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Psicologia do Trabalho Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Gisele L. Fernandes Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco Motivação e Comprometimento • O Que é Motivação? • O Que Não é Motivação • Motivação e a Psicologia • Ciclo Motivacional • Satisfação, Compensação e Frustração · Distinguir e descrever as etapas do ciclo motivacional, reconhecendo os possíveis resultados do comportamento motivado pela necessidade: satisfação, compensação e frustração. · Reconhecer a motivação como intrínseca ao ser. · Desmistificar considerações errôneas sobre motivação. OBJETIVO DE APRENDIZADO Motivação e Comprometimento Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Motivação e Comprometimento O Que é Motivação? Motivação é, sem dúvida, um dos temas mais estudados na Psicologia. Entender o que motiva o homem é assunto que tem ocupado muitos pensadores. Entretanto, a despeito da quantidade de estudos e de teorias que cercam o tema, há ainda muita divergência no modo como a motivação humana é estudada e explicada. Todorov e Moreira (2005), em artigo que trata do conceito de motivação na Psicologia, apresentam e analisam diferentes definições acerca desse conceito. Veja a seguir algumas das definições encontradas por esses autores: Um motivo é uma necessidade ou desejo acoplado com a intenção de atingir um objetivo apropriado (apud KRENCH; CRUTCHFIELD, 1959, p. 272). Entendemos por motivo algo que incita o organismo à ação ou que sustenta ou dá direção à ação quando o organismo foi ativado (apud HILGARD; ATKINSON, 1967, p. 118). O estudo da motivação é a investigação das influências sobre a ativação, força e direção do comportamento (apud ARKES; GARSKE, 1977, p. 3). Para cada ação que uma pessoa ou animal executa, nós perguntamos: “Por que ele ou ela fez aquilo”. Quando fazemos esta pergunta, estamos perguntando sobre a motivação daquela pessoa ou animal... Questões sobre motivação, então, são questões sobre as causas de uma ação espe- cífica (apud MOOK, 1987, p. 3). Os motivos são concebidos [...] como forças que são moldadas pela experiência (apud DWECK, 1999, p. 134). A motivação tem sido entendida ora como um fator psicológico, ou conjunto de fatores, ora como um processo. Existe um consenso generalizado entre os autores quanto à dinâmica desses fatores psicológicos ou do processo, em qualquer atividade humana. Eles levam a uma escolha, instigam, fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo [...] (apud BZUNECK, 2004, p. 9). Fonte: adaptado de Todorov e Moreira (2005). Ao analisar as diferentes definições acerca da motivação, Todorov e Moreira (2005) concluem que há uma “miscelânea conceitual”, o que, na opinião desses estudiosos, evidencia a falta de consenso acerca do tema motivação. E, para evidenciar a confusão existente, citam Milenson (1975, p. 337), o qual comenta que, embora comumente a motivação tenda a ser entendida como “[...] o conjunto de determinantes ou causas do comportamento [...]”, entender o que determina ou o que causa o comportamento é “[...] o campo de toda a Psicologia”. Ou seja, na busca por definir motivação, muitos têm erroneamente confundido tal conceito com os objetivos da própria Psicologia, enquanto Ciência do comportamento. 8 9 Como se pode notar, essa não é uma discussão nova e tampouco simples. E, na realidade, esta Unidade não pretende esgotar o assunto, até porque este não é o nosso objetivo principal e talvez nem se possa esgotá-lo, uma vez que, como já notado, são várias as formas de se compreender e explicar tal conceito. Mas procuraremos aqui, esclarecer um pouco mais sobre do que se trata a motivação. Para começar, é importante clarificar duas ideias equivocadas sobre o que é motivação. O Que Não é Motivação Muitas pessoas acreditam que motivação se refere a um traço de personalidade. Ou seja, não é rara a crença de que algumas pessoas sejam mais motivadas do que outras. É claro que as pessoas são diferentes umas das outras, que lidam com as diversas situações com as quais se deparam de forma diferente, mas isto não quer dizer que motivação seja um traço de personalidade, uma característica nata do indivíduo. Cada história de vida, com suas experiências, pode fazer com que o indivíduo responda a determinadas situações de uma maneira que possa ser interpretada como mais positiva, quando comparada às respostas de outra pessoa diante da mesma situação. Contudo, mais uma vez, isto não faz desse indivíduo uma pessoa mais ou menos motivada. Há pessoas que enfrentam uma situação difícil com muita força e determinação, mas que não sabem, por exemplo, lidar com um elogio, não festejam vitórias. Agir com determinação em uma situação difícil ou comemorar uma vitória são ações entendidas, no senso comum, como próprias de pessoas motivadas. Note, pelos exemplos acima, que a motivação está mais relacionada a uma situação específica, à sua história de vida, ao seu repertório, do que a traços de personalidade. Uma pessoa mais expansiva, mais comunicativa não pode ser vista como mais motivada do que outra mais retraída e reservada. Alguém que reage de forma mais impetuosa e empreendedora não pode ser considerado mais motivado do que outro que reage de modo mais prudente e cauteloso. As motivações de ambos estão além dessas características. Outro erro comum é entender motivação com o que nos satisfaz. Um exemplo típico é a nossa relação com o dinheiro. O dinheiro não nos motiva. Esta afirmação parece estranha para você? Vejamos: o dinheiro não nos motiva, o que nos motiva é a necessidade que temos desse recurso. Precisamos de “coisas” que podem ser compradas com dinheiro e a necessidade dessas “coisas” é que faz com que procuremos obter dinheiro para poder possuí-las. Assim, não é o dinheiro que nos motiva, mas o dinheiro pode satisfazer algumas de nossas necessidades. 9 UNIDADE Motivação e Comprometimento Do mesmo modo que não é a água que nos motiva a bebê-la, mas a nossa sede, nossa compreensão de que precisamos nos manter hidratados, e assim por diante. A água satisfaz a nossa sede. Motivação não é sinônimo de satisfação, ao contrário, quando se está satisfeito, nãohá motivação. Não há motivo para a ação ou, como explica Abraham Maslow (1954, p. 38), um dos mais importantes teóricos da motivação, “[...] uma necessidade que está satisfeita, não é mais uma necessidade [...]”. “Mas um desejo que está satisfeito não é mais um desejo. O organismo é dominado e seu comportamento organizado apenas por necessidades insatisfeitas. Se a fome for satisfeita, torna-se sem importância na dinâmica atual do indivíduo” (MASLOW, 1954, p. 38). É importante que você compreenda estes dois pontos para prosseguirmos: i) motivação não é um traço de personalidade que faz com que algumas pessoas sejam mais motivadas do que outras; e ii) motivação não é sinônimo de satisfação. Motivação e a Psicologia Outro aspecto importante sobre motivação é que esta se trata de um fator intrínseco – e não extrínseco. Ou seja, é interno, encontra-se na própria pessoa. Não é algo que vem de fora. Embora seja muito comum ouvirmos sobre técnicas de motivação, como se alguém pudesse motivar o outro, ninguém motiva ninguém. A motivação é intrín- seca, encontra-se no interior de cada um de nós. Portanto, ninguém motiva nin- guém. Nisso nos deparamos, como Casado (2002) descreve, com o fato de que tal determinação coloca o gestor diante de uma exigência impossível de ser atendida. A impotência do gestor na tarefa de motivar a equipe deve ser superada por meio da compreensão mais profunda dos “[...] aspectos internos do ser humano [...]” (CASADO, 2002, p. 248). Enquanto para a Psicanálise a energia psíquica que resulta na motivação é compreendida como um processo homeostático, para a Análise do Comportamento o conceito de motivação relaciona-se às operações estabelecedoras. Psicanálise e Análise do Comportamento são algumas das principais escolas da Psicologia. A Psicanálise foi desenvolvida por Sigmund Freud e a Análise do Comportamento tem como seu principal pensador Burrhus Frederic Skinner. Ex pl or 10 11 A Psicanálise compreende a personalidade como constituída por três instân- cias: id, ego e superego. A primeira, id, é compreendida como a principal repre- sentação do “mundo interno” do ser humano, sendo formada por “[...] instintos, representações psicológicas do desejo que geram tensão [...]” (CASADO, 2002, p. 248). O superego é constituído pela interiorização das regras e normas da sociedade. Enquanto o id não traz características de moralidade, sendo considerado amoral, o superego constitui o componente moral e social da personalidade. Já o ego é regido pelo princípio da realidade, pela razão. Tem como papel principal no ser o de harmonizar os desejos do id e as normas do superego. É o componente moral que atua mediando a amoralidade do id e o componente moral e social do superego. Como tais instâncias do ser se relacionam à motivação? De acordo com a Psicanálise, o desejo provoca aumento de tensão, o que não é tolerado pelo id. Frente à tensão gerada pelo aumento do desejo por algo, o id buscará satisfazer a necessidade a fim de baixar a tensão, ou seja, buscará reestabelecer a estabilidade do organismo, que é chamado de homeostase. Para tanto, forçará o ego a buscar por aquilo que é desejado. O ego, por sua vez, buscará, como já mencionado, equilibrar as ações de comando do id às exigências morais do superego. O conceito de operação estabelecedora, desenvolvido por Keller e Schoenfeld (1974), define a motivação na abordagem da Análise do Comportamento. De acordo com tal teoria, tratam-se de operações motivacionais que afetam o ser – seja humano ou animal –, de modo com que sua relação com os reforçadores seja momentaneamente alterada. Vamos a um exemplo, em experimentos bastante comuns com camundongos, estes são privados de água por um determinado período de tempo. Isso se dá em função de a privação de água tornar esse reforço, água, mais efetivo. Se o animal, no caso o camundongo, está com sede, emitirá com maior frequência respostas que resultem no evento reforçador água. Outro exemplo é a privação de alimento, que torna esse estímulo – o alimento – mais efetivo. Para Keller e Schoenfeld (1974), assim como para os demais analistas do comportamento, a motivação, ainda que interna, pode ser mani- pulada a partir de certas “operações estabelecedoras”. Id → princípio do prazer; ego → princípio da realidade; superego → componente moral. Operação estabelecedora → operação que torna um estímulo efetivamente reforçador. 11 UNIDADE Motivação e Comprometimento Se voltarmos ao passado, encontraremos a definição do psicólogo francês Henri Piéron, em seu Vocabulaire de Psychologie, quem definiu motivação, ainda em 1964, como “[...] uma modificação do organismo que o faz mover-se, até que se reduza essa modificação [...]” (apud CASADO, 2002). Figura 1 – Henri Piéron, psicólogo francês, autor de obras como Vocabulaire de Psychologie e Traité de Psychologie Apliquèe Fonte: collections.nlm.nih.gov Podemos, ainda que com visões bastante diferentes, considerar que, quer a Psicanálise, quer a Análise do Comportamento, ambas consideram que para a existência da motivação, torna-se necessário que algo aconteça, que haja alguma alteração no organismo que o impulsione a reagir de forma a reduzir essa mudan- ça, reestabelecendo, assim, seu estado inicial. Você consegue pensar em algo assim? Criar uma situação que provoque no organismo alguma mudança de modo a fazer com que tenha que reagir buscando recuperar seu estado inicial? Do entendimento, da motivação como um motivo para a ação, ou ainda da motivação como uma alteração no organismo que o faz mover-se até reduzir essa modificação, passamos a analisar o ciclo motivacional. Ciclo Motivacional A proposta do ciclo motivacional surgiu da Escola das Relações Humanas, que propôs uma nova concepção de homem, reconhecendo a sua complexidade e particularidades. Esse novo modelo desencadeou transformações no modo como a motivação humana passou a ser compreendida. Motivar é criar um motivo para a ação. 12 13 De acordo com a Escola das Relações Huma- nas, todo comportamento é motivado. Mas o que isso quer dizer? De acordo com o psicólogo Kurt Lewin (1942), o organismo tende a se manter em um estado de equilíbrio interno, ou mais especificamente, equi- líbrio de forças psicológicas (Figura 2). Tal equilíbrio é rompido por estímulos ao or- ganismo, os quais podem se originar de fatores internos e/ou externos ao organismo (Figura 3). Equilíbrio Interno Figura 2 – Estado de equilíbrio ou homeostase do organismo Fonte: Adaptado de Lewin (1942) Equilíbrio Interno Estímulo (Incentivo) Figura 3 – Estímulo que age sobre o organismo Fonte: Adaptado de Lewin (1942) Os estímulos externos e/ou internos rompem o estado de equilíbrio do organis- mo, desencadeando uma tensão (Figura 4). Tensão Equilíbrio Interno Estímulo (Incentivo) Figura 4 – Tensão gerada pela ação do estímulo interno e/ou externo sobre o organismo Fonte: Adaptado de Lewin (1942) 13 UNIDADE Motivação e Comprometimento A tensão gerada pelo rompimento do desequilíbrio interno provoca uma necessidade (Figura 5) que levará o organismo a algum movimento na tentativa de recuperar o equilíbrio. Tensão Equilíbrio Interno Estímulo (Incentivo) Necessidade (Motivo) Figura 5 – Necessidade ou motivo gerado pela tensão Fonte: Adaptado de Lewin (1942) Enfim, na visão da Escola das Relações Humanas, a motivação, no sentido psicológico, é gerada por essa tensão que desequilibra o organismo, fazendo com que o mesmo reaja na busca por reestabelecer o equilíbrio das forças psicológicas. Ou seja, partindo do entendimento de que a motivação se dá em decorrência de uma modificação no organismo, podemos pensar na motivação como uma tensão que nos tira do estado de equilíbrio, de tranquilidade e nos leva a uma forma de ação em busca do equilíbrio interno, compreendido como a ausência de necessidade. Imagine, então, que tal ciclo tem início a partir de uma desestruturação de nosso equilíbrio interno, eventoprovocado por um estímulo interno ou externo. Esse estímulo ou incentivo, interno ou externo, interrompe nosso equilíbrio interno, criando uma tensão na qual, por sua vez, gera uma necessidade e nos impulsiona à alguma ação. Então, o indivíduo tenderá a reagir de forma a procurar restaurar o equilíbrio interno. Esse processo de rompimento do equilíbrio interno, o estopim de uma tensão que desencadeia uma ação, é denominado ciclo motivacional, o qual é apresentado na Figura 6: 14 15 Tensão Equilíbrio Interno Estímulo (Incentivo) Necessidade (Motivo) Compor- tamento (Ação) Ciclo Motivacional Figura 6 – Ciclo Motivacional Fonte: Adaptado de Lewin (1942) Você se lembra da definição do psicólogo Piéron para motivação? “Uma modificação do organismo que o faz mover-se, até que se reduza essa modificação” (apud CASADO, 2002). É exatamente isso que é representado no ciclo motivacional. Pensemos novamente no exemplo da sede: seu corpo está hidratado; de repente, sente a sua garganta seca e isto começa a incomodá-lo(a). A secura na garganta pode ser entendida como um estímulo, neste caso, interno. Tal estímulo gera uma tensão e, consequentemente, uma necessidade, resultando em uma ação: beber água. Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images 15 UNIDADE Motivação e Comprometimento A ação de beber água reestabelecerá o equilíbrio interno. É importante destacar que, no exemplo acima, o equilíbrio foi rompido por um estímulo interno, mas poderia ser externo. Seguindo esse exemplo – da relação sede e água –, você consegue imaginar o resultado da estória se decidisse não beber água? Consegue pensar no caso de, embora com sede, com a garganta seca, estivesse fazendo algo tão importante como, por exemplo, concluir um relatório de trabalho e, neste caso, preferisse continuar com a sede e terminar a tarefa? A proposta desse novo final da estória serve ao intuito de reforçar que a motiva- ção é intrínseca. Lembra-se? Pode existir a motivação ou o motivo para a ação, mas o indivíduo é quem decidirá como se comportar. Nesse novo exemplo, podemos imaginar que concluir o relatório seja mais motivador do que “matar a sede”. Ou, em outras palavras, a tensão provocada pela falta do relatório é significativamente maior do que a provocada pela garganta seca e, por isto, concluir o trabalho passa a ser prioritário. Reflita acerca de outras motivações conflitantes. Considerando o que vimos até aqui, ou seja, que a motivação surge de um motivo para a ação, de um estímulo e mesmo se tratando de algo interno, você consegue analisar e pensar em outros exemplos de necessidades conflitantes e como tende a reagir diante das quais? Ex pl or Vamos a um exemplo real, que contempla o desenvolvimento de recursos huma- nos: uma empresa de porte médio do ramo automotivo, a fim de atender às novas diretrizes organizacionais, avalia a necessidade de qualificar a sua equipe e decide, em parceria com uma instituição de ensino, implantar na organização uma escola técnica. Os funcionários, em horário diferente ao de trabalho, poderiam realizar o Curso Médio com Formação Técnica, sem custos financeiros e no local de trabalho. Figura 8 Fonte: iStock/Getty Images 16 17 A equipe de recursos humanos e os gerentes da área técnica realizam, então, campanhas de sensibilização junto aos funcionários, demonstrando a importância da capacitação tanto para os colaboradores como para a organização. Contudo, passado o período de inscrições e matrículas no curso, as adesões são insignificantes, frustrando os objetivos da empresa. Após algumas reuniões e, diante da evidente necessidade de capacitação da mão de obra, os gestores percebem que não há como atingir suas metas sem contar com colaboradores mais bem preparados. Decidem, então, estabelecer um período para que, pelo menos, 70% de seus profissionais da área técnica tenham algum tipo de capacitação. A novidade espalha-se rapidamente pela empresa, fazendo com que, em um curto período de tempo, muitos dos colaboradores decidam iniciar o curso de capacitação. Embora bastante resumida, trata-se de uma história baseada em fatos e, certamente, não é um episódio exclusivo dessa empresa. Podemos entender que a situação dos funcionários era de total equilíbrio interno. Não sentiam necessidade de qualificação. Tanto que os estímulos externos “estude”, “capacite-se”, emitidos pelos dirigentes da organização não provocaram nenhuma reação, não desencadearam tensão e, consequentemente, não geraram necessidade. Ou seja, não tiraram os funcionários da situação de equilíbrio interno. Contudo, quando os estímulos deixaram de ser somente “estude”, “capacite-se”, para se tornarem “estude, capacite-se para manter o seu emprego”, passaram a gerar tensão, provocando, assim, necessidade nos funcionários, os quais rapida- mente passaram à ação de matrícula no curso. É evidente que ainda assim, alguns continuaram sem se interessar pelo curso, enquanto outros já tinham feito a matrícula quando esta não estava relacionada à manutenção do emprego. Lembre-se que cada caso é um, é próprio do indivíduo, está relacionado à história de vida da pessoa. Mais dois aspectos merecem destaque: Primeiramente, nem sempre o comportamento levará à satisfação da neces- sidade, de modo que podem existir barreiras ou obstáculos que impeçam que a necessidade seja realmente satisfeita. Ademais, o que é necessidade para uma pessoa, pode não ser para outra. Não podemos julgar as necessidades dos outros a partir das nossas, pois se trata de questão social, econômica e cultural. Por isso as pessoas podem ter necessidades que para nós podem parecer excessivas, mas que para as quais são realmente necessárias – ou o contrário. Por exemplo, podemos suprir as nossas necessidades de canetas com modelos esferográficos ou entender que tais necessidades serão supridas apenas quando houver legítimas canetas Montblanc. 17 UNIDADE Motivação e Comprometimento Montblanc é uma das marcas mais luxuosas do mundo. A empresa, que fabrica diversos produtos, tem em suas canetas o sonho de consumo de muitas pessoas. Figura 9 Fonte: Divulgação Ex pl or Por isso, vale ressaltar que um estímulo pode ser poderoso para gerar tensão e necessidade em algumas pessoas, mas não em outras. Satisfação, Compensação e Frustração Mais um aspecto sobre o ciclo motivacional merece ser comentado: refere-se ao resultado que o comportamento pode desencadear, que poderá ser satisfação, frustração ou compensação da necessidade, conforme ilustra a Figura 10: Tensão Equilíbrio Interno Estímulo (Incentivo) Necessidade (Motivo) Compor- tamento (Ação) Ciclo MotivacionalSatisfação Frustração Compensação Figura 10 – Possíveis resultados do ciclo motivacional Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 18 19 O comportamento, a ação desencadeada pela tensão, pode satisfazer nossa necessidade, devolvendo-nos o equilíbrio interno. No entanto, como sabemos, nem sempre conseguimos tudo o que queremos, ou seja, nem sempre obtemos satisfação. Podemos, em alguns momentos, frustrar-nos, ou seja, não satisfazer a nossa necessidade a despeito da ação adotada. A frustração mantém a tensão, que fica acumulada no organismo, permanecendo no estado de desequilíbrio interno. No caso da frustração, a tensão represada tenderá a escapar pela via psicológica ou fisiológica. A frustração pode resultar em: i) desorganização do comportamento, ou seja, em comportamentos sem explicação aparente; ii) agressividade física, verbal, simbólica, entre outras formas de manifestação irascível; ou mesmo iii) reações emocionais inadequadas, tais como ansiedade, aflição, angústia, insônia, entre outras. Contudo, podemos também ter como resultado uma terceira possibilidade, a compensação. Ou seja, quando não obtemos a satisfação e não queremos nos frustrar, tendemos a buscar a compensação. A compensação se dá a partir da satisfação de outra necessidade complementar. Dito de outra forma, não sendo possível a satisfação de uma determinadanecessidade, o indivíduo poderá buscar satisfazer outro desejo, mais fácil de ser alcançado, a fim de reduzir a tensão, evitando a frustração. Enfim, o ser sempre procurará eliminar a tensão e satisfazer a necessidade existente, ainda que apenas seja possível compensá-la. 19 UNIDADE Motivação e Comprometimento Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Operações Estabelecedoras: Um Conceito de Motivação CUNHA, Rachel Nunes da; ISIDRO-MARINHO, Geison. Operações estabelecedoras: um conceito de motivação. In: ABREU-RODRIGUES, Josele; RIBEIRO; Michela Rodrigues (Org.). Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. Porto Alegre, RS: Artmed, 2007. https://goo.gl/1dLOSj O Modelo Estrutural de Freud e o Cérebro: Uma Proposta de Integração entre a Psicanálise e a Neurofisiologia LIMA, Andréa Pereira de. O modelo estrutural de Freud e o cérebro: uma proposta de integração entre a Psicanálise e a Neurofisiologia. Revista Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 37, n. 6, 2010. https://goo.gl/YCJOOi Importância da Motivação dentro das Organizações PEDROSO, Daniel Oesley de Oliveira et al. Importância da motivação dentro das organizações. Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, v. 1, n. 1, p. 60-76, 2012. https://goo.gl/wwBdIw O Conceito de Motivação na Psicologia TODOROV, João Cláudio; MOREIRA, Márcio Borges. O conceito de motivação na Psicologia. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo, v. 7, n. 1, 2005. https://goo.gl/c5AV9b 20 21 Referências CASADO, T. A motivação e o trabalho. In: FLEURY, M. T. L. F. (Org.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. KELLER, F. S.; SCHOENFELD, W. N. Princípios de Psicologia: um texto sistemático na Ciência do comportamento. Trad. Carolina Maria Bori; Rodrigo Azzi. São Paulo: EPU, 1974. LEWIN, K. (1942). Field theory and learning. In N. Henry (editor), The forty-first yearbook of the National Society for the Study of Education: Part II, The psychology of learning (pp. 215-242). Chicago: University of Chicago Press. MASLOW, A. H. Motivation and personality. 3th ed. New York: Harper, 1954. Disponível em: <http://s-f-walker.org.uk/pubsebooks/pdfs/Motivation_and_ Personality-Maslow.pdf>. Acesso em: mar. 2017. MILLENSON, J. R. Princípios de análise do comportamento. Trad. Aline de Almeida Souza Dione de Rezende. Brasília, DF: Editora de Brasília, 1975. TODOROV, J. C.; MOREIRA, M. B. O conceito de motivação na Psicologia. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo, v. 7, n. 1, 2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S1517-55452005000100012>. Acesso em: mar. 2017. 21
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