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Aula 6 - Geografia Econômica Mundial

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GEOGRAFIA ECONÔMICA 
MUNDIAL 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alceli Ribeiro Alves 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula o objetivo consistirá em aplicar conhecimentos adquiridos em 
aulas anteriores e desenvolver competências que envolvam o planejamento e a 
avaliação de estratégias na área de comércio exterior e área correlatas, tais 
como: global trading, logística, etc. Isso implicará na condução de análises que 
envolvam o acesso à base de dados e interpretação de indicadores e variáveis 
utilizadas em diversos segmentos ou setores dentro da ampla área de negócios 
e administração, assim como em análises industriais, de Geografia Econômica 
e estudos acadêmicos correlatos de modo geral. 
CONTEXTUALIZANDO 
Em diversos cursos de formação, o desenvolvimento de competências e 
habilidades é muitas vezes o cerne que distingue uma área de outra ou mesmo 
um profissional de outro. Mas, de modo geral, algumas competências e 
habilidades podem estar presentes em diversos cursos e serem desenvolvidas 
por profissionais de diversas áreas de formação. Identificar mercados 
consumidores, prospectar e empreender oportunidades de negócios são 
competências importantes nesse contexto. 
Da mesma forma, ser ético, responsável e comprometido com 
sustentabilidade socioambiental, no âmbito nacional e internacional, e 
desenvolver o pensamento crítico e reflexivo acerca da integração sistêmica e 
multicultural dos contextos local, regional, nacional e internacional são 
características fundamentais a serem consideradas e observadas pelos 
profissionais que desejam alcançar os mais elevados níveis de profissionalismo 
e competência em suas carreiras. Por isso, esta aula tratará de conteúdos que 
terão um objetivo bem específico. É importante tentar fazer este link, conectando 
saberes e competências que oferecerão a você a possibilidade de ampliar seus 
conhecimentos e desenvolver competências úteis para sua formação e atividade 
profissional. 
 
 
 
3 
TEMA 1 – IDENTIFICANDO MERCADOS CONSUMIDORES E PRINCIPAIS 
PAÍSES EXPORTADORES 
1.1 Identificando mercados consumidores 
Agora, aplicando os conhecimentos adquiridos anteriormente e 
desenvolvendo as competências e habilidades no que concerne à coleta e 
análise de dados de comércio internacional, vamos realizar a tarefa de identificar 
mercados consumidores para determinados produtos e verificar aqueles países 
que se destacam nas exportações de tais produtos nos principais mercados. 
Fornecemos antes a base para a coleta dos dados. Nesta aula vamos 
simplesmente selecionar o produto desejado para conduzir a análise. Vamos 
considerar, por exemplo, a análise do produto com código de n. 2601 (minérios 
de ferro e seus concentrados, incluindo as piritas de ferro ustuladas – cinzas de 
piritas), segundo o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de 
Mercadorias (SH). Inicialmente vamos tentar identificar o principal mercado 
consumidor. Ao realizarmos a inserção dos dados no UN-COMTRADE, é 
possível extrair uma quantidade significativa dessas informações dados, mesmo 
diante de itens que não necessariamente são úteis para a análise (Figura 1). 
Figura 1 – Página apresentando os dados selecionados na identificação dos 
principais mercados consumidores de minério de ferro em 2017 
 
Fonte: UN-COMTRADE, 2019. 
 
 
4 
Por meio do tratamento dos dados, elencamos os países a partir do maior 
mercado consumidor (maior importador) de minério de ferro até o menor, 
estabelecendo como principais países consumidores aqueles que apresentaram 
1% ou mais do valor total das importações desta commodity. 
Segundo os dados apresentados na Tabela 1, o maior mercado 
consumidor do minério de ferro é a China, que, segundo os dados de 2017, 
importou cerca de 66,9% de todo o minério de ferro comercializado nos 
mercados de exportação/importação durante este ano. O Brasil é 86º país 
importador desta commodity, haja vista não ser um importante mercado 
consumidor deste produto, mas, sim, exportador/fornecedor. 
Tabela 1 – Principais mercados consumidores (importação) de minério de ferro 
no mundo em 2017 (valor, US$) 
País Valor (US$) % 
China 76.499.820.134 66,9 
Japão 9.650.872.236 8,4 
Coreia do Sul 5.486.781.044 4,8 
Alemanha 3.603.664.311 3,2 
Outra Ásia, nes*. 1.833.477.350 1,6 
França 1.318.545.327 1,2 
Valor total das importações 114.399.765.296 100,0 
Fonte: Elaborado com base em dados do UN-COMTRADE, 2019. 
Nota: “Principais países importadores” se referem aos países que atingiram o índice mínimo 
de 1% (ou mais) de participação nas importações mundiais de minério de ferro no ano de 
2017. Sinal convencional utilizado: *nes se refere ao termo inglês, “not elsewhere specified”; 
A expressão “Outra Ásia” se refere a um grupo de países asiáticos que reportam suas 
exportações de forma distinta dentro do grupo, ou seja, variando muito na forma como 
fornecem detalhes sobre países ou empresas parceiras, ano de exportação, mercadorias e/ou 
categoria de produtos exportados. 
1.2 Identificando fornecedores importantes nos principais mercados 
consumidores 
Depois de identificados os principais mercados consumidores, podemos 
proceder com a verificação/identificação daqueles países que podem ser 
considerados como fornecedores importantes de produtos dentro dos principais 
mercados consumidores. Esse dado pode ser encontrado ou gerado por meio 
da seleção dos dados apresentados na Figura 2. Para facilitar a análise, optamos 
 
 
5 
por considerar o fluxo de comércio (por exemplo: exportação de minério de ferro) 
apenas em direção ao mercado chinês, principal mercado consumidor de minério 
de ferro do mundo. 
Figura 2 – Página apresentando os dados selecionados na identificação dos 
principais exportadores de minério de ferro para a China em 2017 
 
Fonte: UN-COMTRADE, 2019. 
Seguindo o mesmo critério de limite (threshold), o termo “principais países 
exportadores” refere-se aos países que atingiram o índice mínimo de 1% (ou 
mais) de participação nas exportações de minério de ferro no mercado chinês no 
ano de 2017, identificamos os principais países exportadores do minério de ferro 
para a China durante o ano mencionado. Os resultados são apresentados na 
Tabela 2. 
 
 
 
6 
Tabela 2 – Principais países exportadores de minério de ferro para a China em 
2017 (valor, US$) 
País Valor (US$) % 
Austrália 46.500.341.920 60,8 
Brasil 17.364.804.315 22,7 
África do Sul 3.527.109.746 4,6 
Índia 1.751.998.508 2,3 
Irã 1.391.708.720 1,8 
Ucrânia 976.049.640 1,3 
Peru 836.938.947 1,1 
Chile 833.302.120 1,1 
Valor total das exportações 76.499.820.134 100,0 
Fonte: Elaborado com base em dados do UN-COMTRADE, 2019. 
A Tabela 2 nos mostra que o principal país fornecedor de minério de ferro 
para a China é a Austrália, com uma quota de mercado que superou o patamar 
dos 60% no ano de 2017. O Brasil é o segundo maior fornecedor desta 
commodity no mercado chinês, conquistando cerca de 22% do mercado. 
Portanto, analisar as estatísticas de comércio internacional nos permite 
não apenas ter maior clareza das relações estabelecidas entre países e 
indústrias, mas também dos fluxos envolvendo diversos agentes dentro da 
cadeia global de valor. 
Como diria Smith et al. (2002, p. 42), analisar “a produção e fluxos de 
valor, associados com diferentes formas de atividade econômica, produção e 
troca de mercadorias em diferentes localidades fornece uma análise estrutural 
que permite compreender melhor a divisão do trabalho e suas mudanças”. 
Por isso, a utilidade de tal análise não se limita apenas no sentido de 
tentar reconhecer relações entre mercados consumidores e fornecedores; trata-
se de uma escolha metodológica que serve como ponto de partida para análises 
sistêmicas, multiescalares e multidimensionais. 
 
 
 
7 
TEMA 2 – O CONCEITO DE UPGRADING E OS INDICADORES DE 
COMPETITIVIDADE E UPGRADINGINDUSTRIAL 
2.1 O conceito de upgrading 
Segundo Alves (2016, p. 39), upgrading tem sido compreendido e 
conceitualizado de diversas maneiras, e suas abordagens analíticas e 
metodológicas podem variar de acordo com a área de conhecimento em 
discussão e segundo a capacidade dos pesquisadores de sistematizar esse 
termo. Para Smith e Alves (2012, p. 27), “upgrading pode se referir à mudança, 
geralmente indicando melhoria de firmas e indústrias na economia mundial” ou 
na produção e/ou oferta de bens/serviços. 
2.2 Upgrading e upgrading industrial com base na ampliação do valor 
O upgrading industrial pode ocorrer quando uma indústria detém níveis 
significativos de market shares (por exemplo: a conquista de fatias significativas 
de quotas de mercado, tornando-se competitiva) associados à prática da venda 
de seus produtos por preços relativamente maiores se comparados aos da 
concorrência, o que pode indicar ou refletir níveis distintos de qualidade (Alves, 
2015). Trata-se, portanto, de uma perspectiva relacional e sistêmica. 
A noção de upgrading industrial utilizada aqui se refere de maneira 
bastante abrangente ao upgrading como um processo de ampliação de valor, 
conforme propõem Henderson et al. (2002), ou como um “processo no qual as 
nações, firmas e trabalhadores mudam de atividades com baixo valor para 
atividades com alto valor em redes globais de produção” (Gereffi; 2005, p.171). 
Contudo, aqui o foco consiste apenas em uma perspectiva de upgrading, 
a de ampliação do valor nominal das exportações, em que o valor nominal dos 
produtos comercializados é utilizado como uma medida de substituição da 
variável valor. A análise de Gereffi (1999) fornece um exemplo típico desse tipo 
de upgrading analisando a indústria têxtil e de vestuário em países asiáticos 
(Tabela 3). O upgrading é analisado considerando o desempenho das indústrias 
no mercado americano, um dos principais importadores de produtos no setor de 
vestuário e têxtil. 
 
 
8 
Tabela 3 – Tendências nas importações de vestuário dos EUA por região e país 
(valor, US$, milhões) 
Fonte: Adaptado de Gereffi, 1999, p. 50. 
Segundo os dados da Tabela 3, o valor nominal das exportações é 
ampliado ao longo do período analisado, indicando upgrading de firmas e 
indústrias na Ásia e na América Central e Caribe. Além disso, regiões como o 
Sudeste Asiático, o Sul da Ásia, a América Central e o Caribe conseguiram 
aumentar sua participação no mercado americano; logo, experimentaram um 
processo de upgrading. 
Por outro lado, países localizados no Nordeste da Ásia, como China e 
Hong Kong, perderam mercado, apesar de terem conseguido ampliar o valor 
nominal de suas exportações para os EUA. Isso demonstra o quão complexo é 
mensurar upgrading, haja vista que múltiplas variáveis precisam ser 
consideradas para se obter uma avaliação mais precisa acerca das trajetórias 
de upgrading e downgrading de empresas e indústrias em determinados tipos de 
produtos e mercados consumidores. 
Origem do País 
Valor 
1983 
% 
Valor 
1986 
% 
Valor 
1990 
% 
Valor 
1997 
% 
Nordeste da Ásia 
China 759 1661 3439 7450 
Hong Kong 2249 3392 3977 4028 
Outros 3617 5.430 6247 4761 
Total 6.625 68 10.483 60 13.663 54 16.239 33 
Sudeste Asiático 
Indonésia 75 269 645 1789 
Filipinas 319 473 1083 1650 
Outros 412 856 1708 3001 
Total 806 8 1.598 9 3436 13 6440 13 
Sul da Ásia 
Índia 220 344 636 1508 
Bangladesh 7 154 422 1442 
Sri Lanka 126 257 426 1242 
Paquistão 32 92 232 705 
Total 385 4 847 5 1716 7 4897 10 
América Central e Caribe 
República Dominicana 139 287 723 2234 
Honduras 20 32 113 1688 
Outros 159 478 1149 3743 
Total 389 4 797 5 1985 8 7665 16 
México 199 2 331 2 709 3 5350 11 
Todos os outros países 1328 14 3283 19 4009 16 7664 16 
Total do setor 9731 100 17.341 100 25.518 100 48.492 100 
 
 
9 
 
Saiba mais 
A análise do desempenho das indústrias no comércio internacional pode 
ser considerada por meio das noções de upgrading e downgrading em 
determinadas categorias de produtos e mercados. Além da alta aplicabilidade 
em estudos realizados por analistas, técnicos e especialistas ligados à indústria 
e ao comércio internacional, tal perspectiva permite ao estudante ou interessado 
desenvolver diversas competências técnicas nessas áreas do conhecimento. 
Para que você possa ampliar seus conhecimentos sobre esse assunto, 
sugerimos a leitura do seguinte texto: 
ALVES, A. R. A indústria automobilística nos países do MERCOSUL: 
territórios, fluxos e upgrading industrial. 208f. Tese (Doutorado em Geografia) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. 
TEMA 3 – SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL E SUA RELAÇÃO COM A 
PRODUÇÃO, A DISTRIBUIÇÃO, O CONSUMO E AS DIVERSAS DIMENSÕES 
DA GLOBALIZAÇÃO 
3.1 A Vale e o rompimento da barragem em Brumadinho-MG: impactos 
na produção e exportação de minério de ferro 
Agora vamos tratar da relação entre comércio exterior e outros elos da 
cadeia global de valor, ainda que se tratem de links que não necessariamente 
se apresentem de maneira explícita no que se refere às estruturas ou aos 
modelos que apresentamos até agora. Em particular, vamos analisar a relação 
entre a atuação das empresas e o sistema financeiro global. Para isso, será 
utilizado o exemplo da Vale, uma das maiores empresas mineradoras do mundo. 
No ano de 2019, ocorreu um evento que marcou a história da empresa e 
sua atuação no Brasil, bem como gerou impactos e transformações que 
dificilmente serão esquecidas por aqueles que viveram ou tiveram a experiência 
de se envolver, ainda que de maneira indireta, com os acontecimentos ocorridos 
em 25 de janeiro na cidade de Brumadinho (Minas Gerais). Estamos nos 
referindo ao rompimento da barragem na localidade Córrego do Feijão, evento 
que resultou em diversas mortes, ações judiciais e impactos socioambientais. 
 
 
10 
Entre esses impactos consideramos a queda no volume de produção, pois 
houve a determinação judicial para a suspensão da atividade na região, e 
poderíamos levantar a hipótese de que isso resultou também em variações no 
valor ou volume das exportações do minério de ferro. Hipótese esta que 
testaremos e analisaremos fazendo uso da mesma técnica e metodologia 
adotada e apresentada antes. 
Selecionamos a commodity “minérios de ferro e seus concentrados, 
incluindo as piritas de ferro ustuladas (cinzas de piritas)”, código de n. 2601 
segundo o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de 
Mercadorias (SH), para analisar a hipótese desde o mês em que ocorreu o 
rompimento da barragem (janeiro de 2019) até o último mês com dados 
disponíveis, qual seja, mês de abril de 2019. Os resultados são apresentados na 
Tabela 4. 
Tabela 4 – Valor das exportações (US$) de minério de ferro do Brasil para o 
mundo em 2019, após o rompimento da barragem em Brumadinho-MG 
Mês Valor (US$) 
Janeiro 1.704.057.863 
Fevereiro 1.528.957.663 
Março 1.388.590.385 
Abril 1.076.364.581 
Fonte: Elaborado com base em dados do UN-COMTRADE, 2019. 
De fato, estávamos corretos ao assumirmos a hipótese de que com o 
rompimento da barragem e as restrições impostas pela suspensão da atividade 
de produção/extração, a consequência seria uma redução na exportação de 
minério de ferro nos meses subsequentes ao rompimento da barragem em 
Brumadinho. 
3.2 A relação entre os eventos envolvendo o rompimento da barragem 
em Brumadinho e o Sistema Financeiro Global 
Sem dúvida, o rompimento da barragem em Brumadinho foi um evento 
local, mas com repercussões nas escalas macrorregional e global, à luz da 
dinâmica envolvendo o Sistema Financeiro Global. Se optamos por analisar o 
preço das ações da empresa Vale na bolsa de valores constatamos que no dia 
28 de janeiro de 2019 o valor de cada quota da empresa era de R$ 56,15, cenário 
 
 
11 
em que o valor das ações da empresaencontrava-se em trajetória de 
ascendência. Ou seja, o rompimento da barragem não havia afetado o valor das 
ações da empresa no dia 25 de janeiro, dia do rompimento. Mas, no mesmo dia 
25, o Governo de Minas Gerais já havia solicitado o bloqueio ou congelamento 
de cerca de R$ 1 bilhão, para auxílio imediato e efetivo às vítimas e redução das 
consequências da tragédia. Um segundo bloqueio havia sido solicitado no dia 26 
e um terceiro pedido no dia 27 (domingo). 
No dia 28, a vara responsável na Justiça do Trabalho atendeu ao pedido, 
congelando mais R$ 800 milhões das contas da empresa. No agregado, até o 
dia 28 de janeiro os bloqueios dos recursos da Vale feitos pela Justiça de Minas 
Gerais já chegavam à cifra de R$ 11 bilhões, representando quase metade do 
caixa da mineradora relativo ao fim de setembro de 2018 (Valor Econômico, 
2019). Além disso, ainda no dia 26, o Ibama (2019) havia multado a empresa em 
R$ 250 milhões, por danos ao meio ambiente. 
Diante desse cenário, os investidores na bolsa de valores responderam 
aos acontecimentos envolvendo a Vale e o valor das ações da empresa caiu 
drasticamente para R$ 42,38 no dia 29 de janeiro, oscilando em patamares 
bastante inferiores por diversas semanas (Gráfico 1). 
Gráfico 1 – Valor das ações da Vale no período em que ocorreu o rompimento 
da barragem de Brumadinho-MG 
 
Fonte: Ibovespa, B3, Clear Corretora, 2019. 
A partir desses acontecimentos, percebemos então que diversas 
dimensões (por exemplo: econômica, social, jurídica, ambiental) estão presentes 
na análise. Importante destacar que, embora se trate de um caso específico de 
uma empresa inserida em um setor em particular, as consequências da ação (ou 
 
 
12 
omissão) das empresas podem produzir resultados que afetam a econômica do 
município e do país, sua produção industrial, exportações, imagem/reputação 
nos mercados internacionais, percepção dos investidores etc. 
Isso ocorre porque o rompimento da barragem, ainda que por prazo 
indeterminado, causou queda no valor da empresa, pois o valor de suas ações 
foi reduzido. Se os investidores percebem tal evento como um mau sinal e, 
consequentemente, um mau investimento, não aplicarão seu dinheiro nesta 
empresa. E sem investimentos podem ocorrer reduções em produção, 
exportação, geração de receitas, emprego etc. 
TEMA 4 – COMPETÊNCIAS E HABILIDADES EM DESENVOLVIMENTO 
É nesse sentido que se torna relativamente fácil compreender que fatores 
geográficos e eventos locais podem gerar implicações nas escalas global ou 
internacional, afetando o mercado financeiro, a produção, a distribuição e as 
exportações. Dessa maneira, somos capazes de refletir de forma crítica, 
sistêmica e atual, acerca da realidade do comércio exterior brasileiro e o cenário 
mundial; de compreendermos os fatos e transformações sobre a integração 
sistêmica e multicultural dos contextos local, regional, nacional e internacional. 
Muitas das considerações que serão feitas a seguir estão contidas em 
Portarias e Diretrizes dos cursos de formação em nível superior, seja da área de 
Tecnologia em Comércio Exterior, da área de Logística, Global Trading ou, de 
maneira ampla, das áreas de administração e negócios que devam contemplar, 
ainda que de maneira implícita e indireta, conteúdos, saberes, competências e 
habilidades que privilegiem a dimensão espacial (geográfica) dos eventos e 
transformações pelas quais passam as pessoas, as economias, as regiões, os 
países etc. 
A seguir, destacamos algumas das características que foram tradadas ou 
exploradas durante nossas aulas nesta disciplina e que estão contidos nos 
documentos que mencionamos acima, quais sejam, portarias do MEC – 
Ministério da Educação e diretrizes curriculares dos cursos. 
Referência e características do perfil do egresso em diversas 
áreas, sobretudo nos cursos de tecnologia 
I. crítico e reflexivo acerca da integração sistêmica e multicultural dos 
contextos local, regional, nacional e internacional; 
II. ético, responsável e comprometido com sustentabilidade 
socioambiental, no âmbito nacional e internacional; 
 
 
13 
III. atento, de forma crítica, sistêmica e atual, sobre a realidade do 
comércio exterior brasileiro e o cenário mundial; 
IV. humanista na compreensão acerca das questões nacionais e 
internacionais relacionadas ao comércio exterior, considerando os 
contextos político, econômico, histórico, geográfico, jurídico, cultural e 
social; e 
Desenvolvimento de Competências e Habilidades 
I. planejar, definir, implementar e avaliar estratégias gerenciais na área 
de comércio exterior; 
II. acessar bases de dados e interpretar indicadores micro e 
macroeconômicos relacionados ao comércio exterior; 
III. prospectar e empreender oportunidades de mercados voltados a 
atividades de comércio exterior. 
TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES À LUZ DOS EXAMES/PROVAS/PROCESSOS 
SELETIVOS QUE TRATAM DA RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E ATIVIDADES 
ECONÔMICAS 
A análise da questão objetiva de n. 1 aplicada no Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes (Enade) do ano de 2018, na prova de Tecnologia 
em Comércio Exterior – componente formação geral, é um ótimo exemplo para 
concordarmos o argumento defendido por Scott (2006, p. vii) que afirma que 
qualquer geografia econômica que seja digna de seu nome deve 
certamente ser capaz de dizer algo de valor prático sobre o que talvez 
seja a situação humana mais notável no mundo de hoje, e cuja 
urgência pode ser identificada com um único e simples comentário 
estatístico. Em suma, a metade mais pobre da população mundial hoje 
comanda apenas 14% do PIB mundial, enquanto apenas 15% da 
população mundial comanda mais da metade do PIB mundial. 
Além disso, a questão chama a atenção pelo fato de que envolve a análise 
da concentração espacial da atividade econômica no espaço, tema esse 
discutido anteriormente e que nos faz recordar do próprio conceito de Geografia 
Econômica. Vamos revisitar este conceito? 
Na perspectiva de Alves (2015, p. 83), a Geografia Econômica se 
preocupa em 
analisar, compreender e explicar a organização espacial das atividades 
econômicas em determinados sistemas econômicos à luz da Geografia 
e de seus conceitos e técnicas. O Geógrafo economista se preocupa 
com a localização dos vários elementos dos sistemas econômicos, 
como eles estão conectados no espaço, como eles o produzem e o 
transformam, e quais são os impactos socioespaciais dos processos 
econômicos. 
Com base nessas breves considerações, vamos analisar a questão: 
 
 
14 
ENADE (2018) Questão objetiva n. 1. – Prova Tecnologia em Comércio 
Exterior 
 
Considerando o infográfico apresentado, avalie as afirmações a seguir. 
I. A distribuição da área plantada com transgênicos no mundo reflete o nível 
de desenvolvimento econômico dos países. 
II. Os Estados Unidos da América possuem a maior área plantada de algodão 
transgênico no mundo. 
III. O hemisfério norte concentra a maior área de produção transgênica. 
IV. A área de produção de soja transgênica é maior no Brasil que na Argentina. 
É correto apenas o que se afirma em: 
a. I e II. 
b. I e IV. 
c. III e IV. 
d. I, II e III. 
e. II, II e IV. 
(A resposta e comentários encontram-se ao final deste documento). 
 
 
 
15 
TROCANDO IDEIAS 
A tragédia ocorrida em Brumadinho é um desses eventos locais que têm 
a capacidade de gerar transformações não apenas na escala local, mas também 
na nacional e na global. Você se recordaria de algum outro evento semelhante 
a esse, ocorrido no Brasil ou no exterior, e que, concomitantemente, implicaria 
em consequências sociais, econômicas, jurídicas e ambientais? Reflita sobre a 
questão e discuta com seus colegas e amigos sobre o tema de forma articulada 
com suas áreas de formação e interesse. 
NA PRÁTICA 
Além do minério de ferro, a soja é outra commodity que o Brasil exporta 
muito para os parceiros comerciais. Para compreender o desempenho comercialdo Brasil neste produto, procure descobrir qual o valor das exportações de soja 
do Brasil para o mundo nos últimos anos e identifique qual é o principal país 
consumidor da soja brasileira durante este período. 
FINALIZANDO 
Nesta aula tratamos de questões diversas envolvendo a relação entre 
países por meio das transações comerciais, importação e exportação. 
Analisamos a influência que eventos locais e nacionais podem exercer em 
contextos socioespaciais mais amplos, explorando o caso do rompimento da 
barragem em Brumadinho. 
Analisamos ainda uma perspectiva contemporânea bastante discutida na 
literatura que trata de comércio exterior e cadeias globais de valor de modo geral, 
a perspectiva do upgrading industrial. Realizamos uma breve consideração 
sobre as competências e habilidades que podem ser desenvolvidas por meio da 
análise de conteúdos, exemplos e aplicações apresentadas nesta e também em 
aulas anteriores. 
Por último, deixamos uma dica importante para você. Continue estudando 
sobre esses temas e procure conhecer temas e questões contemporâneas. 
Conhecimento é um caminho sem volta e, é também fundamental para 
mantermos nosso cérebro em plena atividade, saudável e preparado para as 
inovações do presente e do futuro. Uma dica boa para fazer isso é consultar, ler 
e analisar os temas e questões de concursos, exames d processos seletivos que 
 
 
16 
dizem respeito a sua área de formação e interesse. Além de manter seu cérebro 
ocupado e ativo, você poderá associar o útil e fundamental ao agradável e 
valioso para sua carreira e para manter-se atualizado acerca das mudanças da 
atualidade. 
 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: 
InterSaberes, 2015. 
ALVES, A. R. A indústria automobilística nos países do MERCOSUL: 
territórios, fluxos e upgrading industrial. 208f. Tese (Doutorado em Geografia) – 
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. 
GEREFFI, G. International trade and industrial upgrading in the apparel 
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HENDERSON, J.; DICKEN, P.; HESS, M.; COE, N. M. and H. W-c. YEUNG 
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Brumadinho (MG). Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/noticias/730-
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SCOTT, A. J. Geography and Economy. Oxford: Oxford University Press, 2006. 
SMITH, A.; RAINNIE, Al; DUNFORD, HARDY, J.; HUDSON, R.; SADLER, D. 
Networks of value, commodities and regions: reworking divisions of labour in 
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SMITH, A.; ALVES, A. R. Industrial Upgrading na Indústria Automotiva dos 
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Desenvolvimento, Curitiba: IPARDES, n.123, p.23-49, jul./dez. 2012. 
http://www.ibama.gov.br/noticias/730-2019/1879-ibama-multa-vale-em-r-250-milhoes-por-catastrofe-em-brumadinho-mg
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18 
UN-COMTRADE DATA BANK. Disponível em: <https://comtrade.un.org/>. 
Acesso em: 31 ago. 2019. 
 
 
 
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RESPOSTAS 
Comentários ENADE (2018) Questão objetiva n. 1. – Prova Tecnologia em 
Comércio Exterior 
Analisando-se a assertiva I, percebemos que a distribuição da área 
plantada com transgênicos no mundo na verdade não reflete o nível de 
desenvolvimento econômico dos países. Tenhamos como exemplo a análise de 
Canadá, Brasil e Argentina. Se o candidato observar que o Canadá um país 
mais desenvolvido do que Brasil e Argentina, o Canadá teria de apresentar maior 
área plantada de transgênicos do que Brasil e Argentina. Mas, conforme 
observamos na figura, tanto Brasil como Argentina superam o Canadá em 
termos de área plantada de transgênicos. Portanto, assertiva I está incorreta. 
A assertiva II afirma que os Estados Unidos da América apresentam a 
maior área plantada de algodão transgênico no mundo. Assertiva incorreta. Aqui 
o candidato (a) deveria observar os dados dos EUA comparados aos da Índia no 
que concerne à área plantada de algodão transgênico. A Índia ocupa a quinta 
posição do ranking se consideramos as maiores áreas plantadas com 
transgênicos no mundo, sendo que 100% da área plantada com transgênicos 
(11,4 milhões de hectares) é utilizada para a cultura do algodão. Agora, seria 
necessário observar e calcular o quanto dos 6% de área plantada com algodão 
transgênico nos EUA representam numericamente em milhões de hectares no 
universo dos 75 mi/ha (área total plantada com transgênicos nos EUA). Ou seja, 
[(6/100)*75]= [0,06*75]= 4,5 mi/ha. Se os EUA possuem uma área de 4,5 mi/ha 
plantada com algodão transgênico e a Índia uma área de 11,4 mi/ha, logo a Índia 
possuiria a maior área plantada de algodão transgênico no mundo, e não os 
EUA, segundo os dados apresentados na imagem. 
A assertiva III afirma que o hemisfério norte concentra a maior área de 
produção transgênica. Assertiva correta. Se realizamos a somatória das áreas 
plantadas com transgênicos nos EUA (75 mi/ha), Canadá (13,1 mi/ha) e Índia 
(11,4 mi/ha), países localizados no hemisfério norte, chegamos ao seguinte 
resultado: 99,5mi/ha. Como Brasil (50,2mi/ha) e Argentina (23,6mi/ha) estão 
localizados abaixo da linha de Equador, portanto hemisfério sul, e apresentam a 
soma de 73,8 mi/ha, então é no hemisfério norte que se encontra a maior área 
de produção transgênica. 
 
 
20 
A assertiva IV afirma que a área de produção de soja transgênica é maior 
no Brasil que na Argentina. Novamente, o candidato (a) precisaria realizar alguns 
cálculos elementares de matemática. A área plantada com soja transgênica no 
Brasil corresponde a 67% da área total plantada com transgênicos no país 
(50,2mi/ha). Assim, a área de produção de soja transgênica no Brasil pode ser 
calculada da seguinte forma: [(67/100)*50,2]= [0,67*50,2]= 33,6 mi/ha. A área 
plantada com soja transgênica na Argentina corresponde a 76,5% da área total 
plantada com transgênicos no país (23,6mi/ha). Desta forma, a área de produção 
de soja transgênica na Argentina pode ser calculada da seguinte forma: 
[(76,5/100)*23,6]= [0,765*23,6]= 18,0 mi/ha. Logo, a assertiva IV está correta. 
A área de produção de soja transgênica é maior no Brasil (33,6 mi/ha) do que 
na Argentina (18,0 mi/ha). Por último, mas não menos importante, e 
considerando corretas as assertivas III e IV, a alternativa a ser selecionada pelo 
(a) candidato (ao) seria a “C”.

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