformações, que se torna semelhante ao risco da população geral. • Tireoidopatias: há uma incidência maior de abortamentos em pacientes com hipotireoidismo e naquelas com anticorpos antitireoidianos, mesmo na ausência de doença tireoidiana. • Síndrome dos ovários policísticos (SOP): aventa-se que os mecanismos responsáveis pelo abortamento são: maior resistência insulínica, com hiperinsulinemia e aumento do LH, obesidade e hiperandrogenismo. 1.4.3 INFECÇÕES Em teoria, todas as infecções virais ou bacterianas podem ocasionar abortamento por lesões na decídua da placenta, nas membranas ovulares e no concepto. Em especial o Treponema pallidum, agente etiológico da sífilis, está envolvido tanto no abortamento tardio quanto na infecção materna. Outros agentes que você deve saber que também estão implicados no abortamento espontâneo são: clamídia, gonococo, herpes, CMV, Listeria e estreptococo do grupo B. 1.4.4 CAUSAS UTERINAS • Sinéquias uterinas (síndrome de Asherman): formação de aderências uterinas que interferem na implantação do embrião, após agressão endometrial, principalmente após a curetagem uterina. • Miomas: os miomas mais envolvidos no abortamento são aqueles que distorcem a cavidade uterina, como os SUBMUCOSOS e até os intramurais, dificultando o processo de implantação do embrião. . É mais importante a LOCALIZAÇÃO do mioma do que seu tamanho. Logo, é maior o risco para abortamento com um mioma submucoso de 1 cm do que um mioma subseroso de 3 cm de diâmetro. Fig 5: Principais alterações morfológicas do útero OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 12 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED • Incompetência cervical: a incompetência cervical é uma causa importante de perdas fetais tardias, correspondendo por 10 a 20% dos abortamentos de repetição. Esse tema será discutido de maneira detalhada no livro digital sobre abortamento habitual e insuficiência cervical. • Malformações uterinas: as malformações uterinas associadas aos defeitos de fusão dos ductos de Müller (útero bicorno, didelfo, septado ou arqueado) estão associadas ao aumento de risco de abortamento. Elas não dificultam a concepção e a implantação, entretanto podem provocar complicações obstétricas, como abortos de repetição, partos prematuros, restrição de crescimento fetal e distocias no parto. Entre as malformações, a que apresenta pior prognóstico é o ÚTERO SEPTADO. 1.4.5 FATORES IMUNOLÓGICOS A síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF) é a principal causa autoimune. 1.4.6 TABACO, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS Mulheres que fumam mais de 10 cigarros por dia apresentam maior risco de abortamento; acredita-se que a vasoconstrição e os danos placentários estejam envolvidos nesse processo. O uso de álcool também parece contribuir parao aumento de risco para abortamento, apesar de os estudos serem inconsistentes. 1.4.7 TRAUMA Quando o útero sai da pelve, após a 12ª semana de gestação, ele fica mais exposto ao trauma externo direto. Porém, o trauma direto está mais associado ao descolamento prematuro de placenta em gestações mais avançadas. Deixo, a seguir, uma figura para ajudá-lo a resumir as principais etiologias: Alterações cromossômicas (Trissomia) Doenças endócrinas (Insuficiência de corpo lúteo, diabetes mellitus, tireoidopatias, SOP) Infecções (Treponema pallidum - sífilis, clamídia, gonococo, herpes, CMV, listeria, enterococo do grupo B) Fatores imunológicos (SAAF) Tabaco, álcool e outras drogas Trauma ETIOLOGIA DO ABORTAMENTO Causas uterinas (Sinéquias uterinas, miomas, incompetência cervical, malformações uterinas) Figura 6. Principais etiologias do abortamento. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 13 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 1.5 FORMAS CLÍNICAS DE ABORTAMENTO E CONDUTAS ESPECÍFICAS FIQUE ATENTO: as diferentes formas de apresentação clínica dos abortamentos e suas condutas específicas são os tópicos mais abordados em abortamentos pelas provas de Residência. 1.5.1 AMEAÇA DE ABORTAMENTO A ameaça de abortamento ou abortamento evitável é a principal entidade clínica que leva à procura de serviços de urgência. Trata-se de uma complicação frequente, que acomete de 15 a 20% das mulheres. Aproximadamente 40 a 50% das mulheres que sangram no início da gestação evoluem para perda gestacional. Após ser evidenciada a atividade cardíaca na ultrassonografia, esse risco se reduz para valores entre 4 e 10%. Como a paciente se apresenta? A paciente refere, em geral, um sangramento em pequena quantidade associado à cólica abdominal. No exame ginecológico, o útero tem tamanho compatível com a idade gestacional, o colo uterino encontra-se impérvio e, no exame especular, pequena quantidade de sangue é coletada em fundo de saco posterior. Como é o achado ultrassonográfico? A ultrassonografia é compatível com a normalidade para a idade gestacional. É visualizada a presença de saco gestacional regular e, a depender da idade gestacional, embrião com batimentos cardíacos fetais presentes. Sempre que houver relato de sangramento vaginal sem que haja uma ultrassonografia prévia com gestação tópica, deve-se suspeitar também de gestação ectópica. O quadro clínico vai guiá-lo para a principal hipótese, mas a ultrassonografia deve ser realizada sempre que possível. Algumas questões de prova de Residência falam sobre um achado ultrassonográfico específico, que é o hematoma subcoriônico. Ele aparece em 4 a 40% dos casos de ameaça de abortamento e, quando envolve mais de 40% do saco gestacional, está associado com maior risco de perda fetal. A imagem ao lado ilustra esse achado. HEMATOMA SUBCORIÔNICO Figura 7. Hematoma subcoriônico. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 14 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Como tratar a paciente? IMPORTANTE! PARE E LEIA COM ATENÇÃO! Diante de um quadro de ameaça de abortamento, não existe uma conduta específica para o sangramento. O uso de progesterona não demonstrou impacto no desfecho do quadro e a indicação de repouso absoluto no leito não tem comprovação científica. A conduta mais importante nesses casos é checar a tipagem sanguínea, assim como em qualquer sangramento durante a gestação. Caso a paciente seja Rh negativo, deve ser empregada a imunoglobulina anti-D, a fim de prevenir a aloimunização dessa paciente. Para efeito nas provas, essa é uma conduta, em geral, obrigatória. A gestação inicial ou incipiente pode gerar confusão, por não haver visualização de todos os componentes necessários para uma gestação viável e evolutiva. Por isso, a conduta é repetir a ultrassonografia em 7 a 10 dias para reavaliação. 1.5.2 ABORTAMENTO INEVITÁVEL Algumas provas de Residência trazem esse termo em suas questões. Considera-se um abortamento inevitável aquele em que ainda não houve eliminação do material ovular ou do embrião pelo colo, porém o processo já é irreversível. Em algumas questões, mesmo com a eliminação de restos, dá-se o nome de abortamento inevitável. A nomenclatura mais correta nesses casos é de abortamento em curso, porém os dois termos podem ser empregados como sinônimos (em curso ou inevitável). Como a paciente se apresenta? Em geral, a paciente apresenta sangramento em moderada a grande quantidade, associado à dor pélvica. Ao exame ginecológico, há presença de sangue coletado, podendo haver sangramento ativo. Um ponto importante é que, ao toque vaginal, o colo uterino geralmente está PÉRVIO, podendo haver herniação da bolsa em gestações mais avançadas. Como já dissemos, as provas podem considerar que um abortamento em curso, com saída de restos no momento da avaliação, seja um abortamento inevitável. Como é o achado ultrassonográfico? Pode ser visualizado o saco gestacional ou o embrião com batimentos cardíacos ou não, porém há descolamento ovular significativo, associado a coágulos ou hematoma. Em geral, o quadro evolui espontaneamente, podendo tornar-se um abortamento completo ou incompleto. Como tratar a paciente? A paciente deve ser internada para estabilização clínica, sobretudo em casos em que houver sangramento importante, e deve ser realizada expansão volêmica. Caso não haja resolução espontânea, deve ser realizado o esvaziamento uterino. Sempre se lembrar de realizar imunoglobulina anti-D em pacientes Rh negativo. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 15 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 1.5.3 ABORTAMENTO COMPLETO Quando ocorre a eliminação completa do produto concepcional, dizemos que houve um abortamento completo. Em gestações mais iniciais, em geral, é um processo comum. Como a paciente se apresenta? A paciente costuma procurar o pronto-socorro dizendo que apresentou um sangramento em grande quantidade, geralmente referindo eliminação de um material amorfo, e que, após esse processo, o sangramento diminuiu e as cólicas reduziram a intensidade. Após a eliminação completa, o colo uterino fecha-se e geralmente está impérvio ou se fechando ao toque vaginal, e o útero apresenta-se diminuído em relação à idade gestacional. Como é o achado ultrassonográfico? O diagnóstico de certeza somente pode ser obtido por meio da realização de ultrassonografia transvaginal. Apesar de não haver consenso na literatura, a maioria das referências considera que a presença de eco endometrial com espessura inferior a 15 mm no corte longitudinal do útero indica um abortamento completo, sem a necessidade de procedimentos terapêuticos. A imagem abaixo apresenta uma ultrassonografia transvaginal com o endométrio de 9 mm de espessura, confirmando o abortamento completo. EE Figura 8. Ultrassonografia pós-abortamento completo com medida do endométrio menor do que 15 mm. Como tratar a paciente? Diante do diagnóstico de abortamento completo, não há necessidade de condutas terapêuticas de urgência. Caso a paciente encontre-se estável hemodinamicamente e sem queixas, deve-se realizar orientação e alta hospitalar com medicamentos sintomáticos. Vale lembrar que deve ser colhida tipagem sanguínea e, em caso de Rh negativo, realizar imunoglobulina anti-D. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 16 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 1.5.4 ABORTAMENTO INCOMPLETO O abortamento incompleto ocorre quando há eliminação parcial dos produtos da concepção, sendo mais comum em abortos mais tardios. Como a paciente se apresenta? Na maior parte dos casos, a paciente refere um sangramento de moderada a grande quantidade, podendo haver eliminação de material amorfo. O sangramento persiste em menor volume após esse episódio. Ao exame físico, o útero encontra-se com volumemenor do que o esperado para a idade gestacional e o colo uterino encontra- se pérvio na maior parte dos casos. Em poucos casos, o colo pode estar fechado. Em alguns casos, como já foi citado anteriormente, a paciente pode chegar eliminando o material, recebendo o nome de abortamento em curso. Como é o achado ultrassonográfico? O diagnóstico de certeza, assim como no abortamento completo, deve ser realizado por meio da ultrassonografia. Nesse caso, espera-se encontrar a presença de material amorfo, com espessura do eco endometrial superior a 15 mm, como pode ser evidenciado na imagem ao lado: Figura 9. Aborto incompleto. Observe a espessura endometrial de 23 mm. Como tratar a paciente? A conduta clássica é o esvaziamento uterino. E, em geral, essa é a resposta cobrada pelas bancas com o objetivo de resolutividade dos restos intrauterinos. Porém, existe a possibilidade de tratamento expectante, que deverá ser discutida com a paciente, a qual, após avaliar os riscos e benefícios, deverá tomar sua decisão. Expectante Aguardar a expulsão dos restos ovulares em casos de abortamento incompleto alcança uma taxa de sucesso de 95% em 15 dias, sem aumentar a taxa de complicações. Deve-se adotar a conduta expectante observando alguns cuidados: ausência de sangramento importante, ausência de sinais de infecção, presença de pouca quantidade de material (em geral com eco endometrial menor do que 50 mm) e desejo da paciente, que deve ser bem esclarecida. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 17 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Ativa • Medicamentosa Consiste na administração do misoprostol, que é um análogo da prostaglandina que promove esvaecimento do colo uterino e contração do útero. Na ausência de contraindicação, seu uso deve ser considerado como preferencial. Aguarda-se a eliminação dos restos e, após sua ocorrência, realiza-se uma ultrassonografia para confirmar se o abortamento foi completo (eco endometrial inferior a 15 mm). • Cirúrgica Quando o colo uterino está dilatado, na maior parte dos casos, o esvaziamento uterino com curetagem ou a aspiração manual intrauterina (AMIU) são as opções. Lembre-se de que a AMIU é recomendada para gestações iniciais e de pequeno volume. Sempre deve ser avaliada a tipagem sanguínea e, se a paciente apresentar Rh negativo, deve ser realizada imunoglobulina anti-D. 1.5.5 ABORTAMENTO INFECTADO O abortamento infectado, em geral, é uma complicação do abortamento retido. Em países em que o aborto não é legalizado, muitas vezes, está associado à prática de abortamento inseguro, fora do ambiente hospitalar. A flora bacteriana, assim como em todos os processos do trato genital superior feminino, envolve bactérias Gram-positivas e negativas, além de anaeróbias. Assim como na doença inflamatória pélvica (veja o livro digital), a doença pode propagar-se do útero para os anexos e para a cavidade pélvica, além de haver disseminação hematogênica, levando a quadros sépticos. Mioendometrite Salpingooforite Pelviperitonite Sepse Como a paciente se apresenta? O quadro clínico da paciente depende do grau de comprometimento. Em casos mais leves de mioendometrite, a paciente apresenta dor abdominal, febre, sangramento vaginal e saída de secreção purulenta pela vagina. Ao exame físico, a paciente pode encontrar-se febril e taquicárdica por quadro séptico, o útero encontra-se doloroso e o colo uterino encontra-se geralmente pérvio. Ao exame especular, pode ser evidenciada saída de sangue e de secreção purulenta. Em casos mais graves, a paciente pode evoluir com choque séptico e com disfunção de múltiplos órgãos. Como tratar a paciente? Vamos para um raciocínio prático? Sempre que você se deparar com um foco infeccioso, raciocine semelhante a um abscesso: esvaziamento uterino (fonte infecciosa) e antibioticoterapia. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 18 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Antibioticoterapia Esvaziamento uterino+ Antibioticoterapia intravenosa Sabe aquele esquema terapêutico que você precisa decorar? Ele é indicado para abortamento infectado, corioamnionite, infecção puerperal e, em alguns casos, na doença inflamatória pélvica, isto é, para a ginecologia e para a obstetrícia. CLINDAMICINA 600 mg IV 6/6h 900 mg IV 8/8h C GENTAMINICINA 3 A 5 mg/kg INTRAVENOSO 1 VEZ AO DIA G + a seguir, seguem alguns esquemas alternativos: AMPICILINA 1 g IV 6/6h + GENTAMICINA 3-5 mg IV 1x ao dia + METRONIDAZOL 500 mg IV 8/8h ou CEFTRIAXONE 1 g IV 12/12h + CLINDAMICINA 600 mg IV 8/8h A antibioticoterapia intravenosa, em casos de endometrite não complicada, deve ser mantida por 48 horas com a paciente afebril e assintomática e, após, não há necessidade de manutenção de antibióticos por via oral ou de internação. Em casos de sepse deve ser mantida por mais tempo, o que varia de acordo com os protocolos, entre 7 e 14 dias. Esvaziamento intrauterino Em casos em que haja confirmação da presença de restos ovulares ou de abscesso, deve ser realizado o esvaziamento uterino com curetagem ou aspiração manual intrauterina. E, para encerrar e não ser diferente do restante, checar a tipagem sanguínea e, se o Rh for negativo, deve ser administrada imunoglobulina anti-D. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 19 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 1.5.6 ABORTO RETIDO E GESTAÇÃO ANEMBRIONADA Figura 10. Imagem, à esquerda, de embrião com CCN maior do que 7 mm e ausência de batimento cardioembrionário e, à direita, uma gestação anembrionada. (Fonte: arquivo pessoal dos professores EMED). Denomina-se aborto retido a ocorrência de morte embrionária ou fetal antes da 20ª semana de gestação, com retenção do produto conceptual por tempo prolongado (dias a semanas). Do ponto de vista ultrassonográfico, faz-se o diagnóstico de aborto retido ou óbito embrionário quando há presença de embrião com comprimento cabeça-nádega maior do que 7 mm e sem atividade cardíaca. Já a gestação anembrionada, ou “ovo cego”, é a presença de saco gestacional sem embrião em seu interior, em geral, após 6 semanas de gestação. Isso pode ocorrer por ausência de desenvolvimento ou por reabsorção do embrião. O principal critério ultrassonográfico para definição diagnóstica é a ausência de embrião na presença de saco gestacional com diâmetro interno médio maior do que 25 mm. Como a paciente se apresenta? Em ambas as situações, a paciente, em geral, encontra-se assintomática e acaba realizando o diagnóstico durante uma ultrassonografia. Pode haver desaparecimento dos sintomas associados à gestação, tais como náuseas, vômitos e ingurgitamento mamário, além de pequenos sangramentos vaginais. Ao exame físico, o útero pode estar menor para a idade gestacional e o colo encontra-se impérvio. Como tratar a paciente? Existem algumas possibilidades de tratamento para a gestação anembrionada e para o aborto retido. Elas deverão ser discutidas com a paciente, que, após avaliar os riscos e benefícios, deverá tomar sua decisão. – Expectante: Aproximadamente 30 a 50% das pacientes com gestações não evolutivas terão um abortamento completo após 15 dias do diagnóstico, sendo esse período bem tolerado pelas pacientes. Pode-se aguardar até 4 semanas para a eliminação, pois, após esse período, o risco de coagulação intravascular disseminada e de infecção torna-se alto. Em geral, não se aguarda mais do que 15 dias, pois a taxa de sucesso após esse período é muito baixa. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 20 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED – Ativa: Medicamentosa Esse esquema pode ser realizado com a paciente internada ou ambulatorialmente. Consiste na administração do misoprostol. Aguarda-se a eliminação do concepto e, quando ela ocorrer, realiza-se uma ultrassonografia para confirmar se o abortamento foicompleto (eco endometrial inferior a 15 mm). Cirúrgica Como o colo se encontra impérvio, em geral, administra-se 400 μg de misoprostol e realiza-se o esvaziamento uterino com curetagem ou AMIU. OBS.: é importante lembrar que, em gestações com mais de 12 semanas, há a presença de estruturas ósseas, então recomenda-se realizar a conduta cirúrgica apenas após a eliminação do concepto. E, para encerrar, deixo aquele quadro TOP para revisar as principais diferenças entre as formas clínicas de abortamento. FORMAS CLÍNICAS DO ABORTAMENTO CLÍNICA (sangramento, cólicas) CARACTERÍSTICA DO COLO EXAME DE IMAGEM Ameaça de abortamento Sangramento intermitente,em pequena quantidade Fechado Embrião vivo (hematoma subcoriônico-40%) Abortamento em curso Sangramento moderado a intenso Orifício interno do colo geralmente dilatado Descolamento ovular Saco gestacional baixo Abortamento incompleto Sangramento intermitente Geralmente pérvio Material amorfo e heterogêneo (espessura endometrial > 15 mm) Abortamento completo Diminui de intensidade Fechado (fecha poucas horas após expulsão completa) Endométrio fino ou material mínimo (espessura endometrial até 15 mm) Abortamento retido Cessação dos sintomas da gestação, sangramento discreto Fechado Morte conceptual (ausência BCF em embrião ≥ 7 mm) Abortamento infectado Retenção prolongada (> 4 semanas) Pode ocorrer sangramento discreto, purulento ou não, febre Geralmente pérvio e doloroso à mobilização Restos ovulares Endométrio irregular Figura 11. Tabela com as principais diferenças entre as formas clínicas. E, a seguir, aquele fluxograma que vai auxiliá-lo a memorizar a avaliação ultrassonográfica e clínica dos abortamentos. Faça 3 perguntas principais: apresenta saco gestacional visível intrauterino? Tem embrião? O BCF está presente? OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 21 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Saco gestacional? SIM FORMAS CLÍNICAS Embrião? Batimentos cardíacos? Abortamento completo Abortamento incompleto Colo Impérvio Colo geralmente pérvio Abortamento inevitável ou em cursoColo pérvio Abortamento infectadoFebre NÃO EE < 15mm EE > 15mm SIM SIM Gestação anembrionada Aborto retido Ameaça de abortamento Gestação incipiente? NÃO NÃO Diam SG > 25mm CCN > 7mm Considerar se medidas menores Figura 12. Fluxograma das principais diferenças das formas clínicas pela ultrassonografia. Você está firme na diferença das formas clínicas do abortamento e suas respectivas condutas? Se está inseguro, recomendo que você retorne ao texto e revise. Não tenha pressa. Se estiver seguro nessa parte dos estudos, prossiga na leitura. Vou continuar a detalhar pontos importantes cobrados nas provas, que são as características ultrassonográficas do abortamento. 1.6 CARACTERÍSTICAS ULTRASSONOGRÁFICAS DO ABORTAMENTO As bancas de Residência gostam de cobrar os critérios sugestivos de que uma gestação não está evoluindo de forma adequada e apresenta mau prognóstico. A seguir, vou colocar alguns critérios que sugerem mau prognóstico. Atenção especial aos primeiros 5 critérios mais cobrados: • Embrião com comprimento cabeça-nádegas (CCN) maior ou igual a 7 mm sem atividade cardíaca (critério mais utilizado) • Saco gestacional: – maior ou igual a 25 mm e sem embrião (gestação anembrionada); – maior do que 10 mm e ausência de vesícula vitelínica (VV). • Bradicardia embrionária ou fetal (< 100 bpm). • Hematoma subcoriônico > 40% da área ovular. • Implantação baixa do saco gestacional (no colo uterino). • Descolamento central (retrovular). • Presença de malformações fetais. • Desenvolvimento embrionário anormal (CCN < 2 DP para a idade gestacional). • SG muito pequeno comparado ao CCN. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 22 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED • SG de forma irregular, anômala e distorcida. • Vesícula vitelínica de dimensões anormais (em média, normal até 6 mm). • Alterações na circulação trofoblástica e/ou ovariana (insuficiência lútea). • Ausência de sinal do duplo halo. 1.7 TÉCNICAS PARA ESVAZIAMENTO UTERINO 1.7.1 ASPIRAÇÃO INTRAUTERINA O esvaziamento uterino por aspiração é considerado, atualmente, uma opção mais segura e tão eficaz quanto a curetagem. É a técnica de escolha em gestações precoces, até 12 semanas. É um instrumento barato, de simples manuseio e com uma técnica de fácil aplicação. A aspiração pode ser realizada por meio de vácuo elétrico, chamada de aspiração elétrica, ou por meio de um vácuo manual produzido por uma seringa, chamado de AMIU. As complicações, como perfuração e sinéquias, são pouco frequentes por tratar-se de um material rombo e que não “raspa” as paredes uterinas. Figura 13. Aspiração manual intrauterina (AMIU). 1.7.2 CURETAGEM UTERINA A curetagem uterina somente deve ser empregada em abortamentos com menos de 12 semanas na indisponibilidade de material para aspiração. Já em gestações com mais de 12 semanas ou com material muito abundante, ela é a primeira opção. Antes da curetagem em si, pode haver a necessidade de dilatar o orifício do colo uterino para a passagem da cureta. Para esse procedimento, emprega-se as chamadas velas de dilatação de Hegar, que são introduzidas no colo (imagem a seguir à esquerda). Após a dilatação, procede-se com a retirada mecânica dos restos ovulares com a cureta (imagem a seguir à direita). OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 23 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Figura 14. Figura à esquerda: velas de dilatação do colo uterino (velas de Hegar). Figura à direita: curetas fenestrada e romba em colher. A perfuração uterina é a complicação mais frequente na curetagem. Caso ela ocorra, o procedimento deve ser interrompido e a paciente deve ser observada. Caso ela apresente instabilidade hemodinâmica, deve ser realizada laparotomia exploradora devido ao extravazamento de sangue para a cavidade abdominal provocado pela perfuração. Sei que estou detalhando um tema triste da obstetrícia, porém muito cobrado pelas bancas. Mas, dê um voto de confiança para o útero. Acredite no potencial de uma gestação saudável. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 24 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED CAPÍTULO 2.0 GESTAÇÃO ECTÓPICA Fig 15: Gravidez ectópica(ístmica). A gestação ectópica continua sendo uma patologia com elevada morbimortalidade materna, sendo a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre da gestação. Com o acesso mais precoce à dosagem da fração beta da gonadotrofina coriônica humana (β-hCG) e também à ultrassonografia transvaginal (USTV), o diagnóstico está cada vez mais precoce e está sendo realizado em uma fase mais inicial, antes que ocorra a ruptura tubária. A gestação ectópica é responsável por 6 a 13% das mortes no período gestacional e a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre da gestação. 2.1 DEFINIÇÃO A gestação ectópica é definida quando a implantação e o desenvolvimento do embrião ocorrem fora da cavidade corporal uterina. A gestação ectópica pode ser diagnosticada na forma ÍNTEGRA ou ROTA, o que vai diferenciar principalmente a clínica e a conduta. Além disso, o termo "ABORTAMENTO TUBÁRIO" é dado para as gestações ectópicas que evoluíram naturalmente para a eliminação espontânea em uma conduta expectante. GRAVIDEZ HETEROTÓPICA: é definida quando ocorre uma gestação intrauterina combinada com uma extrauterina. Houve um aumento da incidência dos casos com as técnicas de reprodução assistida, elevando para 1% dos casos de gestações ectópicas pós-FIV. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 25 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Figura 16. Gestação heterotópica. 2.2 LOCALIZAÇÃO Figura 17. Principais localizações da gestação ectópica.A gestação ectópica TUBÁRIA ocorre entre 90 e 95% dos casos, sendo que a porção AMPULAR da tuba uterina é a localização mais comum. Porém, outras localizações também podem ocorrer e são localizações atípicas em 10% dos casos: porção intersticial da tuba, ovário, cérvix, cicatriz da cesárea ou na cavidade abdominal. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 26 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Figura 18. Imagem ultrassonográfica de gestação ectópica à direita (Fonte: acervo dos professores do EMED). 2.3 QUADRO CLÍNICO A suspeita clínica dependerá da evolução da gestação ectópica. O mais comum é a gestação ectópica ser diagnosticada na forma ÍNTEGRA ou ROTA. No ABORTAMENTO TUBÁRIO, a paciente apresenta clínica de sangramento vaginal discreto e queda dos níveis de beta-hCG. A resolução da gestação é espontânea e a conduta, expectante. Na gestação ectópica ÍNTEGRA, a dor geralmente é em cólicas e a história clínica, pouco esclarecedora. Porém, pode cursar com a tríade clássica de DOR ABDOMINAL, ATRASO MENSTRUAL e SANGRAMENTO GENITAL. Como os sinais e sintomas são pouco esclarecedores, pode-se lançar mão de exames subsidiários como o β-hCG e a USTV. ATRASO MENSTRUAL TRÍADE CLÁSSICA SANGRAMENTO GENITAL DOR ABDOMINAL Indo um pouco mais a fundo, um sinal sugestivo de gestação ectópica é o fenômeno ou a reação de Arias-Stella. Essa é uma reação endometrial encontrada na gestação ectópica devido a uma resposta fisiológica da mucosa endometrial à presença de tecido corial. Isto é, uma reação intrauterina (endometrial) de uma gestação de localização fora da cavidade uterina. Os sintomas mais intensos estão relacionados à ROTURA TUBÁRIA, então atenção ao quadro clínico da gestante. A característica da dor na gestação ectópica ROTA é SINCOPAL e LANCINANTE. Já quanto ao estado hipovolêmico da gestação ectópica rota, a gestante apresenta palidez, taquicardia e hipotensão arterial sem perda sanguínea visível. No exame abdominal, geralmente são encontrados a descompressão brusca positiva (Blumberg positivo), a diminuição de ruídos hidroaéreos intestinais e o HEMOPERITÔNIO. E, neste ponto, vamos relembrar os sinais clínicos encontrados no hemoperitônio: • Sinal de Laffont: dor escapular devido à irritação diafragmática pelo hemoperitônio. • Sinal de Proust: também conhecido como grito de Douglas, é a dor intensa à palpação do fundo de saco posterior vaginal. • Sinal de Cullen: é a presença de equimose periumbilical devido ao sangramento retroperitoneal. Pode ser acompanhado pelo sinal de Grey-Turner (equimose dos flancos). Para fixar, vou relatar um momento de experiência pessoal. Nunca me esqueço, na Residência Médica, de uma gestante que chegou carregada no colo pelo marido desacordada, pálida, quase inconsciente, com o cartão de pré-natal na mão e beta-hCG positivo. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 27 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED O que rapidamente gritou meu chefe, guarde isto, foi: Sinais de choque hipovolêmico em uma gestante no primeiro trimestre é igual a LAPAROTOMIA EXPLORADORA DE EMERGÊNCIA. Quer saber o final da história? Muito sangue em cavidade, salpingectomia da tuba acometida, paciente viva e retornou grávida após 2 anos com evolução intrauterina normal. Um final feliz que poderia ser catastrófico no atraso diagnóstico. Chega de nostalgia, vamos continuar com os fatores de risco? 2.4 FATORES DE RISCO Veja que, nessa etapa, a recorrência da doença é comum e, geralmente, infecções e patologias que afetam o endométrio e a tuba uterina podem ser fatores de risco para a gestação ectópica. Veja abaixo os fatores de risco: • Gestação ectópica prévia (recorrência de 15%). • Cirurgia tubária prévia (laqueadura tubária, reanastomose tubária). • Infertilidade (técnicas de fertilização assistida). • Doença inflamatória pélvica (principalmente a infecção por Chlamydia). • Endometriose. • Usuárias de dispositivo intrauterinos (DIU). • Anticoncepção de emergência. • Tabagismo. 2.5 DIAGNÓSTICO O objetivo é diagnosticar o mais precocemente possível, ainda na gravidez ectópica íntegra, para reduzir o risco de rotura tubária e aumentar o sucesso da conduta conservadora. Na vigência de atraso menstrual, dor abdominal e sangramento genital, deve ser levantada a suspeita de gestação ectópica e o diagnóstico, complementado com β-hCG e ultrassonografia transvaginal. A ultrassonografia transvaginal é o exame de preferência, utilizado para confirmar uma gestação tópica com a visualização do saco gestacional ou de restos ovulares. Geralmente, a ultrassonografia consegue visualizar o saco gestacional intrauterino na 5ª semana de gestação e, no ovário, a presença de corpo lúteo. Alguns pontos aos quais preciso que você fique atento: Em caso de beta-hCG positivo > 2.000 mUI/mL, devemos visualizar uma gestação intrauterina na ultrassonografia transvaginal. Isso exceto em casos de gestações gemelares, que podem aumentar o valor para 3.500 mUI/mL. Se o valor do beta-hCG for < 2.000 mUI/mL e a USTV não confirmar gestação tópica ou ectópica, deve-se repetir os valores de beta- hCG a cada 48 horas. Cuidado, porque você pode estar diante de uma GESTAÇÃO INICIAL, ainda não visível e tópica. Em uma gestação viável, tópica, os valores de beta-hCG aumentam 35% ou mais a cada 48 horas. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 28 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Para facilitar, a seguir, um fluxograma para ajudá-lo no raciocínio diagnóstico da gestação ectópica. β-hCG POSITIVO USTV Cavidade uterina vaziaSaco gestacional intrauterino GESTAÇÃO TÓPICA Ausência de massa anexial β-hCG < 2.000 mUI/mL β-hCG ≥ 2.000 mUI/mL Repetir β-hCG em 48h Massa anexial visível (embrião vivo, anel tubário, hematossalpinge) ↑ < 35% em 48h Gestação tópica inviável ou ECTÓPICA ↑ ≥ 35% em 48h GESTAÇÃO TÓPICA GESTAÇÃO ECTÓPICA Figura 19. Fluxograma da interpretação e associação de resultados do β-hCG e da ultrassonografia (Fonte: baseado no livro Tratado de obstetrícia da FEBRASGO e modificado pela autora). 2.6 TRATAMENTO Devido a diagnósticos cada vez mais precoces em pacientes assintomáticas, está optando-se pela utilização de métodos não invasivos. Consequentemente, são propostas mais opções terapêuticas, como conduta expectante e medicamentosa com metotrexato (MTX) de forma sistêmica ou local, guiada por ultrassom; ou o tratamento cirúrgico com salpingectomia ou salpingostomia por via laparotômica ou laparoscópica. 2.6.1 CONDUTA EXPECTANTE A conduta expectante não está bem estabelecida e foi inconclusiva por revisão Cochrane. Ela pode ser adotada com evolução para a cura espontânea variando de 48% a 100% quando acompanhada por dosagens seriadas em declínio do β-hCG. É uma conduta definida para o ABORTAMENTO TUBÁRIO. A seguir, quero que você decore e entenda os principais critérios para o sucesso da conduta expectante. Veja que são sinais de que a gestação é inicial e está regredindo espontaneamente. Conduta expectante BAIXO VALOR DE β-hCG (< 1.000 mUI/mL) AUSÊNCIA DE SACO GESTACIONAL NA ULTRASSONOGRAFIA DECLÍNIO DOS TÍTULOS DE β-hCG EM 48 HORAS OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 29 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 2.6.2 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO A medicação de escolha para o tratamento medicamentoso da gestação ectópica é o METOTREXATO (MTX), um antagonista do ácido folínico. Ele age nas células trofoblásticas de divisão rápida e impede sua multiplicação. Como há risco de persistência do tecido trofoblástico com o metotrexato, é imprescindível o controle do nível sérico do beta-hCG. Efeitos colaterais do MTX: distensão, dor abdominal, sangramento genital, aumento do beta-hCG no 1º e 4º dias após o MTX. Além de náuseas, vômitos,irritação gástrica, estomatite, tontura, neutropenia, pneumonite e alopecia reversível. Pare agora e fique atento para este quadro que é minha aposta para você decorar, decorar e decorar! < 5.000 mUI/mL • Parâmetro mais importante < 4 CM • Divergências na literatura: • Zugaib Obstetrícia: < 4cm • Tratado FEBRASGO: < 3,5cm CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO DO METOTREXATO β-hCG AUSENTE • BCF: batimento cardíaco fetal Ausência de dor abdominal MASSA ANEXIAL DESEJO DE GRAVIDEZ FUTURA • Termo de consentimento assinado ECTÓPICA ÍNTEGRA * Zugaib Obstetrícia, 2020, Tratado de Obstetrícia da FEBRASGO, 2021. ESTABILIDADE HEMODINÂMICA PACIENTEBCF DECOROU o quadro acima? De verdade? Se tem um quadro de gestação ectópica que quero que grave, é esse! Não conseguiu decorar? Então, transcreva, coloque na parede de seu quarto e olhe para ele até passar nas provas. Agora, sim, vamos prosseguir. Uma vez indicado o tratamento medicamentoso com metotrexato, é importante avaliar a existência de contraindicações: gravidez intrauterina concomitante (heterotópica), recidiva de gravidez ectópica na mesma tuba, declínio de títulos de β-hCG antes do tratamento, amamentação, anemia, leucopenia (leucócitos < 2.000 células/mm3), trombocitopenia (plaquetas < 100.000), vigência de doença pulmonar, disfunção hepática e renal. A seguir, descrevo os esquemas terapêuticos recomendados que você deve saber. Geralmente, o mais utilizado é o esquema em DOSE ÚNICA, já que são necessários menos dias de internação e apresenta poucos efeitos colaterais. ESQUEMA DOSE ÚNICA: METOTREXATO: 50 mg/m2 por via intramuscular em dose única*. *Controlar com dosagem do β-hCG no 4º e 7º dias após a dose. Se ocorrer redução de 15% do valor do β-hCG entre o 4º e o 7º dia, é sinal de bom prognóstico e deve-se seguir com dosagens de beta-hCG semanais até negativar. Se redução menor do que 15% no 7º dia, deve-se repetir nova dose de MTX. Se não houver queda dos títulos, realizar cirurgia. O esquema em múltiplas doses é uma opção, mas geralmente não é a primeira escolha, porém você pode deparar-se com ela em alguma questão. Geralmente, é uma opção terapêutica para casos de critérios para o tratamento medicamentoso mais próximos do limite. ESQUEMA DE MÚLTIPLAS DOSES: METOTREXATO 1 mg/kg (nos dias 1,3,5 e 7) + LEUCOVIRINA (ácido folínico) 0,1 mg/kg (nos dias alternados 2,4,6 e 8). * Controle com dosagem do β-hCG no primeiro dia da aplicação e antes de aplicar nova dose. Avaliar a redução de 15% nesse intervalo para considerar tratamento adequado. Não se deve dar mais do que 4 doses de MTX. Outro ciclo de 4 doses poderá ser repetido apenas após 14 dias. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 30 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED ACOMPANHAMENTO É realizado por meio da dosagem semanal do β-hCG até ficar NEGATIVA. Em geral, fica negativa em torno de 4 a 6 semanas. Lembre-se de que NÃO está recomendada a ultrassonografia transvaginal seriada para controle de tratamento, pois ela é incapaz de detectar resposta ou falha do tratamento. A exceção está em casos de suspeita de rotura tubária. NÃO ESQUEÇA: está recomendada a profilaxia com a imunoglobulina anti-D em TODAS as gestantes Rh negativo com gravidez ectópica. Quanto às alternativas terapêuticas, estão sendo estudados outros protocolos com o metotrexato, como o esquema em dose dupla, esquemas em múltiplas doses, porém esses esquemas apresentaram eficácia semelhante ao esquema em dose única. Existem, também, estudos com a associação da MIFEPRISTONA com o GEFITINIBE, diminuindo o tempo para o β-hCG negativar, além de estudos com outros fármacos, como as prostaglandinas e a glicose hipertônica utilizada por laparoscopia ou ultrassonografia transvaginal. Além disso, pode-se associar a utilização do cloreto de potássio com o objetivo de provocar assistolia em embriões com BCF presente de gestações ectópicas. É uma alternativa para gestações de cicatriz de cesárea, em gestação cervical ou até em casos de gestações heterotópicas como fármaco isolado. 2.6.3 TRATAMENTO LOCAL COM METOTREXATO Essa é uma opção de tratamento guiado por ultrassonografia transvaginal. Sua principal indicação é para os casos de EMBRIÃO VIVO e LOCALIZAÇÃO ATÍPICA da gravidez ectópica. É realizada introduzindo uma sonda vaginal com uma agulha calibre 20 ou 22, com a paciente sedada, e injeção de metotrexato na dose de 1 mg/kg. Como o tratamento local tem resultados semelhantes ao tratamento sistêmico (mais prático, fácil de ministrar, não depende de habilidades e não é invasivo), o tratamento sistêmico com o metotrexato ficou como a principal opção entre os tratamentos conservadores. 2.6.4 TRATAMENTO CIRÚRGICO É considerado o tratamento padrão no tratamento de gravidez ectópica rota com abdome agudo hemorrágico e instabilidade hemodinâmica. A cirurgia clássica é a SALPINGECTOMIA TOTAL (tipo Fritsch), pinçando o arco vascular tubo-ovárico do mesossalpinge. A principal indicação de LAPAROTOMIA é em casos em que há INSTABILIDADE HEMODINÂMICA. Geralmente, nas demais situações, a indicação pode ser VIA LAPAROSCÓPICA. Figura 20. Tratamento cirúrgico de gestação ectópica por via laparoscópica. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 31 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Indicações de laparotomia Choque hipovolêmico Massa anexial > 5 cm Localização não tubária (cervical, abdominal) Múltiplas aderências A pergunta seguinte, após a decisão da laparotomia ou laparoscopia, fica entre salpingectomia (retirada de toda a tuba uterina) ou salpingostomia (preservação da tuba uterina). Veja, a seguir, quando devemos decidir pela SALPINGECTOMIA: • Prole constituída • Lesão tubária irreparável ou rota • Salpingostomia com sangramento persistente • Recidiva de gestação ectópica na mesma tuba • β-hCG muito elevados (> 5.000 mUI/mL) • Há invasão de trofoblasto na serosa Agora, entendendo um pouco sobre a SALPINGOSTOMIA, ela está indicada principalmente em casos em que se pretende preservar a fertilidade. É realizada uma incisão de 2 cm no ponto de maior abaulamento da borda antimesentérica da tuba e é realizado o esvaziamento. A incisão não é suturada e é fechada por segunda intenção. Figura 21. Salpingostomia por laparoscopia. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 32 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 2.7 GESTAÇÃO ECTÓPICA DE LOCALIZAÇÃO ATÍPICA Figura 22. Localizações das gestações ectópicas. Como é um tópico pouco abordado, mas pode estar nas alternativas das questões, deixo, a seguir, aquela tabela de resumo que você pode adicionar em seus estudos. Característica Conduta Gestação tubária Implantação próxima óstio tubário com o útero. Local com cloreto de potássio e metotrexato Medicamento com metotrexato Cirúrgico com ressecção cornual ou até histerectomia Gestação cervical Gestação no canal cervical Medicamento com metotrexato Cirúrgico: ressecção histeroscópica, cervicotomia, curetagem, histerectomia. Gestação cicatriz cesárea Forme mais rara de gravidez ectópica Expectante Medicamentos com metotrexato Cirúrgico: curetagem, histerectomia, embolização a. uterina. Gestação ovariana Após a gestação tubária, é a mais comum. Medicamentos com metotrexato Cirúrgico: ooforectomia, cistectomia por laparoscopia ou laparotomia. Gestação abdominal Implantação livre na cavidade uterina + gestação ectópica Alta mortalidade (90x maior que uma gestação tópica) Cirúrgico: LAPAROTOMIA com remoção da placenta ou deixada in situ para reabsorção. Gestação heterotópica Após a gestação tubária, é a mais comum. Cloreto de potássio direto no embrião ectópico vivo + laparoscopia. CONTRAINDICADO: medtotrexato (pela gestação tópica viável) OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 33Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED CAPÍTULO 3.0 DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL É o termo genérico utilizado para uma gestação que evoluiu de forma anormal, cuja característica principal é a proliferação anormal e desordenada do TECIDO PLACENTÁRIO. Existe uma proliferação anormal e desordenada de diferentes epitélios trofoblásticos (sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto viloso e trofoblasto intermediário). A incidência mundial da doença trofoblástica gestacional (DTG) é de 1:1.000 ou 2.000 gestações, sendo 1 mola completa para cada 3 molas parciais em cada 1.000 gestações. No Brasil, estima-se que ocorra entre 1:200-400 gestações, porém isso pode estar ligado a dados de locais de centros de referência para o tratamento, não traduzindo a verdadeira incidência da população geral. A doença trofoblástica gestacional apresenta a forma benigna (mola hidatiforme – MH) e a maligna (neoplasia trofoblástica gestacional). A mola hidatiforme é a forma clínica mais comum e divide- se em dois tipos distintos: mola hidatiforme completa (MHC) e mola hidatiforme parcial (MHP) com diferenças histopatológicas, genéticas, clínicas e evolutivas. A mola hidatiforme apresenta complicações clínicas e pode apresentar, apesar de ser incomum, potencial maligno. O grande desafio é manter o seguimento adequado pós-molar, garantindo a vigilância e o controle hormonal do hCG. O termo neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) é dado as alterações que possuem potencial maligno, com invasão local e risco de metástases. Ela ocorre geralmente após uma gestação molar, mas também pode ocorrer após a evolução de gestação normal. A NTG divide-se em: mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL BENIGNA MOLA HIDATIFORME MOLA INVASORA MALIGNA NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL MOLA HIDATIFORME COMPLETA MOLA HIDATIFORME INCOMPLETA OU PARCIAL CORIOCARCINOMA TUMOR TROFOBLÁSTICO DO SÍTIO PLACENTÁRIO TUMOR TROFOBLÁSTICO EPITELIOIDE Figura 23. Fluxograma das formas benigna e maligna da doença trofoblástica gestacional. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 34 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 3.1 MOLA HIDATIFORME A mola hidatiforme é a forma benigna da doença trofoblástica gestacional. A placenta apresenta aumento anormal das vilosidades, com vilos coriônicos vesiculares acompanhados por proliferação trofoblástica. O risco de evolução para a forma maligna vai depender se estamos diante da mola hidatiforme completa ou parcial, que serão detalhadas mais adiante. 3.1.1 FATORES DE RISCO Os fatores de riscos mais comuns associados à mola hidatiforme são: • Antecedente de gestação molar prévia. • Extremos de vida reprodutiva (adolescentes ou acima de 40 anos). A idade materna avançada apresenta risco 10 vezes maior do que entre 20 e 40 anos de idade. Já a chance de recorrência está em 1 a 2%, porém é muito maior após 2 gestações molares anteriores (16 a 18%). Além disso, pode ocorrer pelo estado nutricional, paridade, consanguinidade, contracepção oral e infecções virais, porém o papel de cada fator é pouco conhecido. 3.1.2 PATOGÊNESE Não parece, mas as bancas cobram demais a genética da mola hidatiforme. Não deixe de ler e até, talvez, decorar esta parte da aula! Mas, calma, vou ajudá-lo facilitando essa etapa de sua leitura e memorização. MOLA COMPLETA A característica da mola completa é a proliferação exagerada e anormal do tecido trofoblástico, NÃO desenvolvendo embrião, membranas e cordão umbilical. O aspecto fica de um material placentário totalmente heterogêneo com múltiplas vesículas pelas vilosidades coriônicas edemaciadas, com dilatação hidrópica e formação de cisterna central repleta de líquido. Na imagem ultrassonográfica, as múltiplas vesículas são descritas com aspecto em “cachos de uva” ou “flocos de neve”. Atenção especial às imagens que as bancas adoram colocar nas provas. Figura 24. Imagem macroscópica e ultrassonográfica da mola hidatiforme completa. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 35 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED E, por incrível que pareça, você deve saber a diferença genética da mola hidatiforme completa e da parcial. Do ponto de vista genético, a mola completa origina-se por um ÓVULO “VAZIO” fecundado por espermatozoide 23X. Logo, observe que o material genético é exclusivo PATERNO, sendo duplicado (DIPLOIDE) e originando uma célula 46 XX (90% das vezes). AJUDA DA CORUJA: CD COMPLETA Mnemônico Mola hidatiforme DIPLOIDE MOLA HIDATIFORME COMPLETA ÓVULO “VAZIO” 46 XX Perda de cromossomos maternos 90 - 95% Cromossomo exclusivo paterno Duplicação de cromossomos paternos 23 X 23 X ou Y 46 XY MOLA HIDATIFORME COMPLETA DISPÉRMICA DIPLOIDE 23 X ou Y 23 X Perda de cromossomos maternos ÓVULO “VAZIO” Cromossomo exclusivo paterno 23 X 23 X 23 X 23 X 5 - 10% MOLA HIDATIFORME COMPLETA MONOSPÉRMICA Figura 25. Genética da mola hidatiforme completa. MOLA PARCIAL OU INCOMPLETA Para o raciocínio da mola parcial ou incompleta, pense em “quase” uma gestação normal. Macroscopicamente, existe a proliferação anormal difusa ou parcial do tecido trofoblástico com formação de múltiplas vesículas e, dependendo do tempo de evolução, pode ser encontrado embrião com múltiplas malformações e restrição do crescimento fetal. Na microscopia, existem vilosidades normais com hidrópicas e a inclusão do trofoblasto dentro do estroma. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 36 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Figura 26. Imagem macroscópica e ultrassonográfica da mola hidatiforme parcial. Uma característica que também pode ser cobrada é a diferença entre mola parcial e mola completa pelo marcador p57. Na mola parcial, o marcador p57KIP2 está presente devido a sua expressão pelo alelo materno, e, na mola completa, está ausente por ela ser formada exclusivamente pelo alelo paterno. Em 90% das vezes, a mola parcial origina-se por dispermia, que consiste na fecundação de um ÓVULO NORMAL por 2 espermatozoides, gerando uma célula TRIPLOIDE (69, XXX ou 69, XXY) e 10% tetraploide. AJUDA DA CORUJA: PT PARCIAL Mnemônico Mola hidatiforme TRIPLOIDE / TETRAPLOIDE MOLA HIDATIFORME PARCIAL 23 X 23 X ou Y 23 X ou Y 23 X 69,XXY MOLA HIDATIFORME PARCIAL origem materna e paterna TRIPLOIDE OU TETRAPLOIDE 23 X ou Y 23 X ou Y Figura 27. Genética da mola hidatiforme parcial. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 37 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED RISCO DE EVOLUÇÃO PARA NTG A mola COMPLETA tem maior chance de progressão para a forma maligna (NTG) em 15 a 20% dos casos. Já a mola hidatiforme PARCIAL tem menos risco de evolução para neoplasia trofoblástica gestacional (em 5% dos casos). A seguir, aquele quadrinho que resume as principais diferenças entre mola hidatiforme completa e parcial. MOLA COMPLETA GENÉTICA DIPLOIDE DIFERENÇAS ENTRE MOLA COMPLETA E PARCIAL MOLA PARCIAL TRIPLOIDE OU TETRAPLOIDE EMBRIÃO Ausente PRESENÇA de concepto malformado ou perda precoce RISCO DE NEOPLASIA Maior (15-20%) Raro (5%) hCG ALTOS VALORES de hCG Valores de hCG mais BAIXOS HISTOLOGIA Hiperplasia trofoblástica difusa Hiperplasia trofoblástica focal p57 AUSENTE PRESENTE Figura 28. Quadro com as principais diferenças entre a mola hidatiforme completa e a parcial. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 38 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 3.1.3 QUADRO CLÍNICO O quadro clínico depende de o diagnóstico ter ocorrido em idade gestacional precoce ou não. Sangramento vaginal Altura uterina > que o esperado para IG Eliminação de vesículas Hiper�reoidismo Hiperêmese gravídica ↑hCG Cistos tecaluteínicosDHEG < 20 semanas US Imagem: “cachos de uva” hCG MUITO ELEVADO: a característica principal da doença é a elevação exagerada do título de hCG, composta tanto das subunidades alfa e quanto das beta. Valores ACIMA DE 200.000 mUI/mL devem sempre fazer você suspeitar fortemente da doença trofoblástica gestacional. SANGRAMENTO VAGINAL: é o sintoma mais comum. Ocorre por volta da 4ª a 16ª semana de gestação, é de coloração escura, indolor, geralmente de pequena quantidade. Pode estar ou não associado à eliminação de vesículas por via vaginal, que é sinal patognomônico da doença. HIPERÊMESE GRAVÍDICA: se, no início da gestação, algumas pacientes já têm náuseas e vômitos com pequena elevação do hCG, imagine com títulos extremamente altos do hCG, característicos da doença? ÚTERO AUMENTADO PARA A IDADE GESTACIONAL: esse sinal é encontrado em 41% dos casos. Como ocorre uma desordenada e intensa proliferação trofoblástica, o volume uterino aumenta mais rápido do que a altura uterina esperada para a idade gestacional. CISTOS TECALUTEÍNICOS: são cistos ovarianos BENIGNOS uni ou bilaterais, formados pela hiperestimulação ovariana, decorrentes dos altos títulos de hCG. Após a resolução e o esvaziamento uterino, os cistos apresentam uma regressão espontânea, o que determina uma conduta expectante, não sendo necessária sua remoção. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 39 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Figura 29. Cistos tecaluteínicos por mola hidatiforme. HIPERTIREOIDISMO: ocorre devido à estimulação cruzada do hCG nos receptores do TSH na tireoide (“tireolike”). Logo, uma das características da gravidez molar é o encontro de níveis diminuídos de TSH e sinais e sintomas de HIPERTIREOIDISMO. DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO ANTES DE 20 SEMANAS: um raciocínio prático para ajudá-lo a memorizar: como há uma proliferação trofoblástica acelerada e desordenada intrauterina, o organismo materno entende que há necessidade de maior aporte de sangue para nutrir a região. Logo, como resposta, há um aumento pressórico compensatório para aumentar o fluxo sanguíneo uterino. Esse aumento pressórico pode ser tão pronunciado que pode levar a quadros de eclâmpsia/iminência de eclâmpsia e haver a necessidade de controle por meio da utilização de sulfato de magnésio e controle pressórico com a hidralazina. ASPECTO ULTRASSONOGRÁFICO: é o exame mais utilizado para o diagnóstico da gestação molar. O padrão ocorre como imagens em “cachos de uva” ou “flocos de neve”, com múltiplas áreas anecoicas entremeadas com ecos amorfos, que correspondem às vesículas. Precisa daquela ajuda EXTRA pelo pânico de tantos detalhes? Quer decorar e ainda não conseguiu? E, para não esquecer, confira a regra do HIPER na mola da professora Marina Ayabe: - HIPERêmese; - HIPERtireoidismo; - HIPERtensão arterial (DHEG); - HIPER-hCG (muito aumentado); - HIPERcistos ovarianos (tecaluteínicos); - HIPERaltura uterina; - HIPERchato de estudar... OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 40 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED HIPER Hiperêmese gravídica C Cistos tecaluteínicos H hCG muito elevado A Altura uterina maior que a esperada Tl Tireoide (hipertireoidismo) C Cachos de uva E Eliminar vesículas DHE DHEG < 20 semanas Mnemônico MOLA Se você errou alguma questão antes, agora, com as loucuras do mnemônico que a professora inventa, espero que o ajudem a não cair nas pegadinhas. 3.1.4 TRATAMENTO Deve-se internar a gestante logo ao diagnóstico e programar o esvaziamento molar por aspiração a vácuo. Para a programação do esvaziamento molar, deve-se estabilizar a paciente quanto aos sintomas clínicos, além da solicitação de alguns exames laboratoriais: dosagem sérica do hCG; hemograma; coagulograma; função tireoidiana; tipagem sanguínea e radiografia de tórax. ESVAZIAMENTO MOLAR A ASPIRAÇÃO A VÁCUO é o tratamento de eleição por ser um procedimento de menor risco. Em molas de menor volume, pode-se optar pela aspiração manual intrauterina (AMIU) e, para facilitar a aspiração de conteúdo molar em útero de maior volume, pode-se optar por aspiradores elétricos. A aspiração a vácuo pode ser completada por CURETAGEM com cureta romba ou fenestrada, se opção do cirurgião. Figura 30. Aspiração manual intrauterina (AMIU). OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 41 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED A histerectomia é reservada para mulheres com idade superior a 40 anos e prole constituída. O risco de neoplasia trofoblástica diminui consideravelmente após a histerectomia quando comparado ao esvaziamento molar por aspiração à vácuo. A histerotomia (esvaziamento uterino por via abdominal) apresenta indicações restritas, devido a maiores taxas de neoplasia trofoblástica gestacional pela abertura uterina e manipulação abdominal. Lembre-se de que os ovários devem ser preservados, mesmo na presença de cistos tecaluteínicos volumosos, uma vez que sua regressão ocorre espontaneamente após o esvaziamento molar e normalização do hCG. Além disso, não se esquecer da incompatibilidade Rh, sendo indicada a imunoglobulina anti-D a todas as pacientes RhD negativo que não foram sensibilizadas. 3.1.5 SEGUIMENTO PÓS-MOLAR Veja que o seguimento pós-molar se baseia em dois pilares que você deve saber: Dosagem β-hCG seriado SEMANAL até se tornar negativo. Após negativo, mensal por mais 6 meses. Anticoncepção Oral Adesivo+ Seguimento pós-molar Injetável Implante Transdérmico *Exceto: DIU ou SIU (risco) Qual é a frequência de acompanhamento? O título sérico do hCG deve ser avaliado SEMANALMENTE ou, em alguns serviços, a cada 15 dias, até se tornar indetectável (< que 5 mUI/mL). Após 3 dosagens semanais negativas, deve ser acompanhado mensalmente por mais 6 meses para garantir a cura da mola hidatiforme. Qual é o objetivo da anticoncepção? As pacientes são aconselhadas a não engravidarem até seis meses após o título de hCG negativar, para garantir que qualquer elevação do hCG seja por transformação maligna da mola hidatiforme em neoplasia trofoblástica gestacional. Dá-se preferência para métodos hormonais (oral, vaginal, transdérmico, injetável ou implante), combinados ou não com métodos de barreira. O dispositivo intrauterino (DIU) ou o sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU) estão contraindicados até a remissão da doença, devido ao aumento do risco de perfuração uterina, infecção e hemorragia. Quando suspeitar de NTG? Uma vez em seguimento do título do hCG, os critérios que levam à suspeita de evolução para NTG são: • Curva do hCG em platô (oscilação < 10% no título do hCG) por 3 semanas, em 4 valores (1, 7, 14 e 21 dias). • Elevação do hCG em pelo menos 10% por 2 semanas, em 3 valores (1, 7, 14 dias). • Aparecimento de metástases em mulheres em idade reprodutiva. • Diagnóstico histológico de NTG. • Nível do hCG mantém-se elevado por mais de 6 meses. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 42 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Suspeita de NTG CURVA hCG EM ASCENSÃO (>10%) CURVA hCG EM PLATÔ PRESENÇA DE METÁSTASES DIAGNÓSTICO HISTOLÓGICO DE NTG Figura 31. Suspeita de evolução para a NTG. 3.2 NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL A neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) é a forma maligna da doença trofoblástica gestacional. A detecção precoce da forma maligna, com o tratamento adequado, leva à cura de quase todas as pacientes, com retorno até de sua capacidade reprodutiva. 3.2.1 ESTADIAMENTO Antes de se iniciar o tratamento da NTG, é necessário ESTADIAR a paciente para orientar o tratamento mais adequado por meio da quimioterapia por agente único ou pela poliquimioterapia. A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO, 2000)determinou, em uma tabela, os grupos prognósticos de baixo ou alto risco para a resistência à quimioterapia com agente único. O escore ≤ 6 indica BAIXO RISCO, e a paciente é tratada com quimioterapia por agente único. Já o score de risco > 6 significa ALTO RISCO e grande risco de quimiorresistência. Nesse caso, está indicado tratamento com múltiplos agentes antineoplásicos. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 43 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Veja, na tabela a seguir, como é realizado o estadiamento por meio da pontuação pela FIGO 2000. Estadiamento anatômico da NTG Estadio I Doença restrita ao corpo uterino Estadio II Doença estendendo-se para os anexos ou vagina, mas limitando-se a estruturas genitais Estadio III Doença estendendo-se para os anexos ou vagina, mas limitando-se a estruturas genitais Estadio IV Outros sítios de metástases Escore 0 1 2 4 Idade (anos) < 40 ≥ 40 - - Gestação anterior Mola hidatiforme Abortamento Getação a termo - Intervalo entre gestação e neoplasia (meses) < 4 4 a < 7 7-12 ≥ 13 hCG sérica pré- tratamento (UI/L) < 103 103 a 104 >104 a 105 > 105 Maior tumor, incluindo útero (cm) < 3 3 a 4 ≥ 5 Local das metástases Pulmão Baço e rim Gastrointestinal Fígado e cérebro Número das metástases - 1 - 4 5 – 8 > 8 Falha em quimioterapia prévia - - Agente único 2 ou mais agentes BAIXO RISCO: total de escore até 6. ALTO RISCO: total de escore ≥ 7. ULTRA ALTO RISCO: total de escore ≥ 13. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 44 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED FIQUE ATENTO PARA OS PRINCIPAIS FOCOS DE METÁSTASES: 1) Pulmonar (+ comum): radiografia de tórax detecta 40% das metástases, ou por meio da TC de tórax. 2) Vaginal: caracteriza-se como nódulo violáceo ou enegrecido, sangrante à manipulação. 3) Hepática: avaliação por ultrassonografia de abdome; se visualizada imagem metastática, deve ser avaliada por TC ou RNM de abdome. 4) Cerebral: pesquisa por RNM ou TC de crânio. 3.2.2 TRATAMENTO É importante saber, e isso pode ser cobrado, que, para o início do tratamento, não é necessário realizar a biópsia do tumor. É necessário iniciar o estadiamento pela FIGO 2000 para orientar o tratamento quimioterápico com agente único ou com poliquimioterapia. A QUIMIOTERAPIA apresenta índices de cura elevados, com taxas de recorrência baixas, inferiores a 5%. Tratamento da NTG de BAIXO RISCO: é indicado o tratamento por agente único e a escolha é o METOTREXATO (MTX) ou, também, a opção do uso da actinomicina D (ACTD). Tratamento da NTG de ALTO RISCO: está indicado o tratamento com poliquimioterapia. O esquema de primeira linha é o chamado EMA-CO (etoposide, metotrexato, actinomicina D, ciclofosfamida e vincristina). As pacientes de alto risco tratadas com poliquimioterapia apresentaram taxa de sobrevida de 80%, e 30% apresentam resistência ou recidiva. Outros especialistas preferem o protocolo EP/EMA modificado (etoposídeo, cisplatina e etoposídeo, metotrexato e actinomicina D) ou utilizado também como segunda linha. A histerectomia é uma alternativa como tratamento inicial para as pacientes com idade avançada (superior a 40 anos) e prole definida. Devido à elevada chance de cura pelo tratamento quimioterápico, a histerectomia tem sido indicada em poucos casos. Está indicada em casos de perfuração uterina, hemorragia uterina grave, quimiorresistência, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. O tumor trofoblástico do sítio placentário e o tumor trofoblástico epitelioide são POUCO RESPONSIVOS À QUIMIOTERAPIA. Assim, o estadiamento classificado pela OMS e pela FIGO não é utilizado para escolha terapêutica e predizer o prognóstico. O melhor tratamento indicado, nesse caso, é a HISTERECTOMIA. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 45 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED 3.2.3 CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DA NTG E, para encerrar, vou detalhar as principais características das formas histológicas da NTG: mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. De um modo geral, a MOLA INVASORA é a MAIS COMUM e tem como característica principal a proliferação trofoblástica ser restrita à parede do útero e raramente emitir metástases. Sua diferença com a gestação molar completa é a característica de invadir a parede do miométrio em suas camadas mais profundas por vilosidades molares. Geralmente, ocorre após a mola hidatiforme completa. Figura 32: Mola invasora. Observe que as vilosidades coriônicas invadem a parede do miométrio. Já o CORIOCARCINOMA é o MAIS AGRESSIVO, isto é, o “monstro” da neoplasia trofoblástica gestacional. Ele apresenta rápida disseminação hematogênica (METÁSTASES) principalmente para PULMÃO, vulva/vagina, fígado e cérebro. Fique atento, a metástase vaginal ou vulvar é caracterizada por presença de focos arroxeados enegrecidos observados no exame clínico. O coriocarcinoma já apresenta característica de uma massa tumoral sólida vermelho-escura, não apresenta vilosidades coriônicas como na mola invasora e na mola hidatiforme e apresenta focos hemorrágicos e de necrose. SEMELHANÇAS da mola invasora e coriocarcinoma: originam-se do CITOTROFOBLASTO e do SINCICIOTROFOBLASTO, logo apresentam ELEVADOS níveis de hCG dependendo do tamanho e invasão em que são encontrados. Além disso, geralmente ocorrem após uma gestação molar completa. Quanto ao TUMOR TROFOBLÁSTICO DO SÍTIO PLACENTÁRIO e ao TUMOR TROFOBLÁSTICO EPITELIÓIDE, eles apresentam características mais parecidas e poucas diferenças, sendo sua distinção geralmente realizada pela avaliação histopatológica. Eles frequentemente originam-se após uma gestação NORMAL a termo, ambos são formados por células trofoblásticas intermediárias, diferentemente da mola invasora e do coriocarcinoma, que se originam do citotrofoblasto e do sinciciotrofoblasto. Logo, você já deve raciocinar que os níveis de hCG são BAIXOS (menores do que 2.500 mUI/mL). O tumor trofoblástico epitelióide apresenta uma formação bem definida na macroscopia, formando ninhos de células e, geralmente, estende-se para o colo uterino e deve ser diferenciado com o carcinoma espinocelular do colo de uterino. Já o tumor trofoblástico do sítio placentário apresenta uma massa sólida circunscrita ao miométrio, infiltrando-se entre as células musculares sem destruir o miométrio. Pode exibir hemorragia e necrose, porém menos do que no coriocarcinoma. Claro que não vou deixar você na mão e vou finalizar com uma tabela de resumo das principais diferenças. OBSTETRÍCIA Prof. Marina Ayabe | Resumo Estratégico | Março 2022 46 Sangramento da Primeira Metade da Gestação Estratégia MED Neoplasia trofoblástica gestacional Mola invasora Coriocarcinoma Tumor trofoblástico sítio placentário Tumor trofoblástico epitelioide + comum + agressiva raros História obstétrica Após a mola hidatiforme completa 50% - após mola hidatiforme completa 25% - após gestação normal 25% - após gestação ectópica ou abortamentos 75% após meses ou anos de uma gestação normal Após qualquer processo gestacional Característica do tumor RESTRITO AO ÚTERO (Invasão da parede do miométrio e extensa proliferação trofoblástica) ↑ níveis de hCG MASSA TUMORAL aspecto HEMORRÁGICO e NECRÓTICO (não tem vilosidade coriônica como a mola invasora) ↑ níveis de hCG Proliferação de trofoblastos INTERMEDIÁRIOS ↓ níveis de hCG e ↑ do horm. lactogênio placentário ↓ níveis de hCG e ↓ do horm. lactogênio placentário (Acomete qualquer área do útero, inculindo colo) Metástases INFREQUENTES FREQUENTES (Metástases: PULMONAR, vaginal, fígado e cerebral) INFREQUENTES (30% apresentam metástases ao diagnóstico) INFREQUENTES (30% apresentam
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