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Judiciário e relações internacionais

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Competência jurisdicional para realizar o julgamento de litígios que envolvam Estados 
estrangeiros e organizações internacionais no Brasil 
Para definir o órgão do Poder Judiciário que tem competência para atuar no julgamento de 
litígios que envolvem Estados estrangeiros e organizações internacionais no Brasil, é preciso, 
antes, definir com quem esses sujeitos de Direito Internacional Público estão litigando. De modo 
sistematizado, tem-se o seguinte quadro: 
1- Estado estrangeiro ou organização internacional vs. UNIÃO, ESTADOS, DF ou 
TERRITÓRIOS (art.102,I, “e”): a competência originária para realizar o julgamento é do 
STF. 
2- Estado estrangeiro ou organização internacional vs. MUNICÍPIO ou PARTICULAR – 
pessoa natural ou pessoa jurídica de direito privado (art.109,II): a competência para 
realizar o julgamento é do juiz federal de 1º grau. 
OBS: o art.105,II, “c” da CF/88 prevê que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem competência 
para julgar o recurso ordinário interposto contra a sentença do juiz federal de 1º grau que julgou 
o litígio entre Estado estrangeiro ou organização internacional vs. Município ou particular. O 
recurso ordinário é um recurso específico que permite levar uma sentença proferida por juiz 
federal de 1º grau diretamente para ser revista pelo STJ, dispensando-se, assim, a apreciação 
dessa sentença pelo Tribunal Regional Federal (TRF) – este tribunal, em geral, costuma atuar 
como instância intermediária entre o juiz federal de 1º grau e o STJ. 
OBS: o STJ não julga o litígio entre Estado estrangeiro ou organização internacional vs. Município 
ou particular. Esse litígio é julgado pelo juiz federal de 1º grau. A competência do STJ é para 
julgar o RECURSO ORDINÁRIO interposto contra a referida sentença do juiz federal de 1º grau 
que julgou o referido litígio. 
 
Competências específicas do STF e do STJ em matéria de relações internacionais 
No que tange às competências do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de 
Justiça (STJ) no universo das relações internacionais, cabe registrar os seguintes pontos 
relevantes: 
1. Supremo Tribunal Federal (STF): a partir da análise do art.102 da CF/88, pode-se 
identificar as seguintes competências originárias do STF em matéria de relações 
internacionais: 
a) Art.102,I,”c”: compete ao STF julgar crimes comuns e crimes de responsabilidade 
praticados por chefes de missão diplomática de caráter permanente; 
b) Art.102,I,”g”: compete ao STF julgar o pedido de extradição solicitado por Estado 
estrangeiro. OBS: o STF tem competência para julgar o pedido de extradição 
formulado por Estado estrangeiro, isto é, para verificar se o Estado estrangeiro 
requerente cumpre todas as formalidades para obter a extradição do indivíduo por 
parte da República Federativa do Brasil. O STF, portanto, realiza o chamado juízo de 
delibação na extradição, ou seja, somente analisa os requisitos formais que 
autorizam a extradição. Caso o Estado estrangeiro requerente alegue que o Brasil, 
ao negar um pedido de extradição, viola eventual tratado existente entre os Estados 
soberanos envolvidos na extradição, haverá a configuração de um litígio 
internacional. Os litígios internacionais devem ser julgados por Cortes internacional, 
a exemplo da Corte Internacional de Justiça (CIJ). 
2. Superior Tribunal de Justiça (STJ): em matéria de relações internacionais, o art.105 da 
CF/88 prevê em seu inciso I, alínea “i”, uma competência originária do STJ. Trata-se da 
competência para atuar na homologação de sentença estrangeira e na concessão de 
exequatur de carta rogatória. Por força do disposto no art.109, §5º da CF/88, compete 
também ao STJ julgar o denominado INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA 
(IDC). 
 
Incidente de deslocamento de competência (IDC) 
O incidente de deslocamento de competência previsto no art.109, §5º da CF/88 pode ser 
resumido didaticamente por meio da seguinte fórmula: IDC=TDH+PGR+STJ. 
O incidente de deslocamento de competência é um instituto processual por meio do qual é 
possível deslocar a competência para julgar um processo ou inquérito da justiça estadual para a 
justiça federal; o que justifica o ajuizamento do IDC é a necessidade de assegurar o cumprimento 
de tratados de direitos humanos que o Brasil figura como parte. 
Em outras palavras, o IDC deve ser empregado em situações em que se verifica a inércia da 
Justiça estadual em julgar processo ou inquérito poderá ocasionar a condenação internacional 
do Brasil em virtude do descumprimento de tratados internacionais de direitos humanos. 
A legitimidade de apresentar o pedido de deslocamento de competência da justiça estadual para 
a justiça federal local é apenas do Procurador-Geral da República (PGR). 
A competência para julgar o pedido de deslocamento de competência apresentado pelo PGR é 
atribuída ao Superior Tribunal de Justiça.

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