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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE
______/PARANÁ
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, via de seu
representante legal, no uso de suas atribuições legais vem à presença deste
juízo propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
contra a ESCOLA DE ESTUDOS SUPERIORES DE _____ – ESUV, pessoa
jurídica de direito privado, com sede na Rua......, nesta cidade, pelos fatos e
fundamentos seguintes:
I - DOS FATOS
Letícia, uma estudante com deficiência auditiva bilateral profunda, tem
enfrentado dificuldades em seu curso de ciências contábeis no ensino superior.
Ela solicitou à instituição de ensino que fornecesse um intérprete de LIBRAS para
auxiliá-la em sala de aula e em atividades extracurriculares, uma vez que sua
compreensão do conteúdo ministrado é comprometida.
A resposta da ESUV foi que não havia uma obrigação legal estrita para atender
ao pedido de Letícia, mas eles concordaram em implementar algumas medidas
alternativas:
1. Oferecer apoio pedagógico em horários específicos.
2. Fornecer um intérprete de LIBRAS durante a realização e revisão de provas.
3. Cobrir os custos de transporte de Letícia para participar de atividades
extracurriculares.
No entanto, Letícia informou ao Ministério Público que essas medidas foram
aceitas em caráter experimental, dependendo de sua eficácia no melhoramento de
seu aprendizado. Ela argumenta que apesar de seus esforços, não experimentou
melhorias na compreensão das aulas e ainda não conseguiu participar de
atividades extracurriculares devido ao não cumprimento adequado das medidas
pela ESUV.
Quando a Promotoria de Justiça entrou em contato com a direção da
ESUV/UNI_____, eles forneceram uma resposta semelhante, citando a falta de
base legal e desafios orçamentários para atender à solicitação de Letícia. A ESUV
destacou que é uma instituição de ensino privada com despesas significativas.
Essa conduta da ESUV levanta questões sobre sua sensibilidade em relação à
situação delicada de Letícia e de outros estudantes com deficiência auditiva.
Embora a ESUV tenha expressado interesse em assinar um Termo de
Ajustamento de Conduta para contratar um intérprete de LIBRAS de acordo com o
pedido de Letícia, isso foi feito sem a aprovação do Ministério Público.
II - DA LEGITIMIDADE AD CAUSAM
Da legitimidade do Ministério Público para a propositura da presente ação.
O artigo 129, Ill, da Constituição Federal estabelece a legitimidade ativa do
Ministério Público para atuar na presente ação, sendo função institucional do
Ministério Público a promoção do inquérito civil e da Ação Civil Pública para
proteção do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, in verbis:
Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:
(....)
III- promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos.
Ademais, soma-se a todo o exposto o que dispõe o art. 127 da CF de 1988,
conforme abaixo:
Art.. 127: O Ministério Público é instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis.
Assim, este artigo estabelece o Ministério Público como um pilar essencial
do sistema jurídico e democrático do Estado, conferindo-lhe a missão de proteger
a ordem jurídica, alicerçar o regime democrático e salvaguardar os interesses
sociais e individuais que não podem ser negociados ou negligenciados.
Ao fazê-lo, o Ministério Público desempenha um papel vital na manutenção
da justiça, na defesa dos direitos dos cidadãos e na promoção de uma sociedade
mais equitativa e justa. Através de seu trabalho incansável, essa instituição
assegura que os princípios fundamentais do Estado de Direito e da democracia
sejam preservados, garantindo a proteção de todos os membros da sociedade,
independentemente de sua posição ou status.
III - DO DIREITO
A Carta Magna pátria erigiu a título de direitos fundamentais – cujos
credores são os cidadãos brasileiros – bens inalienáveis como a saúde, a
segurança, a educação e o lazer.
A Constituição Federal, em seu artigo 6º, estabeleceu como direitos
fundamentais dos cidadãos brasileiros bens inalienáveis, tais como saúde,
segurança, educação e lazer. Dentre esses direitos, destaca-se a educação, que
é um direito fundamental de todos os indivíduos e encontra respaldo no artigo
205 da Constituição.
No contexto específico da assistência escolar para pessoas com
deficiência, esta desempenha um papel essencial na promoção da igualdade de
oportunidades e no acesso à educação, conforme previsto no artigo 208, inciso
III, da Constituição Federal. Indivíduos como a discente mencionada, que
enfrentam deficiências auditivas profundas, frequentemente deparam-se com
obstáculos significativos em seu percurso educacional, o que torna ainda mais
premente a necessidade de garantir sua inclusão e pleno acesso ao ensino
superior.
É imperativo ressaltar que a assistência escolar não se restringe apenas à
adaptação de materiais ou à disponibilização de intérpretes, embora tais
medidas sejam elementos cruciais. Ela também envolve a criação de um
ambiente inclusivo e acolhedor, conforme estabelecido no artigo 27 da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é
signatário. Tal ambiente visa assegurar que os alunos com deficiência se sintam
valorizados e respeitados, em plena consonância com os princípios
estabelecidos nos artigos 1º e 2º da Lei nº 13.146/2015, que institui o Estatuto
da Pessoa com Deficiência.
Adicionalmente, a assistência escolar deve incluir a capacitação dos
professores para compreender as necessidades individuais de cada aluno, em
conformidade com o artigo 28 da referida Convenção. Isso implica em adotar
abordagens pedagógicas que atendam a essas necessidades, garantindo,
assim, a efetiva inclusão e participação de pessoas com deficiência no ambiente
educacional.
Além disso, a conscientização e sensibilização de toda a comunidade
escolar, incluindo estudantes, professores, funcionários e pais, são
fundamentais para promover a compreensão e a empatia em relação às
pessoas com deficiência, como preconizado nos artigos 8º e 9º da Lei nº
13.146/2015. Essas ações contribuem para a construção de um ambiente
escolar verdadeiramente inclusivo, conforme preceitua o artigo 4º da mesma Lei.
Portanto, a assistência escolar adequada para pessoas com deficiência é
respaldada por uma sólida base legal e constitucional, que visa assegurar o
pleno exercício do direito à educação, em consonância com os princípios da
igualdade, da dignidade humana e da inclusão social.
IV – DOS PEDIDOS
1. A concessão de tutela de urgência para que o réu seja imediatamente obrigado
a disponibilizar um intérprete de LIBRAS para a autora, garantindo assim seu
acesso pleno e igualitário às aulas e atividades extracurriculares do
curso de Ciências Contábeis.
2. A condenação do réu à implementação efetiva e integral das medidas
necessárias para assegurar o direito da autora à educação inclusiva, conforme
estabelecido na Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
3. O pagamento de indenização por danos morais à autora, em valor a ser fixado
por este Juízo, em decorrência dos prejuízos emocionais e acadêmicos
sofridos devido à recusa da ESUV em garantir suas necessidades de
acessibilidade.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), para efeitos
meramente fiscais.
Nestes termos,
pede e espera deferimento.
______________/PR

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