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COMPOSIÇÃO AULA 3 Prof.ª Eliza Yukiko Sawada Timm 2 CONVERSA INICIAL Ao longo desta aula conversaremos sobre a dimensão em que vivemos, que é tridimensional, no entanto em muitos momentos trabalhamos no plano bidimensional, como o papel, por exemplo. Discutiremos as formas de representar o plano tridimensional no plano bidimensional e falaremos sobre como a arte influenciou o desenvolvimento dessas técnicas. CONTEXTUALIZANDO A perspectiva nos parece tão óbvia e natural, principalmente com o advento da fotografia, que nem prestamos muita atenção nela, no entanto a perspectiva somente foi sistematizada no Renascimento. Antes disso, as imagens eram sobrepostas para representar o distanciamento entre elas. Mas é importante conhecer suas particularidades e aplicações no planejamento e desenvolvimento de composições visuais, no desenvolvimento de personagens, cenários, identidades visuais, entre outros. TEMA 1 – DIMENSÃO O mundo em que vivemos tem espaço, é tridimensional e tem volume. No entanto, como podemos representar os objetos tridimensionais em uma superfície bidimensional como o papel por exemplo? A dimensão somente existe em nosso mundo real, e não só podemos senti-la como vê-la com nossa visão estereótica (visão de profundidade / noção de distância) e binocular (ambos os olhos são usados em conjunto). A visão monocular (visão por um olho só) afeta a visão de diversas maneiras, como a redução do campo de visão periférica (visão lateral) e diminuição da orientação de espaço. 3 Figura 1 – Visão estereóptica Figura 2 – Visão binocular Fonte: LeungChopan/Shutterstock; Krakenimages.com/Shutterstock. Em nenhuma representação bidimensional como o desenho, a pintura, a fotografia e o vídeo, existe uma dimensão real, pois ela é apenas uma ilusão, e o principal artifício é a perspectiva, que pode ser intensificada pela luz e sombra, o claro e o escuro (Dondis, 1997). Os pintores, principalmente os realistas, se valem das técnicas de perspectiva e luz e sombra para criar a ilusão de tridimensionalidade Figura 3 – Fotografia Fonte: Zvonimir Atletic/Shutterstock. 4 As formas bidimensionais e tridimensionais têm o plano como elo entre si, considerando as dimensões da largura e da altura. Por outro lado, as formas tridimensionais, mesmo sendo percebidas com naturalidade pelo observador, são representadas por três dimensões; a altura, a largura e a profundidade (Vaz; Silva, 2016). Figura 4 – Três dimensões Como esses conceitos são pensados no contexto da linguagem visual, assim como os elementos são relacionados com volume, sombra e perspectiva? 1.1 Perspectiva A perspectiva foi sistematizada no Renascimento (entre os séculos XV e XVI), pois nos períodos anteriores, a maneira de se representar o espaço não usava um princípio matemático. A perspectiva serviu de base para a geometria projetiva. Esses conhecimentos nos auxiliaram para representarmos os desenhos feitos até a atualidade. Com a sugestão de espessura, as formas planas podem se tornar tridimensionais em espaços ilusórios, como é o desenho. Na perspectiva, podemos representar volume e profundidade com um grau surpreendente de realismo. Se tivermos que representar um cubo que tem seis faces iguais que se encontram em ângulos retos, na perspectiva, isso representa a maioria dos elementos iguais de formas desiguais (Wong, 1998). 5 Figura 5 – Cubo em perspectiva A perspectiva tem técnicas e regras exatas, com o objetivo de produzir uma sensação de perspectiva real. Há algumas regras e métodos bastante fáceis de realizar. Tudo depende da forma como queremos observar o objeto, por exemplo, com apenas um ponto de fuga (Dondis, 1997). Figura 6 – Perspectiva com um ponto de fuga Na perspectiva com dois pontos de fuga, a perspectiva de um cubo é representada com três faces visíveis. 6 Figura 7 – Perspectiva com dois pontos de fuga Esses dois exemplos são extremamente simples para se perceber como funciona a perspectiva, porém, para serem utilizadas adequadamente, é necessário conhecimento e técnica, que podem ser utilizados com grande liberdade. Observe a imagem a seguir e note que, além da perspectiva, é necessário aplicar textura, peso cromático, luz e sombra para dar a sensação de volume e distância à composição de prédios. Figura 8 – Perspectiva Fonte: Romanya/Shutterstock. 7 Outras formas de perspectiva são a cavaleira e a isométrica. A perspectiva cavaleira, que é decorrente de uma projeção cilíndrica, não parece tão natural quanto a perspectiva cônica (com ponto de fuga), no entanto é um processo bastante simples. Para cada ângulo de perspectiva, existe um coeficiente de redução na sua profundidade: Figura 9 – Cubos em perspectiva cavaleira em ângulos de 30º, 45º e 60º e seus coeficientes de redução Na perspectiva isométrica simplificada, as três arestas perpendiculares entre si do objeto apresentando ângulos iguais e as medidas não sofrem redução e permanecem com as medidas reais. Figura 10 – Arestas da perspectiva isométrica 8 Figura 11 – Perspectiva isométrica simplificada Note que esse tipo de perspectiva não parece tão natural, no entanto é bastante utilizada pela sua fácil realização, principalmente em projetos mais rápidos. Figura 12 – Perspectiva isométrica de um ambiente Fonte: Macro vector/Shutterstock. TEMA 2 – SOMBRA E LUZ Além da perspectiva, a sombra também é um dos elementos utilizados para reforçar a sensação de volume e tridimensionalidade. Observe a seguir três diferentes formas de representar a sombra de um objeto. 9 Figura 13 – Sombra 1. Cubo com sombra própria 2. Cubo com sombra projetada 3. Cubo com sombra própria e projetada O tamanho e a posição dos três cubos são os mesmos, assim como a direção das sombras, o que é diferente entre os três é o tipo de sombra desenhada em cada sólido. Podemos definir que a sombra própria é uma parte integrante do objeto e serve para definir o seu volume. Por outro lado, ao observarmos as imagens dos cubos, percebemos que a sombra projetada é lançada de um objeto em relação a outro como o plano em que o cubo está apoiado, ou seja, é uma sombra externa ao objeto, com o objetivo de definir o espaço (Vaz; Silva, 2016). Além da sombra, é importante entendermos a luz. Observe a seguir o desenho de uma esfera e a sua própria sombra, de acordo com a mudança de direção da luz. Esfera 1 – a luz incide da esquerda para a direita; Esfera 2 – a luz é posicionada na parte superior do objeto; Esfera 3 – a luz se localiza atrás do objeto. 10 Figura 14 – Sombra Notamos que as sombras estão posicionadas na direção contrária à fonte de luz, considerando que a esfera tem a mesma grandeza. A luz e a sombra estão em todos os objetos que nos rodeiam. Observe a pintura a seguir. Notamos que parte do jovem está iluminada, e a outra parte está sombreada. Essa diferença entre as partes claras e escuras foi uma técnica utilizada nas pinturas do Renascimento, conhecida como chiaroscuro. (Vaz; Silva, 2016) Figura 15 – Retrato de um jovem homem, por Bronzino, 1530, pintura renascentista italiana Fonte: Everett Art/Shutterstock. 11 O uso do chiaroscuro foi redescoberto por Leonardo Da Vinci no fim do Renascimento, pois era um recurso utilizado pelos pintores gregos antigos. Essa técnica é definida pelo contraste entre luz e sombra na representação de um objeto, sem utilizar o contorno. (Vaz; Silva, 2016) Na Idade Média, antes da utilização da luz e sombra, a profundidade era transmitida por meio da justaposição e sobreposição das formas. Figura 16 – Exemplo de ilustração comjustaposição e sobreposição Fonte: Matrioshka/Shutterstock. TEMA 3 – 2D E 3D Por um lado, temos as técnicas de como representar o espaço, de modo exato e em profundidade com o uso da perspectiva. Por outro lado, a representação abstrata que elimina a representação do espaço e subverte a mesma noção, como é o caso do cubismo que realizava a fusão de coisas e objetos. Assim como quando imaginamos a fronteira entre o bidimensional (2D) e o tridimensional (3D), vêm à nossa mente as obras de Escher, que explorou esses limites e questionou a nossa percepção sobre a realidade e sobre o espaço no qual habitamos, utilizando as técnicas de perspectiva (Vaz; Silva, 2016). 12 Figura 17 – Ilusão de ótica Figura 18 – Ilusão de ótica Fonte: XYZ/Shutterstock; Iryna Kuznetsova/Shutterstock. Figura 19 – Ilusão de ótica Fonte: Vectorix/Shutterstock. Em uma mesma obra Escher faz a transição de uma forma plana para outra que tem volume, como é o caso da obra Cycle, o homem que desce as escadas e se transforma no ladrilho (Vaz; Silva, 2016). Saiba mais Conheça a obra de Escher citada acima acessando o link a seguir: ESCHER, M. C. Cycle. Wikiart, S.d. Disponível em: <wikiart.org/en/m-c- escher/cycle>. Acesso em: 22 maio 2020. 13 Em suas obras, Escher mistura a direção no espaço: em cima e embaixo, dentro e fora, côncavo e convexo. Ele criava interiores cujas edificações não poderiam ser construídas. Muitos jogos e animações utilizam a fusão do 2D com o 3D, criando espaços irreais e instigantes. TEMA 4 – DESENHO TRIDIMENSIONAL De acordo com Wong (1998), o desenho bidimensional (2D) é formado por três elementos: 1. Elementos conceituais: o ponto, a linha e o plano; 2. Elementos visuais: a forma, o tamanho, a cor e a textura; 3. Elementos relacionais: a posição, a direção, o espaço e a gravidade. A mesma nomenclatura define o desenho tridimensional, que também é composto pelos elementos construtivos: 1. Vértice: ponto; 2. Aresta: linha; 3. Face: plano. No caso do desenho tridimensional, os elementos cronstrutivos são realizações concretas dos elementos conceituais, o ponto, a linha e o plano. Sendo assim, para entender um elemento tridimensional, teremos de observá-lo de diferentes ângulos e distâncias e recompor as informações em nossas mentes para obter uma compreensão completa de sua realidade tridimensional. É na mente humana que o mundo tridimensional ganha seu significado (Wong, 1998). Para que o desenhista explore e visualize os objetos tridimensionais, ele deve ter o conhecimento das direções primárias: 1. Vertical: para cima e para baixo; 2. Horizontal: para a esquerda e para a direita; 3. Transversal: para e frente e para trás. Cada uma dessas direções define um plano: vertical, horizontal e transversal (Wong, 1998). Se considerarmos o espaço representado por um cubo, temos três planos paralelos entre si: o plano vertical se torna os planos frontal e posterior, e o plano horizontal transforma-se nos planos superior e inferior, e o plano transversal 14 indica os planos laterais esquerdo e direito. Desse modo, uma forma tridimensional pode ser estabelecida por três vistas básicas: a vista frontal, a vista superior e a vista lateral. Figura 20 – Vistas do cubo Figura 21 – Projeção das vistas do cubo Nas obras de Escher, notamos que esses planos (frontal, lateral e superior) estão misturados. Assim, devemos ver cada pedaço da obra de forma separada, uma vez que a nossa mente, ao compreender a realidade tridimensional, julga que algo está errado, ou seja, que está fora do lugar (Vaz; Silva, 2016). TEMA 5 – SOFTWARE 3D Com a evolução tecnológica e o surgimento da realidade virtual, surgiram vários softwares gráficos 3D cada vez mais realistas, que não param de ser aperfeiçoados. 15 Essas aplicações gráficas ganharam cada vez mais destaque não só em jogos, personagens e cenários tridimensionais, mas em sites, ilustrações, fotografias, no cinema e até mesmo nas artes, acrescida da visualização também tridimensional. Figura 22 – Óculos de realidade virtual Fonte: Olena Yakobchuk/Shutterstock. O design é uma das áreas que trabalha, além das questões estéticas, ergonômicas e solução de problemas, também com a inovação e a tecnologia. Estar sempre atento às novas ferramentas é extremamente importante. Observe alguns exemplos das aplicações da computação gráfica no design. Figura 23 – Cenário e personagem 3D Fonte: Digital Storm/Shuttertock. 16 Figura 24 – Produto 3D Fonte: Vladimir Kramin/Shutterstock. Figura 25 – Cenário 3D Fonte: Boutique Isometrique/Shutterstock. 17 TROCANDO IDEIAS Observe em marcas, animações, jogos, ilustrações, capas de livros, sites ou qualquer outro produto a utilização da perspectiva. Observe as diferenças entre elas e sua utilização. Discuta com os seus colegas as formas diferentes de utilizar a perspectiva em várias áreas do design. NA PRÁTICA Que tal exercitar um pouco a perspectiva? Com base nesta aula e nas aulas de desenho de observação, que tal fazer uma composição dentro de um quadrado de 20x20cm? Faça a composição utilizando apenas formas geométricas em perspectiva. FINALIZANDO Nesta aula, discutimos a dimensão em que vivemos e a forma de representar a realidade no plano por meio da perspectiva, luz e sombra e da computação gráfica e a importância de o designer acompanhar a evolução das novas tecnologias. Isso não quer dizer que o designer tem que dominar todas essas tecnologias, mas deve conhecer o seu potencial e suas aplicações. 18 REFERÊNCIAS DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997. MUNARI, B. Design e comunicação visual. São Paulo: Martins Fontes, 2001. VAZ, A.; S. R. Fundamentos da linguagem visual. Curitiba: InterSaberes, 2016. WONG, W. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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