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Apg 12 - Memoria

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Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
Apg 12-Memória 
Objetivos: 
1- Revisar as bases neuro fisiológicas da 
memória; 
2- Compreender os tipos de memoria e suas 
respectivas áreas cerebrais; 
3- Discutir as alterações patológicas da memória 
(quali/quanti) 
Os hipocampos (direito e esquerdo) são estruturas do 
cérebro, localizadas na parte medial dos lobos 
temporais, filogeneticamente antigas, de importância 
central para os processos de aprendizagem e memória. 
Entretanto, de certa forma, quase toda a cognição está 
relacionada a eles, pois os hipocampos se conectam a 
múltiplas áreas do córtex cerebral, organizam eventos 
relacionados entre si em uma rede estruturada de 
memórias, além de atuarem na percepção e na 
organização mental, espacial e temporal dos eventos. 
A retirada cirúrgica ou destruição por doença dos dois 
hipocampos causa uma terrível síndrome de amnésia 
anterógrada, na qual o indivíduo fica totalmente sem 
memória para fatos novos e com profunda 
incapacidade para aprender (com exceção de funções 
da memória de procedimentos, como abordado a 
seguir). 
Anatomicamente, o hipocampo dos mamíferos tem três 
grandes regiões: o giro denteado (GD), o corno de 
Ammon (CA, este dividido em quatro partes: CA1, 
CA2, CA3 e CA4) e o córtex entorrinal lateral e 
medial. Essas três regiões têm diferentes padrões de 
conectividade, tipos de neurônios e suscetibilidade a 
fatores destrutivos. Funcionalmente, os hipocampos 
são divididos em hipocampo dorsal (mais ligado 
especificamente ao aprendizado e à memória) e 
hipocampo ventral (mais ligado ao processamento 
emocional). Todo o hipocampo tem grande capacidade 
de plasticidade sináptica 
A memória é a capacidade de codificar, armazenar e 
evocar as experiências, impressões e fatos que ocorrem 
em nossas vidas. 
A capacidade específica de memorizar relaciona-se 
com vários fatores, entre eles o nível de consciência e 
atenção, o estado emocional e o interesse motivacional 
e, particularmente importante, os contextos, como 
lugar, momento, com que pessoas, em que tipo de 
atividade e em que fase da vida a codificação, o 
armazenamento e a evocação das informações 
ocorrem. 
De forma genérica, podem-se distinguir, para os seres 
humanos, os seguintes tipos de memória: 
1.Memória psicológica (cognitiva ou 
neuropsicológica). É uma atividade altamente 
diferenciada do sistema nervoso, que permite ao 
indivíduo codificar, conservar e evocar, a qualquer 
momento, os dados aprendidos da experiência. 
2.Memória genética e epigenética. Esse tipo de 
memória abrange conteúdos de informações biológicas 
adquiridos ao longo da história filogenética da espécie 
e ao longo das vivências do indivíduo e de seus 
ancestrais, contidos no material biológico (DNA, 
RNA, cromossomos, mitocôndrias, mudanças 
epigenéticas) dos seres vivos. 
3.Memória imunológica. Esse tipo de memória reúne 
informações registradas e potencialmente recuperáveis 
pelo sistema imune de um ser vivo. 
4.Memória coletiva, social ou cultural. Envolve 
conhecimentos e práticas sociais e culturais (costumes, 
valores, práticas, linguagem, habilidades artísticas, 
conceitos e preconceitos, ideologias, estilos de vida, 
rituais, gesticulações, etc.) produzidos, acumulados e 
mantidos por um grupo social. Esse tipo de memória 
tem importância fundamental para as sociedades 
humanas. 
FASES OU ELEMENTOS BÁSICOS DA MEMÓRIA 
Cabe, agora, apresentar a memória psicológica em suas 
três fases, ou elementos básicos: 
•Codificação: captar, adquirir e codificar informações. 
•Armazenamento: reter as informações de modo 
fidedigno. 
•Recuperação ou evocação: também denominada de 
lembranças ou recordações; é fase em que as 
informações são recuperadas para distintos fins. 
Memória segundo o tempo de aquisição, 
armazenamento e evocação 
Em relação ao processo temporal de aquisição, 
armazenamento e evocação de elementos mnêmicos, a 
neuropsicologia moderna divide a memória em quatro 
momentos temporais: 
1.Memória sensorial e depósito sensorial (até 1 
segundo). Aqui, percepção, atenção e memória se 
sobrepõem. As memórias sensoriais são ricas (muitos 
conteúdos), mas muitíssimo breves (os conteúdos se 
apagam rapidamente). 
Há um depósito sensorial, que funciona geralmente 
abaixo do limiar da consciência, em apenas 50 
milissegundos, quando se deve “decidir” (quase 
sempre sem consciência) se voltamos a atenção para 
certos estímulos ou se estes serão rapidamente 
apagados. 
 Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
2.Memória imediata ou de curtíssimo prazo (de 
poucos segundos até 1 a 3 minutos). Esse tipo de 
memória se confunde conceitualmente também com a 
atenção e com a memória de trabalho (que será 
abordada adiante). Trata-se da capacidade de reter o 
material (palavras, números, imagens, etc.) 
imediatamente após ser percebido, como reter um 
número telefônico para logo em seguida discar. A 
memória imediata tem também capacidade limitada e 
depende da concentração, da fatigabilidade e de certo 
treino. As memórias imediata e de trabalho dependem 
sobretudo da integridade das áreas pré-frontais. 
3.Memória recente ou de curto prazo (de poucos 
minutos até 3 a 6 horas). Refere-se à capacidade de 
reter a informação por curto período. Também é um 
tipo de memória de capacidade limitada. Muitas vezes, 
as memórias de curto prazo e de curtíssimo prazo são 
consideradas simplesmente como memória de curto 
prazo. 
A memória recente depende de estruturas cerebrais das 
partes mediais dos lobos temporais, como a região 
CA1 do hipocampo, do córtex entorrinal, assim como 
do córtex parietal posterior. 
4.Memória de longo prazo ou remota (de dias, meses 
até muitos anos). É a função relacionada à 
transferência de informações para depósitos de longo 
prazo, tendo capacidade quase ilimitada. Ela também 
se relaciona à evocação de informações e 
acontecimentos ocorridos no passado, geralmente após 
muito tempo do evento (pode durar por toda a vida). É 
um tipo de memória de capacidade bem mais ampla 
em termos de itens a serem guardados que a memória 
imediata e a recente. 
As informações a serem guardadas na memória de 
longo prazo são armazenadas de modo organizado, em 
sistemas que proporcionam uma estrutura 
organizacional. Assim, as informações são arquivadas 
e conservadas de acordo com seu significado, em redes 
semânticas nas quais conceitos semelhantes ou 
semanticamente relacionados são armazenados de 
maneira vinculada, próximos uns dos outros. 
Portanto, o significado proporciona organização no 
arquivo de longo prazo. Assim, podemos ouvir uma 
história, com várias frases distintas, e, meses depois, 
sermos incapazes de reproduzir essas frases 
corretamente. Contudo, o significado geral da história, 
tendo sido percebido por nós, foi armazenado e poderá 
ser evocado. 
Acredita-se que a memória remota se relacione tanto 
ao hipocampo, no processo de transferência de 
memórias recentes para memórias de longo prazo, 
como implicando também, para o armazenamento de 
longo, amplas e difusas áreas corticais de associação 
em todos os lobos cerebrais (mas 
principalmente nos frontais). 
BASES NEUROBIOLÓGICAS DA MEMÓRIA 
Parece haver bastante concordância entre os 
pesquisadores de que, para o fenômeno da 
memorização ou engramação mnéstica, ou seja, para a 
formação das unidades de memória, as estruturas 
límbicas temporomediais, principalmente relacionadas 
ao hipocampo, à amígdala e ao córtex entorrinal, são 
fundamentais. Elas atuam, em especial, na 
consolidação dos registros e na transferência das 
unidades de memória de curto e médio prazos 
(intermediária) para a de longo prazo (estocagem da 
memória remota). 
O substrato neural da memória de longo prazo 
(registros bem consolidados) repousa basicamente no 
córtex cerebral,ou seja, nas áreas de associação 
neocorticais, principalmente frontais e 
temporoparietoccipitais. 
Há evidências de que o processo neuronal de 
memorização difere entre memórias recentes (minutos 
a horas) e memórias de longo prazo (meses a anos). 
Nas memórias recentes, há mudanças e consolidações 
de sinapses neuronais relacionadas a complexas 
cascatas de eventos moleculares e celulares necessárias 
para a primeira estabilização de informações 
recentemente adquiridas, nas redes neuronais 
coordenadas pelo hipocampo. Em contraste, nas 
memorizações lentas e de longo prazo, a consolidação 
das memórias se baseia em processos de nível 
sistêmico (redes neuronais), lentos, tempo-
dependentes, que convertem os traços lábeis de 
memória recente em formas mais permanentes, 
estáveis e ampliadas, baseadas na reorganização de 
redes neurais de suporte à memória, também 
coordenadas pelos hipocampos. 
A interrupção bilateral do circuito hipocampo-mamilo-
tálamo-cíngulo pode determinar a incapacidade de 
fixação de novos elementos mnêmicos, produzindo, 
assim, a síndrome amnéstica, de maior ou menor 
intensidade. As estruturas mais importantes para a 
memória são, certamente, os hipocampos. 
FATORES ASSOCIADOS AO PROCESSO DE 
MEMORIZAÇÃO 
(CODIFICAÇÃO E ARMAZENAMENTO) 
Atualmente, os estudos psicológicos e neurocientíficos 
sobre a memória psicológica indicam que o processo 
de memorização (codificação, armazenamento e futura 
evocação) de novos elementos da memória depende 
de: 
•Nível de consciência e estado geral do organismo 
 Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
•Atenção focal: diz respeito à capacidade de 
manutenção de atenção concentrada sobre o conteúdo 
novo a ser fixado. 
•Organização e distribuição temporal: diz respeito a 
distribuir, no processo de aprendizado de novas 
informações, as tentativas de aprendizado ao longo de 
um período de tempo mais longo e cadenciado. 
•Interesse e colorido emocional 
•Conhecimento anterior 
•Capacidade de compreensão do significado da 
informação 
•Estabelecimento de um contexto rico e elaborado: o 
contexto e as circunstâncias associadas à informação 
que se quer memorizar têm papel central na eficácia da 
memorização. 
•Codificação da informação nova em mais de uma via: 
para o armazenamento mais eficaz de uma informação 
nova, quanto maior for o número de canais sensoriais e 
dimensões cognitivas distintas, mais eficaz será a 
fixação. 
TIPOS ESPECÍFICOS DE MEMÓRIA 
Distinguem-se esses tipos de acordo com o caráter 
consciente ou não consciente do processamento do 
conteúdo mnêmico e com as áreas e estruturas 
cerebrais envolvidas. 
Tipos dependentes do caráter consciente ou não 
consciente do processo mnêmico (memória 
explícita/declarativa versus implícita/não 
declarativa)Segundo o caráter consciente ou não 
consciente do processo mnêmico, têm-se as memórias 
explícita e implícita. 
A memória explícita (memória declarativa) é 
relacionada ao conhecimento consciente, obtido 
geralmente com algum esforço. Esse tipo de memória 
é adquirido e evocado com plena intervenção da 
consciência, incluindo as lembranças de fatos 
autobiográficos. Um episódio como ter almoçado no 
último domingo com a avó pode ser lembrado com 
algum esforço e de forma consciente. A memória 
explícita pode ser de imagens visuais, palavras, 
conceitos ou eventos. 
A memória implícita (memória sem consciência ou 
não declarativa) é um tipo de memória que adquirimos 
e utilizamos sem que percebamos, sem consciência e, 
geralmente, sem esforço. É uma forma relativamente 
automática e espontânea. Ela pode incluir 
procedimentos, como muitas habilidades motoras 
(andar de bicicleta, saber bordar, saber escovar os 
dentes), assim como conhecimentos gerais ancorados 
em palavras, que adquirimos e utilizamos sem 
perceber, como aprender e falar a língua materna. 
Esse tipo de memória parece incluir a 
memória para informações mostradas à 
pessoa durante uma anestesia, pois, embora 
em sono farmacológico, ela pode registrar elementos 
do que é dito no ambiente. 
A memória implícita está envolvida, ainda, com as 
chamadas sensações de familiaridade. 
O termo priming (a melhor tradução é aprimoramento 
de repetição) se refere a um tipo de memória implícita, 
importante no processo de recordação e execução de 
tarefas cognitivas. 
Estímulos que já foram expostos ao sujeito, de forma 
consciente ou não consciente, são mais bem 
processados do que aqueles que nunca lhe foram 
expostos. 
O priming também se verifica quando identificamos 
uma maçã, em meio a muitas imagens de objetos, mais 
rapidamente quando ela nos foi exposta antes (priming 
perceptivo e item-específico). Também se verifica 
quando identificamos mais rapidamente a palavra 
“maçã”, em meio a muitas palavras, quando fomos 
expostos previamente à palavra “fruta” (priming 
semântico e categorial). O priming ocorre sem que 
tenhamos a sensação subjetiva de reencontro com o 
estímulo, reforçando a ideia de que ele é um 
mecanismo da memória implícita. 
Do ponto de vista anatômico, o priming é um 
fenômeno predominantemente neocortical, 
participando dele as áreas pré-frontais e corticais 
associativas temporoparietoccipitais. 
TIPOS DE MEMÓRIA CLASSIFICADOS 
SEGUNDO A ESTRUTURA CEREBRAL 
ENVOLVIDA 
São quatro os principais tipos de memória que 
correspondem a estruturas cerebrais diversas. Esses 
quatro tipos são afetados de forma diferente nas 
doenças e condições que diminuem ou destroem a 
memória (p. ex., demências). São, nesse sentido, as 
principais formas de memória de interesse à 
semiologia neurológica, psicopatológica e 
neuropsicológica. São eles: 
1.Memória de trabalho 
2.Memória episódica 
3.Memória semântica 
4.Memória de procedimentos 
Memória de trabalho 
A memória de trabalho (working memory) situa-se 
entre os processos e habilidades da atenção e os da 
memória imediata. São exemplos de memória de 
 Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
trabalho ouvir um número telefônico e retê-lo na mente 
para, em seguida, discá-lo, assim como, ao dirigir em 
uma cidade desconhecida, perguntar sobre um 
endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto 
e, mentalmente, executar o itinerário de forma 
progressiva. 
A memória de trabalho é, de modo geral, uma 
memória explícita, consciente, que exige esforço. Para 
diferenciá-la da memória de curto prazo, deve-se 
realçar que a memória de trabalho é plenamente ativa, 
que realiza operações mentais de modo constante (por 
isso, “está trabalhando” constantemente). 
Ela representa um conjunto de habilidades que permite 
manter e manipular informações novas (acessando-as 
em face às antigas). Tais informações (verbais ou 
visuoespaciais) são mantidas ativas, em operação (on-
line), geralmente por curto período (poucos segundos 
até, no máximo, alguns minutos), a fim de serem 
manipuladas, com o objetivo de selecionar um plano 
de ação e realizar determinada tarefa. O conteúdo 
mnêmico deve ser utilizado imediatamente sob alguma 
forma de resposta. 
A memória de trabalho também é vista como uma 
gerenciadora da memória. Seu papel não é tanto 
formar arquivos, mas, antes, o de analisar e selecionar 
as informações que chegam constantemente e 
compará-las com as existentes nas demais memórias, 
de curta e de longa duração. Esse processo requer 
mecanismos neurais adequados à seleção de 
informações pertinentes, mantendo-as on-line por 
breve período, até que a decisão e a resposta adequada 
sejam tomadas. 
Investigações têm indicado que a memória de trabalho 
é composta por três componentes: alça fonológica, 
esboço visuoespacial e sistema executivo. O esboço 
visuoespacial realiza armazenamento temporário e 
manipulação das imagens. A alça fonológica utiliza 
códigos articulatórios e depósitosfonológicos para 
sintetizar e operacionalizar as informações. O sistema 
executivo faz a mediação da atenção e das estratégias 
para coordenar os recursos cognitivos entre a alça 
fonológica e o esboço visuoespacial. 
As regiões corticais pré-frontais são importantes para a 
integridade da memória de trabalho. Nas tarefas 
verbais, há maior envolvimento das áreas pré-frontais 
esquerdas, assim como das áreas de Broca (frontal 
esquerda inferior) e de Wernicke (temporal esquerda 
superior). Nas tarefas visuoespaciais (seguir mapas 
mentalmente, sair de labirintos gráficos e montar 
quebra-cabeças), há maior implicação das áreas pré-
frontais direitas, assim como de zonas visuais de 
associação do carrefour temporoparietoccipital direito. 
Quando o córtex temporal é lesado, há prejuízo da 
memória de trabalho visual (mas a memória de trabaho 
espacial é preservada); quando há lesão dos 
lobos parietais, ocorre o oposto. Pacientes 
com lesões nas áreas cerebrais associadas aos 
conhecimentos semânticos (sentido das palavras), 
como o córtex dos lobos temporais laterais e 
temporoparietais, têm prejuízos nos desempenhos da 
memória de trabalho verbal. 
 Memória episódica 
Trata-se de memória explícita, de médio e longo 
prazos, relacionada a eventos específicos da 
experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em 
determinado contexto. Relatar o que foi feito no último 
fim de semana é um típico exemplo de memória 
episódica. Ela corresponde a eventos específicos e 
concretos, comumente autobiográficos, bem 
circunscritos em determinado momento e local. 
Refere-se, assim, à recordação consciente de fatos 
reais. A perda da memória episódica, em geral, se 
evidencia para eventos autobiográficos recentes, mas, 
com o evoluir da doença (p. ex., doença de 
Alzheimer), pode incluir elementos mais antigos. 
Nesse sentido, a perda de memória episódica obedece 
à lei de Ribot (perdem-se primeiro os elementos 
recentemente adquiridos e, depois, os mais antigos). 
Esse tipo de memória depende, em essência, de 
mecanismos relacionados às regiões da face medial 
dos lobos temporais, particularmente o hipocampo e os 
córtices entorrinal e perirrinal. Quando tais áreas se 
deterioram, por exemplo, com o avançar da demência 
de Alzheimer, o paciente perde totalmente a 
capacidade de fixar e lembrar eventos ocorridos há 
poucos minutos ou horas, inclusive situações 
marcantes e significativas para ele. Os pacientes com 
síndrome de Wernicke-Korsakoff têm déficits graves 
na memória episódica, uma condição relacionada a 
danos no diencéfalo, primariamente nos corpos 
mamilares, no trato mamilo-talâmico e no tálamo 
anterior. 
Respeitando a lei de Ribot, a memória remota de 
eventos antigos permanece mais tempo sem alterações. 
O hipocampo é um depósito transitório de memórias, 
uma estação de transferência de elementos 
recentemente registrados para um arquivo mais 
permanente de lembranças, localizado de modo difuso 
em amplas áreas do córtex dos distintos lobos 
cerebrais. A memória episódica interage 
constantemente com a memória semântica. 
 Memória semântica 
Esse tipo de memória se refere ao aprendizado, à 
conservação e à utilização do arquivo geral de 
conceitos e conhecimentos do indivíduo (os chamados 
conhecimentos gerais sobre o mundo). Assim, 
conhecimentos como a cor do céu (azul) ou de um 
papagaio (verde), ou quantos dias há na semana (sete), 
 Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
são de caráter geral e se cristalizam por meio da 
linguagem, ou seja, também são de caráter semântico. 
Assim como a episódica, a memória semântica é 
frequentemente explícita (mas pode ser, 
eventualmente, implícita). Ela é, enfim, a 
representação de longo prazo dos conhecimentos que 
temos sobre o mundo, entre eles o significado das 
palavras, dos objetos e das ações. 
Também, cabe assinalar, a memória semântica diz 
respeito ao registro e à retenção de conteúdos em 
função do significado que têm. Ela é um componente 
da memória de longo prazo que inclui os 
conhecimentos de objetos, fatos, operações 
matemáticas, assim como das palavras e seu uso. A 
memória semântica é, de modo geral, compartilhada 
socialmente, reaprendida de forma constante, não 
sendo temporalmente específica. 
A contraposição desses dois tipos de memória 
(episódica e semântica) exemplifica-se da seguinte 
forma: lembrar como foi um almoço com os avós, em 
Belo Horizonte, há três semanas, depende do sistema 
de memória episódica. Já o conhecimento do 
significado das palavras “almoço”, “Belo Horizonte”, 
“avós”, etc., depende da memória semântica. 
Embora esses dois tipos de memória tenham certa 
independência, eles constantemente interatuam. 
Memórias episódicas são convertidas, ao longo do 
tempo e por exposição repetida, em memórias 
semânticas. 
A memória semântica previamente adquirida é muitas 
vezes preservada em pacientes que apresentam graves 
alterações no sistema de memória episódica. 
Indivíduos com síndrome de Wernicke-Korsakoff, por 
exemplo, têm grave déficit de memória episódica, mas 
podem ter a memória semântica preservada. 
A memória semântica, em acepção restrita, 
corresponde às capacidades de nomeação e 
categorização. Depende, de forma estreita, das regiões 
inferiores e laterais dos lobos temporais, sobretudo no 
hemisfério esquerdo (diferentemente da memória 
episódica, que depende das regiões mediais desses 
lobos, sobretudo dos hipocampos). 
 Memória de procedimentos 
Trata-se de um tipo de memória automática, não 
consciente. Exemplos desse tipo de memória são 
habilidades motoras e perceptuais mais ou menos 
complexas (andar de bicicleta, digitar no computador, 
tocar um instrumento musical, bordar, etc.), 
habilidades visuoespaciais (como a capacidade de 
aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e 
habilidades automáticas relacionadas ao aprendizado 
de línguas (regras gramaticais incorporadas na fala 
automaticamente, decorar a conjugação de 
verbos de uma língua estrangeira, etc.). 
A memória de procedimentos, de modo geral, é 
implícita e não declarativa, mas, durante a aquisição da 
habilidade, pode ser explícita na fase de aprendizado, 
como quando, por exemplo, se aprende a dirigir um 
carro seguindo orientações verbais. Na maioria das 
vezes, a memória de procedimentos é implícita, pois 
manifesta-se tipicamente por ações motoras e 
desempenho de atividades, e não pela expressão de 
palavras (tornando-se consciente apenas com esforço). 
Aqui, a memorização ocorre de forma lenta, por meio 
de repetições e múltiplas tentativas. A localização da 
memória de procedimentos está relacionada com o 
sistema motor e/ou sensorial específico envolvido na 
tarefa. As principais áreas envolvidas são a área 
motora suplementar (lobos frontais), osnúcleos da base 
(sobretudo o striatum)e ocerebelo. 
 Investigação semiológica da memória de 
procedimentos 
Suspeita-se da presença de alterações da memória de 
procedimentos quando o indivíduo apresenta ou perda 
de habilidades motoras ou visuoespaciais previamente 
aprendidas, ou grande dificuldade em aprender novas 
habilidades. Por exemplo, o paciente pode perder a 
habilidade de escrever à mão ou de digitar em um 
teclado, de tocar um instrumento musical, de pregar 
um botão ou de chutar uma bola. Eventualmente, ele 
pode reaprender essas habilidades, mas, para isso, 
necessita de ordens explícitas (verbais, conscientes) 
para realizar cada etapa da habilidade. Em 
consequência, um paciente com lesão no sistema de 
memória de procedimentos pode nunca mais readquirir 
as habilidades motoras automáticas que pessoas 
saudáveis realizam sem perceber. 
Por fim, aqueles cuja memória episódica foi devastada 
(quadros graves de demência de Alzheimer ou 
síndrome de Wernicke-Korsakoff) podem ter ganhos 
relativos em um processo de reabilitação que lance 
mão dosistema de memória de procedimentos 
preservada e, assim, aprender novas habilidades. 
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA MEMÓRIA: 
Alterações Quantitativas 
 Hipermnésias 
Em alguns pacientes em mania ou hipomania, 
representações (elementos mnêmicos) afluem 
rapidamente, uma tempestade de informações ou 
imagens, ganhando em número, perdendo, porém, em 
clareza e precisão. A hipermnésia, nesses casos, traduz 
mais a aceleração geral do ritmo psíquico que uma 
alteração propriamente da memória. 
 Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
Há outro tipo de hipermnésia, chamada hipermnésia 
para memória autobiográfica. Trata-se de um 
fenômeno raro, no qual o indivíduo tem uma memória 
autobiográfica quase perfeita. A hipermnésia 
autobiográfica é considerada um fenômeno complexo, 
dependente de intricada interação entre memória 
episódica, memória semântica, habilidades 
visuoespaciais, memória para emoções, viagem mental 
no tempo, teoria da mente e funções executivas. 
Embora muito rara, ela fornece elementos valiosos 
para a compreensão da memória autobiográfica. 
 Amnésias (ou hipomnésias) 
Denomina-se amnésia, de forma genérica, a perda da 
memória, seja da capacidade de fixar, seja da 
capacidade de manter e evocar antigos conteúdos 
mnêmicos. 
Segundo a lei de Ribot (atualmente denominada 
temporally graded amnesia), no indivíduo que sofre 
uma lesão ou doença cerebral, sempre que esse 
processo patológico atinja seus mecanismos mnêmicos 
de codificação, armazenamento e recordação, a perda 
dos elementos da memória (esquecimento) segue 
algumas regularidades: 
1.O sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na 
ordem e no sentido inverso que os adquiriu. 
2.Consequência do item anterior, ele perde primeiro 
elementos recentemente adquiridos e, depois, os mais 
antigos. 
3.Perde primeiro elementos mais complexos e, depois, 
os mais simples. 
4.Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos 
habituais e, só posteriormente, os mais familiares. 
Em relação aos processos fisiopatológicos, as amnésias 
podem ser divididas em dois grandes grupos: 
psicogênicas ou dissociativas e orgânicas. 
Nas amnésias dissociativas, ou psicogênicas, há perda 
de elementos mnêmicos seletivos, os quais podem ter 
valor psicológico específico (simbólico, afetivo). O 
indivíduo esquece, por exemplo, uma fase ou um 
evento de sua vida (que teve um significado especial 
para ele), mas consegue lembrar de tudo que ocorreu 
“ao seu redor”. É quase sempre uma amnésia 
retrógrada. A amnésia dissociativa pode surgir em 
sequência a um episódio de trauma emocional e/ou 
relacionada a fuga dissociativa (quando o indivíduo 
foge de sua casa, em estado dissociativo). 
Já nas amnésias orgânicas, a perda de memória é 
geralmente menos seletiva, em relação ao conteúdo 
emocional e/ou simbólico do material esquecido, do 
que na amnésia psicogênica. Em geral, perde-se 
primeiramente a capacidade de memorização de fatos e 
eventos recentes, e, em estados avançados da 
doença (geralmente demência), o indivíduo 
passa gradualmente a perder conteúdos mais 
antigos. 
 Amnésia anterógrada e retrógrada 
Na amnésia anterógrada, o indivíduo não consegue 
mais fixar elementos mnêmicos a partir do evento que 
lhe causou o dano cerebral. Por exemplo, ele não 
lembra o que ocorreu nas semanas (ou meses) 
seguintes a um trauma craniencefálico. A amnésia 
anterógrada é um distúrbio-chave e bastante frequente 
na maior parte dos distúrbios neurocognitivos, 
transtornos de base orgânica. 
Já na amnésia retrógrada (verificável na amnésia 
dissociativa), o indivíduo perde a memória para fatos 
ocorridos antes do início do transtorno (ou trauma). 
Sua ocorrência, sem amnésia anterógrada, é observada 
em quadros dissociativos (psicogênicos), como a 
amnésia dissociativa e a fuga dissociativa. 
De modo geral, é comum, após trauma craniencefálico, 
a ocorrência de amnésias retroanterógradas, ou seja, 
déficits de fixação para o que ocorreu dias, semanas ou 
meses antes e depois do evento patógeno. 
Alterações qualitativas (paramnésias) 
As alterações qualitativas da memória envolvem 
sobretudo a deformação do processo de evocação de 
conteúdos mnêmicos previamente fixados. O indivíduo 
apresenta lembrança deformada que não corresponde à 
sensopercepção original. Os principais tipos de 
paramnésias são: 
1.Ilusões mnêmicas. Nesse caso, há o acréscimo de 
elementos falsos a elementos da memória de fatos que 
realmente aconteceram. Por isso, a lembrança adquire 
caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre seu 
passado indicando claramente deformações marcantes 
de lembranças reais: “Tive 20 filhos com minha 
mulher” (teve, de fato, 4 filhos com ela, mas não 20). 
Se não for uma deformação marcante, é difícil 
diferenciar a ilusão mnêmica do processo normal de 
recordação (pois a memória é um processo construtivo, 
que se refaz e modifica normalmente). As ilusões 
mnêmicas podem ocorrer na esquizofrenia, no 
transtorno delirante e, menos frequentemente, nos 
transtornos da personalidade (borderline, histriônica, 
esquizotípica, etc). 
2.Alucinações mnêmicas. São criações imaginativas, 
dotadas de sensorialidade, marcadamente com a 
aparência de lembranças ou reminiscências que não 
correspondem a qualquer elemento mnêmico, a 
qualquer lembrança verdadeira. Podem surgir de modo 
repentino, sem corresponder a qualquer acontecimento. 
 Bruna Melnik Bellandi – 5º Período 
 
Ocorrem principalmente na esquizofrenia e em outras 
psicoses. 
As ilusões e as alucinações mnêmicas constituem, 
muitas vezes, o material básico para a formação e a 
elaboração de delírios (delírio imaginativo ou delírio 
mnêmico). 
 Confabulações (ou fabulações) 
Confabulações são produções de relatos, narrativas e 
ações que são involuntariamente incongruentes com a 
história passada do indivíduo, com sua situação 
presente e futura. As confabulações são caracterizadas 
por três aspectos básicos: 
1.Elas são memórias ou recordações falsas; a falsidade 
repousa ou no seu conteúdo, ou no seu contexto. 
2.A pessoa que confabula não sabe da falsidade de 
suas recordações. 
3.Confabulações são recordações plausíveis, ou seja, 
elas se parecem com o que poderia ter acontecido, mas 
que não aconteceu. 
As chamadas confabulações de embaraço são 
produzidas e estimuladas quando, na entrevista, se 
pergunta “se lembra de um encontro que tivemos há 
dois anos, em uma festa, em seu bairro?” ou “o que 
você fez no domingo anterior?”. A pessoa premida 
pela pergunta, sem perceber suas dificuldades de 
memória, passa a relatar fatos falsos relacionados às 
perguntas; plausíveis, mas falsos. 
Tradicionalmente, a psicopatologia considerou por 
muitas décadas que as confabulações eram formadas 
por elementos da imaginação do sujeito que 
completariam artificialmente lacunas de memória. 
Essas lacunas ou falhas seriam produzidas por déficit 
da memória de fixação, sobretudo da memória 
episódica. Além do déficit de fixação, a pessoa não 
seria capaz de reconhecer como falsas as imagens 
produzidas pela fantasia. As confabulações seriam, 
portanto, invenções involuntárias, produtos da 
imaginação do paciente, que preencheriam um vazio 
da memória. 
As confabulações ocorrem principalmente na síndrome 
de Wernicke-Korsakoff, frequentemente secundária ao 
alcoolismo crônico associado a déficit de tiamina 
(vitamina B1). Elas também podem ocorrer em 
traumatismo craniencefálico, encefalites que implicam 
os lobos temporais (como a encefalite herpética), 
intoxicação por monóxido de carbono, aneurisma da 
artéria comunicante anterior e doença de Alzheimer. 
No passado, pensava-se que ela praticamente só 
ocorria em transtornos psico-orgânicos; entretanto, 
constatou-se que também pode ocorrer, não muito 
raramente, na esquizofrenia. 
As alteraçõesanatômicas relacionadas às 
confabulações compreendem lesões nos 
corpos mamilares, no núcleo dorsomedial do 
tálamo, assim como no córtex orbitofrontal. 
Entretanto, cerca de outras 20 áreas lesadas já foram 
associadas às confabulações, indicando a 
complexidade de sua fisiopatologia. 
 Criptomnésias 
Trata-se de um falseamento da memória, em que as 
lembranças aparecem como fatos novos ao paciente, 
que não as reconhece como lembranças, vivendo-as 
como uma descoberta. Por exemplo, um indivíduo com 
demência (como do tipo Alzheimer) conta aos amigos 
uma história muito conhecida como se fosse 
inteiramente nova, mas que, há poucos minutos, foi 
relatada por outra pessoa do grupo. 
 Ecmnésia 
Trata-se da recapitulação e da revivescência intensa, 
abreviada e panorâmica da existência, uma recordação 
condensada de muitos eventos passados, que ocorre em 
breve período. Na ecmnésia, o indivíduo tem a 
vivência perceptiva de visão de cenas passadas, como 
forma depresentificação do passado. Esse tipo de 
ecmnésia pode ocorrer em alguns pacientes com crises 
epilépticas. 
O fenômeno denominado visão panorâmica da vida, 
associado às chamadas experiências de quase-morte, é, 
de certa forma, um tipo de ecmnésia, que ocorre 
geralmente associado à iminência da morte por 
acidente (sobretudo afogamento, sufocamento ou 
intoxicação). Quando a ecmnésia ocorre associada à 
proximidade da morte, alguns indivíduos que 
sobreviveram relatam ter visto um túnel, uma luz forte 
e uma névoa luminosa, associados a essa visão de 
“filme condensado da própria vida”. 
 Lembrança obsessiva 
A lembrança obsessiva, também denominada ideia fixa 
ou representação prevalente, manifesta-se como o 
surgimento espontâneo de imagens da memória ou 
conteúdos ideativos do passado que, uma vez 
instalados na consciência, não podem ser repelidos 
voluntariamente pelo indivíduo. A imagem da 
memória, embora reconhecida como indesejável, 
reaparece de forma constante e permanece, como um 
incômodo, na consciência do paciente. Manifesta-se 
em indivíduos com transtornos do espectro obsessivo-
compulsivo.

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