Buscar

U5 Claretiano

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EA
D
5
Sociologia Contemporânea: 
Velhas e Novas Questões 
Sociais
1. OBJETIVOS
•	 Identificar	tendências	da	sociedade	contemporânea.
•	 Compreender	o	teor	das	questões	sociais	que	se	apresen-
tam	para	análises	e	explicações	sociológicas.
•	 Cultivar	a	atitude	de	pesquisador.
2. CONTEÚDOS
•	 A	desigualdade	social.
•	 A	questão	da	pobreza.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Sociologia Geral110
1)	 Uma	das	questões	sociais	que	será	objeto	de	suas	refle-
xões	no	decorrer	da	 leitura	compreensiva	é	a	pobreza.	
Para	que	você	tenha	acesso	à	linguagem	literária	sobre	
a	pobreza,	temos,	no	Brasil,	a	obra	clássica	de Graciliano	
Ramos	Vidas Secas,	que	é	 fundamental	e,	por	essa	 ra-
zão,	precisa	ser	reconhecida.	Há,	também,	o	filme	Vidas 
Secas,	de	Nelson	Pereira	dos	Santos,	inspirado	na	obra.	
Temos,	ainda,	o	 filme	Morte e vida Severina,	de	Zelito	
Viana, que	merece	ser	assistido.
2)	 O	 cinema	brasileiro	 recente	produziu	uma	 série	de	 fil-
mes	e	documentários	que	tratam	da	pobreza.	Filmes	tão	
diversos	como	Notícias de uma guerra particular	(1999),	
Palace II	(2000),	Cidade de Deus	(2002),	O invasor	(2003),	
Ônibus 174	(2003),	Cidade dos homens	(2003),	entre	ou-
tros,	e	recentemente	Falcão, meninos do tráfico	(2006),	
documentário	concebido	e	dirigido	por	MV	Bill	e	Celso	
Athayde,	moradores	de	Cidade	de	Deus.	Todos	eles	são	
alguns	 exemplos	 de	 obras	 de	 ficção	 ou	 documentário	
que	acentuaram	a	presença	visual	de	cidadãos	pobres,	
negros,	moradores	de	 favelas	e	de	bairros	de	periferia	
no	 cinema	 e	 na	 televisão	 brasileiros.	 Nessa	 periferia	
pouco	acostumada	à	exposição,	a	visibilidade	estimulou	
uma	reação	crítica	contundente.	Marcinho	VP,	persona-
gem	incógnita	do	filme	de	João	Salles,	Notícias de uma 
guerra particular,	disse	aos	jornalistas	que	cobriam	sua	
prisão:	“eu	sou	o	monstro	que	vocês	criaram”.	A	 frase	
revela	sensibilidade	crítica	para	o	jogo	de	espelhos	que	
define	 personalidades	 mais	 ou	 menos	 estereotipadas	
e	 que	Guy	Debord,	 cineasta	 e	 filósofo	 francês,	 definiu	
como	sociedade do espetáculo.	Todas	essas	indicações	
são	fundamentais	para	complementar	o	que	será	abor-
dado	nesta	unidade.
3)	 Falcão, meninos do tráfico,	documentário	dirigido	pelo	
rapper	MV	Bill	e	por	seu	empresário,	Celso	Athayde,	exi-
bido	no	programa	Fantástico	em	19	de	março	de	2006,	
indicado	anteriormente,	chocou	o	país.	Gravado	ao	lon-
go	 de	 anos	 em	 diversas	 periferias	 brasileiras,	 o	 docu-
mentário	foge	da	expressão	limpa,	direta	e	bem	acabada	
Claretiano - Centro Universitário
111© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
que	 vem	caracterizando	a	produção	de	 filmes	 sobre	o	
assunto.	Vale	um	empenho	para	assisti-lo.
4)	 Sugerimos,	 também,	 dois	 filmes	 internacionais: Hotel 
Ruanda,	dirigido	por	Terry	George,	e	Crash – No Limite,	
dirigido	por	Paul	Haggis.
5)	 Para	 aprofundar	 seus	 conhecimentos	 sobre	 a	 pobreza	
e	suas	relações	com	a	educação	sugerimos	a	leitura	da	
entrevista	concedida	por	István	Mézáros	à	Folha	de	São	
Paulo.	As	suas	colocações	ampliam	nosso	campo	de	re-
flexão	em	torno	do	tema	que	será	estudado.	A	entrevis-
ta	encontra-se	disponível	no	seguinte	endereço	eletrô-
nico:	 <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/
ult305u15857.shtml>.	Acesso	em:	10	jun.	2010).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	 foi	possível	compreendermos	como	a	
questão	social	colocou	a	sociedade	no	plano	da	análise	científica.	
Nesta	unidade,	considerando	que	as	questões	sociais	 já	estavam	
postas	pela	sociedade	capitalista	quando	do	advento	da	Sociolo-
gia,	 estaremos	 diante	 de	 velhas	 e	 novas	 questões	 sociais.	 Parti-
remos	de	uma	questão	social	que	está	na	origem	da	organização	
científica	do	pensamento	social	e	que	continua	presente	como	um	
desafio	para	a	Sociologia	contemporânea:	a	desigualdade	social.
Exercitando	 nossa	 capacidade	 de	 compreensão,	 lembremo-
-nos	de	que,	na	Unidade	2,	fizemos	o	registro	da	preocupação	com	
a	pobreza,	como	desigualdade	social,	resultante	da	 ignorância	e	da	
exploração	humanas,	 constituindo	uma	das	 fontes	do	pensamento	
sociológico	que	dá	origem	ao	levantamento social,	uma	das	técnicas	
de	excelência	na	pesquisa	sociológica,	também	utilizada	na	Economia.
Quando	saímos	às	ruas	ou	mesmo	quando,	em	casa,	ligamos	
a	televisão,	notamos	entre	as	pessoas	aquelas	que	se	assemelham	
a	uma	grande	maioria,	ou	seja,	 revelam	semelhanças	entre	si	e,	
em	contrapartida,	deparamo-nos,	 também,	 com	pessoas	que	 se	
diferenciam	da	grande	maioria	e	que	constituem	uma	minoria.	As	
© Sociologia Geral112
diferenças	que	notamos	à	primeira	vista	se	vinculam	ao	vestuário,	
à	condução	que	utilizam.	Existem,	porém,	outras	diferenças	que	
não	são	tão	visíveis,	as	quais	estão	ligadas	à	religião,	aos	conheci-
mentos,	ao	gênero,	à	raça,	à	opção	sexual,	que	provocam	a	desi-
gualdade social.
Um	olhar	mais	atento	vai	nos	conduzir	a	visões	de	favelas	e	
mansões,	de	pessoas	desnutridas	e	de	pessoas	que	se	alimentam	
em	excesso,	de	sujeitos	analfabetos	e	aqueles	que	têm	formação	
escolar	completa.	Enfim,	cada	sociedade	gera	formas	de	desigual-
dades	resultantes	dos	modos	de	organização	social.	As	desigual-
dades	 assumem	 características	 diferenciadas	 entre	 si	 porque	 se	
constituem	a	partir	de	elementos	políticos,	econômicos	e	sociais	
próprios	de	cada	sociedade.
Essas	concepções	são	resultados	de	estudos	sociológicos	que	
tomaram	pobreza	 como	objeto	 de	 estudo,	 compreendida	 como	
um	resultado	da	ignorância	e	da	exploração	humana,	ou	seja,	não	
mais	aceita	como	um	castigo	da	natureza	ou	da	providência	divina.	
Nas	sociedades	industriais,	a	pobreza,	como	forma	de	desigualda-
de	social,	já	não	é	considerada	um	fenômeno	natural.
A	expressão	“desigualdade	social”	é	constituída	como	uma	
referência	a	uma	condição	na	qual	os	membros	de	uma	mesma	so-
ciedade	possuem	quantias	diferentes	de	bens,	poder	ou	prestígio.
No	combate	à	desigualdade,	busca-se	a	equidade	social,	ou	
seja,	busca-se	o	direito	de	as	pessoas	participarem	da	atividade	
econômica	e	política,	de	contarem	com	os	meios	de	subsistência	e	
o	direito	de	acesso	aos	serviços	públicos	que	permitam	manter	um	
nível	adequado	de	vida.
Estamos	vivendo	na	primeira	década	do	século	21,	e	uma	das	
maiores	preocupações	da	humanidade	é	a	desigualdade	que	existe	
em	várias	partes	do	mundo.	Globalmente,	a	concentração	de	rique-
za	tem	aumentado,	gerando	novos	tipos	de	desigualdade:	o	conhe-
cimento	produzido	é	incorporado	apenas	por	pequenos	grupos	que	
passam	a	ter	maior	controle	dos	processos	de	produção	de	riqueza.
Claretiano - Centro Universitário
113© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Os	 Índices	 de	 Desenvolvimento	 Humano	 (IDH)	 divulgados	
pela	Organização	das	Nações	Unidas	(ONU)	demonstram	que	um	
dos	 aspectos	mais	 cruéis	 da	 desigualdade	 é	 a	 concentração	 de	
pobres	nas	zonas	urbanas,	vivendo	em	favelas.	Se	considerarmos	
aqueles	 que	 vivem	 em	 situação	 de	 pobreza	 extrema,	 o	 quadro	
apresenta-se	mais	grave,	com	um	número	de	pobres	maior	do	que	
as	favelas	revelam.
A	 situação	 de	 desigualdade	mundial	 constitui-se	 ao	 longo	
dos	últimos	500	anos	com	o	processo	de	uma	economia	mundial.
5. DESIGUALDADE SOCIAL
O	processo	histórico	tem	revelado	como	uma	tendência	mar-
cante	a	diferenciação	e	a	crescente	complexidade	da	sociedade.	
Da	pequena	diferenciação	social	existente	nas	sociedades	tribais,	
as	sociedades	foram	passando	por	processos	que	as	levaram	a	for-
mar	os	mais	diferentes	grupos	que	começaram	a	se	distinguir	por	
nacionalidade,	 por	 religião,	 por	 profissão,	 por	 etnia	 e,	 de	modo	
mais	acentuado,	por	classe social.
O	mundo	contemporâneo	assiste	ao	resultado	desse	proces-
so	histórico	de	formação	de	uma	civilização	complexa	e	diferencia-
da,	na	qual	diversos	grupos	procuram	monopolizar	seus	privilégios	
e	possibilidades	de	acesso	à	produção	de	bens	e	aos	mecanismos	
de	distribuiçãodesses	bens	na	sociedade.
Diante	dessas	colocações,	surge	uma	pergunta:	terá	havido,	
em	algum	momento	da	história	da	humanidade,	uma	sociedade	
igualitária?
Evidências	históricas	indicam	que	as	culturas	humanas,	em	
todos	os	tempos	e	lugares,	se	organizaram	a	partir	da	ideia	da	dis-
tinção,	da	diferenciação	entre	grupos	sociais.	Mesmo	naquelas	so-
ciedades	simples,	consideradas	homogêneas,	existiam	diferenças	
de	sexo	e	idade,	o	que	levava	à	atribuição	de	diferentes	funções,	
parcelas	de	poder,	determinados	direitos	e	deveres.
© Sociologia Geral114
Temos	 como	 exemplo	 o	 patriarcado,	 que	 existiu	 desde	 as	
mais	remotas	civilizações	e	que	garantia	aos	homens	o	poder	so-
bre	a	família	e	seus	bens.
Bem,	se	considerarmos	que,	desde	a	Antiguidade	histórica,	
as	sociedades	apresentaram	diferentes	formas	de	organização	so-
cial,	nas	quais	a	distribuição	de	bens	era	desigual,	podemos	nos	
perguntar:	por	que	a	pobreza	é	tão	chocante	e	tão	pouco	aceitável	
contemporaneamente?
A	partir	do	momento	em	que	foi	engendrada	a	ideia	de	hu-
manidade	como	conceito	capaz	de	conter	todos	os	seres	humanos	
do	planeta,	as	desigualdades sociais	 tornaram-se	cada	vez	mais	
evidentes.	Ao	defender-se	o	princípio	de	que	todos	têm	os	mes-
mos	direitos	e	 são	 iguais	perante	a	 lei,	 fica	 cada	vez	mais	difícil	
justificar	as	desigualdades	sociais.
Se	todos	possuem	os	mesmos	direitos,	como	podem	existir	
grupos	que	não	têm	acesso	ao	mínimo	de	bens	produzidos	pela	
sociedade?
A	 pertinência	 e	 a	 permanência	 dessa	 pergunta	 indicam	 a	
contradição	 em	 relação	 aos	 valores	 que	 defendemos	 em	 nossa	
forma	de	organização	social,	e	é	por	essa	razão	que	na	sociedade	
moderna	e	contemporânea	a	desigualdade	social	assume	o	cará-
ter	de	privilégio	de	alguns	e	de	injustiça	para	com	outros.	É	essa	
nova	consciência	que	torna	a	riqueza	tão	incômoda.
6. A QUESTÃO DA POBREZA
A	pobreza	pode	ser	encarada	como	uma	condição	em	que	
a	pessoa	não	pode	manter-se	sozinha	de	acordo	com	o	padrão	de	
vida	do	grupo	e,	por	isso,	é	incapaz	de	atingir	a	eficiência	mental	e	
física	que	lhe	permita	atuar	de	maneira	útil	nesse	grupo.
Ricos	e	pobres	são	sempre	encontrados	em	qualquer	lugar	
no	qual	um	ser	humano	possa	adquirir	ou	controlar	maior	quanti-
dade	de	bens	do	que	o	outro.
Claretiano - Centro Universitário
115© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Historicamente,	a	existência	simultânea	da	riqueza	e	da	po-
breza	somente	se	constituiu	como	uma	questão social	após	o	apa-
recimento	de	um	sistema	de	trocas	e	de	uma	escala	de	valores.
Foi	 com	 a	 expansão	 do	 comércio	 em	escala	 internacional,	
com	a	grande	acumulação	de	riqueza	e	sua	distribuição	desigual	
e	com	o	estabelecimento	de	padrões	de	vida	definidos	nos	usos	
e	costumes	que	a	pobreza	começou	a	surgir	como	um	problema 
social.
Pela	 comparação	 das	 diferenças	 de	 status	 econômico,	 os	
membros	de	uma	 sociedade	 tornaram-se	 conscientes	dessas	di-
ferenças	e	passaram	a	considerar	a	si	próprios	e	aos	outros	como	
ricos	e	pobres	em	diferentes	graus.
Mas	em	que	momento	a	pobreza	passa	a	ser	reconhecida	e	
identificada	como	um	problema	social?
A	partir	do	momento	em	que	se	estabelecem	diferenças	evi-
dentes	de	status	econômico	entre	os	membros	de	uma	sociedade	
e	se	fazem	comparações	e	avaliações	dessas	diferenças,	a	pobreza	
passa	a	ser	identificada	como	um	problema;	caso	contrário,	mes-
mo	a	vida	sendo	muito	precária,	não	há	problemas	de	desigualda-
de	social	na	falta	de	diferenças.
Os	povos	primitivos	viveram	em	um	estado	de	mais	ou	me-
nos	privação.	A	falta	de	alimentos	suficientes	e	outras	necessida-
des	foram	muito	comuns.	O	desconforto	e	o	sofrimento	devido	a	
um	suprimento	inadequado	de	elementos	básicos,	mais	do	que	o	
conforto	e	bem-estar,	foram	quase	universais	até	muito	recente-
mente.	Vivenciando	as	mesmas	condições,	as	pessoas	geralmente	
consideravam	seu	desconforto	um	estado	natural,	muito	mais	do	
que	um	problema	que	exigisse	solução	e,	portanto,	aceitavam-no	
sem	se	sentirem	injustiçadas.	Exceto	em	casos	de	extrema	priva-
ção,	a	pobreza	não	era	sentida,	a	não	ser	pela	indignação	do	indiví-
duo	diante	de	sua	sorte	em	comparação	com	a	dos	outros.
Segundo	a	visão	de	Cristina	Costa	(2005),	no	mundo	moder-
no,	especialmente	nas	sociedades	ocidentais,	a	pobreza	tomou	a	
© Sociologia Geral116
dianteira	entre	os	problemas	sociais,	não	devido	a	um	aumento	
da	miséria	(as	condições	de	vida	têm	melhorado	constantemente),	
mas	por	causa	do	ressentimento.	Os	fatores	que	contribuem	para	
o	ressentimento	profundo	contra	a	pobreza	são:	a	consciência	do	
fracasso,	o	não	conseguir	mais	do	que	se	tem	e	o	sentimento	de	
injustiça	diante	da	ordem	geral	das	coisas.
No	texto	a	seguir,	podemos	constatar	quais	são	as	três	for-
mas	 diferentes	 de	 pobreza	 identificadas	 por	 John	 Friedmann	 e	
Leonie	Sandercock.
Os Desvalidos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Numa sociedade complexa, em que a vida se reveste de inúmeras instâncias di-
ferentes e na qual existe a consciência de a espécie humana constituir uma tota-
lidade, a questão da pobreza se reveste de inúmeros aspectos. John Friedmann 
e Leonie Sandercock, especialistas em planificação urbana, em artigo intitulado 
Os desvalidos, publicado em maio de 1995 pelo Correio da Unesco, identificam 
três diferentes formas de pobreza, além da clássica carência de bens materiais 
e de recursos à sobrevivência.
1) A despossessão psicológica diz respeito a um sentimento de autodesvalo-
rização das populações pobres em relação às ricas, ou de um país pobre em 
relação a um país rico.
2) A despossessão social, que se manifesta pela completa impossibilidade 
de parcelas da população terem acesso aos mecanismos de êxito social, de 
atingirem o mínimo de prestígio e manterem relações sociais estruturadas e 
permanentes.
3) A despossessão política é outro lado da pobreza contemporânea e diz res-
peito à incapacidade de certos grupos sociais terem qualquer participação 
efetiva na vida pública ou acesso aos mecanismos de interferência e ação 
política.
À medida que se amplia nossa concepção de vida social, a questão da pobreza 
torna-se aguda e complexa, envolvendo não só a aquisição de bens materiais, 
mas também o acesso a diversos privilégios sociais, cada vez mais essenciais 
(COSTA, 2005, p. 251).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vivemos	em	uma	sociedade	mecanizada	e	informatizada,	na	
qual	a	pobreza	continua	resistente	aos	esforços	que	os	Estados	ar-
gumentam	estar	desenvolvendo.	A	esperança	de	vida	cresce	em	
quase	todas	as	partes	do	mundo,	mas	o	atendimento	à	população	
desvalida	 continua	 precário.	 As	 favelas	 multiplicam-se	 cada	 vez	
mais	e	compõem	a	paisagem	urbana	ao	lado	da	criminalidade,	da	
presença	da	mendicância.	
Claretiano - Centro Universitário
117© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Medidas	de	análise	como	analfabetismo,	renda	per capita,	
índices	 de	nascimento,	mortes,	 desnutrição,	 educação	 escolar	 e	
dívida	externa	são	cada	vez	mais	utilizadas	para	classificar	regiões	
e	nações.	Diante	dessas	informações,	a pobreza	deixa	de	ser	uma	
condição	abstrata	e	torna-se	presentificada.	Pessoas,	países	e	gru-
pos	sociais	são	considerados	pobres,	não	apenas	em	relação	a	si	
próprios	ou	às	suas	dificuldades	para	atingir	seus	objetivos	e	me-
lhorar	sua	condição	de	vida,	mas	também	em	relação	aos	outros	
grupos	ou	aos	outros	países	com	os	quais	são	comparados.
A	pobreza	passa	a	existir,	 também,	em	 função	das	exigên-
cias	externas;	 são	padrões	 globalizados,	 índices	organizados	por	
processos	sociais	distantes	que	criam	necessidades	que	se	chocam	
com	valores	sociais	entre	pessoas,	grupos	e	nações.	Essa	concep-
ção,	em	muitos	momentos	históricos,	justificou	o	colonialismo,	o	
imperialismo.
As	charges	de	Angeli,	demonstradas	na	Figura	1	e	na	Figura	2,	
expressam	a	realidade	do	mundo	hegemônico,	no	qual	a	diferença	
de	classes	é	gritante.	Segundo	o	sociólogo	português	Boaventura	
de	Sousa	Santos	(1995),	notexto	O norte, o sul e a utopia,	o	capi-
talismo	global	causa	essa	desigualdade	social	e	ela	deve	continuar	
aumentando	gradativamente.
© Sociologia Geral118
Figura	1	A nova ordem mundial.
A	existência	da	pobreza	como	uma	desigualdade	social	é	in-
dicadora	da	existência	da	marginalidade,	da	exclusão,	dos	excluí-
dos	pela	pobreza.	A	presença	constante	e	próxima	desses	excluí-
dos	incomoda	e	deixa-nos	constrangidos	por	várias	razões:
1)	 demonstra	a	ineficiência	administrativa	do	Estado;
2)	 indica	o	crescimento	da	quantidade	de	pessoas	excluí-
das;
3)	 traz	à	tona	o	temor	da	organização	e	ação	dessa	popu-
lação;
4)	 constitui-se	em	uma	evidência	do	fracasso	de	uma	socie-
dade	que	se	crê	orientada	pelos	direitos	humanos	uni-
versais	em	prol	do	bem	comum.
Claretiano - Centro Universitário
119© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Figura	2	Moradias.
Para	a	Sociologia,	a	má	distribuição	da	riqueza	e	da	renda	e	o	
funcionamento	imperfeito	das	instituições	econômicas	são	fatores	
importantes	que	acarretam	depressões	econômicas	e	desemprego	
generalizado.	 São	 considerados	 como	os	 principais	 responsáveis	
pelo	desajustamento	econômico	em	nossa	sociedade.
O	Brasil	é	hoje	 totalmente	 integrado	pela	 língua,	pelas	co-
municações	de	massas,	pelos	transportes	e	pelo	mercado;		parte	
da	pobreza	que	existe	é	rural,	localizada,	sobretudo,	nos	estados	
do	Nordeste	e	em	zonas	agrícolas	deprimidas	em	Minas	Gerais	e	
no	Rio	de	Janeiro.	Esse	segmento	da	pobreza	no	Brasil	é	constituí-
do	de	pessoas	que	sobrevivem	em	uma	economia	de	subsistência,	
extremamente	precária.	Em	sua	maioria,	no	entanto,	a	pobreza	é	
urbana,	 localizada	 na	 periferia	 das	 grandes	 cidades,	 constituída	
por	pessoas,	em	grande	parte,	originárias	do	campo,	e	é	medida	
pelo	fato	de	que	sua	integração	ao	mercado	de	consumo	não	tem	
correspondência	com	o	mercado	de	trabalho.
© Sociologia Geral120
Para	o	sociólogo	brasileiro	Simon	Schwartzman	(2004),	qual-
quer	análise	que	se	faça	da	sociedade	brasileira	atual	mostra	que,	
ao	lado	de	uma	economia	moderna,	existem	milhões	de	pessoas	
excluídas	de	seus	benefícios,	assim	como	dos	serviços	proporcio-
nados	pelo	governo	para	seus	cidadãos.	Socialmente,	porém,	os	
níveis	de	exclusão	e	desigualdade	são	muito	maiores,	estando	en-
tre	os	piores	do	mundo.
Schwartzman	 (2004)	 explica	 que	 uma	 das	 maneiras	 de	
compreender	a pobreza	é	considerá-la	como	resultado	da	ação	
dos	seres	humanos,	sendo	resultado	das	formas	como	estes	pen-
sam,	interpretam	e	direcionam	a	construção	da	história,	da	for-
ma	como	aceitam	os	padrões	mínimos	de	sobrevivência	de	cada	
indivíduo	presente	na	sociedade.	A	pobreza	pode	ser	vista	como	
um	fenômeno	social	decorrente	da	desigualdade	social,	visto	ser	
fruto	da	concentração	da	riqueza,	ou	seja,	da	não	distribuição	da	
renda.	Essa	situação,	em	vigor	no	Brasil	e	no	mundo,	na	atualida-
de,	precisa	ser	analisada	como	parte	de	um	processo	econômico	
e	político.
No	Brasil,	a	existência	da	pobreza	não	ocorre	devido	à	 fal-
ta	de	recursos,	e	sim	da	desigual	distribuição	destes,	entendendo	
que	o	Brasil	é	um	país	rico,	porém,	com	um	dos	maiores	índices	
de	desigualdade	do	mundo.	Como	no	passado,	os	níveis	de	pobre-
za	e	exclusão	continuam	sendo	causados	por	uma	combinação	de	
heranças,	condições	e	escolhas	de	natureza	econômica,	política	e	
cultural.	É	 ingênuo	supor	que	a	pobreza	e	a	desigualdade	social	
poderiam	ser	eliminadas	pela	"vontade	de	alguém".
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Conforme	procedemos	nas	unidades	anteriores,	vamos	no-
vamente	fazer	uma	pausa	para	você	fixar	os	conceitos	abordados	
nesta	unidade.	
Claretiano - Centro Universitário
121© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
1)	 Como	definir	a	desigualdade	social?
2)	 Como	definir	a	pobreza?	
3)	 Quais	são	as	três	diferentes	formas	de	pobreza	identifi-
cadas	por	Friedmann	e	Leonie	Sandercock,	especialistas	
em	planificação	urbana?
8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTEÚDO DO TEXTO
O	mundo	contemporâneo	assiste	ao	resultado	de	um	longo	
processo	histórico	de	formação	de	sociedades	complexas.	Duran-
te	 o	 caminho	 percorrido	 pela	 humanidade,	 foram-se	 formando	
grupos	 diferenciados.	 Alguns	 desses	 grupos	 tornaram-se	 privile-
giados	e	procuram	monopolizar	seus	privilégios,	as	possibilidades	
de	acesso	à	produção	de	bens	e	aos	mecanismos	de	distribuição	
desses	bens.
Na	sociedade	contemporânea,	ao	contrário	da	Antiguidade,	
que	tinha	a	noção	de	que	a	sociedade	se	diferenciava	por	grupos	
inconciliáveis,	exemplo	das	castas	na	Índia,	desenvolveu-se	a	cons-
ciência	 de	 humanidade,	 de	 igualdade	 reforçada	 pela	 expansão	
mundial	do	sistema	capitalista	industrial.
Uma	vez	adotada	a	ideia	de	humanidade,	conceito	que	en-
globa	todas	as	pessoas	do	planeta,	as	desigualdades	ficaram	per-
ceptíveis.	Se	todos	os	seres	humanos	são	iguais	perante	a	lei,	como	
justificar	as	diferenças	sociais?
A	presença	da	pobreza	vai	contra	os	princípios	que	acredita-
mos	que	deveriam	pautar	a	existência	humana:	todos	possuírem	
os	mesmos	direitos.
Nesse	sentido,	a	presença	da	desigualdade	social	na	socie-
dade	 contemporânea	assume	o	 caráter	de	 injustiça	para	muitos	
e	privilégio	para	poucos,	o	que	evidencia	contradição	em	relação	
aos	valores	que	defendemos	para	nossa	organização	social.
© Sociologia Geral122
9. E-REFERÊNCIAS 
Lista de figuras
Figura 1 – A nova ordem mundial:	 disponível	 em:	 <http://sociologia2cevr.blogspot.
com/2007/11/anlise-das-charges.html>.	Acesso	em:	13	mai.	2010.
Figura 2 – Moradias:	 disponível	 em:	 <http://sociologia2cevr.blogspot.com/2007/11/
anlise-das-charges.html>.	Acesso	em:	13	mai.	2010.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOTTOMORE,	T.	B.	Problemas	Sociais.	In:	______.	Introdução à Sociologia.	5.	ed.	Rio	de	
Janeiro:	Zahar,	1973.	p.	306-318.
COSTA,	C.	A	questão	da	pobreza.	 In:	______.	Sociologia:	uma	 introdução	à	ciência	da	
sociedade.	2.	ed.	São	Paulo:	Moderna,	2002.	p.	255-270.
DEBORD,	G.	A sociedade do espetáculo.	Rio	de	Janeiro:	Contraponto,	2002.
KOENIG,	S.	Problemas	Sociais.	In:	______.	Elementos de Sociologia.	4.	ed.	Rio	de	Janeiro:	
Zahar,	1975.	p.	353-387.
SANTOS,	B.	de	S.	Pela mão de Alice:	o	social,	o	político	na	pós-modernidade.	São	Paulo:	
Cortez,	1995.
SCHWARTZMAN,	S.	Pobreza, exclusão social e modernidade:	uma	introdução	ao	mundo	
contemporâneo.	São	Paulo:	Augurium,	2004.
SINGER,	P.	Perspectivas	de	desenvolvimento	da	América	Latina.	Novos	Estudos	Cebrap,	
n.	44,	p.	163-164,	mar.	1996.

Outros materiais