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EA
D
4
Um Estudo de Sociologia: 
o que torna possível 
a Convivência 
Humana
1. OBJETIVOS
•	 Identificar	o	conhecimento	como	uma	forma	desenvolvi-
da	pelos	seres	humanos	por	meio	do	processo	de	sociali-
zação	para	transmitir	cultura	de	uma	geração	para	outra.
•	 Adotar	uma	atitude	de	curiosidade,	ou	seja,	de	vontade	
de	procurar	outras	formas	de	compreensão	para	as	ques-
tões	propostas	no	texto.
2. CONTEÚDOS
•	 Aprender	a	ser	um	membro	da	sociedade.
•	 Culturas	 humanas:	 respostas	 aos	 problemas	 de	 com-
preensão	de	mundo.
© Sociologia Geral90
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Consulte	 os	 significados	 dos	 conceitos	 explicitados	 no	
Glossário,	pois	isto	facilitará	sua	compreensão	sobre	os	
temas	abordados	no	texto	desta	unidade.
2)	 Nesta	unidade	de	estudo,	encontram-se	referências	so-
bre	a	importância	das	formas	de	linguagem	na	comuni-
cação	humana.	Por	 isso,	sugerimos	a	você	que	recorra	
ao	manual	Filosofando,	de	autoria	de	Maria	Lúcia	de	Ar-
ruda	Aranha	e	de	Maria	Helena	Pires	Martins	 no	qual	
há	 um	 capítulo	 intitulado	 Linguagem, conhecimento, 
pensamento,	 que	 apresenta	 uma	 breve	 e	 interessante	
dimensão	da	linguagem	verbal	como	atividade	humana.	
Vale	a	pena	realizar	essa	leitura	para	complementar	as	
ideias	expostas	no	texto.
3)	 Temos,	também,	a	linguagem	cinematográfica,	que,	por	
ser	 transdisciplinar,	mantém-se	 atualíssima	e	 contribui	
para	ampliar	o	campo	de	nossa	compreensão.	Por	essa	
razão,	é	importante,	no	momento	em	que	cuidamos	de	
nossa	 formação	 profissional,	 estabelecermos	 um	 diá-
logo	mediante	a	 linguagem	cinematográfica.	Há	 filmes	
clássicos	que	envolvem	o	tema	da	socialização,	assunto	
tratado	nesta	unidade	de	estudo.	O enigma de Kaspar 
Hauser,	dirigido	por	Werner	Herzog,	é	um	bom	exemplo.
4)	 Outro	filme	que	apresenta	uma	perspectiva	interessante	da	
socialização	é	Nell,	dirigido	por	Michael	Apted.	Há,	ainda,	o	
também	clássico	de	François	Truffaut,	O garoto selvagem.
5)	 Para	 ilustrar	 com	a	 linguagem	cinematográfica	os	 estudos	
sobre	o	tema	da	cultura,	uma	sugestão	é	o	filme	Os deuses 
devem estar loucos,	com	direção	de	Jamie	Uys,	que	trata,	sa-
tiricamente,	do	choque	entre	culturas,	partindo	do	apareci-
mento	de	uma	garrafa	de	Coca-Cola	entre	nativos	africanos.
6)	 Um homem chamado cavalo,	do	diretor	Elliot	Silverstein,	
é	um	filme	que	aborda	a	questão	cultural	sob	o	ângulo	das	
diferentes	maneiras	pelas	quais	as	sociedades	humanas	
veem	o	mundo.	Não	descarte	a	possibilidade	de	assisti-lo.
Claretiano - Centro Universitário
91© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta	unidade,	conduziremos	a	iniciação	ao	estudo	científi-
co	da	Sociologia,	um	conteúdo	que	tem	como	objeto	de	pesquisa	
as	interações sociais	organizadas	pelos	seres	humanos	mediante	
formas	culturalmente	padronizadas.
Interações	sociais	são	os	modos	pelos	quais	os	seres	huma-
nos	se	relacionam	e	interagem	uns	com	os	outros,	reforçando	ou	
estabelecendo	novas	regras,	novas	normas	e	novos	valores	sociais.	
São	esses	modos	que	caracterizam	o	estudo	sistemático	da	Socio-
logia	e	que	constituem	os	processos sociais,	conceito	esse	que	se	
refere	"às	transformações	amplas,	contínuas,	de	longa	duração,	de	
figurações	formadas	por	seres	humanos",	conforme	propõe	o	so-
ciólogo	Norbert	Elias	(2006,	p.	27).	
Por	que	é	importante	voltar	a	atenção	para	as	interações so-
ciais	 e	 para	 os	processos sociais?	A	 resposta	 é	 simples:	 porque	
estes	são	conceitos	sociológicos	fundamentais.
Toda	 ciência	 –	 e	 a	 Sociologia	 é	 uma	 ciência	 –	 se	 organiza	
em	função	de	conceitos,	que	são	as	representações	de	um	obje-
to	traduzidas	pelo	pensamento,	considerando	suas	características	
gerais.	Os	conceitos	são	definições,	 isto	é,	formulações	de	ideias	
por	meio	de	palavras.	A	expressão	“interação	social”,	por	exemplo,	
representa	um	dos	 conceitos	básicos	de	 Sociologia,	 assim	como	
“processo	social”.
Iniciaremos	a	compreensão	desses	conceitos	tomando	como	
base	as	várias	espécies	animais	que	vivem	na	terra,	as	quais	de-
senvolvem	formas	de	vida,	de	convivência	e	de	sociabilidade	que	
permitem	a	 reprodução	e	a	 sobrevivência.	Para	que	 isto	ocorra,	
elas	estabelecem	modelos	de	vida,	sistemas	de	acasalamento,	alo-
jamento,	migração,	defesa	e	alimentação.
Um	exemplo	de	vida	social	altamente	organizada	é	o	das	for-
migas	e	o	das	abelhas,	que	têm	vida	social	bem	definida:	divisão	
de	trabalho,	cooperação,	intercomunicação	e	ajuda	mútua.
© Sociologia Geral92
Os	seres	humanos,	que	são	uma	dentre	as	várias	espécies	
existentes,	 também	desenvolvem	processos	de	reprodução,	aca-
salamento,	alojamento,	migração,	defesa	e	alimentação;	são	ativi-
dades	instintivas,	isto	é,	ações	e	reações	desenvolvidas	de	forma	
mecânica	que,	por	essa	razão,	dispensam	o	aprendizado.
Embora	seja	possível	constatar	semelhanças	quanto	às	ati-
vidades	 instintivas	 entre	 as	 demais	 espécies	 animais	 e	 os	 seres	
humanos,	a	vida	social	destes	não	pode	depender,	apenas,	dos	pa-
drões de comportamento instintivos.	É	preciso,	também,	adaptar-
-se	a	novas	e	variadas	condições	e	situações.	O	fato	é	que,	seja	por	
características	próprias	da	espécie,	 seja	pelos	desafios	 impostos	
pela	natureza,	os	seres	humanos	desenvolveram	habilidades	que	
dependem	de	aprendizado,	ou	seja,	precisamos	aprender,	comer,	
beber,	dormir,	brincar,	obedecer,	trabalhar,	governar,	administrar	
etc.	 Isto	significa	que	desenvolvemos,	também,	atitudes	 identifi-
cadas	como	padrões de comportamento social.
5. APRENDER A SER UM MEMBRO DA SOCIEDADE
Podemos	ver	uma	sociedade	de	formigas	em	funcionamento	
e	constatar,	como	já	foi	descrito	anteriormente,	que	a	maioria	das	
formigas	cede	alimento	umas	às	outras,	regurgitando	um	líquido	
nutritivo	na	boca	da	companheira.	É	um	comportamento	que	não	
foi	inventado	por	elas;	resulta	de	impulsos	inatos,	naturais,	geneti-
camente	estabelecidos.	Mas	isto	não	significa	que	os	animais	não	
humanos	não	tenham	capacidade	de	aprender.	Há	de	se	conside-
rar	que	espécies	e	ambientes	alternam	um	ao	outro	de	maneira	
recíproca.	 Esses	 animais	 não	 são	participantes	 passivos,	 pois	 há	
uma	 troca	 entre	 organismos	 e	 ambiente.	Mas,	mesmo	ocorren-
do	a	troca,	o	comportamento	dos	animais	não	humanos	continua	
predominantemente	marcado	pelo	 instinto	 transmitido	pela	he-
rança	biológica,	enquanto	o	comportamento	dos	seres	humanos	é	
aprendido	pela	comunicação	simbólica.
Claretiano - Centro Universitário
93© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
Todas	as	características	biológicas	próprias	do	ser	humano	
constituem	a	condição	necessária	para	o	desenvolvimento	de	um	
modo	de	viver	em	grupo,	mas	elas	não	bastam	para	o	desenvolvi-
mento	da	sociabilidade.	O	ser	humano	não	nasce	social:	ele	adqui-
re	maneiras	de	se	comportar	tipicamente	humanas	por	meio	do	
processo	de	socialização.
Como	nos	explicam	Peter	Berger	e	Brigitte	Berger	(2000)	no	
texto	Socialização: como ser um membro da sociedade,	 embora	
o	recém-nascido	não	saiba	estabelecer	a	distinção	entre	os	com-
ponentes	sociais	e	não	sociais	de	suas	vivências,	sua	experiência	
social	começa	com	o	nascimento,	momento	a	partir	do	qual	passa	
a	desenvolver	uma	interação social	com	outros	seres	humanos.
Estudos	 de	 Sociologia	 indicam	 que interação social	 é	 um	
dos	conceitos	básicos	para	a	compreensão	da	vida	social.	Refere-
-se	a	uma	maneira	de	 se	 comunicar	 face	a	 face,	 agir	 e	 interagir	
com	outras	pessoas.	 Seu	aspecto	mais	 relevante	é	que,	 quando	
ocorre	a	interação	social,	se	estabelece	um	contato,	e,	a	partir	do	
contato,	ocorre	a	comunicação,	que	resulta	em	uma	mudança	de	
comportamento	dos	indivíduos	envolvidos.	Em	contato	social	com	
os	alunos	em	sala	de	aula,	por	exemplo,	o	professor	estabelece	
uma	comunicação.	Quando	o	aluno	aprende,	seu	comportamento	
sofre	uma	modificação,	e	o	comportamento	do	professor	tambémse	modifica:	procura	diferentes	explicações	para	diferentes	classes	
e	revê	sua	ideias	partindo	de	discussões	com	os	alunos,	ou	seja,	
o	 professor	 influencia	 e	 sofre	 influências.	Nessas	 circunstâncias,	
existe	uma	interação social,	porque	ocorre	uma	influência	recípro-
ca	entre	os	participantes.
É	 importante	registrar	que	o	simples	contato	físico	não	ca-
racteriza	 uma	 interação social,	 como	nos	 casos	 de	 pessoas	 que	
viajam	sentadas	lado	a	lado	no	metrô,	sentam-se	lado	a	lado	no	
cinema,	permanecem	em	uma	fila	ou	estão	juntas	em	uma	arqui-
bancada	de	estádio	de	futebol.
© Sociologia Geral94
Diferentemente	das	demais	espécies,	os	seres	humanos	ne-
cessitam	de	aprendizado	para	adotar	as	formas	de	comportamen-
to	padronizadas,	e	isto	ocorre	com	base	no	processo	de	socializa-
ção,	durante	o	qual	se	aprende	como	deve	ser	a	interação	social	
entre	os	membros	de	uma	determinada	sociedade.	Isto	explica	o	
fato	de	pessoas	formarem	filas	nos	bancos,	nos	cinemas	e	nos	su-
permercados,	de	ficarem	em	silêncio	durante	uma	palestra	e	de	
comerem	à	mesa	utilizando	pratos	e	talheres,	por	exemplo.
Peter	e	Brigitte	Berger	(2000)	consideram	que	todos	os	pro-
cessos	 de	 socialização	 se	 realizam	na	 interação	 face	 a	 face	 com	
outras	pessoas	e	que	a	socialização	nunca	chega	ao	fim.	Ela	inicia-
-se	 com	 a	 socialização primária,	 que	 envolve	 o	microcosmo	 do	
indivíduo	e	tem	continuidade	com	a	socialização secundária,	que	
envolve	o macrocosmo	do	indivíduo.
Para	esses	autores,	a	socialização	primária	é	o	processo	me-
diante	o	qual	a	criança	se	transforma	em	um	membro	participante	
da	sociedade	e	ela	refere-se	à	fase	de	formação	da	identidade.	A	
socialização	secundária	envolve	a	vida	posterior,	quando	as	pes-
soas	são	introduzidas	em	espaços	sociais	específicos,	como	cursar	
uma	faculdade	para	a	formação	profissional,	por	exemplo.
Contudo,	é	durante	a	infância	e	a	adolescência	que	a	sociali-
zação	é	mais	intensa,	mas	como	isto	se	trata	de	um	processo	per-
manente	e	como	todas	as	sociedades	estão	em	constantes	trans-
formações,	 os	 indivíduos,	 ao	mudarem	de	 grupo	 ou	 de	 posição	
social	(de	solteiros	para	casados,	de	emprego	ou	ao	aposentarem-
-se,	por	exemplo),	precisam	adaptar-se	às	novas	situações	sociais,	
que	requerem	assimilação	de	novos	padrões	de	comportamento.	
Daí	submetem-se	à	socialização	secundária.
É	fundamental	termos	em	conta	que	o	desenvolvimento	da	
socialização	não	é	resultante	de	uma	relação	unilateral	entre	a	so-
ciedade	e	o	indivíduo.	O	indivíduo	assimila	seus	papéis	sociais	com	
a	família,	com	os	amigos,	com	a	escola,	com	os	meios	de	comuni-
cação,	como	resultante	das	pressões	entre	as	situações	sociais	e	a	
Claretiano - Centro Universitário
95© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
sua	consciência.	Não	se	pode	subestimar	a	potencialidade	dos	se-
res	humanos	para	as	mudanças	sociais.	Por	essa	razão,	é	adequa-
do	que,	na	Figura	1,	encontremos	uma	 interrogação,	e	não	uma	
afirmação	diante	da	situação	retratada.
Figura	1	Novas formas de socialização primária ou socialização secundária precoce?
A	Figura	1	também	nos	remete	à	questão	da	comunicação,	
da	linguagem;	assim,	ela	nos	oferece	a	oportunidade	de	abordar	
um	ponto	fundamental:	é	na	linguagem	que	está	o	princípio	da	so-
cialização.	É	a	linguagem	que	habilita	o	indivíduo	a	ligar-se	a	outros	
indivíduos,	para	que,	posteriormente,	ele	seja	capaz	de	estabele-
cer	contato	com	um	universo	social,	com	um	macrocosmo.
Com	o	 sentido	 de	 reiterar	 a	 importância	 da	 linguagem	no	
processo	de	socialização,	destaca-se	o	texto	a	seguir.
Linguagem: veículo primordial da socialização ––––––––––––
É apenas pelo domínio da linguagem que aprendemos a transmitir e a reter os 
significados socialmente reconhecidos. É pelo domínio da linguagem que adqui-
rimos a capacidade de pensar abstratamente, conseguimos ir além da situação 
imediata e adquirimos capacidade de refletir.
A linguagem é um sistema de símbolos socialmente aprendidos que se relacio-
nam para que possamos comunicar nosso pensamento. Ela oferece aos seres 
humanos a possibilidade de conduzir suas ações conforme as situações, as pes-
soas e os objetos, bem como de acordo com acontecimentos, permitindo, além 
disso, a aquisição e a transmissão de conhecimentos.
Norbert Elias (2006, p. 25) considera que “sem o aprendizado de uma determina-
da língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes de se 
© Sociologia Geral96
orientar no seu mundo”. Ele complementa afirmando que um “ser humano adulto, 
que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado 
grupo humano permanece fora de todas as figurações humanas e, portanto, não 
é propriamente um ser humano”.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Embora	o	processo	de	socialização	seja	único,	para	socieda-
des	 diferentes,	 ele	 produz	 resultados	 diferentes	 de	 socialização,	
dada	 a	 diversidade	de	 costumes	dos	 grupos	 humanos.	 As	 atitu-
des	que	aprendemos	por	meio	da	socialização	se	relacionam	com	
sistemas	de	amplos	significados.	Assim,	o	mundo	social,	com	sua	
multiplicidade	de	significados,	interioriza-se	em	nossa	consciência	
da	seguinte	forma:	o	que	era	experimentado	como	alguma	coisa	
existente	fora	de	nós	passa	a	ser	experimentado	como	algo	dentro	
de	nós.
Em	termos	dos	diferentes	resultados	da	socialização,	as	prá-
ticas	 alimentares	 constituem	 um	 exemplo	 interessante	 porque	
têm	grande	número	de	variações	não	somente	de	uma	sociedade	
para	outra,	mas	também	de	uma	classe	social	para	outra	no	inte-
rior	de	uma	mesma	sociedade.	As	práticas	alimentares	constituem	
uma	das	diversas	facetas	do	processo	por	meio	do	qual	o	indivíduo	
aprende	a	ser	um	membro	da	sociedade.
Para	ilustrar	essa	questão,	pensemos	nas	práticas	alimenta-
res	na	infância.	O	universo	do	recém-nascido	está	diretamente	re-
lacionado	às	pessoas	com	quem	ele	convive,	um	microcosmo	cir-
cunscrito,	que,	no	entanto,	se	entrosa	com	um	macrocosmo,	que	
define	 e	 molda,	 antecipadamente,	 as	 experiências	 alimentares	
com	as	quais	o	bebê	se	depara:	amamentação	ao	seio	ou	em	ma-
madeira,	amamentação	segundo	um	horário	regular	ou	segundo	o	
"pedido"	do	bebê,	amamentação	exclusiva	ou	com	complemento	
alimentar,	desmama	em	quatro	meses,	em	seis	meses,	em	um	ano	
ou	em	dois	anos	–	são	todas	condições	que	dependem	do	que	as	
mães	ou	os	responsáveis	interiorizaram	sobre	o	que	o	meio	social	
em	que	vivem	estabelece	como	formas	adequadas	de	alimentar	
os	bebês.
Claretiano - Centro Universitário
97© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
É	preciso	registrar,	também,	que	a	socialização	é	um	proces-
so	recíproco.	A	criança,	desde	o	início	de	sua	vida	social,	não	é	um	
agente	passivo	da	socialização,	ou	seja,	participa,	resiste	ou	cola-
bora	de	variadas	formas.	A	socialização	é	um	processo	recíproco	
porque	afeta	o	 indivíduo	a	ser	socializado	e	os	membros	sociali-
zantes,	conforme	já	se	registrou	com	o	exemplo	da	ação	de	profes-
sores	e	de	alunos.
Há	algumas	situações	que	pautam	a	Sociologia	em	suas	ar-
gumentações	sobre	os	 significados	da	vida	em	grupo.	Tratam-se	
de	situações	que	descrevem	os	casos	de	crianças	deixadas	em	ex-
tremo	isolamento	do	convívio	humano,	sendo	algumas	delas	co-
nhecidas	como	"crianças-lobo",	conforme	poderemos	observar	na	
leitura	do	texto	em	destaque.
Casos de Crianças Isoladas do Convívio Humano –––––––––
1º caso: em 1798, é encontrado, em meio a um bosque na França, um menino 
que aparentava ter entre 10 e 11 anos. Ele estava nu e sujo e era incapaz de 
proferir uma única palavra. O menino foi levado para o Instituto Nacional para 
surdos e loucos em Paris e lá batizado de Victor de Aveyron pelos funcionários. 
Seu caso foi aceito pelo Doutor Itard, um médico que se dedicava à sua integra-
ção na sociedade. Ninguém jamais o procurou. Exames médicos realizados não 
detectaram qualquer deficiência física ou mental. O fato de o menino não parecer 
humano se atribui à circunstânciade que, até ser encontrado no bosque, perma-
necera isolado da convivência com outros seres humanos. Ele ficou conhecido 
como “o menino selvagem de Aveyron” (RISCHBIETER, 2009).
2º caso: em 1954, Ramu foi encontrado na estação ferroviária de Luckhow. Seus 
membros estavam deformados. Morreu no hospital de Luckhow em 1968. Ele foi 
chamado de “menino-lobo” porque supostamente foi criado em uma alcateia e re-
colhido por pessoas que o encontraram quando tinha, aproximadamente, 10 anos 
de idade. O menino morreu em uma instituição dirigida por Madre Teresa de Cal-
cutá. Ramu chegou a aprender a tomar banho e a vestir-se sozinho, mas continuou 
a andar de quatro e a se alimentar de carne crua. Ele nunca aprendeu a falar e 
jamais deu sinais de querer se integrar socialmente (RISCHBIETER, 2009).
3º caso: Amala e Kamala, duas meninas indianas, foram capturadas em 1921, 
nas vizinhanças de Midnapore, ao oeste de Calcutá. Para achá-las, foi organiza-
da uma expedição de aldeões liderada pelo reverendo Jal Singh, um missionário 
anglicano. Na captura, a mãe-loba foi abatida e as crianças receberam os nomes 
de Amala e Kamala; elas deveriam ter entre dois e oito anos. Singh as descreve 
da seguinte forma: caninos alongados, queixo retraído, olhos que brilhavam na 
escuridão. Amala, a mais nova, não resistiu à nova vida e morreu em um ano. Ka-
mala sobreviveu até 1929, tempo em que aprendeu a comer cozidos, andar ereta 
e falar cerca de 50 palavras. Ambas apresentavam hábitos alimentares bastante 
diferentes dos nossos. Como normalmente fazem os animais, elas cheiravam 
© Sociologia Geral98
a comida antes de tocá-la, dilacerando os alimentos com os dentes e poucas 
vezes fazendo uso das mãos como instrumento para beber e comer. Possuíam 
aguda sensibilidade auditiva e desenvolvimento do olfato para carne. Para se lo-
comover, apoiavam-se sobre as mãos e os pés, adotando a marcha quadrúpede, 
como faziam seus antigos companheiros, os lobos. Kamala, por exemplo, levou 
seis anos para utilizar a marcha ereta. Ela não se sentia à vontade na companhia 
de outras pessoas, preferindo os animais, que se entendiam bem com ela, jamais 
se espantando quando de sua aproximação (OLIVEIRA, 2007).
4º caso: “[...] Frederico II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, efe-
tuou um experimento para determinar que língua as crianças falariam quando 
crescessem, se jamais tivessem ouvido uma única palavra falada. Falariam he-
braico – que então se julgava ser a língua mais antiga – grego, latim, ou a língua 
de seu país? Deu instruções às amas e mães adotivas para que alimentassem 
as crianças e lhes dessem banho, mas que sob hipótese nenhuma falassem com 
elas ou perto delas. O experimento fracassou porque todas as crianças morre-
ram” (HORTON; HUNT apud OLIVEIRA, 2007, p. 17).
5º caso: este remete ao exemplo citado por Cristina Costa (2005), que menciona 
o caso verídico de Kaspar Hauser, um garoto que foi criado até os 18 anos, apro-
ximadamente, trancado sozinho em um quarto, privado da convivência humana, 
até que é levado e deixado na praça pública de uma cidade alemã. O assunto 
foi estudado pelo psiquiatra Itard e retratado no filme do cineasta alemão Werner 
Herzog, intitulado O enigma de Kaspar Hauser. O filme mostra como um ser 
humano criado longe de outros seres de sua espécie é incapaz de se humanizar, 
revelando, apenas, características genéticas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os	casos	apresentados	indicam	que	o	comportamento	de	Vic-
tor	de	Aveyron,	de	Ramu,	de	Amala,	de	Kamala	e	de	Kaspar	Hauser	
se	distancia	do	comportamento	dos	seres	humanos.	São	condutas	
que	demonstram	que,	sem	contato	com	o	grupo	social,	o	ser	huma-
no	dificilmente	pode	desenvolver	características	humanizadas.	Elas	
demonstram,	ainda,	que	a	vida	em	grupo	nos	é	indispensável.	É	na	
vida	em	grupo	que	os	indivíduos	da	espécie	humana	se	tornam	hu-
manos.	O	indivíduo	socializa-se	ao	participar	da	vida	em	sociedade,	
na	qual	ele	assimila	normas,	valores,	costumes	e	passa	a	se	compor-
tar	conforme	essas	normas,	esses	valores	e	esses	costumes.
Desse	 modo,	 para	 tornarmo-nos	 humanos,	 precisamos	
aprender	com	nossos	semelhantes	atitudes	socializadoras	que	se-
riam	impossíveis	desenvolvermos	no	isolamento	social.	Viver	em	
grupo	é	essencial	para	nossa	humanização.
O	homo sapiens	é	a	única	espécie	que	não	só	pensa	no	que	
significam	as	coisas,	mas	também	atribui	significados	às	experiên-
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99© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
cias	vividas	criando	sistemas	de	símbolos,	isto	é,	transformando	a	
experiência	vivida	em	um	discurso	que	será	transmitido	aos	seus	
semelhantes	por	meio	da	comunicação	simbólica.
Os	símbolos	são	convenções	que	estão	presentes	em	todas	as	
circunstâncias	da	vida	humana,	eles	substituem	alguma	coisa	com-
plexa	e	têm	seu	valor	atribuído	pelas	pessoas	que	os	utilizam.	No	
entanto,	não	basta	atribuirmos	significados	a	um	objeto	para	que	
ele	se	torne	um	símbolo:	é	preciso	que	ele	seja	aceito	socialmente.	
Então,	uma	cor,	um	hino,	uma	bandeira,	uma	roupa,	uma	aliança,	
uma	palavra,	os	números,	o	triângulo,	as	pedras,	as	plantas,	os	ani-
mais,	 todos	os	objetos	naturais,	 todas	as	coisas	 feitas	pelos	seres	
humanos	e	todas	as	formas	abstratas	podem	assumir	significados	
simbólicos.	Desse	modo,	a	cruz	tornou-se	um	objeto	que	simboliza	
o	cristianismo,	assim	como	a	suástica	simboliza	o	nazismo.	A	pomba	
e	a	cor	branca	têm	sido	adotadas	como	símbolos	da	paz. 
Assim,	surgem	os	critérios	de	medidas,	os	quadros	do	tempo	
(como	os	calendários),	os	cálculos	matemáticos,	a	 linguagem,	os	
gestos,	as	danças	e	os	cantos,	as	expressões	de	 luto,	os	 festejos	
em	geral	(como	o	carnaval,	os	aniversários	ou	os	casamentos),	os	
modos	de	namorar	e	de	fazer	declarações,	as	bandeiras,	as	decora-
ções,	os	monumentos,	os	santos,	os	heróis,	os	gênios	etc.
Ao	pensar,	ao	ser	capaz	de	projetar,	de	ordenar,	de	prever	e	
de	interpretar,	o	ser	humano	estabelece	com	o	mundo	uma	rela-
ção	capaz	de	avaliar.	Nessas	circunstâncias,	seu	conhecimento	do	
mundo	–	organizado,	comunicado,	compartilhado	e	transmitido	às	
gerações	–	transforma-se	no	que	chamamos	de	cultura.
6. CULTURAS HUMANAS: RESPOSTAS AOS PROBLE-
MAS DE COMPREENSÃO DO MUNDO
A	 capacidade	 humana	 de	 transformar	 experiências	 vividas	
em	símbolos	sociais	fez	que	os	seres	humanos	recriassem,	inicial-
mente,	o	mundo,	de	acordo	com	suas	necessidades	e	seus	pontos	
© Sociologia Geral100
de	vista,	e,	depois,	o	 traduzisse	sob	 forma	de	 informação	ou	de	
conhecimento.
Os	obstáculos,	os	desafios	e	os	problemas	enfrentados	tive-
ram	como	resposta	a	sobrevivência,	a	defesa	e	a	perpetuação	da	
espécie,	mas,	antes	de	satisfazerem	os	anseios	humanos,	provo-
caram	buscas	por	compreensão	e	desejo	de	encontrar	explicações	
sobre	si	mesmo	e	sobre	o	mundo.
À	medida	que	essas	explicações	foram	organizadas,	elas	se	
projetaram	 para	 a	 formulação	 de	 justificativas	 para	 as	 atitudes,	
para	os	acontecimentos	e	para	os	comportamentos,	gerando	o	de-
senvolvimento	de	nossa	capacidade	simbólica.
Os	símbolos	sociais	têm	o	caráter	mediador,	criam	soluções	
para	as	necessidades	da	vida	e	da	sobrevivência	e	mantêm-se	en-
quanto	forem	operantes,	isto	é,	enquanto	responderem	às	neces-
sidades	da	vida	e	da	sobrevivência	humana.
Há	uma	parte	dos	símbolos	sociais	diante	da	qual	a	Sociolo-
gia	procede	uma	análise	crítica,	utilizando	critérios	 inteiramente	
empíricos.	Assim	ocorre	com	relação	aos	símbolos	mágicos	e	reli-
giosos,	aos	símbolos	morais,	aos	símbolos	jurídicos,	aos	símbolos	
estéticos,	 aos	 símbolos	do	 conhecimento,	 aos	 símbolos	educati-
vos,	bem	como	com	relação	aos	símbolos	enganadores	e	mentiro-
sos,	como	os	preconceitos,	as	imagens	que	excitam	a	imaginação,	
as	falsificações.
Mas	quais	são	as	correlações	entre	os	conceitos	de	símbolos	
sociais	e	de	culturas	humanas?
A	referência	ao	nível	simbólico	da	realidade	social,	quando	
se	trata	das	culturas	humanas,	é	importante,	porque	a	maioriados	
planos	superpostos	que	formam	a	realidade	social	–	e	o	plano	cul-
tural	é	um	deles	–	depende	dos	símbolos	sociais	que	têm	como	ta-
refa	funcionar	como	uma	espécie	de	"para-raios	social"	no	sentido	
de	impedir	os	desníveis	entre	os	mencionados	planos	superpostos	
que	formam	a	realidade	social.
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101© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
Desse	modo,	apresentar	algumas	dentre	as	inúmeras	defini-
ções	de	cultura, possivelmente	facilitará	a	compreensão	das	corre-
lações	entre	os	significados	de	símbolos	sociais	e	de	cultura.
Na	 linguagem	do	senso	comum,	a	 linguagem	do	cotidiano,	
o	 termo	 “cultura”	 é	 empregado	 em	mais	 de	 uma	 circunstância.	
Ele	pode	indicar	grande	soma	de	conhecimentos,	isto	é,	erudição.	
Nesse	caso,	diz-se:	“tal	pessoa	tem	cultura”.	Ele	pode	manter,	tam-
bém,	o	sentido	agrícola	original:	cultura	de	milho,	de	café,	de	fei-
jão	etc.
No	entanto,	 a	palavra	 “cultura”	pode	apresentar-se	 com	o	
sentido	sociológico	que	vai	além	dessas	acepções,	embora	ela	não	
exclua	nenhum	desses	significados.	No	sentido	sociológico,	“cultu-
ra”	é	tudo	aquilo	que	resulta	da	criação	humana,	compreenden-
do	 ideias	e	ações;	 cultura	é	um	complexo	de	circunstâncias	que	
abrange	conhecimentos,	costumes,	crenças,	artes,	moral,	leis,	as-
sim	como	todas	as	capacidades	adquiridas	pelos	seres	humanos.
Tornou-se	habitual	distinguir	dois	setores	da	cultura.	Um	de-
les	se	refere	à	cultura material,	que	compreende	todos	os	artefa-
tos	e	objetos	produzidos	por	uma	dada	sociedade.	São	exemplos	
de	 bens	materiais:	 utensílios,	 ferramentas,	máquinas,	moradias,	
móveis,	meios	de	comunicação,	meios	de	transporte,	assim	como	
vestuários,	adereços,	entre	outros.	O	domínio	das	ideias,	da	ética,	
das	crenças,	dos	conhecimentos,	das	técnicas,	dos	valores	sociais,	
das	normas,	das	regras	e	das	leis	fica	no	segmento	da	cultura não 
material.
É	 importante	 ressaltar	 que	 a	 cultura	 não	 depende	 da	 he-
rança	 biológica	 dos	 seres	 humanos,	 mas,	 sim,	 de	 capacidades	
desenvolvidas	mediante	o	convívio	social.	Nesse	sentido,	apenas	
os	seres	humanos	desenvolvem	cultura.	A	aquisição,	a	perpetua-
ção	e	a	transmissão	da	cultura	resultam	de	aprendizagem,	e,	por	
essa	 razão,	 cada	 sociedade	precisa	 transmitir	 às	 novas	 gerações	
a	herança	social	que	recebeu,	o	que	ocorre	mediante	o	processo	
global	de	socialização.	Aqui	se	retoma	o	conceito	de	socialização,	
© Sociologia Geral102
entendido	como	o	processo	global	que	concretiza	os	projetos	de	
“ensinar-e-aprender”	no	campo	da	sociedade	e	no	campo	da	indi-
vidualidade,	garantindo	o	que	é	necessário	para	que	cada	um	seja	
reconhecido	como	seu	membro	integrante.
Embora	todos	os	seres	humanos	possuam	cultura	e	a	trans-
mitam	à	geração	seguinte,	não	possuem,	todos,	uma	cultura	igual.	
Há	inúmeras	culturas	diferentes,	com	hábitos,	tradições	e	valores	
muito	diversos	e	expressos	por	uma	incontável	diversidade	cultu-
ral.	Tomemos	como	exemplo	os	brinquedos	e	os	modos	de	brincar.	
O	brincar	com	bonecas	pode	contribuir	para	que	tanto	as	meninas	
ocidentais	quanto	as	meninas	árabes	se	familiarizem	com	hábitos	
e	 ideias	bastante	diferentes	no	que	diz	 respeito	 ao	modo	 como	
uma	mulher	 pode	 e	 deve	 vestir-se	 e	 ao	 lugar	 que	 uma	mulher	
pode	e	deve	ocupar	na	sociedade,	o	que	é	ilustrado	na	Figura	2.
Figura	2	Bonecas com vestuários femininos que representam a cultura ocidental e a cultura 
árabe.
Ao	contrário	do	que	muitas	vezes	se	afirma	quando	se	diz	
que	algum	indivíduo	não	tem	cultura,	esta	não	é	exclusiva	deste	ou	
daquele	grupo,	pois	 todos	os	seres	humanos	partilham	conheci-
mentos,	costumes	e	crenças,	bem	como	todas	as	sociedades	orga-
nizam	seu	modo	de	vida	e	seu	modo	próprio	de	convívio.	Todas	as	
sociedades	têm	cultura,	mesmo	aquelas	que	não	possuem	escrita.	
A	cultura	é	a	condição	para	a	sobrevivência	dos	grupos	humanos.
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103© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
Reinaldo	Dias	(2007)	propõe,	no	texto	Cultura,	que	uma	das	
possibilidades	 de	 compreender	 melhor	 o	 conceito	 de	 cultura	 é	
considerar	que	ela	tem	cinco	características	essenciais:
1)	 A	 cultura	 é	 transmitida	 por	 herança	 social,	 e	 não	 por	
herança	biológica.	Ela	é	adquirida	ao	longo	da	vida	por	
meio	de	participação	no	processo	de	 socialização.	Ad-
quirimos	cultura	por	meio	da	interação	social	e	a	conso-
lidamos	no	exercício	da	convivência	com	outras	pessoas.
2)	 A	cultura	compreende	a	totalidade	das	criações	huma-
nas.	Isto	significa	que	ela	inclui	ideias,	valores,	manifes-
tações	artísticas	de	todos	os	tipos,	crenças,	instituições	
sociais,	conhecimentos,	vestuário,	práticas	alimentares,	
animais	domésticos	etc.
3)	 A	cultura	é	característica	exclusiva	das	sociedades	huma-
nas.	As	demais	espécies	animais	são	incapazes	de	criar	
cultura,	 embora	 algumas	 delas	 adquiram	 alguns	 rudi-
mentos	de	cultura	ao	serem	domesticadas.
4)	 A	cultura	interfere	na	forma	como	a	pessoa	vê	o	mundo,	
isto	é,	na	forma	como	ela	percebe	as	coisas.	Cada	indiví-
duo	é	criado	em	uma	cultura	determinada,	e	os	valores	
que	este	adquiriu	o	 fazem	emitir	 juízos	de	valor	 sobre	
as	coisas,	o	que	permite	que	o	mundo	seja	visto	de	dife-
rentes	maneiras	pelas	sociedades	humanas.	A	mudança	
de	espaços	e	o	passar	do	tempo	em	função	do	processo	
de	socialização	faz	que	o	indivíduo	modifique	sua	com-
preensão	e	interpretação	de	fatos	e	de	acontecimentos.
5)	 A	 cultura	é,	 também,	um	mecanismo	de	adaptação.	A	
sobrevivência	 das	 comunidades	 humanas	 está	 direta-
mente	relacionada	com	a	cultura	porque	ela	baseia-se	
na	capacidade	de	evolução,	de	mudança	e	de	adaptação	
dos	seres	humanos.	O	ser	humano	consegue	sobreviver	
quando	é	capaz	de	superar	as	dificuldades	impostas	pela	
natureza	e	as	dificuldades	impostas	pela	própria	cultura,	
ou	seja,	consegue	sobreviver	quando	faz	cultura.
Na	linguagem	sociológica,	não	há	culturas	superiores	ou	in-
feriores;	há	culturas	diferentes.	Cada	cultura	é	uma	realidade	au-
tônoma	e	só	pode	ser	compreendida	a	partir	dessa	realidade.
© Sociologia Geral104
Extraímos	 um	 trecho	 da	 carta	 citada	 por	 Carlos	 Rodrigues 
Brandão	no	livro	O que é educação,	que	aborda	com	propriedade	o	
item	Culturas humanas: respostas aos problemas de compreensão 
do mundo	e	ilustra,	sobretudo,	a	referência	às	diferenças	culturais.
Conta	o	autor	que,	quando	os	governantes	dos	Estados	de	
Virgínia	e	Maryland,	nos	Estados	Unidos,	assinaram	um	tratado	de	
paz	com	os	índios	das	Seis	Nações,	mandaram	cartas	fazendo	um	
convite	para	que	enviassem	seus	jovens	à	escola	dos	brancos.	Os	
chefes	indígenas	responderam	com	agradecimentos	e	recusa.
Uma forma de rnsinar-e-aprender a compreensão do mundo –––
“Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós 
e agradecemos de todo o coração.
Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções 
diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao sa-
ber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa.
Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e 
aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles 
eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem 
o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma 
cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente 
inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos 
aceitá-la, para mostrar nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Vir-
gínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que 
sabemos e faremos deles, homens” (BRANDÃO, 1993, p. 8-9).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para	concretizar	o	estudo	em	torno	do	tema	do	processo	de	
socialização	e	do	tema	da	cultura,	tentando	"sentir	o	como	vive-
rame	vivem	em	nós	as	culturas	interdependentes	e	sucessivas	de	
que	somos	portadores,	intérpretes,	agentes	e	reagentes	no	tempo	
e	no	espaço",	nada	melhor	do	que	conhecer	e	apreciar	a	obra	do	
brasileiro	Luís	da	Câmara	Cascudo,	embasada	em	pesquisas	pro-
fundas	sobre	os	"usos	e	costumes	de	nossa	gente	comparando-os	
com	os	de	outros	povos"	(CASCUDO,	2000,	p.	XV).
Com	a	publicação	de	Alma patrícia,	em	1921,	Luís	da	Câmara	
Cascudo	 inicia	uma	bibliografia	composta	de,	aproximadamente,	
Claretiano - Centro Universitário
105© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
120	obras,	que	tratam	das	lendas,	dos	mitos,	das	superstições,	da	
indumentária,	das	danças,	dos	cantos,	das	estórias	contadas,	das	
bebidas	 e	 comidas	 tradicionais,	 dos	 santos	 favoritos,	 dos	 folclo-
ristas	e	da	linguagem	médica	popular	do	Brasil.	Os	resultados	das	
pesquisas	desse	pensador	brasileiro	são	registrados	com	erudição	
e	merecem	ser	estudados	porque	traduzem	a	valorização	de	nos-
sa	 cultura	 espontânea	 –	 a	 cultura	 popular	 brasileira,	 que	marca	
a	 "existência	 do	 permanente	 na	 memória	 coletiva"	 (CASCUDO,	
2000,	p.	XXII).
Podemos	 concluir	 nossas	 reflexões	 com	 a	 ideia	 de	 que	 a	
evolução	do	ser	humano	só	foi	possível	devido	à	sua	capacidade	
de	pensar	e	de	lutar	pela	superação	de	suas	necessidades.	Nesse	
processo	de	evolução,	a	utilização	das	mãos	e	o	desenvolvimento	
da	 linguagem	foram	decisivos	e	não	se	deram	de	modo	 isolado.	
Foram	conquistas	que	ocorreram	mediante	um	processo	educati-
vo	no	qual	os	seres	humanos	aprenderam	juntos	a	construir	meios	
para	sua	sobrevivência.
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Conforme	procedemos	nas	unidades	anteriores,	vamos,	no-
vamente,	fazer	uma	pausa	para	você	fixar	os	conceitos	abordados	
nesta	unidade.	Esta	fase	é	importante	para	que	você	possa	reto-
mar	algumas	informações	que	não	tenham	ficado	tão	claras.	Agora	
é	só	testar	seus	conhecimentos!
1)	 Qual	é	a	importância	da	vida	em	grupo	para	os	seres	humanos?
2)	 O	que	é	o	processo	de	socialização?
3)	 Como	podemos	definir	“cultura”?
4)	 Explique	esta	afirmação:	“tudo	que	existe	criado	e	disponível	em	uma	cultu-
ra	como	conhecimento	que	se	adquire	por	meio	da	experiência	pessoal	com	
o	mundo	e	com	o	outro,	tudo	que	se	aprende	de	um	modo	ou	de	outro,	faz	
parte	do	processo	por	meio	do	qual	um	grupo	social	socializa	os	seus	mem-
bros	como	sujeitos	sociais	em	sua	cultura”.	
© Sociologia Geral106
8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTEÚDO DO TEXTO
Nesta	unidade,	apresentamos	algumas	ideias	de	como	a	orga-
nização	das	sociedades	humanas	se	distingue	das	várias	organizações	
de	espécies	animais	existentes	na	Terra;	distinção	essa	que	se	dá	pelo	
fato	de	os	seres	humanos	serem	capazes	de	ampliar	seu	controle	so-
bre	a	natureza	por	meio	da	criação	e	da	consolidação	de	um	ambiente	
cultural	que	se	mantém	e	se	transforma	mediante	o	processo	de	so-
cialização,	sendo	transmitido	de	geração	para	geração.
Esperamos	que	a	compreensão	dos	conceitos	de	socialização	
e	de	cultura	se	constitua	como	uma	ponte	para	o	entendimento	
da	dinâmica	da	sociedade	em	que	vivemos	e	que	ela	ofereça	uma	
perspectiva	do	porque	da	necessidade	de	encontrar	 explicações	
em	bases	científicas	para	a	sociedade	resultante	de	um	período	de	
rupturas	históricas,	como	aquele	traduzido	pela	Revolução Indus-
trial	e	pela	Revolução Francesa.
Pensemos:	essas	revoluções	provocaram	transformações	pro-
fundas	no	campo	das	relações	sociais,	pois	elas	decorreram	de	um	
desequilíbrio	nas	estruturas	que	estavam	estabelecidas	até	então.	
Foram	 transformações	 que	 se	 originaram	a	 partir	 da	 economia	 e	
da	política,	dando	novos	impulsos	à	ciência	e	à	tecnologia,	e	deram	
base	à	formação	das	Ciências	Sociais	–	dentre	elas,	a	Sociologia,	que	
voltou	 os	 “olhares	 sociológicos”	 de	 Émile	 Durkheim,	 Karl	Marx	 e	
Max	Weber	para	o	quê?	Justamente,	para	as	tensões	na	socialização	
geradas	pelas	novas	formas	de	organizações	sociais,	tensões	essas	
que	ainda	reverberam	nesta	primeira	década	do	século	21.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pretendemos	que	este	item	estimule	aqueles	que	desejam,	
no	período	de	sua	formação	profissional,	cultivar	a	conduta	de	pes-
quisador	por	meio	da	consulta	às	fontes	bibliográficas.	Com	esse	
intuito,	reforçamos	a	indicação	de	algumas	referências	bibliográfi-
Claretiano - Centro Universitário
107© U4 - Um Estudo de Sociologia: o que torna possível a Convivência Humana
cas	citadas	no	decorrer	do	texto	e	indicamos	outras,	mantendo	o	
princípio	de	que	se	tratam	de	leituras	introdutórias	à	Sociologia.	
Boa	leitura!
ARANHA,	M.	 L.	 de	 A.;	MARTINS,	M.	 H.	 P.	 Filosofando.	 2.	 ed.	 rev.	 e	 atual.	 São	 Paulo:	
Moderna,	1993.
BERGER,	P.	Perspectivas sociológicas.	Petrópolis:	Vozes,	1975.
BERGER,	P.;	BERGER,	B.	Socialização:	como	ser	um	membro	da	sociedade.	In:	FORACCHI,	
M.	M.;	MARTINS,	J.	de	S.	Sociologia e sociedade:	leituras	de	introdução	à	Sociologia.	Rio	
de	Janeiro:	LTC,	2002.
CASCUDO,	L.	da	C.	Dicionário do folclore brasileiro.	9.	ed.	rev.,	atual.	e	ilustr.	São	Paulo:	
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______.	Civilização e cultura:	pesquisas	e	notas	de	Etnografia	Geral.	São	Paulo:	Global,	
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CHAUI,	M.	A	cultura.	In:	______.	Convite à Filosofia.	São	Paulo:	Ática,	1994.	p.	288-296.
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SANTOS,	J.	L.	O que é cultura.	São	Paulo:	Brasiliense,	1986	(Coleção	Primeiros	Passos).
10. E-REFERÊNCIAS
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Figura 1 – Novas formas de socialização primária ou socialização secundária precoce?	
Disponível	em:	<http://cadernosociologia.blogspot.com>.	Acesso	em:	10	mar.	2009.
Figura 2 – Bonecas com vestuários femininos que representam a cultura ocidental e 
a cultura árabe:	 disponível	 em	 <cadernosociologia.blogspot.com/2009_01_01_arc...>	
Acesso	em:	2	de	jun.	2010.
Site pesquisado
RISCHBIETER,	 L.	 A triste história das crianças lobo ou Nem só de genes e cérebro 
vive o homem.	 Disponível	 em:	 <http://www.educacional.com.br/articulistas/luca_
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Sociologia Contemporânea: 
Velhas e Novas Questões 
Sociais
1. OBJETIVOS
•	 Identificar	tendências	da	sociedade	contemporânea.
•	 Compreender	o	teor	das	questões	sociais	que	se	apresen-
tam	para	análises	e	explicações	sociológicas.
•	 Cultivar	a	atitude	de	pesquisador.
2. CONTEÚDOS
•	 A	desigualdade	social.
•	 A	questão	da	pobreza.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Sociologia Geral110
1)	 Uma	das	questões	sociais	que	será	objeto	de	suas	refle-
xões	no	decorrer	da	 leitura	compreensiva	é	a	pobreza.	
Para	que	você	tenha	acesso	à	linguagem	literária	sobre	
a	pobreza,	temos,	no	Brasil,	a	obra	clássica	de Graciliano	
Ramos	Vidas Secas,	que	é	 fundamental	e,	por	essa	 ra-
zão,	precisa	ser	reconhecida.	Há,	também,	o	filme	Vidas 
Secas,	de	Nelson	Pereira	dos	Santos,	inspirado	na	obra.	
Temos,	ainda,	o	 filme	Morte e vida Severina,	de	Zelito	
Viana, que	merece	ser	assistido.
2)	 O	 cinema	brasileiro	 recente	produziu	uma	 série	de	 fil-
mes	e	documentários	que	tratam	da	pobreza.	Filmes	tão	
diversos	como	Notícias de uma guerra particular	(1999),	
Palace II	(2000),	Cidade de Deus	(2002),	O invasor	(2003),	
Ônibus 174	(2003),	Cidade dos homens	(2003),	entre	ou-
tros,	e	recentemente	Falcão, meninos do tráfico	(2006),	
documentário	concebido	e	dirigido	por	MV	Bill	e	Celso	
Athayde,	moradores	de	Cidade	de	Deus.	Todos	eles	são	
alguns	 exemplos	 de	 obras	 de	 ficçãoou	 documentário	
que	acentuaram	a	presença	visual	de	cidadãos	pobres,	
negros,	moradores	de	 favelas	e	de	bairros	de	periferia	
no	 cinema	 e	 na	 televisão	 brasileiros.	 Nessa	 periferia	
pouco	acostumada	à	exposição,	a	visibilidade	estimulou	
uma	reação	crítica	contundente.	Marcinho	VP,	persona-
gem	incógnita	do	filme	de	João	Salles,	Notícias de uma 
guerra particular,	disse	aos	jornalistas	que	cobriam	sua	
prisão:	“eu	sou	o	monstro	que	vocês	criaram”.	A	 frase	
revela	sensibilidade	crítica	para	o	jogo	de	espelhos	que	
define	 personalidades	 mais	 ou	 menos	 estereotipadas	
e	 que	Guy	Debord,	 cineasta	 e	 filósofo	 francês,	 definiu	
como	sociedade do espetáculo.	Todas	essas	indicações	
são	fundamentais	para	complementar	o	que	será	abor-
dado	nesta	unidade.
3)	 Falcão, meninos do tráfico,	documentário	dirigido	pelo	
rapper	MV	Bill	e	por	seu	empresário,	Celso	Athayde,	exi-
bido	no	programa	Fantástico	em	19	de	março	de	2006,	
indicado	anteriormente,	chocou	o	país.	Gravado	ao	lon-
go	 de	 anos	 em	 diversas	 periferias	 brasileiras,	 o	 docu-
mentário	foge	da	expressão	limpa,	direta	e	bem	acabada	
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111© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
que	 vem	caracterizando	a	produção	de	 filmes	 sobre	o	
assunto.	Vale	um	empenho	para	assisti-lo.
4)	 Sugerimos,	 também,	 dois	 filmes	 internacionais: Hotel 
Ruanda,	dirigido	por	Terry	George,	e	Crash – No Limite,	
dirigido	por	Paul	Haggis.
5)	 Para	 aprofundar	 seus	 conhecimentos	 sobre	 a	 pobreza	
e	suas	relações	com	a	educação	sugerimos	a	leitura	da	
entrevista	concedida	por	István	Mézáros	à	Folha	de	São	
Paulo.	As	suas	colocações	ampliam	nosso	campo	de	re-
flexão	em	torno	do	tema	que	será	estudado.	A	entrevis-
ta	encontra-se	disponível	no	seguinte	endereço	eletrô-
nico:	 <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/
ult305u15857.shtml>.	Acesso	em:	10	jun.	2010).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	 foi	possível	compreendermos	como	a	
questão	social	colocou	a	sociedade	no	plano	da	análise	científica.	
Nesta	unidade,	considerando	que	as	questões	sociais	 já	estavam	
postas	pela	sociedade	capitalista	quando	do	advento	da	Sociolo-
gia,	 estaremos	 diante	 de	 velhas	 e	 novas	 questões	 sociais.	 Parti-
remos	de	uma	questão	social	que	está	na	origem	da	organização	
científica	do	pensamento	social	e	que	continua	presente	como	um	
desafio	para	a	Sociologia	contemporânea:	a	desigualdade	social.
Exercitando	 nossa	 capacidade	 de	 compreensão,	 lembremo-
-nos	de	que,	na	Unidade	2,	fizemos	o	registro	da	preocupação	com	
a	pobreza,	como	desigualdade	social,	resultante	da	 ignorância	e	da	
exploração	humanas,	 constituindo	uma	das	 fontes	do	pensamento	
sociológico	que	dá	origem	ao	levantamento social,	uma	das	técnicas	
de	excelência	na	pesquisa	sociológica,	também	utilizada	na	Economia.
Quando	saímos	às	ruas	ou	mesmo	quando,	em	casa,	ligamos	
a	televisão,	notamos	entre	as	pessoas	aquelas	que	se	assemelham	
a	uma	grande	maioria,	ou	seja,	 revelam	semelhanças	entre	si	e,	
em	contrapartida,	deparamo-nos,	 também,	 com	pessoas	que	 se	
diferenciam	da	grande	maioria	e	que	constituem	uma	minoria.	As	
© Sociologia Geral112
diferenças	que	notamos	à	primeira	vista	se	vinculam	ao	vestuário,	
à	condução	que	utilizam.	Existem,	porém,	outras	diferenças	que	
não	são	tão	visíveis,	as	quais	estão	ligadas	à	religião,	aos	conheci-
mentos,	ao	gênero,	à	raça,	à	opção	sexual,	que	provocam	a	desi-
gualdade social.
Um	olhar	mais	atento	vai	nos	conduzir	a	visões	de	favelas	e	
mansões,	de	pessoas	desnutridas	e	de	pessoas	que	se	alimentam	
em	excesso,	de	sujeitos	analfabetos	e	aqueles	que	têm	formação	
escolar	completa.	Enfim,	cada	sociedade	gera	formas	de	desigual-
dades	resultantes	dos	modos	de	organização	social.	As	desigual-
dades	 assumem	 características	 diferenciadas	 entre	 si	 porque	 se	
constituem	a	partir	de	elementos	políticos,	econômicos	e	sociais	
próprios	de	cada	sociedade.
Essas	concepções	são	resultados	de	estudos	sociológicos	que	
tomaram	pobreza	 como	objeto	 de	 estudo,	 compreendida	 como	
um	resultado	da	ignorância	e	da	exploração	humana,	ou	seja,	não	
mais	aceita	como	um	castigo	da	natureza	ou	da	providência	divina.	
Nas	sociedades	industriais,	a	pobreza,	como	forma	de	desigualda-
de	social,	já	não	é	considerada	um	fenômeno	natural.
A	expressão	“desigualdade	social”	é	constituída	como	uma	
referência	a	uma	condição	na	qual	os	membros	de	uma	mesma	so-
ciedade	possuem	quantias	diferentes	de	bens,	poder	ou	prestígio.
No	combate	à	desigualdade,	busca-se	a	equidade	social,	ou	
seja,	busca-se	o	direito	de	as	pessoas	participarem	da	atividade	
econômica	e	política,	de	contarem	com	os	meios	de	subsistência	e	
o	direito	de	acesso	aos	serviços	públicos	que	permitam	manter	um	
nível	adequado	de	vida.
Estamos	vivendo	na	primeira	década	do	século	21,	e	uma	das	
maiores	preocupações	da	humanidade	é	a	desigualdade	que	existe	
em	várias	partes	do	mundo.	Globalmente,	a	concentração	de	rique-
za	tem	aumentado,	gerando	novos	tipos	de	desigualdade:	o	conhe-
cimento	produzido	é	incorporado	apenas	por	pequenos	grupos	que	
passam	a	ter	maior	controle	dos	processos	de	produção	de	riqueza.
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113© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Os	 Índices	 de	 Desenvolvimento	 Humano	 (IDH)	 divulgados	
pela	Organização	das	Nações	Unidas	(ONU)	demonstram	que	um	
dos	 aspectos	mais	 cruéis	 da	 desigualdade	 é	 a	 concentração	 de	
pobres	nas	zonas	urbanas,	vivendo	em	favelas.	Se	considerarmos	
aqueles	 que	 vivem	 em	 situação	 de	 pobreza	 extrema,	 o	 quadro	
apresenta-se	mais	grave,	com	um	número	de	pobres	maior	do	que	
as	favelas	revelam.
A	 situação	 de	 desigualdade	mundial	 constitui-se	 ao	 longo	
dos	últimos	500	anos	com	o	processo	de	uma	economia	mundial.
5. DESIGUALDADE SOCIAL
O	processo	histórico	tem	revelado	como	uma	tendência	mar-
cante	a	diferenciação	e	a	crescente	complexidade	da	sociedade.	
Da	pequena	diferenciação	social	existente	nas	sociedades	tribais,	
as	sociedades	foram	passando	por	processos	que	as	levaram	a	for-
mar	os	mais	diferentes	grupos	que	começaram	a	se	distinguir	por	
nacionalidade,	 por	 religião,	 por	 profissão,	 por	 etnia	 e,	 de	modo	
mais	acentuado,	por	classe social.
O	mundo	contemporâneo	assiste	ao	resultado	desse	proces-
so	histórico	de	formação	de	uma	civilização	complexa	e	diferencia-
da,	na	qual	diversos	grupos	procuram	monopolizar	seus	privilégios	
e	possibilidades	de	acesso	à	produção	de	bens	e	aos	mecanismos	
de	distribuição	desses	bens	na	sociedade.
Diante	dessas	colocações,	surge	uma	pergunta:	terá	havido,	
em	algum	momento	da	história	da	humanidade,	uma	sociedade	
igualitária?
Evidências	históricas	indicam	que	as	culturas	humanas,	em	
todos	os	tempos	e	lugares,	se	organizaram	a	partir	da	ideia	da	dis-
tinção,	da	diferenciação	entre	grupos	sociais.	Mesmo	naquelas	so-
ciedades	simples,	consideradas	homogêneas,	existiam	diferenças	
de	sexo	e	idade,	o	que	levava	à	atribuição	de	diferentes	funções,	
parcelas	de	poder,	determinados	direitos	e	deveres.
© Sociologia Geral114
Temos	 como	 exemplo	 o	 patriarcado,	 que	 existiu	 desde	 as	
mais	remotas	civilizações	e	que	garantia	aos	homens	o	poder	so-
bre	a	família	e	seus	bens.
Bem,	se	considerarmos	que,	desde	a	Antiguidade	histórica,	
as	sociedades	apresentaram	diferentes	formas	de	organização	so-
cial,	nas	quais	a	distribuição	de	bens	era	desigual,	podemos	nos	
perguntar:	por	que	a	pobreza	é	tão	chocante	e	tão	pouco	aceitável	
contemporaneamente?
A	partir	do	momento	em	que	foi	engendrada	a	ideia	de	hu-
manidade	como	conceito	capaz	de	conter	todos	os	seres	humanos	
do	planeta,	as	desigualdades sociais	 tornaram-se	cada	vez	mais	
evidentes.	Ao	defender-se	o	princípio	de	que	todos	têm	os	mes-
mos	direitos	e	 são	 iguais	perante	a	 lei,	 fica	 cada	vez	mais	difícil	
justificar	as	desigualdades	sociais.
Se	todos	possuem	os	mesmos	direitos,	como	podem	existir	
grupos	que	não	têm	acesso	ao	mínimo	de	bens	produzidos	pela	
sociedade?
A	 pertinênciae	 a	 permanência	 dessa	 pergunta	 indicam	 a	
contradição	 em	 relação	 aos	 valores	 que	 defendemos	 em	 nossa	
forma	de	organização	social,	e	é	por	essa	razão	que	na	sociedade	
moderna	e	contemporânea	a	desigualdade	social	assume	o	cará-
ter	de	privilégio	de	alguns	e	de	injustiça	para	com	outros.	É	essa	
nova	consciência	que	torna	a	riqueza	tão	incômoda.
6. A QUESTÃO DA POBREZA
A	pobreza	pode	ser	encarada	como	uma	condição	em	que	
a	pessoa	não	pode	manter-se	sozinha	de	acordo	com	o	padrão	de	
vida	do	grupo	e,	por	isso,	é	incapaz	de	atingir	a	eficiência	mental	e	
física	que	lhe	permita	atuar	de	maneira	útil	nesse	grupo.
Ricos	e	pobres	são	sempre	encontrados	em	qualquer	lugar	
no	qual	um	ser	humano	possa	adquirir	ou	controlar	maior	quanti-
dade	de	bens	do	que	o	outro.
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115© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Historicamente,	a	existência	simultânea	da	riqueza	e	da	po-
breza	somente	se	constituiu	como	uma	questão social	após	o	apa-
recimento	de	um	sistema	de	trocas	e	de	uma	escala	de	valores.
Foi	 com	 a	 expansão	 do	 comércio	 em	escala	 internacional,	
com	a	grande	acumulação	de	riqueza	e	sua	distribuição	desigual	
e	com	o	estabelecimento	de	padrões	de	vida	definidos	nos	usos	
e	costumes	que	a	pobreza	começou	a	surgir	como	um	problema 
social.
Pela	 comparação	 das	 diferenças	 de	 status	 econômico,	 os	
membros	de	uma	 sociedade	 tornaram-se	 conscientes	dessas	di-
ferenças	e	passaram	a	considerar	a	si	próprios	e	aos	outros	como	
ricos	e	pobres	em	diferentes	graus.
Mas	em	que	momento	a	pobreza	passa	a	ser	reconhecida	e	
identificada	como	um	problema	social?
A	partir	do	momento	em	que	se	estabelecem	diferenças	evi-
dentes	de	status	econômico	entre	os	membros	de	uma	sociedade	
e	se	fazem	comparações	e	avaliações	dessas	diferenças,	a	pobreza	
passa	a	ser	identificada	como	um	problema;	caso	contrário,	mes-
mo	a	vida	sendo	muito	precária,	não	há	problemas	de	desigualda-
de	social	na	falta	de	diferenças.
Os	povos	primitivos	viveram	em	um	estado	de	mais	ou	me-
nos	privação.	A	falta	de	alimentos	suficientes	e	outras	necessida-
des	foram	muito	comuns.	O	desconforto	e	o	sofrimento	devido	a	
um	suprimento	inadequado	de	elementos	básicos,	mais	do	que	o	
conforto	e	bem-estar,	foram	quase	universais	até	muito	recente-
mente.	Vivenciando	as	mesmas	condições,	as	pessoas	geralmente	
consideravam	seu	desconforto	um	estado	natural,	muito	mais	do	
que	um	problema	que	exigisse	solução	e,	portanto,	aceitavam-no	
sem	se	sentirem	injustiçadas.	Exceto	em	casos	de	extrema	priva-
ção,	a	pobreza	não	era	sentida,	a	não	ser	pela	indignação	do	indiví-
duo	diante	de	sua	sorte	em	comparação	com	a	dos	outros.
Segundo	a	visão	de	Cristina	Costa	(2005),	no	mundo	moder-
no,	especialmente	nas	sociedades	ocidentais,	a	pobreza	tomou	a	
© Sociologia Geral116
dianteira	entre	os	problemas	sociais,	não	devido	a	um	aumento	
da	miséria	(as	condições	de	vida	têm	melhorado	constantemente),	
mas	por	causa	do	ressentimento.	Os	fatores	que	contribuem	para	
o	ressentimento	profundo	contra	a	pobreza	são:	a	consciência	do	
fracasso,	o	não	conseguir	mais	do	que	se	tem	e	o	sentimento	de	
injustiça	diante	da	ordem	geral	das	coisas.
No	texto	a	seguir,	podemos	constatar	quais	são	as	três	for-
mas	 diferentes	 de	 pobreza	 identificadas	 por	 John	 Friedmann	 e	
Leonie	Sandercock.
Os Desvalidos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Numa sociedade complexa, em que a vida se reveste de inúmeras instâncias di-
ferentes e na qual existe a consciência de a espécie humana constituir uma tota-
lidade, a questão da pobreza se reveste de inúmeros aspectos. John Friedmann 
e Leonie Sandercock, especialistas em planificação urbana, em artigo intitulado 
Os desvalidos, publicado em maio de 1995 pelo Correio da Unesco, identificam 
três diferentes formas de pobreza, além da clássica carência de bens materiais 
e de recursos à sobrevivência.
1) A despossessão psicológica diz respeito a um sentimento de autodesvalo-
rização das populações pobres em relação às ricas, ou de um país pobre em 
relação a um país rico.
2) A despossessão social, que se manifesta pela completa impossibilidade 
de parcelas da população terem acesso aos mecanismos de êxito social, de 
atingirem o mínimo de prestígio e manterem relações sociais estruturadas e 
permanentes.
3) A despossessão política é outro lado da pobreza contemporânea e diz res-
peito à incapacidade de certos grupos sociais terem qualquer participação 
efetiva na vida pública ou acesso aos mecanismos de interferência e ação 
política.
À medida que se amplia nossa concepção de vida social, a questão da pobreza 
torna-se aguda e complexa, envolvendo não só a aquisição de bens materiais, 
mas também o acesso a diversos privilégios sociais, cada vez mais essenciais 
(COSTA, 2005, p. 251).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vivemos	em	uma	sociedade	mecanizada	e	informatizada,	na	
qual	a	pobreza	continua	resistente	aos	esforços	que	os	Estados	ar-
gumentam	estar	desenvolvendo.	A	esperança	de	vida	cresce	em	
quase	todas	as	partes	do	mundo,	mas	o	atendimento	à	população	
desvalida	 continua	 precário.	 As	 favelas	 multiplicam-se	 cada	 vez	
mais	e	compõem	a	paisagem	urbana	ao	lado	da	criminalidade,	da	
presença	da	mendicância.	
Claretiano - Centro Universitário
117© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Medidas	de	análise	como	analfabetismo,	renda	per capita,	
índices	 de	nascimento,	mortes,	 desnutrição,	 educação	 escolar	 e	
dívida	externa	são	cada	vez	mais	utilizadas	para	classificar	regiões	
e	nações.	Diante	dessas	informações,	a pobreza	deixa	de	ser	uma	
condição	abstrata	e	torna-se	presentificada.	Pessoas,	países	e	gru-
pos	sociais	são	considerados	pobres,	não	apenas	em	relação	a	si	
próprios	ou	às	suas	dificuldades	para	atingir	seus	objetivos	e	me-
lhorar	sua	condição	de	vida,	mas	também	em	relação	aos	outros	
grupos	ou	aos	outros	países	com	os	quais	são	comparados.
A	pobreza	passa	a	existir,	 também,	em	 função	das	exigên-
cias	externas;	 são	padrões	 globalizados,	 índices	organizados	por	
processos	sociais	distantes	que	criam	necessidades	que	se	chocam	
com	valores	sociais	entre	pessoas,	grupos	e	nações.	Essa	concep-
ção,	em	muitos	momentos	históricos,	justificou	o	colonialismo,	o	
imperialismo.
As	charges	de	Angeli,	demonstradas	na	Figura	1	e	na	Figura	2,	
expressam	a	realidade	do	mundo	hegemônico,	no	qual	a	diferença	
de	classes	é	gritante.	Segundo	o	sociólogo	português	Boaventura	
de	Sousa	Santos	(1995),	no	texto	O norte, o sul e a utopia,	o	capi-
talismo	global	causa	essa	desigualdade	social	e	ela	deve	continuar	
aumentando	gradativamente.
© Sociologia Geral118
Figura	1	A nova ordem mundial.
A	existência	da	pobreza	como	uma	desigualdade	social	é	in-
dicadora	da	existência	da	marginalidade,	da	exclusão,	dos	excluí-
dos	pela	pobreza.	A	presença	constante	e	próxima	desses	excluí-
dos	incomoda	e	deixa-nos	constrangidos	por	várias	razões:
1)	 demonstra	a	ineficiência	administrativa	do	Estado;
2)	 indica	o	crescimento	da	quantidade	de	pessoas	excluí-
das;
3)	 traz	à	tona	o	temor	da	organização	e	ação	dessa	popu-
lação;
4)	 constitui-se	em	uma	evidência	do	fracasso	de	uma	socie-
dade	que	se	crê	orientada	pelos	direitos	humanos	uni-
versais	em	prol	do	bem	comum.
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119© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
Figura	2	Moradias.
Para	a	Sociologia,	a	má	distribuição	da	riqueza	e	da	renda	e	o	
funcionamento	imperfeito	das	instituições	econômicas	são	fatores	
importantes	que	acarretam	depressões	econômicas	e	desemprego	
generalizado.	 São	 considerados	 como	os	 principais	 responsáveis	
pelo	desajustamento	econômico	em	nossa	sociedade.
O	Brasil	é	hoje	 totalmente	 integrado	pela	 língua,	pelas	co-
municações	de	massas,	pelos	transportes	e	pelo	mercado;		parte	
da	pobreza	que	existe	é	rural,	localizada,	sobretudo,	nos	estados	
do	Nordeste	e	em	zonas	agrícolas	deprimidas	em	Minas	Gerais	e	
no	Rio	de	Janeiro.	Esse	segmentoda	pobreza	no	Brasil	é	constituí-
do	de	pessoas	que	sobrevivem	em	uma	economia	de	subsistência,	
extremamente	precária.	Em	sua	maioria,	no	entanto,	a	pobreza	é	
urbana,	 localizada	 na	 periferia	 das	 grandes	 cidades,	 constituída	
por	pessoas,	em	grande	parte,	originárias	do	campo,	e	é	medida	
pelo	fato	de	que	sua	integração	ao	mercado	de	consumo	não	tem	
correspondência	com	o	mercado	de	trabalho.
© Sociologia Geral120
Para	o	sociólogo	brasileiro	Simon	Schwartzman	(2004),	qual-
quer	análise	que	se	faça	da	sociedade	brasileira	atual	mostra	que,	
ao	lado	de	uma	economia	moderna,	existem	milhões	de	pessoas	
excluídas	de	seus	benefícios,	assim	como	dos	serviços	proporcio-
nados	pelo	governo	para	seus	cidadãos.	Socialmente,	porém,	os	
níveis	de	exclusão	e	desigualdade	são	muito	maiores,	estando	en-
tre	os	piores	do	mundo.
Schwartzman	 (2004)	 explica	 que	 uma	 das	 maneiras	 de	
compreender	a pobreza	é	considerá-la	como	resultado	da	ação	
dos	seres	humanos,	sendo	resultado	das	formas	como	estes	pen-
sam,	interpretam	e	direcionam	a	construção	da	história,	da	for-
ma	como	aceitam	os	padrões	mínimos	de	sobrevivência	de	cada	
indivíduo	presente	na	sociedade.	A	pobreza	pode	ser	vista	como	
um	fenômeno	social	decorrente	da	desigualdade	social,	visto	ser	
fruto	da	concentração	da	riqueza,	ou	seja,	da	não	distribuição	da	
renda.	Essa	situação,	em	vigor	no	Brasil	e	no	mundo,	na	atualida-
de,	precisa	ser	analisada	como	parte	de	um	processo	econômico	
e	político.
No	Brasil,	a	existência	da	pobreza	não	ocorre	devido	à	 fal-
ta	de	recursos,	e	sim	da	desigual	distribuição	destes,	entendendo	
que	o	Brasil	é	um	país	rico,	porém,	com	um	dos	maiores	índices	
de	desigualdade	do	mundo.	Como	no	passado,	os	níveis	de	pobre-
za	e	exclusão	continuam	sendo	causados	por	uma	combinação	de	
heranças,	condições	e	escolhas	de	natureza	econômica,	política	e	
cultural.	É	 ingênuo	supor	que	a	pobreza	e	a	desigualdade	social	
poderiam	ser	eliminadas	pela	"vontade	de	alguém".
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Conforme	procedemos	nas	unidades	anteriores,	vamos	no-
vamente	fazer	uma	pausa	para	você	fixar	os	conceitos	abordados	
nesta	unidade.	
Claretiano - Centro Universitário
121© U5 - Sociologia Contemporânea: Velhas e Novas Questões Sociais
1)	 Como	definir	a	desigualdade	social?
2)	 Como	definir	a	pobreza?	
3)	 Quais	são	as	três	diferentes	formas	de	pobreza	identifi-
cadas	por	Friedmann	e	Leonie	Sandercock,	especialistas	
em	planificação	urbana?
8. CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTEÚDO DO TEXTO
O	mundo	contemporâneo	assiste	ao	resultado	de	um	longo	
processo	histórico	de	formação	de	sociedades	complexas.	Duran-
te	 o	 caminho	 percorrido	 pela	 humanidade,	 foram-se	 formando	
grupos	 diferenciados.	 Alguns	 desses	 grupos	 tornaram-se	 privile-
giados	e	procuram	monopolizar	seus	privilégios,	as	possibilidades	
de	acesso	à	produção	de	bens	e	aos	mecanismos	de	distribuição	
desses	bens.
Na	sociedade	contemporânea,	ao	contrário	da	Antiguidade,	
que	tinha	a	noção	de	que	a	sociedade	se	diferenciava	por	grupos	
inconciliáveis,	exemplo	das	castas	na	Índia,	desenvolveu-se	a	cons-
ciência	 de	 humanidade,	 de	 igualdade	 reforçada	 pela	 expansão	
mundial	do	sistema	capitalista	industrial.
Uma	vez	adotada	a	ideia	de	humanidade,	conceito	que	en-
globa	todas	as	pessoas	do	planeta,	as	desigualdades	ficaram	per-
ceptíveis.	Se	todos	os	seres	humanos	são	iguais	perante	a	lei,	como	
justificar	as	diferenças	sociais?
A	presença	da	pobreza	vai	contra	os	princípios	que	acredita-
mos	que	deveriam	pautar	a	existência	humana:	todos	possuírem	
os	mesmos	direitos.
Nesse	sentido,	a	presença	da	desigualdade	social	na	socie-
dade	 contemporânea	assume	o	 caráter	de	 injustiça	para	muitos	
e	privilégio	para	poucos,	o	que	evidencia	contradição	em	relação	
aos	valores	que	defendemos	para	nossa	organização	social.
© Sociologia Geral122
9. E-REFERÊNCIAS 
Lista de figuras
Figura 1 – A nova ordem mundial:	 disponível	 em:	 <http://sociologia2cevr.blogspot.
com/2007/11/anlise-das-charges.html>.	Acesso	em:	13	mai.	2010.
Figura 2 – Moradias:	 disponível	 em:	 <http://sociologia2cevr.blogspot.com/2007/11/
anlise-das-charges.html>.	Acesso	em:	13	mai.	2010.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOTTOMORE,	T.	B.	Problemas	Sociais.	In:	______.	Introdução à Sociologia.	5.	ed.	Rio	de	
Janeiro:	Zahar,	1973.	p.	306-318.
COSTA,	C.	A	questão	da	pobreza.	 In:	______.	Sociologia:	uma	 introdução	à	ciência	da	
sociedade.	2.	ed.	São	Paulo:	Moderna,	2002.	p.	255-270.
DEBORD,	G.	A sociedade do espetáculo.	Rio	de	Janeiro:	Contraponto,	2002.
KOENIG,	S.	Problemas	Sociais.	In:	______.	Elementos de Sociologia.	4.	ed.	Rio	de	Janeiro:	
Zahar,	1975.	p.	353-387.
SANTOS,	B.	de	S.	Pela mão de Alice:	o	social,	o	político	na	pós-modernidade.	São	Paulo:	
Cortez,	1995.
SCHWARTZMAN,	S.	Pobreza, exclusão social e modernidade:	uma	introdução	ao	mundo	
contemporâneo.	São	Paulo:	Augurium,	2004.
SINGER,	P.	Perspectivas	de	desenvolvimento	da	América	Latina.	Novos	Estudos	Cebrap,	
n.	44,	p.	163-164,	mar.	1996.
EA
D
6
Desigualdade Social: 
Grupos Minoritários, 
Preconceito 
e Discriminação
1. OBJETIVOS
•	 Identificar	tendências	da	sociedade	contemporânea.
•	 Compreender	o	teor	das	questões	sociais	que	se	apresen-
tam	para	análises	e	explicações	sociológicas.
•	 Cultivar	a	atitude	de	pesquisador.
2. CONTEÚDOS
•	 A	desigualdade	social	e	a	questão	dos	grupos	minoritá-
rios.
•	 O	preconceito	e	a	discriminação.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
1)	 Para	complementar	o	que	estudaremos	nesta	unidade,	
que	é	referente	ao	preconceito	e	à	discriminação,	apre-
© Sociologia Geral124
sentamos	duas	sugestões	de	 filmes:	Meninos não cho-
ram,	dirigido	por	Kimberly	Peirce,	e	Filadélfia,	de	Jona-
than	Demme.
2)	 Há	um	espaço	eletrônico	brasileiro,	 cujo	endereço	é	o	
<http://www.portacurtas.com.br>,	dedicado	a	filmes	de	
curta	metragem	que	é	 imperdível.	Há	 inúmeros	 filmes	
que	abordam,	em	linguagem	cinematográfica,	os	temas	
do	preconceito	e	da	discriminação.	Vale	a	pena	curtir!
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	identificamos	tendências	da	sociedade	
contemporânea	e	procuramos	entender	a	natureza	e	o	objeto	das	
questões	sociais	que	servem	de	base	para	as	análises	e	explicações	
sociológicas.	 Pudemos	 também	 refletir	 sobre	 questões	 cruciais	
que	desafiam	as	sociedades	contemporâneas,	como	é	o	caso	das	
desigualdades	sociais,	com	destaque	para	a	pobreza.
Nesta	unidade,	daremos	continuidade	às	reflexões	em	torno	
das	velhas	e	das	novas	questões	sociais	da	Sociologia	contempo-
rânea,	tentando	estender	a	visão	de	desigualdade	social	para	os	
grupos	minoritários	e	refletir	sobre	os	significados	de	preconceito	
e	discriminação.	Com	essas	ideias,	encerraremos	nossos	estudos	
introdutórios	ao	conhecimento	da	Sociologia.
Conforme	já	abordamos,	embora	a	desigualdade	social	seja	
encontrada	com	diferentes	roupagens	em	todas	as	sociedades,	ela	
alcançou	com	o	capitalismo	uma	das	versões	mais	duras.
A	situação	de	extrema	desigualdade	social	mundial	 resulta	
de	um	longo	processo,	que	foi	constituído	nos	últimos	500	anos	e	
que	foi	surgindo	com	base	em	uma	economia	global	de	exploração	
do	ser	humano	pelo	ser	humano.
Mesmo	aqueles	países	que	são	considerados	“em	desenvol-
vimento”	estiveram	–	ou	ainda	estão	–	submetidos	a	imposições	
que	impedem	que	suas	populações	alcancem,	de	modo	igualitário,	
as	mesmas	condições	dos	países	desenvolvidos.
Claretiano - Centro Universitário
125© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação
Embora	existam	vários	movimentos	de	 tentativas	de	dimi-
nuição	das	desigualdades	 sociais,	 ainda	persiste	uma	política	de	
dominação	que	tem	bases	no	poderio	econômico	dos	países	ricos,	
o	que	dificulta,	sobremaneira,	a	superação	dessas	questões.
Conforme	observamos	em	nossas	 incursões	anteriores	em	
torno	 da	 questão	 das	 desigualdades	 sociais,	 estas	 foram	 com-
preendidas	 como	 resultantes	 de	 um	 processo	 social	 constituído	
ao	longo	da	história.	Os	fundamentos,	não	apenas	para	sua	per-
manência,	 mas	 tambémpara	 sua	 ampliação	 em	 níveis	 globais,	
colocam-nos	diante	da	fragilidade	da	ideia	de	que	todos	os	seres	
humanos	têm	os	mesmos	direitos.
Se	 todas	 as	 pessoas	 indistintamente	 possuem	 os	mesmos	
direitos	e	se	os	direitos	humanos	são	universais,	como	entende-
remos	a	presença,	sempre	próxima,	daqueles	que	não	conseguem	
ter	acesso	ao	mínimo	necessário	para	viver	com	dignidade?
O	fato	de	prevalecer	nas	sociedades	contemporâneas	a	ideia	
de	que	todos	fazem	parte	da	humanidade	e,	portanto,	têm	os	mes-
mos	direitos	torna	cada	vez	mais	difícil	a	justificativa	para	a	exis-
tência	das	desigualdades	sociais.
É	partindo	dessas	considerações	que	abordaremos	a	natu-
reza	das	questões	sociais	e	tentaremos	identificar	algumas	bases	
sociais	que	envolvem	a	existência	de	grupos	minoritários	ou	mi-
norias,	do	preconceito	e	da	discriminação,	como	uma	ampliação	
de	nossas	reflexões	sobre	as	desigualdades	sociais	que	tomaram,	
como	questão	social	inicial,	a	pobreza.
5. A DESIGUALDADE SOCIAL E A QUESTÃO DAS MI-
NORIAS
Temos	 utilizado	 a	 expressão	 “questões	 sociais”	 para	 refe-
rirmo-nos	às	formas	de	desigualdade	social.	Assim,	a	pobreza,	as	
minorias,	o	preconceito	e	a	discriminação	são	identificados	como	
questões	sociais.
© Sociologia Geral126
Contudo,	 é	 importante	 esclarecermos	o	 que	 são	questões 
sociais	antes	de	prosseguirmos	com	nosso	estudo.
Questões sociais	ou	problemas sociais	são	situações	ou	con-
dições	que	são	consideradas	pela	sociedade	como	ameaças	ao	seu	
bem-estar	e	que	precisam	ser	eliminadas	ou	diminuídas.	Trata-se	
de	 condições	que	 afetam	um	número	 significativo	de	pessoas	 e	
pelas	quais	se	acredita	que	algo	possa	ser	feito	mediante	uma	in-
terferência.
Para	a	Sociologia,	não	há	uma	causa	única	e	simples	para	a	
existência	de	problemas	sociais.	Frequentemente,	há	uma	interli-
gação	de	várias	causas	que	não	podem	ser	explicadas	separada-
mente	(KOENIG,	1975).
Uma	dada	situação	pode	ser	considerada	problemática	por	
uma	 sociedade	e	 não	 ser	 encarada	da	mesma	 forma	por	 outra.	
Devido	à	mudança	das	condições	e	de	atitudes,	o	que	se	considera	
problema	hoje	pode	não	ter	sido	assim	considerado	no	passado.	
A	persistência	de	algumas	questões	 sociais,	 como,	por	exemplo,	
a	pobreza,	os	crimes	e	as	guerras,	revela,	provavelmente,	que	os	
seres	humanos	 tiveram	que	 lidar,	 ao	 longo	dos	 tempos,	 com	os	
mesmos	 tipos	 de	 condições	 ambientais	 e	 sociais.	 Lembremos	 o	
exemplo	da	pobreza	e	as	várias	significações	sociais	que	ela	adqui-
re	ao	longo	do	tempo.
Todavia,	 há	 questões	 sociais	 permanentes	 e	 universais.	 A	
guerra,	por	exemplo,	provavelmente	 revela	que,	diante	de	algu-
mas	 circunstâncias,	 os	 seres	 humanos	 tiveram	 de	 lidar	 com	 os	
mesmos	tipos	de	condições	sociais.
Embora	a	Sociologia	se	ocupe,	primordialmente,	das	intera-
ções	sociais	e	embora	ela	esteja	interessada,	sobretudo,	na	inves-
tigação	dos	fenômenos	sociais,	também	estuda	as	questões	sociais 
como	resultados	da	vida	em	sociedade.	Desse	modo,	a	Sociologia	
aborda	questões	como:	pobreza,	minorias,	preconceito,	discrimi-
nação,	divórcio,	conflitos	raciais	e	religiosos,	desemprego,	alcoo-
lismo,	suicídio,	desnutrição,	mortalidade	infantil,	trabalho	infantil,	
Claretiano - Centro Universitário
127© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação
homossexualidade,	pedofilia,	velhice,	desabrigados,	violência,	cri-
mes,	fome,	saúde	pública,	analfabetismo	etc.
Diante	dessas	questões,	o	principal	objetivo	da	Sociologia	é	
procurar	condições	para	a	sua	compreensão,	bem	como	analisá-las,	
explicá-las	e	torná-las	públicas.	A	Sociologia	pode	contribuir	muito	
na	busca	de	soluções	eficazes,	considerando	que	os	esforços	para	
resolver	 os	 problemas	 sociais	 só	 podem	 ser	 exitosos	 quando	 se	
baseiam	em	circunstâncias	indiscutíveis	e	em	uma	adequada	com-
preensão	de	suas	condições.
Pensemos	nas	minorias	como	questão	social.	De	onde	vem	a	
ideia	de	grupos	minoritários	ou	minorias?
O	princípio	da	concepção	de	minorias	 foi	engendrado	com	
base	na	ideia	de	maioria,	que,	por	sua	vez,	nasceu	com	a	demo-
cracia	grega.	Os	gregos	organizaram	a	 legitimidade	da	 lei	 funda-
mentados	no	fato	de	ela	representar	a	vontade	dos	cidadãos.	Em	
Atenas,	aqueles	que	eram	considerados	cidadãos	selecionavam	e	
aprovavam	as	leis	em	assembleias,	e	essa	seleção	e	consequente	
aprovação	dos	cidadãos	eram	consideradas	a	manifestação	numé-
rica	da	maioria.
Quem	 era	 considerado	 cidadão	 em	 Atenas?	 Os	 nascidos	
gregos,	do	sexo	masculino,	com	idade	superior	a	18	anos	e	livres.	
Encontravam-se	excluídos	dessas	condições	os	escravos,	os	estran-
geiros,	as	mulheres,	os	artesãos,	os	comerciantes	e	os	menores	de	
18	anos.	Estes	constituíam	o	segmento	mais	numeroso	da	popu-
lação	grega.	
Por	extensão,	no	século	19,	quando	as	repúblicas	criaram	o	
sistema	 político	 representativo,	 permaneceu	 o	mesmo	 princípio	
da	maioria.	As	leis	votadas	pela	maioria dos	representantes	legis-
lativos	passaram	a	corresponder	à	vontade	da	nação.
Com	a	adoção	da	democracia	representativa,	o	que	é	oficial	
é	 tido	como	decisão	da	maioria.	Assim	entendido,	 se	o	governo	
é	representativo,	ele	representa	a	maioria	da	população.	Aqueles	
© Sociologia Geral128
que	não	concordam	são	considerados	minorias,	mesmo	que	cor-
respondam	–	como	no	caso	das	mulheres	–	a	mais	da	metade	da	
população	do	mundo.
Há	outras	situações	que	contribuíram	para	o	estabelecimen-
to	da	ideia	de	minoria.
No	caso	da	teoria	sociológica	organizada	por	Durkheim,	te-
mos	que	uma	das	características	do	fato	social	é	a	sua	generalida-
de,	isto	é,	sua	recorrência.	Segundo	essa	visão,	o	que	é	discordante	
ou	desviante	foge	da	normalidade	e	da	unanimidade;	distancia-se	
da maioria	e	recai	na	minoria.
O	uso	da	Estatística	também	ajudou	na	propagação	desses	
princípios.	Quando	temos	números	transformados	em	realidade,	
a	 análise	quantitativa	pode	deformar	 a	 visão	de	 realidade,	 criar	
semelhanças	inexistentes,	assim	como	esconder	ou	eliminar	dife-
renças,	ou	seja,	mascarar	resultados.
Para	exemplificar,	 façamos	a	 seguinte	suposição:	uma	pes-
quisa	 estatística	 que	 constatar	 que,	 em	uma	 dada	 população,	 a	
metade	 dos	 indivíduos	 consome	 200	 gramas	 de	 queijo	 por	 dia	
enquanto	a	outra	metade	dos	indivíduos	não	consome	nenhuma	
quantidade	desse	produto,	partindo	dos	mesmos	dados,	ao	elabo-
rar	os	resultados,	pode	optar	pelo	consumo	médio	da	população	e	
concluir	que	ele	é	de	100	gramas	de	queijo	por	dia,	por	indivíduo,	
o	que	representará	resultados	tendenciosos	das	noções	de	maio-
ria e	minoria.
Nesse	caso,	os	resultados	vêm	mascarados,	pois	são	escon-
didas	as	diferenças	e	criadas	aproximações	inexistentes:	toda	a	po-
pulação	consome	uma	quantidade	de	queijo.
A	complexidade	da	vida	social	e	o	uso	político	da	 ideia	de	
maioria	e	minoria	tornam	cada	vez	mais	difícil	o	estabelecimento	
de	definições	sobre	o	que	seria	uma maioria real.	Nesse	contexto,	
é	possível	expressar	que	as	minorias	 têm	se	deparado	com	difí-
Claretiano - Centro Universitário
129© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação
ceis	situações,	que	resultam	de	sua	desconsideração	nos	regimes	
representativos,	nos	levantamentos	estatísticos	e	diante	de	deter-
minados	 interesses	políticos.	Foram	essas	razões	que	levaram	as	
minorias à	luta	mediante	manifestações,	reivindicações	e	formas	
de	organização,	que	pretendem	denunciar	preconceitos	e	influen-
ciar	na	mudança	de	certas	formas	de	comportamento.
Para	a	Sociologia,	um	grupo	minoritário	define-se	por	ser	so-
cialmente	dominado	por	outro.	É	minoritário	o	grupo	que,	em	de-
corrência	do	preconceito	e	da	discriminação,	tem	sua	participação	
social	comprometida	em	função	do	poder,	da	influência,	do	autori-
tarismo	dos	membros	do	grupo	ou	dos	grupos	dominantes.	Trata-
-se	de	um	grupo	cujos	membros	têm	menos	controle	sobre	suas	
vidas	quando	comparados	aos	membros	do	grupo	dominante.
As	 minorias	 têm	 poder	 relativo	 menor	 se	 comparadas	 ao	
grupo	majoritário,independentemente	do	 seu	número	de	 com-
ponentes.	As	mulheres	formam,	numericamente,	a	maioria	da	po-
pulação	brasileira,	segundo	os	resultados	do	Censo	2000,	apresen-
tado	pelo	Instituto	Brasileiro	de	Geografia	e	Estatística	–	IBGE.	No	
entanto,	elas	são	tratadas	como	minoria	porque	não	têm	muitas	
limitações	nas	alternativas	de	tipos	de	trabalhos	de	expressão	po-
lítica	e	de	expressão	cultural	quando	comparadas	aos	homens.	Daí	
o	motivo	de	serem	definidas	e	tratadas	como	minoria.
A	Sociologia	tem	voltado	grande	parte	de	seus	estudos	para	
pesquisas	que	têm	como	objeto	os	grupos	minoritários	que	se	di-
ferenciam	pelo	 tipo	de	orientação	sexual,	pela	cor	de	pele,	pela	
educação,	 pela	 nacionalidade,	 pela	 religião,	 pelo	 gênero,	 entre	
outros.	Grupos	esses	que,	em	muitas	situações,	são	reconhecidos	
como	maioria	ou	minoria	por	sua	capacidade	de	reivindicar	e	de	
fazer	pressão	social.	A	força	da	ação	política	pode	tornar	as	ques-
tões	minoritárias	 em	majoritárias,	 dependendo	 do	 esforço	 para	
revelar	as	contradições,	as	injustiças	e	os	privilégios	característicos	
de	algumas	parcelas	sociais.	
© Sociologia Geral130
6. O PRECONCEITO E A DISCRIMINAÇÃO
Quando	optamos	por	apresentar	o	tema	das	desigualdades	
sociais,	fundamentamo-nos	nas	ideias	de	que	ele	fornece	elemen-
tos	para	apontar	a	necessidade	de	entendimento	de	sociedades	
distintas	e	das	formas	de	desigualdade	que	lhes	são	equivalentes.	
Trata-se	de	circunstâncias	que	oferecem	possibilidades	para	uma	
reflexão	sobre	as	condições	de	produção	e	reprodução	das	desi-
gualdades	 sociais	em	sociedades	como	a	brasileira.	Desses	prin-
cípios,	decorre	a	opção	de	incluir	reflexões	sobre	o	preconceito	e	
a	discriminação,	porque,	sobretudo,	após	o	nazismo,	estes	estão	
entre	os	temas	básicos	de	Sociologia	entendidos	como	formas	de	
exclusão social,	desde	as	mais	sutis	até	as	mais	amplas,	que	pre-
gam,	abertamente,	o	extermínio	de	grupos.
No	caso	do	Brasil,	os	dados	censitários	do	IBGE,	consideran-
do	que	a	realidade	brasileira	registra	qualidades	de	vida	diferen-
tes	para	alguns	grupos,	sobretudo	aqueles	cujos	componentes	são	
identificados	como	pretos	e	pardos,	indicam	a	existência	do	pre-
conceito	racial,	condições	que,	por	si	só,	justificam	estudos,	refle-
xões	e	análises	em	torno	dessa	questão.
Se	 analisarmos,	 historicamente,	 a	 questão	das	desigualda-
des	 sociais	 no	 Brasil,	 nas	 quais	 o	 preconceito	 e	 a	 discriminação	
estão	 entranhados,	 perceberemos	que,	 além	da	pobreza	 (que	 é	
a	 desigualdade	 básica),	 outros	 indicadores	 poderiam	 ser	 exaus-
tivamente	citados	para	exemplificar	a	situação,	tais	como:	fome,	
saúde	pública,	educação,	moradia,	 transporte	público,	 violência,	
desemprego	etc.
Preconceito	e	discriminação	 são	 formas	de	exclusão	 social	
que,	embora	ocorram	juntas,	têm	significados	diferentes.	O	pre-
conceito	refere-se	a	um	sentimento,	um	pensamento,	uma	ideia	
previamente	concebida,	sem	o	reconhecimento	da	situação	à	qual	
se	refere.	Discriminação	é	o	comportamento	manifesto,	baseado	
em	atitude,	em	ideia	preconceituosa.
Claretiano - Centro Universitário
131© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação
O	preconceito	está	ligado	aos	significados	de	um	julgamento	
prévio	e	negativo	sobre	um	determinado	indivíduo	ou	grupo,	efe-
tuado	antes	de	um	exame	ponderado	e	completo	e,	muitas	vezes,	
mantido	rigidamente,	mesmo	diante	de	provas	que	o	contradizem.	
Há	um	livro	de	Silva	Queiroz	(1996),	cujo	título	é	muito	sugestivo:	
Não vi e não gostei,	que	trata	de	modo	objetivo	o	fenômeno	do	pre-
conceito	e	apresenta	boa	perspectiva	para	se	debater	o	tema;	um	
outro	exemplo	é	o	 livro	de	Marcos	Bagno,	Preconceito lingüístico: 
o que é, como se faz,	que,	embora	apresente	um	aspecto	específi-
co	do	preconceito	ligado	à	língua	portuguesa	brasileira,	oferece	ao	
leitor	uma	excelente	fundamentação	conceitual	para	o	preconceito.
A	Figura	1	 ilustra	alguns	tipos	de	preconceitos	que	ocorrem	
frequentemente.
Fonte:	 disponível em: <www.educarede.org.br/educa/index.
cfm?pg=oassu...>. Acesso em: 10 jun. 2010.
Figura	1	12 Faces do Preconceito, de Jaime Pinsky.
© Sociologia Geral132
Precisamos	ficar	atentos	para	o	fato	de	que	o	termo	precon-
ceito	tem	um	alcance	amplo	e	diversificado	e	adquire	conotações	
complexas,	o	que	pede	que	ele	seja	sempre	interpretado	levando	
em	consideração	o	contexto	em	que	é	utilizado.
Nas	 Ciências	 Sociais,	 de	 modo	 geral,	 e	 na	 Sociologia,	 de	
modo	específico,	seu	significado	refere-se	a	julgamentos	categóri-
cos,	antecipados,	carregados	de	componentes	afetivos,	como,	por	
exemplo,	 a	 antipatia	 e	 a	 aversão;	 e	de	 componentes	 cognitivos,	
tais	como	as	crenças	e	os	estereótipos;	bem	como	de	componen-
tes	avaliatórios,	como	as	políticas	públicas.
As	pesquisas	em	Ciências	Sociais	concentraram	as	atitudes	
rotuladas	de	preconceito	como	aquelas	orientações	desfavoráveis	
dirigidas	a	grupos	ou	categorias.
As	provas	acumuladas	por	essas	pesquisas	estabeleceram	um	
grande	número	de	generalizações empíricas	referentes	ao	precon-
ceito.	Dentre	as	mais	importantes	conclusões,	segundo	o	Dicionário 
do pensamento social do século XX	(1996),	estão	as	seguintes:
1)	 Os	preconceitos,	embora	generalizados,	não	são	univer-
sais.
2)	 O	preconceito	não	é	monopólio	desta	ou	daquela	socie-
dade	nem	desta	ou	daquela	cultura.
3)	 O	preconceito	não	é	inato,	é	aprendido.
4)	 Os	preconceitos	em	relação	a	diferentes	grupos	tendem	
a	andar	juntos:	as	pessoas	que	manifestam	preconceito	
para	com	um	grupo	étnico	mostram,	tipicamente,	atitu-
des	semelhantes	para	com	outros	“grupos	de	fora”.
5)	 Os	indivíduos	variam	muito	na	intensidade	e	na	espécie	
de	seus	preconceitos.
6)	 Os	preconceitos	 encorajam	os	 comportamentos	discri-
minatórios	e	as	orientações	dadas	às	políticas	públicas	e	
são	gerados	por	eles.
7)	 Preconceito	 e	 comportamento	 não	 precisam	 ser	 con-
gruentes,	uma	vez	que	situações	específicas	podem	con-
sideravelmente	afetar	a	conduta,	apesar	de	as	atitudes	
serem	generalizadas.
Claretiano - Centro Universitário
133© U6 - Desigualdade Social: Grupos Minoritários, Preconceito e Discriminação
O	 preconceito	 é	 uma	 tendência	 de	 comportamento	 que	
não	necessariamente	envolve	uma	ação	em	si.	É	possível	ser	pre-
conceituoso	 e	 não	manifestar	 o	 preconceito em	 forma	 de	 ação	
discriminatória.	 A	 discriminação envolve	 uma	 ação	 deliberada	 e	
intencional,	mas	o	inverso	também	pode	ocorrer:	um	ato	de	discri-
minação	sem	o	sentimento	de	preconceito.
Outro	aspecto	a	ser	considerado	sobre	o	preconceito	é	que	
ele	não	pode	ser	controlado	por	meios	legais,	enquanto	a	discrimi-
nação,	que	é	uma	manifestação	pública	do	preconceito,	é	passível	
de	obter	um	controle	legal.
Considerar	 pessoas	 negras	 pouco	 confiáveis	 é	 um	precon-
ceito;	impedi-las	de	abrir	um	crediário	sem	qualquer	consulta	aos	
serviços	de	proteção	ao	crédito	é	uma	discriminação.
Ninguém	nasce	com	preconceito.	Ele	é	aprendido	no	decor-
rer	do	processo	de	socialização.	As	pessoas	adquirem-no	dos	pais	
e	dos	familiares,	na	escola,	na	igreja,	na	convivência	com	amigos,	
nos	livros	que	leu	ou	nos	filmes	que	assistiu.
O	preconceito torna-se	um	problema	quando	um	prejulga-
mento	se	mantém	o	mesmo	depois	que	fatos	demonstrem	que	ele	
está	incorreto.	O	racismo,	por	exemplo,	baseia-se	na	crença	de	que	
características	herdadas	são	sinais	de	inferioridade.	Mesmo	após	
estudos	científicos	comprovarem	sua	 inconsistência,	essa	crença	
continua	justificando	um	tratamento	discriminatório	das	pessoas	
que	carregam	essa	herança.
O	preconceito	e	a	discriminação	 levam	à	exclusão,	 restrin-
gem	a	participação	e	a	integração	das	pessoas	e	dos	grupos	per-
tencentes	às	minorias.	Dadas	essas	condições,	a	partir	da	última	
década	do	século	20,	passaram	a	ser	implementadas	no	Brasil	po-
líticas	públicas	e	privadas	para	combater	todas	as	formas	de	discri-
minação.	A	essas	políticas,	damos	o	nome	de	ações afirmativas.	
Elas	 foram	estabelecidas,	 inicialmente,	nos	Estados	Unidos	e	as-
seguravam

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