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GEOGRAFIA ECONÔMICA MUNDIAL AULA 6 Prof. Alceli Ribeiro Alves 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula o objetivo consistirá em aplicar conhecimentos adquiridos em aulas anteriores e desenvolver competências que envolvam o planejamento e a avaliação de estratégias na área de comércio exterior e área correlatas, tais como: global trading, logística, etc. Isso implicará na condução de análises que envolvam o acesso à base de dados e interpretação de indicadores e variáveis utilizadas em diversos segmentos ou setores dentro da ampla área de negócios e administração, assim como em análises industriais, de Geografia Econômica e estudos acadêmicos correlatos de modo geral. CONTEXTUALIZANDO Em diversos cursos de formação, o desenvolvimento de competências e habilidades é muitas vezes o cerne que distingue uma área de outra ou mesmo um profissional de outro. Mas, de modo geral, algumas competências e habilidades podem estar presentes em diversos cursos e serem desenvolvidas por profissionais de diversas áreas de formação. Identificar mercados consumidores, prospectar e empreender oportunidades de negócios são competências importantes nesse contexto. Da mesma forma, ser ético, responsável e comprometido com sustentabilidade socioambiental, no âmbito nacional e internacional, e desenvolver o pensamento crítico e reflexivo acerca da integração sistêmica e multicultural dos contextos local, regional, nacional e internacional são características fundamentais a serem consideradas e observadas pelos profissionais que desejam alcançar os mais elevados níveis de profissionalismo e competência em suas carreiras. Por isso, esta aula tratará de conteúdos que terão um objetivo bem específico. É importante tentar fazer este link, conectando saberes e competências que oferecerão a você a possibilidade de ampliar seus conhecimentos e desenvolver competências úteis para sua formação e atividade profissional. 3 TEMA 1 – IDENTIFICANDO MERCADOS CONSUMIDORES E PRINCIPAIS PAÍSES EXPORTADORES 1.1 Identificando mercados consumidores Agora, aplicando os conhecimentos adquiridos anteriormente e desenvolvendo as competências e habilidades no que concerne à coleta e análise de dados de comércio internacional, vamos realizar a tarefa de identificar mercados consumidores para determinados produtos e verificar aqueles países que se destacam nas exportações de tais produtos nos principais mercados. Fornecemos antes a base para a coleta dos dados. Nesta aula vamos simplesmente selecionar o produto desejado para conduzir a análise. Vamos considerar, por exemplo, a análise do produto com código de n. 2601 (minérios de ferro e seus concentrados, incluindo as piritas de ferro ustuladas – cinzas de piritas), segundo o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH). Inicialmente vamos tentar identificar o principal mercado consumidor. Ao realizarmos a inserção dos dados no UN-COMTRADE, é possível extrair uma quantidade significativa dessas informações dados, mesmo diante de itens que não necessariamente são úteis para a análise (Figura 1). Figura 1 – Página apresentando os dados selecionados na identificação dos principais mercados consumidores de minério de ferro em 2017 Fonte: UN-COMTRADE, 2019. 4 Por meio do tratamento dos dados, elencamos os países a partir do maior mercado consumidor (maior importador) de minério de ferro até o menor, estabelecendo como principais países consumidores aqueles que apresentaram 1% ou mais do valor total das importações desta commodity. Segundo os dados apresentados na Tabela 1, o maior mercado consumidor do minério de ferro é a China, que, segundo os dados de 2017, importou cerca de 66,9% de todo o minério de ferro comercializado nos mercados de exportação/importação durante este ano. O Brasil é 86º país importador desta commodity, haja vista não ser um importante mercado consumidor deste produto, mas, sim, exportador/fornecedor. Tabela 1 – Principais mercados consumidores (importação) de minério de ferro no mundo em 2017 (valor, US$) País Valor (US$) % China 76.499.820.134 66,9 Japão 9.650.872.236 8,4 Coreia do Sul 5.486.781.044 4,8 Alemanha 3.603.664.311 3,2 Outra Ásia, nes*. 1.833.477.350 1,6 França 1.318.545.327 1,2 Valor total das importações 114.399.765.296 100,0 Fonte: Elaborado com base em dados do UN-COMTRADE, 2019. Nota: “Principais países importadores” se referem aos países que atingiram o índice mínimo de 1% (ou mais) de participação nas importações mundiais de minério de ferro no ano de 2017. Sinal convencional utilizado: *nes se refere ao termo inglês, “not elsewhere specified”; A expressão “Outra Ásia” se refere a um grupo de países asiáticos que reportam suas exportações de forma distinta dentro do grupo, ou seja, variando muito na forma como fornecem detalhes sobre países ou empresas parceiras, ano de exportação, mercadorias e/ou categoria de produtos exportados. 1.2 Identificando fornecedores importantes nos principais mercados consumidores Depois de identificados os principais mercados consumidores, podemos proceder com a verificação/identificação daqueles países que podem ser considerados como fornecedores importantes de produtos dentro dos principais mercados consumidores. Esse dado pode ser encontrado ou gerado por meio da seleção dos dados apresentados na Figura 2. Para facilitar a análise, optamos 5 por considerar o fluxo de comércio (por exemplo: exportação de minério de ferro) apenas em direção ao mercado chinês, principal mercado consumidor de minério de ferro do mundo. Figura 2 – Página apresentando os dados selecionados na identificação dos principais exportadores de minério de ferro para a China em 2017 Fonte: UN-COMTRADE, 2019. Seguindo o mesmo critério de limite (threshold), o termo “principais países exportadores” refere-se aos países que atingiram o índice mínimo de 1% (ou mais) de participação nas exportações de minério de ferro no mercado chinês no ano de 2017, identificamos os principais países exportadores do minério de ferro para a China durante o ano mencionado. Os resultados são apresentados na Tabela 2. 6 Tabela 2 – Principais países exportadores de minério de ferro para a China em 2017 (valor, US$) País Valor (US$) % Austrália 46.500.341.920 60,8 Brasil 17.364.804.315 22,7 África do Sul 3.527.109.746 4,6 Índia 1.751.998.508 2,3 Irã 1.391.708.720 1,8 Ucrânia 976.049.640 1,3 Peru 836.938.947 1,1 Chile 833.302.120 1,1 Valor total das exportações 76.499.820.134 100,0 Fonte: Elaborado com base em dados do UN-COMTRADE, 2019. A Tabela 2 nos mostra que o principal país fornecedor de minério de ferro para a China é a Austrália, com uma quota de mercado que superou o patamar dos 60% no ano de 2017. O Brasil é o segundo maior fornecedor desta commodity no mercado chinês, conquistando cerca de 22% do mercado. Portanto, analisar as estatísticas de comércio internacional nos permite não apenas ter maior clareza das relações estabelecidas entre países e indústrias, mas também dos fluxos envolvendo diversos agentes dentro da cadeia global de valor. Como diria Smith et al. (2002, p. 42), analisar “a produção e fluxos de valor, associados com diferentes formas de atividade econômica, produção e troca de mercadorias em diferentes localidades fornece uma análise estrutural que permite compreender melhor a divisão do trabalho e suas mudanças”. Por isso, a utilidade de tal análise não se limita apenas no sentido de tentar reconhecer relações entre mercados consumidores e fornecedores; trata- se de uma escolha metodológica que serve como ponto de partida para análises sistêmicas, multiescalares e multidimensionais. 7 TEMA 2 – O CONCEITO DE UPGRADING E OS INDICADORES DE COMPETITIVIDADE E UPGRADINGINDUSTRIAL 2.1 O conceito de upgrading Segundo Alves (2016, p. 39), upgrading tem sido compreendido e conceitualizado de diversas maneiras, e suas abordagens analíticas e metodológicas podem variar de acordo com a área de conhecimento em discussão e segundo a capacidade dos pesquisadores de sistematizar esse termo. Para Smith e Alves (2012, p. 27), “upgrading pode se referir à mudança, geralmente indicando melhoria de firmas e indústrias na economia mundial” ou na produção e/ou oferta de bens/serviços. 2.2 Upgrading e upgrading industrial com base na ampliação do valor O upgrading industrial pode ocorrer quando uma indústria detém níveis significativos de market shares (por exemplo: a conquista de fatias significativas de quotas de mercado, tornando-se competitiva) associados à prática da venda de seus produtos por preços relativamente maiores se comparados aos da concorrência, o que pode indicar ou refletir níveis distintos de qualidade (Alves, 2015). Trata-se, portanto, de uma perspectiva relacional e sistêmica. A noção de upgrading industrial utilizada aqui se refere de maneira bastante abrangente ao upgrading como um processo de ampliação de valor, conforme propõem Henderson et al. (2002), ou como um “processo no qual as nações, firmas e trabalhadores mudam de atividades com baixo valor para atividades com alto valor em redes globais de produção” (Gereffi; 2005, p.171). Contudo, aqui o foco consiste apenas em uma perspectiva de upgrading, a de ampliação do valor nominal das exportações, em que o valor nominal dos produtos comercializados é utilizado como uma medida de substituição da variável valor. A análise de Gereffi (1999) fornece um exemplo típico desse tipo de upgrading analisando a indústria têxtil e de vestuário em países asiáticos (Tabela 3). O upgrading é analisado considerando o desempenho das indústrias no mercado americano, um dos principais importadores de produtos no setor de vestuário e têxtil. 8 Tabela 3 – Tendências nas importações de vestuário dos EUA por região e país (valor, US$, milhões) Fonte: Adaptado de Gereffi, 1999, p. 50. Segundo os dados da Tabela 3, o valor nominal das exportações é ampliado ao longo do período analisado, indicando upgrading de firmas e indústrias na Ásia e na América Central e Caribe. Além disso, regiões como o Sudeste Asiático, o Sul da Ásia, a América Central e o Caribe conseguiram aumentar sua participação no mercado americano; logo, experimentaram um processo de upgrading. Por outro lado, países localizados no Nordeste da Ásia, como China e Hong Kong, perderam mercado, apesar de terem conseguido ampliar o valor nominal de suas exportações para os EUA. Isso demonstra o quão complexo é mensurar upgrading, haja vista que múltiplas variáveis precisam ser consideradas para se obter uma avaliação mais precisa acerca das trajetórias de upgrading e downgrading de empresas e indústrias em determinados tipos de produtos e mercados consumidores. Origem do País Valor 1983 % Valor 1986 % Valor 1990 % Valor 1997 % Nordeste da Ásia China 759 1661 3439 7450 Hong Kong 2249 3392 3977 4028 Outros 3617 5.430 6247 4761 Total 6.625 68 10.483 60 13.663 54 16.239 33 Sudeste Asiático Indonésia 75 269 645 1789 Filipinas 319 473 1083 1650 Outros 412 856 1708 3001 Total 806 8 1.598 9 3436 13 6440 13 Sul da Ásia Índia 220 344 636 1508 Bangladesh 7 154 422 1442 Sri Lanka 126 257 426 1242 Paquistão 32 92 232 705 Total 385 4 847 5 1716 7 4897 10 América Central e Caribe República Dominicana 139 287 723 2234 Honduras 20 32 113 1688 Outros 159 478 1149 3743 Total 389 4 797 5 1985 8 7665 16 México 199 2 331 2 709 3 5350 11 Todos os outros países 1328 14 3283 19 4009 16 7664 16 Total do setor 9731 100 17.341 100 25.518 100 48.492 100 9 Saiba mais A análise do desempenho das indústrias no comércio internacional pode ser considerada por meio das noções de upgrading e downgrading em determinadas categorias de produtos e mercados. Além da alta aplicabilidade em estudos realizados por analistas, técnicos e especialistas ligados à indústria e ao comércio internacional, tal perspectiva permite ao estudante ou interessado desenvolver diversas competências técnicas nessas áreas do conhecimento. Para que você possa ampliar seus conhecimentos sobre esse assunto, sugerimos a leitura do seguinte texto: ALVES, A. R. A indústria automobilística nos países do MERCOSUL: territórios, fluxos e upgrading industrial. 208f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. TEMA 3 – SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO, A DISTRIBUIÇÃO, O CONSUMO E AS DIVERSAS DIMENSÕES DA GLOBALIZAÇÃO 3.1 A Vale e o rompimento da barragem em Brumadinho-MG: impactos na produção e exportação de minério de ferro Agora vamos tratar da relação entre comércio exterior e outros elos da cadeia global de valor, ainda que se tratem de links que não necessariamente se apresentem de maneira explícita no que se refere às estruturas ou aos modelos que apresentamos até agora. Em particular, vamos analisar a relação entre a atuação das empresas e o sistema financeiro global. Para isso, será utilizado o exemplo da Vale, uma das maiores empresas mineradoras do mundo. No ano de 2019, ocorreu um evento que marcou a história da empresa e sua atuação no Brasil, bem como gerou impactos e transformações que dificilmente serão esquecidas por aqueles que viveram ou tiveram a experiência de se envolver, ainda que de maneira indireta, com os acontecimentos ocorridos em 25 de janeiro na cidade de Brumadinho (Minas Gerais). Estamos nos referindo ao rompimento da barragem na localidade Córrego do Feijão, evento que resultou em diversas mortes, ações judiciais e impactos socioambientais. 10 Entre esses impactos consideramos a queda no volume de produção, pois houve a determinação judicial para a suspensão da atividade na região, e poderíamos levantar a hipótese de que isso resultou também em variações no valor ou volume das exportações do minério de ferro. Hipótese esta que testaremos e analisaremos fazendo uso da mesma técnica e metodologia adotada e apresentada antes. Selecionamos a commodity “minérios de ferro e seus concentrados, incluindo as piritas de ferro ustuladas (cinzas de piritas)”, código de n. 2601 segundo o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH), para analisar a hipótese desde o mês em que ocorreu o rompimento da barragem (janeiro de 2019) até o último mês com dados disponíveis, qual seja, mês de abril de 2019. Os resultados são apresentados na Tabela 4. Tabela 4 – Valor das exportações (US$) de minério de ferro do Brasil para o mundo em 2019, após o rompimento da barragem em Brumadinho-MG Mês Valor (US$) Janeiro 1.704.057.863 Fevereiro 1.528.957.663 Março 1.388.590.385 Abril 1.076.364.581 Fonte: Elaborado com base em dados do UN-COMTRADE, 2019. De fato, estávamos corretos ao assumirmos a hipótese de que com o rompimento da barragem e as restrições impostas pela suspensão da atividade de produção/extração, a consequência seria uma redução na exportação de minério de ferro nos meses subsequentes ao rompimento da barragem em Brumadinho. 3.2 A relação entre os eventos envolvendo o rompimento da barragem em Brumadinho e o Sistema Financeiro Global Sem dúvida, o rompimento da barragem em Brumadinho foi um evento local, mas com repercussões nas escalas macrorregional e global, à luz da dinâmica envolvendo o Sistema Financeiro Global. Se optamos por analisar o preço das ações da empresa Vale na bolsa de valores constatamos que no dia 28 de janeiro de 2019 o valor de cada quota da empresa era de R$ 56,15, cenário 11 em que o valor das ações da empresaencontrava-se em trajetória de ascendência. Ou seja, o rompimento da barragem não havia afetado o valor das ações da empresa no dia 25 de janeiro, dia do rompimento. Mas, no mesmo dia 25, o Governo de Minas Gerais já havia solicitado o bloqueio ou congelamento de cerca de R$ 1 bilhão, para auxílio imediato e efetivo às vítimas e redução das consequências da tragédia. Um segundo bloqueio havia sido solicitado no dia 26 e um terceiro pedido no dia 27 (domingo). No dia 28, a vara responsável na Justiça do Trabalho atendeu ao pedido, congelando mais R$ 800 milhões das contas da empresa. No agregado, até o dia 28 de janeiro os bloqueios dos recursos da Vale feitos pela Justiça de Minas Gerais já chegavam à cifra de R$ 11 bilhões, representando quase metade do caixa da mineradora relativo ao fim de setembro de 2018 (Valor Econômico, 2019). Além disso, ainda no dia 26, o Ibama (2019) havia multado a empresa em R$ 250 milhões, por danos ao meio ambiente. Diante desse cenário, os investidores na bolsa de valores responderam aos acontecimentos envolvendo a Vale e o valor das ações da empresa caiu drasticamente para R$ 42,38 no dia 29 de janeiro, oscilando em patamares bastante inferiores por diversas semanas (Gráfico 1). Gráfico 1 – Valor das ações da Vale no período em que ocorreu o rompimento da barragem de Brumadinho-MG Fonte: Ibovespa, B3, Clear Corretora, 2019. A partir desses acontecimentos, percebemos então que diversas dimensões (por exemplo: econômica, social, jurídica, ambiental) estão presentes na análise. Importante destacar que, embora se trate de um caso específico de uma empresa inserida em um setor em particular, as consequências da ação (ou 12 omissão) das empresas podem produzir resultados que afetam a econômica do município e do país, sua produção industrial, exportações, imagem/reputação nos mercados internacionais, percepção dos investidores etc. Isso ocorre porque o rompimento da barragem, ainda que por prazo indeterminado, causou queda no valor da empresa, pois o valor de suas ações foi reduzido. Se os investidores percebem tal evento como um mau sinal e, consequentemente, um mau investimento, não aplicarão seu dinheiro nesta empresa. E sem investimentos podem ocorrer reduções em produção, exportação, geração de receitas, emprego etc. TEMA 4 – COMPETÊNCIAS E HABILIDADES EM DESENVOLVIMENTO É nesse sentido que se torna relativamente fácil compreender que fatores geográficos e eventos locais podem gerar implicações nas escalas global ou internacional, afetando o mercado financeiro, a produção, a distribuição e as exportações. Dessa maneira, somos capazes de refletir de forma crítica, sistêmica e atual, acerca da realidade do comércio exterior brasileiro e o cenário mundial; de compreendermos os fatos e transformações sobre a integração sistêmica e multicultural dos contextos local, regional, nacional e internacional. Muitas das considerações que serão feitas a seguir estão contidas em Portarias e Diretrizes dos cursos de formação em nível superior, seja da área de Tecnologia em Comércio Exterior, da área de Logística, Global Trading ou, de maneira ampla, das áreas de administração e negócios que devam contemplar, ainda que de maneira implícita e indireta, conteúdos, saberes, competências e habilidades que privilegiem a dimensão espacial (geográfica) dos eventos e transformações pelas quais passam as pessoas, as economias, as regiões, os países etc. A seguir, destacamos algumas das características que foram tradadas ou exploradas durante nossas aulas nesta disciplina e que estão contidos nos documentos que mencionamos acima, quais sejam, portarias do MEC – Ministério da Educação e diretrizes curriculares dos cursos. Referência e características do perfil do egresso em diversas áreas, sobretudo nos cursos de tecnologia I. crítico e reflexivo acerca da integração sistêmica e multicultural dos contextos local, regional, nacional e internacional; II. ético, responsável e comprometido com sustentabilidade socioambiental, no âmbito nacional e internacional; 13 III. atento, de forma crítica, sistêmica e atual, sobre a realidade do comércio exterior brasileiro e o cenário mundial; IV. humanista na compreensão acerca das questões nacionais e internacionais relacionadas ao comércio exterior, considerando os contextos político, econômico, histórico, geográfico, jurídico, cultural e social; e Desenvolvimento de Competências e Habilidades I. planejar, definir, implementar e avaliar estratégias gerenciais na área de comércio exterior; II. acessar bases de dados e interpretar indicadores micro e macroeconômicos relacionados ao comércio exterior; III. prospectar e empreender oportunidades de mercados voltados a atividades de comércio exterior. TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES À LUZ DOS EXAMES/PROVAS/PROCESSOS SELETIVOS QUE TRATAM DA RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E ATIVIDADES ECONÔMICAS A análise da questão objetiva de n. 1 aplicada no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) do ano de 2018, na prova de Tecnologia em Comércio Exterior – componente formação geral, é um ótimo exemplo para concordarmos o argumento defendido por Scott (2006, p. vii) que afirma que qualquer geografia econômica que seja digna de seu nome deve certamente ser capaz de dizer algo de valor prático sobre o que talvez seja a situação humana mais notável no mundo de hoje, e cuja urgência pode ser identificada com um único e simples comentário estatístico. Em suma, a metade mais pobre da população mundial hoje comanda apenas 14% do PIB mundial, enquanto apenas 15% da população mundial comanda mais da metade do PIB mundial. Além disso, a questão chama a atenção pelo fato de que envolve a análise da concentração espacial da atividade econômica no espaço, tema esse discutido anteriormente e que nos faz recordar do próprio conceito de Geografia Econômica. Vamos revisitar este conceito? Na perspectiva de Alves (2015, p. 83), a Geografia Econômica se preocupa em analisar, compreender e explicar a organização espacial das atividades econômicas em determinados sistemas econômicos à luz da Geografia e de seus conceitos e técnicas. O Geógrafo economista se preocupa com a localização dos vários elementos dos sistemas econômicos, como eles estão conectados no espaço, como eles o produzem e o transformam, e quais são os impactos socioespaciais dos processos econômicos. Com base nessas breves considerações, vamos analisar a questão: 14 ENADE (2018) Questão objetiva n. 1. – Prova Tecnologia em Comércio Exterior Considerando o infográfico apresentado, avalie as afirmações a seguir. I. A distribuição da área plantada com transgênicos no mundo reflete o nível de desenvolvimento econômico dos países. II. Os Estados Unidos da América possuem a maior área plantada de algodão transgênico no mundo. III. O hemisfério norte concentra a maior área de produção transgênica. IV. A área de produção de soja transgênica é maior no Brasil que na Argentina. É correto apenas o que se afirma em: a. I e II. b. I e IV. c. III e IV. d. I, II e III. e. II, II e IV. (A resposta e comentários encontram-se ao final deste documento). 15 TROCANDO IDEIAS A tragédia ocorrida em Brumadinho é um desses eventos locais que têm a capacidade de gerar transformações não apenas na escala local, mas também na nacional e na global. Você se recordaria de algum outro evento semelhante a esse, ocorrido no Brasil ou no exterior, e que, concomitantemente, implicaria em consequências sociais, econômicas, jurídicas e ambientais? Reflita sobre a questão e discuta com seus colegas e amigos sobre o tema de forma articulada com suas áreas de formação e interesse. NA PRÁTICA Além do minério de ferro, a soja é outra commodity que o Brasil exporta muito para os parceiros comerciais. Para compreender o desempenho comercialdo Brasil neste produto, procure descobrir qual o valor das exportações de soja do Brasil para o mundo nos últimos anos e identifique qual é o principal país consumidor da soja brasileira durante este período. FINALIZANDO Nesta aula tratamos de questões diversas envolvendo a relação entre países por meio das transações comerciais, importação e exportação. Analisamos a influência que eventos locais e nacionais podem exercer em contextos socioespaciais mais amplos, explorando o caso do rompimento da barragem em Brumadinho. Analisamos ainda uma perspectiva contemporânea bastante discutida na literatura que trata de comércio exterior e cadeias globais de valor de modo geral, a perspectiva do upgrading industrial. Realizamos uma breve consideração sobre as competências e habilidades que podem ser desenvolvidas por meio da análise de conteúdos, exemplos e aplicações apresentadas nesta e também em aulas anteriores. Por último, deixamos uma dica importante para você. Continue estudando sobre esses temas e procure conhecer temas e questões contemporâneas. Conhecimento é um caminho sem volta e, é também fundamental para mantermos nosso cérebro em plena atividade, saudável e preparado para as inovações do presente e do futuro. Uma dica boa para fazer isso é consultar, ler e analisar os temas e questões de concursos, exames d processos seletivos que 16 dizem respeito a sua área de formação e interesse. Além de manter seu cérebro ocupado e ativo, você poderá associar o útil e fundamental ao agradável e valioso para sua carreira e para manter-se atualizado acerca das mudanças da atualidade. 17 REFERÊNCIAS ALVES, A. R. Geografia econômica e geografia política. Curitiba: InterSaberes, 2015. ALVES, A. R. A indústria automobilística nos países do MERCOSUL: territórios, fluxos e upgrading industrial. 208f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. GEREFFI, G. International trade and industrial upgrading in the apparel commodity chain. Journal of International Economics, v. 48, n.1, p.37-70, 1999. GEREFFI, G., HUMPHREY, J., STURGEON, T. The governance of global value chains. Review of International Political Economy, v. 12, n.1, p. 78-104, 2005. GÓES, F.; TORRES, F. Bloqueio representa 45% do caixa da Vale. Valor Econômico, 28 jan. 2019. Disponível em: <https://www.valor.com.br/empresas/ 6088299/bloqueio-representa-45-do-caixa-da-vale>. Acesso em: 31 ago. 2019. HENDERSON, J.; DICKEN, P.; HESS, M.; COE, N. M. and H. W-c. YEUNG Global Production Networks and the analysis of economic development, Review of International Political Economy, v. 9, n. 3, 436-464, 2002. IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Ibama multa Vale em R$ 250 milhões por catástrofe em Brumadinho (MG). Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/noticias/730- 2019/1879-ibama-multa-vale-em-r-250-milhoes-por-catastrofe-em-brumadinho- mg>. Acesso em: 31 ago. 2019. SCOTT, A. J. Geography and Economy. Oxford: Oxford University Press, 2006. SMITH, A.; RAINNIE, Al; DUNFORD, HARDY, J.; HUDSON, R.; SADLER, D. Networks of value, commodities and regions: reworking divisions of labour in macro-regional economies. Progress in Human Geography, London: Edward Arnold, v.26, n.1, p.41-63, 2002. SMITH, A.; ALVES, A. R. Industrial Upgrading na Indústria Automotiva dos Países do Centro e Leste Europeus. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba: IPARDES, n.123, p.23-49, jul./dez. 2012. http://www.ibama.gov.br/noticias/730-2019/1879-ibama-multa-vale-em-r-250-milhoes-por-catastrofe-em-brumadinho-mg http://www.ibama.gov.br/noticias/730-2019/1879-ibama-multa-vale-em-r-250-milhoes-por-catastrofe-em-brumadinho-mg 18 UN-COMTRADE DATA BANK. Disponível em: <https://comtrade.un.org/>. Acesso em: 31 ago. 2019. 19 RESPOSTAS Comentários ENADE (2018) Questão objetiva n. 1. – Prova Tecnologia em Comércio Exterior Analisando-se a assertiva I, percebemos que a distribuição da área plantada com transgênicos no mundo na verdade não reflete o nível de desenvolvimento econômico dos países. Tenhamos como exemplo a análise de Canadá, Brasil e Argentina. Se o candidato observar que o Canadá um país mais desenvolvido do que Brasil e Argentina, o Canadá teria de apresentar maior área plantada de transgênicos do que Brasil e Argentina. Mas, conforme observamos na figura, tanto Brasil como Argentina superam o Canadá em termos de área plantada de transgênicos. Portanto, assertiva I está incorreta. A assertiva II afirma que os Estados Unidos da América apresentam a maior área plantada de algodão transgênico no mundo. Assertiva incorreta. Aqui o candidato (a) deveria observar os dados dos EUA comparados aos da Índia no que concerne à área plantada de algodão transgênico. A Índia ocupa a quinta posição do ranking se consideramos as maiores áreas plantadas com transgênicos no mundo, sendo que 100% da área plantada com transgênicos (11,4 milhões de hectares) é utilizada para a cultura do algodão. Agora, seria necessário observar e calcular o quanto dos 6% de área plantada com algodão transgênico nos EUA representam numericamente em milhões de hectares no universo dos 75 mi/ha (área total plantada com transgênicos nos EUA). Ou seja, [(6/100)*75]= [0,06*75]= 4,5 mi/ha. Se os EUA possuem uma área de 4,5 mi/ha plantada com algodão transgênico e a Índia uma área de 11,4 mi/ha, logo a Índia possuiria a maior área plantada de algodão transgênico no mundo, e não os EUA, segundo os dados apresentados na imagem. A assertiva III afirma que o hemisfério norte concentra a maior área de produção transgênica. Assertiva correta. Se realizamos a somatória das áreas plantadas com transgênicos nos EUA (75 mi/ha), Canadá (13,1 mi/ha) e Índia (11,4 mi/ha), países localizados no hemisfério norte, chegamos ao seguinte resultado: 99,5mi/ha. Como Brasil (50,2mi/ha) e Argentina (23,6mi/ha) estão localizados abaixo da linha de Equador, portanto hemisfério sul, e apresentam a soma de 73,8 mi/ha, então é no hemisfério norte que se encontra a maior área de produção transgênica. 20 A assertiva IV afirma que a área de produção de soja transgênica é maior no Brasil que na Argentina. Novamente, o candidato (a) precisaria realizar alguns cálculos elementares de matemática. A área plantada com soja transgênica no Brasil corresponde a 67% da área total plantada com transgênicos no país (50,2mi/ha). Assim, a área de produção de soja transgênica no Brasil pode ser calculada da seguinte forma: [(67/100)*50,2]= [0,67*50,2]= 33,6 mi/ha. A área plantada com soja transgênica na Argentina corresponde a 76,5% da área total plantada com transgênicos no país (23,6mi/ha). Desta forma, a área de produção de soja transgênica na Argentina pode ser calculada da seguinte forma: [(76,5/100)*23,6]= [0,765*23,6]= 18,0 mi/ha. Logo, a assertiva IV está correta. A área de produção de soja transgênica é maior no Brasil (33,6 mi/ha) do que na Argentina (18,0 mi/ha). Por último, mas não menos importante, e considerando corretas as assertivas III e IV, a alternativa a ser selecionada pelo (a) candidato (ao) seria a “C”.
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