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Aula 1 - Geografia Econômica Mundial

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GEOGRAFIA ECONÔMICA 
MUNDIAL 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alceli Ribeiro Alves 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Geografia econômica é um ramo do conhecimento que se preocupa em 
estudar a influência do espaço geográfico em determinadas atividades e 
processos econômicos, bem como se dedica à análise dos impactos e 
implicações causadas por tais atividades e processos no espaço geográfico. 
Conforme veremos, é uma disciplina multi e interdisciplinar por natureza. 
Esta aula tem o objetivo de fornecer a você os conhecimentos necessários 
para a compreensão do objeto de estudo da geografia econômica e demonstrar 
que esta disciplina possui diversos pontos de interseção com outras áreas do 
conhecimento, sobretudo com o comércio exterior, mas também com a 
economia, a matemática, a estatística, a administração e a ampla área de 
negócios. 
A partir desta aula, e ao longo das demais, você será capaz de 
compreender a importância da geografia econômica para o estudo das relações 
no âmbito do comércio internacional e para o exercício de qualquer atividade 
econômica. Você terá a oportunidade de desenvolver ainda diversas 
competências conceituais e técnicas que serão bastante úteis para sua formação 
e para o exercício de sua atividade profissional. 
CONTEXTUALIZANDO 
As relações entre os países, regiões e indústrias e suas implicações no 
âmbito do comércio internacional e do desenvolvimento têm se tornado cada vez 
mais complexas. Certos países estão preferindo adotar um posicionamento mais 
protecionista, fechando-se para as importações estrangeiras ou impondo taxas 
alfandegárias mais elevadas com o objetivo de reprimir as importações. Este é 
o caso dos Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump. 
Já outros países buscam se fortalecer na escala das macrorregiões 
constituindo parte ou membro integrante de blocos econômicos, como no caso 
de Alemanha e França, que têm buscado manter a própria existência do bloco e 
sustentar as relações no âmbito da União Europeia. 
Outros países ou regiões, como o Reino Unido, por exemplo, reconhece 
as vantagens da integração regional e dos benefícios econômicos de fazer parte 
da União Europeia. Contudo, não quer abdicar de sua soberania e deseja adotar 
uma postura mais fechada, inward-looking, sobretudo quando se considera os 
 
 
3 
problemas relacionados às migrações internacionais, ao desemprego, ao 
aumento do uso do Estado para suprir as necessidades de cidadãos e residentes 
oriundos de outros países. 
Sem dúvida, todas essas questões possuem fatores geográficos e 
econômicos influenciando as relações em diferentes escalas geográficas, 
gerando resultados positivos e negativos para os países envolvidos no processo 
de globalização. A geografia econômica se preocupa em entender essas 
relações, considerando fatores econômicos e geográficos. 
Entretanto, antes de tentarmos entender a importância desta disciplina no 
contexto da grande área de comércio exterior, faz-se necessário compreender 
inicialmente o que é geografia e qual seu objeto de estudo. Igualmente 
necessária é a tarefa de se entender o caráter de especificidade da geografia 
econômica e como ela pode contribuir para o desenvolvimento de competências 
conceituais e técnicas indispensáveis aos profissionais da área de comércio 
exterior. Portanto, esses serão os objetivos a serem alcançados nesta aula. 
TEMA 1 – GEOGRAFIA – UMA PERSPECTIVA PARA SE COMPREENDER OS 
FENÔMENOS DA REALIDADE E NA ATUALIDADE 
1.1 Percepção de acordo com determinado ponto de vista 
Cabe ressaltar que toda e qualquer análise científica sempre é pautada 
por um conhecimento prévio; um repertório teórico, conceitual e metodológico; 
um olhar ou perspectiva que se adota e aplica. Tal análise não ocorre sem 
critérios, competências ou no mínimo com algumas ferramentas essenciais para 
se compreender e explicar os fenômenos. 
Sem dúvida, é correto admitir também que a escolha de dado referencial 
ou perspectiva acaba influenciando no tipo de análise e percepção que se pode 
ter acerca de uma mesma informação factual. Afinal, determinado fenômeno ou 
realidade pode ser interpretado e analisado segundo diferentes pontos de vista. 
 Uma vez construída uma compreensão ou percepção acerca de um fato, 
pode ser difícil também que se consiga realizar outra leitura ou análise segundo 
novos olhares ou perspectivas. É isso que a Figura 1 nos ajuda a demonstrar. A 
imagem mostra uma taça na cor branca ou dois rostos de perfil na cor negra, de 
acordo com a perspectiva que se queira escolher ou adotar para realizar a 
interpretação perceptual. 
 
 
4 
Figura 1 – Interpretações perceptuais alternativas da mesma informação factual 
 
Crédito: Peter Hermes Furian/Shuttesrtock. 
 A perspectiva ou olhar escolhido para essa análise tem como objeto de 
estudo o espaço geográfico, o qual é resultado da interação entre sociedade e 
natureza (ou meio). Estamos nos referindo à geografia, à perspectiva geográfica 
e, em particular, conforme veremos, à geografia econômica. 
Graduados em geografia têm bastante familiaridade com este objeto (o 
espaço geográfico) e com as ferramentas utilizadas pela geografia. No entanto, 
percepção espacial é uma atividade que precisa ser desenvolvida por todos os 
indivíduos, independentemente do referencial ou perspectiva adotada. 
Reconhecer a importância da dimensão espacial é algo que muitas vezes 
pode passar despercebido no cotidiano dos cidadãos ou mesmo em pesquisas 
e análises realizadas na perspectiva de outras áreas do conhecimento. 
Admitimos que nossa perspectiva não é a única ou, ainda, a mais 
adequada para a análise de todos os fenômenos que ocorrem como resultado 
da interação entre sociedade e natureza, mas, sem dúvida, trata-se de um olhar 
ou perspectiva que oferece diversos insights para lançar luz na busca de 
repostas para as questões da atualidade. 
1.2 A importância da geografia 
Vamos partir da seguinte lógica. A relação das sociedades com o meio 
em que vivem tem sempre uma dimensão espacial e uma temporal, pois tudo 
ocorre no tempo e no espaço, inevitavelmente. Como diria Santos (2003, p. 20), 
“é através do processo de produção que o homem transforma a natureza a fim 
de garantir sua sobrevivência ou de aumentar sua riqueza. Portanto, a economia 
se realiza no espaço e não pode ser entendida fora desse quadro de referência.” 
A localização geográfica das atividades exercidas pelos indivíduos, 
comunidades, empresas e sociedades possui sua própria dinâmica, suas 
 
 
5 
próprias leis. Pense na seguinte questão, você é um empreendedor e possui 
certa quantia em dinheiro para realizar um investimento em determinado país. 
Seu investimento consiste na implementação de uma fábrica de automóveis. 
Diante disso, onde você investiria esse dinheiro que se tornaria então capital? 
Em qual continente e país você localizaria sua fábrica de automóveis, e por quê? 
Sem dúvida, sua resposta teria, em grande parte, uma explicação 
geográfica, um fator que consideraria a dimensão espacial como parte de sua 
decisão, ainda que de maneira implícita. Da mesma forma, a distância, ou seja, 
um percurso mensurável e possível de ser percorrido no espaço, também 
impacta em nosso cotidiano e em nossas decisões. 
A distância influencia também em nossos custos de transporte, no tempo 
necessário para superar o espaço em determinado tempo, nas relações entre 
pessoas, empresas e consumidores etc. Desse modo, localização e distância 
não são fatores triviais. São fatores elementares em estudos de geografia, 
fundamentais para se conduzirem estudos iniciais realizados no âmbito dessa 
ciência. Em outras palavras, é importante que você considere que a dimensão 
espacial é importante em nossas vidas. É essa dimensão, qual seja, a do espaço 
geográfico, que consiste no objeto de estudo da geografia. 
Entretanto, quando a dimensão espacial se associa àdimensão 
econômica, como na escolha de uma localidade que envolve custos ou 
investimentos econômicos, a geografia se mistura com a economia e vice-versa, 
fazendo com que essas duas áreas formem um conhecimento distinto, 
específico, capaz de ser conceituado, teorizado e sistematizado. 
Da mesma forma, quando uma atividade econômica produz impactos na 
economia dos países ou mesmo no meio ambiente, transformando o espaço 
geográfico, a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos, a geografia novamente 
se preocupa em buscar compreender tais impactos e implicações. Assim é a 
geografia econômica, sub-ramo da geografia ao qual iremos nos dedicar ao 
longo das aulas. 
TEMA 2 – A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA 
2.1 As contribuições de Karl Ritter e Alexander von Humboldt 
A geografia nem sempre foi reconhecida como ciência, dotada de 
conceitos, teorias e métodos próprios. Mas, do ponto de vista do saber 
 
 
6 
geográfico, ou do senso comum, a geografia pode ser considerada um 
conhecimento ou saber bastante antigo. Desde a Antiguidade, a geografia 
esteve diretamente relacionada à interpretação, percepção e interesse das 
pessoas, e sua prática diretamente relacionada aos relatórios de viajantes, 
exploradores, navegadores, entre outros. 
Um exemplo que demonstra a importância da geografia e do geógrafo já 
no século XV pode ser observado no filme 1492: a conquista do paraíso, com o 
ator francês Gérard Depardieu interpretando Cristóvão Colombo. Em diversos 
momentos do filme percebe-se que o conhecimento geográfico e a atividade 
exercida pelos geógrafos foram fundamentais para o sucesso do 
empreendimento proposto por Cristóvão Colombo. 
A descoberta de Colombo não apenas comprovaria a tese de que o 
mundo é redondo, mas também mudaria a história da humanidade e do mapa 
geopolítico do mundo. Além disso, sob o prisma do comércio internacional, 
devemos recordar que a descoberta de novos territórios, ou dos territórios de 
além-mar, traria novas perspectivas acerca de colonização e exploração dos 
territórios, a consolidação de novas rotas marítimas e o estabelecimento de 
amplas relações de comércio entre Europa e Ásia com outras regiões do globo. 
Saiba mais 
Para conhecer um pouco mais sobre a conquista da América e as 
transformações econômicas, geográficas e políticas advindas das relações 
estabelecidas com as regiões colonizadas pelos europeus, assista ao filme 1492: 
a conquista do paraíso. 
Afastando-se da ideia de geografia apenas como conhecimento originado 
de explorações de viajantes ou do levantamento de dados por meio da 
observação das paisagens, ocorre, no final do século XIX, a sistematização do 
conhecimento geográfico sob a denominação de geografia. Essa sistematização 
é atribuída em grande parte aos geógrafos prussianos Karl Ritter e Alexander 
von Humboldt. 
Ritter (Figura 2) foi considerado o primeiro a assumir oficialmente uma 
cátedra de geografia em uma universidade, especificamente na Universidade de 
Berlim. Dedicou-se aos estudos da natureza e suas implicações na sociedade, 
por isso seu trabalho é geralmente associado a uma visão mais antropocêntrica 
 
 
7 
de mundo. Humboldt (Figura 3), por sua vez, era naturalista e explorador. Entre 
o final do século XVIII e início do século XIX, esteve na América do Sul realizando 
diversos estudos, resultando na descoberta da Corrente de Humboldt. 
Figura 2 – Karl Ritter 
 
Crédito: Nicku/Shutterstock. 
Figura 3 – Alexander von Humboldt 
 
Crédito: Georgios Kollidas/Shutterstock. 
A contribuição desses naturalistas e geógrafos foi fundamental para o 
surgimento e desenvolvimento da geografia moderna, da geografia como 
ciência. A obra deles reflete ainda a importância da Prússia, atualmente território 
alemão, na construção do pensamento geográfico e no processo de 
sistematização da geografia. 
Por isso, a unificação da Alemanha, ocorrida por volta de 1871, foi 
fundamental nesse processo de sistematização. Para que fosse possível a 
constituição do Estado Nacional alemão, tanto sob o ponto de vista político-
administrativo-jurídico como também territorial, era necessário construir uma 
identidade e unidade territorial, bem como ampliar o conhecimento geográfico 
acerca dos territórios. E nessa tarefa a Alemanha foi pioneira na tentativa de se 
compreender e realizar um inventário envolvendo os atributos humanos e 
naturais contidos tanto no território alemão como fora dele. 
 
 
8 
 Segundo Moraes (2002, p. 33-34), 
até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento 
geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de 
unidade temática, e de continuidade nas formulações. Designam-se 
como Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; 
compêndios de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios 
estatísticos de órgãos de administração; obras sintéticas, agrupando 
os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; 
catálogos sistemáticos, sobre os continentes e os países do Globo etc. 
Na verdade, trata-se de todo um período de dispersão do 
conhecimento geográfico, onde é impossível falar dessa disciplina 
como um todo sistematizado e particularizado. 
 Após sua sistematização, diversos estudos geográficos se dedicaram 
ora aos elementos naturais, ora aos elementos humanos contidos na paisagem. 
A interação e interdependência entre esses dois elementos também eram 
consideradas, mas a natureza geralmente era o elemento mais contemplado nas 
análises geográficas deste período inicial de desenvolvimento da geografia. E é 
exatamente nesse contexto, o de atribuir maior ou menor importância à natureza, 
que surgem as vertentes deterministas e possibilistas nos estudos de geografia. 
TEMA 3 – DETERMINISMO VERSUS POSSIBILISMO EM GEOGRAFIA 
 No chamado determinismo geográfico, a natureza era considerada o 
fator ou elemento que determinava o sucesso ou o nível de desenvolvimento que 
um país poderia atingir. Um exemplo bastante interessante para demonstrar a 
influência que a natureza poderia exercer no desenvolvimento de um país é a 
Corrente de Humboldt, no Chile (Figura 4). 
Graças a ela, uma quantidade significativa de plânctons é transportada 
pela corrente fria de Humboldt desde a Antártida até a faixa litorânea de Chile e 
Peru, favorecendo a concentração de peixes na costa. Ou seja, fica evidente que 
a natureza, neste caso, foi generosa com esses países. 
 
 
 
9 
Figura 4 – Corrente de Humboldt (Chile) 
 
Crédito: Abriendomundo/Shutterstock. 
No entanto, na perspectiva do possibilismo, a natureza não determina o 
futuro das nações. Apesar de sua enorme influência para o desenvolvimento dos 
países e regiões, a natureza gera oportunidades, ou seja, possibilita que as 
sociedades, segundo seus conhecimentos, competências e técnicas etc. possa 
se desenvolver fazendo uso da natureza. Tenha novamente o exemplo da 
Corrente de Humboldt. 
A Corrente de Humboldt leva os alimentos e nutrientes para a costa do 
Peru, permitindo que esse país tenha uma quantidade bastante grande de peixes 
e moluscos disponível em seu território. Mas de nada isso iria adiantar se os 
peruanos não tivessem desenvolvidos técnicas, tecnologias, conhecimento, rede 
de relações necessárias etc. para o desenvolvimento da atividade pesqueira no 
país. 
Em outras palavras, a natureza gera possibilidades, cria oportunidades, 
mas, sem o fator humano, o Peru dificilmente se tornaria um dos maiores 
mercados produtores e exportadores de moluscos da América Latina e do 
mundo. Pucusana, por exemplo, é um dos distritos mais importantes no 
fornecimento de peixes e frutos do mar para a cidade de Lima e para outras 
regiões do globo (Figura 5). 
 
 
 
10 
Figura 5 – Porto de Pucusana (Peru) 
 
Crédito Milton Rodriguez/Shutterstock. 
TEMA 4 – GEOGRAFIA: A CIÊNCIA QUE ESTUDA O ESPAÇO GEOGRÁFICO 
A geografia é, portanto, a ciência que tem como objeto de estudoo espaço 
geográfico, constituído pela natureza e pela sociedade e suas inter-relações. Ela 
estuda, entre outras coisas, a relação das sociedades com o meio em que vivem; 
as transformações produzidas nas paisagens pela ação de indivíduos, 
empresas, governos, instituições etc., com o objetivo de satisfazerem suas 
necessidades (ex.: de moradia, de mobilidade urbana), produzirem riqueza ou 
planejarem estratégias para estimular o desenvolvimento. 
É o que a Figura 6 implicitamente demonstra. A imagem mostra a Ponte 
Octávio Frias de Oliveira, localizada sobre o rio Pinheiros e que permite a 
travessia entre os bairros Morumbi e Brooklin, entre outros. Trata-se da 
transformação da natureza e da paisagem em prol dos interesses e 
necessidades da sociedade. Meio (espaço) e sociedade interagem numa relação 
interdependente à luz da perspectiva geográfica. 
Figura 6 – O espaço geográfico em transformação 
 
Crédito: F11PHOTO/Shutterstock. 
 
 
11 
Sem dúvida, esse é um exemplo que revela transformações no espaço 
geográfico, ou ainda na paisagem, decorrentes da necessidade que indivíduos, 
empresas e governos têm de interferirem no meio para produzirem riqueza, 
gerarem oportunidades de trabalho, emprego e renda. 
A geografia passou por diversas transformações, apropriando-se de 
conceitos, teorias e métodos que foram gradativamente compondo o repertório 
da ciência geográfica, auxiliando-a na compreensão de seu objeto de estudo. 
Desde sua institucionalização e sistematização como ciência, a geografia foi 
influenciada por diversos paradigmas. Numa fase mais incipiente de 
institucionalização, ela era uma ciência predominantemente descritiva, que 
enfatizava as particularidades dos lugares, os costumes de seus habitantes, o 
tipo de vegetação característico da região etc. 
Em outro momento, a geografia deparou-se com um novo paradigma, que 
rompeu com a simples descrição dos lugares, para dar espaço ao raciocínio 
dedutivo, lógico-matemático, baseado na construção de leis gerais. Já em outro 
paradigma, emergiram temas mais relacionados aos problemas sociais, às 
desigualdades sociais e às contradições do capitalismo. 
Saiba mais 
Assista ao vídeo “O que é geografia” para entender um pouco mais sobre 
o olhar geográfico acerca dos fenômenos que envolvem a interação da 
sociedade e natureza: <https://www.youtube.com/watch?v=wKx8GVWqFi8>. 
TEMA 5 – GEOGRAFIA ECONÔMICA – RAMO ESPECÍFICO DA GEOGRAFIA 
5.1 A especificidade da geografia econômica 
A geografia econômica conseguiu se estabelecer como um ramo distinto 
dentro do enorme arcabouço de disciplinas que compõem a geografia. É difícil 
saber exatamente quando essa disciplina se tornou um ramo específico da 
geografia humana, mas alguns caminhos podem ser trilhados no tempo e na 
obra de autores para se ter uma noção acerca de como ela foi se organizando e 
transformando. 
Segundo Alves (2015, p. 27), as origens e o desenvolvimento da geografia 
econômica “estão associados à influência recebida não apenas da geografia e 
dos geógrafos, mas também da economia, da matemática e da estatística entre 
 
 
12 
outras disciplinas”. Nesse sentido, “a geografia econômica pode ser entendida 
como um ramo do conhecimento científico que é, por natureza, multi e 
interdisciplinar” (ibid). 
Friedrich Ratzel (Figura 7) e Paul Vidal de La Blache (Figura 8) 
contribuíram para abrir caminho para o que posteriormente se organizaria como 
a disciplina de geografia econômica. Ratzel publicou em 1882 a obra 
Antropogeografia, considerada por Moraes (1983) como a obra que funda a 
geografia humana. Ratzel também trouxe debates políticos e econômicos e é 
bastante conhecido e citado nos estudos de geopolítica. 
Figura 7 – Friedrich Ratzel (1844-1904) 
 
Crédito: © CC-20/Joseph Albert. 
La Blache, por sua vez, é o criador da escola possibilista em geografia. 
Em 1918, publicou Principles of human geography, obra que fundamenta os 
estudos regionais em geografia e abre caminho, dentro dessa ciência, para os 
estudos envolvendo o setor agrário, industrial, urbano etc. 
Aqui, por exemplo, seria possível defender a hipótese de que a geografia 
econômica se desenvolveu proveniente de estudos especializados sobre a 
indústria, os cultivos agrícolas e, obviamente, sobre a localização e importância 
de tais atividades na produção do espaço geográfico. Com o desdobramento de 
sua obra, surgem ainda as chamadas monografias regionais, estudos 
especializados na descrição das características de múltiplas regiões do globo. 
 
 
 
13 
Figura 8 – Paul Vidal de La Blache (1845-1918) 
 
Crédito: © CC-20. 
É por volta da década de 1950, no entanto, que ela se organiza como um 
corpo distinto dentro da geografia, muito relacionada ao paradigma da geografia 
quantitativa, ou, também chamada de geografia pragmática. Na perspectiva de 
Alves (2015, p. 83), a geografia econômica se preocupa em 
analisar, compreender e explicar a organização espacial das atividades 
econômicas em determinados sistemas econômicos à luz da Geografia 
e de seus conceitos e técnicas. O Geógrafo economista se preocupa 
com a localização dos vários elementos dos sistemas econômicos, 
como eles estão conectados no espaço, como eles o produzem e o 
transformam, e quais são os impactos sócio-espaciais dos processos 
econômicos. 
Para saber mais 
A geografia econômica tem suas origens na obra de geógrafos e 
economistas, mas sofreu forte influência de acadêmicos e profissionais de várias 
outras áreas. Os teóricos de localização das atividades econômicas, tais como 
Johann Heinrich von Thünen, Alfred Weber e Walter Christaller, são exemplos 
importantes nesse contexto. Para que você amplie seus conhecimentos sobre 
esse assunto, sugerimos a leitura do seguinte livro: ALVES, A. R. Geografia 
econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 2015. 
5.2 A interseção entre a geografia e demais áreas do conhecimento 
A geografia econômica, conforme argumentamos, é um ramo do 
conhecimento científico multi e interdisciplinar. Essa característica não tem suas 
origens na atualidade, tendo em vista a contribuição dos teóricos de localização 
(Thünen, Weber, Christaller etc.) mesmo antes da década de 1950, ou seja, 
antes do surgimento da chamada geografia econômica. 
Em artigo publicado em 2018 por James et al., intitulado “Sustaining 
Economic Geography? Business and Management Schools and the UK’s Great 
 
 
14 
Economic Geography Diaspora”, os autores discutem a preocupação dos 
geógrafos com a saúde da geografia econômica no Reino Unido. Segundo eles, 
os últimos anos testemunharam uma notável migração de geógrafos 
economistas no país, de departamentos de geografia para posições acadêmicas 
em escolas de administração e negócios e centros de pesquisa relacionados. 
Entre 2015 e 2017, examinou-se a escala e importância dessa tendência, 
conforme documentado em novos dados e entrevistas geradas por meio do 
Grupo de Pesquisa em Geografia Econômica da Sociedade Geográfica Real, 
juntamente com o Instituto de Geógrafos Britânicos. Para James et al. (2018), 
isso levou, de um lado, a uma diminuição dos geógrafos economistas e do 
tamanho da geografia econômica em departamentos de geografia. Por outro 
lado, aproximou esses profissionais e a geografia econômica de áreas que 
passaram a dialogar de maneira mais intensa e profícua com a geografia 
econômica, em particular, as áreas de administração e negócios. 
Em outra publicação dos autores, o artigo traz o seguinte título: “Yes, we 
are in business! Sustaining Economic Geography?”, ou seja, a geografia 
econômica e os geógrafos economistas estão cada vez mais presentes e 
atuantes em áreas, cursos ou disciplinas como logística internacional, supply 
chain, comércio exterior, comércio internacional, transportes e logística etc. 
5.3 Geografia econômica e comércio exterior 
Há várias interseções analíticas entre a geografia econômicae o comércio 
exterior. Sem dúvida, o estudo das relações entre países, lugares, mercados e 
pessoas por meio das transações comerciais estabelecidas no âmbito do 
comércio internacional talvez seja a mais evidente de todas essas interseções 
que conectam o objeto de estudo da geografia econômica com os interesses e 
atividades dos profissionais da área de comércio exterior. 
 No entanto, há muitos outros temas, questões e problemas que 
permeiam as discussões e debates entre essas duas grandes áreas. Por 
exemplo, a globalização, a integração regional e a formação de blocos 
econômicos, os negócios internacionais, as questões geopolíticas, o sistema 
financeiro global, a fragmentação da produção e a inserção de indústrias na 
economia mundial, a relação local-global e vice-versa etc. 
De maneira sucinta, a geografia econômica é um ramo do conhecimento 
fundamental para profissionais que atuam com operações envolvendo comércio 
 
 
15 
exterior. Exportações e importações não ocorrem em um mundo onde o espaço 
geográfico não existe. Transações comerciais possuem localização determinada 
no espaço e no tempo e conectam diferentes lugares, países, economias 
regionais, empresas e indivíduos. 
As demais etapas realizadas dentro do sistema são igualmente 
importantes para o comércio internacional, haja vista que design, produção, 
consumo, descarte final de resíduos etc. também possuem localização 
determinada no espaço. Ou seja, não vivemos em um mundo spaceless. 
Por se tratar de uma disciplina que estabelece a interseção entre a 
geografia e os conhecimentos tratados no âmbito do comércio internacional, a 
geografia econômica permite que os profissionais possam desenvolver 
competências conceituais e técnicas importantes para o exercício da atividade 
profissional. 
O profissional da área de comércio exterior precisa ter noções básicas de 
como identificar mercados consumidores, bem como conhecer os principais 
produtos contidos nas pautas de importação e exportação de países e empresas 
que atuam em determinados segmentos do comércio internacional. Ele precisa 
analisar e entender como o espaço geográfico influencia as atividades e 
processos econômicos, bem como compreender que os impactos causados por 
atividades e processos econômicos também transformam o espaço geográfico. 
A geografia econômica é uma dessas disciplinas que contribui exatamente nesse 
processo de aprendizagem e desenvolvimento de competências e habilidades. 
TROCANDO IDEIAS 
Pensemos no caso da queda da barragem ocorrida na Mina Córrego do 
Feijão, no município de Brumadinho, em Minas Gerais. Tendo analisado os conteúdos 
desta aula e levando em consideração sua percepção e conhecimento acerca do fato, 
procure explicar: como a queda da barragem pode ser analisada segundo a 
perspectiva da geografia econômica? 
Reflita sobre o assunto e compartilhe seus conhecimentos, questionamentos e 
dúvidas com os colegas. 
 
 
16 
NA PRÁTICA 
Não bastasse a tragédia ocorrida no município de Mariana em novembro de 
2015, a queda da barragem em Brumadinho chocou novamente o Brasil e o mundo 
em 25 de janeiro de 2019. Esses eventos, apesar de suas tristes consequências, nos 
trazem muitas lições à luz da geografia econômica e de sua particular maneira em 
compreender o mundo e a realidade que nos circunda. Para que você possa responder 
às questões propostas nesta atividade prática, assista inicialmente ao vídeo a seguir: 
<https://www.youtube.com/watch?v=440Fh3mQ0LU>. 
Agora, reflita sobre o evento ocorrido em Brumadinho e aplique os 
conhecimentos adquiridos nesta aula para responder às questões: 
1) A atividade econômica exercida pela VALE em Brumadinho transformou e 
transforma o espaço geográfico deste município e de outras localidades 
vizinhas? Explique. 
2) Para que tal atividade econômica fosse exercida em Brumadinho, houve algum 
fator geográfico que determinou a instalação da VALE naquela localização? 
FINALIZANDO 
Nesta aula, além de apresentarmos algumas interseções analíticas entre 
a geografia econômica e o comércio exterior, consideramos uma breve análise 
acerca do objeto de estudo da geografia e do caráter de especificidade desta 
disciplina. Por último, propusemos uma atividade que procurou estimular você a 
tentar compreender a importância da geografia econômica na explicação dos 
fatos, eventos e transformações que impactam na economia e no ambiente onde 
residem e trabalham os cidadãos. 
Fazendo uso do exemplo do rompimento da barragem de Brumadinho, 
em Minas Gerais, consideramos nesta aula os impactos causados por processos 
e atividades econômicas no espaço geográfico. Contudo, conforme temos 
argumentado, as transformações no espaço geográfico também exercem 
influência em processos e atividades econômicas. 
Com essas considerações em mente, gostaríamos de chamar sua 
atenção para o fato de que a produção de minério de ferro nos permite refletir 
ainda sobre a relação entre produção e exportação, exportação e importação e 
identificação de principais mercados fornecedores e consumidores de minérios 
de ferro e outras commodities minerais. 
 
 
17 
Com esse olhar acerca dos eventos, poderemos ampliar nossos 
conhecimentos fazendo uso de uma perspectiva sistêmica de espaço e 
economia, analisando as interações não apenas na escala local, mas também 
nas escalas nacional e global e suas implicações para o comércio exterior. 
Voltaremos a revisitar esse tema mais adiante, quando o abordaremos de 
maneira mais ampla. 
 
 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: 
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JAMES, A. et al. Sustaining economic geography? Business and Management 
Schools and the UK’s Great Economic Geography Diaspora. Sage Journals, 
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MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 
1983. 
______. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. 
SANTOS, M. Economia espacial: críticas e alternativas. São Paulo: EdUSP, 
2003. 
	Conversa inicial
	Contextualizando
	Trocando ideias
	Na prática
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

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