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MARKETING E ESTRATÉGIAS INTERNACIONAIS Autoria: Bruno Saboya de Aragão Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. A659m Aragão, Bruno Saboya de Marketing e estratégias internacionais. / Bruno Saboya de Aragão – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 128 p.; il. ISBN 978-65-5646-277-6 ISBN Digital 978-65-5646-276-9 1. Internacionalização. - Brasil. II. Centro Universitário Leonar- do da Vinci. CDD 658.848 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL ....................... 7 CAPÍTULO 2 O AMBIENTE ESTRATÉGICO INTERNACIONAL ......................... 47 CAPÍTULO 3 MARKETING INTERNACIONAL APLICADO ................................. 89 APRESENTAÇÃO Olá! Seja bem-vindo ao livro do curso de Marketing e Estratégias Internacio- nais. Diante dos desafios impostos a empresas e profissionais no século XXI, é de extrema importância termos um entendimento completo da importância da globa- lização, de mercados internacionais e de como entender e saber aproveitar estas oportunidades ao redor do mundo. Assim, este livro didático tem como grande objetivo apresentar a você con- ceitos e temas relacionados ao atual processo evolutivo das organizações: tor- nar-se internacional, com alcance e impacto globais; atingir diferentes culturas e povos, através de produtos e serviços de qualidade. Para se obter sucesso nesse processo de internacionalização, é importante o estudo de mercados e seus consumidores, a fim de obter informações precisas e assim saber como proceder nesse desafio. Por isso, o estudo do marketing junta- mente com o estudo de estratégias internacionais é de suma importância. Você diria que a Amazon funciona da mesma maneira nos Estados Unidos e no Brasil? E no Brasil e na Argentina, países vizinhos, a empresa apresenta as mesmas atividades e serviços? Poderia uma rede de fast-food apresentar o mes- mo cardápio de países majoritariamente católicos em um país majoritariamente hindu ou islã? Se você respondeu “não” para as perguntas acima, você já tem um entendi- mento da importância do estudo de mercados internacionais e de estratégias que possibilitam uma maior chance de sucesso para empresas que desejam atraves- sar limites geográficos e obter sucesso em outros países. Assim, vamos auxiliar você a se tornar um profissional capacitado a auxiliar qualquer empresa a obter o sucesso internacional. Para isso, este livro está di- vidido em três capítulos. O primeiro trata-se de uma introdução ao tema Marke- ting Internacional, no qual buscaremos entender melhor conceitos importantes relacionados à internacionalização, ao efeito dela nas empresas do século XXI e também aos conceitos ligados ao marketing estratégico. Além de apresentar os conceitos que serão utilizados durante todo o livro, no primeiro capítulo também apresentaremos aplicações mais práticas e estudos de caso sobre internacionali- zações bem-sucedidas. Portanto, vamos, além de apresentar a teoria envolvida, trazer também casos práticos para auxiliar no aprendizado. No segundo capítulo abordaremos diversos temas relacionados ao nível es- tratégico das organizações focadas em expandir seus negócios mundo afora. Pri- meiro, versamos sobre as estratégias e maneiras de internacionalização, como joint venture e licenciamentos. Além disso, discorreremos sobre os conceitos que influenciam qualquer estratégia de internacionalização: a cultura do país destino; e sobre valores, crenças, cultura e a sua influência na internacionalização. No terceiro capítulo versaremos sobre um lado mais prático do marketing internacional, discorrendo sobre o processo de posicionamento de marca no meio internacional: segmentação, seleção de mercado-alvo e posicionamento. Também vamos tratar do famoso mix de marketing de Kotler no contexto de internacionali- zação. A definição de produtos, preços, promoção e praça sofre mudanças nesse contexto? Por fim, no terceiro capítulo, apresentaremos um entendimento introdutório de pesquisas de mercado e sua importância para a internacionalização. Para isso, apontaremos tipos de pesquisa de mercado que podem ser feitas a fim de auxiliar no processo de vendas/entrada em outros mercados. Assim, como no Capítulo 1, apesentaremos aplicações práticas dessas pesquisas, a fim de auxiliar no seu desenvolvimento profissional. Portanto, diversos conceitos, temas e discussões serão apresentados ao longo deste livro. Essas discussões visam o seu desenvolvimento como gestor, proporcionando-o uma visão mais completa do mercado mundial e como atingir o sucesso em novos mercados, novos países e novos povos. Começaremos a entender mais esse tema tão impressionante e atual. CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender os conceitos de marketing estratégico. Entender os conceitos de internacionalização de empresas. Aplicar os conceitos de marketing estratégico nas organizações. Verifi car na prática a internacionalização de empresas de acordo com a teoria. 8 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS 9 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Antes de aprender estratégias de internacionalização e fatores que podem levar ao sucesso ou ao fracasso de uma empresa quando ela decide correr o risco de se tornar um empreendimento mundial, é necessário entender diversos conceitos relacionados ao tema. Assim, o primeiro capítulo deste material está centrado em apresentar con- ceitos ligados ao marketing internacional, entre eles estão: internacionalização, estratégia empresarial e marketing estratégico. Além disso, nele também apre- sentamos diversos estudos de caso e exemplos a fi m de trazer concretude aos conceitos apresentados, mostrando assim o conhecimento adquirido na prática. Começaremos com as seguintes perguntas: afi nal, o que é internacionaliza- ção? Por que uma empresa optaria por entrar em um novo mercado? Qual é o papel do marketing estratégico nesse processo? Ao fi nalizar o estudo deste ca- pítulo, além de responder a essas questões, você entenderá melhor o que é a internacionalização e como o marketing estratégico de uma empresa está ligado a este fenômeno. 2 INTERNACIONALIZAÇÃO E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL Antes de versarmos sobre internacionalização em si e como como esse con- ceito está ligado à estratégia empresarial, precisamos fazer uma breve contextua- lização. Toda a discussão acadêmica e prática sobre o processo de expandir uma empresa para além do limite geográfi co de seu país começa a se desenvolver a partir do fenômeno que chamamos de globalização. Por isso, começaremos este tópico versando sobre globalização, sua defi ni- ção, histórico e impacto nas empresas que pensam em se internacionalizar. 2.1 GLOBALIZAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO Globalização, nas palavras diretas de Al-Rodhan, Nayef e Stoudmann (2006), trata de um processo de aprofundamento internacional da integração econômica, so- 10 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS cial, cultural e política entre países. O termo ganhou muita força no decor- rer da década de 90 e tornou-se algointrínseco nas relações internacionais em pouco tempo. Globalização trata do desenvolvimento e do aprofundamento da rela- ção entre países, tanto em questões econômicas quanto sociais, culturais e políticas. Apesar do termo globalização ter sido adotado e amplamente usado apenas nos anos 90, podemos observar o início do seu desenvolvimento a partir do fi nal da Segunda Guerra Mundial, com a criação de órgãos internacionais e mecanis- mos diplomáticos que visam evitar que o horror ocorrido entre os anos de 1939 e 1945 se repita. Porém, à época, não se tinha uma ideia de desenvolvimento econômico interna- cional. Tal fenômeno ocorre quando temos o desenvolvimento dos mercados fi nan- ceiros mundiais e de blocos econômicos que visavam a melhor negociação entre os países participantes (intrabloco) e entre os países participantes e entidades externas ao bloco. É o caso, por exemplo, do BRICS, bloco de países emergentes, que conta com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (ou, em inglês, South Africa, fechando a sigla BRICS). A existência do bloco permite uma série de acordos entre os países par- ticipantes em diversas áreas, como ciência e tecnologia; energia; saúde; e promoção comercial, tema deste material. Quer saber mais sobre o BRICS e sua importância para o Brasil e todos os países participantes? Acesse: <http://brics2019.itamaraty. gov.br/>. O resultado positivo de blocos econômicos é notório. De acordo com rela- tório do IPEA (2018), os BRICS pularam de 7,7% para 18% de participação nas exportações mundiais. Apesar de diversos desafi os a serem ainda enfrentados, é possível dizer que a criação de blocos econômicos mundiais favorece o desenvol- vimento de seus participantes. Outros exemplos positivos que podem ser desta- cados são os Tigres Asiáticos e a União Europeia. Globalização trata do desenvolvimento e do aprofundamento da relação entre países, tanto em questões econômicas quanto sociais, culturais e políticas. 11 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Seja por meio dos blocos econômicos ou por acordos internacionais isola- dos, é fato que, no século XXI, a globalização e o estreitamento dos laços entre países se tornaram comuns entre nós. As grandes empresas do mundo trabalham em escala global, em redes altamente complexas de fornecimento, produção e entrega de produtos e serviços. FIGURA 1 – ILUSTRAÇÃO SIMBÓLICA DO FLUXO AÉREO INTERNACIONAL, MOSTRANDO COMO ESTAMOS CONECTADOS COM TODO O MUNDO FONTE: <https://bit.ly/3semjon>. Acesso em: 5 jul. 2021. Como apresentado por Valverde (2017) em seu livro intitulado Marketing in- ternacional, atualmente nos encontramos em um cenário comercial em um contí- nuo processo de integração dos mercados nacionais em direção a um único mer- cado global. Esse processo infl uencia de maneira extremamente impactante as políticas dos países, mas também as políticas e ações empresariais, que devem se adaptar a esse novo mundo que estamos observando. O autor ainda defi ne que o avanço da globalização está ligado a uma série de fatores, que estão defi - nidos na fi gura a seguir. 12 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS FIGURA 2 – FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO RÁPIDO DA GLOBALIZAÇÃO FONTE: O autor Primeiramente, os processos de comunicação estão evoluídos a ponto de a informação chegar de maneira instantânea a todas as partes do globo. Tal fato faz com que as relações entre países e também entre empresas se tornem mais efi cazes e as negociações e atuações em novos mercados fi quem mais fáceis. O desenvolvimento das comunicações também facilita o desenvolvimen- to dos processos empresariais, como produção, fornecimento e vendas. Novas tecnologias de comunicação e de produção industrial, como a robotização e a automação, facilitam e barateiam o processo produtivo, aumentando assim a pro- dutividade e fazendo com que empresas ao redor do mundo busquem outros mer- cados alternativos, como veremos mais adiante. Temos para você uma questão de refl exão: como a alta da pro- dutividade pode infl uenciar uma empresa a querer se internacionali- zar? Como isso está relacionado à lei de oferta e demanda? 13 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 O terceiro fator trata do aumento do liberalismo econômico a partir da década de 90, possibilitando governos a adotarem posturas mais focadas no livre merca- do e em políticas que auxiliaram o crescimento de empresas ao redor do mundo. Por fi m, o crescimento econômico de países emergentes ao longo do século XXI também infl uenciou positivamente a globalização, com novos players entran- do em um mercado cada vez mais internacional e novos mercados sendo abertos, principalmente, o mercado chinês. Por se tratar de um fenômeno crescente e inevitável nos dias de hoje, a glo- balização é altamente estudada por economistas, gestores e cientistas políticos. Através desses estudos, foi possível a criação de níveis da globalização a serem analisados. São eles: • Nível mundial, como um processo global de abertura e interdependência econômica. • Nível nacional, relacionado à intensidade que se percebe entre as intera- ções econômicas, culturais e sociais entre países. • Nível setorial, ou seja, a posição competitiva das empresas de determi- nado setor frente ao mercado global. • Nível empresarial, relacionado à intensidade com que uma empresa de- senvolve seus esforços e processos para atender a um mercado interna- cional. Este último nível é o que abordaremos no decorrer deste livro: a globalização a nível empresarial. Focaremos nos esforços e nos processos de empresas ao re- dor do mundo que optaram por adaptar seus processos, produtos e serviços para atingir mercados fora dos limites de seus países de origem. Mais especifi camente, discutiremos estratégias empresariais voltadas à internacionalização desses ne- gócios. Assim, defi niremos agora o que é internacionalização. Harris e Wheeler (2005), em seu texto sobre empreendedorismo e interna- cionalização, defi nem o fenômeno como um processo passado pela empresa, em que ela comercializa seus produtos e serviços externamente ou seu mercado de origem. Além disso, defi nem internacionalização também como um processo planejado que inclui o desenvolvimento deliberado de relacionamentos, através de networking, a fi m de atingir resultados de exportação. Internacionalização é o processo pelo qual uma organização passa a fi m de comercializar seus produtos e serviços fora dos limites de seu país de origem. Internacionalização é o processo pelo qual uma organização passa a fi m de comercializar seus produtos e serviços fora dos limites de seu país de origem. 14 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS Essas defi nições dos autores trazem alguns pontos importantes relacionados à internacionalização. O primeiro é que internacionalização se trata de um proces- so, não é algo que acontece espontânea e rapidamente. O segundo ponto é que o foco desse processo é a saída ou a expansão da empresa para um mercado di- ferente do seu mercado de origem. A terceira é que internacionalização envolve o desenvolvimento de relacionamentos em possíveis novos mercados da empresa. Exploraremos mais cada um desses pontos. Entender a internacionalização como um processo é algo muito importante para gestores de empresas que desejam vender pelo mundo. Ao tratar o tema de maneira pontual e corrida, é provável que etapas importantes, como pesquisa de mercado e entendimento cultural sejam puladas, desfavorecendo o produto ou serviço a ser comercializado. É importante tratar a internacionalização como um processo até como meio de segurança e administração de risco do negócio. Ao se respeitar os passos e o tempo para se atingir um nível de excelência de exportação e vendas, uma orga- nização corre menos riscos desnecessários e acaba adquirindo um conhecimento maior do mercado consumidor que está desejaexplorar. Internacionalização trata-se de um processo. Sendo assim, é importante para um gestor entender os passos que envolvem esse procedimento. Todo processo envolve passos e não é diferente com a internacionalização. Valverde (2017) descreve um processo de cinco passos pelo qual a grande maio- ria dos casos de internacionalização ocorrem. De acordo com o autor, salvo casos excepcionais de aproveitamento de novas tecnologias ou de lançamentos a nível mundial de novos produtos ou serviços, as empresas passam pelo processo de expansão internacional. De uma maneira geral, o processo descrito por Valverde entende que uma or- ganização que decide racionalmente internacionalizar seu negócio comprometerá seus recursos para conseguir esse objetivo à medida que o seu conhecimento so- bre o mercado-alvo internacional aumenta. Portanto, como veremos mais à frente neste material, há uma relação íntima entre internacionalização e informação. 15 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 À medida que essa informação é mais completa e mais segura, a empresa avança no modelo proposto, cada vez mais investindo recursos nas atividades em território estrangeiro. Como pode ser visto na fi gura a seguir, traduzidas do li- vro intitulado Marketing internacional de Valverde, cada uma das etapas demanda mais recursos, pessoas e investimentos para serem atingidos. FIGURA 3 – PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO FONTE: Valverde (2017, p. 17) A primeira etapa, denominada exportação passiva, envolve as empresas que limitam suas relações com mercados internacionais a atender pedidos que chegam esporadicamente, de clientes isolados, porém de fora do seu mercado de origem. Essa etapa chama-se passiva exatamente por conta deste ponto: a inicia- tiva parte do cliente e não da empresa. Imagine que você possui uma empresa de bonecos de feltro da cultura pop para crianças de 3 a 8 anos. Sua empresa atua nacionalmente, entregando por meio de uma empresa de transportes para o Brasil inteiro. Porém, chega no seu e-mail uma mensagem de um potencial consumidor da Argentina querendo comprar os seus produtos. Você deixa de vender por não estar ainda internacionalizado? Normalmente, a resposta será não. Afi nal, trata-se de uma situação de pouco risco, com o pagamento adiantado. O que pode ocorrer são problemas no trans- porte, mas com uma chance muito pequena de real ocorrência. Assim, pode-se dizer que a sua empresa, após atender e enviar o produto ao cliente, encontra-se no primeiro passo do processo de internacionalização. Nesse nível, não há investimentos no mercado estrangeiro, como propagan- da, compra de maquinário etc. Assim, o risco para o negócio é praticamente nulo e não há um objetivo de adquirir um papel mais relevante no cenário internacional. 16 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS Uma organização pode manter-se na etapa de exportação passiva por toda a sua existência, mas, caso seus gestores optem por fi rmar-se mais nos mercados estrangeiros, ela deve passar ao próximo passo, cha- mado exportação experimental. Uma vez que uma organização decide atuar ativamente em de- terminado mercado estrangeiro, ela passa da fase passiva para a fase experimental. De acordo com Valberde (2017), a exportação experimental é a primeira em que a empresa dá relevância real à importância dos mercados externos no seu processo de comercialização de produtos ou serviços. Enquanto na fase pas- siva a empresa não investia em questões como um melhor entendimento do novo mercado-alvo ou possíveis adaptações do produto ou serviço aos novos consumi- dores, na fase de exportação experimental investimentos são feitos para se anali- sar esses tipos de questões. Nessa etapa começa-se a manter contato direto com empresas de importação local, empresas de transporte e todo tipo de acordo co- mercial necessário para que os produtos possam ser vendidos no novo mercado. Uma importante característica da exportação experimental é que ela se man- tém em mercados exteriores que ainda mantém uma relação mais próxima com o mercado de origem, sendo essa relação geográfi ca ou cultural. É o caso da nossa empresa que venderá para a Argentina: vimos que temos possíveis clientes na fase passiva e temos uma aproximação geográfi ca. Nesse passo, portanto, entraremos em contato com possíveis parceiros co- merciais – possivelmente importadoras – e começar também a entender o consumi- dor argentino, para saber se nossos produtos de hoje atendem as suas demandas. Dada a proximidade geográfi ca, social e econômica do novo mercado, estamos ain- da com riscos reduzidos, apesar do maior investimento na internacionalização. À medida que o investimento e a participação no novo mercado aumentam, a empresa passa da exportação experimental para a exportação regular. Aqui, o conhecimento sobre o mercado-alvo já é alto e a empresa passa a desenvolver sua experiência para tomar controle dos processos operacionais que acontecem no país. Em outras palavras, digamos que na segunda fase, a nossa empresa de bo- necos de feltro contratou uma importadora argentina para facilitar a venda dos produtos. Ao planejar passar ao terceiro passo, nossa empresa procuraria tomar parte ativa da importação dos nossos produtos, estabelecendo canais de distribui- ção próprios ou tomar cargo da contratação de transportadoras. Uma vez que uma organização decide atuar ativamente em determinado mercado estrangeiro, ela passa da fase passiva para a fase experimental. 17 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Desta maneira, estamos cada vez mais envolvidos no mercado externo, consciente das possibilidades de crescimento e também mais informado do mer- cado local. Os investimentos no mercado estrangeiro já são substanciais e os ris- cos maiores, porém a possibilidade de lucratividade também é praticamente certa, em caso de pesquisas de mercado feitas da maneira correta. Porém, não paramos por aí. Imagine o sucesso que nossa empresa fez na Argentina, estamos transportando e vendendo produtos de acordo com nossas metas e objetivos. Desta maneira, podemos pensar em estabelecer pontos de venda no mercado externo. Desta maneira, buscamos consolidar-nos mais e mais no mercado. Desta maneira, estamos na quarta fase da internacionalização, de- nominada fi liais no estrangeiro. Nessa etapa, muitos recursos fi nanceiros, hu- manos e materiais são investidos, aumentando assim o risco de atuação. Porém, a empresa conta com um maior controle sobre todo o processo de comerciali- zação de seus produtos no país estrangeiro, conseguindo tomar decisões mais assertivas com relação a vendas e marketing. Por ser uma etapa de grande investimento, pequenas e médias empresas não costumam se aventurar até essa etapa. Porém, em caso de tentativa e suces- so, é uma forma relevante de fi rmar-se como uma grande organização, expoente no seu mercado. Por fi m, temos a quinta etapa do nosso processo de internacionalização, de- nominada centros de produção externos. Aqui, toda a produção é instalada no país estrangeiro, buscando uma produção e distribuição mais efi ciente, reduzindo custos de comercialização desde a central de origem. É o caso, por exemplo, de grandes montadoras de veículos que abrem fábricas em países diferentes do seu país de origem. A General Motors, por exemplo, é uma empresa norte-americana com fábricas, entre outros países, no Brasil, mais especifi camente Gravataí-RS. No caso da empresa, além de servir ao mercado brasileiro, a fábrica atua estrate- gicamente na exportação para nossos vizinhos Argentina, Uruguai, entre outros. Toda e qualquer empresa que já se relacionou com mercados externos pode ser classifi cada dentro das etapas defi nidas por Valverde (2017) em velocidades diferentes a depender de uma série de fatores, tais como: investimento, oportu- nidade, aversão ao risco, entre outros. A atividade de estudo a seguir servepara você captar esse conhecimento na prática e observar as movimentações empre- sariais ao longo do modelo proposto pelo autor. 18 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS 1 O ano de 2021 começou agitado no parque industrial brasilei- ro, com a Ford fechando fábricas e marcando o fi m de uma era no Brasil que durou aproximadamente um século. Com fábricas abertas no país desde 1919, o fechamento das fábricas da em- presa ainda trouxe o fechamento de 5.000 postos de trabalho. Mesmo com o fechamento das fábricas, a Ford continuará ven- dendo seus veículos no Brasil, porém em outro modelo de negó- cio: trazendo os veículos da Argentina e do Uruguai para serem vendidos em território brasileiro. Pode-se dizer, assim, que as ati- vidades internacionais da empresa com o Brasil não se encerra- ram, apesar do fechamento das fábricas. Procure mais sobre o tema e depois responda: de acordo com as etapas descritas anteriormente, em qual etapa estava a Ford no cenário brasileiro? Com o fechamento das fábricas, houve uma mudança? Para qual etapa? O segundo ponto que exploraremos é o fato de a internacionalização ser um processo de saída ou de expansão da empresa para um mercado diferente. Tal movimento requer, variando em volume de etapa para etapa, investimentos fi nan- ceiros e de recursos diversos, o que envolve um risco grande para o empreende- dor ou para os gestores. Por essa razão, torna-se importante entender as principais motivações para a internacionalização. Já que um grande volume de dinheiro, tempo, esforço etc. será investido nesse processo, é necessário entender o motivo para se entrar nele. A primeira delas é a saturação do mercado de origem. Há a possibilidade concreta de uma empresa, à medida que ela cresce no seu mercado de origem, não consiga mais encontrar novos clientes e parceiros comerciais, pelo simples fato de que não há mais possibilidade de expansão nesse mercado. A esse fenô- meno, damos o nome de saturação de mercado. A solução, portanto, para uma empresa que se encontra saturada no seu mercado nacional é a internacionalização, em que procurará expandir suas ven- das e atividades para um novo mercado, procurando novos clientes com quem fazer negócios. Veja o caso das Havaianas no Brasil. 19 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 “Havaianas: com o mundo aos seus pés” é o artigo do site BH1 de marketing e tecnologia que explora o caso da internacionalização das Havaianas, sandálias famosas por todo o mundo. Disponível em: <https://bit.ly/3CLLTGn>. Outra grande motivação para empresas procurarem a internacionalização é a busca por mercados menos competitivos. As empresas buscam ativamente mer- cados em que seus produtos estão em um estágio de expansão de mercado, com poucos competidores ativos. Assim, havendo a demanda por determinado produto comercializado, as empresas internacionalizam seus produtos e serviços para es- tes locais. Essa foi a principal motivação das empresas ao se internacionalizarem a partir do fi m da Guerra Fria, em 1989. Com a abertura dos mercados soviéticos através da chamada Perestroika, diversas organizações ocidentais procuraram adentrar o mercado do leste europeu. Como a competitividade era baixa naquele momento, as empresas que conseguissem os acordos mais rápido estariam em grande vantagem perto de suas concorrentes. Mesmo em tempos modernos esse tipo de motivação ainda ocorre. É o caso da Uber e sua chegada ao Brasil. Sendo a primeira empresa de transporte privado de passageiros a lançar um app de fácil utilização, a empresa teve uma enorme vantagem frente às demais que vieram posteriormente, pelo simples fato de ter chegado a um mercado menos competitivo primeiro. Outra grande motivação para a internacionalização de empresas, especial- mente organizações de grande porte, é o aproveitamento de incentivos fi scais e tributários dados por países que procuram parceiros comerciais. Redução de tarifas de produção e de impostos de importação são dois exemplos possíveis de ocorrer em negociações entre nações e empresas. Aqui temos uma relação que deve ocorrer em mão-dupla: a organização re- cebe incentivos fi scais, traz sua comercialização ou até sua produção para deter- minado país e assim se compromete a gerar empregos, distribuição de renda e aumento de comércio, fazendo a economia girar. Por se tratar de acordos de grande proporção, essa motivação normalmente é buscada por grandes organizações, que possuem o capital e o tamanho para de fato gerar empregos e fazer a economia do novo país crescer. 20 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS Valverde (2017) apresenta ainda uma série de motivações mais específi cas para a internacionalização: acompanhamento da expansão internacional de um cliente estratégico; tornar-se mais próximo dos centros de produção e extração de matéria-prima necessária; como estratégia competitiva para a diversifi cação de risco; como forma de estratégia competitiva para enfrentar competidores de outros mercados; resposta à vocação internacional de pessoas que dirigem a em- presa. Na fi gura a seguir é possível ver uma ilustração e um resumo das princi- pais motivações para internacionalizar um negócio. FIGURA 4 – RESUMO DAS PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES PARA INTERNACIONALIZAÇÃO FONTE: O autor Por fi m, o terceiro ponto das defi nições apresentadas por Harris e Wheeler (2005) gira em torno de um ponto importante para a internacionalização, princi- palmente, de pequenas e médias empresas: a importância dos relacionamentos interpessoais. Se grandes empresas possuem a capacidade de investimento para adentrar mercados estrangeiros sem maiores problemas, contando, inclusive, com aportes fi nanceiros e subsídios tarifários, o mesmo não acontece com as pequenas e mé- dias empresas. Dessa maneira, elas precisam de formas de encontrar mais segu- rança para essa mudança e encontram isso nos seus networkings e capacidade de negociação. É o que mostram Levy, Mota e Wermelinger (2009) no texto intitulado O uso de networks no processo de internacionalização: aplicação a pequenas e médias empresas: ao entrevistar diversos empresários donos de pequenas e médias em- presas, estes concordaram que o networking e os relacionamentos construídos no mercado estrangeiro auxiliaram muito no processo de internacionalização. 21 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 A internacionalização é mais complexa e de maior risco para pequenas e médias empresas, por isso elas buscam desenvolver networks, redes de conheci- mento e seus relacionamentos interpessoais com pessoas localizadas no merca- do-alvo estrangeiro. Para essa pesquisa, os empresários entrevistados faziam parte das mais di- versas áreas industriais (móveis, têxtil, mecânica, comunicação, entre outras) e também faziam negócios com países distintos (países europeus, América Latina, Estados Unidos, entre outros). Independentemente da origem, destino ou produto, a resposta foi linear: conhecer pessoas que já estão inseridas no mercado-alvo estrangeiro auxilia muito o processo de internacionalização. Dentre as principais vantagens descritas pelos empresários do uso do ne- tworking e de redes de conhecimento para a internacionalização, destacam-se: troca de informações sobre o mercado-alvo; melhoria de qualidade do atendimen- to a clientes; padronização de produtos; geração de novas oportunidades de ne- gócio; entre outras. Ficou curioso com o papel do networking e das relações inter- pessoais na internacionalização? Leia o texto de Levy, Mota e Wer- melinger (2009) na íntegra. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/ diversos/down_zips/45/ESO3096.pdf>. Em resumo, o que podemos concluir é que a internacionalização é um pro- cesso que demanda recursos e tempo. Para que seja feita de maneira bem-suce- dida, um entendimento completo do mercado-alvo é necessário, assim como um grande conhecimento das regras, leis e cultura locais. Vimos quea internacionalização pode ter grande valor estratégico para uma empresa, seja para procurar mercados mais lucrativos ou até para encarar seus competidores no “território deles”. Por isso, entender o máximo possível sobre essa estratégia e os pontos cruciais envolvidos no processo é de suma importân- cia para gestores e empreendedores. Quando falamos em entender melhor um mercado, é imprescindível falar so- bre marketing, especifi camente marketing estratégico organizacional. Através das atividades e ferramentas do marketing, é possível estudar melhor o mercado e assim atuar com mais segurança em outros países. Sendo assim, faremos uma retomada de conceitos ligados ao marketing estratégico no tópico a seguir. 22 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS 3 MARKETING ESTRATÉGICO E INTERNACIONALIZAÇÃO A área de marketing mudou muito de papel ao longo da evolução da admi- nistração de empresas como ciência. Se antes marketing signifi cava apenas um acessório da área de comunicação, atualmente, ele é tido como uma das áreas de maior relevância das empresas, sendo responsável por toda comunicação com os clientes da empresa, sendo eles potenciais ou atuais, em fase de compra ou em pós-venda. Desta maneira, o marketing deixou de ser apenas a forma como a empresa se comunica para passar a tratar de toda a forma de relacionamento entre em- presas e sociedade. Englobando questões como pesquisa de mercado, posicio- namento, branding, entre outros, o marketing tornou-se o que conhecemos hoje como uma das principais áreas dentro de uma empresa. O marketing não pode ser confundido com publicidade e propaganda. Marke- ting leva em conta todo o relacionamento de uma empresa ou marca com a socie- dade e utiliza a publicidade para levar mensagens ao seu público-alvo. É natural pensar que, com o crescimento da área e da importância do marke- ting dentro das empresas, houvesse uma divisão de tarefas em nível hierárqui- co. Desta maneira, estudiosos e gestores defi niram três níveis para o marketing: estratégico, tático e operacional. Esta é a mesma divisão usada geralmente por organizações para o desenho geral da empresa. Vamos rever a defi nição de cada um destes pontos agora, aplicando-os ao marketing. FIGURA 5 – OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS DE UMA EMPRESA QUE SÃO TAMBÉM APLICADOS DENTRO DO MARKETING FONTE: <https://www.dinamicaej.com.br/a-importancia-do-pla- nejamento-estrategico/>. Acesso em: 21 jun. 2021. 23 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Faremos essa análise de cima para baixo na pirâmide, analisando primeira- mente o nível estratégico. Esse nível traz as diretrizes e ações de toda a organiza- ção. Aqui, os gestores responsáveis defi nem missão; visão e valores da empresa; e objetivos de longo prazo. A ideia é que a orientação estratégica seja abrangente para todas as ações da empresa e se desdobre posteriormente em níveis hierár- quicos menores. Para que o entendimento hierárquico do marketing fi que mais fácil, pesquise e relembre os níveis hierárquicos organizacionais. Ao entender melhor os níveis estratégico, tático e operacional, será mais fácil entender a divisão dentro do marketing. Para a área de marketing, funciona da mesma forma: o marketing estratégico é responsável pelas decisões e defi nições de longo prazo que serão diretrizes para as atividades de marketing de níveis mais baixos na cadeia hierárquica. Ali- nhado com os objetivos centrais da empresa, o marketing estratégico é responsá- vel por ações específi cas do marketing da empresa, defi nindo as diretrizes merca- dológicas para o sucesso da empresa. Nas palavras de Kotler e Keller (2006), o nível estratégico é responsável pelo planejamento das ações corporativas, envolvendo os planejamentos de corpora- ção, de divisão, de negócios e de produto. Assim, o nível estratégico é responsá- vel pelo direcionamento que toda a empresa dará para suas atividades. Uma vez defi nidas as diretrizes, missão e valores da empresa no âmbito do marketing, todas estas questões são transmitidas ao marketing tático. Aqui, a área de marketing é dividida, e essa divisão ocorre de maneiras diferentes de empresa para empresa. Criação e desenvolvimento de website, gestão de mídias sociais e atendimento pós-venda são algumas das possíveis subáreas do marketing que podem existir dentro de uma organização. A ideia aqui é que, uma vez defi nidas as diretrizes principais pelo marketing estratégico, o marketing tático defi na o papel de cada área no atingimento deste objetivo e assim comece a transformar objetivos mais gerais em objetivos especí- fi cos, voltados para cada área. Não se preocupe, veremos a seguir um estudo de caso breve para praticar esses conceitos em prática. 24 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS Uma vez que a missão está dividida em setores, chega o momento da defi ni- ção de tarefas, atividades e responsabilidades de cada cargo para o atingimento dos objetivos propostos. Assim, chegamos ao nível operacional do marketing. Em poucas palavras, o marketing operacional é o responsável pelas atividades do dia a dia de uma organização. Criar a identidade visual de uma marca, programar o site de vendas, realizar o atendimento on-line dos consumidores e imprimir um banner de propaganda são exemplos de atividades operacionais ligadas ao marketing. Desta maneira, é possível ver que, ao passo que os níveis estratégico e tático possuem diretrizes mais abstratas e a longo prazo, o nível operacional preocupa-se em transformar estes objetivos em atividades e resultados no curto prazo. Na fi gura a seguir estão resumidas as defi nições de marketing estratégico, tático e operacional, mostrando suas principais defi nições e tarefas dentro de uma organização. FIGURA 6 – OS NÍVEIS HIERÁRQUICOS DO MARKETING FONTE: O autor Para que esses níveis fi quem mais fáceis de serem entendidos, vamos pas- sar por um exemplo mais concreto. Imagine que a empresa Havaianas possua um objetivo estratégico de começar a vender seus produtos em todos os países da América Latina no prazo de um ano. Esse objetivo nada mais é do que um 25 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 objetivo estratégico da empresa. Os profi ssionais de marketing devem, portan- to, traduzir esse objetivo para a área. O marketing estratégico o receberá e o transformará em um objetivo mais mercadológico, voltado para consumidores e vendas. Podemos traçar o objetivo de marketing estratégico em algo como: forta- lecer o conhecimento da empresa dos novos mercados a serem atingidos e criar laços primários com os possíveis novos consumidores. Dentro do prazo de um ano, portanto, a equipe de marketing terá esse objetivo como foco central. Para atingi-lo, as diversas áreas de marketing o decomporão em metas de médio prazo, divididas para cada função. Dentro do objetivo de fortalecer o conhecimento da empresa em relação aos novos mercados-alvo, é necessária uma pesquisa de mercado para entender as preferências, atitudes e comportamentos dos consumidores nesses novos países. Assim, a equipe de pesquisa e inteligência de mercado tem um objetivo específi - co: realizar uma pesquisa de mercado nos países em que comercializaremos. Já para a criação de laços primários com os possíveis novos consumidores, podemos criar objetivos para o website da empresa, para a equipe de redes so- ciais e para a equipe de atendimento ao cliente. A equipe de website terá como objetivo adaptar nosso site para a língua espanhola, já que na América Latina fala-se majoritariamente espanhol; a equipe de redes sociais terá o objetivo de criar conteúdos para redes sociais que deixem os seguidores atentos aos novos mercados em que encontrarão nossos produtos; e a equipe de atendimento terá como objetivo capacitar nossos atendentes na língua espanhola. A partir destes direcionamentos táticos, podemos traçar todas as atividades que serão necessárias para que a equipe de marketingatinja seus objetivos, ou seja, conseguimos passar ao nível operacional as atividades necessárias. Para realizar uma pesquisa de mercado nos países em que comercializaremos, por exemplo, será necessário criar a pesquisa, defi nir métodos de coleta e análise de dados etc. Na fi gura a seguir está resumido o “efeito cascata” desses objetivos, desde o nível estratégico até o nível operacional. 26 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS FIGURA 7 – RESUMO DOS OBJETIVOS TRAÇADOS PARA A EQUIPE DE MARKETING, DIVIDIDOS NOS TRÊS NÍVEIS FONTE: O autor Dois pontos devem ser ressaltados aqui: o primeiro é que, apesar do nosso exemplo ter sido feito com apenas três áreas no nível tático e uma ou duas ativi- dades relacionadas à nível operacional, na prática esse tipo de desenho é muito maior, envolvendo mais áreas e uma quantidade grande de atividades; o segundo ponto está descrito no Leo a seguir. Vimos que o marketing pode ser dividido em três níveis: estraté- gico, tático e operacional. Porém, essa divisão parece ser efi caz para empresas de grande porte. O que você acha que pode ser extraído de toda esta explicação para empresas de pequeno e médio porte? É importante salientar que estamos apresentando níveis de objetivos e ati- vidades aqui, e que não necessariamente se traduzem a uma pessoa ou uma equipe para cada atividade. Em empresas pequenas ou até para microempreen- dedores este fl uxo continua sendo válido, porém com uma ou poucas pessoas fazendo parte dele. 27 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Toda empresa precisa de marketing para sobreviver no mercado altamen- te competitivo que vivemos. Assim, seja uma empresa individual ou uma grande multinacional, é importante o entendimento deste fl uxo de criação de objetivos de marketing. No caso dele não ser respeitado, as atividades de marketing, como postagens em mídias sociais, impressão de panfl etos etc. podem não ajudar a atingir o objetivo da empresa. Portanto, para pequenas e médias empresas, o fl uxo de criação de objetivos e atividades apresentado ainda é extremamente valioso, ainda que seja apenas uma pessoa a responsável por toda a cadeia hierárquica de marketing. Com a criação deste fl uxo, é possível um melhor direcionamento das atividades, tornan- do a empresa mais efi caz e mais competitiva. O fl uxo de criação de objetivos e atividades, do mais geral e de longo prazo para a atividade mais específi ca e de curto prazo, deve ser respeitado por qual- quer organização, independentemente do tamanho ou do número de funcionários. Entender os níveis do marketing e a importância de cada um para uma estru- turação efi caz de uma organização é de grande importância para entender o con- ceito de marketing internacional. Sendo o marketing responsável pelo relacio- namento entre uma organização e o ambiente externo como um todo, o processo de internacionalização está intimamente ligado às ações de marketing. Por isso, estudiosos da área criaram o termo marketing internacional. Para Valverde (2017, p. 14), o marketing internacional pode ser defi nido como “o conjunto de estratégias e ações de marketing dirigidas especifi camente para a comercialização de bens e serviços em mercados internacionais, aproveitando as vantagens associadas a crescente globalização dos mercados”. Desta maneira, tanto o nível estratégico do marketing quanto os níveis tático e operacional estão presentes no processo de internacionalização. É importante salientar que, a depender dos objetivos da empresa, seja necessária a divisão da equipe de marketing de maneira diferente, a fi m de delimitar as atividades de in- ternacionalização para uma equipe e as demais atividades para outra. Em termos práticos, as atividades não mudam de maneira substancial entre as atividades de marketing local ou marketing internacional. Como defende Val- verde (2017), atividades operacionais são bem semelhantes entre os tipos. Por exemplo: a criação de um website ou a criação de um post são atividades que demandam o mesmo esforço e os mesmos recursos, sejam elas para o mercado local ou para um novo mercado internacional. A grande diferença entre o marketing internacional e o marketing local resi- de no nível estratégico. A criação de objetivos, metas e estratégias para a inter- nacionalização são de grande responsabilidade e podem defi nir o sucesso ou o 28 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS fracasso de um empreendimento internacional. Em outras palavras, a criação de objetivos estratégicos para novos mercados pode ser um grande desafi o, dada a incerteza e a falta de informações deste novo mercado. Para defender essa visão, Valverde (2017) mostra a complexidade da cons- trução de estratégias de marketing com base em dois pontos: • A distância física entre o centro de produção e o consumidor fi nal: salvo casos de a empresa já possuir centros de produção no país es- trangeiro (fase de centros de produção externo, lembra?), esta distância condiciona a tomada de decisão de marketing, podendo infl uenciar em entregas e consequentemente na satisfação dos consumidores. • A distância psicológica entre os agentes diferentes que participam do processo de comercialização: versaremos mais sobre distância psi- cológica no capítulo seguinte, mas basta entendermos aqui que povos e países diferentes possuem preferências e crenças diferentes, o que torna a criação de objetivos de marketing mais desafi adora. Tanto a distância física quanto a distância psicológica infl uenciam de maneira determinante o desenho de estratégias de marketing em uma organização. Por consequência, todo o processo organizacional de internacionalização torna-se mais complexo por estes fatores. Podemos atestar essa questão na atividade de estudo a seguir. 1 Vamos tratar de analisar um caso de fracasso em internacionali- zação. No ano de 2000, a empresa Habib’s inaugurou sua primei- ra unidade fora do Brasil, na Cidade do México, capital do país com mesmo nome. Utilizando a estratégia de franquias, a empre- sa acreditou que teria sucesso no México tanto pela qualidade do produto, quanto pela capacidade dela de comprar insumos e produzir seus produtos no próprio país destino. O que ocorreu, na verdade, foi outro problema: a aceitação do mercado. Como o produto principal da franquia são esfi has e ele não era conhecido pelo público mexicano, os consumidores pre- feriam não se alimentar no restaurante, dando preferência a ou- tros restaurantes. Dado o caso exposto, qual dos desafi os para a internacionali- zação não foi levado em consideração pelos responsáveis pela aventura internacional do Habib’s? O que poderia ter sido feito para evitar este insucesso? 29 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 O caso de internacionalização do Habib’s ilustrado na atividade de estudo mostra a importância do relacionamento entre a estratégia de internacionalização e o marketing estratégico das organizações. Como o marketing e suas atividades trazem um conhecimento melhor dos mercados consumidores do exterior, esta área possibilita uma maior chance de sucesso no processo de internacionalização de empresas. Inevitavelmente, marketing e internacionalização andam lado a lado para o sucesso. Gostou de ler sobre o caso do Habib’s? Veja o artigo de Thiago, Kubo e Castro (2020) para conhecer mais casos de fracassos inter- nacionais, disponível em: <https://bit.ly/3fWIVES>. Para facilitar o entendimento da relação entre marketing e internacionaliza- ção, Keegan (1997) criou um modelo explicativo, defi nindo a atuação estratégica da empresa e a estratégia de marketing com base na orientação que a empresa deseja seguir. No quadro a seguir são ilustrados os cinco tipos de orientação de- fi nidos pelo autor. QUADRO 1 – QUADRO RESUMO DOS TIPOS DE ORIENTAÇÃO ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E DE MARKETING PARA INTERNACIONALIZAÇÃO Orientação Empresa Enfoque Estratégia Estratégia de marketingNacional Nacional Mercado nacional Nacional Nacional Etnocêntrica Internacional Referência no mercado nacional Internacional Extensão das decisões estratégicas nacionais Policêntrica Multinacional Cada país é único Multidoméstica Adaptação às características de cada território Regiocêntrica Multinacional Zonas com características comuns Multidoméstica em cada zona ou região Identifi cação de zonas homogêneas e adaptação Geocêntrica Global O mundo é um mercado único Global Extensão, adaptação e criação de novas propostas para o mercado global FONTE: Keegan (1997, p. 125) 30 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS O primeiro nível, nacional, trata da perspectiva das organizações que concen- tram seus objetivos e decisões em se fortalecer no mercado nacional de origem. Assim, tanto as estratégias empresariais gerais e as de marketing estão voltadas para o seu próprio mercado, não havendo um esforço para internacionalização. Pense no sistema criado por Keegan (1997) e responda à se- guinte pergunta: uma empresa “abandona” um nível de orientação para ingressar em outro ou estes níveis são incrementais? Em outras palavras: para você, uma empresa que deseja alcançar o nível etno- cêntrico deve abandonar as estratégias de nível nacional? Começamos versar sobre internacionalização e estratégias voltadas para ou- tros mercados no segundo nível, denominado etnocêntrico. Aqui, a estratégia de marketing internacional nada mais é do que uma extensão da estratégia nacional, com foco ainda grande no mercado nacional. Podemos usar como exemplo a ati- vidade de estudo sobre o Habib’s, que levou à expertise que tinha no Brasil para o México. As estratégias de marketing especifi cas para cada mercado começam a ser desenvolvidas na terceira fase, a policêntrica. Aqui, as organizações já enten- dem o potencial de crescimento nos mercados internacionais que a sua empresa possui, e, portanto, criam estratégias de marketing adaptadas para cada território ou país para o qual deseja internacionalizar seus produtos e serviços. Neste nível a empresa também começa a dar grande importância para iden- tifi car e aproveitar diferenças culturais, políticas, físicas, econômicas e sociais de cada mercado. A fi m de traçar as melhores estratégias de marketing para cada mercado, é necessário o entendimento profundo de cada um deles, demandando assim pesquisas de mercado. À medida que a empresa expande suas ações para diversos países e au- menta o seu nível de conhecimento sobre as diferenças descritas acima, ela co- meça a perceber similaridades entre diversos países. Essas similaridades podem ser geográfi cas, de crenças, de preferências, entre outras. Com esse conheci- mento, a empresa pode criar regiões de atendimento internacional e assim alcan- çar o nível chamado regiocêntrico. 31 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 No ponto de vista do marketing, essa criação e regiões ou zonas homogê- neas trazem a necessidade de criação de estratégias adaptadas para cada uma destas regiões. Vale ressaltar aqui que, apesar de geralmente essas divisões se- rem realizadas com bases geográfi cas, outros fatores podem servir de critério. Em um exemplo hipotético, uma organização que comercializa produtos religiosos católicos mundo afora pode dividir seus merca- dos não geografi camente, mas sim em porcentagem da população católica no país. Dessa maneira, teríamos um grupo com países como Argentina, Portugal e Filipinas (mais de 80% de católicos), um grupo com Brasil, Bélgica e Cabo Verde (de 60% a 80% de católicos na população), e mais um com Uruguai, Reino Unido e Ruanda (me- nos de 60% de católicos). Dessa maneira, as regiões criadas não se assemelham em nada geografi camente. A curiosidade apresentada no Leo mostra como não necessariamente a separação de regiões por geografi a é a melhor possível. Do ponto de vista do marketing, estratégias diferentes poderiam ser desenhadas para países no pri- meiro grupo (Argentina, Portugal e Filipinas), ao passo que outras estratégias se- riam desenhadas para os outros grupos. Porém, este não é o caso de empresas que estão no último nível de orientação de estratégias. No nível geocêntrico, temos o ponto em que a empresa desenvolve suas estratégias de marketing numa perspectiva global, levando em consideração um processo padronizado de atividades, que por sua vez cria um sistema integrado de decisões, independente de país, cultura ou diferenças entre países. Em um mundo cada vez mais globalizado, estamos vendo cada vez mais o atingimento do nível geocêntrico por várias empresas. É o caso, por exemplo, do Instagram, rede social mundialmente utilizada para o compartilhamento de fotos e dos nossos momentos de lazer. O Instagram, empresa do grupo Facebook, pos- sui uma estratégia única para o mercado global, não se diferenciando especifi ca- mente para nenhuma região do planeta. Em qualquer país livre, você pode baixar o aplicativo no seu celular e terá as mesmas funcionalidades. A ideia de que as diferenças existentes entre mercados nacionais distintos estão sendo superadas e as semelhanças são cada vez mais evidentes, graças 32 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS ao processo de globalização. Assim, cada vez mais, o mundo se torna um lugar mais homogêneo, o que possibilita as empresas adotarem estratégias globais, também homogêneas, para o mundo todo. Esse modelo criado por Keegan (1997) nos auxilia a entender melhor o pos- sível crescimento de uma empresa com relação ao seu nível de internacionaliza- ção, mas seu principal objetivo é conectar os tipos de estratégias empresariais com as estratégias de marketing, criando assim, dentro da empresa, a ideia de marketing internacional. Desta maneira, as estratégias de marketing devem estar alinhadas com a es- tratégia da empresa como um todo, a fi m de tornar qualquer processo de interna- cionalização mais efi caz, sem desperdício de recursos ou retrabalho. Aplicaremos na prática o modelo apresentado com uma breve atividade de estudo. 1 A reportagem da gazeta do povo sobre a empresa MadeiraMa- deira, feita em janeiro de 2021, toca em diversos pontos do cres- cimento da empresa ao longo dos anos e planos para o futuro. Na pergunta da jornalista Maria Clara Dias para os criadores da empresa “A MadeiraMadeira tem planos de internacionalização também?”, a resposta foi a seguinte: “Internacionalização não está nos nossos planos ainda. Sabemos que o Brasil ainda nos dá muita possibilidade de crescer e pre- ferimos investir aqui para criar essa experiência única no nosso segmento por aqui. No futuro, é uma chance.” Leia mais em: <https://www.gazetadopovo.com.br/gazz-conecta/ como-a-madeiramadeira-pretende-ganhar-o-mercado-brasileiro- -em-2021/>. Pensando no modelo de Keegan (1997) apresentado e na res- posta dada, em qual nível de estratégia de internacionalização estava a empresa MadeiraMadeira em janeiro de 2021? a) ( ) Nacional. b) ( ) Etnocêntrica. c) ( ) Policêntrica. d) ( ) Regiocêntrica. e) ( ) Geocêntrica. 33 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Marketing e internacionalização são duas áreas de gestão que andam lado a lado e a defi nição de estratégias bem feita a nível organizacional traz grande chance de sucesso em uma estratégia de marketing internacional. Esperamos que essa relação e a importância desses pontos tenham fi cado claras para você. Com o objetivo de deixar os pontos estudados até aqui ainda mais claros, na próxima seção do capítulo descreveremos aplicações práticas dos modelos apresentados, através da análise de estudos de caso de marketing internacional e internacionalização. 4 INTERNACIONALIZAÇÃO E MARKETING INTERNACIONAL: ESTUDOS DE CASO Para verifi car o efeito da internacionalização nas estratégias de marketing, observaremos neste subtópico alguns estudos de caso e aplicaremos as teorias vistas até aqui nos casos das empresas.Começaremos com o caso da Osklen, empresa brasileira do ramo da moda. Uma análise mais minuciosa do caso pode ser vista no trabalho de Mansur, Rocha e Pacheco (2011). 4.1 OSKLEN: INTERNACIONALIZANDO A MODA NACIONAL A primeira empresa que analisaremos é a Osklen. Ela é brasileira e foi criada no estado do Rio de Janeiro. O seu processo de crescimento é curioso por se tra- tar de uma empresa que reformulou seu rol de produtos, como veremos a seguir. • Contextualização Curiosamente, a marca Osklen foi criada já pensando no mercado interna- cional. Afi nal, ela iniciou suas atividades no começo dos anos 90 comercializando casacos de neve na cidade de Búzios, no litoral do Rio de Janeiro. A ideia, claro, não era vender os casacos de neve para cariocas, mas sim aproveitar o público estrangeiro que visitava a cidade de Búzios e comprava os casacos para uso em seus países de origem. Apenas em 1996, cinco anos após a loja ser aberta, a Osklen decidiu repensar seu mix de produtos, lançando assim bermudas de surf e outros produtos mais rela- 34 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS cionados ao seu mercado de origem. A partir dessa reformulação, a empresa tornou- -se nacionalmente famosa e decidiu, em 2003, internacionalizar suas atividades. Um destaque deve ser dado ao caso de internacionalização da Osklen: ao passo que a marca se caracteriza por um posicionamento voltado à prática de surf e um estilo de vida ligado ao esporte, o posicionamento no exterior é outro, sendo apresentada como uma marca de luxo. Outro ponto interessante do processo passado pela Osklen foi o investimento estrangeiro. Veremos mais sobre estratégias de internacionalização no capítulo se- guinte, porém, é importante salientar aqui que a Osklen teve seu processo de entrada em mercados estrangeiros facilitado pela forma como foi feito: através de franquias. Desta maneira, com o investimento vindo de Portugal, o processo de inter- nacionalização torna-se menos arriscado para a própria Osklen, o que facilita de uma maneira geral todas as atividades. A escolha por Portugal foi feita com base na semelhança entre o público lusitano e o público brasileiro. Questões culturais e linguísticas foram chave para que os in- vestidores internacionais acreditassem no sucesso da marca brasileira em Portugal. Diferente do processo de franquias em Portugal, a internacionalização da marca para os Estados Unidos em 2007, mais especifi camente Nova Iorque, foi feita de maneira diferente: a própria empresa abriu a loja na cidade estaduniden- se, deixando de lado o processo feito por franquias, por acreditar que a cidade americana seria um ponto extremamente estratégico para o processo de cresci- mento da marca. FIGURA 8 – FRANQUIAS SÃO BOAS OPÇÕES DE FACILITAÇÃO DE INTERNACIONALIZAÇÃO, JÁ QUE PARTE DO PROCESSO PRODUTIVO FICA A CARGO DOS COMPRADORES FONTE: <https://www.litmos.com/pt-BR/blog/articles/3-reasons-every- -great-franchise-starts-culture-learning>. Acesso em: 21 jun. 2021. 35 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 O posicionamento da marca em Nova Iorque seguiu os modelos internacio- nais da Osklen, vendida como uma marca de luxo. Isso pode ser visto pela loca- lização da loja, no bairro do Soho, ao lado de lojas como Gucci e Channel. Em 2021, a Osklen conta com lojas nos Estados Unidos (Nova Iorque e Miami), Gré- cia (Mykonos) e Uruguai (Punta del Este e Montevideo). • Análise do processo de internacionalização Antes de começarmos a levantar ponto a ponto relacionados ao processo de internacionalização da Osklen, vale ressaltar que a empresa já foi pensada inicialmente para atender ao mercado estrangeiro, porém dentro do Brasil. Desta maneira, não podemos dizer que ela já nasceu internacional, afi nal ela atendia apenas no território nacional. Outro ponto importante que vale a ressalva foi a reestruturação da marca, passando a oferecer uma maior gama de produtos, expandindo de casacos de neve para também vender peças de clima mais tropical. Tal estratégia pode ser considerada de marketing, mas não de marketing internacional, visto que a marca ainda não tinha passado a comercializar seus produtos fora do Brasil. Com a chegada de investidores de fora o processo de internacionalização da Osklen realmente começou. Como esse processo envolveu uma empresa media- dora, que cuidava da venda de artigos da marca no mercado exterior por meio de franquia, pode-se enquadrar a internacionalização da Osklen para Portugal em 2003, no modelo apresentado por Valverde (2017) (Figura 3) de nível de interna- cionalização, como na fase de exportação experimental, na qual contamos com parceiros para a exportação e internacionalização. Ainda analisando a história da Osklen pelo modelo oferecido por Valverde (2017), a expansão para Nova Iorque aconteceu de outra maneira, sendo a pró- pria empresa responsável pela abertura da loja e pela comercialização. Assim, podemos dizer que ela se instalou em Nova Iorque no nível de fi liais no estran- geiro do modelo. O caso da Osklen ilustra que o nível de internacionalização de uma empresa pode ser diferente em diferentes mercados estrangeiros. Uma mesma empresa pode ter níveis diferentes de internacionalização ao mesmo tempo em diversos países. O melhor nível de internacionalização sempre dependerá do contexto em que a empresa está inserida. Outra análise interessante a ser feita no caso da Osklen é a das estratégias de marketing utilizadas. No Brasil, a marca é tida como moda esportiva e de um estilo de vida ligado à natureza e à prática de esportes. Porém, para o público do exterior, a escolha de posicionamento foi diferente, portando-se como uma marca de luxo. 36 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS Esse direcionamento estratégico se traduziu em decisões de marketing, como a escolha do ponto da loja em Nova Iorque e o tipo de produto comerciali- zado mundo afora. Fica claro neste estudo de caso a importância da ligação entre estratégias organizacionais e estratégias de marketing para que o processo de internacionalização seja um sucesso. A partir do modelo de Keegan (1997), podemos observar que as estratégias de marketing utilizadas pela Osklen no exterior eram diferentes em relação às es- tratégias usadas no mercado nacional. Desta maneira, podemos classifi car a em- presa com estratégias policêntricas. Tal classifi cação se justifi ca também pelo fato de a forma de internacionalização ter sido diferente em Portugal (franquia, menor distância psicológica, menor importância estratégica) e Nova Iorque (loja própria, maior distância psicológica, maior importância estratégica). Mais um ponto interessante do caso da Osklen envolve as motivações para a internacionalização descritas por Valverde (2017) e que foram apresentadas nes- se capítulo. No caso da internacionalização para Portugal, uma nova motivação, que não pode ser enquadrada no modelo de Valverde, foi identifi cada: uma moti- vação externa, promovida por investidores estrangeiros. No caso da internaciona- lização de Nova Iorque, podemos inferir que a principal motivação era o aproveita- mento de um novo mercado, o que pode envolver tanto a busca por um mercado menos competitivo quanto a diversifi cação de risco. No próximo estudo de caso, examinaremos a empresa Tigre, que atua no ramo de construção, comercializando peças diversas. 4.2 TIGRE: UMA DAS MAIORES INTERNACIONALIZAÇÕES DO BRASIL Nosso segundo caso é sobre uma das empresas brasileiras de maior suces- so no quesito internacionalização, a Tigre. Analisaremos seu histórico e, claro, seu processo de expansão para o mercado estrangeiro em diversos países. • Contextualização O relatório Trajetórias de Internacionalização das Empresas Brasileiras da Fundação Dom Cabral traz um panorama das grandes empresas nacionais e suas atuações no exterior. Dentre as maiores empresas em nível de mercado estran- geiro do Brasil, destaca-se a empresa Tigre, do ramo de materiaisde construção. 37 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Quer saber mais sobre o relatório Trajetórias de Internacionali- zação das Empresas Brasileiras da Fundação Dom Cabral? Acesse em: <https://bit.ly/3fTyK45> A Tigre atua desde 1941 no Brasil e teve a sua primeira experiência inter- nacional no Paraguai, no ano de 1977. Nesse mesmo ano, a Tigre obteve sua primeira subsidiária de vendas e sua primeira planta manufatureira fora do país. Hoje, a Tigre está em diversos países, como Argentina, Bolívia, Chile, Colôm- bia, Equador, EUA, Peru e Uruguai, com fabricação local em todos esses países. No ramo de tubos, conexões e acessórios em PVC, a empresa é uma das maio- res do mundo. Um dos destaques nestes anos todos de internacionalização ocorreu em 2016. Com o crescimento da mexicana Amanco na América Latina, a principal concorrente da Tigre no mercado de tubos e conexões, a empresa percebeu a necessidade de dividir seus esforços de investimento entre o mercado nacional e o internacional. Dado também o contexto brasileiro de queda abrupta no ramo de constru- ção civil a partir de 2015, a Tigre optou por reforçar os investimentos no merca- do externo, aumentando sua participação em países da América Latina, atingindo um nível inédito de crescimento de investimentos fora do país para o ramo de construção, chegando o faturamento internacional a 30% do faturamento total da empresa. Tal esforço fez com que a empresa se mantivesse estável durante um período de queda no ramo de construções no Brasil e se mantivesse no topo do marketshare global do mercado. O processo de internacionalização que começou a ocorrer nos anos 70 pela Tigre pode não ter sido devagar, mas foi sim planejado para o sucesso. De acordo com o texto de Nunes e Oliveira (2012), os empresários responsáveis pela empre- sa à época selecionaram os países da América do Sul principalmente por causa da proximidade do Brasil. Destaca-se que o processo de internacionalização da Tigre para diversos pa- íses foi feito de maneira diferente, a depender do mercado concorrente de cada um deles. Nos casos do Chile, da Argentina e da Bolívia, a Tigre se internacio- nalizou comprando empresas locais, como a Plasmar (Bolívia) e a Santorelli (Ar- 38 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS gentina). Já nos Estados Unidos e no Equador, por exemplo, a Tigre inaugurou primeiramente centros de distribuição e, posteriormente, unidades fabris. Ainda de acordo com Nunes e Oliveira (2012), as principais motivações para a internacionalização da Tigre foram a saturação do mercado brasileiro, no qual teriam difi culdade de encontrar um novo público relevante para o aumento das receitas, e também por pressão exercida pela concorrência, como o caso de 2016 com a Amanco. Além disso, de acordo com o texto, a internacionalização serviu para que a Tigre não dependesse exclusivamente do mercado interno. Outro ponto levantado pelo trabalho é a barreira cultural nos países destino. Para um dos gestores da Tigre (entrevistado para o trabalho), a barreira cultu- ral não se caracteriza como um problema, mas sim como uma oportunidade de aprender como os negócios funcionam em países diferentes, entender essas dife- renças e obter sucesso. Finalizando, vale ressaltar também que o processo decisório e estratégico da empresa tem como centro as atividades no Brasil. Apesar das fábricas serem instaladas em solo estrangeiro, as diretrizes são as mesmas criadas para o mer- cado nacional e replicadas nos diversos países nos quais a Tigre possui fábricas e comercialização ativas. • Análise do processo de internacionalização Primeiramente, analisaremos o nível de internacionalização da Tigre de acordo com o modelo de Valverde (2017), que está na Figura 3. Vamos deixar para versar sobre compras de empresas estrangeiras no Capítulo 2 deste ma- terial, mas podemos ver aqui que em diversos países a empresa possui fábricas funcionando, enquanto em outros pela possui centros de distribuição, que atuam como centros de vendas. Assim, de acordo com o modelo, podemos dizer que a Tigre atua em nível de fi liais no estrangeiro em alguns países e, em outros, nos quais possui fábricas, já se encontra no nível de centros de produção externos. Novamente, vemos uma empre- sa com níveis de internacionalização diferentes a depender do país destino exami- nado. Tal análise mostra que a Tigre está em nível avançado de internacionalização. Pode-se ver no processo de internacionalização da Tigre que a estratégia es- colhida não foi a de encurtar a distância psicológica, como no caso da Osklen com Portugal, mas sim encurtar a distância geográfi ca. Desta maneira, a empresa expan- diu para mercados mais próximos em uma primeira fase, como Paraguai, Argentina e Chile, para então expandir a mercados mais distantes como os Estados Unidos. 39 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 FIGURA 9 – APESAR DA DISTÂNCIA PSICOLÓGICA E DAS DIFERENÇAS CULTURAIS, MUITAS EMPRESAS BRASILEIRAS OPTAM POR INTERNACIONALIZAR PRIMEIRO PARA A AMÉRICA LATINA, DADA A PROXIMIDADE GEOGRÁFICA FONTE: <https://www.qs.com/how-are-international-offi ces-in-latin-america-de- veloping-their-internationalization-strategies/>. Acesso em: 21 jun. 2021. A escolha por países mais próximos geografi camente faz sentido quando fa- lamos do outro tipo de estratégia adotada pela empresa. A Tigre optou por manter as diretrizes estratégicas de suas novas fábricas e pontos de distribuição cen- tradas no Brasil. Desta forma, as diretrizes eram passadas de forma mais rápida para as fi liais estrangeiras (vale lembrar que, no caso da expansão para o Para- guai nos anos 70, por exemplo, não tínhamos internet para comunicação). Desta maneira, de acordo com o modelo de Keegan (1997) apresentado aqui neste capítulo, podemos afi rmar que a Tigre se encontra no nível estratégico de internacionalização etnocêntrico, no qual as decisões estratégicas da empresa e de marketing são defi nidas no país de origem e replicadas para as fi liais estrangeiras. Por fi m, analisaremos as motivações da Tigre para a internacionalização. Independentemente do ano e do país de origem, o que fi ca claro é que as ex- pansões para o mercado estrangeiro sempre tiveram um ponto em comum: a sa- turação do mercado brasileiro. O maior investimento no ano de 2016, descrito anteriormente, também teve como base a queda do mercado de construção civil nacional, por exemplo. 40 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS Outro ponto importante foi a expansão da Amanco, sua principal concorrente a nível de América Latina. Tal concorrência, que chegou a fazer frente com a Tigre no mercado, fez com que os gestores da empresa investissem mais no mercado da América Latina, para que a organização não perdesse mercado. Assim, outra motivação identifi cada na internacionalização da Tigre e no seu fortalecimento em mercados estrangeiros foi a forma de enfrentar a competição. O caso da Tigre ilustra também uma falácia que ocorre quando falamos do nível de internacionalização de empresas e o tipo de estratégia que ela opta. Ten- demos a acreditar que quanto maior a empresa, mais perto do nível global ela se encontra. Porém, como mostra o caso da Tigre, uma grande empresa presente em diversos países, é possível que empresas gigantes ainda possuam as deci- sões estratégicas fi xas no país de origem. Não há necessariamente uma vantagem ou uma desvantagem nessa opção. O que ocorre é uma maior dependência das unidades internacionais em relação a uma matriz no país de origem. É o mesmo caso, por exemplo, do McDonald’s, que extrai suas diretrizes dos Estados Unidos para o resto do mundo. Ainda que cada canto do mundo tenha peculiaridades, as estratégias empresariais e de marketing são as mesmas ao redor do globo. Para fi nalizar, observaremos mais um estudo de caso de internacionalização, desta vez da empresa Havaianas. 4.3 HAVAIANAS: REPOSICIONAMENTOE INTERNACIONALIZAÇÃO Outra empresa de origem brasileira com grande impacto internacional é a Havaianas, que é de vestuário. Sua capacidade de se reformular a partir dos anos 90 é tratada como um grande estudo de caso, inclusive para a nossa área de in- ternacionalização de empresas, como apresentaremos a seguir. • Contextualização É possível que todos os brasileiros conheçam a Havaianas. Presente em todos os níveis sociais, a diversos preços e em todo tipo de loja (desde shoppings de luxo até açougues), as sandálias da empresa são hoje um sinônimo de brasilidade. Porém, nem sempre a empresa foi esse sucesso. Criada em 1962, ela ven- 41 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 deu o mesmo modelo de sandálias durante décadas. Com a queda brusca nas vendas durante os anos 80, os gestores observaram a necessidade de mudança. Com base em estudos de mercado diversos, em 1996, a empresa começou a co- mercializar sandálias de cores diferentes, começando pelo modelo Top. A partir daí, inúmeros tipos, cores, patrocínios, parcerias etc. foram fechados e a empresa se tornou o que é hoje: a vendedora número 1 de sandálias no Bra- sil, com lojas por todo o país. Porém, apenas o mercado nacional fi cou pequeno para a ambição das Havaianas. Vale ressaltar que a empresa já tinha parcerias de exportação para a Améri- ca Latina antes dos anos 90. Porém, com o salto de patamar a partir de 1996, a empresa procurou novos mercados, a fi m de aumentar ainda mais sua participa- ção no nicho mundial de sandálias. Dessa forma, a empresa objetivou exportar seus produtos para os Estados Unidos e para a União Europeia. De acordo com o estudo de Mourad e Serralvo (2014), os motivos foram dife- rentes para cada um desses mercados. Nos Estados Unidos, a principal motivação era o nível de consumo dos norte-americanos; já a União Europeia foi escolhida pela forte economia e por ter os países considerados referência no mundo da moda. FIGURA 10 – PROPAGANDA DAS HAVAIANAS VEICULADA NA EU- ROPA, MISTURANDO HISTÓRIA EUROPEIA E O PRODUTO FONTE: <https://www.adsoftheworld.com/media/print/ha- vaianas_statue_2>. Acesso em: 21 jun. 2021. A empresa possuía um modelo linear de processo de internacionalização. Pri- meiramente buscava parceiros comerciais para realizar as vendas, e, em caso de 42 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS sucesso no país, a empresa abriu a sua própria subsidiária para se aproximar ainda mais do mercado e facilitar a relação entre a marca e seu novo público consumidor. Analisando o processo de crescimento da marca no Brasil e nos outros pa- íses, a empresa mostrou estratégias diferentes: no mercado internacional, prin- cipalmente Estados Unidos e União Europeia, a marca internacionalizou-se com um posicionamento superior, de qualidade e status. O público-alvo escolhido foi o chamado topo da pirâmide. Tal posicionamento inicial foi muito diferente do po- sicionamento inicial no mercado brasileiro, focado em pessoas de baixa renda (MOURAD; SERRALVO, 2014). Esse posicionamento diferente no começo se mantém: alguns produtos são comercializados apenas no mercado exterior, como é o caso do Urbis Summer Mid, tênis da marca e que é vendido nos Estados Unidos. Porém, nem tudo é diferente: algumas estratégias de marketing da empresa no Brasil são feitas de maneira se- melhante fora, como a utilização de celebridades nos materiais promocionais. Quer saber mais sobre a história das Havaianas? O site da em- presa possui uma apresentação interativa sobre o tema, acesse em: <https://havaianas.com.br/history.html>. Vale ressaltar que o processo de internacionalização da empresa não é algo fácil. Como apresentado pela head de marketing e comunicação Mariana Rhor- mens, “Antes de ir para o exterior, é preciso fazer um estudo profundo das ca- racterísticas de cada mercado, o que envolve desde hábitos do consumidor até legislação” (SBVC, 2019). Essa fala expõe a importância dada pela empresa ao processo de comercialização com mercados estrangeiros. • Análise do processo de internacionalização Mantendo a ordem de análise dos outros casos, primeiramente analisaremos o nível de internacionalização da empresa de acordo com o modelo de Valverde (2017). Podemos dizer que as Havaianas adotaram um processo de internaciona- lização que se inicia com a exportação regular, ainda com parceiros comerciais e, em caso de sucesso, evolui para o nível de fi liais no estrangeiro, com a criação de lojas próprias. 43 INTRODUÇÃO AO MARKETING INTERNACIONAL Capítulo 1 Tal nível de internacionalização, além do volume de países que comerciali- zam Havaianas, mostra que a empresa atingiu um grande nível de internacionali- zação e relacionamento com mercados estrangeiros. Vale ressaltar que a empre- sa não possui fi liais fabris em outro país que não o Brasil, não alcançando assim o nível de centros de produção externos. Na análise de estratégias, podemos observar que a empresa não teve as distâncias geográfi cas e psicológicas como fator imperativo durante sua expansão nos anos 2000. Antes disso, no entanto, a empresa focava seus esforços inter- nacionais na América Latina, respeitando assim uma menor distância geográfi ca. Porém, com a expansão global, essas distâncias foram deixadas de lado e a con- fi ança no sucesso no mercado consumidor europeu e norte-americano funcionou. Com relação a estratégias empresariais e de marketing, podemos afi rmar que o posicionamento diferenciado da empresa nos mercados estrangeiros cita- dos indica uma atuação policêntrica, em que a estratégia é defi nida de acordo com cada país ou região, de acordo com Keeger (1997). Na prática, já que o posi- cionamento das Havaianas na Europa e nos Estados Unidos é de uma marca de luxo, seus pontos de vendas, peças publicitárias e campanhas devem atingir este público, ao passo que no Brasil estes esforços devem ser mais universais, para todas as classes sociais. As Havaianas possuem posicionamento diferente na Europa em relação ao Brasil e isso faz com que as estratégias de marketing sejam diferentes nessas duas regiões. Com relação às motivações de internacionalização, pode-se dizer que a ex- pansão e o reposicionamento de sucesso da empresa fi zeram com que o merca- do interno brasileiro fi casse pequeno, motivando assim as Havaianas a internacio- nalizar-se em razão da saturação do mercado doméstico. Podemos analisar o caso das Havaianas também em relação à motivação em explorar mercados menos competitivos. No caso de sandálias de alta qualida- de (e especifi camente este produto), a entrada das Havaianas nos mercados de fora pode ser considerada uma melhoria signifi cativa para os mercados externos. Esses foram os estudos de caso que separamos para você entender, através de uma leitura mais prática, os diversos conceitos apresentados neste capítulo. Faremos, a seguir, uma recapitulação do que estudamos. 44 MArKETiNG E ESTrATÉGiAS INTErNACioNAiS 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O grande objetivo neste capítulo era passar diversos conceitos importantes sobre internacionalização de empresas e marketing estratégico, além de fechar o entendimento desses conceitos com estudos de caso de empresas brasileiras que passaram pelo processo de internacionalização. Primeiro, traçamos uma contextualização sobre globalização e crescimento de mercados, para então defi nirmos o que é internacionalização. Internacionaliza- ção foi defi nida como o processo que uma organização passa a fi m de comerciali- zar seus produtos e serviços fora dos limites de seu país de origem. Após defi nir o conceito, mostramos um modelo, criado por Valverde (2017), para avaliar o nível de internacionalização em que uma empresa se encontra. Tal modelo auxilia gestores a traçar possíveis novos objetivos para as organizações e também a analisar a sua concorrência com relação ao seu nível de internacionali- zação. Por fi m, analisamos as principais razões pelas quais
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